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Educação de elite ou instrumentalização para o mercado de trabalho? Quem foi instruído no Grupo Escolar de Limeira

A criação do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira

3.3 Educação de elite ou instrumentalização para o mercado de trabalho? Quem foi instruído no Grupo Escolar de Limeira

Sendo Limeira uma cidade de trabalhadores livres e considerando as particularidades que a imigração europeia acarretou na configuração da população do município, buscamos encontrar, nas fontes pesquisadas, informações que dessem conta de nossas indagações: entender a quem era destinada a educação oferecida no Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira - se aos filhos dos operários, às elites locais ou aos dois públicos; havia estrangeiros frequentando as aulas? Em que proporção?

A historiografia vem testemunhando uma homogeneidade social entre os alunos instruídos no Grupo Escolar, cujos bancos serviam, em sua maioria, às elites locais – fato observado tanto na capital quanto nas cidades do interior do Estado. Antunha (1976) afirma que, embora essa particularidade não fosse intencional, “são numerosos os depoimentos sobre as melhores condições sociais e econômicas dos alunos dos grupos escolares, em confronto com os das escolas isoladas” (ANTUNHA, 1976, p.73).

Duas observações podem ser feitas referentes às afirmações do autor, sendo a primeira: as condições sociais e econômicas dos alunos que frequentavam os grupos escolares eram superiores às condições dos alunos que frequentavam as escolas isoladas, e mais, as condições de ensino oferecidas nos grupos escolares eram, de longe, muito melhores que as oferecidas nas escolas isoladas. Essas escolas que, na história da educação do Brasil, se mantinham em condições precárias, sem investimentos do Governo para mantê-las e aos seus professores, com a implantação dos grupos escolares foram deixadas ainda mais em segundo plano.

Outra observação diz respeito às condições sociais dos alunos das escolas isoladas que não aparecem nos estudos desse sistema de ensino, podendo ser equivocadas quando comparadas aos grupos escolares, uma vez que as escolas isoladas serviram de base para a formação dos grupos escolares. Portanto, podemos afirmar que as condições das escolas isoladas nas áreas mais afastadas dos centros urbanos e nas áreas rurais eram realmente inferiores àquelas

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das escolas isoladas dos centros urbanos, que se uniram para formar as primeiras classes dos grupos escolares.

As afirmações de que os grupos escolares foram espaços destinados à elite podem ser referendadas por Reis Filho (1995), cujas análises mostraram que a escola pública, na Primeira República, além de servir às elites era também seletiva, pois “excluía da escola pela repetência e pela consequente evasão, considerável parcela da sociedade” (REIS FILHO, 1995, p.205).

Para Faria Filho e Souza (2006) é por meio dos dados contidos nos livros de matrícula das escolas que os pesquisadores encontrarão informações que lhes permitam inferir sobre a condição socioeconômica dos alunos, além de obterem outras informações como gênero, raça e nacionalidade do alunado.

Não acreditamos que somente o livro de matrículas contenha informações que deem conta das questões relacionadas às condições socioeconômicas, ao gênero, à raça e à nacionalidade. Concordamos, sim, que se trata de uma fonte onde encontramos dados que nos permitem uma análise mais detalhada, mas outros fragmentos também encontrados nos permitem tal análise. Não podemos restringir nossa investigação a uma única fonte, como se as informações ali contidas representassem a verdade absoluta. Sanfelice (2007) aponta a necessidade de se estudar um objeto pelo conjunto de dados disponíveis sobre ele, sem privilegiar um ou outro.

O Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira, desde o início de suas atividades, teve um público bastante diversificado, como comprova a foto da primeira turma de formandos apresentada anteriormente, que nos mostra, em 1907, um negro entre os formandos. Atentando para o fato de que o índice de repetência e evasão era absurdamente grande naquele período, ter um negro entre os formandos demonstra a presença de apenas um “sobrevivente”, mas quantos deles se matricularam e não tiveram oportunidade de concluir seus estudos?

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Figura 19: Alunos da turma masculina do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira (s/d). Acervo do Museu Pedagógico

Podemos observar nessa imagem que havia várias crianças negras na turma, há muitas crianças descalças, sem uniformes e/ou qualquer vestimenta padronizada, com sua professora. Mas o que essas observações nos revelam sobre o período?

