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Um dia belo, no outro esquecido = a história do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira - Limeira: SP (1901-1930)

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: FILOSOFIA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

UM DIA BELO, NO OUTRO ESQUECIDO: A HISTÓRIA DO

GRUPO ESCOLAR CORONEL FLAMÍNIO FERREIRA – LIMEIRA: SP

(1901-1930).

Autora: Alessandra de Sousa dos Santos Orientadora: Mara Regina Martins Jacomeli

CAMPINAS 2011

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Parte desta pesquisa foi financiada pela CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

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Dedico o resultado deste trabalho ao meu pai Antônio com todo amor, principal responsável por meus primeiros passos acadêmicos À Memória de minha mãe Terezinha. Minhas irmãs Elizânia, Flávia e Carolina sempre presentes, vou ser grata para sempre. Querida Alaíde obrigada por cuidar tão bem dessa grande família adotiva. À grande e fiel amiga de todas as horas Cris Bezerra Ao meu marido José Lindo pelos momentos vividos, pela compreensão e incentivo, meu amor é para você.

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Agradecimentos

A pesquisa acadêmica é silenciosa e solitária, são as pessoas que cruzam nosso caminho, ao longo da pesquisa, que contribuem para que ela não nos sufoque ou nos isole do mundo. Agradecer a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para tornar esse trabalho possível é uma tarefa bastante difícil, pois sempre corremos o risco de esquecer pessoas importantes que cruzaram nosso caminho neste período. Nomear todos que estiveram presentes nesta caminhada resultaria em uma listagem por demais extensa, por isso, neste sentido, buscaremos nos referir àqueles que tiveram um convívio mais próximo, sem deixar de reconhecer a contribuição e a importância dos que, embora não tenham seus nomes aqui citados, estiveram presentes ao longo desta jornada. Nesse sentido, devo iniciar agradecendo:

Primeiramente a Deus, a quem atribuo todas as minhas vitórias.

A meu pai, exemplo de dedicação, luta e confiança, pelo seu amor incondicional e desmedido.

À minha irmã Elizânia, pelo incentivo em vários momentos do trabalho, assim como às minhas irmãs Flávia e Carolina por compreenderem meus momentos de ausência. À querida Alaíde sempre disposta a cuidar de tudo para nos ajudar.

À grande e fiel amiga de todas as horas, Cris Bezerra.

À minha orientadora Profª Dra. Mara Regina Martins Jacomeli, por sua contribuição nesta caminhada desde o momento da elaboração do projeto inicial até a etapa final deste trabalho, agradeço seu estímulo e seu inestimável apoio durante todo o percurso.

Aos colegas do grupo HISTEDBR, pelas contribuições prestadas ao longo desta empreitada.

À amiga Rosimeri que, desde o início do mestrado, tem compartilhado das minhas angústias e ansiedades, muitas vezes me trazendo à realidade e me incentivando a persistir nela.

À Maria Angélica que, quando eu estava perdida, me mostrou alguns caminhos, à Lidiany que ofereceu suporte para a produção do meu texto, ao Ricardo que contribuiu com a produção do memorial, quando eu não tinha nem ideia de como escrever um.

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Agradeço aos Prof.sDr.s José Luís Sanfelice, José Claudinei Lombardi e Maria Cristina dos Santos Bezerra, por todas as sugestões apresentadas no exame de qualificação.

Sou grata, ainda, à Museóloga Ariadne Francisca Carrera Miguel e aos funcionários da Prefeitura Municipal de Limeira, nas pessoas de Márcio Bernini Júnior e Juraci Rodrigues Soares Requena. À Gilsa e ao Mauro, funcionários da Câmara Municipal de Limeira e aos funcionários do Arquivo Público do Estado de São Paulo, que muito contribuíram com suas informações e serviços.

Aos funcionários da Faculdade de Educação da Unicamp, pela atenção no atendimento de tantos os pedidos e pela orientação a tantas dúvidas.

Ao apoio financeiro da CAPES 2008/2009.

Agradeço especialmente a Ana Elisa, por seu importante trabalho de revisão textual, dando forma acadêmica à redação final deste trabalho.

E, finalmente, àquele para quem palavras de agradecimento jamais poderão expressar a imensa gratidão que sinto: meu marido José Lindo, pelos momentos vividos, pelas horas dedicadas e por tudo que temos compartilhado − meu carinho e meu amor são para você.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Eventos realizados pelo grupo de pesquisas HISTEDBR até 2008... 10 Tabela 2: Organização dos Trabalhos apresentados por Estado ... 13 Tabela 3: Ano de criação dos primeiros grupos escolares em diversos Estados. Fonte: Araújo (2007, p.97) ... 16 Tabela 4: Escolas públicas de primeiras letras, Limeira/SP. Fonte: Silveira (2007, p.122-124) . .62 Tabela 5: População de Limeira.Fonte: Bettini (2000, p.84) ... 63 Tabela 6: Estabelecimentos privados de Instrução Primária em Limeira/SP. Fonte: Silveira (2007, p.125) ... 64 Tabela 7: Dados estatísticos da população de Limeira entre 1909 – 1916. Fonte: Anuários Estatísticos do Ensino do Estado de São Paulo. Arquivo Público do Estado de São Paulo ... 67 Tabela 8: Dados referentes ao número de matrícula no município de Limeira entre 1907-1926 retirados dos Anuários do Ensino do Estado de São Paulo. Arquivo Público do Estado de São Paulo ... 69 Tabela 9: Número de estrangeiros na Seção Feminina. Dados retirados dos Mapas de Classe, Acervo do Museu Pedagógico ... 115 Tabela 10: Dados retirados dos Anuários do Ensino referente à matrícula do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira ... 116 Tabela 11: Matriculados e frequência no Grupo Escolar Coronel Flamínio.Fonte: Anuários do Ensino ... 117 Tabela 12: Número de alunos que encerraram o ano letivo de 1906: dados retirados do Mapa de Classe de 1906. Acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo ... 118

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Tabela 13: Dados referentes ao número de alunos, apresentados no Livro de Visitas do Grupo Escolar. Acervo do Museu Pedagógico e Anuários do Ensino do Estado de São Paulo... 120 Tabela 14: Dados retirados dos Anuários do Ensino de 1918, 1919 e 1920 ... 121 Tabela 15: Divisão das classes do Grupo Escolar de acordo com o Livro Ponto de 1919. Acervo Museu Pedagógico ... 122 Tabela 16: Dados das visitas de Inspetores de Escola, realizadas durante o ano de 1913. Livro de Visitas do Grupo Escolar Flamínio Ferreira. Acervo do Museu Pedagógico ... 123 Tabela 17: Dados das visitas de Inspetores de Escola, realizadas durante o ano de 1914. Livro de Visitas do Grupo Escolar Flamínio Ferreira. Acervo do Museu Pedagógico ... 125 Tabela 18: Dados das visitas de Inspetores de Escola, realizadas durante o ano de 1919. Livro de Visitas do Grupo Escolar Cel.Flamínio Ferreira. Acervo do Museu Pedagógico ... 127 Tabela 19: Dados extraídos do Livro de Matrícula do 1º ano de 1929, seção masculina. Acervo do Museu Pedagógico ... 130 Tabela 20: Dados extraídos do Livro de Matrícula do 1º ano de 1929, seção masculina.Acervo do Museu Pedagógico ... 131 Tabela 21: Número de alunos eliminados em 1929. Dados extraídos do Livro de Matrículas. Acervo do Museu Pedagógico ... 132 Tabela 22: Naturalidade dos pais dos alunos dos 1ºs anos. Dados extraídos do Livro de Matrículas de 1929. Acervo do Museu Pedagógico. ... 132 Tabela 23: Relação de profissão dos pais dos alunos dos 1ºs anos. Dados do Livro de Matrículas de 1929 Acervo do Museu Pedagógico ... 134

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Tabela 24: Relação de profissão dos pais dos alunos que concluíram os 4ºs anos em 1929. Dados do Livro de Matrículas de 1929. Acervo do Museu Pedagógico ... 138

