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ARBITRAGEM NO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO – SEGURANÇA JURÍDICA DOUTORADO EM DIREITO

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(1)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Roberto Nussinkis Mac Cracken

ARBITRAGEM NO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO – SEGURANÇA

JURÍDICA

DOUTORADO EM DIREITO

São Paulo

(2)

Roberto Nussinkis Mac Cracken

ARBITRAGEM NO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO – SEGURANÇA

JURÍDICA

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Doutor em Direito, sob a orientação do Professor Doutor Claudio Finkelstein.

SÃO PAULO

(3)

Roberto Nussinkis Mac Cracken

ARBITRAGEM NO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO – SEGURANÇA

JURÍDICA

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Doutor em Direito, sob a orientação do Professor Doutor Claudio Finkelstein.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________

Prof. Dr. Claudio Finkelstein (Orientador)

_____________________________________________

_____________________________________________

_____________________________________________

_____________________________________________

(4)

À minha mãe, Manha, e ao meu

saudoso pai, Sylvio, que, com muito

esforço, paciência e dedicação,

souberam transmitir os melhores

(5)

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Professor Doutor Livre-Docente Claudio Finkelstein,

brilhante advogado, alentado educador, pessoa de destacada formação

humanística, um dos maiores conhecedores do instituto da arbitragem, por acreditar

na minha tese e na minha capacidade de defendê-la, e pela constante disposição e

paciência.

Aos Professores Doutores Armando Rovai, que passou de meu aluno a

ilustre mestre, e Antônio Márcio Guimarães, destacado e dedicado mestre, pelos

comentários, no exame de qualificação, que me levaram a aperfeiçoar esta tese.

Aos meus colegas de gabinete, por toda a credibilidade e compreensão

durante o desenvolvimento deste trabalho, principalmente aos meus assessores

Marcelo Luís Ferraro, Pedro Gustavo Pimentel, Cristiano Donizeti Ranzani, Ricardo

Toshiake Thihara, Lucas de Abreu Evangelinos e Rodrigo Franco Soares, por toda a

ajuda e diálogos.

À jovem Luísa Quintão, pelas valiosas discussões e disposição.

Ao Professor Cláudio Lembo, com quem tive o destacado privilégio de

conviver por longo período e, especialmente, apreender os melhores valores

profissionais e pessoais.

Aos meus Colegas da Câmara do Tribunal de Justiça de São Paulo, Gastão

Toledo de Campos Mello Filho, Manuel Matheus Fontes, Thiers Fernandes Lobo,

Sérgio Rui da Fonseca e Hélio Nogueira, detentores de indiscutível brilho do mais

alto saber jurídico, independência e senso de justiça, o meu agradecimento pelo

apoio e destacada paciência.

Ao meu saudoso pai, Sylvio, exemplo de simplicidade, solidariedade e plena

dedicação à família, que esteve e continua sempre ao meu lado.

À minha mãe, Manha, exemplo de luta e dignidade, que me deu a vida, além

de me proporcionar ao longo desta todas as possibilidades que abriram caminhos

(6)

À minha querida Ligia, leal e dedicada companheira, por razões incontáveis,

impossíveis de serem enumeradas, mas, principalmente, pelo imenso amor e

enorme carinho.

Aos meus amados e queridos Gustavo, Bárbara e Beatriz, pela beleza da

(7)

A lição é a seguinte: nunca desista,

nunca, nunca, nunca. Em nada.

Grande ou pequeno, importante ou

não. Nunca desista. Nunca se

renda à força, nunca se renda ao

poder aparentemente esmagador

do inimigo.

(8)

RESUMO

A arbitragem é uma forma de solução de conflitos que nasce da vontade de

particulares, com capacidade civil plena, que preferem que a pacificação de sua

contenda seja realizada por outro particular, por eles eleitos, de modo a afastar a

burocracia fixada pela jurisdição estatal.

A sua criação, segundo a doutrina, decorre de tempos remotos, inclusive com sua

aplicação na Roma antiga.

Serão abordados neste trabalho desdobramentos relacionados à arbitragem,

especificamente no plano nacional, no que se refere à ampliação de sua utilização,

visando atrair novos investimentos, com a adequada segurança jurídica, bem como

sua materialização por meio de um instrumento contratual.

Analisar-se-ão, também, a extensão dos efeitos da arbitragem e sua forma de

vinculação, o procedimento arbitral estabelecido pela legislação ordinária, bem como

sua aplicação como forma de “meio alternativo” de solução de conflitos nas relações

internacionais.

O principal objetivo da presente tese, em síntese, é demonstrar as vantagens que a

arbitragem pode trazer, traduzindo-se em efetivos benefícios, que serão detalhados

no transcorrer deste estudo, demonstrando um melhor patamar de segurança

jurídica e, em consequência, maior e melhor possibilidade de investimentos

estrangeiros.

(9)

ABSTRACT

Arbitration is a dispute resolution method resulting from the will of the parties with full

civil capability that rather settle their conflict by submitting it to another private

individual, elected by them, so they can avoid the bureaucracy established by the

State courts.

Its creation, according to the doctrine, stems from ancient times, including its

application in ancient Rome.

This work will address all developments related to arbitration, more specifically in a

national dimension with regards to the increasing use of arbitration. It aims at

drawing new investments with the appropriate legal certainty, as well as at its

materialization through a contractual instrument.

It will also be analyzed the extent of the arbitration effects and its binding manner, the

arbitration procedure established by ordinary legislation, and its application as an

"alternative means" of dispute resolution in international relations.

In brief, the main purpose of this thesis is to demonstrate the advantages that

arbitration may bring, which can be translated into effective benefits that will be

specifically analyzed in this study, in a way that may demonstrate a higher level of

legal certainty and, consequently, a greater and better possibility of foreign

investments.

