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Nelly de Camargo

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CAPÍTULO III – Antropologia da Comunicação na USP

4. Discípulos de Schaden na ECA-USP

4.1. Nelly de Camargo

4.1.1.

Biografia:

Natural da cidade paulista de Itú, e filha de um militar e uma cantora, Nelly de Camargo realizou a maior parte de seus estudos na cidade de Itapetininga. Com apenas 17 anos de idade, a docente já havia concluído o curso normal50.

Quando Nelly de Camargo completou 18 anos, a sua família se mudou para São Paulo. Nesse período, Nelly ingressou no magistério primário que exerceu durante cinco anos, até prestar concurso para ingressar na Universidade de São Paulo como aluna de Pedagogia, e posteriormente, de Psicologia. Após a conclusão do curso de Pedagogia, Nelly de Camargo ministrou aulas em cursos normais da capital.

Nessa época, a docente passou a ter contato com a área comunicacional, através de uma bolsa concedida pela Universidade de Indiana, nos Estados Unidos.

Nesse período, houve um concurso do Ministério da Educação aqui em São Paulo para um setor de recursos audiovisuais que deveria promover uma melhor instrumentação do professor do ponto-de-vista pedagógico. Eu fiz esse concurso, passei. Aí os Estados Unidos ofereceram quatro bolsas de estudos para aquele pessoal que havia sido selecionado, e eu fui uma das agraciadas com isso. E eu fui para a Universidade de Indiana, onde havia um grande departamento de comunicações e recursos audiovisuais, e lá eu fiquei 01 ano, onde nesse época, eu fiz o meu mestrado... (Camargo, 2008)

De volta ao Brasil, Nelly de Camargo já estava vinculada ao Instituto de

Educação da Universidade de São Paulo, no departamento de recursos audiovisuais. No setor, a pesquisadora permaneceu até 1966.

E nesse setor, nós demos habilitações para mais de 10 mil pessoas no magistério, pessoal da Polícia, pessoal de todo o Brasil que vinha por essa ou aquela razão, e queria aprender recursos audiovisuais de comunicação. Isso funcionava onde está instalada, atualmente, a Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Naquele tempo se chamava Centro Regional de Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação. (Camargo, 2008)

50

Dados biográficos coletados durante entrevista de Nelly de Camargo concedida à Gleice De Divitiis em 02 dez. 2008.

Para se aprofundar na temática referente aos recursos audiovisuais, em 1966, Nelly de Camargo viajou até a França com o objetivo de investigar o desenvolvimento dos estudos audiovisuais na Europa. Antes de viajar, porém, a docente tinha feito uma inscrição para concorrer à cadeira de Teoria da Comunicação da então Escola de Comunicações Culturais.

Com isso, ao regressar da Europa, Nelly foi aprovada no concurso da ECC, e se torna chefe do Departamento de Ciências e Técnicas de Comunicação da nova

instituição que estava se configurando. Nelly deixou o cargo para o Professor Egon Schaden, que detinha da titulação necessária para assumir o departamento.

Em 1972, Nelly de Camargo concluiu a sua tese de doutorado na já denominada Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), sob a orientação do Professor Egon Schaden:

[...] todos os professores que estavam na ECA foram obrigados a fazer o seu doutorado em um determinado prazo. Não existia um programa de pós-graduação porque não havia professores doutores. Depois que eu fiz o meu doutorado, o Marques, o Professor Clóvis Garcia, o Professor Miroel... Todos os professores defenderam até 1972. Todos nós, juntos, poderíamos criar um programa de pós-graduação, e foi o que fizemos [...] (Camargo, 2008)

Além das atividades docentes desenvolvidas na ECA, Nelly, em 1980, recebeu uma bolsa “Fullbright” para ser professora visitante da Universidade de Stanford nos Estados Unidos. Na época, a investigadora foi convidada para o cargo de conselheira de comunicação regional da UNESCO para a América Latina, em Quito, no Equador, onde permaneceu por quatro anos, aposentando-se na USP.

Mais uma vez no Brasil, Nelly de Camargo vai lecionar na Universidade de Campinas (UNICAMP), e instala, na universidade, o Departamento de Multimeios. Na UNICAMP, Nelly exerceu a função docente durante aproximadamente 15 anos.

No ano 2000, Nelly passa a se dedicar, integralmente, ao Programa de Pós- Graduação em Ciências da Comunicação da ECA-USP. Apesar de aposentada, Nelly de Camargo ainda mantém orientandos na instituição. A tese de doutorado mais recente, orientada pela pesquisadora, foi defendida em julho de 2008.

