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(1)UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. SIMÔNICA DA COSTA FERREIRA. CRIAÇÃO E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: UM JOGO DE DADOS COMO AÇÃO POÉTICA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE. SÃO PAULO 2020.

(2) UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. SIMÔNICA DA COSTA FERREIRA. CRIAÇÃO E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS:. UM JOGO DE DADOS COMO AÇÃO POÉTICA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE. SÃO PAULO 2020.

(3) SIMÔNICA DA COSTA FERREIRA. CRIAÇÃO E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: UM JOGO DE DADOS COMO AÇÃO POÉTICA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção de título de Doutora em Educação, Arte e História da Cultura. Orientadora: Profª. Drª. Mirian Celeste Ferreira Dias Martins. SÃO PAULO � 2020.

(4) F383c. Ferreira, Simônica da Costa. Criação e contação de histórias: um jogo de dados como ação poética e sua contribuição na formação inicial docente/Simônica da Costa Ferreira. 142 f.: il.; 30 cm Tese (Doutorado em Educação, Arte e História da Cultura) — Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020. Orientadora: Mirian Celeste Ferreira Dias Martins. Referências bibliográficas: f. 114-117. 1. Contação de histórias. 2. Jogo. 3. Pedagoga. 4. Arte. 5. Formação inicial docente. I. Martins, Mirian Celeste Ferreira Dias, orientadora. II. Título. CDD 808.31 Bibliotecária Responsável: Silvania W. Martins – CRB 8/7282.

(5) Folha de Identificação da Agência de Financiamento. Autor: Simônica da Costa Ferreira Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, Arte e História da Cultura Título do Trabalho: Criação e Contação de Histórias: um jogo de dados como ação poética e sua contribuição na formação inicial docente O presente trabalho foi realizado com o apoio de 1:. □ □ □ ■ □ □ □. CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo Instituto Presbiteriano Mackenzie/Isenção integral de Mensalidades e Taxas MACKPESQUISA - Fundo Mackenzie de Pesquisa Empresa/Indústria Outro. 1. Observação: caso tenha usufruído mais de um apoio ou benefício, selecione-os..

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(7) Dedico aos meus pais Osvaldo e Maria que sempre acreditaram em mim. Ao meu esposo Vagner e filhas Letícia, Lara e Lívia que são a minha sinfonia orquestrada pelos mais puros sentimentos..

(8) AGRADECIMENTOS. o. desafio em iniciar essa tese foi significativo, mas cheio de encantamento e alegria, pois me proporcionou criar uma sinfonia orquestrada por palavras e, que agora, reverbero nessas linhas como forma de gratidão. A primeira partitura que traz a melodia da gratidão se dirige aos amigos e familiares. Gratidão a Deus, em primeiro lugar, por me dar a vida, por me permitir realizar essa conquista, por me carregar nos braços quando clamei por socorro! Por ser meu melhor amigo! Gratidão ao meu amado esposo Vagner e minhas vidas Letícia, Lara e Lívia por serem tão compreensivos, amorosos, companheiros, incentivadores. Amo vocês com todas as forças existentes em mim; vocês são minha inspiração! Amo vocês hoje, mais que ontem e menos que amanhã! Gratidão aos meus pais Osvaldo e Maria que sempre estão presentes em minha vida, mesmo que distantes, torcendo e orando por mim. Vocês são meu exemplo de luta, perseverança! Gratidão às minhas irmãs Cecília, Silvana, Silmara e irmãos Eduardo, Rafael e a minha cunhada Luciely por acreditarem no meu trabalho e me sustentarem em oração! Ressalto minha irmã Silmara que, cuidou de mim e das minhas filhas dando seu amor, sua dedicação nessa última fase da escrita.. Gratidão as minhas amigas e amigos que, com simples gestos, me incentivaram e impulsionaram a seguir em frente. Gratidão à Igreja Presbiteriana Central de Mairinque que esteve orando todo esse tempo por essa conquista, principalmente ao irmão presbítero Ronald Ferreira que me auxiliou no processo de construção dos Dados Poéticos. Gratidão às minhas alunas e alunos que vibravam comigo, que me ensinaram aprender a aprender..

(9) A segunda partitura que traz a melodia da gratidão se dirige à Academia. Gratidão a minha linda orientadora Profª. Drª. Mirian Celeste Ferreira Dias Martins por ter me direcionado em todo processo de doutoramento, por ter me dito que era possível, por ter me respeitado, me olhado, me ouvido. Gratidão à minha banca, professoras Drª. Débora Cardoso, Drª. Débora Gaspar, Drª. Lúcia Maria Salgado dos Santos Lombardi, Drª. Maria da Graça Mizukami e Drª. Renata Junqueira, pessoas incríveis que me direcionaram com muita delicadeza, cuidado e propriedade. Gratidão às meninas da secretaria de Pós-graduação, Dagmar e Mariana pela dedicação a todos os alunos nos auxiliando, orientando. Vocês são pessoas maravilhosas! E, encerrando essa melodia, gratidão a todos aqueles que acreditam no meu trabalho e que torcem por mim! Deus abençoe a todos vocês!.

(10) Contar histórias pode ser uma sinfonia. Desde que nesta sinfonia, orquestrada com palavras, entrem todos os instrumentos: do sopro da respiração, ao metal da voz; do dedilhar do corpo, ao ribombar do olhar. Celso Sisto.

(11) RESUMO. A. presente pesquisa se iniciou na valorização da contação de histórias na formação inicial docente no curso de Pedagogia e se desdobrou na criação de histórias com a produção de um jogo de dados intitulado Dados Poéticos. As suas três versões evidenciam a abordagem metodológica pautada na pesquisa-ensino (PENTEADO, 2010) e a/r/tográfica (DIAS; IRWIN, 2013). Compreendendo o contar história como uma “sinfonia orquestrada por palavras” (SISTO, 2012) e por imagens de obras arte, a pesquisa enveredou pelos estudos de Machado (2004), Huizinga (2000); Vigotski (2014), entre outros. A pesquisa de campo com o jogo Dados Poéticos foi desenvolvida com três grupos distintos em duas universidades particulares. Para cada um destes grupos foi realizada uma sessão em quatro etapas: a) jogo; b) criação de histórias; c) encenação; d) resposta ao questionário avaliativo. A análise das histórias criadas e de suas narrações com diferentes linguagens e das respostas ao questionário aponta a leitura de obras de arte, a produção de textos, o trabalho em equipe, a interação, o uso do imaginário, a narração por meio de diferentes linguagens � teatro, dança, música, produções de contos, poemas, fábulas � e o processo colaborativo, entre outros. Todos estes aspectos provocados pelo jogo evidenciaram sua potência como uma ação poética significativa com contribuições efetivas na formação inicial docente, pois possibilita o aprender a aprender levando o discente em formação a acreditar em seu potencial e valorizar as práticas criativas e interdisciplinares que o jogo proporciona. Palavras-chave: Contação de histórias. Jogo. Pedagogia. Arte. Formação inicial docente..

