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Estrutura e dinâmica do sistema agroalimentar : uma análise dos mercados de fruticultura dos polos irrigados de Açú-Mossoró e Petrolina-Juazeiro

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

THALES AUGUSTO MEDEIROS PENHA

ESTRUTURA E DINÂMICA DO SISTEMA

AGROALIMENTAR:

uma análise dos mercados de fruticultura dos pólos irrigados de

Açu-Mossoró e Petrolina-Juazeiro

CAMPINAS 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

THALES AUGUSTO MEDEIROS PENHA

ESTRUTURA E DINÂMICA DO SISTEMA

AGROALIMENTAR:

uma análise dos mercados de fruticultura dos pólos irrigados de

Açu-Mossoró e Petrolina-Juazeiro

Prof. Dr. Walter Belik – Orientador

Tese apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutor em Desenvolvimento Econômico, na área de Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO

THALES AUGUSTO MEDEIROS PENHA E

ORIENTADO PELO PROF. DR. WALTER BELIK.

CAMPINAS 2016

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TESE DE DOUTORADO

THALES AUGUSTO MEDEIROS PENHA

ESTRUTURA E DINÂMICA DO SISTEMA

AGROALIMENTAR:

uma análise dos mercados de fruticultura dos pólos irrigados de

Açu-Mossoró e Petrolina-Juazeiro

Defendida em 01/02/2016 COMISSÃO JULGADORA

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Aos meus pais Tércio e Maria José,

minha irmã Thazia e a minha amada

Daniele, por todo afeto e compreensão nesta

jornada.

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AGRADECIMENTOS

Em cada uma das páginas deste trabalho contém a profunda participação de diversas pessoas, sem as quais não teria sido possível realizá-lo.

Agradeço em especial aos meus maiores incentivadores nesta jornada, meus pais Tércio Luiz Bezerra Penha e Maria José Medeiros Penha, dos quais adquiri os maiores ensinamentos da vida. Minha irmã Thazia pelo apoio e torcida pelo meu sucesso. Em especial a minha amada Daniele, pela compreensão, afeto, força e confiança em mim depositada, mesmo nos momentos de dificuldades. Sou profundamente grato pela presença de vocês em cada dia, sobretudo nos momentos em que estivemos separados por quase 3 mil km em que vocês se fizeram ainda mais presentes.

Agradeço ao meu orientador Dr. Walter Belik pela honra e prazer de ter sido seu orientando. Obrigado por quatro anos de ensinamentos e insights brilhantes que me elevaram a um nível de conhecimento sobre as temáticas do meio rural que jamais conseguiria sem sua intensa e presente colaboração.

Agradeço também aos professores José Maria da Silveira pelas grandes discussões sobre economia, tanto na sala de aula quanto na base de pesquisa do NEA, e pela oportunidade de ter sido PED da disciplina de microeconomia na graduação. Ao professor Alexandre Gori pelas disciplinas de métodos quantitativos que expandiram novos horizontes de conhecimento. Enfim, agradeço a todos os demais professores do Núcleo de Economia Agrícola pelos importantes debates travados ao longo destes quatro anos.

Agradeço também aos professores Rodrigo Lanna e Ivette Lunna pelas pertinentes sugestões na banca de qualificação que me ajudaram a esclarecer pontos importantes e apontaram melhores caminhos para o desenvolvimento desta tese.

Aos colegas de aula e pesquisa do Instituto de Economia, Roney, Marcos Haddad, Bruno Miyamoto, Affonso, Jaim, Gabriela, Camila Sakamoto, Patrícia, Josilene, Elyson, Gisele, a todos vocês meu muitíssimo obrigado pelo acolhimento e companheirismo. Obrigado também ao amigo Marcelo Messias pela imensa ajuda com as burocracias e pelos momentos de risadas.

Tenho enorme gratidão ao professor João Matos Filho, meu primeiro orientador ainda na graduação da UFRN, o qual me incentivou e ajudou a trilhar os caminhos da academia.

(7)

Agradeço a toda ajuda que tive da Embrapa Petrolina nas pessoas do Pedro Gama, João Ricardo e dos bolsistas Josué e Alan, sem os quais não teria sido possível realizar a pesquisa de campo tão importante para atingir os objetivos desta tese.

Por fim, agradeço a todo o Instituto de Economia da Unicamp pela oportunidade de ter sido aluno de tal instituição, reconhecida pela sua excelência no ensino e pesquisa.

(8)

RESUMO

A tese discute as formas de coordenação adotadas pelos agentes do Polo Açú-Mossoró, no mercado do melão, e do Polo Petrolina-Juazeiro, nos mercados de uva e manga. Observam-se, nestes dois polos, novas formas de organização dos agentes em virtude de uma profunda reestruturação do Sistema Agroalimentar Mundial (SAM), que alterou o perfil de demanda, assim como reconfigurou a estrutura de oferta, saindo de processo de consumo em massa para um modelo flexível. Esta reconfiguração tem impactos consideráveis na configuração da produção global de alimentos, que permite a inserção de novos produtos e novas áreas, como também permite o surgimento de novos players com papel central na coordenação econômica, como as redes de supermercados e os grandes atacadistas. A partir deste pano de fundo traçado, esta tese valeu-se dos seguintes elementos para analisar os impactos deste novo SAM nas formas de coordenação dos mercados dos polos supracitados: Utilizou-se do arcabouço teórico da Nova Economia Institucional (NEI) e de todos os desdobramentos desta vertente para entender o processo de coordenação econômica dos agentes nos mercados; Na análise do novo desenho global dos mercados dos produtos transacionado dos polos, adotou-se a metodologia de redes sociais para examinar como se inseriram globalmente cada uma das regiões estudadas na tese, como também identificar alguns traços dos mercados e seus principais players; Por fim, para compreender as formas de coordenação dos agentes dos polos, analisaram-se dados retirados de uma pesquisa de campo aplicada nos dois polos, a partir de questionários estruturados, sobre uma amostra representativa em que se averiguaram os mecanismos de governança adotados com base nas formas contratuais adotadas pelos agentes para governarem suas transações.

PALAVRAS-CHAVE: Sistema Agroalimentar Mundial. Coordenação de mercados. Polos irrigados do Nordeste. Redes de comércio internacional.

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ABSTRACT

The thesis discusses the mechanism of coordination adopted by the agents of the Açú-Mossoró pole, in the market of melons, and Petrolina-Juazeiro pole, in grape and mango markets. Are observed in these two poles new forms of organization of the agents in due to a major restructuring of the Global Agrifood System (GAS), which changed the demand shape, as well reconfigured the supply structure, leaving mass consumption process for a flexible model. This reconfiguration has considerable impact on the setting of global food production, which allows the inclusion of new products and new areas, but also allows the emergence of new players with central role in economic coordination, like the supermarket chains and wholesalers. From this backdrop traced this thesis adopted the following elements to analyze the impacts of this new GAS in the forms of market coordination of the aforementioned poles. It is used the theoretical framework of the New Institutional Economics (NIE) and all the developments this part to understand the process of economic coordination of the agents in the markets. In the analysis of the new global market configuration of the products transacted for the poles implemented the methodology of social networks to examine how broadly inserted each of the regions studied in the thesis, as well as identify some traits of markets and their key players. Finally, to understand the ways of coordinating employed by the agents of the poles was analyzed a data collected from a field research applied at both poles from structured questionnaires on a representative sample on which it ascertained governance mechanisms adopted, based on forms contractual adopted by the agents to govern their transactions.

