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EsAO Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

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Academic year: 2021

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EsAO

Anos

Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

Aperfeiçoando Oficiais para o Brasil e Nações Amigas

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BIBLIOTHECA DO EXERCITO Casa do Barão de Loreto

– 1881 –

Fundada pelo Decreto nº 8.336, de 17 de dezembro de 1881, por FRANKLIN AMÉRICO DE MENEZES DÓRIA, Barão de Loreto,

Ministro da Guerra, e reorganizada pelo General de Divisão VALENTIM BENÍCIO DA SILVA,

pelo Decreto nº 1.748, de 26 de junho de 1937.

Comandante do Exército

General de Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas Departamento de Educação e Cultura do Exército

General de Exército Mauro Cesar Lourena Cid Diretor do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército

General de Divisão Riyuzo Ikeda Diretor da Biblioteca do Exército Tenente-coronel Marco André Leite Ferreira

Biblioteca do Exército

Palácio Duque de Caxias, 25 – Ala Marcílio Dias – 3º andar 20221-260 – Rio de Janeiro, RJ – Brasil

Tel.: +55 (21) 2519-5716 – Fax +55 (21) 2519-5569 www.bibliex.eb.mil.br

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Organizador

Sérgio Luiz Augusto de Andrade de Almeida

2019

EsAO

Anos

Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

Aperfeiçoando Oficiais para o Brasil e Nações Amigas

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BIBLIOTECA DO EXÉRCITO Publicação 967 Coleção avulsa

Copyright © 2019 by Biblioteca do Exército Coordenador: André Cezar Siqueira

Revisão Textual: Martieli Machado

Projeto Gráfico, Diagramação e Capa: Núbia Santos Imagens: Francisco Lima/EsAO

E74 Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (Brasil).

EsAO: 100 anos aperfeiçoando oficiais para o Brasil e as Nações Amigas/Organizador: Sérgio Luiz Augusto de Andrade de Almeida. – Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2019.

136 p.: il.; 29 cm – (Biblioteca do Exército; 967.

Obra Avulsa)

ISBN 978-85-7011-598-0

1. Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (Brasil) – História. I. Almeida, Sérgio Luiz Augusto de Andrade de. II Título. III. Série.

CDD 355.00981

Os relatos e opiniões expressos nesta obra refletem exclusivamente o pensamento dos autores, e não necessariamente os da Editora ou da Instituição.

Impresso no Brasil Printed in Brazil

(5)

CMT Ex

Gen Ex Eduardo Dias da Costa Villas Bôas DECEx

Gen Ex Mauro César Lorena Cid DESMIL

Gen Div André Luís Novaes Miranda.

Gen Div João Batista Bezerra Leonel Filho DPHCEx

Gen Div Riyuzo Ikeda BIBLIEx

Ten Cel Marco André Leite Ferreira

AGRADECIMENT OS

(6)

6

Como comandante da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, tenho a honra de apre- sentar esta obra, cuja finalidade é homenagear aquela que é uma das maiores esco- las do Exército Brasileiro e um vetor que, a partir de sua criação, proporcionou uma verdadeira revolução no Sistema de Educação do Exército, cuja elevada qualidade dos oficiais aperfeiçoados desde então, bem atesta a excelência dos trabalhos aqui conduzidos durante um século.

Na “Casa do Capitão” passam todos os “centuriões” da Força, oriundos das di- versas linhas de formação de oficiais. Ela garante a sua adequada capacitação tática, habilitando-os para o exercício das funções do Estado-Maior e para o comando das Unidades da Força Terrestre. A realização de seus cursos é requisito essencial para o acesso aos postos de oficial superior.

Durante cem anos a Escola manteve-se na vanguarda da educação militar, apli- cando métodos e práticas inovadoras; ensinando e divulgando modelos e aplicações táticas que mantiveram a capacitação dos oficiais aqui aperfeiçoados entre os me- lhores do mundo, no que concerne ao estudo da doutrina militar terrestre.

Estimulando a pesquisa, a reflexão e o pensamento crítico; transmitindo conhe- cimentos em profundidade; gerando amplas competências e fornecendo as bases filosóficas, morais e doutrinárias para a progressão na carreira das armas, a Escola se revela como um santuário de profissionalismo, permitindo o desenvolvimento das diversas capacidades que a Força Terrestre necessita.

O ambiente da EsAO é também um local de felizes reencontros de camaradas e de novos conhecimentos entre os jovens capitães, em que a família militar agora desem- penha um importante papel. Seus cursos são, sobretudo, momentos de renovação dos mais caros ideais da vida castrense de solidificação dos valores institucionais e do desenvolvimento de novos estímulos para o prosseguimento nessa maravilhosa profissão de serviço à Pátria.

Essa longa história é aqui retratada de modo cronológico e representa um es- forço de diversos civis e militares que se envolveram no projeto de comemoração do centenário da Escola. Tenho a certeza que o esforço foi recompensado. Esta obra preencherá um vazio na bibliografia militar brasileira, contribuindo para que pos- samos conhecer e valorizar um pouco mais a nossa querida Escola de Aperfeiçoa- mento de Oficiais, cujo passado pioneiro abre janela para o futuro glorioso, cada dia mais presente.

Boa leitura!

Gen Bda Marcos de Sá Affonso da Costa

Comandante da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

APRESENT AÇÃ O

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"Semeias o ideal de um novo tempo no peito do jovem varonil, buscando despertar o sentimento de lutar para a glória do Brasil”. Esta estrofe da canção da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) reflete, de maneira inequívoca, o espírito rei- nante naquela que é conhecida como a “Casa do Capitão”. Nesse diapasão, o livro EsAO • 100 anos aperfeiçoando oficiais para o Brasil e as Nações Amigas realiza um resgate preciso e oportuno da trajetória da Escola no decorrer dos anos, as influên- cias e a importância no contexto do ensino militar.

É um privilégio prefaciar a presente publicação, que marca os cem anos desse san- tuário de profissionalismo, especialmente pela oportunidade de ter comandado a Escola entre os anos de 2006 e 2008. Naquela ocasião, pude compartilhar com os jovens capi- tães as complexas exigências que se apresentavam, fruto de dinâmicas conjunturas, em particular, o ambiente multidimensional do combate do século XXI.

Nos seus capítulos iniciais, o livro percorre as diversas fases da Escola, enfati- zando que sua gênese, ocorrida após a Primeira Guerra Mundial, decorreu da pre- mente necessidade de reorganização do Exército Brasileiro, principalmente no que tange a atualização da Doutrina. Nesse sentido, a obra nos mostra que, na busca por estabelecer os parâmetros para a modernização da Força Terrestre, foi contratada a Missão Militar Francesa, chefiada, inicialmente, pelo renomado general Gamelin, responsável pela condução desses trabalhos.

