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CAPÍTULO IV – PARTICIPAÇÃO SOCIAL, GESTÃO DEMOCRÁTICA E AS

4.3 PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO ELEMENTO DA GESTÃO

4.3.1 Concepções dos gestores sobre participação social e gestão

Conforme discutimos no capítulo dois, nossa concepção de participação social está fundamentada nos estudos de Pateman (1992). As premissas da autora apontam para o fato de que a participação mais ampla, na esfera política, começa necessariamente com a participação em microesferas da vida social e que, quanto mais os indivíduos participam, mais capacitados se tornam para fazê-lo.

Apreender as concepções dos gestores sobre tais questões, figura como um aspecto importante para compreendermos como se direcionam e se efetivam as práticas de participação social e de gestão democrática no âmbito escolar. Quando questionados sobre isso, a maioria dos gestores, expõe sua concepção utilizando de exemplos relacionados ao âmbito escolar, da própria forma de exercer a gestão na escola em que atua, bem como, das dificuldades em efetivar estes processos. Observamos, também que, na maioria das falas, os conceitos aparecem associados, apontando que o entendimento dos gestores segue os pressupostos que apresentamos de que a participação social é o elemento principal da gestão democrática no âmbito escolar.

No que se refere às concepções de participação social, percebemos que os gestores tiveram mais dificuldade em explicitar as suas convicções, relacionando-as aos seguintes aspectos:

“todos estarem informados do que está acontecendo” (Gestor 2). “tudo que a gente vai fazer a gente, procura, conversar, trocar ideia, e o que vocês acham” (Gestor 3).

“No sentido de a gente ter elos, vamos dizer assim” (Gestor 5). “participação social é entender o que está se passando, a sociedade vive problemas sociais, econômicos, entender toda essa dinâmica, o que vem acontecendo” (Gestor 10).

“a gente envolvido com a escola” (Gestor 14).

“A gente sempre que pode a gente está tentando envolver a família, não só com reuniões” (Gestor 17).

Nesse mesmo âmbito das concepções apresentadas, observamos a concepção do Gestor 25:

“Participação social, eu entendo que, na prática né, porque na teoria é bonito, mas na prática seria o engajamento da comunidade escolar ali junto em meio as atividades, as ações da escola, não ficar só na mão do gestor, da equipe gestora, mas sim uma APMF participativa, que cuida de todas a questões financeiras, e sim um conselho escolar participativo que vê todas as questões pedagógica, assim como um grêmio estudantil. Então eu vejo isso, uma sociedade que está preocupada com o bem estar daquela escola, que atende justamente as suas necessidades e não um abandono na mão do gestor” (Gestor 25).

Entretanto, estas concepções são apresentadas de forma mais clara quando associadas ao entendimento de gestão democrática. Para os Gestores 1, 3, 6, 7 e 10 a gestão democrática é a “tomada de decisões em conjunto”. Nesse mesmo sentido, o Gestor 2 argumenta:

“é todos tomarem decisões juntos, tem que ter aprovação, como a gente faz nas reuniões com pais, pedir o que eles acham melhor, tomar uma decisão em conjunto, até porque a escola não funciona com um só, funciona com todos. Então eu acho que é cada um

dando sua opinião, trabalhando de forma conjunta, um ajudando o outro”.

Verificamos, também, na fala dos gestores, a valorização de todas as instâncias colegiadas da escola quando se trata do processo de gestão democrática.

“gestão democrática é saber ouvir essas instâncias colegiadas que nós temos” (Gestor 14).

“é conversa, todas as decisões abertas para todos os professores, para a comunidade escolar, para que eles opinem, o que vocês acham. Então ela [se referindo a direção] nunca toma uma decisão sem participar os professores e a comunidade escolar. Ela chama todos, cozinha, secretaria e professores, até porque também hoje em dia os professores são mais exigentes” (Gestor 11).

“você tem que estar envolvida em tudo e aqui a gente sempre tá, desde uma pequena decisão até uma grande” (Gestor 17).

“a escola tem que dar abertura, mas não tem como eu impor uma gestão democrática. Ela tem que partir de todos os lados, eu como diretor tenho que dar abertura, mas o aluno ou o pai de aluno ele também tem que querer participar” (Gestor 22).

“É a participação da sociedade e que eles façam parte de toda a escola, tudo que é preciso, tudo que precisa ser resolvido eles estarem junto com a gente e também ter voz e vez” (Gestor 24). “A gestão democrática é fundamental. Eu acho que ela é fundamental para que você possa ouvir muitas pessoas e a partir desse ouvir você vai vendo onde que vai convergindo as ideias, o que tem de positivo, o que não é tão legal assim, então isso facilita você acertar. Pega a visão de várias pessoas e isso ajuda você achar o caminho. Acaba agradando de certa forma a maioria naquilo que é necessário, que nem todo mundo a gente vai contemplar, sempre tem um ou outro que a gente não, mas pelo menos você consegue elencar os pontos para conseguir avançar, então é fundamental” (Gestor 25).

As concepções apresentadas pelos gestores vão ao encontro dos pressupostos firmados por Luck (2011, p. 37), de que o entendimento do conceito de gestão já pressupõe, em si, a ideia de participação, isto é, do trabalho associado de pessoas analisando situações, decidindo sobre seu encaminhamento e agindo sobre elas, em conjunto. Conforme a autora, isso se deve ao fato de que o êxito de uma organização depende da ação, construtiva e conjunta, de seus componentes, pelo

trabalho associado, mediante reciprocidade, a qual cria um todo orientado por uma vontade coletiva.

Outros gestores, por sua vez, ao expor sua visão relatam as dificuldades em efetivar a gestão democrática na escola,

“[...] gestão democrática é onde todo mundo tem vez e tem voz, pode estar opinando e tendo conhecimento das ações que acontecem na escola, muitas coisas já vem predefinidas, mas assim, nós tentamos ao máximo, em todos os aspectos [...]” (Gestor 20).

“[...] as vezes a gente sai da gestão democrática, porque as decisões elas tem que ser consultadas, mas muitas vezes, nós nem temos tempo na escola de ouvir primeiro o que cada um pensa para depois fazer uma escolha, por exemplo. Mas é esse trabalho de conhecimento, estudo em comum para chegar, eu falo assim, tem que brigar ali no momento da reunião, a gente tem que discutir, mas chegar num consenso” (Gestor 23).

Os documentos que regulamentam os Programas de atividades em contraturno são claros com relação à participação social e a gestão democrática das atividades. Todavia, partindo dos dados empíricos, que vão desde a concepção dos gestores até questões mais específicas como veremos adiante, verificamos que estas questões acabam sendo cerceadas pela própria SEED e NRE que fazem a gestão destas atividades.