(10)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12  

1   FORMAS NÃO JURISDICIONAIS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS ... 18  

1.1   A arbitragem como forma não jurisdicional de solução de conflitos ... 26  

1.1.1   Conceito ... 26  

1.1.2   Evolução histórica da arbitragem ... 30  

1.1.3   Desdobramentos e Classificação da Arbitragem ... 31  

1.1.3.1   Arbitragem facultativa e arbitragem obrigatória ... 34  

1.1.3.2   Arbitragem formal e informal ... 35  

1.1.3.3   Arbitragem de direito e de equidade ... 36  

1.1.3.4   Arbitragem ad hoc e institucional ... 37  

1.1.3.5   Arbitragem interna e internacional ... 37  

1.1.4   Princípios Gerais da Arbitragem ... 37  

1.1.4.1   Princípio da autonomia da vontade ... 38  

1.1.4.2   Princípio da eleição da lei aplicável ... 38  

1.1.4.3   Princípio da eleição da Lex Mercatoria ... 38  

1.1.4.4   Princípio do devido processo legal ... 38  

1.1.4.5   Princípio do efeito vinculante da cláusula arbitral ... 39  

1.1.4.6   Princípio da inevitabilidade dos efeitos da sentença arbitral ... 39  

1.1.4.7   Princípio da autonomia da cláusula compromissória ... 39  

1.1.4.8   Princípio da Kompetenz-Kompetenz ... 39  

1.2   Natureza Jurídica da Arbitragem – Jurisdição – Polêmica ... 39  

1.3   Enfoque Legal – Lei nº 9.307/96 ... 44  

1.3.1   Desdobramentos sobre os dispositivos legais da Lei de Arbitragem ... 45  

1.3.1.1   Limites impostos pela Lei de Arbitragem ... 45  

1.3.1.2  Convenção de Arbitragem – Cláusula compromissória e compromisso arbitral – Jurisprudência ... 47  

1.3.1.2.1   Constitucionalidade da Arbitragem ... 55  

1.3.2   Dos árbitros ... 57  

1.3.2.1   Órgão de arbitragem institucional ... 61  

1.3.3   Do Procedimento Arbitral (aplicação do princípio da busca da verdade real no procedimento arbitral) ... 64  

1.3.4   Da Sentença Arbitral ... 69  

1.3.4.1   Da Nulidade da Sentença Arbitral – Orientação Jurisprudencial ... 70  

1.3.5   Prescrição e Arbitragem ... 74  

1.3.6   Comentários ao Projeto de Lei do Senado Federal – PJ Nº 406/2013 – Alteração da atual Lei de Arbitragem ... 76  

1.3.7   Comentários ao Projeto de Lei nº 7.108/2014 ... 81  

2   ARBITRAGEM SOB O ASPECTO INTERNACIONAL ... 83  

2.1   Aspectos Gerais da Arbitragem Internacional ... 84  

2.2   Sentença Arbitral Estrangeira ... 89  

2.3   Compromisso de Arbitragem Internacional ... 94  

2.4   O Tribunal Arbitral Internacional ... 96  

2.5   Procedimento na Arbitragem Internacional ... 97  

2.6   Direito Aplicável na Arbitragem Internacional ... 100  

3   A SEGURANÇA DA ARBITRAGEM COMERCIAL INTERNACIONAL PARA O INVESTIDOR ESTRANGEIRO ... 107  

3.1  Arbitragem Comercial Internacional x Arbitragem Internacional de Investimentos 107   3.1.1   O Brasil e a Arbitragem Internacional de Investimentos ... 110  

(11)

3.2.1   Procedimento flexível ... 118  

3.2.2   Adequação do procedimento para transações internacionais ... 120  

3.2.3   Caráter final e vinculante da sentença arbitral ... 121  

3.2.4   Fácil execução ... 123  

3.2.5   Neutralidade ... 124  

3.2.6   Árbitros experts ... 126  

3.2.7   Confidencialidade ... 127  

3.2.8   Rapidez e custos do processo ... 128  

3.3   Segurança e efetividade da arbitragem como meio alternativo de solução de conflitos ... 130  

3.3.1   Insegurança jurídica do Judiciário brasileiro ... 132  

3.3.2   Risco-Brasil ... 138  

3.4   Responsabilidade do árbitro na Arbitragem Comercial Internacional ... 142  

3.4.1   Responsabilidade do árbitro na lei brasileira ... 145  

4   CONCLUSÃO ... 147  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 160  

ANEXOS ... 166  

ANEXO – JURISPRUDÊNCIA ... 166  

(12)

INTRODUÇÃO

O presente estudo apresenta os meios não jurisdicionais de solução de

conflitos: institutos que a doutrina costuma estabelecer como técnicas de solução de

conflitos não jurisdicionais, ou seja, que fazem, às vezes, de jurisdição porque

solucionam conflitos, mas não são jurisdição, principalmente por ser seu tema

central a arbitragem, desde a sua conceituação e evolução histórica até a edição da

lei que regula o tema no Brasil.

Registra-se a tendência de crescimento das formas de solução de conflitos

sem a necessidade de propositura de demanda judicial e questões polêmicas, como

a natureza jurídica da arbitragem, as posições doutrinárias acerca da semelhança da

arbitragem à atividade jurisdicional do Estado-juiz e a similitude da atividade do

árbitro à atividade jurisdicional como forma de pacificação social e aplicação do

direito ao caso concreto.

Discorre-se sobre os princípios gerais da arbitragem. Dentre eles, o princípio

da autonomia da cláusula compromissória ao contrato em que se encontra inserida,

que é de fazer segundo estudo doutrinário, assemelhando-se ao princípio da

autonomia que vigora das regras pertinentes aos títulos de crédito, pois a nulidade

do negócio jurídico não implica na nulidade da cláusula compromissória,

enfatizando, portanto, a obrigação que as partes pactuam, por meio da cláusula

compromissória. Adicionalmente, indica-se que o compromisso arbitral não se

confunde com a cláusula compromissória, uma vez que ele ocorre com a convenção

da arbitragem após a existência do conflito. Em outras palavras, o conflito já se faz

presente, e as partes o submetem à apreciação de árbitros, afastando-se da

apreciação pelo Poder Judiciário. Assim, pelo compromisso arbitral, as partes

convencionam a eleição de árbitros para solucionar um litígio que já se faz presente,

ao passo que a cláusula compromissória é utilizada quando o litígio ainda não se

materializou.

Trata-se da aplicabilidade do princípio da Kompetenz-Kompetenz, segundo o

qual o árbitro deve verificar se possui competência, para a hipótese de haver

(13)

Discorre-se sobre a possibilidade de aplicação do princípio da

instrumentalidade das formas no procedimento arbitral, sustentando-se, também, a

aplicação do princípio de que não há nulidade processual sem a demonstração do

prejuízo, ou seja, que meras irregularidades não têm o condão de gerar a nulidade

do procedimento arbitral.

Ressalta-se a aplicação do princípio do venire contra factum proprium nas

relações contratuais que se submetem à solução de seus conflitos pela arbitragem,

caracterizada pela existência de uma conduta inicial, geradora de legítima confiança,

com posterior comportamento contraditório divergente da conduta inicial e que

culmina com um prejuízo, concreto ou potencial, que se extrai dessa contradição.

Portanto, o princípio proíbe a prática de um comportamento contraditório a uma

conduta inicial que teria gerado uma determinada expectativa à outra parte, vedando

a prática de atos incoerentes e que contradizem uma conduta anterior iniciada pela

mesma pessoa e que é capaz de frustrar as legítimas expectativas de terceiros.

Salienta-se a grande divergência doutrinária acerca da natureza jurídica da

arbitragem e, principalmente, se o árbitro exerce poder jurisdicional no caso concreto

e lição doutrinária que sustente a função parajurisdicional da arbitragem. Além disso,

a possibilidade do juízo arbitral decretar a prescrição no caso concreto, pois o

árbitro, muito mais que um mero “juiz privado”, é um pacificador que busca a solução

justa do litígio - nada mais que um anseio do interesse social -, devendo, para tal

fim, aplicar o direito ao caso concreto, sendo esta uma finalidade também verificada

no próprio espírito da Lei de Arbitragem quando estabelece a aplicação de vários

princípios constitucionais, bem como a aplicação de regras legais pelo árbitro para a

solução do conflitos, de modo que pode e deve o árbitro reconhecer e decretar a

prescrição no caso concreto.

Sendo assim, argumenta-se que é indubitável a importância da arbitragem na

resolução dos conflitos hodiernos e, sobretudo, no que diz respeito às controvérsias

(14)

humanidade, ocasionadas pelos conflitos armados entre nações, especialmente

aqueles concernentes à Primeira e à Segunda Grande Guerra.

Centra-se na necessidade de utilização da arbitragem, principalmente

considerando-se que, na Idade Contemporânea, novos ventos catalizaram o

processo de globalização, eclodido em remota época e acentuando, assim, conflitos

comerciais entre países sob o predomínio de fictos, entes de natureza transnacional,

e, consequentemente, ocasionando a necessidade de desenvolvimento de novos

métodos de solução de litígios.