No prosseguimento, a obra traz à tona a criação da Comissão Militar Mista Bra- sil-EUA, no início da década de 1940, que estabeleceu a influência estadunidense no âmbito do Exército. Evidentemente, nossa Escola não ficou imune a esse processo, atualizou a concepção doutrinária e incorporou as experiências adquiridas pela For- ça Expedicionária Brasileira na Segunda Grande Guerra.

A obra examina a participação sempre proativa da EsAO em face das transforma- ções ocorridas em nosso País e no mundo. Já nos anos de 1980, o livro discorre sobre a preocupação com a manutenção dos padrões de instrução, a despeito da grave cri- se econômica. Na década seguinte, é ressaltada a busca pela excelência nos métodos pedagógicos, elaborados pelo Grupo de Trabalho para o Estudo da Modernização do Ensino (GTEME), um marco na evolução do Sistema de Ensino do Exército.

Próximo do seu desfecho, a obra aborda a participação dos integrantes da Escola nos grandes eventos - Jogos Mundiais Militares, Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016 -, bem como analisa a importância da família militar no contexto das atividades escolares, apresentando as alegrias e as dificuldades do cotidiano no Rio de Janeiro, e, em particular, na Guarnição de Deodoro.

Com o livro EsAO • 100 anos aperfeiçoando oficiais para o Brasil e as Nações Ami- gas é prestada justa homenagem à Escola Tática, que leva a cargo a tarefa de prover os capitães-alunos das ferramentas para comandar as unidades das armas, quadros e serviços, de implantar a mentalidade de armas combinadas e de reforçar na jovem oficialidade os comprometimentos com os camaradas, com o Exército e com os valo- res sagrados da profissão militar.

Brasília, 2 de agosto de 2018.

Eduardo Dias da Costa Villas Bôas Comandante do Exército Brasileiro

PREF ÁCIO

(8)

SU MÁRIO

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10

Introdução

12

A origem

e o contexto histórico da criação da EsAO

24

A evolução do ensino na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

31

A influência da Missão Militar Francesa

35

A influência da doutrina norte-americana

39

Os comandantes

58

O ensino militar e o aperfeiçoamento dos oficiais: militares, política e sociedade na modernização profissional (1920-1945)

67

Duas décadas de transformações:

a esao no concerto dos anos 1940 e 1950

73

A Escola

de Aperfeiçoamento de Oficiais durante o período

do Regime Militar

84

A EsAO no contexto histórico de 1985 a 2000: ideias, valores, relacionamento com a sociedade, eventos políticos, econômicos, sociais e militares

92

A EsAO no contexto histórico de 2001 aos dias atuais: ideias, valores, relacionamento com a sociedade, eventos políticos, econômicos, sociais e militares

100

A família militar na EsAO – tempos e lembranças

105

EsAO: 100 anos de tradição e profissionalismo,

aperfeiçoando oficiais com competência

120

Ser Capitão

122

Currículo dos autores

126

Dedicatória

128

Referências bibliográficas

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10

INTR ODUÇÃ O

Recebi com especial satisfação o convite – irrecusável – para escrever a introduçã.o

do livro Centenário da EsAO e sinto-me à vontade para fazê-la, em razão dos muitos anos de vida profissional que desfrutei nesse estabelecimento de ensino de nosso Exército, como aluno, instrutor e comandante. Esse período contribuiu para me aper- feiçoar profissionalmente e fortalecer minha compreensão sobre a importância da Escola no sistema de educação do Exército Brasileiro.

Esse sistema repousa em eficiente cadeia de estabelecimentos de ensino que permeiam verticalmente e horizontalmente a preparação dos profissionais da força terrestre nos campos cognitivo, afetivo e anímico. Nessa cadeia, da qual é peça rele- vante, está inserida a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, com ampla e indiscutí- vel influência na qualidade dos oficiais de nosso Exército.

No componente vertical da estrutura de ensino, a EsAO, a “Casa do Capitão”, aperfeiçoa as bagagens profissionais dos oficiais e os habilita para o prossegui- mento de suas carreiras, como oficiais superiores. Observa os mesmos conceitos e práticas que colocam o sistema educacional em elevado nível de eficiência. Nos dias atuais, dispondo da experiência de seis ou sete anos de carreira, os capitães chegam a esse centenário estabelecimento de ensino na plenitude de seu vigor físico e inte- lectual, abertos para a recepção de novos conceitos e conhecimentos, dispostos a absorver a evolução impiedosa e avassaladora que hoje em dia caracteriza a qualifi- cação profissional em qualquer carreira e, logicamente, na militar.

Convém assinalar que a EsAO os acolhe em um estágio de suas carreiras que as- sociam o entusiasmo da juventude à maturidade de uns tantos anos de caserna, que lhes permite aliar os conceitos discutidos em salas de aula e em práticas no terreno à realidade vivida nas diversas guarnições de onde procedem. Nada mais conveniente para um profissional das armas e para a escola que os acolhe atingir seus objetivos.

O tempo de vivência na Escola e na Vila Militar também assinala o feliz reencon- tro de companheiros e a grata oportunidade de congraçamento de famílias, ainda nas etapas iniciais de sua formação, com filhos pequenos e as preocupações natu- rais dessa fase da vida. Tal singularidade proporciona, em última análise, o fortale- cimento da camaradagem e dos laços de aproximação familiar, fatores essenciais na consolidação da grande família verde-oliva. Por conseguinte, revela-se como vetor de reafirmação dos valores caros à instituição.

Nada mais justo, portanto, que, neste ano em que comemora seu centenário, o Exército Brasileiro e a EsAO sejam presenteados com este livro, que registra a me- ritória participação da Escola na história da Força Terrestre e marca sua trajetória de sucesso.

Recontando a existência da Escola sob uma ótica contemporânea, jovens autores, militares e civis, alinham com rara sensibilidade e em sucessivos capítulos, eventos notáveis, tendências, momentos e personagens que construíram essa valiosa história.

Ao longo da interessante e atraente narrativa os leitores são remetidos à origem da EsAO, criada em janeiro de 1919, e fazem uma proveitosa viagem no tempo. Constatam como evoluiu o ensino em nosso Exército, desde as etapas

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iniciais até as práticas atuais e mais modernas. Podem perceber os pontos de inflexão no pensamento doutrinário do Exército, passando pela visão da Missão Militar Francesa, de presença tão marcante, e, adiante, pela introdução da dou- trina norte-americana. Identificam com facilidade o que ocorre presentemente, quando é incansável a busca de uma doutrina própria, com base nas experiên- cias peculiares e únicas vivenciadas pelos militares que vestem o verde-oliva, no plano interno e em missões no exterior.

O leitor recebe informações sobre seus sucessivos comandantes, lembrados em um capítulo específico. Certamente, todos eles contaram com a participação de quadros competentes de auxiliares que lhes permitiu alcançar o êxito que o livro lhes atribui.