(12) ABSTRACT. T. he present research started in the valorization of storytelling in the initial teacher education in the Pedagogy course and it unfolded in the creation of stories with the production of a dice game entitled Dados Poéticos. Its three versions show the methodological approach based on teaching-research (PENTEADO, 2010) and a / r / tographic (DIAS; IRWIN, 2013). Understanding storytelling as a “symphony orchestrated by words” (SISTO, 2012) and by images of works of art, the research embarked on the studies of Machado (2004), Huizinga (2000); Vigotski (2014), among others. The field research with the game Dados Poéticos was developed with three distinct groups in two private universities. For each of these groups, a session was held in four stages: a) game; b) creating stories; c) staging; d) response to the evaluation questionnaire. The analysis of the stories created and their narrations with different languages​​ and the responses to the questionnaire points out the reading of works of art, the production of texts, teamwork, interaction, the use of the imaginary, narration through different languages � theater, dance, music, short story production, poems, fables � and the collaborative process, among others. All these aspects provoked by the game showed its potency as a significant poetic action with effective contributions in the initial teacher education, as it enables learning to learn by taking the student in training to believe in its potential and to value the creative and interdisciplinary practices that the game provides. Keywords: Storytelling. Game. Pedagogy. Art. Initial teacher training of educators..

(13) RESUMEN. L. a presente investigación comenzó en la valorización de la narración en la formación inicial del profesorado en el curso de Pedagogía y se desarrolló en la creación de historias con la producción de un juego de dados titulado Dados Poéticos. Sus tres versiones muestran el enfoque metodológico basado en la enseñanza-investigación (PENTEADO, 2010) y a / r / tographic (DIAS; IRWIN, 2013). Entendiendo la narración de cuentos como una "sinfonía orquestada por palabras" (SISTO, 2012) y por imágenes de obras de arte, la investigación se embarcó en los estudios de Machado (2004), Huizinga (2000); Vigotski (2014), entre otros. La investigación de campo con el juego Dados Poéticos se desarrolló con tres grupos distintos en dos universidades privadas. Para cada uno de estos grupos, se realizó una sesión en cuatro etapas: a) juego; b) crear historias; c) puesta en escena; d) respuesta al cuestionario de evaluación. El análisis de las historias creadas y sus narraciones con diferentes idiomas y las respuestas al cuestionario señalan la lectura de obras de arte, la producción de textos, el trabajo en equipo, la interacción, el uso de lo imaginario, la narración a través de diferentes idiomas � teatro , danza, música, producción de cuentos, poemas, fábulas, y el proceso de colaboración, entre otros. Todos estos aspectos provocados por el juego mostraron su potencia como una acción poética significativa con contribuciones efectivas en la formación inicial del profesorado, ya que permite aprender a aprender llevando al alumno a la formación para creer en su potencial y valorar las prácticas creativas e interdisciplinarias que El juego proporciona. Palabras clave: Cuentacuentos. Juego. Pedagogía. Art. Formación inicial docente..

(14) LISTA DE FIGURAS Fig. 01: Carro abre-alas - Viradouro ■ 28p Fig. 02: Registro da parte teórica do minicurso com apresentação dos meios para contação ■ 44p Fig. 03: A organização do espaço para contação ■ 45p Fig. 04: Parte prática do minicurso ■ 46p Fig. 05: Aluna, participante do minicurso, na Contação da Semana da Pedagogia ■ 47p Fig. 06: Danaë nos jardins de Górgona ou saudades de Pangeia ■ 51p Fig. 07: Dados Poéticos ■ 56p Fig. 08: Obras que compõem o dado Personagens ■ 65p Fig. 09: Obras que compõem o dado Lugar ■ 65p Fig. 10: Obras que compõem o dado Clima ■ 66p Fig. 11: Obras que compõem o dado Etnia/Cultura ■ 66p Fig. 12: Primeira versão do jogo ■ 68p Fig. 13: Segunda versão do jogo ■ 68p Fig. 14: Terceira versão do jogo ■ 69p Fig. 15: Terceira versão do jogo - cartas ■ 70p Fig. 16: Obras sorteadas para a criação da história “Um milagre chamado Jeredy” ■ 76p Fig. 17: Obras sorteadas para a criação da história “Um amor a distância” ■ 76p Fig. 18: Obras sorteadas para a criação da história “O romance de Antonella”. ■ 77p Fig. 19: Obras sorteadas para a criação da história “A história de dona Alexandrina” ■ 77p Fig. 20: Obras sorteadas para a criação da história ■ 78p Fig. 21: Obras sorteadas para a criação da história “Uma boa ação” ■ 78p Fig. 22: Obras sorteadas para a criação da história “Bom é fazer o bem” ■ 79p Fig. 23: Obras sorteadas para a criação da história “Uma noite surpresa” ■ 79p Fig. 24: Obras sorteadas para a criação da história “Artes → 3Q” ■ 81p Fig. 25: Obras sorteadas para a criação da história ■ 81p Fig. 26: Obras sorteadas para a criação da história “Aurora, Aurora, Aurora, por quê chora? ■ 82p Fig. 27: Obras sorteadas para a criação da história ■ 82p Fig. 28: Obras sorteadas para a criação da história “A criança e o pombo” ■ 84p Fig. 29: Obras sorteadas para a criação da história “O encanto da imaginação” ■ 84p Fig. 30: Obras sorteadas para a criação da história “O índio solitário” ■ 85p Fig. 31: Obras sorteadas para a criação da história “Ao entardecer” ■ 85p Fig. 32: Obras sorteadas para a criação da história “Uma grande memória” ■ 86p Fig. 33: Obras sorteadas para a criação da história “O símbolo do amor” ■ 86p Fig. 34: Apresentação U2. ■ 94p.

(15) SUMÁRIO. Introdução ■ 13p. Cap. 1: Contação de histórias: sinfonia orquestrada por palavras ■ 23p. Os contos e as crianças ■ 26p. Sobre criatividade e imaginação ■ 31p. Contação de história na escola ■ 36p. A contação e a formação do contador de histórias ■ 43p. As cartas ■ 70p. Dados para despertar a criação ■ 67p. Os 4 elementos: personagens, lugar, clima e etnias/culturas ■ 63p. Dados poéticos: as claves que regem a melodia da ação ■ 56p. Sobre os Jogos ■ 53p. Cap. 2: Contação de histórias: sinfonia orquestrada por imagens ■ 50p. As etapas do jogo ■ 71p. Cap. 3: O jogo jogado: criação e contação, dados poéticos em ação ■ 73p. A primeira partida: U1 ■ 75p. A segunda partida: U2 ■ 80p. A terceira partida: U3 ■ 83p. Cap. 4: Reverberações do jogo: ensaios da criação ■ 88p. Sobre as Pausas, Silêncio, Voz ■ 95p. Sobre o clima ■ 95p. Sobre o corpo ■ 94p. Sobre os textos ■ 94p. Sobre a emoção ■ 93p. Jogo jogado ■ 93p.

(16) Sobre os gêneros textuais ■ 96p. Sobre o jogo na formação inicial docente ■ 107p. Sobre a metologia para a prática no Ensino Fundamental ■ 108p. Sobre a produção das narrativas ■ 97p. Sobre as imagens ■ 97p. Sobre as linguagens apresentadas ■ 99p. Sobre a interação Sobre a criação Sobre a e trabalho em e produção apresentação equipe ■ 105p textual ■ 104p encenada da criação ■ 106p. Considerações finais ■ 110p. Referências ■ 114p. Apêndices ■ 118p. A experiência questionada ■ 100p. Sobre o aprendizado ■ 100p. Sobre a Sobre sugestões formação de mudança e cultural: arte e acréscimos na suas linguagens proposta do ■ 102p jogo ■ 101p.