KEYWORDS: Agrifood World System. Market coordination. Brazilian Northeast Irrigated Areas. International Trade Network.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Polos de Irrigação Nordestinos administrados pelo DNOCS e Codevasf: 2013 ... 24

Figura 2 - Polos Irrigados do Nordeste ... 25

Figura 3 - Cadeia Produtiva da Fruticultura Irrigada dos Polos Irrigados do Nordeste ...29

Figura 4 – Aspectos que Influencia os agentes e suas estratégias ... 44

Figura 5 – Estrutura Conceitual da Teoria dos Custos de Transação de Williamson ... 49

(11)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Quantidade Exportada dos Produtos FLV entre 1986 e 2011 (em mil toneladas) ... 02

Gráfico 2 – Produção Mundial de FLV ... 10

Gráfico 3 – Exportadores de FLV ... 11

Gráfico 4 – Participação Relativa na Quantidade Comercializada dentro do Grupo FLV ... 12

Gráfico 5 – Série Histórica da Parcela de Mercado Brasileira no Comércio Mundial das Principais Frutas do Grupo FLV ... 13

Gráfico 6 – Toneladas Produzidas de Frutas por Regiões do Brasil (1990-2013) ... 14

Gráfico 7 – Quantidade de Toneladas Exportadas de Manga pelo Brasil e a Participação do Polo Petrolina-Juazeiro (1990-2011) ... 15

Gráfico 8 – Principais Países no Comércio Mundial de Manga (1990-2011) ... 16

Gráfico 9 – Quantidade Produzida de Uvas no Brasil e a Participação do Polo Petrolina-Juazeiro ... 17

Gráfico 10 – Exportadores de Uva (1990-2011) ... 18

Gráfico 11 – Participação do Polo Petrolina-Juazeiro na Quantidade de Uvas Exportadas ... 19

Gráfico 12 - Produção de Melão no Brasil e Participação do Polo Açú-Mossoró ... 20

Gráfico 13 – Exportações do Brasil e a Participação do Polo Açú-Mossoró ... 21

Gráfico 14 – Principais Exportadores de Melão ... 21

Gráfico 15 – Evolução da Densidade e Número de Países integrantes da Rede de Comercialização dos FLV (1986-2011) ... 72

Gráfico 16 – Média do Coeficiente de Cluster dos Países da Rede de Comercialização dos FLV (1986-2011) ... 73

Gráfico 17 – Box Plot do Degree (Número de Conexões dos Países) ... 75

Gráfico 18 – Box Plot do Market-Share dos Países na Rede FLV ... 77

Gráfico 19 – Dispersão Relacionando o Número de Conexões dos Nós versus Força dos Nós ... 79

Gráfico 20 – Betweenness Centrality da Rede FLV... 80

Gráfico 21 – Densidade e Número de Países da Rede de Comércio Internacional do Melão ... 82

Gráfico 22 – Média Coeficiente de Cluster da Rede de Comércio do Melão ... 82

Gráfico 23 – Número de Ligações do Polo Açú-Mossoró, Média e Desvio Padrão ... 84

Gráfico 24 – Box Plot Número de Ligações (degree) da Rede do Melão ... 84

Gráfico 25 – Market-Share do Polo Açú-Mossoró, Média e Desvio Padrão da Rede do Melão ... 86

Gráfico 26 – Box Plot Market-Share do Mercado do Melão ... 87

Gráfico 27 - Dispersão Relacionando o Share dos Países versus Número de Conexões ... 88

Gráfico 28 – Box Plot Betweenness Centrality da Rede de Melão ... 89

Gráfico 29 – Densidade da Rede de Comércio Internacional da Manga ... 90

Gráfico 30 – Coeficiente de Cluster da Rede de Manga ... 91

Gráfico 31 – Evolução do Número de Conexões de Exportações do Polo Petrolina-Juazeiro na Rede de Manga ... 92

Gráfico 32 – Box Plot da Quantidade de Conexão dos Exportadores de Manga ... 93

Gráfico 33 – Evolução do Market-Share da Rede de Manga ... 94

Gráfico 34 - Box Plot do market-share na rede da manga ... 95

Gráfico 35 - Dispersão Relacionando o Share dos Países versus Número de Conexões da Rede de Manga ... 96

Gráfico 36 – Box Plot Beteweenness Centrality na Rede de Manga ... 97

Gráfico 37 – Densidade da Rede de Comércio da Uva ... 98

Gráfico 38 – Coeficiente de Cluster da Rede de Uva ... 99

Gráfico 39 – Evolução do Número de Conexões de Exportações da Rede de Uva ... 100

Gráfico 40 – Box Plot do Número de Conexões (degree) da Rede de Uva ... 101

Gráfico 41 – Evolução do Market-Share na Rede de Uva ... 102

Gráfico 42 – Box Plot Market-Share da Rede de Uva ... 103

Gráfico 43 – Dispersão dos Países correlacionando Quantidade de Exportações e Market-Share na Rede de Uva ... 104

Gráfico 44 – Box Plot do Betweenness Centrality da Rede de Uva ... 105

(12)

Gráfico 46 – Características dos Produtos Exigidas pelos Mercados que Transacionam com os Polos

... 115

Gráfico 47 – Percentual da Produção de Uva Destinada pelos Produtores para Exportação e Mercado Interno ... 118

Gráfico 48 – Percentual da Produção de Manga Destinada pelos Produtores para Exportação e Mercado Interno ... 118

Gráfico 49 – Percentual da Produção de Melão Destinada pelos Produtores para Exportação e Mercado Interno ... 119

Gráfico 50 – Porcentagem de Utilização de Contratos Formais na Comercialização nos Polos ... 124

Gráfico 51 – Motivos de Não Utilização de Contratos Formais nos Polos ... 125

Gráfico 52 – Porcentagem dos Agentes dos Polos Vítimas de Oportunismo ... 126

Gráfico 53 – Histograma da Quantidade de Anos no Setor de Frutas dos Polos ... 126

Gráfico 54 – Tipos de agentes com os quais são acertados os contratos informais nos Polos ... 128

Gráfico 55 – Cláusulas Acertadas em Negociações Informais no Polo ... 129

Gráfico 56 – Motivos Alegados pelos Produtores dos Polos para Utilização de Contratos Formais .. 131

Gráfico 57 – Tipos de Agentes que os Produtores dos Polos Comercializam Através de Contratos Formais ... 132

Gráfico 58 – Cláusulas Acertadas nas Comercializações Formalizadas de Frutas dos Polos ... 133

Gráfico 59 – Tipos de Contratos Realizados pelo Polo em Comercializações no Mercado Interno ... 135

(13)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Descrição dos Polos Açú-Mossoró e Petrolina/Juazeiro ... 26 Quadro 2 – Tipos de Contratos ... 56

(14)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Produtos do Grupo FLV que apresentaram maiores taxas de expansão em termos globais 11 Tabela 2 - Perímetros Irrigados do Polo Petrolina-Juazeiro ... 25 Tabela 3 - Tamanho da Propriedade nos Polos Irrigados ... 110 Tabela 4 – Especificidades dos Produtos Transacionados pelos Agentes do Polo Petrolina-Juazeiro e Açú-Mossoró ... 114 Tabela 5 – Certificação versus Exportação ... 122

(15)

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ... 1 Apresentação do Problema ... 1 Justificativa ... 5 Objetivos ... 5 Objetivo Geral ... 5 Objetivos Específicos ... 5 Metodologia ... 6 Estrutura da Tese ... 6

CAPÍTULO 1 – OS POLOS DE PRODUÇÃO DE FRUTAS FRESCAS E O MERCADO GLOBAL DO FLV ... 9

1.1 Aspectos Gerais do Mercado dos FLV e a inserção do Brasil ... 9

1.2 A trajetória dos Polos de fruticultura irrigada do Nordeste ... 22

1.3 Considerações Finais do Capítulo ... 30

CAPÍTULO 2 – ASPECTOS TEÓRICOS DA REORGANIZAÇÃO DO SAM E AS NOVAS FORMAS DE COORDENAÇÃO DOS MERCADOS AGRÍCOLAS ... 31

2.1 As Transformações do Sistema Agroalimentar Mundial ... 31

2.2 Uma abordagem institucional dos mercados e os mecanismos de coordenação ... 41

2.3 A coordenação dos mercados no novo SAM: algumas considerações sobre o capítulo ... 55

CAPÍTULO 3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 59

3.1 Aspectos da Análise de redes ... 59

3.1.1 As redes de frutas ... 60

3.1.2 As métricas de redes utilizadas na análise ... 62

3.2 Pesquisa de campo ... 67

3.2.1 Pesquisa de campo no Polo Petrolina-Juazeiro ... 67

3.2.2 Pesquisa de campo no Polo Açú-Mossoró ... 68

CAPÍTULO 4 - A NOVA CONFIGURAÇÃO DO COMÉRCIO AGROALIMENTAR MUNDIAL A PARTIR DE UMA ANÁLISE DE REDES ... 71

4.1 Análise do Comportamento do FLV ... 71

4.2 A Rede de Comércio Internacional do Melão ... 81

4.3 A Rede de Comércio Internacional da Manga ... 90

4.4 A Rede de Uva ... 98

4.5 Conclusões ... 106

CAPÍTULO 5 - O PAPEL DOS CONTRATOS NOS MERCADOS DE FRUTICULTURA DO NORDESTE: UMA ANÁLISE DO MELÃO, NO POLO AÇÚ-MOSSORÓ, E DA UVA E MANGA NO POLO PETROLINA-JUAZEIRO. ... 109