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Documento disponível no CD-Rom elaborado pelo autor.Fonte Silveira (2007) ... 58 Figura 2: Palacete Tatuhiby, residência da família do Coronel Flamínio Ferreira de Camargo, imagem disponível no site: http://www.ct2.tur.br/limeira_atrativos.asp... 74 Figura 3: Planta da Residência do Coronel Flamínio onde funcionou o Grupo Escolar: Quadro pertencente ao Centro de Memória ... 77 Figura 4: Prédio onde funcionou o Grupo Escolar de 1901 a 1907. Fonte: Revista Povo, de junho de 1997. ... 78 Figura 5: Imagem atual do prédio onde funcionou o Grupo Escolar de 1901 a 1907. Arquivo da autora ... 79 Figura 6: Primeira turma de formandos da 4ª série primária do G.E. 1907. Acervo do Museu Pedagógico ... 86 Figura 7: Esboço da Planta que serviu de base para a construção do Grupo Escolar Coronel Flamínio. Fonte: Corrêa (1991, p.42) ... 91 Figura 8: Grupo Escolar de Limeira. Fonte: C.R. Mário Covas ... 92 Figura 9: Grupo Escolar s/d. Acervo do Centro de Memória ... 94 Figura 10: Planta baixa da Praça que abriga o Grupo Escolar de Limeira. Acervo do Centro de Memória ... 95 Figura 11: Planta baixa do Grupo Escolar de Caçapava. Fonte: Corrêa (1991, p.47) ... 97 Figura 12: Pátio do Grupo Escolar de Santa Bárbara d'Oeste. Fonte: Corrêa (1991, p.53) ... 97

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Figura 13: Corredor do pavimento superior do prédio que abrigou o G. E. As mesas e cadeiras que serviram ao G.E. empilhadas, assim como os quadros pertencentes ao Museu. Arquivo da

autora ... 100

Figura 14: Corredor do pavimento inferior, onde funcionava o Centro Cultural. Arquivo da autora ... 101

Figura 15: Teto de uma das salas de aula no pavimento superior. Arquivo da autora ... 102

Figura 16: Lateral do prédio. Arquivo da autora ... 103

Figura 17: Grupo Escolar, s/d. Acervo do Centro de Memória (T.1052)... 104

Figura 18: Portão de entrada do Grupo Escolar. Arquivo da autora ... 107

Figura 19: Alunos da turma masculina do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira, s/d. Acervo do Museu Pedagógico ... 111

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RESUMO

O Estado de São Paulo testemunhou, nos anos de 1890 e nos seguintes, uma mudança significativa nos rumos da educação pública. Foi com a Proclamação da República, em 1889, que os liberais iniciaram um movimento que reformulou o ensino paulista. As bandeiras do liberalismo e do positivismo despertaram nos governantes paulistas a necessidade de uma educação escolarizada, que formasse no cidadão conceitos como democracia, república, civismo, patriotismo, entre outros. Os Grupos Escolares, criados a partir da Reforma da Instrução Pública do Estado de São Paulo, de 1892, foram os espaços para atender às necessidades de escolarização do povo. Foi a primeira vez que a população brasileira conheceu um sistema de ensino organizado que contemplasse, em seu conjunto, um sistema seriado e graduado. O município de Limeira, situado no interior do Estado de São Paulo, ficou conhecido no contexto da economia paulista por ter sido um dos maiores produtores e exportadores de café do século XIX. Foi, também, em Limeira que se iniciaram, de forma pioneira, as contratações de trabalhadores livres para a lavoura cafeeira, formando no núcleo da Fazenda Ibicaba, as primeiras colônias europeias. No ano de 1901, o Governo do Estado de São Paulo inaugurou em Limeira o primeiro Grupo Escolar, em casa cedida pelo Coronel Flamínio Ferreira de Camargo, cujo nome foi dado à instituição criada, em reconhecimento aos serviços que o Coronel prestou ao município. Em 1906, foi inaugurado o prédio construído especificamente para abrigar as instalações do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira, que teve transferidas suas instalações em julho de 1907. Este trabalho é resultado da análise de fontes primárias e secundárias sobre o tema e o período analisados, que permitem, em seu conjunto, compreender em que medida o Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira contribuiu para a disseminação da educação escolarizada no Estado de São Paulo na Primeira República e qual a sua importância para a instrução pública no município de Limeira.

Palavras-chave: História da Educação; Instituições Escolares; Grupo Escolar; Brasil – História – República Velha (1889 – 1930)

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ABSTRACT

The State of São Paulo witnessed in the 1890s and the following years a significant change in the public educational system. It all started after the Proclamation of Republic in 1889, when the liberals initiated a movement that reformed the education in São Paulo. The beliefs of liberalism and positivism awakened the government of São Paulo the necessity to create an educational system that provided for the citizens concepts such as democracy, republic, civil pride, patriotism, among others. The elementary schools, built after the Reform of Public Teaching of the State of São Paulo in 1892, were places that provided education to the population. It was the first time that the Brazilian people were aware of an organized educational system that contemplated a gradual system of school. The city of Limeira, located in the countryside of the State of São Paulo, was known in the state economy to have been one of the biggest producer and exporter of coffee in the 19th century. It was also in Limeira that for the first time they hired free workers to work in the coffee agriculture, forming inside Ibicaba Farm the first European colonies. In 1901, the government of the State of São Paulo inaugurated in Limeira the first Elementary School, in a building provided by Colonel Flaminio Ferreira de Camargo, whose name was given to this school in recognition to his services for the community. In 1906, the school building was inaugurated to hold the facilities of “Grupo Escolar Coronel Flaminio Ferreira” that was transferred to the new facilities in July, 1907. This paper is the result of analysis of primary and secondary sources about this subject and its period that permits us to understand how much this school contributed for the dissemination of school education in the State of São Paulo during the First Republic and its importance to the public teaching in the city of Limeira.

Keywords:

History of education; Schools institutions; Elementary school; Brazil - History - Old Republic - 1889-1930

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 1 CAPÍTULO I

Primeira República no Brasil: a criação dos Grupos Escolares paulistas... 27 1.1 A Primeira República: a economia cafeeira e a imigração europeia ... 27 1.2 A Educação Paulista: final do Império e início da República ... 35 1.3 Nascem os Grupos Escolares: Legislação Paulista e o currículo presente na reforma .. 41 CAPÍTULO II

Limeira e a expansão do ensino público ... 51 2.1 Limeira e a imigração na Ibicaba: Fazenda “modelo” para o mundo? Modelo em quê? 51

2.2 A expansão do ensino em Limeira ... 61 2.3 Coronel Flamínio Ferreira de Camargo: Ligando o passado remoto aos primeiros anos da República ... 73 CAPÍTULO III

A criação do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira... 81 3.1 A implantação do primeiro Grupo Escolar de Limeira ... 81 3.2 A organização dos espaços: a arquitetura do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira 89

3.3 Educação de elite ou instrumentalização para o mercado de trabalho? Quem foi instruído no Grupo Escolar de Limeira ... 109

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CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 145

FONTES CONSULTADAS ... 149

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 153

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INTRODUÇÃO

Os grupos escolares surgiram a partir do agrupamento de escolas isoladas que passaram a funcionar em um único prédio, divididas por seriação. O primeiro grupo escolar recebeu o nome de Escola Modelo e foi implantado em 1893 na capital do Estado de São Paulo, anexo à Escola Normal, sendo, posteriormente, esse sistema de ensino disseminado pelo interior do Estado, servindo como modelo de organização escolar para outros Estados, que implementaram o mesmo sistema de ensino. Durante algumas décadas, os grupos escolares funcionaram juntamente com outras formas de ensino como as escolas isoladas, as escolas de imigrantes, as escolas reunidas e as escolas noturnas, além das escolas mantidas pelas Câmaras Municipais e aquelas mantidas por iniciativas particulares.

Os grupos escolares foram criados para atender à educação pública no Brasil no início da República. Inicialmente eles serviam ao ensino primário, porém, com as reformas educacionais, que foram ocorrendo ao longo do século XX, esses espaços passaram a atender o 1º grau, sendo transformados em escolas municipais ou estaduais, visto que, em alguns municípios, os prédios pertenciam ao poder público local e em outros pertenciam ao Estado. Atualmente as escolas que ainda se encontram em funcionamento atendem à educação básica.