(17) INTRODUÇÃO. Q. ue espaço ocupa a Arte na vida das crianças? Em quais espaços de produção artística essas crianças circulam? A arte está apenas nos museus? Os professores, em sua formação inicial, têm alguma dificuldade no ensino da Arte, da ação do contar histórias, que é uma arte? Na minha infância não tive oportunidade de entrar em contato com “Arte”. Na realidade não entendia o que vinha a ser Arte. Sempre ouvi falar, no contexto escolar, de quadros pintados como o de Leonardo Da Vinci, Picasso; mas, eram só esses dois, pelo menos que eu me lembre. Era só de ouvir falar e observando figuras de revistas que a professora trazia. Contextualizando essa minha “ignorância” no que se refere à Arte, sempre morei no interior de São Paulo, estudando toda minha vida em escola pública, tendo uma vida simples, mas cheia de amor. Na minha cidade de origem, Lençóis Paulista, há centros culturais onde são proporcionadas apresentações de escolas, academias, instituições, envolvendo música, teatro, dança, entre outros. Existe um local que chamamos de “Concha Acústica”. Esse nome se dá pelo fato da estrutura parecer uma concha; nesse local a comunidade lençoense realiza os eventos culturais da cidade. Realizei várias apresentações com a escola, participei de vários shows patrocinados pela prefeitura da cidade e, nem imaginava que estava participando de algo que envolvia arte. Acredito que essa compreensão cultural é bem sutil na formação de alguns estudantes, mesmo na contemporaneidade. O tempo foi passando e cheguei a universidade, já casada e morando em outra cidade do interior de São Paulo. Fiz graduação na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Presidente Prudente. Infelizmente, fui acometida de um sério problema pós-operatório e fiquei afastada da universidade por seis meses. Nesse tempo, a disciplina de Artes estava sendo ministrada no curso que eu estava fazendo, qual seja, Pedagogia, mas mesmo em casa realizando os trabalhos domiciliares, não tive uma formação em Artes. Relato isso porque meus colegas de sala que levavam os trabalhos para eu fazer e diziam que essa disciplina estava deixando muito a desejar, pois a professora faltava muito. Quando estava em sala não explicava direito o conteúdo, dava só trabalhos manuais (não que esses não tenham importância), mas em relação à Arte não houve essa mediação e, quando digo Arte me refiro ao encontro com obras de arte, à visita a exposições ou sugestões de visitas o que vem a ser curadoria; termos que agora, no doutorado, vim a ter contato.. 13.

(18) Nessa mesma universidade, ainda na graduação, passei por uma seleção para fazer parte do grupo de pesquisa da professora Dra. Renata Junqueira de Souza e, foi nesse grupo, que se reunia no Centro de Estudos em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil (CELLIJ), que me aproximei ainda mais da contação de histórias e da literatura, sem imaginar que assim estaria trabalhando com Arte. Nossa coordenadora, a professora supracitada, sempre nos incentivava a participar de congressos levando a riqueza da literatura e da contação de histórias para alcançar outras pessoas, para que os professores pudessem perceber a riqueza que há na ação de contar histórias. O CELLIJ me deu a oportunidade de viver, na prática, a teoria da literatura possibilitando, através dos estudos em grupo, o pensar em como levar a contação de uma maneira lúdica, criativa, participativa e encantadora, além de proporcionar conhecimento, pois os projetos que o CELLIJ coordenava, recebia crianças do Ensino Fundamental e, através das contações e estudos, as crianças tinham sua participação ativa. Lembro-me de uma mãe que veio agradecer porque seu filho, no início do projeto, não queria participar, não gostava de produzir textos e, quando fizemos um amigo secreto onde as crianças tinham que descrever seu amigo oculto através de um texto, esse garoto escreveu uma poesia que encantou a todos. Em 2013, ingressei no Mestrado e continuei o trabalho no CELLIJ e, por verificar que os alunos tinham potencial para a escrita, tendo incentivo e uma estratégia que permitisse essa autonomia, direcionei minha pesquisa à estrada da leitura e produção de textos tendo como título “Concepção de produção de texto na escola: os reflexos no ensino da língua materna na sala do 5º ano do Ensino Fundamental” (FERREIRA, 2015). Defendi no ano de 2015 já morando em Mairinque/SP. Na defesa, uma pergunta me incomodou; a professora Ana Luzia Videira Parizotto, que fez parte da minha banca, me questionou: “Em que sua pesquisa irá contribuir com o ambiente pesquisado?” Foi aí que percebi que, morando em outra cidade, não teria condições de voltar à escola pesquisada para poder contribuir de alguma forma. Com isso, o desejo de realizar uma pesquisa que pudesse agregar na formação de alguém cresceu em mim, e fui à busca do doutorado. A princípio minha meta era continuar com a leitura e produção de texto, mas o que me encantava era a contação de histórias e, enquanto tentava os processos seletivos, com a proposta no pré-projeto referente à leitura e produção de textos, parecia que estava faltando alguma coisa. Mesmo tendo passado no processo na Universidade Presbiteriana Mackenzie, iniciei as aulas com a temática ainda centrada na leitura e produção de textos. Ao iniciar a disciplina de Mediação Cultural, ministrada por minha orientadora Mirian Celeste, fui percebendo que não era a leitura e produção de texto o tema central de pesquisa que queria, mas sim a contação de histórias. Foi em uma conversa com ela que pude externar meu desejo e, com seu incentivo e empolgação, direcionei meu tema de trabalho para a contação de histórias.. 14.

(19) Antes de adentrar na pesquisa, quero deixar registrado um breve relato a respeito de minha inexperiência (já mencionada anteriormente) com a disciplina de Artes. Venho através das próximas linhas, salientar meu encantamento pela disciplina “Mediação Cultural e Formação de Educadores”, ministrada pela professora doutora Mirian Celeste Martins. Essa disciplina, no início, me deixou sem ter no que pensar a respeito; desconstruí-me por completo. Deparei-me com pessoas inseridas nesse mundo da arte e que, até então, eu não sabia exatamente do que se tratava; tinha uma tímida opinião, mas não total compreensão devido a minha “ignorância” sobre o assunto. Com o passar das aulas, fui percebendo a grandiosidade da disciplina. Lembro-me de certo dia, me dirigir à professora e dizer que não estava entendendo algumas colocações dos outros alunos e Mirian, prontamente me disse para não ter medo de perguntar, que ali era permitido errar. Essa fala me encorajou e me fez pensar em minhas alunas, pois muitas vezes elas não perguntam por ter esse medo do erro e, passei a replicar essa fala da minha orientadora. A disciplina proporcionou vários olhares em direção à arte, me fazendo entender que arte não é apenas uma visita ao museu. Arte é tudo aquilo que nos toca, aquilo que nos faz desconstruir para construir. Mas, pensando no museu, tive uma experiência da qual foi extremamente relevante para eu entender que, nele, não há só quadros pendurados nas paredes; há algo mais. Minha primeira visita foi ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP); um lugar lindo, que via somente na televisão e me vi lá, olhando para cima contemplando a imensidão daquela estrutura. Quando entrei na exposição, me deparei com quadros, esculturas, vídeos e, um quadro que me impressionou foi o intitulado “Criança Morta” de Cândido Portinari, fiquei vários minutos em frente ao quadro olhando os detalhes e, mais uma vez me encantei e, desaplanei, ou seja, me envolvi em “[...] múltiplos pontos de vista para, a partir deles, produzir novos modos de ver.” (SOUSANIS, 2017, p. 32) O que pude perceber até aqui e sei que ainda há muito pela frente é que. “. A experiência, a possibilidade de que algo nos passe ou nos aconteça ou toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar e escutar mais devagar, parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço. (LARROSA, 2004, p. 160). 15.