Considerando que a imagem apresenta 34 crianças, das quais 5 são negras, ou seja, 15% dos alunos da turma, percebemos ser esse um número consideravelmente grande para aquele período. Se observarmos as vestes das crianças, podemos pressupor que não eram obrigados a usar uniformes ou outro tipo de veste padronizada. Os pés descalços nos revelam muitas coisas, talvez mais que documentos oficiais, pois mostram que as crianças não tinham o que calçar para ir à escola, o que nos responde à pergunta levantada anteriormente sobre a condição socioeconômica dessas crianças.

Em artigo publicado no Jornal O Limeirense, em 09 de fevereiro de 1905, o Diretor do G.E. responde a algumas acusações publicadas no Jornal de Limeira, cujo teor eram as

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supostas exigências que o diretor teria feito referente aos alunos, tais como, a obrigatoriedade de apresentação de certidão de idade, do cartão de vacinação ou revacinação, ambos documentos caros. O jornal denunciava ainda que a quantidade de alunos que frequentava o Grupo Escolar era muito pequena, que o diretor obrigava as crianças a usarem calçados para ir à escola, obrigava também os pais a gastarem com livros, e que, diariamente, as crianças ficavam desabrigadas até se abrirem os portões do estabelecimento. O diretor fez uso do Jornal O Limeirense para esclarecer as acusações:

Taes informações, sr. Redactor, não são totalmente exactas.

Corrijamol-as, pois, por partes, para que o Jornal não labore em engano.

1º) Não é verdade que seja muito pequeno o número de alumnos. Verdade é porém, que, com poucas excepções para ali voltarem os alumnos que o frequentaram no exercicio passado com uma circumstancia a mais: que recebeu muitos alumnos novos. Já ha aqui, portanto, claro equivoco, f acil de explicar: é que todos elles sahindo de seu trabalho em perfeita ordem e disciplina, representam o papel de um punhadinho de graciosos operarios das letras.

2º) O regulamento escolar exige, de facto, certidão de edade e o faz com fins uteis: tal documento, porém, não deve custar 6$000: ha de ter o preço da Lei. 3º) O regulamento citado exige, effectivamente, que as creanças vão ao grupo vestidas com asseio. Eu, porem, NÃO EXIGI, NEM EXIJO CALÇADO ALGUM: PEDI e continuo a PEDIR aos srs. Paes de familia que mandem SI PODEREM, seus filhos calçados á escola. PEDI E PEÇO, NOTE-SE BEM, e isto é cousa publica e sabida:

4º) O governo manda dar as creanças pobres livros que ha no grupo, mas recommenda especialmente as pobres em absoluto. A estas, pois, desde que os peçam fornece-los-ei, caso os tenha.

As demais terão despezas com elles, e essas reduzidas ao estrictamente o necessário, OUTRAS despezas, não ha: creou algum espirito de engano... 5º) As leis do ensino determinam que os professores estejam no grupo ás 10 horas e 45 minutos da manhã. Parecera ao sr. RuyD‟Este que auste dessa hora devam as creanças ficar entregues aos empregados? É possivel que sim, com opinião contraria, porém, de pessoas sensatas. O remedio facil: que venham os alumnos de suas casas ao grupo daquella hora as 11... [...] Ahi fica desfeito o engano, só querendo eu que me julguem corações rectos e consciencias puras. Do amigo obrigadissimo. Eduardo Raggio Zimbres. (O LIMEIRENSE, 9 de fevereiro de 1905).

Analisando o teor da discussão presente no artigo do Jornal O Limeirense, podemos perceber que havia intrigas locais que envolviam o Grupo Escolar e a forma como o mesmo vinha sendo administrado. Não sabemos se eram pessoais ou não as intrigas entre o diretor

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Eduardo Raggio Zimbres e o colaborador do Jornal de Limeira, Ruy D‟Este, mas dessa discussão podemos tirar várias informações importantes para nosso trabalho.

Com relação ao número reduzido de alunos, o Diretor explica que os alunos que frequentavam o Grupo Escolar em determinado ano, não retornavam no ano seguinte. Nós não temos dados que informem se eles foram reprovados ou não, mas entendemos que o fato de os alunos não voltarem para o próximo ano nos permite inferir que tal procedimento se dava pelo fato de não fazer parte da rotina destas crianças o ensino sistematizado e seriado. A forma disciplinada e organizada com que as crianças saíam do Grupo Escolar representando um “punhadinho de graciosos operários” revela que as intenções do ensino ministrado eram realmente aquelas relacionadas com a organização e formação da disciplina do futuro operário.

