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Egon Schaden – Pensamento

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CAPÍTULO I Pensamento Comunicacional Brasileiro

3. Pioneiras Incursões Antropológicas – Egon Schaden e a

3.2. Egon Schaden – Pensamento

Apesar de cultivar fortemente as tradições alemãs, como uma herança familiar, ao contrário de seu catedrático, Emílio Willems, Egon Schaden não tinha como objeto de estudo os imigrantes alemães, ou de qualquer nacionalidade. A linha seguida na maior parte de seus ensaios, estava relacionada com a análise das tribos indígenas do Brasil.

As três teses defendidas na FFCL-USP (doutorado, livre-docência e cátedra) estão embasadas nessa temática. A primeira (“A mitologia heróica de tribos indígenas

do Brasil”), foi considerada uma das melhores teses produzidas na FFCL, pelo seu caráter inovador34.

A segunda, intitulada “Aspectos Fundamentais da Cultura Guarani”, publicada em 1974, focaliza a mitologia indígena. Entretanto, nesse trabalho a análise está delimitada a uma tribo apenas. Para compor a tese, Schaden buscou embasamento no esquema teórico- metodológico funcionalista, configuracionista, estruturalista e difusionista.

Já a terceira tese, “Aculturação Indígena” (1969) recapitula as produções realizadas por outros estudiosos do tema. Sem ser um exercício de “futurologia”, mas amparado em pesquisas feitas anteriormente pelo próprio autor, configurando um panorama das mudanças culturais, a partir da interação com os “homens brancos”.

Apesar dos inúmeros artigos escritos, e das pesquisas de campo, Schaden era essencialmente professor. Seus textos não tinham simplesmente o intuito de

engrandecê- lo perante a sociedade científica. Schaden queria colaborar para a melhoria no ensino de Antropologia.

Para se ter uma idéia, a Revista de Antropologia35, criada por Schaden, em 1953, antes de ser administrada pelo Departamento de Antropologia da FFLCH-USP, tinha todas as suas despesas arcadas pelo docente.

Assim é que se produzia (para usar uma expressão muito em voga atualmente na USP), em tempos heróicos da faculdade. E o Professor Schaden pertenceu a esse tempo, tempo em que muitos patrimônios foram construídos com sacrifício e fé, o que nos tira, hoje, o direito de dilapidá-los em nome do que quer que seja. (Pereira, 1991, p. 2)

Discutir os problemas do ensino de sua disciplina tanto nos tempos de FFLCH quanto no período de ECA, era outra vertente no pensamento intelectual de Schaden. Para o docente,

se um professor de Antropologia aceita a incumbência de falar sobre problemas do ensino de sua disciplina, espera -se que, além de apontar dificuldades e falhas, proponha soluções baseadas na experiência de seus trabalhos didáticos. Parte dos problemas , entretanto, foge quase inteiramente ao raio de ação do docente, pois decorre da estrutura do nosso ensino universitário e da posição da Antropologia em face do que dela

34

Ver PEREIRA, João Baptista Borges. Lembrando Egon Schaden. Jornal da USP. São Paulo, p. 2, out. 1991; e PEREIRA, João Baptista Borges. Emílio Willems e Egon Schaden na história da

Antropologia. Estudos Avançados. São Paulo: Universidade de São Paulo, a.8, n. 22, p.249-253, 1994. 35

esperam, de um lado, os estudantes que freqüentam os cursos e, do outro, a própria sociedade. Daí a falta de equilíbrio e até de correspondência satisfatória entre os múltiplos problemas que depara o professor e as sugestões que possa fazer no sentido de resolvê-los. O mais que dele se há de exigir é que procure, sempre que possível, dar formulações precisas, relativas a situações concretas. A discussão teórica dos aspectos metodológicos do ensino de Antropologia, embora talvez mais sedutora, seria menos adequada aos objetivos essencialmente práticos desta Reunião. Por essa razão, quero cingir-me de preferência ao ensino antropológico nos cursos universitários brasileiros atuais. (Schaden, 1954b, p. 1)

Schaden acreditava que, ao contrário do pesquisador, que delimita um tema para melhor observá- lo, e tirar as suas conclusões acerca do problema escolhido, o professor tem a obrigação de ser o mais amplo possível na disciplina em que atua, com o objetivo de situar o aluno na questão, oferecendo ao futuro profissional a oportunidade de seguir os seus próprios passos. Para o docente de Antropolo gia, Schaden defende que o ensino deve estar além de uma teoria ou metodologia. A essência de uma aula está no estímulo à compreensão humana.

Uma vantagem do ensino de Antropologia no Brasil, na década de 50 do século passado, segundo a visão de Schaden, estava no fato de que a disciplina não se prendia a tradicionalismos, ou a uma corrente única.

O ensino universitário da Antropologia no Brasil é novo e não se prende, por conseguinte, a nenhum tradicionalismo; este fato é explorado vantajosamente pelo professor que se proponha formar antropólogos no sentido pleno da palavra, cientistas que não se deixem levar pela bitola de perspectivas unilaterais. E o próprio espírito antropológico, antítese de estreitos nacionalismos, auxilia-o também a não preferir cegamente as contribuições de um país às de outro, mas a aproveitá-las todas no momento oportuno, e a não forçar, por isso mesmo, a criação de uma “teoria antropológica brasileira” sem que haja razões objetivas para tal. A antropologia brasileira há de constituir-se – é este o primeiro ponto – através de um ensino que não deixe de dar aos alunos uma visão crítica da Antropologia universal e que, pondo em relevo o valor de cada uma das teorias existentes, previna a formação prematura e talvez desnecessária de novas escolas. (Schaden, 1954b, p. 2)

Outra bandeira levantada por Schaden estava no desejo de se criar um curso de licenciatura em Antropologia na FFCL.

Tal pretensão não seria desconhecer a situação real, nem levaria a comprometer o ensino, mas antes a elevar-lhe o nível, uma vez que haja, para os licenciados,

expectativa razoável de o título lhes proporcionar um meio de vida. Em outros termos: se a sociedade estiver em condições de empregar certo número de antropólogos para determinados fins concretos, de preferência no exercício da Antropologia Aplicada. (Schaden, 1954b, p. 5)

Quando instituiu a disciplina de Antropologia da Comunicação36, e coordenou o curso de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, na ECA-USP, Schaden

preservou os mesmos costumes cultivados na FFLCH. Isto é, instigar os alunos a pesquisar, escrever e divulgar, mas, acima de tudo, contribuir para a consolidação da Antropologia, especialmente da Antropologia da Comunicação no Brasil e na América Latina.

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