• Nenhum resultado encontrado

Egon Schaden – Biografia

No documento Download/Open (páginas 40-43)

CAPÍTULO I Pensamento Comunicacional Brasileiro

3. Pioneiras Incursões Antropológicas – Egon Schaden e a

3.1. Egon Schaden – Biografia

Nascido na colônia alemã de São Bonifácio (atual município da Grande Florianópolis), em Santa Catarina, no dia 04 de julho de 1913, Egon Schaden, desde muito cedo, recebeu influências da cultura alemã. Um de seus maiores incentivadores foi o pai, Francisco Schaden. Filho de alemães, Francisco Schaden ministrava aulas em uma escola de São Bonifácio.

Com isso, pode-se afirmar que Egon Schaden viveu uma infância confortável ao lado de seus pais. Cursou o primário em sua cidade natal, cumprindo o ensino básico no Colégio Catarinense, localizado em Florianópolis.

A família de Schaden, inclusive o próprio Egon Schaden, fazia que stão de manter as tradições da cultura alemã. Mesmo quando se mudou para São Paulo, e se tornou um pai de família, Schaden permaneceu com os traços culturais deixados pelos seus antepassados. No entanto, jamais deixou de enaltecer e respeitar as tradições brasileiras. Em meados da década de 30, juntamente com o pai, Schaden editou a Revista Pindorama. Com periodicidade quinzenal, a publicação era escrita integralmente em alemão.

A esposa de Schaden, Margareth, ao contrário do marido, apesar de ser alemã, cultivava as raízes brasileiras. “A Dona Margareth Schaden era muito mais brasileira do que muito nativo do nosso país. Ela não conseguia imaginar a possibilidade de viver na Alemanha. Quando Schaden cogitou essa hipótese, logo se mostrou contrária a tal decisão”. (Pereira, 2008)33

Em sua vida acadêmica, logo nos primeiros anos de fundação da Universidade de São Paulo, Schaden ingressou no curso de Filosofia, tendo como um de seus

33

principais professores de graduação o antropólogo Levi-Strauss. Foi no ambiente da então FFCL, que Schaden construiu a sua carreira. Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras cursou o doutorado, defendeu, também, a tese de livre-docência, e tornou-se responsável pela cadeira de Antropologia deixada por Emílio Willems.

Orientado na pós- graduação por Willems, Schaden defendeu a tese de doutoramento intitulada “A mitologia heróica das tribos indígenas no Brasil”. Essa pesquisa, segundo Pereira (1991, p. 2),

foi incluída no rol das teses mais relevantes da Faculdade e, como t al, foi recentemente reeditada em sua terceira edição, pela Edusp (1989). Esse ensaio tem o seu caráter de estudo pioneiro acentuado na medida em que se reconhece, hoje, que é um marco de renovação na literatura sobre índios brasileiros. Não é a repetição rotineira da vida e dos costumes das nossas populações tribais escrita por um mero conhecedor de índios, mas sim um ensaio em que, dentro dos mais rigorosos procedimentos teóricos, o autor propõe analisar e interpretar o até então fugidio e complexo mundo dos mitos e das representações.

Como primeiro assistente do Professor Willems, Schaden assume, com a

indicação de seu catedrático, a cadeira de Antropologia (no. 49) da FFCL, em 1950. Um dos principais marcos da gestão de Schaden é a institucionalização da disciplina, como atesta João Baptista Borges Pereira (1994, p. 252):

Desde 1935, paralelamente à disciplina antropológica, funcionava na Faculdade de Filosofia a cadeira de Etnografia do Brasil e Língua Tupi-Guarani, sob a regência do professor Plínio Ayrosa. Era uma dualidade institucional que cortava, por assim dizer, um campo intelectual e impedia a Antropologia de assumir a sua integralidade como área de saber , tanto no plano do ensino, como no da pesquisa. Tal situação mantinha-se graças ao prestígio pessoal e poder político do Professor Ayrosa. Com a morte desse catedrático, em 1963, Schaden consegue eliminar essa dualidade, vencendo a resistência da área da Sociologia, liderada por Florestan Fernandes, que pretendia trazer Herbert Baldus , do Mus eu Paulista, para reger a cadeira de Etnografia. Cria -se, então, a cadeira de Línguas Indígenas do Brasil, que passa para o Setor de Letras, e a cadeira de Antropologia incorpora definitivamente as disciplinas de Etnologia e Etnografia brasileiras, dando ao ensino e à pesquisa da Antropologia na USP o perfil fundamental que ostenta hoje.

