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(1)0. GLEICE DE DIVITIIS. GÊNESE DA ANTROPOLOGIA DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL. Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo – SP, 2009.

(2) 1. GLEICE DE DIVITIIS. GÊNESE DA ANTROPOLOGIA DA COMUNICAÇÃO NO BRASIL. Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Professor Dr. José Marques de Melo. Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo – SP, 2009.

(3) 2. FOLHA DE APROVAÇÃO. A dissertação de mestrado sob o título “Gênese da Antropologia da Comunicação no Brasil”, elaborada por Gleice De Divitiis foi defendida e aprovada em 04 de fevereiro de 2009, perante a banca examinadora composta pelo Professor Dr. José Marques de Melo, Professora Dra. Maria Cristina Gobbi e Professor Dr. Arquimedes Pessoni.. Declaro que a autora incorporou as modificações sugeridas pela banca examinadora, sob a minha anuência enquanto orientador, nos termos do Art. 34 do Regulamento dos Cursos de Pós-Graduação.. Assinatura do orientador: Nome do orientador: Professor Dr. José Marques de Melo.. Data: São Bernardo do Campo, 30 de março de 2009 Visto do Coordenador do Programa de Pós-Graduação:. Área de Concentração: Processos Comunicacionais Linha de Pesquisa: Comunicação Massiva.

(4) 3. SUMÁRIO.

(5) 4. Resumo Resumen Abstract 1. Introdução.................................................................................13 1.1. Metodologia Empregada........................................................15 1.2. Desenvolvimento do Trabalho Proposto................................17 2. Revisão de Literatura................................................................20 2.1. Antropologia..........................................................................20 2.2. Comunicação.........................................................................23 2.3. A intersecção – Antropologia e Comunicação......................24. CAPÍTULO I - Pensamento Comunicacional Brasileiro...............28 1. Primeiros Passos – o conhecimento empírico (de Fernandes Pinheiro a Barbosa Lima Sobrinho........................................................28 2. Assimilação Acadêmica: a contribuição das Ciências Sociais (de Gilberto Freyre a Emílio Willems)..........................................31 3. Pioneiras Incursões Antropológicas – Egon Schaden e a FFLCH......................................................................................38 3.1.. Egon Schaden – Biografia..................................................39. 3.2.. Egon Schaden – Pensamento..............................................42. 3.3.. A Revista de Antropologia..................................................45. 3.4.. Contemporâneos de Schaden na FFLCH............................48. 3.5.. A Contribuição de Gioconda Mussolini..............................48.

(6) 5. CAPÍTULO II – Antropologia da Comunicação no Brasil...............52 1. João Baptista Borges Pereira: o desbravador – vida e obra...........52 1.1.. Introdução..............................................................................52. 1.2.. Biografia.................................................................................53. 1.3.. Pensamento.............................................................................56. 1.4.. Relacionamento com Egon Schaden.......................................58. 1.5.. Obras.......................................................................................59. 1.6.. Antropologia da Comunicação................................................60. 2. Trabalho Seminal – o negro e o rádio de São Paulo........................61 2.1.. Cor, Profissão e Mobilidade....................................................61. 2.2.. Macacas de Auditório..............................................................64. 3. Incursões de João Baptista Borges Pereira.......................................65 3.1.. Antropologia da Comunicação...................................................66. 3.1.1. Teses e/ou Dissertações orientadas referentes à temática....66. CAPÍTULO III – Antropologia da Comunicação na USP....................68 1. A Configuração do Campo Comunicacional...................................68 1.1.. Pós-Graduação na ECA-USP..................................................69. 2. Antropologia da Comunicação – Antecedentes...............................70 3. Antropologia da Comunicação.........................................................72 3.1.. Cultura Brasileira – Aculturação de Imigrantes no Brasil......74. 4. Discípulos de Schaden na ECA-USP...............................................75 4.1.. Nelly de Camargo...................................................................75. 4.1.1. Biografia.............................................................................75.

(7) 6. 4.1.2. Pensamento.........................................................................78 4.2.. Joseph Luyten.........................................................................81. 4.2.1. Biografia.............................................................................81 4.2.2. Pensamento.........................................................................82 4.2.3. Obras...................................................................................84 4.2.4. A Configuração da Folkcomunicação.................................85 4.3.. Sônia Luyten...........................................................................86. 4.3.1. Biografia.............................................................................86 4.3.2. Pensamento.........................................................................88 4.3.3. Relacionamento com Egon Schaden...................................89 4.3.4. Obras...................................................................................90 4.4.. Luiz Augusto Milanesi...........................................................91. 4.4.1. Perfil Intelectual.................................................................91 4.4.2. O Paraíso Via Embratel......................................................92 5. Egon Schaden na Universidade Metodista de São Paulo.................93 6. A Antropologia da Comunicação na “Era Pós-Schaden”...............94 6.1.. Solange Couceiro – Perfil Intelectual.....................................94. 6.2.. Solange Couceiro – Pensamento.............................................95. 6.3.. O negro na televisão de São Paulo..........................................97. 6.4.. Outras obras de Solange Couceiro..........................................99. 6.5.. Cor, Profissão e Mobilidade e o Negro e na TV de São Paulo......................................................................................100. 7. Focos irradiadores da Antropologia da Comunicação...................102 7.1.. Discípulos de Solange Couceiro...........................................102. 7.2.. Dalva Aleixo Dias – Biografia .............................................102. 7.2.1. Dalva Aleixo Dias – Pensamento.....................................103 7.2.2. Dalva Aleixo Dias – Relacionamento com Solange Couceiro............................................................................105 7.3.. Joel Zito Araújo – Biografia.................................................106.

(8) 7. 7.3.1. Joel Zito Araújo – Pensamento.......................................108 7.3.2. Joelzito Araújo – Relacionamento com Solange Couceiro..........................................................................110 7.3.3. Joel Zito Araújo – Obras................................................111 7.4.. Ricardo Alexino Ferreira – Biografia.....................................112 7.4.1. Ricardo Alexino Ferreira – Pensamento.........................113 7.4.2. Ricardo Alexino Ferreira – Relacionamento com Solange Couceiro..........................................................................115 7.4.3. Ricardo Alexino Ferreira – Obras...................................116. 8.. A Difusão da Antropologia da Comunicação no Brasil.................117 8.1.. Alfredo Dias D’Almeida – Biografia....................................118 8.1.1. Alfredo D’Almeida – Pensamento...............................119. 8.2.. Roberto Reis de Oliveira – Biografia....................................121 8.2.1. Roberto Reis de Oliveira – Pensamento......................122. Conclusões................................................................................................125. Referências Bibliográficas......................................................................130. Anexos.......................................................................................................136 Fotos.................................................................................................137 Sínteses.............................................................................................150 Conteúdo Programático – Disciplinas Ministradas por Schaden na Universidade Metodista de São Paulo.......................................................167 Entrevistas.......................................................................................173.

(9) 8. RESUMO.

(10) 9. Resumo:. O principal objetivo desta dissertação é inventariar, através de análise documental, história de vida e entrevistas, os fatos e personagens que contribuíram para o desenvolvimento do estudo antropológico da comunicação no Brasil, culminando com a criação da disciplina “Antropologia da Comunicação”, no âmbito da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. O foco da pesquisa foi orientado para desvendar o papel desempenhado pelo Professor Dr. Egon Schaden, bem como pelo seu discípulo, Professor Dr. João Baptista Borges Pereira, destacando a significação do livro “Cor, Profissão e Mobilidade: o negro e o rádio de São Paulo” para a História do Pensamento Comunicacional Brasileiro.. Palavras-Chave: História do Pensamento Comunicacional; Pensamento Comunicacional Brasileiro; Antropologia da Comunicação; Egon Schaden; João Baptista Borges Pereira..