A proposta de Educação Pública pregada pelos liberais republicanos vinha de encontro à organização do ensino no país até aquele momento. Não existia no Brasil uma obrigatoriedade de instrução pública, não fazia parte dos planos de Governo obrigar ou garantir a educação para toda a população, sendo muito comum, durante o século XIX, período que antecede a República, a educação ficar a cargo das famílias. Aqueles que possuíssem melhores condições sociais bancavam todas as despesas para ter em casa um mestre; muitos mandavam seus filhos para as capitais e outros ainda enviavam seus filhos para estudar no exterior. Algumas organizações estrangeiras custeavam a instrução das crianças imigrantes, garantindo o ensino da língua materna. Eram as alternativas encontradas para oferecer instrução para as futuras gerações. Podemos inferir que essa educação não era para toda a população, mas privilégio de poucos.

O discurso de educação pública vinha propor uma educação “para o povo”. Entendemos por pública aquela educação que deve servir ao povo e deve ser oferecida e

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garantida pelo Estado. Vejamos o que nos apresenta os dicionários da língua portuguesa frente ao termo “Público”: 1. Que se refere ou pertence ao povo; 2. Que serve para uso de todos; comum; 3. Concernente ao governo de um país1. Se tomarmos literalmente o significado dessa palavra, então interpretaremos que a Educação Pública é aquela que pertence ao Estado e deve servir a todos.

Sanfelice (2005) alerta para esse equívoco de relacionar o que é público ao que é do Estado. Apesar de o conceito de público apresentar todas as suas definições relacionadas ao povo, ou para o povo, o autor adverte para o fato de que esses conceitos acabam por conduzir ao equívoco de que “escola estatal” é “escola pública”. Contudo, ainda segundo Sanfelice, uma leitura rigorosa da história não permite tomar o estatal por público ou algo de interesse comum. A confusão entre os conceitos decorre de que o ordenamento jurídico resultante da democracia burguesa determina certos serviços estatais. A educação é considerada um serviço público oferecido pelo Estado ou pelo setor privado, e, por ser a educação escolar um serviço público (estatal ou privado), esse fato leva o setor privado a sempre exigir recursos para a educação. Conclui-se que a “educação pública é algo a ser construído no âmbito das relações contraditórias que impulsionam as sociedades e, portanto, os homens, para a superação qualitativa do modo de produção capitalista” (SANFELICE, 2005, p.103). Já a educação popular seria a educação fora do controle direto do Estado. Para o autor “escola pública é algo a ser construído desde hoje, para além das condições materiais da escola capitalista” (SANFELICE, 2005, p.104). Desfeito o mal entendido, vejamos que tipo de escola era aquela desejada pelos republicanos.

A idéia da educação pública está diretamente relacionada à instauração do ideário republicano. É a partir destas afirmações que nos propomos a entender a construção histórica da identidade dos grupos escolares e verificar o que ocorria na sociedade brasileira, em especial na sociedade paulista e nas cidades do interior do Estado, que permitiu a mudança de percurso da educação brasileira; da mesma forma, procuramos entender o que fez com que os governos se preocupassem com a educação no final do século XIX, quando foram criados os primeiros grupos escolares de ensino público que, naquele momento da história da educação brasileira,

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representavam a excelência da educação pública no Brasil, em termos de estrutura e organização (SAVIANI, 2005).

Resgatar a importância dos grupos escolares nas diferentes regiões do país é uma proposta presente em trabalhos de diferentes autores brasileiros, entre eles Jacomeli (2003, 2005), Lombardi (2005), Ribeiro (2003), Saviani (2004 e 2005) e Souza (2004). Os autores afirmam, ainda, a necessidade de contextualizar socialmente a importância dessas instituições para a história da educação local, regional e nacional.

Conhecer a história da criação dos grupos escolares nos permite entender melhor como se organizava a educação no século XIX, anterior à criação dessas instituições de ensino, assim como, compreender o que significaram as reformas educacionais dos primeiros anos da República e o que essas mudanças acarretaram para a educação nos dias atuais. Segundo Saviani (2004, p.17), “ao longo do século XIX, o poder público foi normatizando, pela via legal, os mecanismos de criação, organização e funcionamento das escolas que [...] adquiriram o caráter de instrução pública”. Apesar de ser nomeado como instrução pública, afirma o autor, o ensino continuou até o final do século XIX funcionando em espaços privados, a saber, as casas dos próprios professores.

A importância de se resgatar a história dos grupos escolares dentro de um contexto social está relacionada ao fato de que as mudanças sociais, políticas e econômicas foram responsáveis pelas mudanças educacionais. Os grupos escolares foram sendo criados para atender às necessidades econômicas de se implantar uma educação pública no Brasil.

As mudanças educacionais ocorridas no início da década de 1970 foram muito significativas para a história da educação brasileira, pois, a partir da Lei 5692/71 foram alteradas as diretrizes dos grupos escolares, modificando o sentido que essas instituições representaram na história da educação brasileira e, com ela, perdendo-se a excelência do ensino público primário.

Não basta conhecer a história de determinada Instituição Escolar, é preciso compreender suas especificidades para, a partir delas, identificarmos se as particularidades do nosso objeto, dentro do contexto em que estava inserido, condizem com os outros espaços existentes e que foram criados com o mesmo propósito – ou os contradizem.

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Nossa pesquisa foi instigada após a leitura do projeto da Profª Mara Regina Martins Jacomeli2, que provocava os pesquisadores no sentido de desenvolverem pesquisas sobre os Grupos Escolares, por se tratarem de Instituições de Ensino que tiveram suma importância para a história da educação Brasileira. Neste trabalho, a professora apontava para a possibilidade de se viabilizarem as pesquisas na região de Campinas. Foi essa a primeira vez que tivemos contato com o lema de que Limeira era o “Berço da Imigração Europeia” - expressão que esteve presente em diferentes meios, entre eles, pesquisas sobre imigração, agricultura cafeeira e economia. A partir dessas informações, iniciamos uma busca, na internet, sobre a história do município e nos deparamos com diferentes informações sobre a criação do primeiro Grupo Escolar implantado na cidade. As informações coletadas preliminarmente instigaram-nos a querer conhecer a história desse Grupo Escolar.

Nosso levantamento de dados seguiu na busca de informações mais detalhadas sobre o Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira, por isso fomos ao local onde ele havia funcionado, já tendo em mente as imagens disponíveis nos meios eletrônicos de comunicação, que traziam a praça e o prédio. De acordo com as imagens, tratava-se de um lugar bonito, limpo e bastante cuidado, mas, agora, no estado em que se encontra, nada faz lembrar as imagens visualizadas daquelas espaços, pois as condições da praça e do prédio eram muito ruins. A praça possuía árvores ornamentais e frutíferas à época e, embora essas árvores nativas e frondosas ainda estivessem lá, uma grande quantidade de folhas se acumula nos espaços da praça, nas calhas do prédio e nas sarjetas. Todo o arredor da praça tornou-se um Terminal de ônibus urbano, repleto de bancos de concreto. Foram colocadas coberturas de zinco para abrigar passageiros de todos os lugares da cidade, várias barracas de camelôs, banca de revistas, quiosques comerciais. O local assim descaracterizado, talvez seja o motivo pelo qual as pessoas que residem em Limeira desconheçam a localização do antigo Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira, associando esse espaço apenas ao Museu e ao Terminal.

2 Projeto apresentado na VI Jornada do HISTEDBR, trabalho disponível em:

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Com relação ao prédio, constatamos que, embora algumas características da época estivessem preservadas, o edifício estava bastante descuidado, em estado de abandono e esquecimento. Nem de longe, o que encontramos se parecia com o que havíamos lido sobre a construção até aquele momento: era um lugar escuro, com paredes emboloradas, tetos caindo, pisos totalmente desgastados. Nenhum vestígio da imponência e da majestosidade que os estudos sobre os Grupos Escolares relatam, o que nos leva a perguntar em que momento da História estaria perdido o Grupo Escolar, tão citado na historiografia local.