(20) Esse tempo de se pensar a respeito, de observar é de extrema relevância para a compreensão do que se põe a nossa frente como para se ler uma obra de arte. Em uma visita ao Museu de Arte Contemporânea (MAC), realizada com os alunos da disciplina de Mediação Cultural, tive a encantadora experiência de vivenciar o ler a arte. Ao entrarmos na sala onde estavam expostas esculturas, pinturas etc., minha orientadora, Mirian Celeste, pediu ao grupo para dizer o que viam/ sentiam olhando para duas esculturas e uma pintura. Relatei o que senti e percebi e me veio a explosão de alegria... compreendi! Ao realizar a leitura das obras futuristas, mediada pela professora, os conceitos principais de um movimento de Arte Moderna que eu não conhecia, ficaram claros para mim. Lembrei-me do texto de Kastrup (1999, p. 153) que diz, “o melhor aprendiz não é aquele que aborda o mundo por meio de hábitos cristalizados, mas o que consegue permanecer sempre em processo de aprendizagem.” Por mais que não soubesse que ali eu era um aprendiz, senti um despertar pelo aprendizado sobre e com a Arte e me senti aberta à experiência. Esse relato com a experiência da disciplina Mediação Cultural, com os conteúdos abordados, as visitas culturais, me proporcionou um reverberar frente ao que eu queria com a pesquisa. A criação e contação de histórias faz parte da arte e proporciona o pensar sobre vários aspectos que devem fazer parte da formação inicial do professor, ou seja, mediar às linguagens da arte, mostrar que todos somos capazes de criar, de trabalhar em grupo e a relevância desse movimento, entre tantos outros aspectos. Nesse ínterim eu lecionava, e ainda leciono, no Centro Universitário de São Roque, no curso de Pedagogia, localizado no interior de São Paulo. Durante a docência das aulas na disciplina “Saberes e Metodologias do Ensino da Educação Infantil”, mencionei a relevância que a contação de histórias tem e as indagações, por parte das alunas, começaram. E, desta ação que foi se concretizando a pesquisa. Essa pesquisa se justifica pelo fato de possibilitar o criar e (re)criar dos alunos em formação do curso de Pedagogia, trazendo a baila a relevância da contação de histórias, o potencial de criação dos alunos, a reflexão no que se refere à compreensão do conhecimento sobre as linguagens artísticas. É certo que estamos vivenciando um momento do qual pessoas têm se isolado; o individualismo está crescente e o contato com o outro não tem sido evidenciado. Professores adoecendo por tanta cobrança acrescida neste momento de pandemia que há e, na maioria das vezes, pouco ou quase nenhum reconhecimento. A dialogicidade está perdendo seu espaço diante de tanta tecnologia, não que essa seja ruim, mas a conversa, as histórias, o contar histórias, a criação, corre o risco de se perder.. 16.

(21) Esse afastamento que tem ocorrido entre algumas pessoas me faz lembrar da obra de Benjamin (2009) trazendo à reflexão sobre a extinção da arte de narrar diante da ausência de voz dos soldados ao regressarem da guerra. Esse contato com o outro é que deixa viva a ação do narrar, do dizer, do compartilhar e, diante disso, nos perguntamos: Será que a narração se perdeu? Será que ainda existe? São preocupações que compartilho com o autor, pois a narração de histórias, em se tratando da formação de professores do curso de Pedagogia, deve ter seu espaço. Dito de outro modo, a contação de histórias é de grande relevância para o processo de ensino-aprendizagem, pois proporciona ao educando o refletir, o questionar, o compartilhar e, a compreensão da relevância da contação de histórias. Mas como contar histórias? Em que ela pode contribuir no processo de ensino-aprendizagem? Contação de histórias acontece somente no ambiente escolar? É somente ler? São questionamentos que inquietam a muitos alunos do curso de Pedagogia por não terem um preparo que os permita entender o que vem a ser e o que engloba uma contação de histórias. Essas questões me impulsionaram à pesquisa do doutorado visando à contribuição para a formação do professor no que diz respeito à prática da contação de histórias, trazendo a ação poética, a tradição oral, a arte, o encantamento, entre outros aspectos. A pesquisa intitulada Criação e Contação de Histórias: um jogo de dados como ação poética e sua contribuição para a formação inicial docente, teve seu início prático na docência da disciplina intitulada “Saberes e Metodologias de ensino da Educação Infantil” – citada anteriormente como ponto de partida para as perguntas das alunas1 referente à contação de histórias. Em confabulação com as alunas foi observado às dificuldades e dúvidas que tinham na realização de uma contação de histórias e as ações que podem ser trabalhadas através dela. Frente a óbice, foi sugerido primeiramente um projeto piloto, no formato de minicurso, que pudesse contribuir com a formação das discentes. A partir desse minicurso, da participação e interesse das alunas, tanto no que se referiu à teoria quanto à prática que gerou o artigo apresentado no IV Congresso Nacional de Educação (CONEDU) intitulado “Um relato de experiência interdisciplinar: a magia da contação de histórias” (FERREIRA, 2017). Houve um extremado desejo de viabilizar um meio que contemplasse as preocupações, no que se referia à contação e ao que poderia ser feito com ela e através dela; contemplando o educando e, principalmente, a professora em formação.. 1. A referência está no feminino pelo fato da sala ter majoritariamente mulheres.. 17.

(22) Partindo do projeto piloto, fui à busca de trabalhos em pesquisa online por teses e dissertações que evidenciassem a contação de histórias na formação docente inicial2. E foi se delineando a possibilidade de criar uma proposta que gerasse uma ação de criação e contação de histórias por meio do jogo de Dados Poéticos (DP). Podemos pensar que a pesquisa se deu em duas vertentes. A primeira na criação do jogo de Dados Poéticos que gerou três versões aprimorando a sua construção, a escolha de imagens que o compõe e por fim, uma ficha que acompanha o jogo, que será apresentado no capítulo dois. O jogo, além de trabalhar a criação e a contação de histórias, proporciona o trabalho com as linguagens da arte, a produção textual (que era a intenção inicial), entre outros aspectos que são relevantes em sala de aula para serem realizados com os alunos, mas que o professor necessita saber a respeito. A segunda vertente da pesquisa se refere à ação de jogar os Dados Poéticos. Estas ações foram feitas em três grupos distintos, todos com estudantes do curso de Pedagogia de faculdades particulares. Cada jogada gerou também modificações no próprio jogo. Esta segunda vertente da pesquisa foi realizada em três espaços e tempos diversos: um grupo de quarenta e sete alunas do terceiro semestre do curso de Pedagogia de um Centro Universitário no interior de São Paulo, denominado aqui de U1; um grupo de vinte e cinco estudantes do curso de Pedagogia de uma universidade situada na cidade de São Paulo, denominada U2 e um último grupo de vinte e seis estudantes do primeiro semestre do curso de Pedagogia no mesmo Centro Universitário, denominado como U3. A intenção era colocar o jogo em prática com outras turmas, mas em meados do mês de março do ano corrente foi necessário entrarmos em isolamento social devido a uma pandemia mundial; isso me impossibilitou dar continuidade. Assim a pesquisa começa tomar forma e, com a prática foi ficando em evidência não só a contação de histórias, mas primeiramente a criação de histórias. Na prática com o jogo a criação se fortaleceu, pois antes de contar os participantes criavam as histórias e, pude verificar que a centralidade do jogo se voltava para a criação. O jogo de DP contempla: arte, produção textual, teatro, entre outras possibilidades de ações poéticas, pois “[...] convida os professores a se encontrarem, pouco a pouco, como protagonistas da sua própria história, dentro da história, com todos os riscos, perdas, danos, e benefícios que essa descoberta possa lhes trazer”. (MACHADO, 2004, p. 13) e as histórias nos permitem vivenciar momentos em tempos atemporais, vamos para lugares dos quais nunca colocamos nossos pés. Essa arte impulsiona, traz o imaginário à tona, dito de outro modo, as histórias nos permitem sonhar! 2. No levantamento realizado no site da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) pude verificar que apenas um trabalho de Dissertação de Mestrado que abordou a questão da contação de histórias na formação docente inicial: SILVA, Maria da Graça Chabalgoity do Nascimento. A relevância da dimensão estética no ensino: uma experiência de professoras em formação no projeto contação de histórias. 2009, 74f. Dissertação (Mestrado). Universidade do Vale do Rio do Sinos. São Leopoldo, 2009.. 18.