(11) 10. Resumen:. El principal objetivo de la investigación es presentar, con un análisis documental, historia de vida y entrevistas, los factos y personajes que han contribuido para el desarrollo del estudio antropológico de la comunicación en Brasil, culminando con la creación de la disciplina “Antropología de la Comunicación”, en la “Escola de Comunicações e Artes de la “Universidade de São Paulo”. El foco de la investigación ha sido orientado para desvendar el papel desempeñado por el maestro Egon Schaden, además de su discípulo, João Baptista Borges Pereira, destacando la significación del libro “Cor, Profissão e Mobilidade: o negro e o rádio de São Paulo” para la Historia del Pensamiento Comunicacional Brasileño.. Palabras Clave: Historia del Pensamiento Comunicacional Brasileño; Pensamiento Comunicacional Brasileño; Antropología de la Comunicación; Egon Schaden; João Baptista Borges Pereira..

(12) 11. Abstract: The main aim of this research is to show through an documental analysis life history and interviews, the facts and characters who contributed for the development of anthropology studies, that were responsible for the creation of the subject “Communication Anthropology”, at “Escola de Comunicações e Artes” of “Universidade de São Paulo”. The focus of this research was guided to discover the job performed by Professor Egon Schaden in this process, such as his pupil, João Baptista Borges Pereira, observing the importance of the book “Cor, Profissão e Mobilidade: o negro e o rádio de São Paulo”, to the Brazilian Communication Thought History.. Key Words: Brazilian Communication Thought History; Brazilian Communication Thought; Communication Anthropology; Egon Schaden; João Baptista Borges Pereira..

(13) 12. INTRODUÇÃO.

(14) 13. 1. Introdução:. Todos os anos, projetos focalizando a Antropologia, a Comunicação e a Antropologia da Comunicação são desenvolvidos nas mais diversas instituições de ensino superior do Brasil. Todavia, no que se refere à História da Antropologia da Comunicação, vista como disciplina, pouco se tem produzido. Parte dessa lacuna tentará ser preenchida nesta investigação exploratória, que integra o Programa de Pesquisa “Memória das Ciências da Comunicação no Brasil”, encabeçado pelo Professor Dr. José Marques de Melo, cujo objetivo é resgatar e preservar a memória dos estudos sobre Comunicação nas universidades brasileiras. Especificamente, este trabalho se insere nos estudos relacionados ao Grupo Comunicacional do Butantã, que inclui os pesquisadores atuantes na Universidade de São Paulo 1 . A implantação da Antropologia da Comunicação no Brasil confunde-se com a história da atual Escola de Comunicação e Artes (ECA) 2 , da Universidade de São Paulo (USP), no final dos anos 60, e início da década de 70, do século passado. De regresso ao Brasil, após alguns anos ministrando cursos e proferindo palestras no exterior, o Professor Dr. Egon Schaden (1913-1991), antes responsável pela cadeira de Antropologia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, vinculou-se à ECA, trazendo consigo amplo conhecimento da área antropológica para criar a disciplina Antropologia da Comunicação. Trajetória semelhante marcou a identidade acadêmica dos profissionais que constituíram o quadro docente da ECA, em sua primeira década de existência. Isso se explica pela escassez de doutores com titulação em Comunicação, e a necessidade da composição de um grupo docente com pessoas tituladas nas mais diversas áreas das Humanidades. Com isso, o estudante universitário teria uma formação interdisciplinar, e a oportunidade de estruturar um senso crítico mais apurado. Schaden também foi um dos articuladores para a criação do mestrado em Ciências da Comunicação na ECA-USP, no início da década de 70. Logo depois, enfrentou dificuldades políticas, que culminaram com o seu afastamento da USP.. 1. A descrição das principais informações coletadas nesse programa está contida na trilogia escrita pelo Professor Dr. José Marques de Melo: História do Pensamento Comunicacional (Paulus, 2003); A Esfinge Midiática (Paulus, 2004) e História Política das Ciências da Comunicação (Maud, 2008). 2 A atual Escola de Comunicações e Artes foi fundada em 1966, com o nome de Escola de Comunicações Culturais (ECC)..

(15) 14. Regressou à ECA com a anistia, em 1979, passando a chefiar o Departamento de Biblioteconomia e Documentação. Nesse período, o professor lecionou no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, cujo corpo docente foi constituído, inicialmente, por docentes originários da USP3 . Schaden sinaliza que a Antropologia da Comunicação. tal como é ministrada na Universidade de São Paulo, a disciplina tem por objetivo a discussão das principais teorias e perspectivas metodológicas empregadas na interpretação da realidade cultural, sempre que possível com referência aos fenômenos de comunicação. Desta maneira, a integração das culturas e, de modo particular, a sua unidade funcional e os seus princípios estruturais são postos em confronto com os processos de comunicação inerentes aos diferentes tipos de sistemas. Dá-se importância primordial à análise dos processos culturais enquanto expressões características das formas de comunicação condicionadas pela cultura e à dos efeitos que os meios de comunicação têm na sua transformação. É que, para se chegar a uma explicação científica do processo de comunicação, este deve ser encarado primordialmente em termos de processo cultural. (Schaden, 1974, p.130). Anterior à existência da Antropologia da Comunicação, como disciplina propriamente dita, Schaden orientou a tese de doutorado em Antropologia 4 do Professor João Baptista Borges Pereira, defendida na FFLCH no ano de 1966, intitulada “Cor, Profissão e Mobilidade: o negro e o rádio de São Paulo”. Pode-se admitir que a obra mencionada representa o início da Antropologia da Comunicação, como área de estudos acadêmicos no Brasil. A continuidade da tese de Borges Pereira, se deve, anos mais tarde, em 1971, à dissertação de mestrado em Antropologia, da Professora Solange Martins Couceiro de Lima, denominada “O Negro e a Televisão de São Paulo: um estudo de relações raciais”, orientada pelo próprio João Baptista Borges Pereira. Primeira orientanda de Borges Pereira em sua trajetória acadêmica, mais tarde, Couceiro trabalhou como assistente de Schaden na ECA5 . As sementes deixadas por Schaden foram cultivadas por Borges Pereira e Couceiro rendendo alguns frutos. Ex-orientandos de Borges Pereira e Couceiro começaram a desenvolver projetos de pesquisa, e a ministrar aulas de Antropologia da Comunicação 6. 3. Ver: CASTELO BRANCO, Samantha; MARQUES DE MELO, José. Pensamento Comunicacional Brasileiro – O Grupo de São Bernardo. São Bernardo do Campo: UMESP, 1998. 4 Primeira tese em Antropologia defendida, desde a instituição da disciplina em 1936. 5 Ambas as obras serão analisadas, respectivamente, nos Capítulos II e III: Antropologia da Comunicação no Brasil e Antropologia da Comunicação na USP. 3 A disciplina Antropologia da Comunicação não é a única nomenclatura utilizada para estudar a relação do homem, de sociedades consideradas marg inalizadas ou minorias, e os meios de comunicação. Na ECA, por exemplo, após algumas reformulações a Antropologia da Comunicação fora transformada em.