Nesse contexto, ao atuar com agentes e normas de distintos países, assim

como ao conceber princípios e regras próprias, argumenta-se a favor da arbitragem,

que ocupa o papel de protagonista como meio de solução de conflitos advindos das

relações comerciais internacionais.

Com efeito, para o propósito desta tese, considera-se internacional a

arbitragem composta por agentes, situados em países distintos, elegendo-se regras

próprias para a solução do conflito específico e observando-se, ainda, as normas de

direito internacional e as leis cogentes locais.

Merece menção, em tal seara, a Lex Mercatoria e os princípios UNIDROIT.

Por Lex Mercatoria, considera-se o conjunto de regras, princípios e instituições,

emanados de diversas fontes, que alicerçam as operações comerciais

internacionais, enquanto que os princípios da UNIDROIT, de ampla aplicação nos

negócios internacionais, foram elaborados com o escopo de mitigar as barreiras

originadas da diversidade de ordenamentos jurídicos.

Destarte, é incontestável a importância da arbitragem nas relações

internacionais que, com regras e instituições próprias, torna-se efetivo instrumento

de pacificação do mundo cada vez mais globalizado.

Em relação aos investimentos financeiros, é possível conceituá-los como a

(15)

uma entidade residente em uma economia e uma empresa residente em uma

economia diferente daquela do investidor estrangeiro. E para que ocorram

investimentos de investidores estrangeiros, é necessário haver segurança. Esta

questão é central para este trabalho, que busca identificar como a segurança do

processo de arbitragem comercial internacional pode tornar-se um atrativo para o

investidor estrangeiro no Brasil.

Em relação a essa questão de segurança para os investidores estrangeiros,

esclarece-se, ao longo deste estudo, que o Brasil não integra a lista dos Estados

que participam e que ratificaram a Convenção de Washington, que trata da solução

de disputas por arbitragem internacional de investimentos, envolvendo uma parte

privada e um Estado receptor. Portanto, não é o tipo de arbitragem foco desta tese.

Discorre-se sobre os benefícios da arbitragem comercial internacional como

meio de resolução de conflitos entre um investidor (parte privada) e um receptor

(privado), e sobre como esse método alternativo pode ser a saída para o investidor

estrangeiro que quer aplicar no Brasil, mas não o faz devido às dificuldades e

inseguranças jurídicas existentes no Judiciário brasileiro.

Enfatiza-se, ainda, que as recentes mudanças no cenário internacional de

investimentos revelam que o Brasil deixou de ser um país exclusivamente recebedor

de investimentos para tornar-se, também, um investidor, com empresas nacionais

que adquirem porte de multinacionais, como a Petrobrás, a Vale, a Gerdau e a

Votorantim, entre outras.

Sustenta-se que o pequeno e médio investidores, ao chegarem no exterior,

querem receber o apoio jurídico brasileiro para que possam evitar eventuais conflitos

contra governos internacionais. Ao negar a ratificação desses acordos, o Brasil, por

um lado, tem a seu favor a inexistência de queixas de investidores estrangeiros,

mas, por outro, deixa o capital brasileiro internacional desprotegido.

Por fim, aborda-se que, se, por um lado, acordos internacionais de proteção

(16)

investimentos, por outro, a relutância do Brasil em relação a esses acordos

justifica-se pelo fato de o país justifica-ser, tradicionalmente, um receptor de investimentos. Porém,

nos últimos anos, as empresas brasileiras ampliaram a sua atuação no estrangeiro

por verem na internacionalização uma oportunidade e, muitas vezes, uma

necessidade. Essa mudança, portanto, precisa ser reavaliada, e nela entra a

questão da arbitragem.

No cenário global atual, são diversos os motivos pelos quais as empresas

preferem a arbitragem às cortes estatais para a solução de conflitos. Em dimensões

internacionais, tais benefícios podem ser traduzidos, dentre outras vantagens, como

flexibilidade do procedimento arbitral, caráter final e vinculante da sentença arbitral,

possibilidade de adequação das normas às necessidades específicas de cada caso

concreto, neutralidade do tribunal arbitral, expertise dos árbitros, rapidez e

confidencialidade do processo.

Este estudo cumpre demonstrar como a possibilidade de resolução de

conflitos por meio do instituto da arbitragem comercial internacional, revestida das

qualidades mencionadas no parágrafo supra, é uma vantagem atrativa ao

estrangeiro que pretende investir em empresas brasileiras, mas que é desestimulado

pelo que se tratará nesta tese como Risco-Brasil, bem como pelo receio de

submeter suas disputas contratuais ao Judiciário brasileiro.

Esta tese foi dividida em três capítulos e uma conclusão. No primeiro capítulo,

são abordadas as formas não jurisdicionais de solução de conflitos e,

principalmente, o instituto da arbitragem como tal, considerando, inclusive, sua

evolução histórica, desdobramentos, classificações e princípios norteadores, mas,

principalmente, seu reconhecimento no Brasil. No segundo capítulo, é apresentada a

arbitragem sob o aspecto internacional, retratando-se, além das características

específicas do procedimento e tribunal arbitrais internacionais, como são produzidos,

em território brasileiro, os efeitos da arbitragem internacional. No terceiro e último

capítulo, há indicação e explicação dos benefícios e aptidão da arbitragem comercial

internacional para o investidor estrangeiro, bem como demonstração de como essa

(17)

no Brasil. Na conclusão, retoma-se, de forma sucinta, o que foi discutido ao longo do

trabalho, mencionando-se a possível contribuição deste estudo, especialmente no

que se refere à segurança jurídica, e a esperança de maior aplicabilidade da

(18)

1 FORMAS NÃO JURISDICIONAIS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS

A princípio, convém dispor que, além da arbitragem, costuma-se estabelecer

algumas modalidades de solução de conflitos não jurisdicionais, ou seja, que fazem

às vezes de jurisdição, porque solucionam conflitos, mas não são jurisdição

propriamente dita.

A primeira é a autotutela, por meio da qual um dos conflitantes impõe ao outro

a solução do conflito. Nesse caso, então, a solução é imposta pela força a um dos

conflitantes. É, por assim dizer, conduta ilícita, proibida, como, por exemplo, fazer

justiça com as próprias mãos, o que configura ilícito penal previsto no artigo 345 do

Código Penal.

Tal hipótese remete a tempos bárbaros, primitivos, de solução de conflitos; é

resquício de tempo histórico. Foi quase totalmente abolida, apesar de ainda

existirem espécies de autotutela lícitas, como, por exemplo: guerra, em alguns

casos; greve; desforço incontinenti (reação imediata que o possuidor pode ter diante

de uma violência à sua posse); legítima defesa; possibilidade de a administração

pública executar os próprios atos (poder público impõe uma solução ao particular

que tenha infringido regra administrativa, como estacionar em lugar proibido e,

consequentemente, ter o veículo guinchado).

A segunda modalidade é a autocomposição, que é a solução negocial do

conflito, denominada de “solução altruísta do conflito” ou “Alternative Dispute

Resolution”, por meio da qual os conflitantes chegam à solução do conflito

voluntariamente, e não pela força.

Esta segunda modalidade, a autocomposição, ao contrário da autotutela, é

incentivada, estimulada. Pode ser de duas formas: a) Extrajudicial, quando realizada

fora da esfera jurídica, fora do juízo; e b) Judicial, quando realizada em juízo.

