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Biografia

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CAPÍTULO II – Antropologia da Comunicação no Brasil

1. João Baptista Borges Pereira: o desbravador – vida e obra

1.2. Biografia

Filho de Antônio Bento Borges Pereira e Eurídice Borges Pereira, João Baptista Borges Pereira nasceu em 23 de julho de 1932, na cidade de Santa Cruz do Rio Pardo, interior paulista, distante aproximadamente 340 km da capital São Paulo.

[...] Sou de descendência tcheca, meus bisavôs eram tchecos. Meu pai é fruto da primeira geração de um grupo que saiu de uma região limítrofe localizada entre os municípios de São João da Boa Vista (SP) e Poços de Caldas (MG). Esse grupo recebeu a denominação de mineiros. Meu avô foi um dos mineiros que desbravou o sertão daquela área. Papai nasceu já em Santa Cruz do Rio Pardo. Era bastante rústico. Mamãe já era da cidade. Estudou em um colégio católico sofisticado de Botucatu [...] (Pereira 2008)39

Borges Pereira teve uma infância tranqüila, em meio ao mundo rural, como qualquer garoto do interior durante a década de 30, do século passado. Hábitos mais urbanos começaram a fazer parte da sua vida, somente quando iniciou os seus estudos no Grupo Escolar. Cursou o Ginasial (equivalente ao atual Ensino Fundamental II) e o Normal (equivalente ao Ensino Médio) em Santa Cruz do Rio Pardo, pois não detinha condições financeiras, na época, para se matricular nos cursos Clássico ou Científico, já que as escolas que possuíam essas especificidades, localizavam-se em outros

municípios.

[...] Eu vim para a cidade para estudar. Papai já era comerciante quando fiz o ginásio e o curso normal. Não fiz o curso Clássico ou Científico, que me permitiriam ingressar em cursos superiores que não fossem ligados diretamente ao magistério, porque não tinha condições financeiras de sair da minha cidade [...] (Pereira, 2008)

Dois anos depois de concluir o curso Normal, João Baptista Borges Pereira se mudou para São Paulo, com o objetivo de prestar o vestibular, e com isso, prosseguir os seus estudos. A escolha da Universidade de São Paulo surgiu ainda no colégio. A maioria de seus professores era formada pela USP, o que o incentivou bastante a trilhar os mesmos caminhos de seus mestres. Nessa ocasião, Borges Pereira já estava casado, e residia na capital acompanhado de sua esposa, Maria Tereza.

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A maioria dos depoimentos de João Baptista Borges Pereira contidos neste texto, são parte integrante de uma entrevista concedida pelo antropólogo à autora desta dissertação, no dia 19 de agosto de 2008.

[...] Eu já tinha me casado com a Maria Tereza quando cheguei em São Paulo. Casei bem jovem, com 19 ou 20 anos de idade. Maria Tereza veio comigo, e o pai dela queria que ela estudasse, matriculei-a em um colégio muito famoso na época, chamado Eduardo Prado. Conclui a faculdade ao mesmo tempo em que minha esposa concluía o colégio [...] (Pereira, 2008)

Apesar de ter se tornado, ao longo dos anos, um antropólogo respeitado, o sucessor de Egon Schaden, e o responsável por transformar a Comunicação em objeto de estudo da Antropologia, não encontrou facilidades no início da sua trajetória acadêmica. O fato de ter cursado o Normal, o que possibilitaria apenas o ingresso na faculdade de Pedagogia, fez com que o docente encontrasse alguns empecilhos para realizar o seu sonho de seguir carreira como sociólogo. Nessa fase, a persistência de Borges Pereira foi decisiva para que os objetivos anteriormente traçados, ainda em Santa Cruz do Rio Pardo, fossem alcançados:

Tinha uma preocupação grande pela Sociologia. Sempre quis estudar Ciências Sociais. Quando cheguei em São Paulo, não me deixaram prestar vestibular para Sociologia. Entrei na Pedagogia, mas não agüentei o curso. Fui para a minha terra, e logo depois, voltei para cá (São Paulo). Aí o Jorge Nagle, que era reitor da Unesp me ajudou, avisando-me a respeito de um novo vestibular na FFCL. Dessa vez, prestei o vestibular para Ciências Sociais, amparado por um mandado de segurança. Para se ter uma idéia, muitas coisas sobre a vida universitária aprendi na prática, lá dentro. Só fui saber que existia cursinho pré-vestibular quando entrei na universidade. Enquanto estudava, dava aulas para os cursos primários da periferia da capital. (Pereira, 2008)

Na graduação, Borges Pereira teve contato com professores renomados. O antropólogo assistiu às aulas de Egon Schaden, Gioconda Mussolini, Florestan

Fernandes e Lourival Gomes Machado. No segundo ano do curso de Ciências Sociais, Borges Pereira, em conjunto com seus colegas, funda o Celpe (Centro de Estudos e Pesquisas da Universidade de São Paulo).

É durante a graduação, que Borges Pereira afirma ter cometido duas traições em sua vida. “Eu sempre falo que tenho duas traições na minha vida: a primeira é que eu traí História pela Sociologia; e a segunda é que eu traí a Sociologia pela Antropologia”. (Pereira, 2008)

O docente concluiu a graduação em 1958, e em 1960, ingressou no mestrado em Ciências Sociais pela FFCL-USP, sob a orientação do Professor Oracy Nogueira. A dissertação intitulada “A Escola Secundária numa Sociedade em Mudança”, é defendida em 1964. Borges Pereira (2008) revela que a dissertação transformada em livro, pela Editora Pioneira, em 1976, lhe rendeu muitos frutos.