(16) 15. nas faculdades e universidades onde estão vinculados. Com isso, a linha de pesquisa implantada nos anos 60, se mantém viva até este início de século XXI, contando todos os anos, com novas adesões e projetos de pesquisa.. 1.1.. Metodologia Empregada:. Fundamentalmente, esta investigação está amparada em fontes bibliográficas, e em entrevistas semi-abertas e abertas. Foram entrevistados7 pesquisadores que, direta e indiretamente contribuíram para consolidar a Antropologia da Comunicação no Brasil. Com relação à entrevista semi-aberta, Duarte (2008, p. 66) enfatiza que. A lista de questões desse modelo tem origem no objeto de pesquisa e busca tratar da amplitude do tema, apresentando cada pergunta da forma mais aberta possível. Ela conjuga a flexibilidade da questão não estruturada com um roteiro de controle.. Já a entrevista aberta, segundo Duarte (2008, p.65). Tem como ponto de partida um tema ou questão ampla e flui livremente, sendo aprofundada em determinado rumo de acordo com aspectos significativos identificados pelo entrevistador enquanto o entrevistado define a resposta segundo seus próprios termos, utilizando como referência seu conhecimento, percepção, linguagem, realidade, experiência. Dessa maneira, a resposta a uma questão origina a pergunta seguinte e uma entrevista ajuda a direcionar a subseqüente. A capacidade de aprofundar as questões a partir das respostas torna este tipo de entrevista muito rico em descobertas.. A pesquisa bibliográfica é definida por Marconi e Lakatos (2002, p.71) como a “Antropologia Cultural”, ministrada obrigatoriamente para os alunos do curso de Relações Públicas. Em outras instituições, a disciplina também recebe a denominação de “Antropologia Visual”. 7 Foram entrevistados nesta pesquisa: Alfredo Dias D’Almeida (ex-orientando de Joseph Luyten); Dalva Aleixo Dias (ex-orientanda de Solange Couceiro); João Baptista Borges Pereira (ex-orientando de Egon Schaden); Joelzito Araújo (ex-orientando de Solange Couceiro); José Marques de Melo (ex-colega de Egon Schaden na ECA-USP); Nelly de Camargo (ex-orientanda de Egon Schaden); Ricardo Alexino Ferreira (ex-orientando de Solange Couceiro); Roberto Reis de Oliveira (ex-orientando de Dalva Aleixo Dias) e Sônia Bibe Luyten (ex-orientanda de Egon Schaden)..

(17) 16. Bibliografia já tomada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fitas magnéticas e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas ou gravadas.. Especificamente nesta dissertação, a análise bibliográfica privilegiou alguns livros, e principalmente, artigos de autores, como por exemplo, Egon Schaden, Emílio Willems, João Baptista Borges Pereira e Sola nge Martins Couceiro de Lima. A relação das fontes utilizadas está exposta no capítulo “Referências Bibliográficas”, tendo sido coletadas nas bibliotecas da Universidade Metodista de São Paulo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP), e da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP). Através da Rede Mundial de Computadores foi possível obter artigos, currículos e informações adicionais a respeito do objeto investigado. Esta análise exploratória 8 tem como intuito responder algumas questões traçadas anteriormente, entre elas:. - Quais foram os antecedentes para a criação da disciplina Antropologia da Comunicação no Brasil? - Qual era o contexto histórico e/ou cultural no período da fundação da Antropologia da Comunicação no Brasil? - Quais foram os principais trabalhos produzidos nessa área interdisciplinar? - Como a disciplina Antropologia da Comunicação se desenvolveu na Universidade de São Paulo? - Como ocorreu a difusão da disciplina em outras instituições de ensino?. Entre os procedimentos citados anteriormente, as entrevistas foram úteis para adicionar informações, negar ou confirmar dados colhidos nas investigações bibliográficas e documentais. Com o intuito de cumprir as metas previamente estabelecidas, a dissertação tentará responder as indagações propostas acima por meio de três capítulos: Pensamento. 8. A análise exploratória é compreendida por Gil (1996), como o exercício de conhecer “[...] mais e melhor o problema, elabora hipóteses, aprimora idéias, descobre intuições”..

(18) 17. Comunicacional Brasileiro, Antropologia da Comunicação no Brasil e Antropologia da Comunicacional na USP. Em tese, pretende-se verificar como se deu a constituição da disciplina Antropologia da Comunicação no âmbito acadêmico no Brasil e, em especial, no Estado de São Paulo. Dessa forma, explica-se a escolha pelo título da presente dissertação.. 1.2.. Desenvolvimento do Trabalho Proposto:. A presente investigação está dividida conforme descrição a seguir: Na Revisão de Literatura, será explicitado, brevemente, o surgimento da Antropologia, das Ciências da Comunicação, e o momento em que a Antropologia passa a analisar as influências que os processos comunicacionais recebem dos meios de comunicação. No primeiro capítulo intitulado “Pensamento Comunicacional Brasileiro”, será relatado os primeiros passos de estudiosos como o Cônego Fernandes Pinheiro e Barbosa Lima Sobrinho. A contribuição das Ciências Sociais para a Comunicação, através de Gilberto Freyre e Emílio Willems, e o pioneirismo de Egon Schaden e seus discípulos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), também serão apresentados nesse capítulo inicial. O segundo capítulo, que recebeu a denominação de “Antropologia da Comunicação no Brasil”, terá como objeto de análise o primeiro trabalho científico, produzido no Brasil, que pode ser catalogado como uma obra referencial para a “Antropologia da Comunicação”. Trata-se de “Cor, Profissão e Mobilidade: o negro e o rádio de São Paulo”, de João Baptista Borges Pereira. Além de apresentar a obra com detalhes, será traçado o perfil intelectual do autor, assim como seus projetos e demais contribuições à Antropologia de uma forma generalizada. Já o terceiro capítulo enfatizará a institucionalização da disciplina “Antropologia da Comunicação”, especialmente na Escola de Comunicações e Artes. Será ressaltada a colaboração de Egon Schaden (fundador da disciplina na USP, e orientador do trabalho seminal para o campo produzido por João Baptista Borges Pereira) e seus discípulos, e a difusão da disciplina pelo país..

(19) 18. Na parte conclusiva, será apresentada uma análise sobre todo o conteúdo exposto ao longo desta dissertação. Nas referências bibliográficas, estarão listadas todas as fontes utilizadas. Nos anexos, o leitor terá a oportunidade de ler a íntegra das entrevistas concedidas à autora desta dissertação. Além disso, foram incluídas sínteses das duas obras seminais para a “Antropologia da Comunicação” no Brasil 9 , e algumas fotos das pessoas citadas neste trabalho.. 9. São elas: “Cor Profissão e Mobilidade: o negro e o rádio de São Paulo”, cuja autoria pertence ao Professor Dr. João Baptista Borges Pereira, e “O Negro na Televisão de São Paulo: um estudo de relações raciais”, de Solange Martins Couceiro de Lima..

(20) 19. REVISÃO DE LITERATURA.