5.1 Alguns aspectos gerais dos polos Petrolina-Juazeiro e Açú-Mossoró ... 109

5.2 Os mercados da ótica dos produtores do Polo Açú-Mossoró e Petrolina Juazeiro ... 117

5.3 Os contratos no comércio de frutas frescas dos Polos Açú-Mossoró e Petrolina-Juazeiro ... 123

CONSIDERAÇÃO FINAIS ... 141 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 147 APÊNDICE A APÊNDICE B APÊNDICE C APÊNDICE D APÊNDICE E APÊNDICE F

(16)

APÊNDICE G APÊNDICE H APÊNDICE I APÊNDICE J APÊNDICE K

(17)

INTRODUÇÃO

Apresentação do Problema

A produção e a comercialização de alimentos apresentam características particulares quanto a sua coordenação e organização, configurando o chamado Sistema Agroalimentar Mundial (doravante denominado SAM). Diversos autores, como aponta Bursch et al. (2005), afirmam que este sistema apresentou uma profunda transformação nas últimas décadas. Os autores demonstram que estas alterações se deram em duas frentes. A primeira se refere à mudança do perfil da demanda, na medida em que os consumidores passaram a dar mais importância a aspectos que vinculam os produtos a práticas sustentáveis, do ponto de vista ecológico e saudáveis, em relação a aspectos nutricionais. Esse elemento pode ser ilustrado pelo recente aumento da renda da população, que abriu espaço para expansão dos gastos familiares com produtos alimentares, em termos absolutos Funcke et al. (2009). A segunda frente se reflete em alterações nas características da oferta a partir do surgimento de novos agentes que atuam dentro da cadeia de valor e da massificação da comercialização de alguns produtos, que eram identificados antes como nichos de mercado, e com áreas geográficas de produção muito específicas e de pouco interesse para a indústria alimentar. Com relação a esse último processo, a sua origem está na ampliação do espaço de atuação das economias nacionais, bem como no avanço das tecnologias TIC’s1

de novas técnicas de pós-colheita, as quais possibilitaram o prolongamento da vida útil dos alimentos frescos (WILKINSON, 2008; SILVA, 2001; RAUPP, 2010; BELIK et al., 2007; FRIEDMANN, 1993; MARINOZZI, 2000).

A entrada de novas áreas produtoras no mercado internacional teve um impacto considerável no SAM a partir dos anos 1970. Os Newly Agricultural Countries (NAC’s) introduziram novos produtos, encabeçados pelas frutas, legumes e verduras (FLV) e estabeleceram uma ligação direta com os mercados consumidores que passaram a valorizar o acesso a alimentos frescos durante o ano todo (SILVA, 2001; GRAZIANO DA SILVA, 1998). As culturas de contra estação promoveram um enorme impacto no mercado doméstico dos países consumidores e o aumento da sua escala de comercialização incorporou novos consumidores, contribuindo para a mudança dos hábitos alimentares nos países desenvolvidos (SILVA, 2001).

1 TIC’s se refere à sigla de Tecnologias de Informação e Comunicação. Tais tecnologias tiveram avanços

expressivos nas últimas décadas do século XX e no início do século XXI. Suas consequências para o SAM serão abordadas em um capítulo posterior desta tese.

(18)

O consumo mundial de frutas frescas apresentou um enorme crescimento a partir dos anos 80, ganhando ainda mais força nos anos 90. Entre 1995 e 2003 o consumo mundial

per capita aumentou 13%, respondendo a essa pressão da demanda (FUNCKE et al., 2009). O

mercado global cresceu 53%, entre os anos de 2002 e 2005 (FUNCKE et al., 2009). Este crescimento se deu principalmente em produtos advindos de regiões de clima tropical, com destaque para a América Latina e o Caribe como players no Sistema Agroalimentar mundial, com produtos outrora considerados exóticos (FUNCKE et al., 2009).

O gráfico a seguir, preparado a partir da base de dados do FAOSTAT, ilustra este crescimento do setor de FLV no comércio mundial, o qual apresentou uma taxa de crescimento de mais de 180% na quantidade exportada, no período analisado.

Gráfico 1 – Quantidade Exportada dos Produtos FLV entre 1986 e 2011 (em mil toneladas)

Fonte: Faostat (2015).

Observa-se também, nos dados dispostos no gráfico, que a participação do Brasil ainda é tímida em termos de volume global. Contudo, vale destacar que entre 1986 e 2011 as exportações brasileiras de produtos FLV cresceram quase 220%, apresentando, assim, uma contribuição significativa para a expansão do setor.

Tal cenário externo permitiu ao Brasil fortalecer a sua inserção comercial no SAM, como aponta o gráfico acima. Além do mais, do ponto de vista da conjuntura interna brasileira, a crise da dívida externa dos anos 80 gerou uma pressão para o desenvolvimento de setores exportadores com o intuito de equilibrar o balanço de pagamentos via saldo de transações correntes. Este aspecto impulsionou o setor primário exportador. Os produtos de

142 85 93 291 540 453 28,660 33,494 43,483 50,091 63,360 81,853 0 10,000 20,000 30,000 40,000 50,000 60,000 70,000 80,000 90,000 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 T onel adas E x port adas ( em 1000) Anos Brasil Mundial

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maior destaque produzidos pelo Brasil, tanto na produção como na comercialização, foram, principalmente, as frutas frescas, as quais são destinadas ao consumo in natura, destacando-se: banana, abacaxi, manga, uva, melão, mamão e maçã (FUNCKE et al., 2009). Esses produtos se concentraram em algumas áreas específicas do Brasil e, entre elas, destacam-se os polos produtores de frutas frescas para a exportação do Nordeste, especificamente, o Polo Petrolina-Juazeiro, localizado na região do submédio Rio São Francisco, como também o Polo Açú-Mossoró, o qual encontra-se situado na região oeste do estado do Rio Grande do Norte. No Polo Petrolina-Juazeiro, destaca-se a produção de Manga e Uva; no Polo Açú-Mossoró, a principal cultura é a do melão.

O Polo Petrolina-Juazeiro especializou-se na produção de frutas a partir da infraestrutura propiciada pelas obras hídricas que, por sua vez, possibilitaram a irrigação de cerca de 100 mil hectares naquela região (SILVA, 2001). Destacam-se, na região, as culturas de uva de mesa e da manga, das quais a região é responsável por 99% e 90% da exportação nacional desses produtos, respectivamente. O polo apresenta uma estrutura de comercialização diversificada dirigida tanto para o mercado internacional quanto para o mercado interno (SOBEL, 2011; CAVALCANTI, 1999). Os grandes produtores concentram suas produções no cultivo de mangas e uvas – esta, especialmente na variedade sem semente – e destinam-nas ao mercado externo. Por sua vez, os pequenos produtores geralmente se limitam aos mercados locais, e possuem uma produção mais diversificada, que engloba, além da uva e da manga, acerola, banana, goiaba e coco (CASTRO, 2013).

O Polo Açú-Mossoró se caracteriza, principalmente, pela forte especialização na produção de melão, tendo cerca de 12 mil hectares desta cultura sendo cultivados, o que representa aproximadamente 15% da sua área. Em relação à sua comercialização, observa-se que pequenos produtores escoam sua produção para as centrais de abastecimento (CEASAS) e mercados locais, enquanto os grandes produtores exportam cerca de 80% de sua produção (OLIVEIRA, 2011).