Entendemos ser importante voltar ao fato de os alunos não retornarem para o exercício do ano seguinte. Várias questões, além da apresentada anteriormente, podem justificar esse procedimento: muitas crianças eram de famílias de produtores rurais e, nos períodos de plantação e de colheita, todos trabalhavam nas pequenas propriedades – fato que também justificaria o não retorno às aulas. Outra questão que devemos considerar é o grande índice de reprovas fazendo com que o aluno se encontrasse em idade para o trabalho sem ter ainda concluído os estudos, podendo ser esse também um dos motivos pelos quais esses alunos não regressarem para concluir seus estudos. Outros tantos motivos poderiam ser aqui apresentados, mas nos limitaremos a esses, por acreditarmos que sejam os que melhor expliquem a evasão naquele período.

O “Regimento Interno das Escolas Públicas do Estado de São Paulo de 1894” (Arquivo do Estado de São Paulo) previa que as matrículas dos alunos fossem realizadas mediante apresentação do atestado de vacinação de varíola, portanto seriam impedidos de estudar os alunos que fossem infectados por doença contagiosa ou repugnante. Porém a Legislação não traz qualquer orientação quanto à certidão de idade – sendo essa exigência posterior à Reforma.

Dentre os itens apresentados pelo Diretor, no artigo, o que mais chamou a atenção foi o fato referente às vestes das crianças e ao material escolar, mais precisamente o livro. Se aos pais faltava-lhes o alimento, como garantir que as crianças fossem calçadas à escola? Como comprar-lhes o livro quando lhes falta até o pão? Os pés descalços revelam a condição social das

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crianças, pois o fato de não irem calçadas revela o quão desprovidas eram essas famílias. Mais importante que um livro, supomos que seja o alimento, mas essa relação necessita de uma análise mais aprofundada. É difícil identificar se realmente lhes faltava o pão, ou se entendiam que o gasto com o livro era desnecessário, uma vez que gastos com a educação não faziam parte da cultura da maioria da população: o que significava, no contexto das famílias no início do século XX, ter um livro para o filho? Qual seria sua real serventia?

Esses dados, no entanto, não nos dão subsídios consistentes para afirmarmos que os alunos eram, em sua maioria ou em sua minoria, pobres, filhos de operários - o que as informações demonstram era a existência deles entre os alunos que frequentavam o Grupo Escolar.

Para nossa pesquisa, o documento que deu resposta às profissões dos pais dos alunos e um panorama geral das suas condições socioeconômicas foram os Livros de Matrículas. Dentre os vários Livros encontrados, utilizaremos para nosso mapeamento os dois mais antigos:um de 1927, da seção feminina, e o outro de 1929, da seção masculina - documentos que serão analisados mais à frente, neste mesmo Capítulo.

Também encontramos, nos mapas de classe, dados que demonstram a existência de um pequeno número de alunos estrangeiros, considerada a proporção de estrangeiros que viviam em Limeira no período. Não podemos nos esquecer de que, nesse período, muitos alunos eram filhos de pais estrangeiros, mas a análise desses dados será realizada mais à frente. Em 1906, havia apenas 1 estrangeiro na seção masculina, cursando o segundo ano. Na seção feminina havia 6 estrangeiras, sendo 1 no primeiro ano, 2 no segundo ano, 2 no terceiro ano e 1 no quarto ano. Nesse ano concluíram os estudos 7 estrangeiros num total de 301 alunos, o que representa apenas 2% do alunado. No ano de 1907, os dados são do mês de novembro e não correspondem à conclusão do ano letivo, mas foram identificados, no mapa, dois estrangeiros na seção masculina, um no 1º ano suplementar e um no 3º ano (provavelmente este é o mesmo estrangeiro que frequentou o 2º ano em 1906). Na seção feminina, em 1907, havia oito estrangeiras, duas no 1º ano, umano 1º ano suplementar, uma no 2º ano, uma no 3º ano e três no 4º ano.

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Ano 1º ano 1º ano

Suplementar

2º ano 3º ano 4º ano

1906 1 2 2 1

1907 2 1 1 1 3

Tabela 9: Número de estrangeiros na Seção Feminina, Dados retirados dos Mapas de Classe, acervo do Museu Pedagógico

Se observarmos o quadro do número de alunas estrangeiras nos anos de 1906 e 1907, podemos perceber que, do ano de 1906 para o ano de 1907, algumas foram promovidas, outras conservadas. A aluna do 1º ano de 1906 foi promovida, aparecendo no 1º ano suplementar em 1907. Em 1906, foram matriculadas mais duas alunas no 1º ano. Quanto às alunas do 2º ano de 1906, uma foi promovida e outra conservada, já que não havia alunas no 1º ano suplementar em 1906 e, se ambas tivessem sido promovidas, haveria duas no 3º ano e nenhuma no 2º ano em 1907, o que não ocorreu. As duas alunas do 3º ano foram promovidas para o 4º e, finalmente, a aluna do 4º ano ficou conservada.