Uma das primeiras dissertações de mestrado orientadas por Nelly de Camargo, cujo enfoque que privilegiou um objeto de natureza sócio-antropólogico, foi o trabalho produzido por Maria Immacolata Vassalo de Lopes, intitulado “O Rádio dos Pobres – Comunicação de Massa, Ideologia e Marginalidade Social”51. A pesquisa transformada em livro, no ano de 1988, teve como intuito

estudar os efeitos ideológicos do discurso radiofônico popular sobre as populações marginais que vivem no ambiente urbano. Para tal, toma -se um conjunto de três programas radiofônicos (“Zé Bettio”, “Gil Gomes” e “Silvio Santos” ) como realização de um discurso popular no rádio que tem sua escuta particularmente concentrada nos setores de menor renda. (Lopes, 1988, p.7)

4.1.2.

Pensamento:

Tanto o mestrado quanto o doutorado de Nelly de Camargo tiveram como foco principal os estudos referentes ao audiovisual. Mais especificamente com relação à tese de doutoramento, orientada por Egon Schaden, o objetivo central era estudar a

implantação de aparelhos de televisão na periferia de São Luís do Maranhão pela Prefeitura do município.

A tese intitulada “A TV e o Quadro de Referência Sócio-Cultural: o Público dos Telepostos de São Luís do Maranhão”, segundo Nelly de Camargo (1972, p. 9)

[...] tinha por finalidade situar possív eis focos de ruído no sistema pelo qual uma instituição governamental pretendia, através de uma organização de Comunicação (a TV), transmitir mensagens, com objetivos culturais e educacionais, em substituição ao entretenimento com que esse público costumava preencher o tempo destinado ao lazer. (Camargo, 2008)

O interesse em estudar os “telepostos” no Maranhão surgiu no período em que a docente lecionou na capital, São Luís.

51

Ver: LOPES, Maria Immacolata Vasallo de. O Rádio dos Pobres – Comunicação de Massa,

Através da Universidade de São Paulo fui lecionar no Maranhão. E sempre quando ia para casa, lá em São Luís, percebia que a Prefeitura estava instalando nas ruas da periferia da cidade, uma espécie de poste com um aparelho de TV, onde eram exibidos canais abertos. Ao todo, foram colocados na cidade, 38 aparelhos. Percebi que a implantação desse sistema, mudou muitos hábitos daquelas pessoas, como por exemplo, a hora das orações nas igrejas, devido a telenovela “Irmãos Coragem”, que era exibida na época. Algumas tradições foram mudadas, somente para o público ter a oportunidade de acompanhar a novela. E isso me deixou muito curiosa. Fiz, então,um estudo com questionários com essas pessoas. O meu principal objetivo era diagnosticar o que tinha mudado na vida dessa população, e quais foram as alterações mais relevantes trazidas pela TV nessas localidades, onde a Prefeitura instalou o que chamei de “telepostos”. (Camargo, 2008)

Entre os principais resultados obtidos em sua investigação estão:

1. Trata-se de uma população em lento processo de mudança cultural, caracterizado pelo rompimento de alguns padrões peculiares à sociedade tradicional da qual, entretanto, conserva traços bastante fortes. Há indicação de alteração na

organização familiar, consumo expressivo de rádio, TV e mesmo esporadicamente, jornal. A capacidade empática é mais difícil de ser avaliada. No entanto, a rejeição dos programas locais e grande preferência pela programação de fora, a admissão dos modelos da TV no comportamento são dados sugestivos. No entanto, como um todo, a faixa (adulta) desta população expressa-se em termos da sociedade

tradicional.

2. Ir à praia aos domingos. Ir de vez em quando ao cinema, presenciar uma ou outra peça de teatro (também nos circos e festas populares) é o máximo em matéria de diversão. Poucos praticam esporte. Jogam habitualmente na loteria esportiva. Este fato causou perplexidade dado o pequeno poder de investimento da população e os custos fixos do jogo em questão. O assunto merece maior atenção e um estudo mais detalhado.

3. Não constitui, por seu poder aquisitivo, um público consumidor, de vez que a disponibilidade de renda é irrisória face às proposições do mercado e tem um padrão de vida extremamente precário. Assim, todo o investimento em instalações e materiais complementares exigidos pela tecnologia de educação via TV, deve ser feito pela organização promotora.

4. O consumo que faz dos meios de comunicação é restrito à leitura fragmentária de um jornal, quando muito, e à audição das emissões radiofônicas locais.