As mudanças do SAM provocaram novas formas de organização dos agentes a partir da entrada de novos players na cadeia de produção, tais como as grandes redes varejistas e atacadistas que se constituíram em verdadeiros oligopsônios, como destaca Sexton e Lavoie (2001). Diante disto, esses polos têm buscado mecanismos de governança que otimizem suas transações. Nos anos recentes, tem se destacado a utilização de formas contratuais entre produtores e empresas varejistas e, também, as tradicionais tradings

companies, configurando-se uma nova forma de governança em relação à integração praticada

(20)

mercado “spot” de outros produtos tropicais, como o café, cacau, açúcar etc. Este movimento de adoção de contratos na produção de frutas nos polos irrigados no Nordeste é explicitado por Wilkinson (2008) e pelo estudo de Mori et al. (2005).

Portanto, resume-se que o novo SAM se reconfigurou com o ingresso de novos países, novos produtos, novos agentes que passaram a intermediar as transações, que dada alterações nos aspectos na demanda e da oferta estabeleceu-se um modelo flexível de coordenação nestes mercados. Nesta conjuntura as áreas irrigadas do nordeste conseguem inserir sues produtos na cena do comércio internacional. Sabendo-se disso duas perguntas centrais guiaram esta tese, a primeira remete-se a de que maneira esta configurada a rede de comércio internacional deste novo SAM, mais especificamente o setor de FLV’s e dos produtos transacionados pelos polos de fruticultura do nordeste alvo deste estudo? A segunda esta relacionada de como os agentes coordenam suas transações neste novo mercado com aspectos flexíveis e com a presença de novos players importantes, como grandes redes de atacadistas e redes de supermercados?

Assim, esta tese se debruçará sobre dois pontos chave para compreender a trajetória dos Polos irrigados do Nordeste. O primeiro ponto está relacionado ao aspecto macroeconômico, através do qual será analisada a inserção dos polos nos mercados globais ao longo das últimas décadas. Para abordar este aspecto e responder a primeira questão de pesquisa levantada, esta tese utilizará a metodologia de redes socioeconômicas, que tem como objetivo averiguar os aspectos globais dos mercados das frutas produzidas pelos polos e sobre como se deu a inserção de cada um deles nos respectivos mercados. O segundo aspecto a ser averiguado neste trabalho é em relação às formas de governança adotadas pelos agentes dos polos estudados na transação dos produtos comercializados nos mercados em que estão inseridos. Para analisar este aspecto do trabalho de investigação, optou-se por uma pesquisa de campo a partir de uma amostra representativa dos produtores dos dois polos analisados. Os resultados desse levantamento serão analisados sob as lentes teóricas da Nova Economia Institucional.

Deste modo, este trabalho parte da hipótese de que os contratos têm um importante papel na coordenação das redes de produção de frutas in natura nos polos irrigados de Açú-Mossoró e Petrolina/Juazeiro.

(21)

Justificativa

A pesquisa pretende aprofundar o estudo sobre os polos irrigados do Nordeste, mais especificamente os do Açú-Mossoró, no Rio Grande do Norte, e o Petrolina/Juazeiro, localizado nos estados de Pernambuco e Bahia. Estes polos já foram alvo de outros estudos no Instituto de Economia da Unicamp, ressaltando-se o trabalho de SILVA (2001), GRAZIANO DA SILVA et al.(1998) e Cruz (2014). Enquanto o primeiro autor trata do processo de organizações dos interesses públicos e privados na formatação e consolidação do polo Petrolina-Juazeiro, analisando a força das instituições no processo de desenvolvimento da região; Graziano da silva et al. (1988), por sua vez, analisaram a implementação do Projeto de Irrigação do Nordeste (PROINE), tendo como foco as relações de produção nos polos irrigados; e, por fim, Cruz (2014) trata do impacto da implantação dos polos irrigados de Açú-Mossoró no mercado de terras e na ocupação territorial do espaço pelos lotes de irrigação.

No entanto, esta tese terá o intuito de preencher uma lacuna ainda não abordada a respeito dos polos citados, a qual elucida a análise das redes de produção de frutas in natura sob o ponto de vista da inserção no novo Sistema Agroalimentar Mundial e, principalmente, sobre como se configurou os mecanismos de governança e os contratos que envolvem os agentes que se relacionam nestas redes – sendo que esta forma de coordenação de mercados via contratos tem se tornado mais evidentes nos polos produtores de frutas do nordeste.

Objetivos Objetivo Geral

Analisar a estrutura e dinâmica dos mercados de frutas nos quais os polos irrigados de Petrolina-Juazeiro e Açú-Mossoró se inseriram nas últimas décadas

Objetivos Específicos

 Analisar a trajetória dos polos irrigados do Açú-Mossoró e Petrolina-Juazeiro diante dos novos paradigmas do Sistema Agroalimentar Mundial;

 Analisar os aspectos das transações mais preponderantes nesses polos;

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 Analisar quais as formas contratuais mais utilizadas, assim como, que papel estes contratos estão desempenhando dentro dos mercados em que estão inseridos os agentes.

Metodologia

Os procedimentos metodológicos adotados nesta tese estão divididos em três etapas. Primeiro foi a realização de uma pesquisa bibliográfica e documental para entender alguns fenômenos teóricos sobre mercados e seus mecanismos de coordenação. Além disso, essas fontes de pesquisa também foram utilizadas para coletar informações a respeito das transformações do SAM, o qual é o pano de fundo de desenvolvimento deste trabalho.

O segundo procedimento de análise adotado foi a metodologia de redes sociais, a qual analisa as relações entre os agentes a partir das conexões que estabelecem, ou não, entre si. Alguns autores, como Garlaschelli e Loffredo (2004), Fagiolo et. al. (2010), têm abordado as relações comerciais de bens e serviços por esta metodologia, a qual permite inferir sobre as configurações do comércio internacional de maneira ampla. Deste modo, de acordo com Jackson (2008), é uma metodologia crucial para a análise de relações comerciais entre países. Essa metodologia e sua aplicação na tese serão abordadas detalhadamente na seção a seguir.

Por fim, no terceiro passo da tese, analisou-se as formas de coordenação adotadas pelos agentes do Polo Petrolina-Juazeiro e Açú-Mossoró, mais especificamente sobre como se dá a relação contratual estabelecida nos mercados com os quais os agentes destes Polos transacionam. Para isto, foi feita uma pesquisa de campo com a aplicação de questionário estruturado a partir de uma amostra retirada da população dos dois Polos. A partir da amostra, foi feita análise a partir de estatísticas descritivas simples para se obter um panorama de qual tem sido o papel dos contratos em cada um dos Polos.

Estrutura da Tese

Para atingir os objetivos levantados e responder as questões de pesquisa, esta tese está estruturada da seguinte maneira: o primeiro capítulo tem o objetivo de apresentar ao leitor um panorama geral sobre a consolidação dos Polos de fruticultura irrigada alvo desta tese, bem como, dos mercados nos quais estes estão inseridos. Sendo assim, serão descritos de maneira geral os mercados globais do melão e a participação do Polo Açú-Mossoró, assim como, os mercados de uva e de manga e a participação do Polo Petrolina-Juazeiro em tal

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cenário; no segundo capítulo, é realizada uma análise da trajetória da reestruturação do SAM, baseada em uma revisão bibliográfica que abordará os principais aspectos deste processo. Além disso, é apresentada uma revisão da literatura sobre os aspectos teóricos da Nova Economia Institucional (NEI); no terceiro capítulo, serão apresentados os procedimentos metodológicos utilizados nesta tese para atingir os objetivos explicitados acima. Para a análise macro, é apresentada a metodologia de redes sociais, assim como, os indicadores utilizados para esta análise. Ainda nesse capítulo, também é apresentado o modo como foi estruturada e aplicada a pesquisa de campo e a coleta de dados dos produtores dos polos analisados; nos quarto e quinto capítulos serão apresentados os resultados analíticos desta tese. Sendo assim, no capítulo quatro constam os resultados da análise de redes, no qual evidencia-se a inserção dos polos nos mercados internacionais, bem como, o modo que a reestruturação do SAM afetou estes mercados. No capítulo cinco, são apresentados os resultados dos questionários aplicados com os produtores dos polos irrigados a fim de averiguar as formas de coordenação utilizadas nos mercados; e, por fim, constam as considerações finais da tese e propostas para futuras pesquisas, como também, as referências bibliográficas utilizadas na elaboração deste trabalho.