Acompanhando as décadas, os autores ressaltam a constante preocupação com a modernização profissional e as transformações que, passo-a-passo, fo- ram sendo introduzidas e assimiladas: na metodologia de ensino, na valorização do aluno na composição do binômio ensino-aprendizagem – com participação cada vez mais ativa do instruendo – nos processos de avaliação, na atualização e contínua lapidação de currículos, na incorporação dos vetores da moderna tecnologia, no refinamento das relações chefe-subordinado, na valorização dos recursos humanos da força e no fortalecimento da família militar.

O livro revela como, ao longo de um século, a EsAO, graças ao esforço e à competência de seus quadros, soube acompanhar a evolução doutrinária, o pro- gresso dos artefatos bélicos, da tecnologia e das práticas de combate, o aperfei- çoamento dos processos de ensino e o exercício sadio da liderança, componentes indispensáveis à preservação do Exército Brasileiro como exemplo de escola de patriotismo e consciência profissional para todo o País. Sempre foi e será instru- mento fundamental para atualização e modernização da Força Terrestre.

A importância de uma instituição em uma sociedade, em uma nação, se ma- nifesta pela competência de seus quadros e por sua capacidade na preservação de sadios valores, caminho inconfundível para conquistar crédito e respeito. A EsAO desempenha papel de destaque na construção dessa competência e no for- talecimento desses valores. São os pilares sobre os quais repousam o prestígio conquistado pelo Exército no seio da sociedade e seu destaque na história do País.

Agora, a centenária escola permanece jovem na maneira de pensar, de acompa- nhar e absorver a modernidade, jovem na disposição de seus quadros e na vontade de servir. Afinal, ao militar cabe, em última análise, servir, exercer uma vocação.

Servir, com altivez e consciência profissional, à instituição, à sociedade e ao País.

Centenário da EsAO, registrando a longa e profícua existência da EsAO, justa e merecidamente destaca e reafirma, na história do Exército Brasileiro, a magni- tude do papel desempenhado pela “Casa do Capitão”.

Gen Ex R1 Gleuber Vieira

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A origem e o contexto

histórico da criação da EsAO

Ten Cel QCO Sérgio Luiz Augusto de Andrade de Almeida Profª Ma. Wilma Ramos de Pinho Barreto

Uma viagem no tempo

Do início da colonização até a independência, o Brasil não possuiu um Exército homogêneo e or- ganizado. Durante o período colonial, havia as mi- lícias, as ordenanças e o Exército regular, os quais compunham um todo heterogêneo. Os oficiais não eram vistos como profissionais, os salários baixos e pagos por vezes com atraso, desqualificavam a pro- fissão daqueles que defendiam a colônia. Tentando minorar a situação, a metrópole portuguesa criou a graduação de cadete para atrair os homens livres para o Exército.

Quando o Marques de Pombal (1750-1777) admi- nistrou Portugal, houve uma tentativa de se organi- zar as forças terrestres no Brasil e oficiais europeus foram contratados para organizar as tropas de além mar. Estabeleceram-se assim os serviços de infanta- ria, artilharia e cavalaria e o primeiro código militar organizado, escrito pelo Conde de Lippe, implantado em Portugal, foi transplantado para a colônia e per- maneceu em vigor até 1895.

A transferência da Família Real Portuguesa para o Brasil contribuiu para reorganização militar, fato esse concretizado com a criação da Real Academia Militar, em 4 de dezembro de 1810, sendo suas ativi- dades de ensino iniciadas no dia 23 de abril de 1811, em um processo de institucionalização militar, busca- va uma estrutura formal em detrimento do empírico.

Com o advento da independência do Brasil, o Exército se encontrava, ainda, organizado como no período colonial, como uma tropa de linha, e dividia espaço com as ordenanças e as milícias. Os equipa- mentos, bem como a estrutura da tropa, estavam aquém das necessidades da Nação. O Exército não podia ser considerado Nacional, pois em seus qua- dros havia oficiais portugueses, o que desagradava seus correligionários, assim como a sociedade. Após as lutas pela independência, um conjunto de merce-

nários estrangeiros, recrutados por D. Pedro I, foi mais um complicador para os quadros do Exército.

A Constituição outorgada de 1824 pretendeu or- ganizar o Exército Brasileiro, seus artigos 145 e 150 estabeleceram os fundamentos jurídicos das Forças Armadas, os atos disciplinares, soldos, quadros e promoções. O capítulo oitavo estabeleceu as três ar- mas (cavalaria, artilharia e infantaria), e um Estado Maior Geral, um Corpo de Estado Maior e um Corpo de Engenheiros. A partir desse momento, novas leis específicas deveriam regular o que não foi privile- giado na Constituição.

A precariedade da força e a inexistência de pa- drões profissionais se tornaram um problema duran- te o Primeiro Reinado, o Exército era nesse momento um “corpo” multifacetado composto por oficiais bra- sileiros, portugueses, mercenários estrangeiros e voluntários, que conviviam com as ordenanças e as milícias. Somente durante o Período Regencial com a criação da Guarda Nacional, em 1831, é que foram absorvidas as milícias e as ordenanças.

O servir ao Exército, nesse momento, era visto como atividade secundária, pois seus integrantes podiam sofrer castigos físicos, havia constantes deslocamentos, e o pagamento não tinha data defi- nida. A população masculina livre preferia compor a Guarda Nacional e rejeitava, assim, o recrutamento do Exército. Aliado a toda essa situação, a falta de regulamentos específicos para cada arma, deixava à mostra a desorganização das tropas.

No início da década de 1850, uma série de refor- mas foi efetuada, mas a maioria adotou regulamen- tos estrangeiros específicos para cada arma.

A artilharia, pelo Decreto nº 705, de 5 de outu- bro de 1850, adotou as instruções organizadas pela comissão de prática de artilharia para o serviço das diferentes bocas de fogo, e montadas em reparos a

Onofre; regulou a artilharia montada as instruções organizadas pelo marechal de campo João Carlos Pardal, e para as manobras das baterias de campa- nha a da Guarda Real francesa; para a arma de cava- laria em 1862, o regulamento do marechal-general Beresford; para a de infantaria o sistema de Bernar- do Antônio Zagalo,e a do Marquês de Barbacena para instruções com espada (AMARAL, 1872, p. 234;

NASCIMENTO, 2015, p. 190-192).

Os regulamentos e as leis não eram organizadas, tão pouco possuíam versões impressas para instru- ção dos soldados. Somente em 1872, a impressão da obra indicadora da legislação militar, escrita e orga- nizada pelo tenente-coronel Antônio José do Ama- ral, que se obteve um impresso organizado para ser usado na tropa (NASCIMENTO, 2015).