Atualmente, é muito estimulada a solução de conflitos por meio da

(19)

consensuais que podem ser feitos pelo cartório, sem, portanto, haver necessidade

de se recorrer ao Judiciário. Um exemplo adicional que pode ser citado refere-se a

qualquer autocomposição extrajudicial que pode ser levada à homologação judicial

para que se torne título executivo judicial (artigo 475-N, inciso V do CPC).

Quando a autocomposição é judicial, ela é dividida em: a) transação: quando

ambos os conflitantes cedem um pouco, fazendo concessões recíprocas; b)

renúncia: quando o autor abdica a sua pretensão em favor do réu; e c)

reconhecimento da procedência do pedido: quando o réu abdica em favor do autor.

A terceira modalidade de solução de conflitos é a mediação, por meio da qual

um terceiro coloca-se entre os conflitantes para tentar fazer com que eles cheguem

à autocomposição. O terceiro tem o papel de facilitador da autocomposição.

Portanto, ele não decide nada; somente auxilia as partes, é interlocutor privilegiado.

Diferentemente da arbitragem, onde o terceiro decide, nesta modalidade o mediador

não pode opinar.

A quarta forma é a solução de conflitos por Tribunais Administrativos, sendo

que, atualmente, há uma série de tribunais administrativos que resolvem

controvérsias no âmbito administrativo. São soluções de conflitos por

heterocomposição, por um terceiro que julga e decide sobre os conflitos. É o tribunal

administrativo que decide a controvérsia. Entretanto, essa decisão não é definitiva,

uma vez que pode ser revista pelo Poder Judiciário.

Por esse motivo, os tribunais administrativos não exercem jurisdição, haja

vista sua atividade poder ser controlada pelo Poder Judiciário. A exemplo, cita-se:

Tribunais de Contas; Tribunais de Contribuintes; Juntas de Multas do Detran;

Tribunal Marítimo; Justiça Desportiva; e Agências Reguladoras – CADE.

A conciliação seria uma forma de exteriorização da vontade dos próprios

envolvidos no litígio para sua solução, sendo que, no direito positivo pátrio, o Código

(20)

estabelecer que “é lícito aos interessados prevenirem ou terminarem o litígio

mediante concessões mútuas”.

A conciliação pode ser: a) Extrajudicial: celebrada fora do processo e sem a

participação do Estado-juiz - entretanto, nada impede que o acordo seja levado à

homologação judicial, passando a ter, portanto, feição de “título executivo judicial”,

ou seja, similar à sentença proferida pelo próprio Estado-juiz (artigo 475-N, inciso V,

do Código de Processo Civil); e b) Judicial: realizada na presença do Estado-juiz,

caracterizando-se como título executivo judicial.

Sobre o tema, Cândido Rangel Dinamarco afirma que, por motivos culturais e

justiça centralizada nas mãos do Estado, seriam os responsáveis por estabelecer o

monopólio estatal da jurisdição. O autor explica que

a absorção estatal do poder de solucionar conflitos interindividuais deu-se mediante a instauração das cognitiones extra ordinem, que ingressaram no sistema processual romano por volta do séc. III DC. Passou-se do sistema conhecido por ordo judiciorum privatorum, em que o julgamento era feito pelo judex, cidadão privado e verdadeiro árbitro, para um sistema em que o próprio proctor passou a instruir o processo e julgar a causa. Esse movimento, que correspondia à afirmação do poder estatal antes insuficiente para impor-se aos particulares com a marca da inevitabilidade (o processo era um contrato entre as partes), foi o grande responsável pelo mito da exclusividade do Estado e da sua jurisdição como meio de solução de conflitos.1

Esse movimento mencionado pelo autor gerou conotações próprias à

jurisdição, principalmente de imperatividade e inevitabilidade, ausentes nos demais

meios de solução de conflitos, inclusive com a legitimidade para o uso da força

física. Como exemplo, cita2 “a atitude corporativista de entidades desportivas que

proíbem e punem as tentativas de solução jurisdicional de conflitos envolvendo

atletas ou associações”. Observa que somente se poderia falar em monopólio ou

exclusividade estatal quanto aos meios de solução de conflitos interindividuais ou

transidindividuais, sendo que melhor seria se não houvesse a necessidade de tutela

alguma sobre as pessoas e que todos cumprissem suas obrigações, sem a

                                                                                                                          1

DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Volume I, 6ª edição. São

Paulo: Malheiros Editores, 2009, p. 121-128. 2

(21)

ocorrência de danos ou, sequer, apresentação de pretensão infundadas. Adiciona

que, como esse ideal é utópico, faz-se necessário pacificar as pessoas de forma

eficiente, eliminando-se os conflitos que as envolvem e fazendo justiça.

Cândido Rangel Dinamarco3 assevera que a renúncia ao bem é uma forma de

autocomposição, podendo variar os meios pelos quais o sujeito pode deduzir sua

pretensão ou se submeter à solução de um conflito. Além das soluções

juridicamente legítimas, estão aquelas atividades reunidas nos conceitos de

autocomposição e de heterocomposição, sendo que esses meios de solução de

conflitos podem ser materializados sem que qualquer processo judicial venha a ser

instaurado ou, ainda, durante a sua tramitação, gerando o seu encerramento, seja

de forma extraprocessual ou endoprocessual.

O autor4 observa que existe autocomposição quando os próprios sujeitos

envolvidos no conflito, ou um deles unilateralmente, encontram caminho apto à

pacificação. Explica que a autocomposição pode ocorrer de duas formas:

unilateralmente, nas modalidades de renúncia ou submissão - isto é, aquele que

deduziu uma determinada pretensão renuncia à ela, fazendo cessar o conflito até

então existente e pendente com o seu adversário, e, assim, renuncia a um direito e

determina a extinção do processo, bem como do próprio direito supostamente

existente (CPC, art. 269, inc. V, e art. 794. inc. III); ou unilateralmente, quando

aquele que promove a resistência à pretensão deduzida resolve submeter-se a ela

e, nessa hipótese, reconhece o pedido deduzido e, quando homologado pelo juiz,

determina a extinção do processo sem que haja necessidade de o juiz julgar a causa

(CPC, art. 269, inc. II).

Tais formas de autocomposição unilateral5 mostram-se legítimas, porque de

natureza altruísta, resolvendo-se em atos de disposição de direitos ou interesses, ao

contrário do que ocorre com a autotutela, como espécie egoísta de autocomposição

unilateral, antissocial e incivilizada, razão pela qual, em princípio, a lei proíbe sua                                                                                                                          

3

Idem, ibidem, p. 121-128. 4

Idem, ibidem, p. 121-128. 5

(22)

prática (art. 345, Código Penal - crime de exercício arbitrário das próprias razões).

Todavia, existem casos excepcionados pela própria legislação pátria nos quais a lei

autoriza a autotutela, como, por exemplo, o desforço imediato em conflitos

possessórios (CC. art. 1.210, § 1º), caracterizando, na verdade, atos de preservação

de direitos.

Por sua vez, assevera Cândido Rangel Dinamarco6, a autocomposição

bilateral ocorre com a transação em que há mútuas concessões (CC., art. 840) e,

portanto, participa, ao mesmo tempo, da natureza da renúncia e da submissão.