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Capítulo 1 – Os Polos de Produção de Frutas Frescas e o Mercado Global do FLV

Este capítulo explora, de maneira geral, o objeto de pesquisa desta tese, abordando as características gerais dos Polos Petrolina-Juazeiro e Açú-Mossoró, bem como o modo que eles se consolidaram como importantes áreas de produção e comercialização de frutas frescas. Portanto, será destacada a importância de cada região dentro dos mercados específicos. Desse modo, a primeira seção deste capítulo traça a evolução do mercado de Frutas, Legumes e Verduras FLV, para que se observe o comportamento geral deste setor do (SAM) e, assim, que se faça uma comparação com os comportamentos individuais dos mercados particularmente abarcados pelos polos Petrolina-Juazeiro e Açú-Mossoró.

1.1 Aspectos Gerais do Mercado dos FLV e a inserção do Brasil

Com já mencionado, alguns estudos têm apontado para uma reestruturação das bases do SAM de maneira global, este processo será alvo de um capítulo específico mais adiante, no entanto, um dos pontos importantes que os autores têm apontado diz respeito ao fato de que neste processo de transformação do SAM o setor de Frutas, Legumes e Verduras (doravante FLV) ganhou um importante destaque no comércio mundial.

O crescimento deste setor de FLV, dentro do cenário mundial, se deu, em grande parte, pela nova postura do consumidor, que, com uma maior renda e acesso à informação divulgada por alguns órgãos2, passou a ser influenciado para consumir produtos que remetessem a uma melhor qualidade de vida e maior responsabilidade ecológica e social. Dentro desse cenário, os produtos frescos são facilmente vinculados a estas características e passaram a ganhar parcelas importantes dos mercados (WILKINSON, 2008; FUNCKE et al., 2009).

Ao longo das últimas décadas, o mercado FLV apresentou uma forte ascensão no mercado mundial, como já demonstrado no gráfico de oferta desses produtos, apresentado na introdução (Gráfico 1). Essa expansão do comércio foi possível devido a um forte crescimento da oferta e a partir da ampliação da produção, que teve como base o desenvolvimento de tecnologias de colheita e pós-colheita e, pelo lado da demanda, uma maior integração dos mercados mundiais. Foram esses fatores que permitiram ampliar o

2A mudança do perfil de consumo alimentar dos consumidores foi influencia de órgãos governamentais,

preocupado com aspectos de saúde da população, órgãos não-governamentais que buscava alertar para o consumo de produtos ecologicamente sustentáveis e justos, tais como Greenpeace e etc. além disso houve uma forte ação de entidades supranacionais como a Food and Agriculture Organization (FAO) e Organização Mundial da Saúde que passaram a fazer estudos sobre a segurança alimentar da população mundial.

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consumo destes produtos, produzindo e abastecendo os mercados, mesmo fora de estação (WILKINSON, 2008).

O gráfico 2, disposto a seguir, ilustra quais foram os principais países responsáveis pelo crescimento da produção mundial do setor de FLV. Observa-se que o Brasil está entre os cinco maiores produtores – atrás de China, Índia, Nigéria e EUA. Percebe-se, ainda, que estes países, ao longo das últimas décadas, cresceram a sua participação na oferta, saindo de uma fatia de 37%, no início do período analisado para, em 1998, representar metade da produção global. Este forte crescimento se deu, em grande parte, devido à maior inserção de China e Índia neste setor.

Gráfico 2 – Produção Mundial de FLV

Fonte: Faostat (2015).

É interessante notar que, no cenário do comércio mundial, os grandes países produtores não aparecem entre os cinco maiores exportadores, com exceção dos EUA, como fica evidenciado no gráfico 3. Portanto, isto indica que a produção de FLV nos maiores produtores (China, Índia, Nigéria e Brasil) está voltada para o atendimento da demanda doméstica. Essa particularidade faz com que o ranking dos exportadores tenha uma configuração distinta do anterior, como demonstra o Gráfico 3. Esse é o caso do Equador, país em que mais de 30% de toda sua produção do ramo de FLV é direcionado para o mercado internacional. Uma hipótese para isso é a de que esses países possuem uma demanda

0 500 1,000 1,500 2,000 2,500 3,000 1 9 8 6 1 9 8 7 1 9 8 8 1 9 8 9 1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 M ilh õ es de T o nela da s Anos

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doméstica muito pequena e, portanto são grandes exportadores como, por exemplo, o Chile e Israel.

Gráfico 3 – Exportadores de FLV

Fonte: Faostat (2015).

A expansão do comércio, nas últimas décadas, dos FLV se deu praticamente em todos os produtos que compõem esse grupo. Alguns produtos apresentaram, no entanto, taxas de expansão muito superiores aos demais. A tabela 1, a seguir, ilustra os produtos que apresentaram as maiores taxas de crescimento, comparando o volume exportado de 2011 em relação ao volume comercializado em 1986. Destaca-se, na tabela, uma quantidade representativa de frutas tropicais (mamão, melão, manga, abacaxi). Como já destacado por alguns autores (FUNCKE, 2009; WILKINSON, 2011), este ramo das frutas tropicais foi um dos maiores responsáveis por esta dinâmica virtuosa desse setor do SAM.

Tabela 1 – Produtos do Grupo FLV que apresentaram maiores taxas de expansão em termos globais

Produto 1986 (toneladas) 2011 (toneladas) Taxa de Crescimento

Alho 268.812 3.644.636 1256% Manga 120.972 1.445.196 1095% Kiwi 114.970 1.335.159 1061% Mamão 23.471 270.532 1053% Abacates 128.329 851.891 564% Abacaxi 535.620 3.160.147 490% 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1 9 8 6 1 9 8 7 1 9 8 8 1 9 8 9 1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 M ilh õ es de to nela da s Anos

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Cenoura 503.380 2.890.389 474% Coco 116.854 669.989 473% Cerejas 69.005 391.270 467% Repolhos 457.594 2.483.216 443% Berinjelas 99.549 460.542 363% Pera 723.924 3.267.040 352% Lentilha 455.803 1.982.373 335% Melão 529.139 2.125.067 302% Melancia 702.334 2.790.042 297% Fonte: Faostat (2015).

Como já mencionado, certos produtos tropicais, para serem consumidos frescos, passaram a ser comercializados numa escala mais ampliada devido a inovações tecnológicas. Esse fato representa um impacto na recomposição da estrutura de comercialização do grupo FLV. Sendo assim, produtos “novos”, antes tidos como exóticos (como o melão, abacaxi, kiwi) passaram a ter uma maior participação no volume comercializado do FLV em detrimento de produtos mais tradicionais – como a maçã, a uva e, até mesmo, a banana, produto tropical mais comercializado historicamente. Esses últimos produtos perderam peso na participação na quantidade total exportada, como ilustra o gráfico 4, a seguir.

Gráfico 4 – Participação Relativa na Quantidade Comercializada dentro do Grupo FLV

Fonte: Faostat (2015). 0.00% 5.00% 10.00% 15.00% 20.00% 25.00% 30.00% 1 9 8 6 1 9 8 7 1 9 8 8 1 9 8 9 1 9 9 0 1 9 9 1 1 9 9 2 1 9 9 3 1 9 9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 P o rc ent a g em Anos

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Apesar de uma queda expressiva dos produtos, apresentado no gráfico 4, percebe-se que tanto a banana, a batata e a maçã ainda têm pesos expressivos dentro do comércio mundial. No entanto, pode-se perceber que a evolução deste grupo se deu de maneira assimétrica, ou seja, alguns produtos conseguiram se inserir no mercado de forma mais virtuosa do que outros nas últimas décadas, entre eles se destacam o grupo de frutas tropicais. Sendo assim, a posição brasileira ganha contornos diferente, pois, como já visto, apesar de ser um importante produtor, o Brasil não tem uma posição de destaque na comercialização internacional. Porém, quando são abordados produtos específicos, esse perfil deixa de ser verídico. Como se pode observar no gráfico 5, a seguir, o Brasil aumentou consideravelmente a participação em alguns mercados, destacando-se na produção e comercialização de melão, manga e mamão.

Gráfico 5 – Série Histórica da Parcela de Mercado Brasileira no Comércio Mundial das Principais Frutas do Grupo FLV

Fonte: Faostat (2015).