No final do Período Regencial, a atuação da Guar- da Nacional durante as rebeliões regenciais expôs a falta de treinamento e disciplina de seus componen- tes. Nesse momento, paralelamente, era necessário não só reformar a Guarda Nacional, como se estru- turar o Exército, tornando-o um todo homogêneo e dando-lhe um caráter nacional.

Em 1850, foi sancionada em 19 de setembro a Lei nº 602 dando nova organização a Guarda Nacional, no mesmo período, o ensino militar entra em fase de profissionalização e ampliação. A Academia Militar foi transformada em duas escolas: na Escola Militar, na Praia Vermelha, em 1857; e a Escola Central, no largo do São Francisco, para os cursos teóricos, foi adotada em 1851, as reformas efetuadas por Manoel Felizardo.

As matérias concernentes a atividade fim da tropa, entre 1850 e 1860, estavam reduzidas aos anos finais do curso. A instrução prática, tanto na escola quanto na tropa, era inexistente. A falta de treinamento e de estudos práticos pode ser ilustra- da quando ocorreu em 1852 uma manobra e uma

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instrução prática de artilharia nos campos do Sa- litre (próximo à Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro), por ordem do ministro da guerra. A revista O Militar (1854) e o Indicador Militar (1862) fizeram registro do ocorrido, afirmando que uma manobra similar jamais foi posta em prática, nas manobras do Salitre afirmavam que “a maior parte de seus oficiais [da artilharia] foi pela primeira vez exercitar-se em atirar ao alvo com peças de calibre 3 e 6 e um obus de 5 ½ polegadas, boca de fogo que lhes era quase desconhecida”, ou seja, os ofi- ciais pouco sabiam sobre o funcionamento de um canhão,sendo a instrução de artilharia do Salitre, em 1852, a única instrução prática existente até então. O próprio ministro da guerra, Manoel Feli- zardo, reconhece, em 1852, que os oficiais de ar- tilharia no Salitre não sabiam atirar com um obus (NASCIMENTO, 2015, p. 193-194).

Nos países europeus, a formação das armas es- tava a cargo das escolas militares, direcionadas a oficiais. A Escola Militar era um dos passos obriga- tórios aos militares que desejavam seguir carreira nas armas científicas, engenharia e artilharia. Por volta de 1858, todos os oficiais destas armas ha-

viam concluído o curso superior da Escola Militar, enquanto somente 8,1% dos oficiais da infantaria e da cavalaria eram formados. Até 1891, em torno de 56% dos oficiais de cavalaria e infantaria eram for- mados pela Escola Militar. Assim, a Escola Militar de meados do século era uma instituição heterogênea:

alferes, sargentos, soldados e cadetes eram alunos da Escola, e a frequência em seus cursos não era re- quisito para a inserção de um soldado no corpo de oficiais. Os critérios para a designação de patentes militares estavam muito mais ligados a concessões vinculadas à origem social ou política do candidato do que sua instrução militar. A Lei de Promoções, da administração Manoel Felizardo, inseriu a questão do mérito e da antiguidade para acesso ao quadro de oficiais. Estabeleceu ainda a necessidade de to- dos os oficiais de todas as armas se formarem pela Escola Militar, instituindo a proposta de um quadro de oficiais permanente e profissional. A Lei tinha como objetivo unificar as formas de acesso à carrei- ra do oficialato militar, determinando que somente egressos dos cursos de cada arma poderiam ter a patente de capitão, ou seja, a Escola passava a ser um requisito para a profissão de militar.

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EsAO • 100 anos aperfeiçoando oficiais para o Brasil e as Nações Amigas 14

Em 1859, nova lei passou a permitir que somente um terço dos oficiais de infantaria e cavalaria tives- se os respectivos cursos da Escola Militar. Embora o ensino militar tenha sido ampliado, os exercícios práticos não eram evidenciados na Escola Militar para formação de seus oficiais. Outros complica- dores como a existência de vários regulamentos e a adoção de sistemas estrangeiros, com instruções em dissonância com a realidade, aliado a um código de conduta baseado ainda no antigo Conde de Li- ppe, utilizado como código penal para a força, eram um entrave à profissionalização do Exército.

Um novo acontecimento mudaria o cenário polí- tico, o início do conflito contra o Paraguai deixou à mostra a real situação em que se encontrava nossa defesa. Os efetivos do Exército eram limitados, não havia material bélico suficiente e moderno, a organi- zação para deslocamento da tropa era inadequada, os treinamentos inespecíficos. A guerra expôs novas técnicas de combate. As armas de infantaria, cavala- ria e artilharia, se combinaram e surgiu um novo mo- delo de deslocamento no campo de batalha, diferente das batalhas travadas na região (FERRER, 2005).

Assim, com o objetivo de reforçar o Exército, não só a guarda foi arregimentada, como se incentivou o alistamento, convocando os “Voluntários da Pátria”.

Os homens livres atenderam a convocação, menos

os da aristocracia, pois vislumbravam a possibili- dade de alterarem o status quo, cessou assim o re- crutamento para a Guarda Nacional. Contudo, com o prolongamento do conflito e as péssimas condições nos campos de batalha, o número de voluntários di- minuiu e o governo recorreu aos alistados na Guarda Nacional e negociou com senhores de escravos para que os mesmos e seus filhos fossem liberados colo- cando em seus lugares os escravos, dando a estes a alforria para que pudessem servir na guerra.

Após o término do conflito, o Exército era uma força composta na sua maior parte composta por li- bertos. A situação do Exército continuou praticamente a mesma do período anterior à guerra contra o Para- guai, mas a experiência adquirida no conflito formou uma geração de oficiais, que via o Exército como fator de equilíbrio e progresso da nação. Muitos militares se filiaram ao Partido Republicano e à República a melhor forma de governo para o Brasil. A guerra não só expôs a fragilidade da Guarda Nacional, bem como os problemas do próprio Exército, considerado des- preparado para combater ameaças externas, mas a vitória deu legitimidade para que as cobranças se tor- nassem uma constante para reorganização da Força.

A necessidade de estabelecer uma doutrina militar terrestre motivou os integrantes, não só do Ministério da Guerra, bem como do próprio Exérci-

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to a buscar a profissionalização dos seus quadros, colocando como prioridade o estabelecimento de um arcabouço teórico e prático que fosse eficaz no ato de se fazer a guerra, com efetiva autonomia para o emprego da Força Terrestre quer no aparato tático, bem como bélico. Essa busca perdurou du- rante a Primeira República.

O Decreto nº 330, de 12 de abril de 1890, assinado pelo ministro da Guerra Benjamin Constant, e pelo presidente Deodoro da Fonseca serviu de base a todos os outros regulamentos que trataram das reformas para o ensino militar.