Cada um dos sujeitos promove, de forma parcial, a disposição de seus próprios

interesses, envolvendo, para tanto, direitos e interesses de natureza patrimonial do

próprio titular, sem projeções significativas sobre outras pessoas ou agrupamentos,

tampouco direitos e interesses de pessoas incapazes ou que atinjam o interesse

público, o que se extrai do artigo 841 do Código Civil. É oportuno registrar que esse

dispositivo legal não possui toda a amplitude que dele se poderia retirar a uma

primeira vista, pois, atendidas certas exigências substanciais e formais, também aos

entes públicos é permitido transigir, como se dá nos termos de ajustamento de

conduta, quando a própria lei admite certas formas de transação em matéria

não-patrimonial, como o acordo para a separação consensual ou para a conversão da

litigiosa em consensual (CPC., Art. 447, par., e art. 1.123), ou, ainda, na

quantificação do valor dos alimentos devidos ao filho.

A autocomposição pode ser espontânea ou induzida. É espontânea quando

parte dos próprios conflitantes, sem a intervenção de um terceiro, ao passo que a

autocomposição induzida ocorre mediante a participação de um terceiro,

denominado de conciliador ou mediador.

Cândido Rangel Dinamarco7 leciona que a palavra composição encontra-se

também embutida nos vocábulos autocomposição e heterocomposição, sendo que,

nesse sentido, citando Francesco Carnelutti, sustenta que “Compor a lide significaria

                                                                                                                          6

Idem, ibidem, p. 121-128. 7

(23)

criar a norma que a resolve. Todavia, o juiz não compõe a lide nesse sentido, ou

seja, ele não cria a norma do litígio: reconhece sua existência e revela os direitos e

obrigações eventualmente emergentes dela no caso concreto (supra, nº 5 - os dois

planos do ordenamento jurídico).”. Argumenta o citado autor que a composição

realizada pelo juiz, a heterocomposição, ou aquela realizada pelos próprios

litigantes, a autocomposição, não proporcionam a fixação, tampouco a criação de

normas, porém produzem resultados práticos e socialmente úteis, de efeitos

concretos, por meio dos quais haveria a atribuição de bens ou a fixação ou vedação

de condutas, com a consequente eliminação do conflito e pacificação do litígio.

Portanto, nessa hipótese, não se estabeleceriam normas para dirimir a contenda,

mas haveria a própria solução concreta do conflito, produzindo, em alguns casos,

em vista da inexistência de preocupação com a aplicação da norma, resultados

melhores que os da jurisdição estatal. Por isso, o autor considera legítimo falar em

meios parajurisdicionais, principalmente aqueles exercidos em juízo arbitral.

A conciliação, outra forma de solução de conflitos, ocorre quando um terceiro,

estranho à contenda, interage entre os litigantes a fim de levá-los à autocomposição.

Quando celebrada antes do processo, com o evidente intuito de evitá-lo, é

denominada de conciliação extraprocessual, e quando ocorre no curso do processo,

de conciliação judicial.

A conciliação extraprocessual é capaz de induzir os litigantes à renúncia, à

submissão ou à transação e, materializada uma dessas hipóteses, pode ser

encaminhada para a homologação judicial, atribuindo-se-lhe eficácia de título

executivo (artigo 57 da Lei nº 9.099/95 e artigo 475-N, inciso V, do Código de

Processo Civil).

Cândido Rangel Dinamarco8 finaliza, asseverando que as vantagens dessas

soluções alternativas consistem, principalmente, em evitar as dificuldades que

dificultam a tutela jurisdicional, isto é, os custos do processo, como, por exemplo:

taxas judiciárias, honorários de advogados, perícias etc.; excessiva duração

                                                                                                                          8

(24)

temporal do processo; formalismo processual (o necessário cumprimento das formas

processuais). Essas vantagens também são indicadas em prol da arbitragem,

referindo-se ao melhor conhecimento do tema por árbitros especializados; ao menor

apego à rigidez da lei para que possa optar pelo juízo de equidade (CPC, art. 1.075,

inc. IV); e a ausência de publicidade a fim de respeitar a privacidade ou os segredos

empresariais.

Cassio Scarpinella Bueno9, por sua vez, ao discorrer sobre os meios

alternativos de solução de conflitos, enfatiza a existência de projeto de lei a

regulamentar a mediação e ressalta a iniciativa do Conselho Superior da

Magistratura do Egrégio Tribunal de Justiça, que editou o Provimento n. 783/2002,

criando o “Plano Piloto de Conciliação em segundo grau de jurisdição”. Conforme

esse plano, tal mediação contará com conciliadores. Estes devem trabalhar sem

remuneração, sendo selecionados entre aposentados do Ministério Público e

Procuradores do Estado, professores universitários e advogados com ampla e

reconhecida experiência. O autor elogia a iniciativa, por considerar que ela “vai ao

encontro dos anseios das vias alternativas de resolução de conflitos”.

A exemplo de Cassio Scarpinella Bueno, que tratou sobre os meios

alternativos de solução de litígios não jurisdicionais, Elpídio Donizetti10, por sua vez,

argumenta que a tutela jurisdicional não constitui o único meio de eliminação de

conflitos. Salienta que a jurisdição seria, ou deveria ser, a última alternativa para a

pacificação social de conflitos, movimentada para a solução da contenda somente

quando em razão da natureza da relação jurídica ou por imposição legal. Para o

autor, o ideal, mas ao mesmo tempo utópico, seria a total desnecessidade de se

impor alguma forma de tutela às pessoas, bem como que todos tivessem a

consciência de cumprir suas obrigações sem causar danos, ou, tampouco, com

deduções de pretensões protelatórias e contrárias ao direito.

                                                                                                                          9

BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil – Teoria Geral do

Direito Processual Civil. Volume 1. São Paulo: Editora Saraiva, 2007, p. 47-49. 10

DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 14ª edição. São Paulo: Editora

(25)

Elpídio Donizetti, citando Cândido Rangel Dinamarco, assevera que

(...) melhor seria se não fosse necessária tutela alguma às pessoas, se todos cumprissem suas obrigações e ninguém causasse danos nem se aventurasse em pretensões contrárias ao direito. Como esse ideal é utópico, faz-se necessário pacificar as pessoas de alguma forma eficiente, eliminando os conflitos que as envolvem e fazendo justiça. O processo estatal é um caminho possível, mas outros existem que, se bem ativados, podem ser de muita utilidade. 11

Outro aspecto levantado pelo autor é que a função de pacificar conflitos de

interesses não é uma atribuição exclusiva do Poder Judiciário, pois tal competência

também é estendida a determinados órgãos administrativos, os quais apreciarão

litígios relativos a matérias previamente previstas em lei ou na própria Constituição

Federal. Enfatiza que, apesar de constituir forma de heterocomposição, a decisão

por órgão administrativo não possui definitividade, sujeitando-se, portanto, ao

controle jurisdicional e sustentando, em razão de tal situação, sua mera equivalência

à função jurisdicional. Ilustra esse aspecto com os exemplos: “Um desses órgãos

administrativos é o Tribunal de Contas, órgão auxiliar do Poder Legislativo, com

competência para julgar as contas prestadas pelos administradores públicos (art. 71

da CF);” e “Outro órgão administrativo que exerce função jurisdicional - aqui

entendida como a competência para decidir conflitos - é a Justiça Desportiva (art.