Esses produtos, por sua vez, como visto na tabela 1, foram os que mais apresentaram expansão nas quantidades comercializadas nas últimas décadas – a manga, por exemplo, evoluiu de 120 mil toneladas para quase 1,5 milhão de toneladas, já o melão aumentou sua quantidade exportada em mais de 300%, saindo de um pouco mais de 500.000, mais de 2,5 milhões de toneladas. Por outro lado, com relação a alguns produtos como a uva, a qual não apresentou uma grande expansão de mercado, em comparação com outras frutas, o Brasil teve um crescimento positivo em sua participação, saindo de quase nenhuma

0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10% 11% 12% 13% 14% 15% 16% P o rc ent a g em de P a rc ela de M er ca do Anos

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participação para algo em torno de 2% nos mercados em 20 anos. Em 2011, o mercado de uva representou mais de 4 milhões de toneladas exportadas, segundo dados do Faostat (2015).

Nestes mercados específicos do grupo FLV, no qual o Brasil ganhou destaque nas últimas décadas, este processo esteve intimamente ligado ao surgimento de algumas áreas de produção, destacando-se a criação dos Polos de fruticultura irrigada do Nordeste. Como se pode observa no gráfico 6, o Nordeste, desde a década de 1990, já aparece como uma principal área produtora de frutas do Brasil, sendo que, nos anos 2000, houve uma expansão ainda mais forte da produção de frutas no Brasil, em grande parte puxada pela dinâmica do nordeste.

Gráfico 6 – Toneladas Produzidas de Frutas por Regiões do Brasil (1990-2013)*

*As frutas agrupadas neste gráfico são: banana, melão, mamão, manga, melancia e uva. Fonte: PAM/IBGE (2015).

Essa expansão da produção de frutas, no Nordeste, se deu devido à constituição de alguns perímetros irrigados. Esses foram constituídos através da organização e parceria entre organizações privadas e ações públicas. Essa trajetória será descrita mais detalhadamente na seção seguinte. Entre as áreas de produção de frutas destaca-se o perímetro irrigado de Petrolina-Juazeiro, localizado na região do submédio São Francisco que abarca as cidades dos estados da Bahia e de Pernambuco. Esse perímetro se destacou na produção e exportação de manga e uva de mesa ao longo das últimas décadas.

Pode-se perceber, no gráfico 7, a seguir, a importância do Polo Petrolina-Juazeiro na dinâmica do mercado de exportações do Brasil. Sendo assim, a região Petrolina-Juazeiro foi a principal responsável por esta posição. Observa-se que, em alguns anos da série, o Polo

2 4 6 8 10 12 14 16 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 M ilh õ e s d e To n e lad ad as Anos

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foi responsável por cerca de 90% das exportações (1993-1996), todavia, na última década, tem apresentado uma média de cerca de 60% da quantidade exportada brasileira, o que representa uma quantia considerável para apenas uma região.

Gráfico 7 – Quantidade de Toneladas Exportadas de Manga pelo Brasil e a Participação do Polo Petrolina-Juazeiro (1990-2011)

Fonte: AliceWeb (2015).

O impulso nas exportações de manga brasileira, através da atividade na região do Polo Petrolina-Juazeiro, reflete-se na posição ocupada pelo Brasil no comércio internacional. Como apresentado no gráfico 8, abaixo, o Brasil, no ano de 2011, se colocou como quarto maior exportador em termos de quantidades transacionadas, atrás apenas do México, Índia e Tailândia. Como já abordado anteriormente, o mercado internacional de manga apresentou uma forte expansão nas últimas décadas, muito em decorrência da inserção brasileira neste mercado. Sendo assim, fica evidente a contribuição do Polo Petrolina-Juazeiro para tal dinâmica.

Outro ponto importante a ser destacado no gráfico 8 é a posição da Holanda, país que não apresentou produção para o período. Este fato caracteriza um fenômeno importante de reexportação feito por este país, o que já é característico da Holanda, devido a sua força comercial dentro do continente europeu. Esta posição, é em grande parte, impulsionada pelo porto de Roterdã, um dos maiores do mundo, o que permite que diversas cargas vindas do mundo inteiro entrem na Europa via Holanda. Este processo facilitou a aglomeração de negociadores “traders”, que passam a captar cargas de outros continentes para inserirem

20 40 60 80 100 120 140 160 180 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Mi lhares de T onel adas E x port adas Anos

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dentro das cadeias de suprimentos europeias. Este processo também é evidente em outros produtos, como será observado adiante.

Gráfico 8 – Principais Países no Comércio Mundial de Manga (1990-2011)

Fonte: Faostat (2015).

O Polo Petrolina-Juazeiro, como já mencionado, também tem uma produção importante de uva. Embora, como aponta o gráfico 9, a seguir, esta tenha participação relativamente pequena em comparação com toda a produção brasileira, percebe-se um crescimento considerável nas últimas duas décadas, na qual a participação do polo na oferta nacional passou de cerca de 3% (em 1990) para mais de 15%, no ano de 2011.

0 200 400 600 800 1,000 1,200 1,400 1,600 199 0 199 1 199 2 199 3 199 4 199 5 199 6 199 7 199 8 199 9 200 0 200 1 200 2 200 3 200 4 200 5 200 6 200 7 200 8 200 9 201 0 201 1 Mi lhares de T onel adas Anos

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Gráfico 9 – Quantidade Produzida de Uvas no Brasil e a Participação do Polo Petrolina-Juazeiro

Fonte: PAM/IBGE (2015).

Observando a inserção dos países no comércio internacional de uva, percebe-se que o Brasil não está entre os 10 maiores exportadores dessa fruta, como aponta o gráfico 10, abaixo. No mercado internacional de uvas frescas, destacam-se como principais players o Chile, sendo seguindo por Itália, EUA, Holanda e África do Sul. Cabe ressaltar que a produção holandesa representou no período analisado cerca de 1% da quantidade exportada pelo país. Esse fato, mais uma vez, demonstra o potencial de plataforma de reexportação para as cadeias europeias, tal qual na da manga.

Em termos da inserção brasileira, apesar de não se ter uma representatividade muito forte no comércio, a produção nacional apresentou uma taxa de crescimento importante. Em termos de quantidade, o volume transacionado pelo Brasil em 2011 foi mais de 3000% maior em comparação com ano de 1990. Esse processo também representou ganho de market-share, pois em 1990 o Brasil tinha 0,11% de parcela de mercado, já em 2011 esta parcela foi de 1,5%. 200 400 600 800 1,000 1,200 1,400 1,600 1,800 2,000 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 M ilh ar e s d e To n e lad as Pr o d u zi d as Anos

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Gráfico 10 – Exportadores de Uva (1990-2011)

Fonte: Faostat (2015).

Este incremento da participação brasileira no mercado internacional de uvas se deu basicamente com a consolidação da produção no Polo Petrolina-Juazeiro, que, a partir dos anos 1990, teve uma boa inserção no mercado internacional, como aponta o gráfico 11, a seguir. Observa-se que a inserção brasileira se deu mais fortemente a partir dos primeiros anos da década de 2000, e é justamente neste período que cresceu fortemente o desempenho exportador do polo, chegando a significar 99% de toda exportação de uvas brasileiras. Um fator competitivo importante para o Polo Petrolina-Juazeiro no mercado mundial de uva foi o desenvolvimento de variedades destinadas ao consumo in natura, do tipo uva de mesa.

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 199 0 199 1 199 2 199 3 199 4 199 5 199 6 199 7 199 8 199 9 200 0 200 1 200 2 200 3 200 4 200 5 200 6 200 7 200 8 200 9 201 0 201 1 M ilh õ e s d e To n e lad as E xp o rtad as Anos

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Gráfico 11 – Participação do Polo Petrolina-Juazeiro na Quantidade de Uvas Exportadas

Fonte: AliceWeb (2015).

Além do Polo Petrolina-Juazeiro, outra área de produção de fruticultura irrigada de destaque no Nordeste é o Polo Açú-Mossoró. Esta região fica localizada na região oeste do estado do Rio Grande do Norte e, a partir dos anos 1990, ganhou enorme destaque na produção de melões, com uma dinâmica voltada para exportação, assim como o Polo Petrolina-Juazeiro.