Havia ainda um longo caminho a percorrer, para que o oficial pudesse realmente aliar a teoria à prá- tica, ou seja, a tônica era redimensionar a questão do ensino, tornando-o mais prático. Dessa forma, em 1897, a Lei nº 463, de 25 de agosto e o Decreto nº 2.881, de 18 de abril de 1898, respectivamente, reorganizaram as escolas militares. As mudanças propostas visavam à redução do número de escolas militares e a transformação da Escola Militar em Es- cola Militar do Brasil. Buscava-se a redução do con- teúdo teórico e a ampliação dos estudos práticos.

O século XX emergiu sem se resolver a questão da qualificação profissional dos oficiais. Os regula- mentos do ensino militar não deram conta de resol- ver a questão, os oficiais de tropa viviam em quar-

téis mal equipados, com armamentos obsoletos, em contraposição aos oficiais formados pela Escola Mi- litar da Praia Vermelha, que se envolviam por vezes com assuntos políticos. A participação desse último grupo na Revolta da Vacina, no final de 1904, pos- sibilitou o fechamento da Escola Militar do Brasil e sua transferência para Campos de Realengo, inician- do uma nova etapa para na formação dos oficiais, a

“Era do Realengo” (CASTRO, 1995).

O governo continuava tentando reformular as questões ligadas ao ensino militar, e a prerrogativa da Lei nº 1.316, de 31 de dezembro de 1904, que em seu décimo Artigo autorizava o presidente da Repú- blica a reorganizar todo o serviço relativo ao ensino militar, possibilitou que em 1905, com o Decreto nº 5.698, de 2 de outubro se promulgasse o novo regulamento para as escolas do Exército, assinado pelo presidente Rodrigues Alves e pelo ministro da Guerra, general Francisco de Paula Argollo, de novo pretendia-se eliminar o excesso de assuntos teóri- cos enfatizando os conhecimentos práticos.

O ano de 1905 seria ainda marcado pela gênese do grupo “jovens turcos”, denominação essa rece- bida em virtude da comparação com um grupo de jovens oficiais turcos, que também estagiaram no Exército alemão e ao retornarem a terra natal par- ticiparam ativamente da vida política entrando em um partido progressista.

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O ministro da Guerra, marechal Francisco de Paula Ar- golo (1902-1906), designou oficiais de infantaria, cavalaria e artilharia para que servissem durante dois anos no Exército alemão e adquirissem experiências para transmiti-las nos cursos, dando a esses um cunho prático e profissional em detrimento do acadêmico, estabelecendo parâmetros para a criação de um Exército moderno, e verificar a possibilidade de adequá-las à realidade brasileira. Um segundo grupo foi enviado para estagiar entre outubro de 1908 a setembro de 1910. Ainda ocorreu o envio de um terceiro grupo para es- tágio, em 1910, após os entendimentos advindos entre o ma- rechal Hermes da Fonseca, então ministro da Guerra, com o governo alemão, por ocasião da visita a nação alemã, além do acordo se iniciaram as conversações para a vinda de uma missão militar alemã. Esse último grupo fora o maior e influenciou quando de sua volta a Instituição.

Os militares Bertoldo Klinger, Leitão de Carvalho e César Augusto Parga Rodrigues, durante a viagem de re- gresso ao Brasil, resolveram lançar uma revista que contri- buísse para a formação técnica e profissional dos oficiais.

A revista lançada em 10 de outubro de 1913, com o nome de A Defesa Nacional, organizada por oito ex-estagiários do Exército alemão, e alguns adeptos da campanha de mo- dernização do Exército, entendiam que os oficias e praças, deveriam receber as instruções por meio de exercícios táticos. Sua linha editorial visava à defesa da profissionali- zação do militar; da modernização do Exército, da compra de material bélico da Alemanha e da vinda de uma missão militar dessa nação, bem como a implantação do serviço militar obrigatório, já que em 1908 havia sido votada a lei que implantava esse serviço, além de outros postulados que possibilitariam mudanças no cenário político-econô- mico (LUNA, 2011, p. 195). Com a declaração de guerra à Alemanha, foi descartada a opção pela missão desse país.

O grupo acabou desenvolvendo um pensamento po- lítico próprio, considerando o Exército como uma força capaz de participar e de conduzir o processo de desen- volvimento político e econômico brasileiro (LUNA, 2011, p. 195). Esse discurso influenciou, de certa forma a elabo- ração dos regulamentos que viriam a posteriore.

O novo regulamento conhecido como 1913-1914, tentou mais uma vez reafirmar a necessidade da instrução prática profissional e centralizou a formação dos oficiais em duas escolas, ambas em Realengo, a Escola Militar do Realengo e a Escola de Prática do Exército. Esse regulamento seria alterado em 1916, pelo Decreto de nº 11.912, de 26 de ja- neiro em relação à matrícula, determinando que um terço das vagas seriam ocupadas pelos formados nos Colégios Militares do Rio de Janeiro e de Porto Alegre, e as vagas restantes seriam disputadas entre civis e os praças de pret.

Novamente em 1918, mais uma vez se encetou uma mudança que surtisse efeito positivo para profissionali- zação dos quadros. O Decreto nº 12.977, de 24 de abril, assinado pelo ministro da Guerra general José Caetano de Faria, e pelo presidente Wenceslau Braz, reformulou o ensino militar, tendo como ponto central duas catego- rias de ensino: o teórico-prático e o prático. Elencava um

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conjunto de ações para que os instrutores fossem escolhidos a partir de uma prova prática.

Assim em 1918, por meio do Aviso nº 758, de 15 de julho, em meio aos debates sobre a atuação de instrutores militares estrangeiros, o ministro da Guer- ra apoiado pelos oficiais “Jovens Turcos”, que defen- diam uma missão alemã, mandou abrir novos trâmites para a seleção do quadro de instrutores da Escola Militar do Realengo, que a partir de 1919, se realizaria por meio de uma prova prática. Era o início da primei- ra missão de instrução de cunho nacional a atuar em uma escola militar brasileira, conhecida como Missão Indígena, embora a base de sustentação ideológica da Missão tivesse cunho militar germânico, a Missão In- dígena teve a primazia de generalizar, unificar e con- solidar a instrução militar no Exército (ALVES, 2002).

Dentre os escolhidos para a função de instrutor estavam dois ex-estagiários do Exército alemão: o capitão Epaminondas de Lima e Silva e o 1º tenente Euclides Figueiredo. Estava iniciado mais uma vez uma longa caminhada de estudos, no qual a Missão Indígena no desempenho de suas funções minis- trou os conhecimentos necessários para um oficial de tropa exercer seu mister.

O grupo renovador dos Jovens Turcos com o consentimento da cúpula do exército aumentou o número e o tempo dos conteúdos do ensino prá-

tico, norteando os instrutores da Missão Indígena entre os anos de 1919 e 1923. Os novos instrutores utilizavam os modernos manuais traduzidos do alemão pelos Jovens Turcos. Passaram a atuar no campo da instrução e da disciplina (RODRIGUES, 2010; LUNA, 2011; ALVES, 2002).