217 da CF), que julgará litígios relacionados à disciplina e competições

desportivas”.12

O autor13 também assevera que, da mesma forma, ocorrerá composição

heterônoma dos conflitos nos casos de atuação das Agências Reguladoras -

entidades autárquicas, responsáveis pela regulação da atividade econômica -, uma

vez que possuem competência para solucionar conflitos decorrentes de atividade

econômica que se sujeite à sua atividade reguladora. Cita, como exemplo, o CADE –

“Conselho Administrativo de Defesa Econômica, autarquia com função judicante

para os conflitos envolvendo inflação à ordem econômica (Lei n2 8.884/94, art. 32)”.

                                                                                                                          11

Idem, ibidem, p. 30-33. 12

Idem, ibidem, p. 30-33. 13

(26)

Neste item, foram abordadas as formas não jurisdicionais de conflitos. A

seguir, apresentar-se-á o tema arbitragem.

1.1 A arbitragem como forma não jurisdicional de solução de conflitos

Nesta parte, será apresentado o tema arbitragem como forma não

jurisdicional de solução de conflitos, abrangendo o conceito da arbitragem, sua

evolução histórica, seus desdobramentos e classificação, bem como os diversos

princípios gerais da arbitragem.

1.1.1 Conceito

A arbitragem é uma das várias formas de solução de conflitos. Caracteriza-se

quando partes capazes elegem um particular, denominado de árbitro, para

solucionar uma controvérsia que envolva direitos disponíveis, proferindo, ao final,

uma sentença arbitral. Esta terá efeitos similares àquela proferida pelo Estado-juiz,

obrigando as partes que a convencionaram.

Em tal contexto, é possível afirmar que a arbitragem é uma forma alternativa

para dirimir ou solucionar contendas, isto é, conflitos entre particulares que

outorgam, por meio de uma cláusula contratual, verdadeiros poderes para que uma

pessoa, ou um grupo de pessoas, possam, sem a necessidade de intervenção

estatal, mas, todavia, assumindo tal feição, ou seja, com a mesma eficácia da

sentença judicial, apreciar conflitos relativos a direitos patrimoniais, disponíveis.

É possível asseverar, da mesma forma, que a arbitragem configura um

mecanismo de natureza privada para a solução de litígios, por intermédio do qual um

terceiro, eleito pelos particulares em conflito, profere uma decisão a ser cumprida

por tais litigantes, tendo, portanto, na realidade, característica de impositividade da

solução arbitral. Diferencia-se, assim, da mediação e da conciliação, pois nestes não

há decisão a ser imposta às partes, uma vez que o mediador, ou conciliador,

dependendo do caso, apenas limita-se a oferecer, sem qualquer poder vinculante,

(27)

Carlos Alberto Carmona14 define o conceito de arbitragem como uma forma

alternativa de solução de controvérsias por meio da qual haverá a intervenção de

uma ou mais pessoas (árbitros). Em outras palavras, um juízo arbitral dotado de

poderes em razão de uma convenção privada e, com base nela, proferida sua

decisão no caso concreto, sem intervenção do juízo estatal, decisão essa que terá a

mesma eficácia da sentença judicial. A arbitragem encontra-se à disposição de

quem quer que seja, mas é limitada à solução de conflitos que envolvam direitos

patrimoniais de natureza disponível. Trata-se de meio privado de solução de litígios,

por meio do qual um terceiro, eleito pelos litigantes, impõe uma decisão a ser

cumprida pelas partes.

O autor15 assevera que a característica da impositividade da solução arbitral a

diferencia da mediação e da conciliação, que são meios autocompositivos de

solução de litígios, uma vez que, nestas últimas, não há decisão a ser imposta às

partes pelo mediador ou conciliador, que se limitam à mera sugestão, sem poder

vinculativo. Assim, é possível afirmar que a arbitragem é meio alternativo de solução

de controvérsias, tomando-se como referência o processo estatal - meio

heterocompositivo mais empregado para dirimir conflitos. Enfatiza que Carnelutti

designou a arbitragem como meio que equivale à jurisdição, pois a jurisdição

somente poderia ser exercida pelo Estado, e o juízo arbitral apenas seria

semelhante ao método estatal de composição de lides.

Carlos Alberto Carmona salienta que a denominação "meios alternativos"

encontra-se sob ataque, na medida em que uma visão mais moderna do tema

aponta meios (mais) adequados de solução de litígios, não necessariamente

alternativos, pois, na verdade, é razoável pensar que as controvérsias tendam a ser

resolvidas. Em um primeiro momento, pelas próprias partes interessadas

(negociação, mediação, conciliação) e somente em caso de fracasso desse diálogo

primário (método autocompositivo), os conflitantes recorreriam às fórmulas

heterocompositivas (processo estatal, processo arbitral). Nesse sentido, também                                                                                                                          

14

CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: Um Comentário à Lei nº 9.307/96. São Paulo:

Editora Atlas. 3ª edição, 2009, p. 31-34. 15

(28)

enfatiza que “os métodos verdadeiramente alternativos de solução de controvérsias

seriam os heterocompositivos (o processo, seja estatal, seja arbitral), não os

autocompositivos (negociação, mediação, conciliação)”. Para se evitar tal

contradição, melhor seria a referência a métodos adequados de solução de litígios,

em vez de denominá-los de métodos alternativos.16

O autor17 esclarece que a arbitragem, a conciliação e a mediação não se

confundem, pois a arbitragem tem como finalidade a obtenção de uma solução

apresentada por terceiro imparcial, ao passo que a conciliação e a mediação têm por

fim a celebração de um acordo. Desta forma, quanto à arbitragem, há três variações:

na primeira, os litigantes estabelecem as bases para uma mediação, o que autoriza

o mediador a funcionar como árbitro, inclusive proferindo uma decisão com efeito

vinculante; na segunda, denominada “high-low arbitration”, os litigantes estabelecem

limites para o exercício da autoridade pelo árbitro, o que objetiva reduzir os riscos de

laudo arbitral inaceitável; e na terceira, as partes estabelecem uma arbitragem sem

efeito vinculante, uma vez que, se a decisão mostrar-se razoável aos litigantes, eles

a cumprirão; caso contrário, poderão utilizar a decisão arbitral em suas negociações

futuras.

Ainda nesta mesma linha de considerações, Cassio Scarpinella Bueno18

dispõe que a arbitragem é a forma alternativa de solução de conflitos mais difundida

no direito brasileiro da atualidade e que, com a edição da Lei nº 9.307/1996, houve a

criação de uma lei extravagante de direito processual civil que disciplina a

arbitragem no direito brasileiro. Essa lei somente permite a utilização da arbitragem

por pessoas que possuem capacidade para contratar, e submeterão seus conflitos

contratuais, de natureza patrimonial disponível, à apreciação de um terceiro. O autor

enfatiza, ainda, que

(...) o STJ tem sustentado, corretamente, ser viável a arbitragem para dirimir conflitos que envolvem questões contratuais relacionadas a sociedades de                                                                                                                          

16

Idem, ibidem, p. 31-34. 17

Idem, ibidem, p. 31-34. 18

BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil – Teoria Geral do

(29)

economia mista exploradoras de atividade econômica (STJ, 1ª Seção, MS 11.308/DF, rel. Min. Luiz Fux, j.un. 9.4.2008, DJe 19.5.2008). Tanto assim que se no curso da arbitragem surgir alguma questão relativa a direito indisponível que diga respeito à matéria em discussão, o árbitro ou os árbitros terão que aguardar o desfecho daquela pendência perante o Poder Judiciário para proferir sua decisão (art. 25 da Lei n. 9.307/1996).

