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2   ARBITRAGEM SOB O ASPECTO INTERNACIONAL 83

2.5   Procedimento na Arbitragem Internacional 97

O procedimento de arbitragem internacional apresenta uma estrutura que segue um padrão internacional, caracterizado pela simplificação, modernização e aumento da eficiência das regras adotadas no processo civil. Destaca-se a autonomia da lei do procedimento em relação à lei aplicável ao litígio, apresentando

as partes ampla liberdade para escolher a lei que regerá o procedimento arbitral.93

Luiz Olavo Baptista94 observa que, embora as partes litigantes possam

escolher a lei aplicável ao procedimento de arbitragem internacional, deve-se atentar às normas cogentes locais a fim de se evitar eventual invalidade da sentença arbitral. Com efeito, independentemente das normas orientadoras do procedimento arbitral, deve-se respeitar o devido processo legal, resumido, em síntese, no tratamento igualitário das partes e no efetivo contraditório. Quanto às regras do                                                                                                                           92 Idem, ibidem, p. 150. 93 Idem, ibidem, p. 191-195. 94 Idem, ibidem, p. 202.

procedimento arbitral, Cláudio Finkelstein95 destaca que elas, com frequência, derivam ou de regras-modelos, publicadas pela UNCITRAL, ou de regras de outra notória instituição, como a CCI (Câmara de Comércio Internacional).

O referido autor96 consigna que, no tocante à arbitragem internacional, o

tratado mais importante, que regula o juízo arbitral, é a mencionada Convenção Sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras de 1958 (Convenção de Nova York), que suplantou a Convenção de Genebra, de 1927, a Convenção Internacional sobre Reconhecimento e Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras, bem como a Convenção do Panamá, de 1975, sendo o Brasil signatário desses tratados.

A Câmara de Comércio Internacional – CCI é citada por Jonathan Barros

Vita97. O autor a indica como exemplo de procedimento arbitral que as partes podem

avençar, mencionando, também, a Convention on the Settlement of Investment

Disputes between States and Nationals of other States – ICSID. Outrossim, salienta

que, no caso de potenciais conflitos entre regras procedimentais específicas, aplica- se o já mencionado princípio da Kompetenz-Kompetenz, permitindo-se que a própria corte arbitral determine as regras aplicáveis a si mesma.

No que diz respeito à produção de provas, Marco Deluiggi consigna que, na maioria das vezes, as partes optam por um regulamento que, em regra, confere ao tribunal arbitral poderes para conduzir a produção de provas na forma que entender própria ao caso. Para esse fim, o autor cita o artigo 20(1) do Regulamento da CCI: “O Tribunal Arbitral deverá proceder à instrução da causa com a maior brevidade possível, recorrendo a todos os meios apropriados,” complementando-o com o item

                                                                                                                          95

FINKELSTEIN, Cláudio; VITA, Jonathan Barros; CASADO FILHO, Napoleão (Coord.). Arbitragem Internacional: Unidroit, Cisg e Direito Brasileiro. São Paulo: Quartier Latin, 2010, p. 47.

96

Idem, ibidem, p. 48.

97

VITA, Jonathan Barros. In: FINKELSTEIN, Cláudio; VITA, Jonathan Barros; CASADO FILHO, Napoleão (Coord.). Arbitragem Internacional: Unidroit, Cisg e Direito Brasileiro. São Paulo: Quartier Latin. 2010, p. 64.

(5), no qual consta que “A qualquer momento no decorrer do processo, o Tribunal

Arbitral poderá determinar às partes que forneçam provas adicionais”.98

Ao referir-se ao mencionado assunto, Luiz Olavo Baptista99 observa que o

passo inicial consiste na notificação ao demandado acerca do processo arbitral, registrando que, segundo as regras da UNCITRAL, a arbitragem é instaurada na data em que a notificação da demanda arbitral é recebida pela parte. Salienta, também, que, segundo as regras de arbitragem da Câmara de Comércio Internacional, considera-se instalada a arbitragem com o recebimento da notificação pela Secretaria da Corte Internacional de Arbitragem.

Conforme previamente destacado, nos termos do artigo 267, VII, do Código de Processo Civil, o processo deve ser extinto, sem julgamento do mérito, se existir convenção de arbitragem. Luiz Olavo Baptista registra que a Convenção de Nova York, ratificada pelo Brasil, preceitua que, existindo convenção de arbitragem, o juiz deve enviar as partes à arbitragem, salvo hipótese de existência de nulidade. Consigna que, nos termos do artigo 90 do Código de Processo Civil, “A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas”, expressando “o princípio de que cada ordem jurídica é autônoma em

relação a outra”.100

Vale ressaltar que tal princípio aplica-se com maior propriedade nos casos de jurisdição estatal e arbitragem, considerando que constituem sistemas de solução de controvérsias distintos, regrados por leis, princípios e dinâmicas próprias.

                                                                                                                          98

DELUIGGI, Marco. In: FINKELSTEIN, Cláudio; VITA, Jonathan B.; CASADO FILHO, Napoleão (Coord.). Arbitragem Internacional: Unidroit, Cisg e Direito Brasileiro. São Paulo: Quartier Latin. 2010, p. 141-142.

99

BAPTISTA, Luiz Olavo. Arbitragem Comercial e Internacional. São Paulo: Lex Editora, 2011, p. 211.

100

Assim, não obstante o disposto na Convenção de Nova York, ratificada, reforce-se, pelo Brasil, o juízo arbitral é competente para apreciar eventuais causas de invalidade da convenção de arbitragem, com suporte no mencionado artigo 267, VII, do Código de Processo, bem como no parágrafo único do artigo 8º da Lei nº 9.307/96 (“Acerca da existência, validade, e eficácia da convecção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória”).

Luiz Olavo Baptista101 assinala que, na maioria dos casos, as partes, ou as

próprias regras de instituição de arbitragem, estipulam o regime de confidencialidade, que é visto como uma qualidade na medida em que protege os litigantes e seus segredos comerciais e industriais da curiosidade de competidores.

Isto vem ao encontro da contribuição de Carolina Iwancow Ferreira102 sobre o

tema. A autora argumenta que a possibilidade de estipulação de cláusula de confidencialidade na arbitragem é fator especialmente relevante, pois permite às partes a proteção de seus segredos, o que, em regra, não seria possível sob a tutela jurisdicional estatal.