(23) Foi pensando na condição sine qua non que a contação de histórias traz que fui impulsionada a querer adentrar nessa ação e proporcionar às alunas do curso de Pedagogia a experiência ímpar que elas, mesmo receosas e, muitas vezes achando que não é possível, podem e devem realizar. Encantar, imaginar, sorrir, fazer sorrir, emocionar, são ações que, através da contação, podemos proporcionar ao nosso educando. Diante do exposto as questões que movem essa pesquisa são: como estimular os discentes em formação do curso de Pedagogia a compreender a importância da ação de contar histórias? O jogo os envolve no ato de criar com sensibilidade e imaginação para permitir o encantamento e o prazer de criar e contar histórias? Com a intenção de também despertar minhas alunas do curso de Pedagogia para o aprendizado sobre Arte e, atenta aos questionamentos delas frente à contação de histórias, o objetivo geral dessa pesquisa visa investigar a potência da ação do contar histórias na formação inicial dos professores, visando o incentivo à prática da criação de histórias tendo em vista a relevância desse processo, refletindo sobre a proposta do jogo de Dados Poéticos (DP) e, consequentemente, proporcionar a ampliação da formação cultural dos estudantes do curso de Pedagogia. Portanto, o objetivo geral consiste em investigar a contribuição da ação do criar e contar histórias na formação docente inicial dos professores, por meio de um jogo de dados que contempla o trabalho com Arte, produção de textos, trabalho em equipe, interação, uso do imaginário, a pesquisa e o processo colaborativo, entre outros. Para alcança-lo os objetivos específicos visam: incentivar a prática de criação da contação de histórias no curso de Pedagogia pesquisados; analisar as produções dos alunos dos cursos de Pedagogia por meio do jogo de dados verificando a potencialidade do jogo para ampliar a capacidade de criação e da relevância para os processos de aprendizagem; refletir sobre a proposta do jogo como dispositivo eficaz para o trabalho com a contação de histórias no curso de Pedagogia; ampliar a formação cultural dos estudantes do curso de Pedagogia, especialmente provocado pela leitura das imagens e a recriação por meio das linguagens artísticas. A metodologia é de cunho qualitativo e se fundamenta no conceito de pesquisa-ensino, “enquanto uma modalidade da pesquisa-ação [...] é um processo comunicacional docente, inquiridor e problematizador da docência, do processo de ensino-aprendizagem [...]”, como diz Penteado (2010, p. 48). Ao mesmo tempo em que oportunizo o aprendizado, sigo aprendendo, refletindo, repensando as ações com o jogo. Trago também a a/r/tografia como um suporte metodológico importante, pois se funde com a pesquisa viva, ou seja, “cria e reinventa para abraçar a investigação [...] uma forma poética conceitual de dizer que a investigação permeia todo processo, ela transpira, é viva.” (DIAS, 2013, p. 15).. 19.

(24) Essa representação da a/r/tografia não é só daquele que ganha sua vida com sua arte e está presente no mundo da arte, mas aquele que traz a arte no seu modo de agir e, nesse sentido, é sempre criativo. Por esse motivo ela está ligada à pesquisa-ação, pois “é uma forma de investigação que abrange as práticas do artista (músico, poeta, dançarino, etc), do educador (professor/aluno) e do pesquisador (investigador).” (IRWIN, 2013, p. 28) Nessa natureza da A/r/tografia onde o A (Artist) de artista, R (Reseacher) de pesquisador, T (Teacher) de professor e grafia (graph) se fundem com essa pesquisa devido a inserção que realizo como pesquisadora e professora, como criadora e curadora de todo processo de criação dos Dados Poéticos. Nesse sentido, possibilitando o envolvimento dos discentes do curso de Pedagogia e seu processo de ensino-aprendizagem e trazendo a visão de autores como: Gil (2002), Penteado e Garrido et al (2010), Abramovich (1997), Coelho (1989), Machado (2004), Matos e Sorsy (2007), Silvestre e Silva (2013), Brougère (1995); Huizinga (2000); Vigotski (2002), entre outros. Cada capítulo começa com um pequeno conto criado por mim, uma provocação de minha orientadora. Busquei mostrar a importância de um estudo mais aprofundado sobre a contação de histórias, compreendendo as dificuldades existentes no processo de formação de estudantes do curso de Pedagogia e, para tanto nos dispomos dos seguintes instrumentos para a pesquisa: conversa informal sobre a compreensão referente à contação de histórias; jogo de dados intitulado Dados Poéticos (DP); ação com o jogo; questionário para coleta de dados sobre a eficácia do jogo. No primeiro momento foi realizado um levantamento bibliográfico no que se refere à contação de histórias visando à formação do professor; verifiquei que se é pesquisado de modo significativo a contação, mas com foco na Educação Infantil, no incentivo à leitura. O segundo momento diz respeito a uma pesquisa de campo que desenvolve-se em uma sessão em quatro etapas. Uma semana antes de ser realizada a sessão, na qual os participantes irão realizar as atividades: a) jogo; b) criação de histórias; c) encenação; d) resposta ao questionário, com um contato preliminar especificando a pesquisa para os participantes (estudantes de Pedagogia) e entrega do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para verificar quais serão aqueles que participarão. Na semana seguinte, realiza-se a sessão com os/as estudantes. A primeira etapa diz respeito à prática de um jogo de dados que, contém, ao invés de números, obras de arte de variadas linguagens. O jogo é composto de quatro dados; cada grupo sorteia os dados, anota-se as obras e os grupos retornam para conversar sobre as obras e inicia-se uma segunda etapa, na qual é criada sua própria história a partir dessas obras de arte. Um terceiro momento proposto refere-se a uma reflexão coletiva para decidir a forma de encenação da história (optando-se por formas diferenciadas de expressão artística).. 20.

(25) A apresentação artística de cada grupo realiza-se após um momento reflexivo e do ensaio. Essa apresentação é realizada em sala para os demais grupos presentes. Na quarta etapa, um questionário é respondido avaliando o jogo com algumas perguntas. (Apêndice 4) Foi realizada uma sessão por sala, sendo formados grupos de três a sete participantes e as etapas do jogo compreendem um tempo de: a) jogo (30min); b) criação de histórias (40min); c) encenação (60min); d) resposta ao questionário (30min), totalizando duas horas e quarenta minutos. Essa fase empírica da pesquisa contribuiu para corroborar com a hipótese de que o jogo de Dados Poéticos pode ser eficaz na formação dos alunos do curso de Pedagogia para seu futuro trabalho em sala de aula com as várias linguagens e criação e contação de histórias. Assim, no primeiro capítulo, é tratado sobre a relevância da contação de histórias, seu contexto histórico, a contação como arte e a importância dessa prática no contexto escolar e as metodologias utilizadas. No segundo capítulo, trago o conceito de jogos, apresento o jogo de dados, sua criação e a prática do mesmo, sua contribuição no processo de ensino-aprendizagem, visando à descrição de todo o procedimento de construção, objetivos, entre outros aspectos. O terceiro capítulo salienta sobre a criação das histórias dos alunos do curso de Pedagogia e a prática significativa dessa ação; o jogo praticado com as turmas do primeiro e terceiro semestres do curso de Pedagogia de um Centro Universitário do interior de São Paulo e um terceiro semestre de uma universidade da capital São Paulo; as histórias criadas pelos grupos participantes, registrando um resumo, palavras chaves e a escolha da apresentação da história. No quarto e último capítulo, realizo as análises das produções e de todo processo realizado com o jogo de DP, através de categorias que evidenciam sua praticidade, criatividade e contribuição para a formação docente inicial, trazendo a baila à condição precípua da relevante contribuição que o jogo pode proporcionar à formação dos alunos do curso de Pedagogia. Encerrando o trabalho da produção escrita, trago as considerações finais com reflexões sobre todo processo, contribuição, reflexão sobre a proposta do jogo e tudo o que foi percebido diante da ação. Esperançando em contribuir com esta pesquisa com a formação docente inicial para que alunos e alunas tenham um meio de trabalhar de maneira divertida, interativa, mas principalmente interdisciplinar.. 21.