A arbitragem, portanto, só pode ser constituída por pessoas capazes, aptas

ao exercício de direito e deveres na ordem civil, que podem escolhê-la como forma

de solução de conflitos. Tem por objeto direitos disponíveis, isto é, direitos que

admitem negócios que podem ser objeto de transação.

A opção pela arbitragem é exercício pela autonomia privada, sendo sua fonte

meramente negocial. Por consequência lógica, está intimamente relacionada à

autonomia privada. Por outro lado, é possível a existência de arbitragem trabalhista,

inclusive com previsão constitucional. Atualmente, fala-se em arbitragem no campo

do direito administrativo, desde que prevista em lei, envolvendo pessoa jurídica de

direito público. Parcerias público-privadas, por exemplo, podem ser resolvidas por

arbitragem. Nesse sentido, tramita, atualmente, no Congresso Nacional, o Projeto de

Lei nº 7.108/2014, que altera a Lei de Arbitragem – tema este que será tratado mais

especificamente no item 1.3.7 desta tese.

Por fim, é necessário ressaltar a denominada cláusula arbitral escalonada, por

meio da qual os contratantes celebram o negócio jurídico e nele inserem uma

cláusula, prevendo a solução de eventual conflito, seja por meio de mediação ou de

outro meio alternativo. Caso não seja alcançada uma solução, então será instaurada

a arbitragem. Carmona apresenta a seguinte observação quanto à mencionada

posição doutrinária:

Refiro-me à cláusula arbitral escalonada, segundo a qual as partes avençam que se submeterão a procedimento de mediação (ou de conciliação, conforme seja o caso) e, não chegando a um acordo, instaurarão desde logo a arbitragem.19

                                                                                                                          19

CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: Um Comentário à Lei nº 9.307/96. 3ª edição.

(30)

1.1.2 Evolução histórica da arbitragem

A evolução da história da arbitragem indica que ela é uma das formas de

solução de conflitos mais antigas do mundo, remontando à Antiguidade e à Idade

Média, pois representava um caminho para se evitar um confronto bélico entre

Estados diferentes, conforme observa Luiz Fernando do Vale de Almeida

Guilherme20, em breve histórico da arbitragem. O autor nota, também, que Platão

teria dissertado sobre a existência de juízes eleitos terem o condão de promoverem

proferida uma decisão mais justa.21

No Brasil, apesar de pouco divulgada, a arbitragem é regulada desde os

tempos da colonização portuguesa, sendo que a Constituição Imperial de 1824, em

seu artigo 160, dispunha sobre o Juízo Arbitral. Destaca-se, também, o

Regulamento 737.

O Regulamento 737, também de 1850, exigia o Juízo Arbitral para a solução das causas comerciais em seu art. 411. Já em 1866 a Lei 1.350, de 14 de setembro, revogou os dispositivos que privilegiavam a solução arbitral, criando um verdadeiro desuso sobre a aludida instituição.22

O antigo "juízo arbitral" era pouco utilizado no Brasil, indicando ressalva aos

antigos Juizados de Pequenas Causas, ao passo que o Código Comercial de 1850 –

que estabelecia, em seu artigo 294, a obrigatoriedade de se instaurar a arbitragem

nas contendas entre sócios e sociedades comerciais durante a existência de

sociedade ou companhia, em sua liquidação ou partilha -, em parte ainda vigente,

tinha instituído o juízo arbitral, de forma obrigatória, nos litígios que envolvessem

casos de locação mercantil (artigo 245), bem como nas alusivas à liquidação de

                                                                                                                          20

GUILHERME, Luiz Fernando do Vale de Almeida. Manual de Arbitragem, 2ª edição. São Paulo:

Editora Método, 2007, p. 34-35.

21 “Que os primeiros juízes sejam aqueles que o demandante e o demandado tenham eleito, a que o

nome de árbitros convém mais que o de juízes; que o mais sagrado dos Tribunais seja aquele em

que as partes tenham criado e eleito de comum acordo.” (Platão, De legibus, Livros 6 e 12, citado na

nota de rodapé no. 12 em: GUILHERME, Luiz Fernando do Vale de Almeida. Manual de Arbitragem.

2ª edição. São Paulo: Editora Método, 2007, p. 34-35). 22

GUILHERME, Luiz Fernando do Vale de Almeida. Manual de Arbitragem. 2ª edição. São Paulo:

(31)

sociedade comercial (artigo 294). Todavia, tal obrigatoriedade, prevista no Código

Comercial, foi revogada pela Lei n. 1.350, de 14 de setembro de 1866, tendo sido,

logo após, pelo Decreto n. 3.900, de 26 de junho de 1867, regulamentado o juízo

arbitral facultativo nas causas comerciais.23

Em âmbito internacional, o Brasil aderiu ao Protocolo de Genebra em 1923,

incorporado e reconhecido pelo ordenamento jurídico pátrio pelo Decreto 21.187, de

22.03.1932. O referido protocolo fixava a validade de compromissos ou cláusulas

compromissórias, por meio das quais as partes litigantes ficavam obrigadas, com o

apoio de um instrumento contratual, em matéria comercial ou outra que poderia ser

submetida à arbitragem, ainda que a arbitragem vinculasse um país de jurisdição

diferente. Além de ter se vinculado ao Protocolo de Genebra, em 1923, e da

instauração dos Códigos de Processo Civil de 1939 e 1973, que adotaram a

possibilidade de solução de litígios pelo Juízo Arbitral, o Brasil aderiu à Convenção

Interamericana sobre Arbitragem Comercial Internacional, assinada no Panamá em

1975.24

1.1.3 Desdobramentos e Classificação da Arbitragem

É possível conceituar a arbitragem como uma das várias formas de solução

de conflitos, que se caracteriza quando partes capazes elegem um árbitro, ou um

juízo arbitral, para solucionar controvérsia que envolva direitos disponíveis.

A arbitragem é o acordo de vontades entre pessoas maiores e capazes que,

preferindo não se submeter à decisão judicial, confiam a árbitros a solução de

litígios, desde que relativos a direitos patrimoniais disponíveis.25

As características da arbitragem, consoante arrolado no conceito acima

mencionado, são extraídas do próprio artigo 1º da Lei 9.307, de 23 de setembro de                                                                                                                          

23

CARNEIRO, Athos Gusmão. Jurisdição e Competência. 18ª edição. São Paulo: Editora Saraiva,

2012, p. 81-82. 24

Idem, ibidem, p. 34-35. 25

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. 2ª edição. São Paulo:

(32)

1996. Dispõe sobre a arbitragem, estabelecendo: “As pessoas capazes de contratar

poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais

disponíveis.” Todavia, não se pode omitir que a arbitragem é instituição que

excepciona o princípio do livre acesso à justiça, também denominado de princípio da

inafastabilidade da jurisdição. Assim sendo, pela arbitragem as partes permitem que

o árbitro promova a “pacificação do conflito”, impondo-lhes a solução que, no seu

juízo, entendem como sendo a mais razoável.

Cláudio Lembo26, ao discorrer sobre o tema, esclarece que oacesso ilimitado

ao Poder Judiciário passou a sofrer mitigação a partir da vigência da Lei Marco

Maciel, que instituiu o juízo arbitral (Lei nº 9.307, de 1996). Com a referida lei,

quando convencionado em instrumento contratual, as partes, evolvendo a questão a

meros direitos disponíveis, renunciariam à solução do conflito pelo Poder Judiciário,

tema esse submetido a uma longa análise do Pretório Excelso, que, ao final, julgou

constitucional a cláusula compromissória que tem o condão de conferir à sentença

arbitral efeitos similares à sentença judicial - inclusive com a atribuição de

irrecorribilidade.

