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1   FORMAS NÃO JURISDICIONAIS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS 18

1.3   Enfoque Legal – Lei nº 9.307/96 44

1.3.2   Dos árbitros 57

1.3.2.1   Órgão de arbitragem institucional 61

A Lei de Arbitragem estabelece que se as partes avençaram que eventuais conflitos serão submetidos às regras de algum órgão arbitral institucional ou entidade especializada, a arbitragem será instituída e processada de acordo com as regras de tal órgão, permitindo-se, ainda, que as partes estabeleçam na própria cláusula, ou em outro documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem.

O artigo 5º da Lei de Arbitragem dispõe, sobre tal regramento, que se reportando as partes, na cláusula compromissória, às regras de algum órgão arbitral institucional ou entidade especializada, a arbitragem será instituída e processada de acordo com tais regras, podendo, igualmente, as partes estabelecerem, na própria cláusula, ou em outro documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem.

Carlos Alberto Carmona arrola importantes lições sobre órgãos institucionais vinculados à arbitragem, ao dispor que

A intervenção das instituições permanentes de arbitragem - organismos dos mais vanados matizes que propiciam o desenvolvimento da arbitragem, seja através da edição de regras de procedimento, seja através do estabelecimento de tribunais arbitrais, seja favorecendo a pesquisa                                                                                                                          

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PASSOS, José Joaquim Calmon de. In: Comentários ao Código de Processo Civil. Vol. III, Rio de Janeiro/ São Paulo: Editora Forense, 2010, pág. 202.

científica - funciona como verdadeira mola propulsora do instituto, especialmente no que diz respeito ao comércio internacional. A eles referem-se os principais tratados internacionais acerca da arbitragem (Convenção de Nova Iorque, 1958, Convenção Europeia sobre Arbitragem Comercial Internacional, 1961, Convenção do Panamá, 1975), bem como a Lei Modelo da Uncitral, reconhecendo assim as fontes internacionais esta modalidade de arbitragem.56

Ainda sobre o mesmo tema, o autor salienta:

As características destes centros promotores da arbitragem são bastante díspares, podendo eles assumir os mais diferentes matizes, acentuando atividades ligadas estritamente à organização de arbitragens, à pesquisa, à formação de árbitros, à divulgação dos meios alternativos de solução de controvérsias etc. Apenas a título ilustrativo, destaco alguns padrões seguidos por órgãos arbitrais institucionais: a) instituições de natureza essencialmente arbitral, cujo escopo exclusivo é organizar e levar adiante o processo arbitral (é o caso da Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional); b) instituições que acumulam competências mistas, ou seja, organizam, promovem e regulamentam o comércio e, eventualmente, assumem funções de tribunal arbitral ou facilitam a organização e funcionamento da arbitragem; c) órgãos de natureza essencialmente corporativa, que velam por interesses de um setor, ramo ou profissão e que resolvem, através de arbitragem, questões relativas à sua área específica de atuação (é o caso do Juízo Arbitral da Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo, do Tribunal de Mediação, Conciliação e Arbitragem da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção São Paulo ou ainda da Câmara de Mediação e Arbitragem do Instituto Brasileiro de Estudos do Direito da Energia - IBDE); d) instituições de competência geral (multissetorial), que conhecem de toda a classe de arbitragens comerciais (nesta categoria enquadram-se praticamente todas as comissões, centros ou tribunais arbitrais ligados a câmaras de comércio, associações comerciais ou federações de indústrias, como é o caso do Centro de Mediação e Arbitragem da Câmara de Comércio Brasil-Canadá, da Câmara de Mediação e Arbitragem de São Paulo, da Câmara de Mediação e Arbitragem - Associação Comercial do Paraná e do Centro de Arbitragem da Câmara Americana de Comércio, para citar alguns poucos exemplos); e) instituições de caráter científico, que se ocupam da arbitragem do ponto de vista da investigação e da pesquisa, promovendo seu desenvolvimento através de publicações e atividades culturais (é o caso do CONIMA e do CBAr, de que trato mais adiante); f) instituições de caráter internacional, de vocação multissetorial e universalista, como é o caso da Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional e da Associação Americana de Arbitragem (Triple A). As características acima relacionadas, como é intuitivo, por vezes combinam-se e entrelaçam-se: vale apontar o caso do Instituto Nacional de Mediação e Arbitragem (INAMA), que organiza a arbitragem (fornecendo regras e corpo de árbitros), ao mesmo tempo em que desenvolve atividades científicas de divulgação da arbitragem.57

                                                                                                                          56

CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: Um Comentário à Lei nº 9.307/96. 3ª edição. São Paulo: Editora Atlas, 2009, p. 127-135.

