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Limeira e a expansão do ensino público

2.2 A expansão do ensino em Limeira

Com a reforma da instrução pública implementada pelo Estado de São Paulo é criada pela primeira vez no Brasil uma nova estrutura de ensino, seriada, gratuita, laica e obrigatória. E são os Grupos Escolares os espaços idealizados para que a reforma da instrução pública primária se frutifique.

Em Limeira, o primeiro Grupo Escolar, criado por decreto de maio de 1901, recebe o nome de Coronel Flamínio Ferreira, e as particularidades dessa criação nos empenharemos em compreender no Capítulo três.

Um panorama geral da educação no município se faz necessário para compreendermos se, com a criação desse Grupo Escolar, houve o avanço esperado em termos educacionais, no que diz respeito ao atendimento e à qualidade de ensino, e o quanto a educação oferecida no Grupo Escolar realmente representou o que se esperava em relação à necessidade da demanda educacional do período.

A educação de Limeira não era diferente da situação de outros municípios do Estado de São Paulo, como Campinas, Piracicaba, Rio Claro, entre outros. A desorganização do ensino, a forma como a educação foi sendo deixada em segundo plano, tanto na sociedade quanto na política, são análises necessárias para demonstrarmos que as condições do ensino em Limeira não a diferenciaram em nada de outros municípios no período estudado. As condições do ensino nesse município apenas confirmam as afirmações de vários pesquisadores sobre a situação da educação no país, uma educação elitizada que favorecia poucos e contribuía para o aumento da desigualdade social de um país em fins da escravatura.

Antes mesmo da criação do Grupo Escolar, outras formas de instrução eram oferecidas em Limeira, mesmo que de modo bastante rudimentar. De 1840 até fins do Império, Limeira contava com alguns professores que atendiam nas escolas de Primeiras Letras, conforme apresentamos no quadro abaixo:

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ANO CADEIRA MASCULINA CADEIRA FEMININA

1840 Aurélio Justino Franco -

1841 Aurélio Justino Franco -

1842 Aurélio Justino Franco -

1843 Aurélio Justino Franco (suspenso) -

1844 Aurélio Justino Franco

1845 Aurélio Justino Franco -

1846 Aurélio Justino Franco Vaga

1847 Aurélio Justino Franco Vaga

1848 Aurélio Justino Franco Nada consta

1849 Aurélio Justino Franco Vaga

1852 Aurélio Justino Franco Antonia Carolina dos Anjos 1855 J. Gonçalves de Godoy Maurício Antonia Carolina dos Anjos 1857 Joaquim Cursino de Oliveira Antonia Carolina dos Anjos 1859 Joaquim Cursino de Oliveira Antonia Carolina dos Anjos 1860 Joaquim Cursino de Oliveira Antonia Carolina dos Anjos 1862 Joaquim Cursino de Oliveira Antonia Carolina dos Anjos 1863 Joaquim Cursino de Oliveira Antonia Carolina dos Anjos 1864 Joaquim Cursino de Oliveira Antonia Carolina dos Anjos 1867 Joaquim Cursino de Oliveira (1ª

cadeira); Jacintho Antenor da Silva Mello (2ª cadeira)

Antonia Carolina dos Anjos

1870 Augusto Joaquim do Amaral (1ª cadeira); Jacintho Antenor da Silva Mello (2ª cadeira)

Antonia Carolina dos Anjos

1872 Augusto Joaquim do Amaral (1ª cadeira); Augusto Pinto da Silva Sáes (2ª cadeira)

Antonia Carolina dos Anjos (1ª cadeira); Maria Emília Keller de Arruda (2ª cadeira) 1874 Augusto Joaquim do Amaral (1ª

cadeira); Augusto Pinto da Silva Sáes (2ª cadeira)

Antonia Carolina dos Anjos (1ª cadeira); Maria Emília Keller de Arruda (2ª cadeira) 1879 Augusto Joaquim do Amaral (1ª

cadeira); Augusto Pinto da Silva Sáes (2ª cadeira)

Maria Emília Keller de Arruda (1ª cadeira); Theolinda de Arruda Barros (2ª cadeira) 1884 Manoel Joaquim de Almeida (1ª

cadeira); Tiburcio Braziliense de Viterbo (2ª cadeira)

Maria Emília Keller de Arruda (1ª cadeira); Anna Brandina de Assumpção Goes (2ª cadeira) 1886 Manoel Joaquim de Almeida (1ª

cadeira); Tiburcio Braziliense de Viterbo (2ª cadeira); Luiz Manoel da Silva (3ª cadeira)