Registre-se, ainda, que, existindo expressa disposição acerca da vinculação

do contrato à arbitragem como forma de solução de conflitos, as partes contratantes,

sob pena de criarem instabilidades à relação jurídica, não podem tentar alegar

ausência de intenção na participação e submissão ao juízo arbitral, sob pena

também de inegável ofensa ao princípio do venire contra factum proprium, ou seja,

ao princípio da vedação de comportamento contraditório.

O referido princípio caracteriza-se pela existência de uma conduta inicial,

geradora de legítima confiança, com posterior comportamento contraditório

divergente da conduta inicial e que culmina com um prejuízo, concreto ou potencial,

extraído dessa contradição. Portanto, o princípio proíbe a prática de um

comportamento contraditório a uma conduta inicial que teria gerado uma

                                                                                                                          26

LEMBO, Cláudio. A Pessoa - Seus Direitos. 1ª edição. Editora Manole: São Paulo, 2007, p.

(33)

nada expectativa à outra parte. Dessa forma, veda a prática de atos incoerentes e

que contradizem uma conduta anterior iniciada pela mesma pessoa, capaz de

frustrar as legítimas expectativas de terceiros.

Ainda sobre o referido princípio, é possível afirmar que ele é a exteriorização

da proibição de comportamento contraditório, pois demonstra que a obrigação deve

ser cumprida e revestida por um comportamento conforme a boa-fé objetiva, o senso

ético esperado de todos. Então, a prática de um comportamento contraditório seria

uma modalidade de abuso de direito, decorrente da violação ao princípio da

confiança que, por sua vez, decorre da boa-fé objetiva (artigo 422 do Código Civil). 27

Nesse sentido, não é admissível, em tal contexto, atentar contra factum

proprium, pois resta clara a proibição de venire contra factum proprium que, na

realidade, protege uma parte contra aquela que pretenda exercer uma posição

jurídica que seja incoerente, ou contraditória, quanto ao comportamento previamente

assumido. Sobre esta questão, vale citar a seguinte explicação de Carlos Alberto

Carmona:

O Colendo Superior Tribunal de Justiça já decidiu, conforme o v. Acórdão, em parte transcrito, proferido em Recurso Especial nº 95.539/SP, de relatoria do Ministro Ruy Rosado de Aguiar, 4ª (Quarta) Turma, julgado em 03.09.1996 e publicado em 14.10.1996, que o direito moderno não contempla o venire contra factum proprium, que se traduz como o exercício de uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido anteriormente (Menezes Cordeiro, Da Boa-fé no Direito Civil, 11/742).28

O referido v. decisório enfatizou, também, que

Havendo real contradição entre dois comportamentos, significando o segundo quebra injustificada da confiança gerada pela prática do primeiro, em prejuízo da contraparte, não é admissível dar eficácia à conduta posterior (Resposta no. 95539-SP Relator Ministro Ruy Rosado de Aguiar).29

                                                                                                                          27

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil, Parte Geral e LINDB,

Volume 1, 10ª edição. Editora JusPodivm, 2012, p. 687-688. 28

CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: Um Comentário à Lei nº 9.307/96. 3ª edição.

São Paulo: Editora Atlas, 2009, p. 38-44. 29

(34)

Neste item, foram apresentados os desdobramentos da arbitragem; mais

especificamente, como diversos autores discorrem sobre o princípio da arbitragem.

Apresenta-se, como próximo passo, as diversas formas que podem ser utilizadas

para se classificar a arbitragem30 - a saber: facultativa e obrigatória; formal e

informal; de direito e de equidade; ad hoc e institucional; e interna e internacional,

conforme detalhado a seguir.

1.1.3.1 Arbitragem facultativa e arbitragem obrigatória

A arbitragem facultativa ou voluntária é aquela que decorre da vontade das

partes. Vale salientar que o direito positivo somente admite a arbitragem quando

escolhida livremente pelas partes como meio para a solução do conflito. No Brasil,

em regra, a arbitragem é facultativa.

Por sua vez, a arbitragem obrigatória é aquela em que a lei impõe a

instauração da arbitragem como meio para solucionar o conflito, não permitindo às

partes qualquer outro meio.

Tal forma de arbitragem, em tese, não é admitida no ordenamento jurídico

pátrio, conforme exegese do artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal de

1988, que dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou

ameaça a direito.”, ou seja, o princípio da inafastabilidade de jurisdição proíbe a

arbitragem imposta pela lei.

Entretanto, existe a exceção de conflitos entre agentes da Câmara de

Comercialização de Energia Elétrica – CCEE e a CCEE, que envolverem direitos

disponíveis, nas hipóteses do artigo 58 da Resolução Normativa nº

109/2004-ANEEL. In verbis:

Art. 58. Os Agentes da CCEE e a CCEE deverão dirimir, por intermédio da Câmara de Arbitragem, todos os conflitos que envolvam direitos disponíveis,

                                                                                                                          30

(35)

nos termos da Lei no 9.307, de 23 de setembro de 1996, nas seguintes hipóteses:

I – Conflito entre dois ou mais Agentes da CCEE que não envolva assuntos sob a competência direta da ANEEL ou, na hipótese de tratar, já tenha esgotado todas as instâncias administrativas acerca do objeto da questão em tela;

II – Conflito entre um ou mais Agentes da CCEE e a CCEE que não envolva assuntos sob a competência direta da ANEEL ou, na hipótese de tratar, já tenha esgotado todas as instâncias administrativas acerca do objeto da questão em tela; e

III – sem prejuízo do que dispõe cláusula específica nos CCEARs, conflito entre Agentes da CCEE decorrente de Contratos Bilaterais, desde que o fato gerador da divergência decorra dos respectivos contratos ou de Regras e Procedimentos de Comercialização e repercuta sobre as obrigações dos agentes contratantes no âmbito da CCEE.

Parágrafo único. A Convenção Arbitral é parte integrante desta Convenção de Comercialização, bem como obrigatória a todos os agentes da CCEE e à CCEE, conforme disposto nos §§ 5º, 6º e 7º do art. 5º da Lei nº 10.848 , de 2004. (Redação dada pela REN ANEEL 348, de 06.01.2009.)

A Convenção Arbitral a que se refere o parágrafo único supra regulamenta o

procedimento arbitral das hipóteses do artigo 58 e foi homologada pela Resolução

Homologatória nº 531, de 7 de agosto de 2007, da Agência Nacional de Energia

Elétrica – ANEEL.

1.1.3.2 Arbitragem formal e informal

Diz-se que a arbitragem é formal no sentido de que devem ser obedecidas

determinadas regras para sua regular instauração. Cita-se como exemplos:

obediência à forma escrita; discussão apenas sobre direitos patrimoniais

disponíveis; observância do devido processo legal; entre outros.

A arbitragem no Brasil regra-se pelos princípios contratualistas,

principalmente pela função social do contrato, vez que assegura direitos e deveres

como ferramentas de preservação dos interesses dos contratantes e,

principalmente, do interesse social, em busca de uma solução justa à contenda.

A arbitragem informal não se sujeita a qualquer prescrição prevista em lei,

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