Após o levantamento das informações iniciais, concluímos que seria de suma importância desenvolver esta pesquisa. Percebemos que nossa contribuição iria além da necessidade de se resgatar historicamente a importância dos Grupos Escolares no Estado, mas, principalmente, que ela contribuiria pontualmente para resgatar a história da educação local.

A historiografia produzida sobre Instituições Escolares e, mais especificamente, sobre os Grupos Escolares vem confirmando uma tendência de se pesquisar os objetivos e as funções desempenhados por essas instituições de ensino nos vários anos de sua existência. Pesquisas apontam que, nas diferentes cidades onde os grupos escolares e seu sistema de ensino foram implantados, os espaços serviam para instruir as elites locais e a pequena burguesia que se formavam nos diversos centros urbanos do Estado. Identificar a formação do público que foi instruído nos diferentes grupos escolares implantados no Estado, entre o final do século XIX e o início do século XX, e, posteriormente, nos diversos Estados brasileiros, já resultaria em uma produção grandiosa, visto que, nem sempre as diferentes formações sociais locais implicavam diferentes composições do alunado que frequentava os bancos escolares no período estudado. Entretanto, analisaremos, ainda, em que medida o Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira criado na cidade Limeira, e as especificidades locais contribuíram para confirmar o que a historiografia vem atestando nos diferentes estudos sobre os grupos escolares. Tentaremos conhecer a composição do alunado desse Grupo Escolar, tendo em vista que a formação dos núcleos urbanos do município de Limeira se deu por um grande número de imigrantes oriundos de diferentes regiões da Europa; buscaremos compreender se, de alguma forma, essa miscigenação de povos contribuiu para confirmar o que testemunham os trabalhos

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historiográficos e entenderem que medida essa instituição teve importância para a formação social local e regional.

Faremos nosso recorte temporal de 1901 - período em que o Grupo Escolar de Limeira foi criado - a 1930, quando se encerra, no Brasil, a Primeira República. Essa delimitação temporal, no entanto, não isola nosso objeto no tempo e no espaço determinados, apenas enfatiza os acontecimentos do referido período em detrimento dos outros. É sabido que a história não se constitui uma sucessão linear de fatos e nem de acontecimentos datados como seus fatores mais importantes. Mas, devido à sua amplitude, privilegiamos aqueles que permeiam os primeiros trinta anos de seu funcionamento, buscando identificar quais as contradições existentes na trajetória desse Grupo Escolar com relação ao projeto de educação pública presente nas propostas na Primeira República.

Buscando compreender como vêm sendo realizadas as pesquisas sobre grupos escolares, fizemos um levantamento preliminar sobre os trabalhos apresentados nos eventos do grupo de pesquisas HISTEDBR. Esse levantamento visa, principalmente, encontrar informações sobre os grupos escolares que vêm sendo pesquisados pelo país, não tendo, portanto, a pretensão de apresentar, nesse momento, o estado da arte dessas pesquisas, apenas identificá-las3.

Compreendemos que, por muito tempo, as pesquisas sobre Instituições Escolares configuravam trabalhos que traziam alguns apontamentos sobre esses espaços e, em sua maioria, o tema acabava passando despercebido pelas pesquisas acadêmicas. Porém, nos últimos anos, as instituições escolares começaram a despertar o interesse de diversos pesquisadores, aqueles do campo da História, em geral, e da História da Educação em particular. Em algumas Universidades como a UFSCar e a UNICAMP foram criados grupos de pesquisas que se debruçaram sobre o tema: em São Carlos, Ester Buffa e Paolo Nosella criaram, juntamente com os graduandos e pós-graduandos, um grupo de história e da filosofia das instituições escolares; a

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A pesquisa sobre os trabalhos apresentados nos eventos do HISTEDBR foi realizada em 2008 e publicada no VIII Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e Educação no Brasil" História, Educação e

Transformação: tendências e perspectivas, disponível em:

http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario8/trabalhos.html, algumas modificações foram realizadas por entendermos que era necessário adaptá-lo para que pudesse fazer parte desta Introdução.

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mesma iniciativa está sendo implementada na UNINOVE, na USP, na UNESP e em outras Universidades Federais e Estaduais, mas não é o caso de descrevê-las nesse trabalho. Em Campinas, o Professor José Luís Sanfelice, a Professora Mara Regina Martins Jacomeli e um grande número de graduandos e pós-graduandos, que participam do grupo de pesquisas HISTEDBR, vêm desenvolvendo e consolidando estudos sobre instituições escolares em diferentes cidades do Estado e em diversos Estados do Brasil. São esforços como esses que contribuem para a preservação da história das instituições escolares4.

Em artigo publicado na Revista HISTEDBR on-line, Sanfelice (2006) apresenta uma sequência de argumentos que justificam a importância das pesquisas sobre instituições escolares, assim como seus diferentes desdobramentos:

...por que fazer a História das Instituições Escolares, ou mais precisamente: por que fazer a História de uma Instituição Escolar? A resposta não é muito simples. Mas vamos buscá-la.

Consideremos:

a) As unidades escolares pertencem a redes de escolas. Na rede pública, por exemplo, temos a rede municipal, a estadual e a federal. Não estou usando o conceito de sistema propositadamente. De forma paralela, temos também a rede privada;

b) as unidades escolares se distribuem por diferentes níveis de ensino: da educação infantil até as instituições de ensino superior que desenvolvem Programas de Pós-Graduação;

c) as unidades escolares também se dedicam a várias modalidades de ensino: consideremos, por exemplo, as escolas técnicas ou as escolas de ensino de línguas, os CELs da rede pública.

Só estes pontos já me autorizam a concluir que há um amplo universo diferenciado de instituições escolares.

Mas não é só isso!

d) As instituições escolares têm também uma origem quase sempre muito peculiar. Os motivos pelos quais uma unidade escolar passa a existir são os mais diferenciados. Às vezes a unidade escolar surge como uma decorrência da política educacional em prática. Mas nem sempre. Em outras situações a unidade escolar somente se viabiliza pela conquista de movimentos sociais mobilizados, ou pela iniciativa de grupos confessionais ou de empresários. A origem de cada instituição escolar, quando decifrada, costuma nos oferecer várias surpresas.

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Um estudo recente foi publicado por Buffa e Nosella (2009) onde os autores discutem a importância de se estudar a história das instituições escolares: BUFFA, E. e NOSELLA, P. (2009) Instituições escolares: por que e como

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e) As instituições escolares são ainda muito distintas entre si porque são frequentadas por públicos bastante desiguais. Não somente quando esta diferença é a da idade cronológica dos alunos, como, por exemplo, os alunos da educação infantil ou os alunos do ensino superior. Há também a diferença em suas procedências espaciais ou socioeconômicas. São alunos de um determinado bairro, de uma determinada região e alunos que, em cada instituição, pertencem em sua maioria a uma mesma classe social.

f) O público de uma instituição escolar traz para dentro dela uma certa cultura e um conjunto de valores que podem estar muito próximos ou muito distantes da cultura escolar oficial. Isto faz com que os desafios pedagógicos de cada instituição sejam únicos, o que interfere profundamente no projeto pedagógico de cada unidade escolar.

g) As políticas educacionais oficiais também não entram nas unidades escolares da mesma maneira. Há múltiplos entendimentos a respeito delas. Há diferentes acomodações ou formas de resistências para cumpri-las. Quando elas se materializam no cotidiano escolar, essa materialização é impar. (SANFELICE, 2006, p. 22-23)

Acreditamos que os esforços coletivos como aqueles do Grupo de Pesquisas HISTEDBR tiveram certa influência na busca por parte dos pesquisadores dessa temática, que, segundo nossa tese, parecia ser até então desinteressante ou apenas esquecida ou ainda um objeto de pesquisa “sem importância”.

Em 2005 foram realizados pelo HISTEDBR dois encontros de pesquisadores que discutiam questões voltadas ao estudo de instituições escolares: “V Jornada do HISTEDBR5

cujo tema geral em as “Instituições escolares brasileiras: história, historiografia e práticas” e, dando continuidade às discussões que cercam o tema, a “VI Jornada do HISTEDBR6” veio com o tema geral: “Reconstrução histórica das instituições escolares no Brasil”. Os encontros resultaram na publicação do livro: Instituições escolares no Brasil: conceito e reconstrução histórica (NASCIMENTO et al., 2007).