Maria Emília Keller de Arruda (1ª cadeira); Josephina de Sant‟anna Camargo (2ª cadeira)

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Podemos observar que foi a partir da década de 1850 que iniciaram as aulas femininas nas escolas de Primeiras Letras e essas cadeiras foram ministradas pela mesma professora por mais de 20 anos. No levantamento apresentado por Silveira (2007), entre 1840 e 1867, havia registro de apenas um professor para a cadeira masculina em todo o município. O mesmo fato se repete na cadeira feminina, que só recebeu mais uma professora em 1872. Fato bastante importante, pois nesse período Limeira já tinha uma população considerável para apenas 4 cadeiras de instrução. Bettini (2000) apresenta os dados populacionais sobre Limeira:

Ano Zona urbana Município 1863 2.000 habitantes Nada consta 1876 3.000 habitantes Nada consta 1884 4.000 habitantes 14.000 habitantes

1900 20.000 habitantes

Tabela 5: População de Limeira. Fonte: Bettini (2000, p.84)

Em 1884, havia em Limeira uma população estimada em 14.000 habitantes para duas cadeiras femininas e duas cadeiras masculinas de instrução de primeiras letras. Não podemos afirmar que o número de cadeiras era insignificante em relação ao número da população que possivelmente se encontrava em idade escolar25, pois não temos dados que nos permitam fazer tal análise. É sabido que, entre o Império e início da Primeira República, o Brasil possuía diversas formas particulares de ensino, como os tutores que ministravam aulas nas mansões dos grandes fazendeiros, mas a amplitude desse atendimento em Limeira é um trabalho a ser pesquisado, uma vez que, a partir dos estudos realizados até o momento, não podemos identificar a dimensão desses atendimentos.

Ao fazer referência ao Almanaque do Estado de 1884-1890, que trazia informações sobre as condições da instrução no município, mais precisamente sobre a instrução particular, Bettini (2000) faz a seguinte afirmação:

25 Como apontou a autora, os dados sobre a instrução nesse período são precários e não temos como analisar com

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Apesar do otimismo manifestado no almanaque quanto às instruções pública e privada e atividades culturais, não acredito que Limeira tivesse, naquela época, a efervescência cultural que os autores do almanaque querem nos fazer acreditar. (BETTINI, 2000, p. 73.)

Assim como por todo país, Limeira também manteve estabelecimentos de ensino privado ao longo de sua história. Poucos são os dados referentes a esses estabelecimentos, não temos como fazer uma análise qualitativa das condições de funcionamento ou do número de alunos atendidos. Silveira (2007) traz informações sobre alguns professores particulares que atendiam no município entre 1855 e 1864:

ANO PROFESSOR(ES)

1855 Padre João Álvares de Siqueira

1857 Padre João Álvares de Siqueira

1860 Paschoal Lopes D‟Aguilar; João Marcellino Ferraz

1863 João Marcellino Ferraz; João Pires de Camargo; Manoel Felix de Queiroz

1864 João Marcellino Ferraz; João Pires de Camargo; Jacintho A. da Silva Mello; Ivo Cesário de Salles

Tabela 6: Estabelecimentos privados de Instrução Primária em Limeira/SP. Fonte: Silveira (2007, p.125)

Na tabela, podemos perceber a presença de um padre que atuava como professor de estabelecimento privado, fato comum para o período, uma vez que a Igreja e o Estado ainda não estavam separados politicamente e ela detinha o direito de interferir na educação e nas questões políticas locais e em todo o país.

Bettini (2000) apresenta dois estabelecimentos particulares de ensino que funcionaram entre 1884 e 1890: o Colégio João de Deus, ensino primário e secundário, e o externato do fiscal da Câmara Municipal Emílio Pinto de Saes e do professor José Predócimo da Costa Brum.

Em indicação apresentada pelo vereador Epiphânio Prado à sessão da Câmara Municipal de 14 de janeiro de 1899, ele apontava que havia escolas insuficientes para atender à população do município; afirmava, ainda, que não havia verba suficiente para a instrução

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municipal e que o Estado estava impossibilitado de enviar mais recursos para o município. O redator solicitou que a Câmara Municipal dispensasse alguns funcionários para que pudessem ser contratados professores, e a sugestão era a de que fossem dispensados o médico do matadouro, o fiscal do matadouro e o veículo que transportava o médico. Sugeriu, também, que fosse aumentado o imposto predial do município para garantir recursos para instrução pública. Na mesma sessão, foram criadas três escolas municipais, duas do sexo masculino e uma do sexo feminino, cujo local não foi informado (ATA DA CÂMARA DE LIMEIRA, 1899, p.131-137).