Os dados disponíveis nos Anuários de Ensino, apesar de não possuírem uma continuidade de dados, servem-nos de base para várias análises:

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Analfabetos Promovidos Promovidos que concluíram o curso Conservados % de reprova 1907 287 276 11 1908 313 119 194 62% 1909 269 1910 491 1911 747 500 247 296 30 451 60% 1912 876 511 365 295 36 581 66% 1913 933 548 385 1914 920 550 370 253 29 667 72,5% 1915 803 446 357 310 43 493 61,4% 1916 745 460 285 308 33 437 58,7% 1917 789 1918 853 491 361 360 347 18 506 59,3% 1919 964 554 410 458 336 36 628 65,1% 1920 779 398 381 1921 638 354 1922 663 1923 663 1926 937 487 20 450 48%

Tabela 10: Dados retirados dos Anuários do Ensino referente à matrícula do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira

Novamente, podemos observar que as informações apresentadas em um ano não se mantinham, obrigatoriamente, em todos os anos. A quantidade de filhos de estrangeiros era somada aos estrangeiros de fato, quando havia os dois dados. Mas podemos afirmar que uma porcentagem grande de alunos era descendente de estrangeiros, o que reforça nossa hipótese de que, devido ao grande número de estrangeiros no município, eles fizeram uso das cadeiras do Grupo Escolar. Em 1907, os dados referem-se apenas a estrangeiros e não à sua descendência.

As informações sobre “conservados” apareciam misturadas às informações sobre “eliminados”, não nos permitindo fazer muitas inferências sobre um ou outro. Sabemos que o índice de evasão era grande no período, pois até os anos de 1920 nunca houve 50% de promoção, e apenas em 1926, foram promovidos 52% dos alunos matriculados.

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Os dados de analfabetos presentes nos Anuários são referentes a matriculados, provavelmente ingressantes nos 1ºs anos. Faremos outra análise dos dados de analfabetos disponíveis no Livro de Visitas do Grupo Escolar.

De modo geral, os dados revelam uma quantidade mínima de alunos que concluíram o ensino. Os números são referentes ao ano de 1915, ano em que mais alunos concluíram o curso primário, num total de 43, sendo 15 meninos e 28 meninas e o ano em que menos alunos concluíram o curso primário foi 1918, sendo 10 meninos e 8 meninas.

Outra análise se faz necessária para nos auxiliar na compreensão dos números de alunos que ficaram retidos em cada ano:

Ano Matrícula do grupo escolar Frequência média no ano % da frequência média no ano 1911 747 479 64,1% 1912 876 558 63,7% 1913 933 612 65,6% 1914 920 820 89,1% 1915 803 573 71,4% 1916 745 523 70,2% 1917 789 620 78,6%

Tabela 11: Matriculados e frequência no Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira.- Dados retirados dos Anuários do Ensino

A descontinuidade do ensino já era apontada nas escolas de primeiras letras, manteve- se nas escolas isoladas e não foi diferente no grupo escolar. A ausência dos alunos nos estudos era observada em diversas fontes: nos Anuários, que serviram de base para a elaboração da nossa tabela, na denúncia feita nos jornais locais, no Livro de Visitas e nos Mapas de Classe que consultamos. No ano de 1914, a frequência média atingiu 89,1% dos matriculados, a maior registrada nos anos analisados, enquanto o ano de 1912 registrou a menor porcentagem de frequência, apenas 63,7% dos matriculados foram às aulas. Nenhum documento disponível nos forneceu informações que permitissem afirmar que frequência e reprova estivessem relacionadas, porém ousamos relacioná-las, pois a porcentagem de ausentes e de retidos é bastante próxima. Nos Mapas escolares dos anos de 1906 e 1907, aparecem o número de matriculados, o número de estrangeiros e a quantidade de eliminados − as informações sobre os alunos conservados

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aparecem apenas no Livro de Exames, mas esse documento não foi localizado. Outro dado presente nesses Mapas refere-se à idade das crianças, menores ou maiores de 12 anos. Como o mapa de 1907 se refere ao mês de novembro, não temos dados suficientes para comparar os dois anos, mas faremos a análise dos dados referentes ao ano de 1906.