Constantemente ligado, o rádio constitui fonte informativa por excelência por sua decodificação imediata, domesticidade, gratuidade, não interferência com o

trabalho manual. Parece ter amplas possibilidades de utilização no desenvolvimento cultural e na complementação das transmissões televisionais.

5. Só eventualmente as necessidades de entretenimento são preenchidas pelo cinema e, de forma inteiramente esporádica, pelas representações teatrais.

6. Quanto à TV, assiste no teleposto para onde vai com a família inteira, levando sempre as crianças e também os mais velhos. A assistência diá ria à TV, em média entre duas e três horas por noite e, às vezes, até mais, deve ser compreendida face a uma programação que não ultrapassa a média de 4 horas. Não há seleção de programação. A cidade recebe apenas um canal de TV. Homens e mulheres são igualmente afeitos à TV. Não é discriminado (em termos de sexo) o

comparecimento ao TP. Jovens e crianças são mais fiéis ao veículo e pressionam a família no sentido de comparecer ao TP. (Camargo, 1972, 238-240)

Atualmente, Nelly de Camargo segue uma linha de pesquisa direcionada ao “Gerenciamento de Crises”, isto é, o mapeamento de problemas empresariais, pedagógicos e comunicaionais, e as suas prováveis soluções.

A minha linha de pesquisa, se é que nós podemos qualificar assim, eu quero saber qual é o problema que você tem, qual é o seu problema, o problema está dentro de você? É externo ou psicológico? É um problema de comunicação com o outro, com grupos? É um problema de comunicação de massa, empresarial? Eu estudo, na realidade, o problema. Para estudar o problema eu utilizo os conhecimentos que tenho de Ciências Sociais, de Psicologia, de Pedagogia, de Antropologia... E localizo, faço um mapa de onde está o problema. E aí eu vou trabalhar, crio estratégias para solucionar esse problema... (Camargo, 2008)

Embora Nelly de Camargo tenha uma vasta experiência no campo comunicacional, a docente não acredita que a Comunicação possa ser considerada uma área de

conhecimento autônoma:

Para mim a Comunicação como campo autônomo não existe, não tem objeto, campo e método específico. Ela está em todos os processos humanos, em todos os processos vivos, e até nas máquinas existe um problema de Comunicação. (Camargo, 2008)

Dessa forma, a pesquisadora também não se considera uma antropóloga da comunicação:

Não me considero uma antropóloga da comunicação. Eu me considero uma pessoa que conhece bem Antropologia. Conheço bem Psicologia, conheço bem Sociologia, e uso tudo aquilo que aprendi para entender como esses processos que falei ocorrem. (Camargo, 2008)

Com relação às produções científicas, a docente ressalta que possui mais artigos do que livros escritos:

Eu não tenho livros principais, eu tenho artigos principais. Eu fiz um livro chamado “Políticas de Comunicação no Brasil”, na época da ditadura, em 1970. As p olíticas de comunicação nunca tinham sido tratadas de maneira global por ninguém. Escrevi também uma obra sobre letras de músicas de Carnaval, intitulada “Brazilian Public Opinion in Carnival Lyrics”. Eu normalmente trabalho com mais pessoas, escrevo capítulos de livros.

4.2.

Joseph Maria Luyten:

4.2.1.

Biografia:

Joseph Maria Luyten nasceu na cidade de Brunssum, Holanda, em 15 de agosto de 1941. Quinto filho de oito irmãos, Luyten chegou com sua família à capital

pernbambucana, Recife, em 1952, com 11 anos de idade.

No entanto, o clima nordestino, além de outras razões, não permitiu que a família Luyten permanecesse por muito tempo em Pernambuco. Com o apoio de padres franciscanos, a família conseguiu se mudar para São Paulo. Na capital paulista, Joseph Luyten realizou a maior parte de seus estudos, e constituiu a sua própria família. Casa- se com Sônia Bibe Luyten, e se torna pai de três filhas (Natalie, Isabelle e Caroline).

Sempre interessado em estudar a cultura brasileira, Luyten, ao contrário de seus irmãos que se formaram em Engenharia, optou pela área de Humanidades, estudando Filosofia, Administração de Empresas e Jornalismo

Em 1980, Joseph Luyten conquistou a titulação de mestre. A dissertação intitulada “A literatura de cordel em São Paulo”, é defendida na ECA-USP, sob a orientação do Professor Dr. Egon Schaden. Quatro anos depois, em 1984, Luyten

tornou-se doutor, pela ECA-USP, com a tese “A notícia na literatura de cordel”, e com a orientação de Schaden. No ano de 1986, Luyten realiza estudos de pós-doutorado, no “National Museum of Enology”, da Osaka University.