A Lei Municipal nº 55, de 01 de agosto de 1899, cria escolas municipais e sugere que a partir do ano seguinte seja criado um imposto para manutenção dessas escolas. A partir dessa Lei são criadas no município quatro escolas de instrução pública primária, sendo duas para cada sexo, cuja localização também não consta na Ata. Importante destacarmos que, apesar de a Lei ser referente à criação de escolas municipais, a maior parte dos artigos trata das atribuições do Conselho Municipal e do concurso para provimento dos cargos de professores que atuarão nas futuras escolas criadas (ATA DA CÂMARA DE LIMEIRA, 1899, p. 102-109).

Nas Atas da Câmara Municipal encontramos várias citações de que a cidade era considerada epidêmica e que, por isso, os professores normalistas não pediam transferência para o município. Considerando esse fato, tanto para funcionamento de escolas municipais quanto para o momento da criação do Grupo Escolar foram oferecidas gratificações para que os professores normalistas se removessem para Limeira, fato que deve ser destacado, pois não encontramos documentos que melhor explicassem o tipo de epidemia que ali grassava. Na Sessão de 22 de agosto de 1901 o redator sugere um auxílio extra para os professores e afirma ser infundada a informação sobre a epidemia na cidade, porém reconhece que os professores não se removem por conta disso (ATA DA CÂMARA, 1901, p. 115 verso -116).

Segundo Bezerra (2001), havia em Limeira, nos anos que antecedem a República, duas escolas alemãs em funcionamento no bairro dos Pires, embora os dados estatísticos da instrução no município não se referiram a essas instituições, que funcionaram por muitos anos. A primeira escola alemã criada no bairro foi a Escola Paroquial Alemã, fundada em 1874, e a segunda foi a Escola da Associação Germânica criada em 1879. As escolas permaneceram com suas características originais até 1908, quando foram unificadas e, em 1914, passaram a atender a

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população em prédio construído especificamente para seu funcionamento. Ainda de acordo com a autora, a escola alemã era gerida pela própria população do bairro:

Desde a data de sua fundação até o início do século XX, a escola dos Pires era mantida pela população do bairro, ensinavam em língua alemã e não sofria nenhuma influência por parte de qualquer instância da instrução pública nacional, quer seja municipal, estadual ou federal. (BEZERRA, 2001, p.164)

No final dos anos de 1890, havia em funcionamento uma escola noturna no interior da Fazenda Ibicaba que, de acordo com Silveira (2007), era frequentada por uma dezena de alunos, todos trabalhadores. Os professores ou as professoras também eram trabalhadores, por isso, afirma o autor, constantemente as aulas eram interrompidas pelo período de safras e colheitas. Havia também duas escolas de origem italiana, com datas de fundação indefinidas.

Consta que, na década de 1910, funcionava, no bairro do Tatu, uma comunidade tipicamente italiana, uma escola da Igreja de São Sebastião e, na década de 1920, foi criada também a escola da comunidade de Santo Antônio. O autor (SILVEIRA, 2007, p.133) não traz dados mais detalhados do ensino ministrado nas escolas, apenas observa que eram escolas de imigrantes italianos e que em ambas funcionava o ensino primário.

Essa configuração da instrução em Limeira segue por um longo período da história do município, funcionando, até o final da Primeira República, apenas um grupo escolar, várias escolas isoladas e algumas instituições particulares, além das escolas alemãs e italianas, já citadas, que não constam nos documentos oficiais do Estado.

Como se viu, no início da Primeira República, quando foi criado o primeiro grupo escolar do município, havia outras formas de ensino. Nosso interesse é identificar como se configurava a instrução no município num período em que todos os olhares eram direcionados ao ensino oferecido nos grupos escolares, a instituição reconhecida como excelência do ensino e como o grande pilar da educação paulista, de acordo com as teses de Reis Filho (1995) e Souza (1976).