Como demonstra o gráfico 12, o Polo Açú-Mossoró, desde os anos 1990, apresenta uma forte produção de melão, principalmente a partir da segunda metade da década de 1990, em que passa a ser responsável por cerca da metade da produção brasileira. Observa-se também que houve uma expansão aguda entre 1990 e 2011, período em que Observa-se saiu de cerca de 50 mil toneladas produzidas para quase 500 mil.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 M ilh ar e s d e To n e lad as E xp o rtad as Anos

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Gráfico 12 - Produção de Melão no Brasil e Participação do Polo Açú-Mossoró

Fonte: PAM/IBGE (2015).

Assim como o Polo Petrolina-Juazeiro, a principal destinação dos produtos do Polo Açú-Mossoró tem sido o mercado internacional. Tal fato pode ser observado no gráfico 13, abaixo, no qual fica claro um impulso positivo na inserção internacional do melão no mercado internacional, saindo de 25 mil toneladas exportadas, em 1990, para um pico de mais de 200 mil toneladas em 2008. No entanto, a crise internacional afetou a dinâmica do mercado e fez com que houvesse um recuo nos últimos anos da série, como ilustra o gráfico seguinte.

O forte crescimento das exportações brasileiras, como demonstra o gráfico 13, desde sempre teve o Polo Açú-Mossoró como fonte propulsora, chegando, em alguns períodos, a significar 90% das exportações de melão do Brasil. Porém, no último triênio da série, a participação do Polo no volume exportado brasileiro apresentou uma queda, principalmente devido à inserção da produção do Ceará. Esta ascensão do estado do Ceará tem a peculiaridade de ser uma mesma empresa que controla produções no Rio Grande do Norte e Ceará, tal aspecto será mais bem explorado em capítulos seguintes desta tese.

50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Mi lhares de T onel adas Anos

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Gráfico 13 – Exportações do Brasil e a Participação do Polo Açú-Mossoró

Fonte: AliceWeb (2015).

O gráfico 14, a seguir, apresenta o destaque do melão brasileiro e, consequentemente, do Polo Açú-Mossoró no cenário internacional. Percebe-se um crescimento, nas últimas duas décadas, de quase 3 vezes na quantidade de melões transacionados. Intimamente relacionado com este crescimento está a inserção do Polo Açú-Mossoró, que se afirma como principal região exportadora do Brasil e coloca, com isso, o Brasil entre os cinco mais importantes players no mercado internacional. Dentre os cinco principais exportadores encontram-se Espanha, Guatemala, Honduras, EUA e Brasil.

Gráfico 14 – Principais Exportadores de Melão

Fonte: Faostat (2015). 25 50 75 100 125 150 175 200 225 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 M ilh ar e s d e To n e lad as E xp o rtad as Anos

Pólo Açú-Mossoró Brasil

0 250 500 750 1,000 1,250 1,500 1,750 2,000 2,250 2,500 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 M ilh ar e s d e To n e lad as E xp o rtad as Anos

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Mediante o conteúdo exposto até aqui, pode-se afirmar que o setor de FLV apresentou uma forte ascensão nas últimas décadas, principalmente no segmento de frutas frescas. E é neste mercado que o Brasil passou a ter uma presença significativa, especialmente em algumas frutas específicas como o melão, manga, mamão e uva. Essa inserção brasileira se deu principalmente devido ao desenvolvimento de importantes áreas produtoras com uma dinâmica voltada para o abastecimento do mercado externo, grande parte destas áreas concentram-se no nordeste, destacando-se os Polos de fruticultura irrigada de Petrolina-Juazeiro e Açú-Mossoró.

Diante disso, na próxima seção deste capítulo será mais detalhado como se constituiu estes polos irrigados, bem como, serão especificadas algumas das características de cada uma destas regiões foco de análise desta tese.

1.2 A trajetória dos Polos de fruticultura irrigada do Nordeste

Como já abordado preliminarmente nesta tese, os Polos Petrolina-Juazeiro e Açú-Mossoró têm uma importância considerável na produção de frutas tropicais, o que levou o Brasil a se inserir de maneira sólida no mercado de algumas frutas, como o melão e manga, itens produzidos nestas duas áreas. A inserção brasileira no mercado internacional de frutas frescas tropicais tem como grande locomotiva a expansão destes polos. Deste modo, nesta seção serão destacados como se constituíram tais polos e quais as suas principais características.

Os polos de fruticultura irrigada do Nordeste, em foco nesta tese, já foram alvo de alguns estudos importantes. Em grande parte destes estudos os autores têm como consenso que sua constituição só foi viabilizada devido aos grandes investimentos realizados na região através de diversos programas de governo, principalmente da esfera Federal (SILVA, 2001; NUNES, 2009; CRUZ, 2014). Estes investimentos públicos iniciaram-se de maneira mais concreta em meados dos anos 70, a partir da constituição do Plano de Desenvolvimento Rural Integrado (PDRI), criado em 1974. Dentro do arcabouço deste plano existiram diversos projetos, que incluíam desde colonização à irrigação, que buscavam modernizar o setor agrícola do Nordeste e incentivar a formação de uma agroindústria (NUNES, 2009).

Deste modo, o PDRI era bastante amplo e constituído por diversos projetos de ação visando o desenvolvimento das áreas rurais do Nordeste. Um dos projetos importantes contemplados pelo PDRI era o projeto POLONORDESTE, que tinha como objetivo constituir

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áreas produtoras dinâmicas integradas com a agroindústria e os mercados. No entanto, a implementação do POLONORDESTE dependia do sucesso das obras estruturantes na região, iniciadas no final da década de 1960, através do Programa Nacional de Integração Nacional (PIN). Esse tinha o objetivo de realizar uma série de obras hídricas a fim de solucionar o problema da irregularidade pluviométrica no Nordeste. Dada a complementariedade entre o sucesso do projeto POLONORDESTE e do PIN, este último foi incorporado pelo PDRI (HEINZE, 2002).

As obras hídricas foram imprescindíveis para a constituição dos Polos produtores do Nordeste. No Polo Açú-Mossoró, a obra central de estruturação foi a perenização do Rio Açú-Piranhas a partir da construção da barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves3. Por sua vez, nos municípios limítrofes de Petrolina-Pernambuco e Juazeiro-Bahia, a estratégia foi a construção de vários canais que aproveitassem as águas do Rio São Francisco, as quais permitiram a irrigação de áreas nesta região do submédio do rio.

Os projetos de desenvolvimento dos polos estabeleciam que, depois de realizadas as obras hídricas, os perímetros irrigados seriam estruturados em três tipos de lotes, um primeiro destinado para pequenos produtores, que seriam assentados; o segundo tipo de lotes seria destinado a técnicos; por fim, o terceiro tipo de lotes seria destinado a empresas. Como demonstram Silva (2001), Nunes (2009) e Cruz (2014), este modelo de repartição entre colonos, técnicos e empresas não se sustentou, pois, como estes autores demonstram, a partir do momento em que estes polos começaram a prosperar, houve uma alta especulação em torno destas terras o que forçou a um arrebatamento das terras pelo capital empresarial em sua maioria4. Portanto, estas obras hídricas consolidaram uma estrutura viável para a produção. Este fato permitiu a constituição de diversos polos de produção na região semiárida do Brasil que engloba o norte de Minas Gerais e toda região Nordeste, com exceção do estado do Maranhão (BUANAIN & GARCIA, 2015), como ilustra a figura 1. Estes Polos têm suas gestões associadas a órgãos públicos, alguns são administrados pelo Departamento Nacional

3

A barragem fica a 6 km da cidade de Açú e tem capacidade para o armazenamento de 2,4 milhões de m3 de água. A construção de tal obra teve início em 1979 e foi concluída em 1983 (DNOCS, 2015).

4

Para maiores detalhes ver a tese de doutorado em economia defendida no Instituto de Economia da Unicamp por Pedro Silva (2001), que retrata, em maiores detalhes, o desenvolvimento dos perímetros irrigados do Polo Petrolina-Juazeiro. Por sua vez, Rogério Cruz (2014), na sua tese de doutorado, também defendida no Instituto de Economia da Unicamp, trata da especulação em torno das terras irrigadas no perímetro do Vale do Açú, demonstrando com maior detalhe como se deu a apropriação das terras e a evolução do Polo. Esta visão é corroborada na tese defendida no Programa de Desenvolvimento Rural da UFRGS, por Emanoel Nunes (2009), o qual ainda entra em detalhes do ambiente institucional que favoreceu os grupos empresarias em detrimento dos pequenos produtores.