Joseph Luyten lecionou em diversas instituições de Ensino Superior nacionais e internacionais, entre elas: Faculdades Integradas Alcântara Machado – FIAM (Brasil), Universidade Paulista – Unip (Brasil); Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM (Brasil); Universidade de São Paulo – USP (Brasil), Faculdade Cásper Líbero

(Brasil); Universidade Metodista de São Paulo (Brasil); Tokyo University of Foreign Studies (Japão); University of Tsukuba (Japão); Osaka University of Foreign Studies (Japão); Teikyo University Europe (Holanda) e Unipoitiers (França).

A trajetória acadêmica de Luyten foi interrompida pela sua morte em 27 de julho de 2006, vitimado por uma parada cardíaca.

4.2.2.

Pensamento:

Joseph Luyten dedicou-se ao estudo da cultura popular brasileira, vista através da perspectiva comunicacional. O interesse por esses estudos surgiu quando Luyten ainda era mestrando da ECA-USP, através das aulas do professor francês, Raymond Cantel, que proferiu algumas palestras na unidade:

O Joseph acreditava que os brasileiros tinham certo preconceito com a cultura popular. Precisou um estrangeiro expor esse assunto. Para o Joseph foi um grande início, esse foi o caminho. Com isso, ele direcionou o mestrado para essa questão. (Luyten, 2008)

Dentro desse campo, Luyten enfocou a literatura de cordel. Para se ter uma idéia, o acervo mantido por Joseph, e preservado, atualmente, pela sua esposa, Sônia Luyten, possui aproximadamente 19 mil folhetos.

Na apresentação de uma das suas principais obras (que também foi a sua dissertação de mestrado), “A Literatura de Cordel em São Paulo”, publicada em 1981, Egon Schaden (p. 9) expõe o desenvolvimento do trabalho proposto por Joseph Luyten:

Joseph Maria Luyten tem o senso do concreto. Não se perde, como tantos que escrevem sobre o assunto, em conjeturas teóricas, que podem impressionar o leitor, mas que nem sempre se apóiam em sólido suporte de fatos. Procurou não só examinar milhares de folhetos e, na medida do possível, o quanto se publicou sobre a literatura de cordel, os desafios, as pelejas, e os versos de repentistas, mas também travar conhecimento pessoal com muitos autores de livretos e com outros poetas populares. De alguns apresenta um pequeno “curriculum vitae”, que dá uma visão elucidativa das vicissitudes de sua carreira, de ordinário um tanto aventurosa. Muitos são de origem humilde, nascidos no interior, e passaram a viver em pequenas cidades, ganhando o sustento com os mais variados ofícios e, aos poucos, granjeando fama com os versos que faziam. Com paciência beneditina e com notável pertinácia, Luyten coligiu, enfim, um cabedal de informações que nos ajuda a situar a literatura de cordel em seu contexto, sem o que, aliás, não é possível comp reender a sua força de penetração e o seu verdadeiro sentido.

Apesar da existência de diversos trabalhos anteriores que abordavam a Literatura de Cordel, a dissertação de Luyten tornou-se pioneira na área, já que o docente analisou os folhetos feitos na cidade de São Paulo, cujos autores, em sua imensa maioria, eram migrantes nordestinos. Em contrapartida, a bibliografia, até então, existente, enfatizava as produções nordestinas, berço do cordel. Conforme Luyten (1981, p. 12),

O objetivo deste trabalho é o de analisar , especificamente, a contribuição de São Paulo no que se refere à produção de folhetos, fenômeno comumente chamado de Literatura de Cordel.

Durante a sua carreira acadêmica, Luyten escreveu diversos artigos científicos referentes à temática, e os publicou em diversos países. Além disso, orientou dezenas de teses e dissertações que tinham como assunto prioritário a cultura popular brasileira.

A linha seguida por Luyten, a “Folkmídia”, ou “Folkcomunicação”, isto é, a análise dos fenômenos culturais populares vista sob a ótica midiática, era uma herança do criador da teoria, o professor pernambucano, Luiz Beltrão.

Na Universidade Metodista de São Paulo, a disciplina “Folkmídia” fora ministrada durante os quase sete anos em que Joseph Luyten foi docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da instituição.