Dentre as diferentes instituições abordadas nessas duas Jornadas do HISTEDBR, estão os Grupos Escolares que foram escolas, na maioria das vezes, criadas pelo poder público e destinadas a atender a instrução primária no início da República. Essas instituições perduraram até os anos de 1970, quando a Lei 5692/71 alterou as diretrizes da instrução pública no país, e

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Encontro realizado em Sorocaba entre os dias 9 e 12 de maio de 2005, na Universidade de Sorocaba (UNISO).

6 Encontro realizado em Ponta Grossa entre os dias 7 e 9 de novembro de 2005, na Universidade Estadual de Ponta

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elas deixaram de existir nos moldes de instrução primária passando, então, a ser denominadas Escolas de Primeiro Grau.

É importante ressaltar que, apesar de, nos últimos anos, ter aumentado significativamente o interesse dos pesquisadores pelas instituições escolares, ainda há muito trabalho a ser feito e muitas instituições a serem pesquisadas. Sabemos que toda instituição escolar apresenta particularidades, informações que se relacionam com as questões locais e regionais, enfatizando as palavras de Sanfelice “... não há instituição escolar ou educativa que não mereça ser objeto de pesquisa histórica... Não há instituição sem história e não há história sem sentido” (SANFELICE, 2007, p.79).

Em outro artigo, o autor apresenta como deve ser a pesquisa destas instituições, e aponta:

Mergulhar no interior de uma Instituição Escolar, com o olhar do historiador, é ir em busca das suas origens, do seu desenvolvimento no tempo, das alterações arquitetônicas pelas quais passou, e que não são gratuitas; é ir em busca da identidade dos sujeitos (professores, gestores, alunos, técnicos e outros) que a habitaram, das práticas pedagógicas que ali se realizaram, do mobiliário escolar que se transformou e de muitas outras coisas. Mas o essencial é tentar responder à questão de fundo: o que esta instituição singular instituiu? O que ela instituiu para si, para seus sujeitos e para a sociedade na qual está inserida? Mais radicalmente ainda: qual é o sentido do que foi instituído? (SANFELICE, 2006, p.24)

Na mesma direção, Buffa e Nosella (2009) apontam para a necessidade de se definir o que investigar numa instituição e ter clareza dos objetivos específicos a serem pesquisados, o que contribuirá no momento da escolha das fontes. Afirmam os autores que, conforme o referencial teórico adotado pelo pesquisador, as fontes encontradas recebem formas diferenciadas de interpretação e análise.

Após a leitura dos resumos das pesquisas apresentadas nos eventos do HISTEDBR, percebemos a necessidade de destacar um dado importante para o presente trabalho: a localidade e/ou regionalidade dos trabalhos, pois este dado traz informações que contribuem para a compreensão de como vem sendo trabalhado o tema nas diferentes regiões.

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Apresentaremos, a seguir, uma tabela com todos os eventos, por ano e local, para ilustrar as produções referentes ao nosso tema7:

Evento Ano de Realização Quantidade de trabalhos sobre grupos escolares IV Seminário Nacional Campinas 1997 2 V Seminário Nacional Campinas 2001 1 I Jornada Salvador BA 2002 0

II Jornada Ponta Grossa PR 2002 0

III Jornada Americana SP 2003 1

VI Seminário Nacional Aracajú 2003 7

IV Jornada Maringá PR 2004 4

V Jornada Sorocaba SP 2005 7

VI Jornada Ponta Grossa PR 2005 7

VII Seminário Nacional Campinas

2006 12

VII Jornada Campo Grande MS 2007 5

VIII Jornada São Carlos SP 2008 8

Tabela 1: Eventos realizados pelo Grupo de Pesquisas HISTEDBR até 2008

Em uma primeira verificação junto à tabela, afirmamos que, nos primeiros eventos, havia algumas iniciativas que envolviam o tema de pesquisa, de forma muito discreta. Essa quantidade foi aumentando, antes mesmo de se iniciarem os debates realizados em 2005 no interior do HISTEDBR. Porém, um ano após a realização das duas Jornadas, a de Sorocaba/SP e a de Ponta Grossa/PR, que discutiram as instituições escolares, aconteceu, em 2006, o VII

7 Os Seminários Nacionais respectivamente de 1991, 1992, 1995, não possuem acervo de publicações, portanto não

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Seminário Nacional na cidade de Campinas/SP. Esse evento teve o maior número de publicações sobre Grupos Escolares, num total de 12 trabalhos, o que aponta para uma possibilidade: o assunto estava em sua efervescência, o que pode ter ocasionado grande número das publicações nesse ano.

Interessante observarmos que, nos diferentes eventos, os eixos de trabalho mudam de acordo com a temática a ser discutida. Gostaríamos de apontar que na II Jornada, realizada em 2002, em Ponta Grossa/PR, é que aparece pela primeira vez o eixo de pesquisa “Fontes e História das Instituições Escolares”. Dos 52 trabalhos publicados nesse eixo, não encontramos um único trabalho sobre grupos escolares.

Em 2003, na III Jornada, realizada em Americana/SP, o eixo “Historiografia da Escola Pública” teve apenas uma publicação acerca dos Grupos Escolares. Nos eventos do V Seminário Nacional de 2001 (Campinas/SP) e da I Jornada de 2002 (Salvador/BA), o eixo mais próximo foi “Instituições e práticas educativas”. Já no IV Seminário, em 2003 (Aracajú/SE), e na IV Jornada, realizada em Maringá/PR, em 2004, aparece o eixo “Historiografia da Escola Pública”. Essas observações são pertinentes para compreendermos se os eixos temáticos podem direcionar as pesquisas apresentadas.

É importante, também, apontarmos que nos eventos V e VI Jornadas, realizadas em Sorocaba/SP e Ponta Grossa/PR, ambas no ano de 2005, cujo tema central era a discussão sobre a História das Instituições Escolares, contraditoriamente, não apareceu um eixo de pesquisa referente ao estudo propriamente das instituições escolares. Dentre os temas abordados na V Jornada, encontramos os diferentes níveis de ensino, a formação de professores e as práticas escolares, enquanto na VI Jornada foram contemplados 17 eixos temáticos e nenhum deles estava associado à História das Instituições Escolares

Em 2006, no VII Seminário Nacional, realizado em Campinas/SP, entretanto, aparece como eixo temático ou linha de pesquisa a “História das Instituições Escolares”. Como dissemos anteriormente, esse evento foi o que mais reuniu publicações sobre os Grupos Escolares, totalizando 12 trabalhos. Esse mesmo eixo aparece na VII Jornada, realizada em 2007, na cidade de Campo Grande/MS, e na VIII Jornada, realizada em 2008, na cidade de São Carlos/SP.

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Cabe dizer que, para o VIII Seminário do HISTEDBR, não incluíram nenhum eixo que permeasse o tema da História das Instituições Escolares, mesmo sendo essa temática uma Linha de Pesquisa do próprio HISTEDBR. Mais uma vez fica a interrogação: por que não foi novamente contemplado o assunto como eixo temático? Essa ausência da temática inibirá a socialização de pesquisas referentes aos grupos escolares? Onde, afinal, iriam se inscrever os pesquisadores dessa linha de pesquisa se não havia um eixo temático específico para eles? Frisamos que as linhas de pesquisa do VIII Seminário são: 1. Historiografia e questões teórico-metodológicas da História da Educação; 2. História, políticas públicas e educação; 3. História, trabalho e educação; 4. História, ideias pedagógicas, currículo e avaliação; 5. História, práticas escolares e processos educativos e 6. História, biografias e intelectuais da educação.

Buscaremos, agora, apresentar um panorama geral da produção das pesquisas em âmbito nacional, a partir de um mapeamento das produções por Estado.

