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Coronel Flamínio Ferreira de Camargo 28 : Ligando o passado remoto aos primeiros anos da República

Limeira e a expansão do ensino público

2.3 Coronel Flamínio Ferreira de Camargo 28 : Ligando o passado remoto aos primeiros anos da República

“Foi ele um grande amigo da instrução primária”.

(Boletim comemorativo do cinquentenário da instalação do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira, de Limeira 1901- 1951)

“Um dos maiores limeirenses [...] cuja vida poderia se resumir em três palavras - trabalho, austeridade e educação da prole”.

(BUSCH, 1967, p.249)

A afirmação de que o Coronel Flamínio Ferreira de Camargo representou a ligação entre o passado remoto e os primeiros anos da República é bastante romântica e despertou em nós certa curiosidade pela figura do homenageado pela Câmara Municipal. Nossa pesquisa, cujo foco é o Grupo Escolar que recebeu seu nome, faz neste momento um parêntese necessário para satisfazer nossa curiosidade: saber um pouco mais sobre esse homem que a história oral se esforça em elevar e a história oficial, em apagar.

Foi com essa perspectiva que procuramos fontes e familiares do Coronel Flamínio − numa tentativa de conhecer um pouco mais de sua história. Entretanto, a única pessoa que nos forneceu qualquer informação sobre seus descendentes foi a atenciosa museóloga Ariadne, que muito contribuiu conosco no período em que esteve à frente do Museu29, auxiliando-nos e dando- nos muitas informações que não encontramos em documentos. As notícias que obtivemos informavam que toda a família do Coronel havia se mudado de Limeira, ficando apenas um neto, Trajaninho (Trajano de Barros Camargo Filho), com o qual, entretanto, não conseguimos contato,

28 O nome completo do Coronel era Flamínio Ferreira de Camargo, os documentos do grupo escolar analisados

apresentam apenas o nome de Coronel Flamínio Ferreira, preferimos utilizar apenas o nome que corresponde com os documentos oficiais para nos referir ao grupo escolar.

29 Ariadne foi demitida antes de concluirmos nossa pesquisa, ela vinha denunciando que algumas obras do Museu

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pois não ele tem residência fixa na cidade. Ariadne nos forneceu uma entrevista realizada com Trajaninho, que, embora esteja na íntegra, é bastante confusa, e sem o nome do entrevistador, razão pela qual não conseguimos utilizar muitas informações. Na referida entrevista, Trajaninho apenas cita algumas coisas que já havíamos encontrado nos livros da história local, como, por exemplo, que o Coronel cedeu sua ampla residência para ser instalado o Grupo Escolar e mudou- se com sua família para outra casa em sua fazenda, cuja sede já abrigou a Câmara Municipal e a Secretaria de Educação, estando, atualmente, esses espaços vazios.

Figura 2: Palacete Tatuhiby, residência da família do Coronel Flamínio Ferreira de Camargo, imagem disponível no site: http://www.ct2.tur.br/limeira_atrativos.asp

Esta casa recebe o nome de Palacete Tatuhiby, cuja extensão compreendia a chácara onde hoje é o Parque Zoológico e a praça onde funcionava a Secretaria Municipal de Educação. Não sabemos se a Prefeitura adquiriu esse imóvel por doação ou venda, o que sabemos é que não foi preservado o nome da família em nenhum dos espaços.

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Flamínio Ferreira de Camargo era um político conservador, foi Coronel da Guarda Nacional e, segundo Busch (1967), foi influenciado por Campos Sales, de quem era amigo pessoal, a militar pelo Partido Republicano. A historiografia local afirma que Flamínio foi Chefe do Partido Republicano, porém não encontramos nenhum documento que comprove essa informação, ou nos revele o período em quetal nomeação teria ocorrido - seu nome não consta nem mesmo no site do referido Partido.

Foi Presidente da Câmara de Limeira de 1881 a 1882. Esteve à frente de questões políticas locais e estaduais por vários anos, e no início da década de 1900 “por se colocar em franca discordância de orientação prática da política limeirense, que lhe estava imprimindo certo companheiro bastante moço... e intempestivo, retirou-se da direção política local” (BUSCH, 1967, p.250). Busch (1967) não nos dá maiores detalhes de quem seria essa pessoa que tanto incomodou o Coronel Flamínio e nem o que se sucede com ele após deixar a política.

Em 1890, o Coronel Flamínio, juntamente com João e Simão Levy, arrematou em hasta pública a Fazenda Ibicaba por 300 contos de réis, segundo consta no Suplemento Histórico da Gazeta de Limeira (1980, p.29). O Coronel Flamínio cede sua parte da fazenda para o Coronel Levy, que, em 20 de janeiro de 1900, torna-se o único proprietário da Fazenda Ibicaba.

A Câmara Municipal de Limeira, em Sessão de 23 de junho de 1900, solicitou autorização do Estado para criar, no município, um Grupo Escolar em prédio cedido pelo Coronel Flamínio Ferreira de Camargo. Em correspondência à Câmara, em fevereiro de 1901, o subdiretor da Secretaria do Interior, com o Decreto nº 09 de 02 de fevereiro de 1901, autorizou o funcionamento do primeiro Grupo Escolar em Limeira, informando ter povidenciado a viagem de um Inspetor de ensino para realizar a vistoria no prédio e providenciar sua reforma.