(21) 20. 2. Revisão de Literatura: 2.1 . Antropologia:. Muito antes da Antropologia se tornar a “Ciência do Homem”, ou o estudo dos processos culturais de uma determinada sociedade, o interesse pelo estudo antropológico configurou-se na Europa. Com as grandes navegações, durante os séculos XV e XVI, e os novos territórios explorados, surge a curiosidade em conhecer quem eram e como viviam os na tivos do denominado “novo mundo”10 . Paradoxalmente, em outros continentes onde viviam povos ditos civilizados, não é possível determinar a existência de iniciativas de auto-observação, e/ou verificação de outras sociedades. Considerado pelos antropólogos contemporâneos como “o pai da Antropologia Moderna”, Boas (2008, p. 87) identifica a gênese desse interesse acerca das civilizações distantes nos povos greco-romanos: “Numa época antiga, os homens estavam interessados em países estrangeiros e na vida de seus habitantes. Heródoto relatou aos gregos o que havia visto em muitas terras. César e Tácito escreveram sobre os costumes dos gauleses e dos alemães”. Os povos “descobertos” pelo homem europeu foram denominados “selvagens”. Supostamente providos de reduzida capacidade intelectual, eram considerados avessos aos padrões do “velho mundo”. Assim como na Grécia Antiga, onde todo e qualquer indivíduo que não fosse grego era chamado de “bárbaro”, o europeu fazia essa distinção, acreditando que os habitantes dos novos continentes tinham, além de baixo intelecto, características animalescas, que, talvez, jamais poderiam ser corrigidas. Por isso mesmo, a convivência “amistosa” entre “civilizações” e “selvagens” era impensável.. O Renascimento explora espaços até então desconhecidos e começa a elaborar discursos sobre os habitantes que povoam aqueles espaços. A grande questão que é então colocada, e que nasce desse primeiro confronto visual com a alteridade, é a seguinte: aqueles que acabaram de serem descobertos pertencem à humanidade? O critério essencial para saber se convém atribuir-lhes um estatuto humano é, nessa época, religioso: O selvagem tem uma alma? O pecado original também lhes diz respeito? – questão capital para os missionários, já que da resposta irá depender o fato de saber se é. 10. Ver LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2007..

(22) 21. possível trazer-lhes a revelação. Notamos que se, no século XIV, a questão é colocada, não é deforma alguma solucionada. Ela será definitivamente resolvida dois séculos mais tarde. (Laplantine, 2007, p. 37-38). Como sugeriu Laplantine, as questões religiosas atrasaram, de certa forma, a consolidação da Antropologia como uma ciência. A explicação divina para a evolução humana impediu que estudos aprofundados fossem realizados e/ou aceitos. Somente a partir dos séculos XVIII e XIX, a Antropologia começa a ser delineada como um campo científico. Nesse instante, os “selvagens” passam a ser chamados de “primitivos”. Dessa maneira, era identificada toda a civilização que não fizesse parte do bloco europeu ou norte-americano. A partir do século XX, os “povos primitivos” são considerados seres em processo de extinção. Caia por terra, a tese de que jamais ocorreria aculturação entre os primitivos e os ocidentais Surgia, nessa época, um conflito pessoal entre os que se dedicavam ao estudo das civilizações primitivas. Muitos investigadores viviam décadas, realizando pesquisas etnográficas, imergidos nas localidades ditas primitivas. A pergunta que esses cientistas se faziam era: “Os estudiosos dos povos primitivos serão excluídos sem a existência do seu objeto de análise?” Logo, se o objeto de estudo evoluiu, a ciência seguiu o mesmo ritmo. A Antropologia se transformou no estudo comparativo das sociedades urbanas e/ou de grupos marginalizados, ou ainda, de pequenas estruturas sociais. O campo começa a averiguar o homem através de uma ótica mais amplificada. A Antropologia começa a assumir ares mais sofisticados, subdividindo-se e configurando especialidades capazes de observar o homem sob diferentes perspectivas. Com isso, aparece a Antropologia Biológica ou Física, Antropologia Social e Cultural (etnologia), Antropologia Lingüística, Antropologia Psicológica e a Antropologia Pré-Histórica ou Arqueologia. Na academia, o ensino de Antropologia é relativamente recente. Laplantine (2007, p. 25) afirma que “[...] a Antropologia só começou a ser ensinada nas universidades há algumas décadas. Na Grã-Bretanha a partir de 1908 (Frazer em Liverpool), e na França, a partir de 1943 (Griaule na Sorbonne, seguido por LeroiGourhan)”. Em território nacional, a Antropologia aparece no ambiente acadêmico em meados da década de 30 do século passado, surgindo, inicialmente, na Universidade do.

(23) 22. Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Especificamente em São Paulo, a Antropologia nasceu na Escola de Sociologia e Política, no Estado de São Paulo. Em 1935, na então recém-criada Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências da Universidade de São Paulo, localizada na Rua Maria Antonia, bairro da Consolação, a disciplina é desbravada por Claude Levi-Strauss (gerador da teoria da Antropologia Estrutural). No seguinte (1936), as aulas de Antropologia passam a ser ministradas, na FFCL, por Emílio Willems. Em 1939, a Escola de Sociologia e Política de São Paulo (instituição pioneira no estudo exclusivo das Ciências Sociais naquele período) cria, por iniciativa do professor americano Donald Pierson, o departamento de Sociologia e Antropologia daquela instituição de ensino superior, que anos mais tarde, transforma-se em um setor de estudos pós- graduados 11 . João Baptista Borges Pereira (1994, p.249) resgata a cronologia da disciplina Antropologia 12 , na Universidade de São Paulo:. passa a ser lecionada como matéria obrigatória nos cursos de Ciências Sociais, Geografia e História e, em 1947, consegue que seja instituído o diploma de especialização em Antropologia, juntamente com os de Sociologia e Ciência Política. Um ano depois, em 1948, de disciplina obrigatória a Antropologia passa à Cadeira número 49, sendo indicado para regê-la o professor Willems.. Através da visão do Professor Dr. Egon Schaden (1954, p.4), a disciplina tinha quatro objetivos básicos que necessitavam ser alcançados:. 1º) munir os licenciados em história, geografia e ciências sociais de uma perspectiva antropológica, que lhes proporcione novas possibilidades no tratamento de pesquisa; 2º) formar professores de antropologia que venham ocupar as cátedras universitárias ou trabalhar junto a elas; 3º) formar pesquisadores competentes, que se dediquem à investigação científica dos problemas antropológicos do país; 4º) formar técnicos capazes de aplicar os conhecimentos antropológicos na solução de problemas práticos.. 11. Ver CÔRREA, Mariza. História da Antropologia no Brasil (1930-1960) – Volume 1. 2. ed. São Paulo: Edições Vértice, 1987. 12 A disciplina Antropologia foi instituída através do decreto número 12.038, de 1º de julho de 1941..

(24) 23. 2.2 . Comunicação:. O principal fator biológico que difere a espécie humana de outros animais é a comunicação através de um código lingüístico sofisticado e estruturado. Os primeiros indícios da constituição de um pensamento comunicacional no ocidente são delineados pelos filósofos da Antiga Grécia e resgatados por Aristóteles. Nesse período, é constatada que a dicotomia entre Política e Comunicação é essencial para a manutenção das sociedades civilizadas. Na percepção de Aristóteles e de seus seguidores, um bom governante deveria ter desenvolvida a arte da retórica, isto é, a capacidade de persuasão e argumentação verdadeira 13 . Após os gregos, através de Quintiliano, no primeiro século depois de Cristo, os romanos continuaram a projetar o campo comunicacional. Mais adiante, outros pensadores deram seguimento à sistematização da Comunicação. Entretanto, Marques de Melo (2003, p.9) sinaliza que “a matriz identificadora do novo campo acadêmico só despontaria em terras americanas em meados do século XX ”. Dessa forma, o campo comunicacional tem origem remota, contudo problemática, segundo a visão dos cientistas antigos e contemporâneos. A geração de tensões e/ou conflitos ocorre pelo fato de a comunicação estar intersectada permanentemente por outros campos de conhecimento. Admitir diversas áreas de estudo é outra característica peculiar da Comunicação. A Tecnologia, a Linguística, as Artes, as Ciências Sociais, a Literatura, a Filosofia, e outras contribuem para o campo comunicacional.Entre o período aristotélico e o século XVI, as investigações estavam concentradas no Interpessoal Grupal. Estavam em evidência, nesse longo período, como afirma Marques de Melo 14 , a Linguística e a Educação. Em um segundo momento, que compreende os séculos XVII e XIX,. 13. Ver MARQUES DE MELO, José. História do Pensamento Comunicacional. São Paulo: Paulus, 2003. 14 Tais afirmações fazem parte do conteúdo didático oferecido durante as aulas da disciplina “História do Pensamento Comunicacional”, ministradas pelo Professor Dr. José Marques de Melo, para o Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, no período compreendido entre os meses de março e junho de 2008..