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13 Evento Geral MT AL SP MG PR GO SE RS RJ PB MS IV Seminário Nacional Campinas – 1997 18 1 1 V Seminário Nacional Campinas – 2001 1 III Jornada Americana

SP – 2003 1 VI Seminário Nacional Aracajú – 2003 1 3 2 1 IV Jornada Maringá PR – 2004 2 2 V Jornada Sorocaba SP – 2005 1 1 1 2 1 1 VI Jornada Ponta Grossa PR – 2005 1 1 1 4

VII Seminário Nacional Campinas – 2006

1 3 5 1 19 1

VII Jornada Campo Grande MS – 2007

2 1 1 1

VIII Jornada São Carlos SP – 2008

1 1 1 3 2

Tabela 2: Organização dos Trabalhos apresentados por Estado

Fazem-se necessárias neste momento algumas observações:

1. É visível a maior quantidade de trabalhos realizados no Paraná, perfazendo 18, em relação aos demais Estados: Mato Grosso tem 7, Alagoas 1, São Paulo 8, Minas Gerais 11, Goiás 1, Sergipe 2, Rio Grande do Sul 1, Distrito Federal (RJ) 1, Pernambuco 1 e Mato Grosso do Sul 1;

2. De forma mais discreta aparecem trabalhos em Alagoas (1), Goiás (1), Rio Grande do Sul (1), Rio de Janeiro (1) e Pernambuco (1);

3. Vários Estados não aparecem no mapeamento: Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Tocantins.

8 O mesmo trabalho discute MT e MS.

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Percebemos, no decorrer das leituras dos trabalhos, que existe no Paraná uma proposta coletiva de levantamento e catalogação de fontes primárias e secundárias sobre instituições escolares - projeto que foi discutido e apresentado na IV Jornada em 2004. Nos referidos trabalhos apresentados houve um envolvimento coletivo dos pesquisadores para desenvolverem o projeto de pesquisa sobre a História das Instituições Escolares existentes na região de Ponta Grossa e Campos Gerais, e, dos diferentes trabalhos apresentados, vários deles abarcam mais de uma instituição.

Cada pesquisador envolvido com esse projeto discutiu e apresentou fontes primárias de determinada localidade na mesma região, portanto, como nossa pesquisa contemplou apenas análise dos trabalhos realizados e não dos objetos neles envolvidos, poderíamos inferir que os trabalhos sobre Grupos Escolares pesquisados no Estado do Paraná são muito maiores do que o número apresentado em nossa tabela, visto que contabilizamos os 18 trabalhos sobre Grupos Escolares e não a quantidade de Grupos Escolares pesquisados.

As observações feitas a partir desse estudo preliminar acerca da produção de pesquisa temática sobre História das Instituições Escolares, em especial a dos Grupos Escolares, sugerem também algumas hipóteses que necessitam de investigações futuras para serem confirmadas.

Com base nas informações disponíveis no site do HISTEDBR10, em especial nas informações dos Grupos de Trabalhos de Alagoas, Goiás e Paraíba, percebemos que não existe, nesses GTs, uma linha de pesquisa que contemple a História das Instituições Escolares, podendo ser este o motivo da falta de pesquisas e prováveis produções acadêmicas.

No Rio de Janeiro existem dois grupos: um criado em 2002, que contempla a linha de pesquisa “Educação Brasileira: história das instituições escolares, práticas e pensamento pedagógico”, mas sem pesquisas sobre Grupos Escolares. E o GT de Campos dos Guaytacazes, apresenta a linha de pesquisa “História das Instituições Escolares Brasileiras: práticas e pensamento pedagógico”, criado em 2008. No Rio Grande do Sul esse grupo de trabalho também foi criado, recentemente, em 2008.

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A análise referente às produções do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro revela que não havia pesquisadores envolvidos na temática, o que talvez possa ser o motivo da falta de produção referente aos GTs criados em 2008. Porém, já existia, desde 2002, um GT no Rio de Janeiro e, nas informações disponíveis sobre esses Grupos de Trabalho, e dentre os projetos de pesquisa por eles desenvolvidos, não foram encontradas pesquisas que investigassem Grupos Escolares.

Ficaram-nos algumas interrogações sobre alguns Estados como Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Tocantins, uma vez que não aparecem na tabela. Vários Estados possuem Grupos de Trabalhos do HISTEDBR e alguns contemplam a linha de pesquisa sobre instituições escolares. A dúvida que surge após o levantamento é: Quais os tipos de instituições escolares que havia nesses Estados? Haveria, nestes Estados, Grupos Escolares? Se sim, faz-se necessário ainda mapear as pesquisas referentes a essas instituições.

Podemos tentar responder a última questão analisando os dados apresentados por Araújo (2007, p.97) na tabela abaixo, na qual o autor contempla a criação dos Grupos Escolares em alguns Estados e os anos de implantação dos mesmos, vejamos a tabela:

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Estados Ano de institucionalização dos Grupos Escolares São Paulo Rio de Janeiro Maranhão Paraná Minas Gerais Bahia

Rio Grande do Norte Espírito Santo Mato Grosso Paraíba Santa Catarina Sergipe Goiás Piauí 1894 1897 1903 1903 1906 1908 1908 1908 1910 1911 1911 1911 1918 1922

Tabela 3: Ano de criação dos primeiros grupos escolares em diversos Estados. Fonte: Araújo (2007, p.97)

Além dos Estados apresentados em nossa tabela que contemplam pesquisas sobre Grupos Escolares (Mato Grosso, Alagoas, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Sergipe, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraíba e Mato Grosso do Sul) Araújo mostra a criação de grupos escolares no Maranhão (1903), Rio Grande do Norte (1908), Espírito Santo (1908), Santa Catarina (1911) e Piauí (1922). Dessa forma, com relação aos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Pará, Pernambuco, Rondônia, Roraima e Tocantins, que não aparecem nem na tabela nem no levantamento de Araújo, sugerimos a hipótese de que se, aparentemente, não há pesquisas nos referidos Estados, provavelmente a implantação dos grupos escolares se deu em outro momento e não naquele da irradiação do ideário republicano para a instrução pública que essa Instituição Escolar explicitava.

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Outra questão que a não divulgação de pesquisas sobre Grupos Escolares, levanta, e que não poder ser deixada de lado, é que muitas vezes a socialização pode ter se dado em outro espaço de divulgação científica e não necessariamente nos eventos do Histedbr.

Do ponto de vista qualitativo, encontramos diversos trabalhos que trazem a questão da criação dos grupos escolares vinculadas a um contexto histórico mais geral. O mesmo se dá com a criação dessas instituições num determinado município ou numa determinada região; outros, ainda, relacionam a criação dos grupos escolares com o debate higienista da época; com o debate e a implementação da proposta republicana de educação; alguns trabalhos trazem as relações entre o Estado e a educação; a organização e expansão dos Grupos Escolares em determinados Estados,entre outros.

Sanfelice (2006) alerta para a necessidade de se vincular o geral com o específico, ou seja, compreender uma determinada instituição escolar dentro do seu contexto mais geral:

...podemos dizer que se produz um trabalho historiográfico das Instituições Escolares para interpretar o sentido daquilo que elas formaram, educaram, instruíram, criaram e fundaram, enfim, o sentido da sua identidade e da sua singularidade.

O trabalho maior do historiador, entretanto, é compreender a relação do singular com o geral, mas essa é uma questão que, no momento, fica só anunciada, embora seja imprescindível enfrentá-la quando se faz pesquisa historiográfica. Nenhuma Instituição Escolar tem o sentido da sua singularidade explicitado, se tomada apenas em si mesma. Uma instituição escolar avança, projeta-se para dentro de um grupo social. Produz memórias ou imaginários. Mobiliza ou desmobiliza grupos de pessoas e famílias; assinala sua presença em comemorações, torna-se notícia na mídia, ou seja, é muito, mas muito mais mesmo do que um prédio que agrupa sujeitos para trabalharem, ensinarem, aprenderem etc. O movimento inverso também ocorre, pois a instituição é objeto de interesses contraditórios de ordem econômica, política, ideológica, religiosa e cultural, dentre outros.

Então é óbvio: a história de uma instituição escolar não traz o sentido que ela realmente tem, se for tomada de forma isolada de todo o contexto. (SANFELICE, 2006, p.24-25)

No conjunto das 54 publicações sobre Grupos Escolares pesquisadas, encontramos 18,5% dos trabalhos referentes a projetos de levantamento e catalogação das fontes primárias e secundárias sobre instituições escolares. Afirmamos, no nosso entendimento, que esse é o primeiro caminho para análises mais aprofundadas que investiguem, interroguem e critiquem o

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conjunto das fontes disponibilizadas a partir de tais levantamentos, que possibilitam análises mais específicas sobre uma instituição escolar.

