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2   ARBITRAGEM SOB O ASPECTO INTERNACIONAL 83

2.2   Sentença Arbitral Estrangeira 89

A norma brasileira que dispõe sobre a arbitragem, Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, não faz distinção entre a arbitragem interna e a arbitragem internacional. Todavia, no Capítulo VI, denominado “Do Reconhecimento e Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras”, trata, expressamente, das sentenças arbitrais estrangeiras.

Nessa direção, preceitua o critério territorial ao conceituar a sentença arbitral estrangeira como aquela que tenha sido proferida fora do território nacional (Lei 9.307/96, art. 34, p. único). Logo, infere-se que o Legislador pátrio adotou como                                                                                                                          

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Idem, ibidem, p. 101.

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FINKELSTEIN, Cláudio. Contratos Internacionais e Arbitragem. Revista Jurídica Consulex, ano XV, nº 357, 1º de dezembro de 2011, p. 38-39.

critério de identificação da sentença arbitral o local em que foi proferida, nos termos do mencionado artigo 34, parágrafo único, da Lei nº 9.307/96.

Ressalta-se que essa distinção é de suma importância, uma vez que, conforme já assinalado, a sentença arbitral doméstica apresenta natureza de título executivo judicial, nos termos do artigo 31 da mencionada Lei nº 9.307/96: “A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo.”

Por outro lado, a eficácia da sentença arbitral estrangeira em território nacional está condicionada à homologação do Superior Tribunal de Justiça, nos termos do artigo 35 da Lei nº 9.307/96: “Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Supremo Tribunal Federal”. Por conseguinte, entes brasileiros que pactuam a arbitragem sob a égide de um tribunal arbitral internacional poderão ter o provimento arbitral, originado de eventual litígio, sujeito à homologação do Superior Tribunal de Justiça.

Nessa esteira de entendimento, faz-se mister salientar, por pertinente, que é importante consignar que a Convenção Sobre o Reconhecimento e Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras (Convenção de Nova Iorque), de 1958, acolhida em nosso ordenamento jurídico pelo Decreto nº 4.311, de 23 de julho de 2002, prescreve, em seu artigo I, item 1:

A presente Convenção aplicar-se-á ao reconhecimento e à execução de sentenças arbitrais estrangeiras proferidas no território de um Estado que não o Estado em que se tencione o reconhecimento e a execução de tais sentenças, oriundas de divergências entre pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas. A Convenção aplicar-se-á igualmente a sentenças arbitrais não consideradas como sentenças domésticas no Estado onde se tencione o seu reconhecimento e a sua execução.

Luiz Olavo Baptista82 destaca que as primeiras regras de arbitragem da Comissão das Nações unidades para o Direito do Comércio Internacional (CNUDCI) datam de 1976, destacando-se, inclusive, uma Lei Modelo sobre Arbitragem Comercial Internacional. Conforme observa, a Câmara de Comércio Internacional (CCI) tem um dos regulamentos mais antigos, consignando que, da mesma forma da Lei de Arbitragem brasileira, está disposto à autonomia da cláusula compromissória em relação ao contrato em que estiver inserta, mantendo-se a competência do Tribunal Arbitral ainda que declarada a nulidade do contrato celebrado pelas partes.

O autor83 salienta que a “American Arbitration Association” (AAA), fundada em

1926, é a principal instituição arbitral dos Estados Unidos, sendo integrado pelo seu braço internacional, o “International Centre for Dispute Resolution” (ICDR), fundado em 1996. Quanto à Europa, a “London Court of International Arbitration” (LCIA), na busca da universalidade de suas regras de arbitragem, é integrada por elementos de “civil” e “common law”, enquanto que o “Arbitration Institute of the Stockholm” (SCC) é uma dos mais antigos. Fundado em 1917, é também conhecido por sua

experiência em administração de arbitragens de investimento.84

Beat Walter Rechsteiner85 consigna que o Brasil ratificou importantes

convenções internacionais, como a Convenção Interamericana sobre Arbitragem Comercial Internacional, de 30 de janeiro de 1975, a Convenção Interamericana sobre Cartas Rogatórias, de 30 de janeiro de 1975, o Protocolo Adicional à Convenção Interamericana sobre Cartas Rogatórias, de 8 de maio de 1979, a Convenção Interamericana sobre Prova e Informação acerca do Direito Estrangeiro, de 8 de maio de 1979, e a Convenção Interamericana sobre Eficácia Extraterritorial das Sentenças e Laudos Arbitrais Estrangeiros, de 8 de maio de 1979. Como anteriormente mencionado, a Lei nº 9.307/96 dispõe, em seu Capítulo VI, sobre o                                                                                                                          

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BAPTISTA, Luiz Olavo. Arbitragem Comercial e Internacional. São Paulo: Lex Editora, 2011, p. 186-187. 83 Idem, ibidem, p. 187-188. 84 Idem, ibidem, p. 189. 85

RECHSTEINER, Beat Walter. Direito Internacional Privado – Teoria e Prática. 16ª edição. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 260-261.

reconhecimento e a execução da sentença arbitral estrangeira, definindo a sentença arbitral estrangeira como aquela proferida fora do território internacional (art. 34, p. único).