[...] Creio que ‘Escola Secundária’ é um dos trabalhos mais significativos que já produzi até hoje. Foi um trabalho que aborda a Sociologia da Comunicação, e na época, foi revolucionário. Foi adotado em diversos concursos públicos. Vendeu muito. Fiquei conhecido, proferi muitas palestras através do livro.

Dois anos depois, doutorou-se, com a orientação do Professor Dr. Egon

Schaden, em Antropologia. A tese chamada “Cor, Profissão e Mobilidade: o negro e o rádio de São Paulo”, tornou-se uma das principais obras de Borges Pereira, e um marco para a história da Antropologia da Comunicação no Brasil.

Ainda na década de 60, Borges Pereira defendeu a sua livre-docência na Universidade de Roma, Itália. Em 1967, por ter os requisitos necessários, assumiu o cargo, de professor titular de Antropologia da FFLCH-USP.

[...] Schaden se aposentou aos 50 e poucos anos da FFLCH, no auge da carreira. Ele tomou essa atitude, porque supostamente iria assumir uma cátedra na Universidade de Bonn, na Ale manha. No entanto, a Congregação exigiu ao Schaden que deixasse um livre-docente na cadeira. E a cadeira não tinha livre-docente. Só tinha doutores. Na época, os únicos doutores da cadeira eram a Eunice Durham e eu. A Ruth (Cardoso) ainda não era doutora, nem a Gioconda, nem a Yolanda (Lhullier dos Santos). Nesse momento, estava preparando a minha livre-docência, eu era professor-assistente do Schaden. Dessa forma, o Schaden pediu que eu preparasse o mais rápido a minha livre- docência, porque ele precisava de mim para ir à Alemanha. Eu preparei a pesquisa, eu marquei a data da defesa, defendi, e o Schaden se aposentou. Assumi a cadeira e, com isso, fui contratado por dois anos como catedrático. Depois, antes de abrir o concurso para a cátedra, transformaram em departamento, e eu fui chefe do Departamento de Antropologia. Quando assumi a cadeira de Antropologia era muito jovem, tinha 30 e poucos anos de idade. (Pereira, 2008)

Ademais da cadeira, Borges Pereira recebeu a incumbência de prosseguir com a “Revista de Antropologia”. Na entrevista que forneceu a Stélio Marras (2003, p. 327- 329), o antropólogo comenta o legado deixado por Schaden:

[...] Mas quando Schaden deixou a Faculdade e se aposentou, a “Revista” ficou um pouco à deriva, porque era dele. E no entanto ele não podia mais mantê-la porque, de uma forma ou de outra, havia um apoio institucional por trás. Foi aí que ele me pediu, quando eu havia assumido a cátedra e já estava contratado, que assumisse também a “Revista”, que eu chamo a herança do Professor Schaden. E o que constituía a herança de Egon Schaden? Manter o grupo bem unido, que éramos todos um grupo jovem. (...) Mas, como eu disse, a “Revista de Antropologia” era do Schaden, não do

Departamento. Quando ele saiu, resolveu doar a “Revista” para o Departamento, porque ela não era institucional, embora funcionasse como se fosse. Na verdade, tanto Schaden quanto os demais que o rodeavam falavam da “Revista” como “a revista do Schaden”. Então, com a saída dele, ela passou a ser formalmente da USP, num momento em que havia um universo de pouquíssimos periódicos e revistas. Quando ele me passou a direção do periódico, pediu para que eu não mudasse a linha editorial e a capa, que ele considerava dentro de um modelo clássico, inspirado em revistas alemãs.

Pai de duas filhas, Flávia (historiadora empresarial) e Valéria (advogada), e avô de seis netos: Marina, Helena, Ana Lídia, Raquel, João (nome recebido em homenagem ao avô) e Vítor, Borges Pereira confessa que nunca induziu membro algum de sua família a seguir os caminhos da Antropologia: “Nunca seduzi ninguém da minha família a seguir a carreira antropológica. Cada um seguiu o seu caminho, e fico muito satisfeito com isso”. (Pereira, 2008)

Além de lecionar na Universidade de São Paulo, João Baptista Borges Pereira iniciou a sua carreira, como professor universitário, na Universidade Estadual Paulista (UNESP), em 1961, na unidade de Presidente Prudente. “Trabalhei durante um ano e meio na UNESP, e o Schaden foi lá me buscar”. (Pereira, 2008)

Após a UNESP, Borges Pereira ministrou aulas na FSA (Fundação Santo André). Atualmente, já aposentado pela USP, onde orientou teses e dissertações até o ano de 2006, ainda se mantém na ativa como docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie, no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, nível de mestrado. No segundo semestre de 2008, o professor estava à frente da disciplina Estudos

Histórico-Sociais do Campo Religioso Brasileiro.

Na USP, Borges Pereira preside a Comissão Permanente de Políticas Públicas para a População Negra. A comissão tem como intuito promover a democratização do acesso à universidade. “Trata-se de um espaço aberto para a população negra. Queremos oferecer a oportunidade de acesso à universidade para todos. A nossa comissão recebe quem nos procura, informa e familiariza as pessoas com o ambiente universitário”. (Pereira, 2008)

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