Foram encontrados dois trabalhos que relacionam o pensamento pedagógico e a arquitetura enquanto sinais de modernidade e do ideário republicano presentes no período de implantação dos referidos grupos escolares, mais especificamente no início da República.

Descobrimos, ainda, um estudo sobre a educação desenvolvida no interior de um determinado Grupo Escolar comparado-a à educação desenvolvida em outras instituições. Há, também, trabalhos que contemplam especificidades como a questão do ensino de Educação Física em determinado Grupo Escolar, outro que traz uma relação entre a educação e o trabalho infantil; e existe uma pesquisa que busca apresentar uma proposta de recuperação da história da infância a partir das instituições de ensino.

Do ponto de vista teórico, cerca de 80% dos trabalhos, já em seus resumos, explicitam o estudo de determinados grupos escolares, identificando suas especificidades a partir do contexto social, político e econômico, tratando o objeto pela concepção de totalidade.

Sanfelice (2007, p.78-79) considera fundamental que o pesquisador, ao investigar uma instituição escolar, não a descole de seu contexto, ou seja, não trate a instituição como algo autônomo, sem relação com o que acontece em seu entorno. Acrescenta que o entorno da instituição se inicia bem próximo a ela, mas as investigações podem levar a lugares mais distantes. Já quanto à utilização das fontes, Sanfelice afirma que a limitação de fontes pelos pesquisadores é apontada como um risco para o resultado da pesquisa. Segundo o referido autor, é necessário analisar o conjunto das fontes, analisando, criticando, não interditando nenhum tipo de fonte:

...não se constrói uma mesma história de uma instituição escolar restringindo-se a um estudo das atas produzidas pelos seus responsáveis burocráticos ou, de maneira inversa, privilegiando-se apenas os livros e o material didático de que ela fez uso em determinado tempo ou ao longo dos tempos. (SANFELICE, 2007, p.77)

Em cerca de 10% dos trabalhos, ou seja, aproximadamente 6 pesquisas, foram utilizadas apenas um tipo de fonte.

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Dentre as diferentes fontes de pesquisas observadas nos trabalhos, destacamos aquelas que partiram da análise dos relatórios de inspetores e diretores de ensino, mas se limitaram a elas para fundamentar suas teses e objetivos. Há também pesquisas que contemplam fontes como o jornal e as fotografias, sendo porta-vozes das instituições escolares, o único meio de divulgação e/ou um meio fiel de divulgação da realidade histórica, sem cotejar essas fontes com outras que dialoguem com suas informações.

Podemos concluir, preliminarmente, que a produção da pesquisa, seja ela de qualquer temática ou objeto, deve, necessariamente, definir o referencial teórico-metodológico, bem como as fontes diversas que possam, em seu conjunto, confirmar e/ou negar as hipóteses de cada autor.

Para referendar a afirmação apresentada no início do nosso texto sobre a importância que tem cada instituição escolar e os diferentes caminhos a que um mesmo objeto pode conduzir, encontramos, no conjunto dos artigos analisados, duas pesquisas realizadas por autores diferentes, com perspectivas também diferenciadas sobre um mesmo objeto: o Grupo Escolar Vicente Machado em Castro/PR. As análises partem de pesquisas distintas, mas ambas resgatam a história e a criação do referido grupo. Uma das pesquisas trabalha com a memória educacional presente nos discursos dos envolvidos no processo educativo, ou seja, entrevistas com ex-professores, ex-alunos, ex-funcionários, enfim, todos que participam da história da instituição; enquanto a outra faz um resgate histórico para apresentar, nos diferentes momentos da história, a utilização do grupo escolar e como se deu a educação no seu interior, nos diferentes momentos da sua história, buscando apreender a instituição escolar hoje.

Esse trabalho inicial desenvolvido primeiramente para uma comunicação científica, e adaptado para esta dissertação não se esgota por aqui, temos muitos caminhos a percorrer ainda. Para além da produção do HISTEDBR, temos um conjunto de publicações a investigar, que permitem ampliar ainda mais essa análise, como artigos de periódicos e livros, publicações em diferentes eventos educacionais e outros.

Apesar dos esforços coletivos e individuais que propõem desenvolver pesquisas sobre os grupos escolares, resgatando historicamente sua importância enquanto instituição, contemplando suas individualidades e comparando generalizações, sabemos que é pequeno o

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número de instituições que são/foram objetos de análise, embora, nos últimos anos, a quantidade de pesquisas sobre instituições escolares tenha ganhado espaço nas pesquisas acadêmicas.

Temos nos deparado com o abandono por parte das administrações municipais e estaduais em relação à preservação e manutenção das fontes como documentos históricos e dos espaços físicos enquanto patrimônio cultural e educacional da história da educação do nosso país - parece não fazer parte da cultura brasileira preservar a memória histórica e os arquivos escolares que, em sua grande maioria, são destruídos após cinco anos.

Por isso, é preciso insistir na necessidade de se resgatar a história das instituições escolares para entendermos os diferentes caminhos que a educação percorreu ao longo da história do nosso país e fazer chegar às novas gerações a importância que os grupos escolares tiveram para o contexto social e educacional na história da educação brasileira. Este é um dos caminhos para despertar, na sociedade, a luta por uma educação de qualidade e pela valorização e preservação de suas instituições escolares.

No intuito de resgatar e contribuir para a preservação da história do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira, propusemo-nos a adentrar a Instituição, verificando documentos, mapas de classe, plantas, livros de matrículas, livros de chamada, livros de visitas, dentre outros documentos, buscando olhar nosso objeto além dos “muros” que o cercam, para compreender suas particularidades e poder entender as relações que ele estabelecia com o contexto social, político e econômico da época.

Por não termos encontrado nenhuma pesquisa sistematizada sobre o primeiro grupo escolar de Limeira, mas apenas referências sobre sua criação, percebemos que muitas interrogações precisavam ser respondidas: O que representou a construção de um Grupo Escolar para a cidade de Limeira no início do século XX? Quem foi o Coronel Flamínio Ferreira de Camargo que dá nome ao Grupo Escolar? Sabendo que a construção do espaço físico dos grupos escolares expressa a forma como o conhecimento vinha sendo disseminado em todo o Estado, o que Limeira, através do G.E. Coronel Flamínio Ferreira nos revela sobre esse conhecimento?

O que a arquitetura do prédio do G. E. Coronel Flamínio Ferreira nos revela? Que estilo essa arquitetura e seus espaços internos e externos representavam? Sua construção atendia aos fins pedagógicos da época? Quem foi o arquiteto responsável pelo projeto do G.E. Coronel

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Flamínio Ferreira? No que ele se baseou para produzir esse projeto? Esse projeto era exclusivo? Que especificidades foram consideradas para a construção do referido Grupo Escolar de Limeira? Como seus espaços físicos dialogavam com as exigências pedagógicas do período e como eram utilizados para atender a essas exigências?

Sendo Limeira uma cidade de trabalhadores livres, a quem era destinada a educação oferecida pelo seu primeiro Grupo Escolar? Aos filhos dos operários, às elites locais ou a ambos? O que representou, para a sociedade de Limeira, os diferentes movimentos que aconteciam no interior do Grupo Escolar e como essa instituição contribuiu para a história da educação local? Como a imprensa local expressava as questões que ocorriam no município, referentes à instrução pública, referentes ao G.E. e aos acontecimentos a eles relacionados? Como a cidade de Limeira e os poderes locais contribuíram para a preservação e recuperação da memória do seu primeiro Grupo Escolar? Por que seus espaços não foram preservados?

Nossa caminhada começou nos espaços externos ao Grupo Escolar. Fizemos várias visitas ao Arquivo Público Municipal, mas não havia catalogação das fontes disponíveis e os funcionários que lá estavam informavam que não tinham nenhum documento sobre o período pesquisado, e que os documentos disponíveis partiam da década de 1950. Depois de novos questionamentos, voltamos ao Arquivo para procurar documentos que nos respondessem sobre a doação do prédio, sobre a compra dos imóveis que haviam pertencido ao Coronel, mas, outra vez, fomos barrados na porta, tivemos a sensação de que o arquivo era uma cela, intransponível, pertencente à propriedade privada. Desistimos, assim, de investigar nesse espaço.