Francisco José Cahali86 destaca, com propriedade, que a Lei de Arbitragem

brasileira, no que diz respeito às sentenças arbitrais estrangeiras, traz regra tradicional, de um lado, e inovadora, de outro. A regra tradicional apresenta-se na exigência de homologação da sentença arbitral estrangeira perante o Colendo Superior Tribunal de Justiça para a sentença arbitral estrangeira gerar efeitos (art. 37, caput). Por outro lado, a Lei pátria inova ao prescrever que a sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil em conformidade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo com os seus termos.

Nesse sentido, a Lei nº 9.307/96 revela seu aspecto tradicional ao condicionar a eficácia da sentença arbitral estrangeira à homologação da Colenda Corte Superior, bem como inova ao dispor que o reconhecimento e a execução da sentença devem ser em conformidade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno.

É importante registrar que o artigo 35 faz menção ao Excelso Superior Tribunal de Justiça. Porém, com o advento da Emenda Constitucional nº 45, foi incluída a alínea “i” no inciso I do artigo 105 da Constituição Federal, atribuindo-se ao Colendo Superior Tribunal de Justiça a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias. Enfatiza-se, também, que o artigo 36 da Lei de Arbitragem brasileira dispõe que à homologação da sentença arbitral estrangeira deve ser aplicado, no que couber, o disposto nos artigos 483 e 484 do Código de Processo Civil.

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CAHALI, Francisco José. Curso de Arbitragem. 3ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 390.

Por oportuno, o artigo 483 do Código de Processo Civil condiciona a eficácia da sentença estrangeira à homologação pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça, conforme seu Regime Interno, enquanto que o artigo 484 preceitua que a execução da sentença estrangeira será por meio de extração de carta de sentença, extraída dos autos da homologação, bem como que obedecerá as regras estabelecidas para a execução da sentença nacional da mesma natureza.

A Resolução 9, de 4 de maio de 2005, do Colendo Superior Tribunal de Justiça, dispôs, em caráter transitório, sobre a competência acrescida pela Emenda Constitucional 45/2004, atinente à homologação de sentença estrangeira. Dentre as suas disposições, consta a atribuição ao Presidente da Colenda Corte Superior da homologação da sentença estrangeira (art. 2º). Além disso, menciona que serão homologados os provimentos não-judiciais que, pela lei brasileira, teriam natureza de sentença.

Em tal contexto, é relevante consignar que a mencionada Convenção de Nova York, sobre o reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais estrangeiras, dispõe que a parte que solicitar o reconhecimento e a execução fornecerá a sentença original devidamente autenticada, ou uma cópia devidamente certificada, bem como o acordo original da estipulação da arbitragem ou cópia autenticada. Também deverá fornecer, se o caso, uma tradução de tais documentos, certificada por um tradutor oficial ou juramentado ou por um agente diplomático ou consular. In verbis:

Artigo IV

1. A fim de obter o reconhecimento e a execução mencionados no artigo precedente, a parte que solicitar o reconhecimento e a execução fornecerá, quando da solicitação:

a) a sentença original devidamente autenticada ou uma cópia da mesma devidamente certificada;

b) o acordo original a que se refere o Artigo II ou uma cópia do mesmo devidamente autenticada.

2. Caso tal sentença ou tal acordo não for feito em um idioma oficial do país no qual a sentença é invocada, a parte que solicitar o reconhecimento e a

idioma. A tradução será certificada por um tradutor oficial ou juramentado ou por um agente diplomático ou consular.

No mesmo sentido, o artigo 37 da Lei nº 9.307/96 reza que:

Art. 37. A homologação de sentença arbitral estrangeira será requerida pela parte interessada, devendo a petição inicial conter as indicações da lei processual, conforme o art. 282 do Código de Processo Civil, e ser instruída, necessariamente, com:

I - o original da sentença arbitral ou uma cópia devidamente certificada, autenticada pelo consulado brasileiro e acompanhada de tradução oficial; II - o original da convenção de arbitragem ou cópia devidamente certificada, acompanhada de tradução oficial.

O artigo 282 do Código de Processo Civil exige que a petição inicial indique: I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida; II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu; III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV - o pedido, com as suas especificações; V - o valor da causa; VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; e VII - o requerimento para a citação do réu.

Luiz Olavo Baptista87 argumenta que a sentença arbitral deve ser escrita,

tendo em vista a dificuldade da prova do conteúdo de uma sentença proferida de forma oral. Nesse sentido, é de grande importância a Lei nº 9.307/96, em consonância com a Convenção de Nova Iorque, de 1958, por estabelecer critérios precisos para a identificação da sentença arbitral que, conforme o local em que foi proferida, está sujeita ao exequatur do Superior Tribunal de Justiça.