(25) 24. evidencia-se a Filosofia da Comunicação, a História da Comunicação e o Direito da Comunicação. O campo comunicacional adquiriu notoriedade e autonomia na América Latina somente a partir da segunda metade do século XX. Entretanto, ainda no século XIX, a imprensa torna-se objeto de estudo. Os registros feitos no Brasil pelo Cônego Fernandes Pinheiro, Alfredo de Carvalho e outros estudiosos comprovam essa tese 15 . O século XX representa a consolidação da Comunicação, e a sua conseqüente inserção no ambiente acadêmico. Na primeira metade do século, as investigações estão dirigidas à comunicação coletiva. O jornalismo, a propaganda, as relações públicas e as tecnologias mais recentes como a fotografia, a cinematografia e a radiodifusão são as disciplinas que fazem parte desse contexto. É nessa oportunidade que surgem as pesquisas realizadas por Harold Laswell (1902-1978), referentes à propaganda política realizadas no período da I Guerra Mundial. Ainda nesse período, as tecnologias de difusão de conteúdos em massa, que representavam uma nova realidade comunicacional, foram alvo de duras críticas feitas pela “Escola de Frankfurt”, geradora da “Teoria Crítica”. A pesquisa social dos “frankfurtianos” privilegiou a crítica ao capitalismo, sugeria que a comunicação em massa, ou a produção de bens culturais em série, a chamada “Indústria Cultural”, sendo capaz de trazer alienação ao público receptor desses produtos, era responsável por “esconder” a realidade vivida pela sociedade. A segunda metade do século XX, marcada pela Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética, e pelos governos ditatoriais na América Latina, é também conhecida pelo avanço dos cursos de Comunicação nas universidades ao redor do mundo. Nessa conjuntura, a Comunicação passa a ser analisada através da perspectiva das ciências sociais.. 2.3. A intersecção - Antropologia e Comunicação: De acordo com a tendência do período pós Segunda Guerra Mundial, ficam em evidência os estudos nas áreas de Sociologia da Comunicação, Psicologia da Comunicação, Antropologia da Comunicação e Política da Comunicação.. 15. O trabalho de Fernandes Pinheiro será apresentado com maiores detalhes na Unidade I deste trabalho..

(26) 25. O objeto da Antropologia da Comunicação, foco de análise deste trabalho, é assim vista por Laplantine (2007, p 130):. o que se pode qualificar de Antropologia da Comunicação, que, com o impulso de Gregory Bateson e da escola de Palo Alto, estuda as diferentes modalidades da comunicação entre homens, não a partir dos interlocutores que seriam considerados como elementos separados uns dos outros, mas a partir dos processos de interação formando sistemas de troca, integrando notadamente tudo o que, no encontro, se dá ao nível (não verbal) das sensações , dos gestos, das mímicas, e das posturas.. Em território brasileiro, no ano de 1966, nasce na Universidade de São Paulo, a Escola de Comunicações Culturais (ECC), que após a reforma universitária, transformase em Escola de Comunicações e Artes (ECA). Professores dos mais diversos campos das Ciências Humanas participam da construção da nova instituição. Com isso, conhecimentos previamente adquiridos em outros campos foram trazidos, e contribuíram significativamente para a estruturação dos cursos de graduação e pósgraduação da ECA-USP. Entre eles, o Professor Dr. Egon Schaden, que utilizando-se da experiência como ex-catedrático de Antropologia da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP, funda na ECA, a disciplina “Antropologia da Comunicação”. Dessa forma, a ECA torna-se pioneira nos estudos da Antropologia ligados diretamente às Ciências da Comunicação. Para Schaden (1974, p. 127),. o atual interesse pelos estudos de comunicação não é simples fenômeno de moda. Corresponde a uma necessidade real e nasce de uma inquietação inevitável diante de um paradoxo que desafia o homem de nossos dias. Graças à técnica moderna, as notícias e as idéias difundem com grande rapidez e através de todas as fronteiras; há os que dizem estarmos no limiar de uma nova era, a que chamam “era das comunicações”. Mas sob o granizo da informação, do qual não tem como defender-se, o homem é cada vez menos capaz de comunicar-se com o seu semelhante em termos de interação pessoal.. Com o passar dos anos, a unidade integrante à Universidade de São Paulo passou por inúmeras reformulações incluindo disciplinas que constituíam a grade curricular da graduação. A “Antropologia da Comunicação”, ministrada como disciplina obrigatória no curso de graduação em Comunicação Social, deu lugar à “Antropologia Cultural”, como disciplina integrante do currículo da habilitação em Relações Públicas. Nos cursos de pós-graduação, inúmeros projetos são desenvolvidos, todos os anos,.

(27) 26. dentro e fora da Universidade de São Paulo. Marques de Melo 16 (2008) sintetiza a importância do ensino da “Antropolo gia” nos cursos de Comunicação: “A formação humanística é fundamental para o processo de crescimento intelectual do aluno. Noções básicas dessas disciplinas (Antropologia, Sociologia, Psicologia, entre outras) são essenciais para a formação profissional do graduando. Já um maior aprofundamento desses campos deve ser proposto nos estudos de pós- graduação”.. 16. Depoimento concedido durante entrevista realizada pela autora deste trabalho no dia 11 set. 2008..

(28) 27. CAPÍTULO I.

(29) 28. CAPÍTULO I – PENSAMENTO COMUNICACIONAL BRASILEIRO. 1. Primeiros Passos - o conhecimento empírico (de Fernandes Pinheiro a Barbosa Lima Sobrinho):. Se a Antropologia da Comunicação foi oficializada como disciplina curricular somente na década de 70, do século passado, no Brasil, muito antes disso, pesquisas comunicacionais sob a perspectiva antropológica, ou vice-versa, já eram realizadas. Essa tese é levantada pelo Professor Dr. José Marques de Melo, em sua obra “Estudos de Jornalismo Comparado” (Editora Pioneira, 1972). Marques de Melo realizou um inventário pioneiro, onde explicitou os estudos relativos às Ciências Sociais organizados por Gilberto Freyre, Florestan Fernandes, Roger Bastide, Arthur Ramos, entre outros, em que a imprensa é utilizada como fonte para a observação dos fenômenos da sociedade. No Brasil, o campo comunicacional e o antropológico foram, de certa forma, “beneficiados”, no início do século XIX, pela chegada da família real portuguesa, em 1808, na cidade do Rio de Janeiro. Por uma questão de curiosidade, e necessidade de conhecimento, os estudos ligados às tribos indígenas foram incentivados. Borges Pereira (1987, p. 425) ressalta que a família real portuguesa foi a principal responsável pelo impulso nas pesquisas de cunho científico no Brasil. Com isso, também, o país viveu um período de forte desenvolvimento cultural. Em 1815, resolveu o rei criar no Rio de Janeiro, então capital do reino unido lusobrasileiro, uma Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, destinada à preparação dos homens que deveriam ocupar cargos ou postos de responsabilidade na vida pública e à dos que iriam ter papel de relevo nas lides econômicas da antiga colônia recém-elevada a categoria de reino.. A permanência da família real no Brasil gerou muitas controvérsias, principalmente, a respeito do que foi ou não trazido pela comitiva imperial portuguesa. O Cônego Dr. Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro (1825-1876) publicou no ano de 1859, na cidade do Rio de Janeiro, um artigo que contestava a informação de que a imprensa surgira em 1808, no Brasil, por iniciativa dos portugueses. Na convicção de Pinheiro, a tipografia aportou no Brasil por intermédio dos holandeses, na região Nordeste, ainda no século XVII. A investigação do religioso foi considerada a.