A organização da Escola Militar do Realengo en- tre os anos de 1919 e 1922 só foi possível devido à articulação entre os “Jovens Turcos”, membros do Estado-Maior do Exército e os instrutores da Mis- são Indígena. O objetivo era formar o oficial capaz, sabedor das questões práticas da guerra, e distan- ciado da política. A geração da Praia Vermelha daria lugar a uma nova geração, caracterizada pela busca da profissionalização e modernização do Exército: a

“geração do Realengo”. O trabalho terminaria em 5 de julho de 1922, pois nesse dia, a Escola do Realen- go declarou-se em revolta, solidária aos revoltosos do Forte de Copacabana. Era a volta da política à Es- cola Militar do Realengo e a caracterização daquela que ficou conhecida como a “Geração do Realengo”

(ALVES, 2002). Mais do que nunca novos rumos doutrinários teriam que ser percorridos, com uma melhor adequação aos planos práticos, onde a táti- ca deveria ser a concretização da teoria, profissio- nalização seguiria seu curso.

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EsAO • 100 anos aperfeiçoando oficiais para o Brasil e as Nações Amigas 18

A reorganização do Exército não poderia pres- cindir de um espaço físico que atendesse as necessi- dades da tropa, incluindo um local para qualificação.

O ministro da Guerra Hermes da Fonseca resolveu transferir os aquartelamentos do entorno do centro da cidade para o subúrbio, e interligá-los aos “Cam- pos de Realengo”.

Desde 1805, as terras realengas, doadas como ses- marias a Ildefonso de Oliveira Caldeira, o Visconde de Gericinó, e mais tarde retomada, eram consideradas ponto estratégico. Nessa região de povoamento escas- so, foi desde a segunda metade do século XIX utilizada para realização de testes com foguetes fabricados no Laboratório Pirotécnico do Campinho.

Em 1857, parte das terras foram cedidas pela Câmara Municipal ao Ministério da Guerra com a finalidade de ser construída nessas paragens uma escola militar e um quartel para a Escola Geral de Tiro do Campo Grande.

A abertura da estrada de ferro de D. Pedro II, inau- gurada, em março de 1858, mais tarde Central do Bra- sil facilitou o acesso as terras realengas, com a criação

da estação ferroviária de Sapopemba, em 8 de março de 1859 (em 1907 o presidente da Estrada de Ferro Central do Brasil, Aarão Reis, propôs a mudança de nome da estação: de Sapopemba para Deodoro), nas terras da Fazenda Sapopemba, passou a ser o ponto central de interligação com as terras de Santa Cruz, e a outros ramais contribuindo para o deslocamento dos contingentes. Em 2 de dezembro de 1878 foi inaugura- da a estação de Realengo, dando acesso a região e as futuras construções. No espaço entre a estação e a es- cola militar, existia um hangar onde foram construídos os primeiros dirigíveis.

Iniciou-se a instalação da Escola Geral de Tiro do Campo Grande iniciando o processo para trans- formar as “terras realengas” e suas imediações em áreas militares. O governo investiu em vários tipos de obras, como “quartéis, paióis, fortificações e linhas de tiro”, além da “implantação de uma infraestrutura urbana que atendesse a população deslocada para a localidade” (VIANA, 2010, p. 30, 32-33).

A linha de tiro ficou pronta em 1865, mas só seria reaberta em 1872, devido aos esforços de guerra des-

locados para Guerra do Paraguai. Nessa época as ins- talações já estavam inadequadas, a extensão da linha de tiro, não mais satisfazia o alcance atingido pelos novos armamentos, assim sendo sua extensão foi am- pliada e novas instalações foram organizadas para as experiências e exercícios de tiro (VIANA, 2010, p. 36).

Em 1889, a Escola Preparatória foi anexada a Es- cola Militar da Corte, e em 1898 se integraria a Escola Superior de Guerra, origem da Escola Militar do Bra- sil e funcionou na Praia Vermelha até 1904, quando foi transferida para Realengo (VIANA, 2010, p. 67-71).

A partir do final do século XIX, e das primeiras décadas do século XX, a necessidade em ampliar as dependências militares fez com que a região re- cebesse atenção especial e passasse a ter investi- mentos para organizar as construções militares. O Exército pretendia expandir suas instalações, o que requeria uma infraestrutura que permitisse o ensino militar, e a viabilidade para o aquartelamento.

Novas instalações foram organizadas, em 1897 instalou-se o 1º Batalhão de Engenheiros, a fábrica de cartuchos e artifícios de guerra, em abril 1898,

A Vila Militar do Rio de Janeiro

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conhecida como Fábrica do Realengo de Munição, desativada em 1978, a Escola de Tática e Tiro do Exército, nomeada Escola Preparatória de Cadetes do Exército, depois do Decreto nº 5.698, de 2 de outubro de 1905, se tornaria a Escola de Artilharia e Engenharia, mais tarde Escola de Aplicação da Cavalaria e Infantaria, e ainda Escola de Aplicação de Artilharia e Engenharia. A Escola de Cavalaria e Infantaria seria extinta em 1911 com a transferência da Escola de Guerra de Porto Alegre para Realengo.

O Campo de Marte, conhecido como “Praça do Canhão”, ao lado da ferrovia, ergueu-se, em 1906, a estação ferroviária da futura Vila Militar teve ini- ciada sua construção em 19 de agosto de 1907 e inaugurada em 18 de agosto de 1910 e a Escola de Guerra em 1911, renomeada como Escola Militar de Realengo, transferida em 1943 para Resende como a Academia Militar das Agulhas Negras.

Entre outras edificações temos também a Escola Municipal Rosa da Fonseca, fundada em 12 de maio de 1913. Ocupava a casa da rua Duque de Caxias, nº 7 no limite entre Deodoro e Vila Militar. A fundadora

da escola foi a professora adjunta de 2ª classe dona Amasiles Rocha Xavier de Barros, casada com o então tenente Xavier de Barros (futuro general), residentes à Praça Duque de Caxias, nº 2, na Estação de Deodoro.

Nesse período o diretor de Instrução Pública era o Dr. Ramiz Galvão e a escola foi fundada com setenta e oito alunos que frequentavam um único turno. Em dezembro de 1913 foram feitos os pri- meiros exames de promoção, presidido pela única professora dona Amasiles Xavier de Barros, tendo assistido às provas os Srs. general Inácio Alencastro Guimarães, capitães José Azevedo da Silveira Sobri- nho e Antônio Leite de Magalhães Bastos Junior e o 1º tenente Manoel Maria de Castro Neves.