(26) CAP. 1 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: SINFONIA ORQUESTRADA POR PALAVRAS.

(27) E. ra uma vez, no tempo em que os bichos falavam, uma garotinha que amava histórias. Seu avô, todo final de tarde sentava na varanda em uma cadeira de cordas para contar sobre sua infância; ela era fascinada pela história da qual seu avô virava toco e ninguém o via. Mas, a história que mais chamava sua atenção era a de lobisomem. O pai dessa menina também contava histórias aos finais de semana, quando não estava trabalhando e ela lembrava bem do lugar, do cheiro, das sensações que ela tinha enquanto o ouvia falar. Muitas vezes era medo, mas na maioria delas era uma viagem até onde o pai relatava. Sua mãe lia os romances de “Sabrina” todos os dias à tarde, sentada no sofá e sempre afirmava que leitura nos faz crescer. Quando ia para a casa da vovó, sentia-se maravilhada por deliciar-se com as comidas que ela fazia, mas também havia o momento da história que, quando o vovô não contava, vinha a vovó para realizar aquele momento que, para ela, era maravilhoso. Essa garotinha, depois de um tempo, se tornou pesquisadora, sempre morou no interior de São Paulo em uma cidade chamada Lençóis Paulista, conhecida como a “Cidade do Livro” por possuir a famosa biblioteca Orígenes Lessa. Lá, existem vários espaços culturais e de leitura como: “Teatro Municipal Adélia Lorenzeti”, “Espaço Cultural cidade do Livro”, “Museu Municipal Alexandre Chitto”, “Memorial Municipal Alfredo Guedes”, “Casa da Cultura”, entre outros. Desde pequena, essa garota teve contato com contações de histórias e várias literaturas. Todo seu estudo foi em escola pública, sua infância foi na rua (naquela época não era perigoso) brincando de esconde-esconde, queimada, amarelinha, corda, taco, casinha, escolinha, dominó, entre tantas outras brincadeiras e mais as que a imaginação lhe permitia criar.. 23.

(28) A infância foi passando e quando chegou à graduação, o sonho que se formara desde quando era menina (ser professora), se concretiza com o início do curso de Pedagogia. Foi se inserindo no mundo da pesquisa, o qual se encantou, e pôde deliciar-se com projetos que envolviam o aprendizado das crianças, em seu desempenho no processo de produção textual, leitura, criação etc. Esses tinham como foco, a contação de histórias e, através dela, as outras ações eram realizadas. Os projetos se dividiam em duas partes, uma havia a teoria onde estudava-se os autores inseridos no contexto da leitura, literatura, contação de histórias etc., e a outra era a parte prática na qual havia o preparo para a realização da ação dos projetos, quando as crianças de escolas públicas e particulares vinham visitar. Era realizado um agendamento, pois a procura era grande. Assim, essa história da garotinha do interior de São Paulo, entrou pela porta da pesquisa em busca do conhecimento e nunca mais quis sair e se encantou com a contação de histórias como uma sinfonia orquestrada por palavras. E essa história apenas começa! A construção, a criação e a contação continuam para desenhar uma potência existente em cada ser humano que dela participar!. 24.

(29) “. Desde os tempos mais longínquos o ser humano conta as suas histórias: caçadas, conquistas, encontros desencontros, lendas, fábulas, causos, anedotas... Enfim, muita coisa vem sendo narrada a cada dia há milênios, nos mais diversos recantos da Terra, em inúmeras línguas e dialetos, por pessoas de culturas distintas, cada uma expressando uma visão de mundo própria e singular que torna a produção do texto verbalizado um evento único e original. A esse evento chamarei narração ou ato de contar. (MORAES, 2012, p.14).. S. im, contação de histórias! Uma arte que está presente há muito tempo na humanidade, com ela se diz o não dito; ela inquieta, ensina, contribui, media, permite-nos ir para lugares que nunca pudemos estar; nos mostra algo que está oculto, nos faz sentir que não estamos sozinhos. A contação faz parte do nosso convívio social, pois onde estamos sempre tem alguém que está contando uma história, seja de sua vida pessoal, seja de sua família ou familiares, seja algo que viu ou ouviu. É certo que, na verdade, estamos diariamente contando uma história, às vezes, nem percebemos, mas elas estão no seio de nossa família, quando colocamos nossos filhos para dormir, quando sentamos com nossos avós e os ouvimos dizer o que faziam quando eram crianças, quando alguém nos visita, quando estamos na fila do banco, quando estamos em uma lanchonete, sorveteria, dentro do carro, na sala da nossa casa, na varanda, em uma festa com os amigos, entre tantos outros momentos e lugares e, agora, na pandemia, com o isolamento social, ouvimos histórias através do YouTube, Facebook, telefonemas, chamadas de vídeo de whatsApp, entre outros. É sentar-se na varanda de nossa casa para ouvir nossos avós, nossos pais contarem suas histórias e, através delas iniciarmos o exercício imaginativo que os contos nos proporcionam. É poder saborear cada palavra e perceber a sinfonia que está orquestrada em cada uma delas; é sentir-se dentro da história, viver naquela época, sentir o cheiro do lugar e perceber que se pode ir além, ou seja, identificar a potência que pode existir através da contação e possibilitar a outros o prazer de construir esse momento. Uma ação que encanta e prende a atenção de muitos. Afirmo que em todo o mundo esse momento está presente de modos e linguagens diferentes, mas com o mesmo objetivo, proporcionar momentos de encantamento, o de levar conhecimento sobre algo, trazer à tona o aprendido e o que se pode aprender para as futuras gerações levando, através das histórias, o que foi aprendido ao longo da vida. É sobre esse universo que me debruço a seguir na busca pelo aprender a aprender.. 25.