De acordo, com Sônia Bibe Luyten (2008), esposa do Professor Joseph, o desejo do orientador do docente, Egon Schaden, era que Luyten seguisse com os ensinamentos de Antropologia da Comunicação, entretanto a escolha foi outra:

Na verdade, o Schaden queria que o Joseph continuasse a linha de estudo dele, ou seja, a Antropologia da Comunicação. Mas o Joseph fez a opção pelo cordel. Para falar a verdade, o campo do Joseph enveredava pela Antropologia da Comunicação. Mas aí nós fomos para o Japão, e nos distanciamos do Professor Schaden. Quando soubemos da morte do Professor Schaden, estávamos fora do Brasil. Quando voltamos ao Brasil, o Joseph começou a dar aulas na Universidade Metodista de São Paulo, e na Unisantos.

Mesmo que não tenha seguido os caminhos deixados por Egon Schaden, Sônia Luyten (2008), acredita que se estivesse vivo, Joseph se consideraria um antropólogo da comunicação:

Fatalmente era a área dele. É o homem. E justamente o Joseph sempre valorizou o que era o extremo tanto na área de Comunicação quanto na Antropologia, ou seja, a comunicação das camadas baixas da população [...]

Alfredo Dias D’Almeida (2008)52, ex-orientando de Luyten, compartilha da mesma opinião:

O Luyten, por exemplo, era um antropólogo da Comunicação. E por quê? Porque era uma pessoa que não se limitava a fazer a pesquisa através de referências que chegavam a ele. Ele ia conhecer, tinha um contato constante com os artistas populares. O que ele recebia de correspondências diárias, era algo inacreditável. E ele respondia a todas. E esse contato constante é o respeito pelo outro. É você tentar entender aquela

manifestação. O cordel, que era a especialização do Luyten, por exemplo: ele queria entender o cordel como o próprio artista popular dava sentido para o cordel. Nós que somos urbanos, damos outro sentido para o cordel. É isso que gera o embate. É importante tentar deixar os nossos preconceitos de lado, e tentar entender o outro. E o Luyten me ensinou muito sobre isso. Eu saia com o Luyten de sábado pela manhã, para irmos às feiras de arte popular, e ele conhecia todo mundo. Ele tinha contato direto com as pessoas. Nós, hoje em dia, viramos comunicólogos de gabinete, o que era o

antropólogo até o século XIX. Além de conversar, o Luyten sabia ouvir. Pensar a Antropologia da Comunicação como uma área que entende a questão cultural como algo que tenha um valor comunicativo: o Luyten era um antropólogo da Comunicação.

Sônia Luyten (2008) observa que

a grande contribuição do Joseph foi tornar todo esse conhecimento antropológico uma disciplina, que é a “Folkmídia”. Era o campo de estudo que ele aplicava na Metodista. Outra coisa que eu gostaria de dizer é que tanto o Schaden, como outros professores nos ensinaram, acima de tudo, como ser orientador. Por exemplo, os orientandos do Joseph tinham uma amizade muito grande com ele. E isso a gente deve ao Schaden.

4.2.3.

Obras:

De acordo com o currículo disponibilizado na Plataforma Lattes53 de Joseph Luyten, o docente possui mais de três dezenas de artigos divulgados em periódicos científicos,

52

além de mais de dez livros publicados. Entre as obras do autor, as mais significativas apontadas pelo próprio docente, são:

ü LUYTEN, Joseph Maria. O Que é Literatura Popular. 5a ed. São Paulo: Brasiliense, 1992.

ü LUYTEN, Joseph Maria. Sistemas de Comunicação Popular. São Paulo: Ática, 1988.

ü LUYTEN, Joseph Maria; KUNTZ, R. Marketing Político. São Paulo: Global, 1982.

4.2.4.

A Configuração da Folkcomunicação:

Sem qualquer intenção de aprofundamento na temática folkcomunicacional, já que esse não é o principal objetivo do presente trabalho, nas linhas abaixo será

apresentado um breve relato referente à disciplina ministrada por Joseph Luyten na Universidade Metodista de São Paulo.

A nomenclatura Folkcomunicação foi mencionada, pela primeira vez, na tese de doutoramento do Professor Luiz Beltrão de Andrade54, defendida em 1967, na

Universidade de Brasília55.

O objetivo desse segmento inovador de pesquisa latino-americana no âmbito das ciências da comunicação encontra-se na fronteira entre o Folclore (resgate e interpretação da cultura popular) e a Comunicação de Massa (difusão industrial de símbolos, por meio de meios mecânicos ou eletrônicos, destinados a audiências amplas, anônimas e heterogêneas). Se o folclore compreende formas interpessoais ou grupais de manifestação cultural protagonizadas pelas classes subalternas, a folkcomunicação caracteriza-se pela utilização de mecanismos artesanais de difusão simbólica para

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