Tentaremos entender de quanta bondade se valeu o referido Coronel, quando cedeu sua residência à Câmara Municipal para que se instalasse o Grupo Escolar. Sabemos que essa atitude lhe rendeu a homenagem de ter seu nome no novo grupo que, mesmo antes de ser instalado, já havia sido decretado que seu nome seria Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira. O Vereador Daniel Baptista de Oliveira apresentou, em 09 de fevereiro de 1901, uma indicação à Câmara Municipal:

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Considerando que o Cel. Flamínio Ferreira de Camargo, cedendo “gratuitamente” (grifos nossos) sua casa para a installação e funcionamento do Grupo Escolar desta cidade, que vai ser criado pelo Benemerito Governo do Estado. Considerando ainda que essa cessão representa um poderozo auxilio para a realização, em breve espaço de tempo, desse melhoramento insistentemente reclamado pelas condicções actuais de nossa instrucção publica. Indico que a Câmara Municipal, representante dos interesses geraes desta população, solicite do Governo do Estado, por intermedio do Presidente da Câmara, que ao novo Grupo Escolar, seja dado o nome de Cel. Flamínio, como homenagem aos serviços que acaba de prestar [...]. (ATAS DA CÂMARA MUNICIPAL, 1899- 1902)

Na sessão de 15 de junho de 1901, antes da inauguração do G.E., o Governo denomina, por meio do Ato nº 35, Coronel Flamínio Ferreira, o Grupo Escolar da cidade.

Destacamos, no texto da sessão de 1901, a palavra gratuitamente, pois entendemos assim acontece quando algo é dado de graça, sem custos ou ônus, porém, em documentos da própria Câmara, datados de 1907, encontramos o pedido de indenização feito pelo Cel. Flamínio à Câmara referente às adequações que o prédio deveria sofrer para ficar de acordo com a planta original, informando existir uma escritura referente à doação e cita: “Por essa clausula 4º a Câmara se obriga a entregar ao requerente o prédio cedido exactamente nas condições em que o recebeu [...]” (LIMEIRA, Sessão de 07 de outubro de 1907, Livro de Atas).

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Figura 3: Planta da Residência do Coronel Flamínio, onde funcionou o Grupo Escolar: Quadro pertencente ao Centro de Memória.

Esta é a planta da referida residência em que funcionou o Grupo Escolar até 1907. Algumas alterações foram feitas realmente no prédio. O documento que trata das alterações está bastante ilegível e não conseguimos transcrevê-lo na íntegra, mas foi possível ler que algumas paredes foram demolidas e outras construídas, a fim de que os espaços existentes fossem adaptados.

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Figura 4: Prédio onde funcionou o Grupo Escolar de 1901 a 1907. Fonte: Revista Povo, de junho de 1997

Esta é a imagem mais antiga que conseguimos do prédio que abrigou o Grupo Escolar, e, embora não tenhamos a data, podemos afirmar que nesse período o imóvel já era destinado a fins comercias, devido à placa de Hotel que se encontra na entrada principal e às portas do piso inferior já serem de ferro, demonstrando que ali funcionava algum estabelecimento não especificado em sua fachada. O prédio está localizado na região central da cidade, na esquina das ruas Santa Cruz e Doutor Trajano, esquina de trás da Matriz.

Atualmente o prédio abriga, no andar inferior, várias lojas e, no superior, um hotel, cujo proprietário não autorizou que fizéssemos qualquer foto da parte interna, e mesmo explicando a importância que teria para nossa pesquisa registrar tais espaços, não conseguimos sua autorização. Toda a arquitetura e estética do prédio foram alteradas e nenhuma ação da Prefeitura foi identificada para que o prédio fosse preservado.

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Figura 5: Imagem atual do prédio onde funcionou o Grupo Escolar de 1901 a 1907. Arquivo da autora 03/2009

Podemos concluir que o Coronel não cedeu gratuitamente sua residência, mas a emprestou para instalação do Grupo Escolar, e, ainda, que esse empréstimo custou 3:000$000 aos cofres públicos que seriam pagos no momento de sua devolução.

Pensávamos encontrar mais informações sobre a figura desse cidadão ilustre, mas, ao contrário, percebemos que existe um movimento de parte da sociedade de Limeira que tenta denegrir sua imagem, ou mesmo apagá-la. Os espaços que traziam seu nome foram recebendo novas denominações , como o caso do Grupo Escolar, que, após ser desativado, passou a abrigar outros espaços como museu, biblioteca, centro de cultura, centro de memória e, em nenhum desses espaços, encontramos qualquer referência ao nome do Coronel Ferreira de Camargo. Existia, no Museu Major José Levy Sobrinho, uma sala que prestava homenagem ao Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira, mantendo expostos objetos antigos daquela instituição, mas depois do fechamento para reforma não temos informação se essa sala continuará com a exposição. A chácara, onde o Coronel viveu até 1910, data de seu falecimento, também não tem o

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seu nome − o único espaço público que encontramos com o nome do Coronel Flamínio é a praça que abriga o antigo prédio do Grupo Escolar.

Esse conjunto de informações nos deixou a seguinte questão: Se realmente este homem se preocupou tanto com a educação da “prole” no município de Limeira, por que Limeira não preservou sua história?

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CAPÍTULO III