(30) OS CONTOS E AS CRIANÇAS “. Contar histórias é uma arte ancestral, cujo fascínio sobre o ser humano permanece, ao longo do tempo, colaborando para a consolidação do imaginário coletivo e enredando narradores e ouvintes em uma mesma trama. Desde a infância e por toda a vida, ela faz parte da construção da identidade e da afetividade. Nesse sentido, a fabulação nos possibilita experimentar o prazer de perceber o mundo e a existência por meio de representações que nos levam a conhecer outras realidades, e a refletir, transcender e desenvolver uma acuidade sobre o real, nos habilitando a percebê-lo sob um olhar renovado. (MIRANDA, 2015, p. 9). S. e a arte de contar histórias esteve sempre presente na história da humanidade, ela deve ser cultivada, com um ato prazeroso e necessário. Por meio dela viajamos no mundo da imaginação, pois as histórias transportam o ouvinte para uma viagem, onde palavras novas são aprendidas, músicas são ouvidas e cantadas e culturas são conhecidas. “Durante a leitura ou escuta de uma história pode haver uma variedade muito grande de experiências misteriosas que, quando pequena, a criança conhece muito bem e com as quais tem familiaridade”. (MACHADO, 2004, p. 28). Vem à memória a experiência poética de Gilka Girardello (2012) dizendo que seu avô se entregava ao convívio com uma criança e a entregava a chave para abrir as portas para alegrias surpreendentes. E, podemos dizer que, não somente para a criança, mas também para o adulto. A contação de histórias nos propicia ir além do tempo! É um momento que possibilita o reverberar sobre nossa infância, da possibilidade de reviver momentos já adormecidos. Não contar por contar, mas arrebatar, ter um olhar sensível, de amor. Concordando com Freire (2006, p. 92), é a dialogicidade, o amor é também conversa, “[...] é ato de coragem, nunca de medo, o amor é compromisso com os homens [...]. O ato de amor é comprometer-se com a causa. A causa da libertação. Mas, este compromisso, porque é amoroso, é dialógico”. Acontece também ao contar histórias, quando a proximidade do diálogo acontece. A narrativa está presente na vida do ser humano desde a mais tenra idade com histórias contadas pelos pais narrando o que vai acontecendo ao bebê, e assim, o mundo para ele, seja através de criações musicais que os pais muitas vezes “compõem” para ninar seus filhos e que mais tarde vão dando lugar às cantigas de roda ou às narrativas curtas sobre curiosidades vivenciadas pelos pequenos.. 26.

(31) No passado distante, não havia uma literatura voltada para crianças. Os contos eram narrados pelos adultos sobre situações vivenciadas ou inventadas por eles com conversas ao pé do fogo. Dito de outro modo, os adultos se reuniam ao redor de uma fogueira em suas fazendas e sítios para conversarem; contavam ou inventavam suas histórias. As contadoras de histórias caprichavam nos detalhes assustadores. Nas versões originais, – a literatura ainda não era voltada para crianças – as histórias recebiam outros sentidos e envolviam fatos que traziam os perigos da estrada e da floresta. A crueldade fazia parte do roteiro, pois era pobreza e morte que se esperava do mundo no século XV. A fome, o maior mal daquele tempo, protagonizava muitas das narrativas, como em João e Maria3 (conto de tradição oral coletado pelos irmãos Grimm, no século XIX), em que os pais abandonam as crianças na floresta por não ter como alimentá-los. Nesta história há a preocupação dos adultos com a fome que assolava a todos e das crianças que temiam ser abandonadas. A história, relatada no período da Idade Média, um tempo de preocupações diversas e muita escassez, traz os acontecimentos vivenciados por duas crianças que se veem abandonadas por seu pai e sua madrasta, tendo que lidar com seus medos naquela situação de desamparo e tristeza, mas que superam através de suas próprias estratégias, se reorientam em suas capacidades e conseguem voltar para casa. Na contemporaneidade, ainda encontramos e, com muita beleza, a contação inserida nos mais diversos contextos como séries, filmes, novelas e até no samba. Dois exemplos confirmam a contemporaneidade dos contos: o primeiro é a série norte americana para a televisão, que é vista pelo mundo todo intitulada Once Upon a Time (Era uma vez). Ela traz a beleza dos contos em uma nova roupagem, ou seja, os autores Adam Horowitz e Edward Kitsis desconstroem as histórias para construí-las partindo de elementos existentes no mundo real e fictício. Outro exemplo é o samba enredo da Escola de Samba Viradouro que relatou a magia da contação de histórias através do desfile ocorrido no dia três de março de 2019. 3. Interpretação da história por: Laura Aidar – arte-educadora e pesquisadora. Disponível em: www.culturagenial.com/historia-joao-e-maria/. Acesso em: 16 mar. 2019.. 27.

(32) Quem me viu chorar Vai me ver sorrir Pode acreditar, o amor está aqui Viraviradouro iluminou O brilho no olhar voltou. No reino da ilusão O amor seduz o vilão Num conto de fadas, a felicidade Encanta o meu coração pra cantar Deixando a tristeza do lado de lá. Se tem magia, encanto no ar Eu vou viajar ouvindo histórias De um livro secreto Mistérios sem fim Vovó desperta a infância em mim Em cada conto sou mais um menino Que muda a sorte e sela o destino Lançado o feitiço pra vida virar Pro bem ou pro mal, é carnaval E na fantasia A minha alegria é um sonho real. E quem ousou desafiar a ira divina Vagou no mar Cego pela sede da ambição Carregando a sina dessa maldição Seres da sombria madrugada O medo caminhou na escuridão Mas a coragem que me faz lutar É a esperança, razão de sonhar Imaginar e renascer No Sol de cada amanhecer Das cinzas voltar Nas cinzas vencer4 (grifos nosso). A escola de samba trouxe como comissão de frente os contos e o incentivo à leitura através da avó contando histórias para seu neto. O carro abre-alas traz a casa da vovó onde havia o livro secreto dos encantos, e inicia a história quando o menino tenta abrir o livro, entre tantos outros elementos mágicos que fizeram parte desse momento.. ►. Fig. 01: Carro Abre alas - Viradouro.. 4. Samba enredo da Unidos do Viradouro. Composição: Renan Gêmeo, Bebeto Maneiro, Thiago Carvalhal, Ludson Areia, Júnior Filhão, Raphael Richaid, Ricardo Neves e Carlinhos Viradouro. Disponível em: https://www.letras.mus.br/sambas/unidos-do-viradouro-2019/. Acesso em: 14 mar. 2019.. 28.

(33) A contação de histórias proporciona o exercício da oralidade, da encenação, do brilho no olhar, no semblante iluminado, da reflexão e um dos pontos mais importantes, promove o encantamento. E, com tantos adjetivos que podemos direcionar à contação, o que não podemos deixar de mencionar são as possibilidades de criação, imaginação, interação que uma história pode nos trazer. Machado (2004) diz que, significa oportunizamos àquele que lê e ouve a inserção dentro de si para buscar experiências vividas dos quais estão no conto ou em suas entrelinhas. Contar é trazer alegria para grandes e pequenos. As crianças dão vida a tudo e não só elas, nós adultos também, de forma mais tímida, mas quando ouvimos uma história bem contada, interpretada, preparada, amada, nos remetemos a nossa “caixa de pandora”. Tudo pode ganhar vida ao redor como o sol, a lua, assim como todos os outros elementos do mundo, da natureza e até mesmo coisas inexistentes. Através da história são proporcionados vários conhecimentos que enriquecem a mente e nos envolvem. A história é a forma mais divertida e expressiva, de mais fácil compreensão, tanto para criança como para o adulto. Quem ouve ou lê uma história, vivencia imaginariamente uma experiência, coloca-se no lugar do herói, sofre os seus sofrimentos, alegra-se com suas alegrias, toma para si todas as dores e prazeres fazendo parte dos acontecimentos. Celso Sisto (2012), quando equipara a contação de histórias a uma sinfonia orquestrada com palavras, uma opereta, uma dança coreográfica envolve emoção, participação, atenção, percepção, pois o desenvolver de uma história necessita de estudos, planejamentos, sentido. Assim, contar histórias é uma arte sem idade que perdura até os dias de hoje e continuará viva. Mas, como contar uma história com arte? O que ela pode gerar?. “. Durante a leitura de uma história pode haver uma variedade muito grande de experiências que, quando pequena, a criança conhece muito bem e com as quais tem familiaridade. Tais experiências vão aos poucos constituindo as árvores do fundo de sua floresta interior. (MACHADO, 2004, p. 28). E o que essas árvores significam? São os tesouros que estão guardados dentro de cada criança e dentro de cada um de nós, esquecidos ou adormecidos e, quando nos deparamos com uma contação que nos envolve despertamos. Nas palavras da professora e pesquisadora de contos de tradição oral Regina Machado (2004, p.27), a “possibilidade da transformação humana”, ou seja, memórias voltam à tona, sentimentos, imagens, cores, sons, sabores, cheiros que evidenciam a beleza existente no interior de cada um.. 29.

