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Comentários ao Projeto de Lei do Senado Federal – PJ Nº 406/2013 –

1   FORMAS NÃO JURISDICIONAIS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS 18

1.3   Enfoque Legal – Lei nº 9.307/96 44

1.3.6   Comentários ao Projeto de Lei do Senado Federal – PJ Nº 406/2013 –

Há em tramitação no Senado Federal o Projeto de Lei nº 406 de 2013, que tem por fim: a ampliação do âmbito de aplicação da arbitragem e a disposição sobre a escolha dos árbitros quando as partes recorrem a órgão arbitral; a interrupção da                                                                                                                          

67 Idem, ibidem, p. 170-171.

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Elaborado pelo Serviço de Redação da Secretaria-Geral da Mesa do Senado Federal. (Elaboração de 29.01.2014 - 16:11) • (Última atualização: 04.02.2014- 09:25).

prescrição da pretensão em razão da instituição da arbitragem; a concessão de tutelas cautelares e de urgência nos casos de arbitragem; a expedição da carta arbitral, a sentença arbitral; e o incentivo ao estudo do instituto de arbitragem.

O referido Projeto de Lei 406, no § 1º do seu artigo 1º, estabelece a possibilidade da Administração Pública, direta e indireta, poder utilizar-se da arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis decorrentes de contratos por ela celebrados. A Comissão de Constituição e Justiça do Senado propôs emenda ao mencionado dispositivo para que a sua redação se limitasse a dispor que a Administração Pública direta e indireta possa utilizar-se da arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis.

Também visa fixar a regra de que a autoridade, ou o órgão competente da Administração Pública direta para a celebração de convenção de arbitragem, é a mesma para a realização de acordos ou transações, bem como que as arbitragens que envolvem a Administração Pública serão sempre de direito e respeitarão o princípio da publicidade (vide § 2º do artigo 1º e artigo 2º, § 3º do PJ 406/2013).

No seu artigo 4º, §2º, o Projeto de Lei dispõe que, nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se for redigida em negrito ou em documento apartado. Por sua vez, o mesmo dispositivo, agora em seu § 3º, determina que na relação de consumo, estabelecida por meio de contrato de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem, ou concordar, expressamente, com a sua instituição.

Em outra seara, o Projeto de Lei nº 406/2013, em seu artigo 4º, § 4º, fixa o seguinte:

Desde que o empregado ocupe ou venha a ocupar cargo ou função de administrador ou diretor estatutário, nos contratos individuais de trabalho poderá ser pactuada cláusula compromissória, que só terá eficácia se o empregado tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou se concordar, expressamente, com a sua instituição.

O Projeto de Lei em comento propõe a possibilidade de afastar a aplicação de dispositivo do regulamento do órgão arbitral institucional. Em relação a esse

dispositivo, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado propôs a seguinte emenda:

§ 4° As partes, de comum acordo, poderão afastar a aplicação de dispositivo do regulamento do órgão arbitral institucional ou entidade especializada que limite a escolha do árbitro único, coárbitro ou presidente do tribunal à respectiva lista de árbitros, autorizado o controle da escolha pelos órgãos competentes da instituição, sendo que, nos casos de impasse e arbitragem multiparte, deverá ser observado o que dispuser o regulamento aplicável. (Art. 13º § 4º do PJ 406/2013).

O Projeto de Lei propõe, ainda, que a arbitragem, uma vez instituída, e entendendo o árbitro ou o tribunal arbitral a existência de necessidade de explicitar alguma questão disposta na convenção de arbitragem, prevê a possibilidade da elaboração, juntamente com as partes, de um adendo, a ser firmado por todos e que passará a fazer parte integrante da convenção de arbitragem (artigo 19, § 1º, do PJ 406/2013).

Vale ressaltar que uma inovação significativa é apresentada no artigo 19, em seu § 2º, quando estabelece que a instituição da arbitragem poderá determinar a interrupção da prescrição, retroagindo à data do requerimento de instauração da arbitragem, ainda que extinta a arbitragem por ausência de jurisdição.

O Projeto de Lei em foque prevê, também, no artigo 23, § 1º, a possibilidade da prolação de sentenças parciais pelos árbitros, bem como, no § 2º do dispositivo em questão, que as partes e os árbitros, em consonância, poderão prorrogar o prazo estipulado para proferir a sentença final, sendo que a Comissão de Constituição e Justiça do Senado suprimiu do texto original o termo "estipulado" do § 2° artigo 23.

O parágrafo único do artigo 30 do Projeto de Lei em enfoque estabelece que o árbitro, ou o tribunal arbitral, poderá decidir, no prazo de dez dias ou em prazo acordado com as partes, aditando a sentença arbitral e notificando as partes.

O artigo 32, inciso I, da atual Lei de Arbitragem estabelece, dentre outras hipóteses, que é nula a sentença arbitral se nulo o respectivo compromisso. Por sua vez, o Projeto de Lei nº 406/2013 propõe que será nula a sentença arbitral quando for nula a convenção de arbitragem.