Nos primeiros 30 anos da República, a população em idade escolar, no município, variava entre 3.900 pessoas e 4.600 pessoas, e o público máximo atendido durante o período nunca ultrapassou 42,9% da população em idade escolar, conforme a tabela a seguir:

67 Ano População em idade escolar no município População atendida26 População não atendida % da população atendida % da população em idade escolar fora da escola 1909 4.428 1.103 3.325 25% 75% 1910 4.642 1.556 3.086 33,50% 66,50% 1912 3.910 1.375 2.535 35,10% 64,90% 1913 3.980 1.703 2.277 42,80% 57,20% 1914 4.051 1.741 2.310 42,90% 57,10% 1916 4.225 1.434 2.791 33,90% 66,10%

Tabela 7: Dados estatísticos da população de Limeira entre 1909 – 1916. Fonte: Anuários Estatísticos do Ensino do Estado de São Paulo. Arquivo Público do Estado de São Paulo

Podemos perceber que em 1909 apenas 25% da população em idade escolar eram atendidas no município, das 4.428 crianças em idade escolar apenas 1.103 recebiam instrução. Segundo dados do Anuário de 1909, nesse ano, no Estado de São Paulo, 76,7% da população em idade escolar encontrava-se sem escola − o que, mais uma vez, coloca Limeira nas mesmas condições de outros municípios do Estado. No mesmo ano, o Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira registrou matrícula de 269 alunos, quantidade muito inferior à capacidade anunciada de atendimento. Com 10 classes funcionando e tendo em média de 40 alunos matriculados por classe, o Grupo Escolar atendia 67% de sua capacidade em 1909. Quanto à demanda atendida no município, o Grupo Escolar atendia apenas 24,4%, o que confirma que sua criação, até aquele ano, não havia representado um avanço significativo frente às outras ofertas de ensino, entre escolas isoladas e escolas particulares.

No ano de 1914, a demanda por educação pelas crianças em idade escolar totalizou 1.714 alunos, 42,9% da população atendida, e significou a maior porcentagem no período analisado. Nesse ano, o Grupo Escolar registrou matrícula de 920 alunos, funcionando em dois períodos, ofertando 53,7% das vagas oferecidas em todo o município.

26 A população atendida refere-se aos alunos que frequentavam as escolas mantidas pela Câmara Municipal, pelo

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Na tabela 7, fica clara a ilusão liberal depositada no grupo escolar no início da Primeira República, quando a efervescência positivista acreditava que essas instituições seriam a grande evolução do atendimento educacional, que representariam a educação para todos. Mesmo antes da Proclamação da República e da criação dos grupos escolares, os liberais já depositavam na escola a responsabilidade pela adequação da população para as mudanças sociais que culminaram com a República. Monteiro (1998) bem explica essa afirmação, ao analisar a escola pública na monarquia:

A escola passava a ser entendida como local de formação de um sentimento que daria identidade à nação, ao mesmo tempo em que supriria a necessidade de aquisição de conhecimentos mínimos que habilitassem os indivíduos ao voto, outorgando-lhes uma maturidade intelectual e política, que para as elites ligadas à cafeicultura do Oeste Paulista, somente seria possível através de um saber técnico-científico associado à difusão de uma filosofia liberal. (MONTEIRO, 1998, p. 26)

A criação dos grupos escolares representou uma mudança educacional significativa diante da realidade que experimentava a educação nacional, mas não representou alterações significativas em relação à demanda educacional que seria atendida por essa instituição de ensino durante toda a Primeira República. Por muitos anos o grupo escolar funcionou concomitantemente com outras formas de instrução. Em Limeira, as escolas isoladas, as escolas mantidas pela municipalidade e as escolas noturnas, além das instituições particulares, que muitas vezes dependiam do financiamento público para seu funcionamento, exerceram suas funções por muitos anos após a criação dos grupos escolares, conforme tabela a seguir:

69 Ano Matrícula no grupo escolar Matrícula em escolas isoladas Matrícula em escolas particulares Matrícula em escolas noturnas Matrícula em escolas Reunidas Matrícula em escolas mantidas pela municipalidade 1907 287 1908 313 1909 269 184 198 1910 491 119 252 1911 747 221 1912 876 462 37 1913 933 440 143 120 151 1914 920 681 128 130 1915 803 536 194 1916 745 538 40 73 111 1917 789 1918 853 701 108 222 1919 964 610 119 317 1920 779 1921 638 840 1922 663 792 369 1923 663 546 1926 937 917 295 238 362

Tabela 8: Dados referentes ao número de matrícula no município de Limeira entre 1907-1926 retirados dos Anuários do Ensino do Estado de São Paulo, Arquivo Público do Estado de São Paulo

Os dados disponíveis nos Anuários do ensino deixam muitas lacunas que não podemos preencher por falta de outras fontes que fornecessem tais informações, embora algumas análises importantes possam ser retiradas desses dados. Podemos observar que nos anos de 1921 e 1922 a matrícula do Grupo Escolar esteve abaixo da demanda de matrícula das escolas isoladas e, em 1926, a matrículas desses dois estabelecimentos estiveram muito próximas. Entre os anos de 1907 e 1910, os Anuários registraram apenas o número de escolas isoladas e sua localidade, mas não registraram o número de matrículas.