(34) É sabido que as histórias têm o poder de encantar e de criar um clima mágico, despertando e aguçando a imaginação, é notório constatar o envolvimento das crianças com as histórias; sua interação é tamanha, pois ao final da narração as crianças costumam dizer: “Conte de novo, mais uma vez; conta outra história?”. Isso se dá devido à curiosidade dos pequenos em saber o que irá acontecer com os personagens; com a vontade de ouvir aquela parte que mais gostam quando já conhecem a história, marcam as falas dos personagens, se envolvem dentro de si mesmos imaginando como são todos aqueles que passam por sua imaginação. Ao ouvir essas histórias repletas de simbolismos, as crianças são estimuladas a pensar, a imaginar e a expressar seus sentimentos e emoções. Na contação de histórias, fica claro que as crianças se identificam com os contos e seus personagens e por que não ir um pouco mais além e sendo ousados em dizer que, em muitos momentos a criança cria uma aliança tão significativa que talvez consiga realizar a interface da mensagem contida naquela determinada história e se coloque no lugar dos personagens. Segundo Ferreira e Motoyama (2015, p. 47).. “. A arte de contar histórias coloca as emoções, de quem conta e ouve, à flor da pele, pois permite externar o que está intrínseco em cada indivíduo, revelando o mundo imaginário que existe dentro de cada um. Além disso, uma boa narrativa é capaz de mexer não apenas com a imaginação, mas também pode contribuir para a educação e socialização dos sujeitos.. A história nos permite refletir sobre vários aspectos e, a criança, quando se vê em uma contação, traz à tona através de sua imaginação, sentimentos, lembranças que fizeram e fazem parte de sua vida. Através da história podemos proporcionar à criança a compreensão de que ela faz parte de uma sociedade e que tem voz. Essa voz deve ressoar em qualquer momento de sua história. A criança se expressa através de seus conhecimentos prévios encenados pela linguagem imaginativa, ela externa suas vivências brincando de casinha, fazendo de conta que é um super-herói, imaginando que é o papai ou a mamãe; através da brincadeira do faz de conta o infante externa sua linguagem, pois “o que a criança vê e ouve constitui desse modo os primeiros pontos de apoio para sua criatividade futura” (VIGOTSKI, 2014, p. 25).. 30.

(35) SOBRE CRIATIVIDADE E IMAGINAÇÃO. “. U. As crianças mimetizam as impressões externas que apreendem do meio que as cerca. Através do instinto e da imaginação, a criança cria as situações e o ambiente que ela própria nunca experimentou e que usa para concretizar seus impulsos emocionais (heroísmo, valentia, generosidade). (VIGOTSKI, 2014, p. 87). ma coisa que fazemos desde quando somos pequenos é imaginar! No início da idade escolar, temos uma gama de possibilidades de criar. Temos os professores que queremos imitar, a diretora para observar, a tia do lanche para imaginar as gostosuras que poderão chegar no outro dia, um colega, um amigo que admiramos. Essa capacidade de imaginação que a criança tem está ligada a arte, visto que iniciamos um processo de construção imaginativa e esse segue um roteiro mental. Esse processo imaginativo parte da brincadeira, pois quando imitamos estamos brincando de faz-de-conta e, é a partir dessa ação que a criança externa suas vontades, seus anseios e experiências vividas que podem estar ligadas a vários fatores de seu comportamento. Vigotski (2014), diante de seus estudos que envolviam o processo de desenvolvimento intelectual, evidenciou as interações sociais, a relevância do imaginário, da criatividade, pois “o princípio criativo é inerente ao desenvolvimento humano: ele é comum a todos os seres, é o fulcro da vida das pessoas,” assim, “a imaginação é como um impulso real da criatividade.” (p. 11 e 14). Ele salienta que, quanto mais experiências a criança tiver, mais criativa será sua atividade imaginativa.. “. Se a vida que o rodeia não lhe colocasse desafios, se as suas realizações naturais e herdadas o mantivessem em equilíbrio com o mundo que o rodeia, então não existiria nenhum fundamento para o surgimento da ação criadora. Um ser totalmente adaptado ao mundo que o rodeia nada poderia desejar, não buscaria nada de novo e, certamente, não poderia criar. Por isso na base de toda ação criadora está sempre subjacente a inadaptação a partir da qual surgem necessidades, aspirações e desejos. (VIGOTSKI, 2014, p. 30). 31.

(36) Os desafios que são colocados a nossa frente, dia a dia, contribuem para a ação criadora; um mundo monótono, sem novidades, sem riscos, sem experiências, sem emoções, não proporcionaria o acionamento do imaginário, pois são os desafios que nos suscitam à criação. Refletindo sobre a concepção de Vigostski (2014) referente à imaginação, o processo imaginativo é uma mescla de realidade com fantasia; nesse contexto ele salienta a importância dessas experiências para o processo de aprendizado das crianças.. “. Um grande sábio russo dizia que assim como a eletricidade atua e se manifesta, não apenas no local onde ocorre uma grandiosa tempestade, ou na luminosidade dos relâmpagos ofuscantes, mas também na lâmpada da lanterna de bolso, assim também existe de fato criatividade não só quando se criam grandiosas obras históricas, mas, também, sempre que o homem imagina, combina, altera e cria algo novo [...] (VIGOTSKI, 2014, p. 5). Para criar é necessário imaginar e Winnicott (1999) afirma que, “[...] a criatividade é o fazer que, gerado a partir do ser, indica que aquele que é está vivo” (p. 23 – grifos do autor), ou seja, a capacidade imaginativa está em nós e essa nos proporciona o ato da criação. Manuel de Barros mostra, através da história “O menino que carregava água na peneira”, que faz parte do livro “Exercício de ser criança” (1999) que é permitido criar. O menino era ligado nos despropósitos e gostava mais dos vazios do que dos cheios, ou seja, “a criatividade, é portanto, a manutenção através da vida de algo que pertence à experiência infantil: a capacidade de criar o mundo.” (WINNICOTT, 1999, p. 24) e, o texto revela a boniteza da ação imaginativa que se funde com o ato criador. É inegável a capacidade imaginativa que tanto crianças quanto adultos possuem e, para se transformar algo, primeiramente temos o exercício imaginativo, pois “a imaginação possibilita-nos representar o resultado final da atividade antes de executá-la,” (SACCOMANI, 2016, p. 69) assim, imaginar é construir mentalmente o que pretendemos criar ou (re)significar. Nesse sentido, relembro Regina Machado quando diz que “o trabalho com a imaginação pode manter viva a chama da flexibilidade.” (2004, p. 31) Ao conceituar a imaginação, Vigotski (2014) diz que. “. Na sua concepção comum, a imaginação ou a fantasia designam aquilo que é irreal, o que não corresponde à realidade e, portanto, sem nenhum valor prático. No entanto, a imaginação como fundamento de toda a atividade criadora manifesta-se igualmente em todos os aspectos da vida cultural, possibilitando a criação artística, científica e tecnológica. (p. 4). 32.

Referências

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