Fomos à Diretoria de Ensino de Limeira e lá também não encontramos nada sobre o Grupo Escolar, uma vez que os documentos pertencentes a ele haviam sido enviados à Escola Técnica Estadual Trajano Camargo, que detinha a guarda oficial desses documentos.

Na visita à Escola Técnica Trajano Camargo, ficamos surpresos com a reação da funcionária que nos atendeu - havia tanta resistência em fornecer-nos informações que ela chegou a nos questionar se realmente era importante nossa pesquisa e se realmente precisávamos dos documentos que ali se encontravam. Para acessar o arquivo na ETEc Trajano Camargo foi preciso protocolar um pedido de autorização. Fomos, então, informados de que se encontrava totalmente desorganizado, que desde a chegada dos documentos, em 1984, nunca mais haviam

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mexido nos armários. Essa situação nos levou a oferecermo-nos para organizar e catalogar o arquivo, mas, para nossa surpresa, quando lá entramos encontramos tudo muito arrumado e limpo, diferente do que esperávamos. Não soubemos se a informação dada antes de nossa autorização para pesquisar no arquivo era verídica ou se ele havia sido organizado e limpo de um dia para o outro, para nos receber. No arquivo da escola encontramos uma ata de exames de 1929, vários documentos da década de 1940 tais como livros de chamada, livros de matrícula, livro de ponto, além de prontuários de alunos das décadas de 1970 e 1980, até o encerramento das atividades do Grupo Escolar.

Na Secretaria de Educação do município também não encontramos qualquer documento referente ao nosso objeto de pesquisa, uma vez que a escola pertencia ao Estado

Passamos, ainda, pela Secretaria de Cultura e pela Secretaria de Turismo, pois ambas relacionam o espaço onde funcionou o Grupo Escolar como pertencentes a essas secretarias, mas não encontramos nenhum documento também.

Fomos várias vezes ao Arquivo Público do Estado de São Paulo e lá encontramos vários documentos sobre o município de Limeira e também sobre o Grupo Escolar. Surpreendentemente, encontramos pastas dentro das caixas em que deveriam constar documentos como relatórios e mapas de classe do Grupo Escolar, estatísticas do município, entre outros, porém as pastas estavam vazias, situação que se repetia em diversas caixas analisadas. Nós nos perguntamos: quem teria interesse em destruir ou se apropriar de tais documentos? Por que constavam como existentes e não os encontramos? Provavelmente alguém se apropriou indevidamente de tais fontes.

Esse fato se repetiu em espaços públicos também de Limeira, tendo sido constatadas tanto a apropriação indevida de fontes públicas como a destruição e má preservação de documentos históricos. Felizmente, alguns pesquisadores foram copiando, ao longo de suas pesquisas, as fontes encontradas e contribuindo, assim, para a preservação dessa documentação.

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A maior parte do tempo de nossa pesquisa passamos dentro do arquivo do Centro de Memória e do Museu Pedagógico Major José Levy Sobrinho11. Diferentemente da recepção que tivemos em outros espaços públicos de Limeira, onde pesquisamos, ali conhecemos a Museóloga Ariadne Francisca Carrera Miguel que, além de nos acolher cordialmente, autorizou nosso acesso para pesquisarmos todos os documentos que fossem de nosso interesse. A museóloga cuidava com muito carinho e zelo dos documentos que conseguiu juntar sobre o Grupo Escolar. Contou-nos que, devido ao estado em que se encontrava o prédio, uma chuva molhara muitos documentos e ela encapou os livros e cuidou para que fossem preservados. Sabia que esses documentos eram importantes fontes de pesquisas históricas. Durante os anos que ela trabalhou no Museu, Ariadne organizou, catalogou e transcreveu vários documentos manuscritos. Para ajudá-la, a museóloga contava com um funcionário, Márcio Bernini Júnior, tão prestativo quanto ela.

Ariadne nos contou, ainda, que os documentos que ali se encontravam foram retirados de cima do caminhão que fez a mudança dos objetos do Grupo Escolar no encerramento de suas atividades, em 1984, quando os alunos foram transferidos para a Escola Trajano de Camargo, que, na época, ainda não era escola técnica. Conseguimos mapear os documentos que estavam disponíveis e identificar várias lacunas no acervo que havia sido preservado.

Encontramos um acervo muito rico, embora lacunar, mas, apesar da falta de muitos documentos, sabíamos que tínhamos muitas informações com que trabalhar: muitos mapas de classe, desde 1901, livros ponto, desde 1901, o livro de visitas do Grupo Escolar desde a sua inauguração até o seu encerramento, em 1984, alguns livros de matrícula, alguns livros de chamada, dois livros de palestras pedagógicas datadas de 1930 e 1932, pouquíssimas fotos antigas, documentos sobre reformas, plantas dos dois prédios onde funcionaram o Grupo Escolar e algumas edições de jornais da época, que retratavam alguns fatos do cotidiano da escola. Existia, no Museu, uma sala em homenagem ao Grupo Escolar, com fotos, objetos antigos, o primeiro quadro negro, alguns objetos pedagógicos, entre outros.

11 O arquivo pertencente ao Centro de Memória fica na mesma sala do arquivo pertencente ao Museu Histórico

Pedagógico. Os dois arquivos são separados apenas por uma prateleira; os documentos se misturam em seu interior e apenas os funcionários conseguem identificar quais documentos pertencem ao Centro de Memória e quais pertencem ao Museu Pedagógico.

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Conseguimos fotografar e/ou fotocopiar vários documentos. Como as visitas eram espaçadas, não tínhamos a dimensão do que seria mais ou menos importante e fomos organizando os documentos dentro de uma sequência. No decorrer do ano de 2009, tivemos uma grande surpresa: ao chegar ao arquivo, fomos informados de que Ariadne havia sido demitida. Além do acesso ao arquivo, a museóloga nos fornecia informações importantíssimas sobre fatos e acontecimentos relacionados ao município. Contudo, Márcio, que ali se encontrava, permitiu que continuássemos a pesquisa sem problemas.

Continuamos catalogando as fontes, mas passados alguns meses, em uma de nossas visitas, fomos barrados. Não poderíamos mais entrar nem ter acesso a qualquer documento, por ordem do diretor do Museu, Sr. Juraci Rodrigues Soares Requena. Ameaçamos procurar a Justiça, pois estavam se apropriando de documentos públicos, entretanto, isso não foi necessário, pois, na verdade, o que houve foi um mal-entendido e, após conversarmos pessoalmente com o diretor, além de termos acesso aos documentos, ele contribuiu com algumas informações mais atuais que buscávamos. Faltavam apenas alguns documentos para fotografar, eram exatamente os mapas de classe, quando o prédio foi definitivamente fechado para reforma.

Finalmente, iria iniciar a tão prometida restauração no prédio e todos os documentos foram encaixotados e arquivados em outro local. Após a qualificação deste trabalho, em outubro de 2010, redigimos um documento ao diretor do Museu, que o encaminhou ao conselho de museus. A autorização para a entrada e análise dos documentos que faltavam chegou após termos concluído a pesquisa e o texto final. No pedido de acesso ao arquivo nos dispusemos a participar da organização do acervo, além de fornecer os documentos e fontes que encontramos - detalhe que contribuiu pontualmente para nosso acesso.

No arquivo da Câmara Municipal de Limeira, também tivemos nosso acesso liberado, os funcionários Gilsa e Mauro nos receberam e foram muito atenciosos, tudo o que encontravam de informações em livros, atas e relatórios, que pudessem servir para nossa pesquisa, era separado para ser analisado nos dias de nossa visita.

Para abarcar todos os fatores que envolvem um objeto de pesquisa - fatores sociais, fatores políticos e fatores econômicos -, faz-se necessário resgatar os diferentes acontecimentos que permeavam o período determinado. Para tanto, dividimos nosso trabalho em três capítulos.

Referências

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