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A gestão democrática tendo como elemento central a participação social está presente nos documentos desde a criação da primeira versão do programa de ampliação da jornada escolar por meio de atividades de complementação curricular. Nas Instruções Normativas do Programa Viva a Escola (PARANÁ, 2008, 2009), embora de maneira tênue, estas questões aparecem em dois momentos distintos. Nos objetivos é destacado que as atividades devem possibilitar maior integração dos educandos com a comunidade escolar, destacando colegas, professores e comunidade. Em um segundo momento, no núcleo do conhecimento denominado Integração comunidade escola que compreende a atividade “Fórum de estudo e discussões” cujo objetivo é reunir, de forma participativa e democrática, pais, alunos, professores, entidades representativas da sociedade civil, o poder público e IES, com a finalidade de estudar e discutir assuntos pertinentes às demandas e aos desafios enfrentados pela escola e pela comunidade. Nestas discussões estariam inclusos temas como: violência, políticas públicas, participação política, entre outros.

Com a reconfiguração do Programa para Atividades Curriculares em Contraturno, é acrescentado ao objetivo que trata da integração entre alunos, escola e comunidade, a intenção de democratizar o acesso ao conhecimento e aos bens culturais. Além disso, fica estabelecido em todas as Instruções Normativas que as atividades devem ser “propostas pelo coletivo da escola, com a participação da comunidade” e que “O conselho escolar e a Associação de Pais e Mestres de cada estabelecimento devem se reunir para selecionar e aprovar a proposta de ACCs”.

Observamos um avanço na abordagem da temática nestes documentos, uma vez que, anteriormente, não se falava em democratizar o acesso aos conhecimentos e, a proposição das atividades seria da direção, equipe pedagógica e professor envolvido. O encaminhamento ao Conselho Escolar era feito para fins de aprovação e não mais discussão das propostas, deixando uma conotação de cumprir com requisitos burocráticos.

Na atual configuração das ACCs, as temáticas da gestão democrática e participação social continuam tendo espaço. Todavia, por assumir uma configuração

de Política de Educação Integral do Estado, acreditamos que estas questões não têm se fortalecido significativamente dentro da proposta e continuam aparecendo em momentos específicos e pouco enfatizadas. Nos objetivos observamos que ela visa “possibilitar a integração entre equipe gestora (direção, direção auxiliar e pedagogos) e profissionais da educação, envolvidos nas Atividades dos Programas de Ampliação de Jornada” e ainda, “envolver o Conselho Escolar na decisão da escolha das atividades dos programas a serem ofertados, de forma a atender as necessidades da comunidade escolar para a melhoria do processo ensino e aprendizagem” (PARANÁ, 2017a).

Partindo da compreensão de que, o intuito dos documentos – Resoluções e Instruções Normativas - é tratar da organização e funcionamento dos Programas, entendemos que a gestão democrática, tendo como elemento a participação social são questões que implicam tanto no âmbito administrativo quanto pedagógico para o desenvolvimento das ações. Por isso, precisam ser tratadas de forma explícita para que não fique somente a critério da equipe gestora da escola abordar estas questões em determinados momentos e secundarizar em outros de acordo com determinações burocráticas, interesses, necessidades e/ou demandas de cada situação.

Com a criação da Política de Educação Integral, a participação torna-se um elemento com maior relevância, desde questões de caráter administrativo até pedagógico, de forma que, “a comunidade deve ser considerada parte ativa e insubstituível na gestão de suas necessidades educacionais e na decisão e escolha das atividades pedagógicas a serem desenvolvidas na ampliação da jornada escolar” (PARANÁ, 2018c).

De acordo com a Política, “a participação ativa das instâncias colegiadas no planejamento e execução das ações é imprescindível desde a implantação, porque se nesse processo for considerada a voz e as necessidades da comunidade, há maior probabilidade de superar os desafios de implementação” (PARANÁ, 2018d).

Nesse sentido, trazemos as considerações de Cavaliere (2007, p. 1025) quando afirma que, “a participação de organizações da sociedade civil e de outras instâncias da administração pública é desejável e pode ser enriquecedora, desde que isso não signifique pulverização das ações e sim o fortalecimento da instituição escolar”.

Dentre os desafios para implementação das ações, os recursos aparecem em destaque, dado que, a política enfatiza este fator quando trata da participação.

Há ainda a necessidade de ações de articulação com a sociedade civil organizada, instituições multissetoriais e poder público, no que tange à utilização de recursos diversos e espaços que não os da própria escola, em prol da construção de uma qualidade mais efetiva nas propostas de ampliação da jornada escolar (PARANÁ, 2018d).

Embora entendemos a necessária participação da comunidade, acreditamos que a participação não se restringe a estas questões de ordem burocrática com o intuito de suprir com as demandas do Programa que não foram/são suficientemente atendidas pelo seu idealizador – governo do Estado.

O documento, também aponta possibilidades de ações para propiciar uma participação ativa e efetiva da comunidade escolar, sendo elas: promover eventos e ações que favoreçam a interação com a população local; criar ou fortalecer comitês, conselhos e comissões para fomentar a participação; possibilitar momentos para ouvir a comunidade a respeito do que ela espera da escola e; investir na formação dos seus profissionais para que reconheçam a importância da participação da comunidade na escola (PARANÁ, 2018d).

Além da participação da família e da comunidade é ressaltada a importância da participação dos próprios estudantes, uma vez que, assim aprendem e são estimulados a participar da vida política, no contexto escolar e social, no desenvolvimento pessoal com autonomia e para o exercício da cidadania (PARANÁ, 2018d).

É possível observar que o desenho das políticas públicas educacionais compreende diversas dimensões. Elas determinam seus objetivos, sua organização, o público alvo, as formas de gestão, planejamento, implementação e avaliação. Assim, as políticas abrangem tanto o público interno (professores, alunos, equipe pedagógica e executora) quanto o externo (famílias, comunidade local, grupos sociais e diferentes esferas do governo). A Política do Estado, por meio de seus Programas de ampliação da jornada escolar objetiva conduzir suas atividades colocando em sintonia os públicos interno e externo, assegurando a participação de todos para o desenvolvimento dos projetos e a ampliação das oportunidades de aprendizagem na educação básica.

Diante desse contexto, embora a gestão democrática fundamentada na participação social seja exaltada nos documentos dos Programas e, especificamente, na Política de Educação Integral, os significados teóricos e ideológicos onde estão assentados estão alinhados com as estratégias do Estado de um modelo descentralizador sob os referencias da gestão gerencial.