A primeira turma que concluiu o curso era com- posta por três alunas: Zilah Lemos, Maria Lemos e Odaléa Penha Brasil. As três primeiras diretoras da escola foram: Prof.ª Amasiles Xavier de Barros (1913- 1915), dona Maria Isabel Panasco Bezerra de Menezes (1915) e dona Polidora Maria Tourinho (1915-1923).

Em 1914, no governo do marechal Hermes Rodri- gues da Fonseca a escola foi transferida para o prédio

edificado pelo Ministério da Guerra, à avenida Duque de Caxias e em 1918 a escola recebeu a denominação de Rosa da Fonseca. No ano de 1938 a escola sofreu uma grande reforma e foi reinaugurada em 19 de maio de 1938. Na festividade esteve presente o presi- dente da República, Dr. Getúlio Dorneles Vargas.

A implantação da Vila Militar era necessária, e fazia parte do processo de adequação aos tempos modernos.

Em 1907 foi organizada a Comissão Construtora, responsável em planejar e executar a implantação da Vila Militar, composta por militares de diversas armas. Destacou-se nessa comissão o 2º tenente Magalhães Bastos, “responsável por dirigir todos os trabalhos do escritório técnico, desde o início da Comissão, organizando os diversos projetos e cal- culando toda a estrutura metálica das casas e quar- téis”, com “todas as condições de higiene, comodi- dade e conforto”. Também era membro da Comissão o tenente-engenheiro Palmyro Serra Pulcheiro.

Era necessário um local que atendesse as novas demandas. Assim, fazendas e engenhos ao lado das terras realengas começaram a ser desapropriadas e

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as terras do Engenho Sapopemba e da Fazenda Gericinó que pertenciam no início do século XX ao Conde Sebastião do Pinho, foram arrematadas em um leilão e compradas em 27 de maio de 1908. A Fazenda possuía uma oficina de ferreiro, fundição, serraria, usina elétrica e uma olaria e fontes de água que abasteciam a região. Cabia a comissão estabelecida para construção fazer os levantamentos e nivelamentos dos terrenos.

Dessa forma, a Vila Militar se interligaria as unidades de Realengo.

A Vila Militar teve seu primeiro quartel erguido em 23 de março de 1908, e pelo Decreto nº 6.971, de 4 de junho de 1908 foi instituído o 1º Regimento de Infantaria conhecido como 1º Batalhão de Infantaria Motorizado, denominado Regimento Sampaio, instalado no dia 13 de julho de 1911. Nesse mesmo ano, 1908, a 6 de agosto, Affonso Pena, pelo Decreto nº 7.054, criou as Brigadas Estratégicas, formadas por um conjunto de regimentos, cada qual composto por edifícios de diferen- ciados usos como “quartel, escritório, enfermaria e oficinas, além de casas individuais para oficiais e sargentos” (McCANN, 2007, p. 144-145).

Hermes da Fonseca destinou uma das brigadas para a Vila Militar, que passou a ser a sede da 1ª Brigada Estratégica, que deu origem a atual 1ª Divisão de Exército.

A Comissão Construtora seguiu os princípios modernos à época de salubridade e de circulação estabelecendo um modelo espacial com ruas retilíneas, uniformes e largas, com traçado ortogonal, estruturada a partir de um eixo viário principal, arborizado. A área residencial dos oficiais era caracterizada por casas em unidades isoladas no lote, com iluminação e ventilação em todos os cômodos, em quadras retangula- res, com áreas verdes e recebiam iluminação e ventilação em todos os cômodos. O conjunto simbolizava os novos tempos da instituição e es- tavam de acordo com os modernos princípios arquitetônicos da época, valorizando os oficiais que ali transitariam (BONATES, 2016, p. 3-6).

Nesse conjunto de obras que se ergueriam e atendendo a continua va- lorização e organização do Exército foi transferida para Vila Militar a Esco- la de Aperfeiçoamento de Oficiais, EsAO, que passou a ocupar um pavilhão destinado para esse fim em 1924, situado à Avenida Duque de Caxias.

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A Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais foi cria- da pelo Decreto Federal de nº 13.451, de 29 de janei- ro de 1919, pelo então ministro da Guerra general de brigada Alberto Cardoso de Aguiar, que estabeleceu também as bases para reorganização do ensino mi- litar, além de criar os cursos de Aviação, Veterinária, Administração e de Aperfeiçoamento. Em seu artigo terceiro previa que o aperfeiçoamento das armas seria feito na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, cujos instrutores seriam os da missão estrangeira contratada, além de designar que durante o período de instrução os capitães e 1º tenentes pertencentes às armas do Exército deveriam frequentar a escola.

O segundo parágrafo estabelecia que a EsAO dispu- sesse de tropas de infantaria, cavalaria, artilharia e engenharia a fim de completar a instrução dos ofi- ciais e aperfeiçoá-los como instrutores e comandan- tes das pequenas unidades.

Posteriormente o Decreto nº 3.741, de 28 de maio de 1919, autorizou o governo a contratar na França, uma missão militar para fins de instrução no Exér- cito Brasileiro e estabelecia que o chefe da missão servisse junto ao Estado-Maior na qualidade de as- sistente técnico e teria a superintendência de todos os serviços confiados aos oficiais da missão.

A missão francesa fora a escolhida, pois a parti- cipação de militares brasileiros ao lado de batalhões franceses durante a Primeira Guerra Mundial e o su- cesso obtido pela França no conflito contribuíram na

decisão para a escolha da doutrina como base para a reestruturação do Exército.

Em 8 de setembro de 1919 ocorreu a assinatura do contrato que possibilitou o desembarque, em março de 1920, na cidade do Rio de Janeiro, dos primeiros instrutores franceses, chefiados pelo general Maurice Gamelin, como previa o Decreto Legislativo nº 3.674, de 7 de janeiro de 1919, que os integrantes da missão eram de sua exclusiva escolha. A missão militar fran- cesa ficaria incumbida principalmente da instalação e direção da Escola de Aviação, da Escola de Aperfeiçoa- mento de Oficiais, da Escola de Intendência e da Escola de Veterinária, além de comandar a Escola Superior de Guerra (Escola de Estado-Maior), embora alguns des- ses cursos já existissem foram revistos e aperfeiçoa- dos sob a orientação dos instrutores franceses.

A Missão estava assim constituída pelos seguin- tes membros:

– comandante superior diretor técnico: coronel Alberto Barat;

– instrutores: major Dumay (infantaria), Gichon (cavalaria), Bresard (artilharia), Guiriot (engenha- ria), Tubert (ligação), capitão De mareiul (mestre de equitação), tenente Lemehauté (armamento e enge- nhos especiais de acompanhamento).

Os trabalhos foram inaugurados em 8 de Abril de 1920, em sessão solene presidida pelo então ministro da Guerra João Pandiá Calógeras e com as- sistência das demais autoridades.