Passará a dispor o artigo 33, caso aprovado o Projeto de Lei nº 406/2013, que a parte interessada terá a possibilidade de pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a declaração de nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nessa Lei. O seu § 1º propõe qual demanda terá por objeto a declaração de nulidade da sentença arbitral - cuja nulidade poderá ser parcial ou final, seguindo as regras do procedimento comum, previstas no Código de Processo Civil, a ser proposta no prazo de até noventa dias após o recebimento da notificação da respectiva sentença, parcial ou final, ou da decisão do pedido de esclarecimentos. Em seu artigo 33, § 2º, propõe que a sentença que julgar procedente o pedido declarará a nulidade da sentença arbitral, nos casos do art. 32, e determinará, se for o caso, que o árbitro ou tribunal profira nova sentença arbitral e, ainda, sobre a possibilidade de declaração da nulidade da sentença arbitral por meio da impugnação prevista no artigo 475-L e seguintes do Código de Processo Civil se houver execução judicial (artigo 33, § 3º).

A emenda nº 7 da Comissão de Constituição e Justiça do Senado acrescenta ao artigo 33 da Lei 9.307, de 23 de setembro de 1996, na forma do art. 1° do Projeto de Lei do Senado nº 406, de 2013, o seguinte § 4°: “A parte interessada poderá ingressar em juízo também para requerer a prolação de sentença arbitral complementar, se o árbitro não decidir todas as questões submetidas à arbitragem.”

Consoante já existente no direito positivo pátrio (artigo 105, inciso I, alínea i, da CF/88), o Projeto de Lei fixa que, para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira necessita apenas de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça (artigo 35 do Projeto de Lei nº 406/2013).

Como se depreende do Projeto de Lei em debate, em seu artigo 22-A, antes de instituída a arbitragem as partes poderão recorrer ao Poder Judiciário para a concessão de medidas cautelares ou de urgência que terá a sua eficácia cessada, nos termos do parágrafo único, se a parte interessada não requerer a instituição da arbitragem no prazo de trinta dias, contados da data da efetivação da respectiva decisão.

Após instituída a arbitragem, ainda estabelece a prerrogativa aos árbitros de manter, modificar ou revogar a medida cautelar, ou de urgência, concedida pelo Poder Judiciário (artigo 22-B), bem como que, quando já instaurada a arbitragem, as medidas cautelares, ou de urgência, devem ser requeridas, diretamente, aos árbitros.

O Capítulo IV-B, proposto pelo Projeto de Lei nº 406/2013, dispõe sobre a carta arbitral, fixando as seguintes regras: a) o árbitro ou o tribunal arbitral poderá expedir carta arbitral para que o órgão jurisdicional nacional pratique ou determine o cumprimento, na área de sua competência territorial, de ato solicitado pelo árbitro (artigo 22-C); e b) no cumprimento da carta arbitral será observado o segredo de justiça, desde que comprovada a confidencialidade estipulada na arbitragem (artigo 22-C, parágrafo único).

O Projeto de Lei, em suas disposições finais, promove a inserção de questões de cunho didático, já que fixa a regra de que o Ministério da Educação deverá incentivar a inclusão da disciplina da arbitragem nos currículos das instituições de ensino superior, bem como que o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público promovam a inclusão da arbitragem nos conteúdos programáticos dos concursos púbicos para a carreira da Magistratura e do Ministério Público (artigos 40-A e 40-B).

O mencionado Projeto de Lei também promoverá alterações na Lei das Sociedades Anônimas (Lei nº 6.404/76) ao dispor sobre a possibilidade de inserção da convenção de arbitragem no respectivo estatuto social, com a obrigatoriedade de sua observância por todos os acionistas da companhia. Ressalva a possibilidade o exercício do direito de retirada por acionista dissidente, sendo que a convenção da arbitragem, em tal hipótese, passará a ter eficácia após o decurso de 30 dias, contados da publicação da ata da Assembleia Geral que a aprovou (artigo 136-A,

Por fim, ainda em relação às alterações propostas na Lei das Sociedades Anônimas, o Projeto de Lei nº 406/2013 estabelece:

O direito de retirada de sócio dissidente, além de assegurado o direito de reembolso do valor de ações, não será aplicável: a) caso a inclusão da convenção de arbitragem no estatuto social represente condição para que os valores mobiliários de emissão da companhia sejam admitidos à negociação em segmento de listagem de bolsa de valores ou de mercado de balcão organizado que exija dispersão acionária mínima de 25% das ações de cada espécie ou classe; e b) caso a inclusão da convenção de arbitragem seja efetuada no estatuto social de companhia aberta cujas ações sejam dotadas de liquidez e dispersão no mercado, nos termos das alíneas 'a' e 'b' do inciso 11 do art. 137 desta Lei. (Projeto de Lei nº 406/2013).