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de Obras Contra as Secas (DNOCS) e outros pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF).

Figura 1 - Polos de Irrigação Nordestinos administrados pelo DNOCS e Codevasf: 2013

Fonte: Buainain e Garcia (2015).

Na trajetória destes polos, constituídos na região semiárida brasileiras, cada qual se destacou em culturas específicas, como já mencionado. No entanto, alguns tiveram maior proeminência econômica, principalmente os que se especializaram na produção de frutas frescas destinadas ao mercado internacional, são os casos dos polos de Petrolina-Juazeiro e Açú-Mossoró. A Figura a seguir ilustra precisamente a localização desses dois polos.

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Figura 2 – Polos Irrigados do Nordeste

A figura “a”, do lado esquerdo, representa a localização do Polo Petrolina-Juazeiro e as cidades que compõem-na. Enquanto a figura “b”, do lado direito, representa a localização do Polo Açú-Mossoró e seus municípios.

Fonte: Ortega e Sobel (2005); Nunes (2009).

Observa-se, na figura anterior, que o Polo Petrolina-Juazeiro engloba municípios dos estados de Pernambuco e Bahia que fazem fronteira na região do submédio rio São Francisco. Assim, o polo é composto por 8 municípios, 4 de cada estado, ocupando uma área de mais de 33 mil km2. Devido à localização geográfica da região, permitiu-se a construção de diversos canais que irrigaram esta enorme área. No entanto, esta área irrigada foi sendo incorporada por etapas, ou seja, por meio de diversos projetos de perímetros irrigados, como demonstra a tabela 2, a seguir.

Tabela 2 - Perímetros Irrigados do Polo Petrolina-Juazeiro

Perímetros Irrigados Município Área ocupada (ha) Implantação*

Bebedouro Petrolina (PE) 1.892 1968

Curaçá Juazeiro (BA) 4.204 1980

Fulgêncio Santa Maria da Boa Vista (PE) 4.716 1998

Mandacaru Juazeiro (BA) 450 1971

Maniçoba Juazeiro (BA) 4.160 1980

Salitre Juazeiro (BA) 5.099 1998

Senador Nilo Coelho Petrolina(PE)/Casa Nova(BA) 18.563 1984

Tourão Petrolina(PE) 14.237 1988

* Esta coluna indica o ano de funcionamento da obra completa, mas diversos destes períodos passaram a funcionar antes mesmo da finalização das obras por completo. Por exemplo, o perímetro Senador Nilo Coelho começou ainda em 1980.

Fonte: Codevasf (2015).

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O Polo Açú-Mossoró, por sua vez, tinha uma menor capacidade de inundação da região do Vale do Açú e, por esse motivo foi feito o Projeto Irrigado Baixo-Açú (PIBA), depois denominado Distrito Irrigado Baixo-Açú (DIBA). O quadro 1, a seguir, resume algumas características geográficas e dimensionais dos dois polos. Percebe-se, portanto, que apesar do Polo Açú-Mossoró ter uma maior quantidade de municípios componentes sua área irrigável é bem inferior ao do polo Petrolina-Juazeiro. A ocupação desta área, bem como a estrutura fundiária destes dois polos, é bastante diferenciada. Este fato será explorado no capítulo 5, no qual será tratada a análise da organização dos polos.

Quadro 1 – Descrição dos Polos Açú-Mossoró e Petrolina/Juazeiro

Polo Municípios População* Área (Km2)

Açú-Mossoró

Açú, Alto do Rodrigues, Afonso Bezerra, Baraúna, Carnaubais, Ipanguaçu, Itajá, Mossoró, Serra do Mel, Pendências e Upanema.

427.634 8.025,70

Petrolina-Juazeiro

Lagoa Grande/PE, Petrolina/PE, Orocó/PE, Santa Maria da Boa Vista/PE, Casa Nova/BA, Curaçá/BA Juazeiro/BA e Sobradinho/BA.

686.410 33.432,30 *População estimada para o ano de 2010 de acordo com o Censo de 2010 publicado pelo IBGE Fonte: Elaboração Própria.

Na trajetória do Polo Petrolina-Juazeiro, como se observou na tabela 2, os primeiros perímetros foram finalizados entre os anos 1970 e 1980. O PDRI tinha como objetivo principal integrar a produção com a agroindústria e os mercados. E este processo seria viabilizado aproveitando-se de incentivos fiscais para a criação e instalação de empresas processadoras na região Nordeste. É neste cenário que se instala no Polo Petrolina a Cicanorte5 e, assim, articula uma forte produção de hortaliças, destacando-se o tomate e, em segundo plano, a cebola (SILVA, 2001). Do mesmo modo, o Polo Açú-Mossoró também se utilizou destes mecanismos de incentivos fiscais para a constituição do seu polo, ainda nos anos 1970. A primeira experiência da região se deu através da produção de caju, por meio da Mossoró Agroindústria S.A. (MAISA).

A instalação das agroindústrias do Nordeste, conforme delineava o PDRI, se deu no contexto de um Estado brasileiro ainda sob a ótica desenvolvimentista, o qual utilizava incentivos fiscais, bem como, a disponibilidade de crédito abundante para o financiamento dos diversos programas de integração da agroindústria, dentre eles o POLONORDESTE, que

5 A Cicanorte refere-se à Agroindústria de produção de polpa de tomate que se instalou no Polo

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tinham tanto o objetivo de integrar os mercados, como também de promover as exportações. Estes programas buscavam modernizar a agricultura, sincronizando um arranjo entre os fornecedores de insumos e o setor a montante da agricultura financiado pelo Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) que também tinha vinculação com o Fundo Geral para Agricultura e Indústria (FUNAGRI) (BELIK, 1992). Um dos principais instrumentos utilizados para viabilizar a instalação de empresas na região Nordeste foi o FINOR6.

No entanto, como aponta Silva (2001), o grande ponto de inflexão nos perímetros irrigados se deu em meados dos anos 80, período em que a fruticultura irrigada começa a apresentar destaque. Esta inflexão, como detalha Silva (2001), é oriunda da crise da agricultura agroindustrial, que passa, à época, a sofrer com o fim dos incentivos fiscais, o qual teve como motivação a crise fiscal que o Estado começou a enfrentar na década de 1980. Esta crise também mudou a perspectiva de desenvolvimento, e o país agora necessitava de divisas para contrabalancear as contas externas, deficitárias, e, por isso, iniciou-se a promoção de uma produção voltada ao interesse do mercado internacional. Desse modo, o caminho encontrado foi a inserção de frutas tropicais para serem consumidas em natura. Essa transformação se deu face à transfiguração do SAM, brevemente sumarizadas até aqui, mas que serão alvo de uma abordagem detalhada no próximo capítulo.

Além dessa conjuntura nacional e internacional, Silva (2001) aponta para um aspecto local importante no Polo Petrolina-Juazeiro, o qual permitiu uma nova guinada na produção. Esse autor afirma que se consolidou, no desenvolvimento do Polo Petrolina-Juazeiro, a produção baseada na grande empresa produtora. Esse fato permitiu que se consolidasse uma governança privada através de associações, com maior destaque à Valexport7, a qual passou a representar os interesses destes grandes produtores instalados na região. Este processo também pode ser observado no Polo Açú-Mossoró, pois este também se consolidou apoiado na grande empresa produtora, como corrobora Nunes (2009). É sob o comando destes grandes empresários articulados, os quais, apesar de não terem constituído uma cooperativa, tal como no Polo Petrolina-Juazeiro, organizaram uma associação privada para coordenar os interesses destes produtores, que foi o Comitê Executivo de Fitossanidade do Rio Grande do Norte (COEX).

É diante desta conjuntura, nos primeiros anos da década de 1990, que os polos irrigados do Nordeste aqui destacados se consolidam como importantes produtores de frutas.

6

Benefício fiscal concedido pelo Governo Federal, criado pelo Decreto-Lei nº 1.376, de 12/12/1974. Fundo de Investimentos do Nordeste – FINOR.

7 A Valexport foi criada em 1988 para representar os interesses dos produtores da região do Polo

Referências

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