Classe Seção Masculina Eliminados Maiores de 12 anos Seção Feminina Eliminados Maiores de 12 anos 1º ano 41 5 40 2 1º ano suplementar 39 10 2 32 3 3 2º ano 39 9 4 39 7 1 3º ano 20 5 6 22 1 3 4º ano 11 2 6 18 3 6

Tabela 12: Número de alunos que encerraram o ano letivo de 1906. Dados retirados do Mapa de Classe de 1906, acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo

Os dados referem-se ao fechamento do ano letivo, o número de alunos, em cada seção, é referente aos alunos que concluíram o ano de 1906. A diferença do número de alunos matriculados no 1º ano nas seções masculina e feminina era consideravelmente maior que o número de alunos matriculados nos 4ºs anos, em ambas as seções. Podemos observar que, na seção masculina, o número de alunos no 4º ano é bastante reduzido, até o 2º ano, o número de meninos matriculados era maior que o de meninas, tendo duas meninas a mais no 3º ano e sete a mais no 4º.

Quanto ao número de eliminados, em todos os anos ele é maior na seção masculina; apenas no 4º ano é que se tem uma aluna a mais eliminada que na seção masculina, mas se analisarmos a proporção de eliminados com o número de matrículas desse ano, veremos que houve, proporcionalmente, menos meninas eliminadas que meninos. Mas o que essa análise revela? Num primeiro momento, podemos perceber que a quantidade de meninos e de meninas que frequenta o Grupo Escolar, em 1906, é quase idêntica: 150 meninos e 151 meninas. Se considerarmos o número de eliminados durante o ano, 31 meninos e 16 meninas, veremos que o

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número de meninos matriculados, ao longo do ano, é maior que o de meninas, contudo podemos também perceber que o índice de evasão masculina é o dobro do de meninas no ano de 1906.

Ao analisarmos a idade dos alunos, em ambas as seções, podemos encontrar crianças com grande defasagem entre idade e série, se considerarmos que a idade escolar prevista para ingresso no ensino primário era de 7 anos e algumas crianças encontram-se no primeiro ano complementar com mais de 12 anos. A quantidade de crianças maiores que 12 anos aumenta ao longo do curso primário, sendo que a idade para conclusão dos quatro anos do ensino primário seria entre 10 e 11 anos, desconsiderando a reprova dos alunos. Os dados não mostram exatamente a a idade das crianças ao findar o curso, mas a legislação previa a o limite de 14 anos para a conclusão do ensino primário.

Conforme os dados coletados nos Livros Ponto do Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira, até 1908, as seções femininas e masculinas também possuíam a mesma divisão para os professores, ou seja, para as classes masculinas contratava-se um professor, para as classes femininas, professoras. A partir de 1909, surgem os primeiros registros de professoras para classes masculinas, mas elas estavam restrita aos 1º e 2º anos.

Unimos os dados dos Anuários do Ensino e os registros do Livro de Visitas do Grupo Escolar para verificar as matrículas na seção masculina e feminina, conforme demonstrado na tabela a seguir:

120 Ano Matrícula do grupo escolar Seção Masculina Seção Feminina Promovidos Seção Masculina Promovidos Seção Feminina Eliminados 1904 287 1905 289 1906 324 162 162 47 1907 287 147 140 14 1908 313 162 151 1909 269 140 129 1910 491 - - 1911 747 380 367 125 171 1912 876 445 431 146 185 1913 933 477 456 117 186 1914 920 475 445 111 142 1915 803 420 383 138 172 1916 745 404 341 141 183 1917 789 - - 1918 853 470 383 178 169 1919 964 490 474 168 168 1920 779 376 403 1926 937 489 448

Tabela 13: Dados referentes ao número de alunos, apresentados no Livro de Visitas do Grupo Escolar acervo do Museu Pedagógico e nos Anuários do Ensino do Estado de São Paulo

Com exceção dos anos de 1906 e 1920, a matrícula de meninos sempre foi maior que a de meninas, porém o número de promovidos sempre foi maior entre as meninas. Apenas em 1918, o número de meninos aprovados foi maior. Entretanto, essas inferências não nos permitiram analisar os motivos dessa desproporção, já que o número de meninos matriculados era, também, sempre maior.

Não temos muitas informações sobre o número de eliminados no período