Ocupou num primeiro momento uma sede provi- sória, até que fossem terminadas as obras do edifício definitivo. Após quatro anos de funcionamento, foi transferida para o local indicado pelo coronel fran- cês Alberto Barat, aprovado pelo aviso ministerial nº 31, de 5 de março de 1920, um pavilhão construído especificamente para esse fim na Vila Militar. O pri- meiro comandante foi o major José Maria Ferreira, que comandou a escola até julho de 1920. Na época a abreviatura usada para se referir à escola era EAO.

Em seu primeiro ano de funcionamento, em 1920, formou 92 alunos, sendo 37 da arma de infantaria, 20 da arma de cavalaria, 28 da arma de artilharia e 7 da arma de engenharia. A arma de comunicações seria criada mais tarde pela Lei nº 28, de agosto de 1956.

Apesar de criada antes da contratação da Mis- são Militar Francesa, a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais tornou-se, juntamente com a Escola de Estado-Maior, o grande vetor de disseminação dessa nova doutrina e seus oficiais-alunos foram capacita- dos para o exercício do comando e chefia das uni- dades de suas armas, quadro e serviços, habilitan- do-os para o exercício das funções de Estado-Maior de unidade e demais funções de oficial superior não privativas do Quadro de Estado-Maior da Ativa do Exército e qualificar instrutores para a difusão dos novos e modernos ensinamentos doutrinários oriun- dos da França.

A Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

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A evolução do ensino na Escola

Profª PhD Teresa Cristina de Carvalho Piva Profª Ma. Sonia Maria Soares Moura

Conforme o constante na Portaria nº 584, de 18 de junho de 2014, que aprova o Regimento da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, a EsAO é um estabele- cimento de ensino militar superior, de aperfeiçoa- mento de oficiais, das linhas de ensino militar bélico, de saúde, científico-tecnológico e complementar, diretamente subordinada à Diretoria de Educação Superior Militar (DESMil) destinada a:

I - planejar, executar e avaliar as atividades liga- das ao ensino e à aprendizagem dos cursos por ela ministrados;

II - realimentar o Sistema de Ensino com informa- ções obtidas na própria experiência de execução de suas atividades, com vistas ao contínuo aprimora- mento do processo ensino-aprendizagem; e

III - cooperar com o Estado-Maior do Exército (EME) no desenvolvimento da doutrina de emprego da Força Terrestre, incluindo a elaboração de ante- projetos de manuais.

Para se apresentar uma evolução do ensino da EsAO desde a sua criação, no início do século XX até os dias atuais, foi necessário realizar uma vasta pesquisa bibliográfica, documental e iconográfica em alguns bancos de dados como o Arquivo Histó- rico do Exército, a Biblioteca do Exército e a própria Biblioteca da EsAO.

Um breve histórico

As normas que regulavam o início do ensino na Es- cola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército foram baseadas do Decreto Federal nº 13.451, datado de 29 de janeiro de 1919, mais precisamente em seu artigo 3º.

É importante ressaltar que desde o início da criação da instituição a finalidade era o de atualizar e modernizar o Quadro de Oficiais do Exército Brasileiro, recebendo capitães e tenentes antigos das diferentes armas, com o objetivo de:

– completar a instrução técnica dos oficiais a fim de desempenharem as funções de comandantes de peque- nas unidades (companhias, esquadrões e baterias); e

– prepará-los para os postos superiores, até o de comandante de regimento.

A Missão Militar Francesa (1920-1940) teve como primeira liderança o general Maurice Gamelin (1872- 1958). Havia necessidade de que se modificasse o pensamento militar da época, para que transforma- ções fossem feitas e que o Exército se capacitasse mais em suas ações (NETO, 2005).

A doutrina orientada para a solução de situações problemas foi tão significativa que o general Game- lin assim relata essa visão em seu discurso no dia da inauguração:

Inaugurando o Curso de Esta- do-Maior e de Revisão, disse ontem que, formando Oficiais de Estado-Maior, pensávamos até constituir um Centro de Es- tudos Militares Superiores. Na Escola de Aperfeiçoamento, nossas ambições são mais mo- destas; mas, ficai persuadidos, de não menor utilidade, porque, em campanha, somente o Alto Comando e alguns Oficiais dos grandes Estados-Maiores têm verdadeira ocasião de praticar a “arte da guerra” (...) (MALAN, 1988, p. 102).

Nesse mesmo evento, o ministro Pandiá Caló- geras assim se expressava: “Óbvia a necessidade de aproveitar tempo e achar meio mais rápido de instrução do que o estudo e a aplicação dos regula- mentos, oriundos da experiência colhida, e de que o envio à Europa de levas de oficiais que ali aprendes- sem as doutrinas novas (...)” (MALAN, 1988).

Dessa forma, baseado num plano nitidamente de execução, a Escola procurou desde seu início orien- tar os alunos para o estudo de problemas táticos, abandonando-se o estudo exclusivamente acadêmi- co. Essa linha de pensamento marcou o ensino mili-

tar brasileiro até os dias atuais e vem norteando as mais variadas propostas pedagógicas no tocante ao aperfeiçoamento dos oficiais.

Assim, como na Escola de Estado Maior co- meçava cedo a designação de oficiais brasileiros para auxiliarem os oficiais franceses, a finalidade da Escola de Aperfeiçoamento, inicialmente, se encaminhou para ministrar aos oficiais alunos os conhecimentos necessários para que se tornassem aptos a cumprirem o duplo papel que incumbe a cada oficial: chefe durante a paz e na guerra, e ins- trutor durante a paz.

Em 1928, a abordagem pedagógica para o curso foi expressa no Boletim do Exército nº 450, datado de 30 de abril de 1928, a qual apresentou o progra- ma para o Curso de Oficiais Superiores que deve- ria ser ministrado na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais com base na Lei de Ensino Militar. Como orientações, determinava, ainda, a finalidade do cur- so (instrução continuada de oficiais combatentes), os métodos de ensino, a organização e divisão do curso, oferecia orientações para os que deveriam ministrar o curso e finalizava com um mapeamento e assuntos gerais.

Posteriormente, uma atualização dessas normas foi feita no ano de 1933, sendo registrada no Decre- to nº 22.350, datado de 12 de janeiro de 1933. Este documento tratou da aprovação do Plano Geral de Ensino Militar.

Nesse decreto, o Plano Geral de Ensino no Exér- cito, em seu artigo 2º, abordava quatro pontos es- senciais: ênfase à instrução elementar, procurando melhorar a situação dos incorporados analfabetos e, ao mesmo tempo, formar artífices, inclusive especia- listas em aviação; instrução secundária, destinada a preparar candidatos ao recrutamento para as esco- las de formação de oficiais; instrução profissional, destinada à formação de reservistas em geral e, em particular, à formação e especialização de sargentos do Exército bem como no preparo e aperfeiçoamen- to dos oficiais da reserva e, finalmente, a instrução

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