(30) 29. primeira nesse sentido. A tese do religioso fora refutada anos mais tarde pelo historiador Alfredo de Carvalho 17 .. Ainda nas questões relativas à imprensa, Fernandes Pinheiro fundou em 1851, o periódico “Tribuna Católica”. Ademais, foi colaborador em diversos periódicos nacionais e internacionais. Contribuiu para a Revista Popular e Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro. Foi responsável pela organização do setor religioso dos veículos: Jornal do Commercio, Diário do Rio de Janeiro e Correio Mercantil. Dirigiu, também, a revista intitulada Guanabara, com periodicidade mensal18 . A trajetória profissional de Fernandes Pinheiro não se restringiu aos estudos lusitanos e na docência em diversos colégios cariocas, onde ministrou inúmeras disciplinas ligadas à literatura, e à religiosidade. Na maioria das análises, Pinheiro investigou e criticou condutas tomadas pelos jesuítas no que se refere à catequização no Brasil. Como requisito para o ingresso no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1854, o padre defende uma tese intitulada “Ensaio sobre os Jesuítas” questionando a validade do trabalho realizado pelo “Instituto de Loyola no Brasil”. De acordo com Fernandes Pinheiro, o Instituto de Loyola no Brasil, bem como em toda a parte, passou por diferentes fases: corrompeu-se depois com o andar dos tempos; mas em sua degeneração foi menos fatal à nossa terra do que ao velho continente, porque o nosso teatro era mesquinho e por isso menos destros os atores, que nele representaram. Como brasileiro não deixaremos jamais de tributar o testemunho da nossa gratidão pelo serviço que ao país prestaram: nós tudo lhe devemos; formam a antiguidade da nossa história e foram os arquitetos da presente prosperidade, e da nossa futura grandeza. Hoje porém não desejamos a sua volta: ser-nos-ia ela danosa, uma vez que se não despissem pisando as nossas fronteiras do manto de políticos, o que seria talvez exigir deles o impossível. Cônscios de sua superioridade intelectual querem dominar por ela; esquecem muitas vezes o lugar de modestos operários do Evangelho para se emaranharem no intrincado labirinto da política, e então tornam-se prejudiciais, deixam de ser uma congregação religiosa para se converterem em seita política, em carbonários da Igreja. Tal é a nossa opinião (Pinheiro apud Pinheiro, 1980, p. 33). Ainda no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o religioso produz outros textos com a mesma temática, como por exemplo, “História da Companhia de Jesus no Brasil” e “Fontes da História da Igreja Católica no Brasil”. No entanto, a contribuição. 17. Ver MARQUES DE MELO, José. História do Pensamento Comunicacional. São Paulo: Paulus, 2003. 18 Ver PINHEIRO, Mario Portugal Fernandes. Apresentação à 2ª. Edição de Estudos Históricos: acrescidos de estudos avulsos brasileiros ilustres do Cônego Fernandes Pinheiro. Rio de Janeiro: Livraria Ed itora Cátedra, 1980..

(31) 30. mais clara para a Antropologia está refletida em “Breves Reflexões sobre o Sistema de Catequese Seguido pelos Jesuítas no Brasil”, onde estuda a catequização das tribos indígenas (os índios, inclusive, são tema recorrente nas pesquisas realizadas por antropólogos e historiadores da época) 19 . Fernandes Pinheiro expõe em seus escritos o fato dos jesuítas defenderem e apoiarem a liberdade dos índios, apenas para ter trabalhadores rurais que pudessem prestar serviço aos religiosos. Trata-se, portanto, de uma pesquisa com abordagem antropológica, já que o índio, considerado marginalizado e primitivo, era o seu objeto de estudo. Apesar de pertencer ao clero, uma das características do historiador, jornalista e professor era a sua habilidade em narrar fatos históricos. Prova disso são as inúmeras menções feitas por personalidades da Literatura Brasileira, como Antonio da Rocha Almeida e Joaquim Manuel de Macedo 20 . Pode-se considerar que Fernandes Pinheiro foi um dos precursores dos trabalhos relativos à imprensa, e um estudioso das questões antropológicas. Mesmo após a sua morte, tem sido reverenciado por ícones da imprensa brasileira no século XX, como Barbosa Lima Sobrinho, que em 1958 enfatizou21 : “Essa independência de orientação concorria para atribuir aos seus estudos a autoridade de um julgamento imparcial e que sabia colocar-se acima das limitações que pudessem decorrer da posição eclesiásticas do autor”. Após a fase iniciada por Fernandes Pinheiro, o século XX é marcado pela personalidade expressiva do pernambucano Alexandre Barbosa Lima Sobrinho (18972000), cujo no me de batismo era Alexandre José Cintra Lima. Uma das principais influências recebidas pelo jornalista foi a do seu tio, Alexandre Barbosa Lima, governador do Estado de Pernambuco durante o período compreendido entre os anos de 1892 e 1896, que seguia ideais positivistas e nacionalistas. Quando cursava o curso ginasial, e começou a escrever para o jornal do colégio onde estudava, o pai de Barbosa Lima Sobrinho sugeriu ao filho que adotasse esse nome em homenagem ao tio. Outra. 19. Além de estarem citadas no livro de Mário Portugal Fernandes Pinheiro, as contribuições do Cônego Fernandes Pinheiro estão presentes no livro “História do Pensamento Comunicacional” (Paulus, 2003), escrito por José Marques de Melo. 20 Textos contidos em: PINHEIRO, Mario Portugal Fernandes. Apresentação à 2ª. Edição de Estudos Históricos: acrescidos de estudos avulsos brasileiros ilustres do Cônego Fernandes Pinheiro. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra, 1980 21 Idem..