Schaden foi responsável pela incorporação de mais docentes à cadeira, criando em 1953, a Revista de Antropologia, primeira do gênero a circular no Brasil. Ademais de estar à frente da cadeira de Antropologia, Schaden integrou na USP, o primeiro Conselho de Administração do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB),

dirigindo a instituição no período de 1964 a 1966, com o apoio do vice Sérgio Buarque de Holanda.

Além de ser o catedrático em Antropologia da USP, a cada seis meses, Schaden lecionava, como professor visitante, na Universidade de Bonn, na Alemanha. Em 1967, época conturbada na FFCL, em que ocorria a mudança de sede da Rua Maria Antonia para a Cidade Universitária. Devido questões políticas, quando foi convidado para reger, em caráter definitivo a cadeira de Etnologia na Universidade de Bonn, Schaden aceitou o convite e aposentou-se da FFCL ainda no auge da sua carreira. Deixou a cadeira para o jovem doutor e livre-docente João Baptista Borges Pereira, na época, com aproximadamente 35 anos de idade. Razões familiares (a sua esposa não aceitava, em hipótese alguma, a mudança para a Europa), e desentendimentos profissionais, o impediram de assumir o cargo.

Sem uma ocupação fixa, Schaden aproveitou o tempo para ministrar cursos em países da Ásia, Europa, América do Sul e América do Norte, como por exemplo, Japão, Canadá, França e Colômbia.

De volta ao Brasil, no início da década de 70, trabalhou durante um ano na Fundação Santo André, faculdade municipal, da cidade homônima, localizada na região metropolitana da capital paulistana. Nessa instituição ministrou aulas de Antropologia e Etnografia Geral e do Brasil.

No mesmo período, aceitou convite do diretor da então Escola de Comunicações Culturais (ECC-USP), Antônio Guimarães Ferri, e integrou o quadro docente da

unidade pertencente à Universidade de São Paulo. Lá, criou a disciplina de

Antropologia da Comunicação, tornando-se o principal articulador para a instalação do curso de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, em nível de mestrado. Desde 1967, a instituição mantinha o programa de doutoramento, seguindo o modelo europeu, mas foi desativado em 1972, quando começou o mestrado de acordo com os moldes norte-americanos. Com a aprovação do referido programa, Schaden é nomeado coordenador da pós- graduação, desenvolvendo no mestrado uma linha de pesquisa denominada “Cultura Brasileira”, onde a ênfase era dada aos estudos antropológicos ligados às questões comunicacionais. Como forma de reconhecimento pelos serviços prestados, a sala de defesa de teses da unidade recebeu o nome de Schaden, em 1992.

Durante o regime militar, logo depois de implantar a pós-graduação na ECA, Egon Schaden enfrentou dificuldades políticas, culminado com o seu afastamento da ECA-USP. Posteriormente, aceita proposta do Professor Dr. José Marques de Melo,

(também afastado da ECA por razões políticas) para exercer atividades docentes no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da Universidade Metodista de São Paulo, onde permaneceu durante três anos (entre os anos de 1978 e 1981).

Ainda nos 70, por indicação dos professores Marques de Melo e Luiz Beltrão, Schaden proferiu palestras e cursos na CIESPAL (Centro Internacional de Estud ios Superiores de Periodismo para América Latina), em Quito, no Equador. Depois, trabalhou durante um ano no Institute for Culture and Technology, da Universidade de Toronto, no Canadá, com Marshall McLuhan. Pode-se afirmar, que Egon Schaden foi o responsável pela difusão da Antropologia da Comunicação em toda a América Latina.

Com a anistia, em 1979, Schaden volta para a Escola de Comunicações e Artes, dessa vez, para assumir a direção do Departamento de Biblioteconomia e

Documentação, onde se aposentou, definitivamente, quando atingiu a idade compulsória, em 1983.

No dia 16 de setembro de 1991, com 78 anos de idade, Egon Schaden morre vitimado por um atropelamento, na cidade de São Paulo. Deixou diversas obras referentes à Antropologia, como: Aculturação Indígena (1969); Homem, Cultura e Sociedade no Brasil (1972); A Formação Étnica e a Consciência Nacional (1972); Aspectos fundamentais da cultura Guarani (1972); Leituras de Etnologia Brasileira (1976), além de dezenas de artigos publicados, principalmente, na Revista de Antropologia.

No documento Download/Open (páginas 40-43)