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No que se refere ao direito positivo pátrio, o autor assevera:

Com o advento da Lei 9.307/96, novos órgãos arbitrais institucionais estão sendo criados no Brasil, enquanto outros estão adaptando seus respectivos regulamentos às novas regras e facilidades trazidas pela Lei de Arbitragem. Alguns desses órgãos assumiram a forma de associações civis, como ocorreu com o Instituto Nacional de Mediação e Arbitragem (INAMA) e com a Associação Brasileira de Arbitragem (ABAR), ambos com sede em São Paulo; outros não têm autonomia jurídica, e dependem (organicamente) de federações, associações ou câmaras de comércio, como é o caso do Centro de Mediação e Arbitragem de Pernambuco (CE-MAPE), ligado à Federação das Associações Comerciais do Estado de Pernambuco, do Centro de Mediação e Arbitragem da Câmara de Comércio Brasil-Canadá, do Centro de Conciliação e Arbitragem da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo, da ARBITAC, câmara de arbitragem ligada à Associação Comercial do Paraná, da Câmara de Conciliação e Arbitragem da Associação Comercial da Bahia, da Câmara de Mediação e Arbitragem de São Paulo, ligada ao Centro de Indústrias do Estado de S. Paulo, do Juízo Arbitral da Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo, da Corte Brasileira de Arbitragem Comercial (CBAC), órgão integrante da Confederação das Associações Comerciais do Brasil, do Centro de Arbitragem da Câmara Americana de Comércio, entre tantos outros.58 E destaca:

Pouco tempo após a edição da Lei de Arbitragem, foi constituído, em Brasília, DF, o Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem (CONIMA). Trata-se de sociedade civil, sem fins lucrativos, cujo principal escopo é o de agregar instituições de mediação e arbitragem, acompanhando o desempenho de tais instituições, promovendo e coordenando estudos e debates e promovendo, enfim, o uso responsável e adequado das técnicas de solução extrajudicial de conflitos. O objetivo da instituição é o de implantar a cultura dos meios alternativos de solução de litígios no Brasil, divulgando padrões éticos e de conduta para os árbitros, além de divulgar diretrizes úteis para a maior credibilidade das instituições arbitrais. Para a concretização de seus propósitos a entidade conta com um conselho consultivo, uma comissão de ética e um centro de estudos e debates. Como disse Petrônio R.G. Muniz, primeiro presidente do CONIMA, a entidade nasceu "da consciência livre e de ato voluntário dos titulares das instituições brasileiras de arbitragem e mediação, da imperiosidade da existência de um órgão aglutinador das potencialidades individuais, e delas transformador em 'ideia força' sustentável ante quaisquer audiências, mesmo as mais hostis". A ideia vingou e o CONIMA é hoje uma fonte importante de referência e orientação sobre os meios alternativos de solução de litígio no país. O Comitê Brasileiro de Arbitragem (CBAr), fundado em 2001, é uma associação sem fins lucrativos, que tem como principal finalidade o estudo da arbitragem e dos métodos extrajudiciais de solução de controvérsias. Para concretizar suas finalidades, o CBAr realiza congressos e seminários, além de publicar a Revista Brasileira de Arbitragem (uma das mais prestigiosas publicações brasileiras em matéria de arbitragem). As duas entidades desenvolveram-se sobremaneira nos últimos 5 (cinco) anos. Tanto o CONIMA quanto o CBAr protagonizaram eventos de nível excepcional, agregando os mais renomados estudiosos                                                                                                                          

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sobre o tema dos meios alternativos de solução de controvérsias. Enquanto o CONIMA, com suas reuniões periódicas, tem colocado em mesa a discussão de temas espinhosos para as entidades que administram arbitragens do Brasil, consolidando padrões éticos, o CBAr empenha-se, com sucesso, em trazer ao Brasil especialistas estrangeiros, propiciando a ampliação do debate sobre as questões que, paulatinamente, vão surgindo com o aumento da prática da arbitragem em nosso país.59 (ANEXO 1 – DOUTRINA).

Neste item, apresentou-se a questão de que a Lei de Arbitragem brasileira não delimita qualificações técnicas ou profissionais para a nomeação de árbitros. Especifica, por outro lado, que este deve ser um sujeito capaz, um profissional indicado pela parte para dirimir as controvérsias, que não podem ter relações que caracterizam os casos de impedimento ou suspeição de juízes, e que devem, sempre que necessário, fornecer informações quando houver dúvidas quanto à sua imparcialidade ou independência no caso concreto. Tratou-se, também, do fato de que, quando as partes se reportarem, na cláusula compromissória, às regras de qualquer órgão arbitral institucional ou entidade especializada, a arbitragem será implementada e processada conforme as regras do órgão de arbitragem especificado. A seguir, focalizar-se-á na “aplicação do princípio da busca da verdade