(32) 31. motivação para a troca de nome foram as atitudes políticas tomadas pelo garoto, e percebidas pela família 22 . Em 1923, o jornalista publicou o livro intitulado “O Problema da Imprensa”, cujo um dos objetivos prioritários da obra era discutir a lei de imprensa mais conhecida como “Adolpho Gordo”, nome do senador paulista autor do decreto. Gordo propunha no Congresso Nacional brasileiro normas rígidas e restrições para o trabalho dos jornalistas.. O desenvolvimento da imprensa para Barbosa Lima Sobrinho não é apenas uma questão econômica, mas de liberdade. As mudanças vividas pelo jornalismo neste século não estão em sua modernidade e transformações técnicas, mas nas idéias. Para chegar a esta conclusão, Barbosa Lima fez um levantamento histórico de todos os jornais que circularem no Brasil durante a monarquia até a Independência, resgatando o comportamento dos homens que pregavam mudanças políticas e econômica. (Mendez, 2005, p.143). 2. Assimilação Acadêmica: a contribuição das Ciências Sociais (de Gilberto Freyre a Emílio Willems):. Outro pernambucano, como Barbosa Lima Sobrinho, colaborou decisivamente para a história do Brasil em inúmeros campos. Para se ter uma idéia, o antropólogo Gilberto de Mello Freyre (1900-1987) começou a difundir o seu pensamento quando dirigia o periódico do colégio onde estudava, e igualmente prestara serviços como jornalista para o jornal “A Província” e para o “Diário de Pernambuco”. No entanto, ao contrário de Lima Sobrinho que expõe os problemas do país nas páginas dos veículos midiáticos, Freyre inspira-se nos jornais antigos para discutir em suas obras questões sociológicas e/ou antropológicas. Gilberto Freyre. (...) estava interessado na captação da história a partir das relações cotidianas. A mídia narra os fatos cotidianos. Logo, por meio da análise daquele material antigo, torna-se possível a reconstrução analítica de um panorama do qual não restam outros registros. (Dalmonte, 2002, p.85). 22. Ver MENDEZ, Rosemary Bars. Olhos de Jornalista: O Jornalismo segundo Barbosa Lima Sobrinho. 1999, 313f. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo..

(33) 32. Em terras americanas, Freyre estudou literatura, e graduou-se em Artes. Logo após, conquista uma bolsa de estudos na Universidade de Columbia, e defende a sua dissertação de mestrado, intitulada “Social Life in the middle of the 19th century23”, sob a orientação do antropólogo Franz Boas, considerado o “pai da Antropologia Cultural Moderna”24 . Nos Estados Unidos, Freyre, ao mesmo tempo, em que se dedica às investigações sociológicas, verifica o desenvolvimento dos periódicos norteamericanos. No seu regresso ao Brasil (antes viajou pela Europa), traz a experiência jornalística observada em território americano, acreditando que a qualidade deve ser item prioritário em um jornal. Nesse sentido, passa a dirigir os jornais “A Província”, entre os anos de 1928 e 1930, e o “Diário de Pernambuco”, quando esse é integrado aos “Diários Associados”, de Assis Chateaubriand, em 1934. A linha editorial do “Diário” era criticar o governo implantado pelo presidente Getúlio Vargas. Tal conduta arquitetada por Freyre gerou algumas sanções ao periódico 25 . Na concepção de Freyre a existência do jornal era imprescindível para a divulgação de idéias e teorias dos intelectuais dessa primeira metade do século XX. Na realidade, os veículos impressos serviam como palco para a exposição do pensamento, e como forma de mostrar prestígio.. Não basta a um intelectual ter idéias; é igualmente necessário comunicá-las e torná-las públicas . É nessa máxima que se assenta a tradição de Gilberto Freyre. De um lado, o profícuo intelectual, com uma vasta obra e muitas idéias; de outro, a necessidade de difundir tal pensamento e de se firmar como pensador no meio de uma intelectualidade tradicionalista. (Dalmonte, 2002, p. 52). 23. “Vida Social em Meados do Século XIX” “A concepção boasiana de cultura tem como fundamento um relativismo de fundo metodológico, baseado no reconhecimento de que cada ser humano vê o mundo sob a perspectiva da cultura em que cresceu – em uma expressão que se tornou famosa, ele disse que estamos acorrentados aos “grilhões da tradição”. O antropólogo deveria procurar sempre relativizar suas próprias noções , fruto da posição contingente da civilização ocidental e de seus valores”. (Castro In: Boas, 2008, p.18). Outra característica marcante de Boas está no fato de que a Antropologia que pratica faz questão de analisar o objeto de pesquisa “in loco”, ou seja, o trabalho de campo é completamente enaltecido. Freyre apreende os ensinamentos de seu mestre, e passa a utilizá -los em território brasileiro. 25 Ver: DA LMONTE, Edson Fernando. Mídia: Fonte e Palanque do Pensamento de Gilberto Freyre. 2002, 150f. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo. 24.

(34) 33. Para Gilberto Freyre, a mídia não era apenas um local para exposição de trabalhos, ou um mero posto de trabalho. Como já citado no início deste texto, Freyre via nos jornais uma fonte de inspiração, um documento de resgate histórico. Ao todo, o sociólogo editou mais de 70 livros. O mais conhecido, que repercutiu ao redor do planeta, “Casa Grande & Senzala”, foi publicado pela primeira vez em dezembro de 1933. A bibliografia de Gilberto Freyre é vasta e diversa. (...) Abrange a psicologia e a história, a antropologia e a sociologia - sociologia existencial, se poderá dizer, ou proustiana se quisermos preferir – projetando planetariamente , através de traduções para as principais literaturas do mundo, a figura do ensaísta de “Sobrados e Mucambos”, “Ordem e Progresso”, “Nordeste”, “Açúcar”, “Aventura e Rotina” e “Região e Tradição”, entre os títulos mais especificamente científicos da valiosa contribuição do antropólogo-sociólogo de “Casa Grande & Senzala”. (Coutinho In: Freyre, 1994, p. 16). Se em “Casa Grande & Senzala”, e em algumas outras obras, a mídia esteve presente no trabalho de Freyre como um coadjuvante, em “Escravo nos Anúncios de Jornais Brasileiros do Século XIX”, escrito em 1934, a imprensa se torna fio condutor de toda a obra. O livro analisa a escravatura, e as características dos senhores proprietários de escravos, a partir dos textos de anúncios divulgados em periódicos brasileiros editados durante o século XIX. De acordo com o próprio Freyre 26 , a investigação trouxe inúmeras contribuições para diversas ciências, como por exemplo, a Anunciologia e a Linguística. Pode-se constatar, também, que a pesquisa tem fortes pinceladas de Antropologia da Comunicação, entretanto, a estrutura que compõe os jornais observados por Freyre não é detalhada no estudo. Freyre enfatiza que. (...) a análise sistemática de anúncios relativos a escravos nos jornais brasileiros do século passado veio permitir chegar-se a importantes conclusões ou interpretações de caráter antropológico quer psicossomático, quer de todo cultural à base das descrições oferecidas das figuras, falas e gestos de negros – ou mestiços – à venda e, sobretudo, fugidos: altura, formas de corpo, pés, mãos, cabeças, dentes, modos de falar, gesticulação doenças. Entre estas, me foi possível identificar a presença, em escravos introduzidos no Brasil, não só vítimas de ainhum, como do próprio raquitismo. (Freyre, 1979, p. XIV). 26. Ver: FREYRE. Gilberto. Escravo nos Anúncios de Jornais Brasileiros do Século XIX. 2.ed. São Paulo: Brasiliana, 1979..