Os dados disponíveis sobre os estabelecimentos particulares são vagos e por vários anos os Anuários não trataram desses estabelecimentos. Sabemos que, em 1918, havia 5 estabelecimentos de ensino particular, mas não foram apresentados seus dados de matrícula.entre essas escolas estava a Escola Alemã do Bairro dos Pires, que, pela primeira vez, apareceu descrita no Anuário.

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Em 1923, Dr. Trajano de Barros Camargo, filho do Coronel Flamínio Ferreira de Camargo, transferiu o Colégio Santo Antonio da cidade de Descalvado para Limeira, custeando seus gastos; porém, não encontramos nos Anuários dados sobre esse estabelecimento, que funciona até os dias de hoje na cidade. Também foi criada, pelo Dr. Trajano, uma Escola Profissional de Aprendizes no interior de sua empresa, a Máquina São Paulo, para os filhos dos empregados maiores de 12 anos, na qual oferecia cursos de carpintaria e de montagem de máquinas com o objetivo de produzirem para a indústria e aumentarem a renda familiar. Não temos dados do período de funcionamento da escola profissional, mas como a morte de Dr. Trajano ocorreu em 1930, a criação da escola deve anteceder esse ano27.

Em 1921, sob a direção das irmãs dominicanas, é inaugurado em Limeira o Colégio São José, funcionando em prédio situado na Rua do Comércio, atual Rua Barão de Cascalho. Em 1928 houve a equiparação da escola quando foi instalada em prédio próprio, onde,até os dias de hoje, exerce suas funções.

A Câmara Municipal sempre esteve envolvida nas questões educacionais e por vários anos manteve materialmente uma quantidade significativa de matrículas, registrando a maior quantidade de matriculados em 1926 com 362 alunos.

As duas primeiras escolas noturnas foram criadas no município no ano de 1912, ambas masculinas, e cuja configuração permanece até 1920, quando, pela primeira vez, apareceram matrículas femininas.

No ano de 1919 foi constituída a primeira Escola Reunida no bairro de Cordeiro, mantida pelo Estado em prédio alugado pela Câmara Municipal. A escola funcionava em um período com 4 classes. Em 1923, havia três Escolas Reunidas: em Cordeiro, eram247 alunos matriculados, em Cascalho, 141 alunos e na Escola do bairro Tatu foram registradas 158 matrículas no ano. Em 1926, a Escola Reunida de Cordeiro deixa de aparecer no Anuário junto às escolas reunidas, pois seus dados constam na estatística referente a grupos escolares, sendo considerado o Grupo Escolar de Cordeiro. Contudo, todos os registros do primeiro grupo escolar

27 Vários autores apresentam a mesma história sobre a criação das duas escolas, porém a fonte utilizada foi a história

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de Cordeiro trazem como referência o ano de 1962 como data de sua fundação, o que explicita o equívoco na informação contida no Anuário.

Se considerarmos que Limeira possuía, nos anos de 1900, uma população urbana em constante crescimento e formada por diferentes composições sociais – os trabalhadores dos diversos segmentos rurais e da pequena indústria local, a elite local, formada por produtores rurais e alguns industriários, e a pequena burguesia que vinha se constituindo – os avanços educacionais não seguiram o mesmo ritmo. As escolas isoladas continuaram a atender uma demanda grande da população, não apenas rural, mas também em grande parte urbana, e a Câmara Municipal precisou manter os investimentos na educação por entender que o Estado sozinho não possuía recursos e nem estrutura para dar conta da quantidade de alunos que o município possuía.

A mesma Limeira que se encontrava à frente das cidades do Estado de São Paulo, por seu pioneirismo na contratação de trabalhadores livres e/ou por ter sido um município importante na economia cafeeira paulista, revelou-se retrógrada no que se refere à educação na Primeira República. O fato de ter implantado um Grupo Escolar em 1901 fez com que a história local buscasse constantemente referenciá-lo como fato grandioso, como se essa instituição, sozinha, representasse o avanço necessário para a educação local. Na realidade, Limeira ficou, e permanece, muito aquém do esperado para sua população e para o avanço tecnológico.

Nos Anuários, fica clara a defasagem que Limeira enfrentava em termos educacionais