(35) 34. O antropólogo ainda menciona que a história do Brasil está retratada nas páginas dos jornais:. Com relação ao Brasil – à sua história íntima, ao seu passado antropológico: um passado constantemente projetado sobre o presente e sobre o futuro -, os anúncios constituem a melhor matéria ainda virgem para o estudo e a interpretação desse período: para o esclarecimento da nossa psicologia em muitos dos seus aspectos gerais ainda obscuros. Para o estudo do desenvolvimento da língua brasileira por exemplo. No romance e na poesia, só nos livros de autores mais recentes ela vem revelando a espontaneidade e a independência que se encontram nos anúncios de jornais através de todo o século XIX. Anúncios já cheios de palavras de origem africana ou tupi-guarani; de brasileirismos do melhor sabor – sapiranga, cassaco, cambiteiro, aça ou assa, xexéu, troncho, perequeté, mulambo, munganga, cambado, zambo, cangulo, tacheiro, engurujado, bangüê, banzeiro, batuque, munheca, batucar. (Freyre, 1979, p. 3-7). Se Gilberto Freyre foi o responsável por trazer e legitimar a Antropologia de Franz Boas ao Brasil, Claude Levi-Strauss iniciou o delineamento da disciplina na academia brasileira. Nascido em Bruxelas, na Bélgica, no dia 28 de novembro de 2008, Claude LeviStrauss mudou-se para a França ainda muito jovem com sua família. Em território francês, Levi-Strauss estudou Direito e Filosofia na Sorbonne, entretanto foi no Brasil que o antropólogo alcançou o auge de sua carreira acadêmica 27 . Convidado para ingressar como professor-visitante da recém-criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade de São Paulo, Levi-Strauss lecionou na instituição entre os anos de 1935 e 1939. Nesse período, o docente ministrou aulas de Sociologia, e inseriu o estudo antropológico na academia brasileira. Com o foco de suas pesquisas direcionado à etnologia indígena, as investigações de Levi-Strauss geraram a teoria conhecida como “Antropologia Estrutural”. Na visão de Levi-Strauss (1971, p. 65-66),. quando se fala em estrutura social, dá-se atenção, sobretudo, aos aspectos formais dos fenômenos sociais, sai-se, pois, do domínio da descrição para considerar noções e categorias que não pertencem propriamente à etnologia, mas que ela gostaria de utilizar, à semelhança de outras disciplinas científicas que, desde muito tempo, tratam alguns de seus problemas como desejaríamos fazer com os nossos. Sem dúvida, estes problemas diferem quanto ao conteúdo, mas temos, com ou sem razão, o sentimento de que nossos. 27. Ver HAAG, Carlos. O francês de alma brasileira. Revista da Cultura. São Paulo: Livraria Cultura, ed. 16, nov. 2008, p. 14-15..

(36) 35. próprios problemas poderiam lhes ser aproximados, com a condição de adotar o mesmo tipo de formalização. O interesse das pesquisas estruturais está, precisamente, em que nos dão a esperança de que ciências mais avançadas que as nossas, sob este aspecto, possam nos fornecer modelos de métodos e soluções.. No ano de 1939, o antropólogo tentou voltar para a França, no entanto, a Segunda Guerra Mundial o impediu de consolidar o seu projeto. Com isso, estabeleceuse nos Estados Unidos, e trabalhou na “New School for Social Research”, em Nova Iorque. Quando regressou à Europa, foi catedrático no Collège de France.. Para o antropólogo, o “pensamento primitivo” era, longe de simplista, algo complexo, sofisticado e que tendia mais à ordem do que às idéias de organização e progresso que as sociedades modernas estabeleciam como parâmetro, fatos que, para ele, podem ser fonte de desequilíbrio social entre seres humanos. (Haag, p. 15). Na extensa lista das obras escritas por Levi-Strauss, destacam-se 28 : As estruturas elementares do parentesco (1949); Introdução à obra de Marcel Mauss (1950); Tristes Trópicos (1955); Antropologia Estrutural (1958); O Pensamento Selvagem (1962); Antropologia Estrutural 2 (1973); A via de máscaras (1975); Minhas Palavras (1984); De Perto e de Longe (1988) e Saudades do Brasil (1994). O “centenário” Claude Levi-Strauss recebeu, de acordo com Haag (2008, p. 15) uma homenagem da UNESCO e do Museu Quai Branly. Trata-se de uma exposição dos objetos utilizados pelo docente em suas investigações etnológicas. Se Claude Levi-Strauss inseriu a Antropologia no âmbito acadêmico na Universidade de São Paulo, Emílio Willems consolidou a disciplina como o estudo científico do homem e cultura no país. Imigrante alemão, graduado em Economia pela Universidade de Berlim, antes de chegar à Universidade de São Paulo, morou um período (meados da década de 20) nos Estados do Paraná e Santa Catarina, locais de maior concentração de alemães no território brasileiro. O próprio Willems diagnostica, anos mais tarde, que o grupo de alemães isolava-se em determinadas regiões por razões lingüísticas e culturais. Nesses Estados, Willems presta a sua contribuição, leciona ndo no curso secundário. Respaldado por pesquisas sobre os imigrantes germânicos, apoiado e. 28. Mais informações disponíveis em 28 nov. 2008, nos sites: www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u471170.shtml; www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u471158.shtml; www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u471179.shtml..

(37) 36. incentivado pelo Professor Fernando de Azevedo, ingressou na Universidade de São Paulo. Na USP, ministrou aulas de Sociologia na Faculdade de Filosofia. É no campo sociológico educacional que Willems conquista o seu título de livre-docente, em 1937 29 . Nesse momento, impulsionado por Fernando Azevedo, ministra aulas de Antropologia para a Faculdade de Filosofia, como matéria não oficial. Desde 1936, pela mão de Willems, o ensino de Antropologia obtém legitimidade. Em 1941, através do decreto número 12.038, de 1º de julho do ano citado, a matéria se torna obrigatória para a graduação em Ciências Sociais, Geografia e História. Já em 1947, é instituído o diploma de especialização em Antropologia. No ano seguinte, a Antropologia torna-se cadeira, regida pelo próprio Willems, dedicando aos estudos da Antropologia Física e/ou Biológica, como tendência trazida pela Escola Americana.. a Willems devem-se pesquisas de campo e reflexões que tiraram a Antropologia feita no país de seu interesse apenas pelo biológico e pelo tribal, e a colocaram como ciência preocupada com a análise e interpretação de aspectos cruciais da sociedade complexa brasileira. Assim, inspirando-se em Robert Redfield, um atípico e sofisticado neoevolucionista norte-americano, realizou o seu primeiro estudo de comunidade no Brasil, tendo como um de seus assistentes de pesquisa o aluno Florestan Fernandes “Uma Vila Brasileira – tradição e mudança”,São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1961”. (Pereira, 1994, p. 250). Os principais trabalhos de Willems referem-se aos imigrantes alemães.. Willems procura, em seus livros “Assimilação e Populações Marginais no Brasil”, publicado em 1940, e “A Aculturação dos Alemães no Brasil”, publicado em 1946, analisar os imigrantes alemães e descendentes no Brasil através de um conjunto de conceitos e noções da então recente Antropologia Cultural, que surge como uma outra possibilidade de classificação social do mundo que não a racial. Assim, em um país mestiço como o Brasil, a possibilidade de se caracterizar uma identidade cultural só seria possível através de conceitos já utilizados pelos antropólogos estadunidenses para medir o processo de homogeneização cultural até então efetuado nos Estados Unidos da América . Estes conceitos são, principalmente, os de assimilação e aculturação, Desta maneira, Willems discute pela primeira vez em 1940, o processo de assimilação dos imigrantes alemães no Brasil, do mesmo modo que um grupo de antropólogos fez em relação aos Estados Unidos após a Primeira Guerra Mundial. (Voigt, 2007, p.190). 29. Ver PEREIRA, João Baptista. Emílio Willems e Egon Schaden na história da Antropologia. Estudos Avançados. São Paulo: Universidade de São Paulo, a.8, n. 22, p.249-253, 1994..

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