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MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS

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Academic year: 2019

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PUC/SP

Maristela Araujo de Matos

Educação Previdenciária como Exercício de Cidadania

MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS

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Educação Previdenciária como Exercício de Cidadania

MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Direito das Relações Sociais, sob orientação do Professor Doutor Miguel Horvath Júnior.

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A presente dissertação trata da educação como exercício de cidadania na ampliação e garantia de proteção previdenciária. A educação tem como finalidade desenvolver e aperfeiçoar a capacidade humana, formando o ser humano de maneira completa, para que o indivíduo esteja apto a conviver em sociedade, tornando-se um cidadão sujeito de direito. Para tanto, os direitos previdenciários positivados constitucionalmente como direitos fundamentais sociais são valores fundamentais que devem ser respeitados e aplicados pelo Estado. Ao lado disso, deve-se ter presente que as políticas públicas consistem em programas de intervenção estatal, em conjunto com a participação popular, com vistas à realização e efetivação dos direitos fundamentais, em que estão inseridos os direitos previdenciários. Com isso, os direitos previdenciários têm por escopo a proteção quanto a possíveis contingências sociais, entretanto não têm alcançado de forma absoluta a sua finalidade, considerando-se que uma grande parcela da população economicamente ativa está excluída de cobertura previdenciária, em virtude da ausência de informação e conhecimento sobre tais direitos e deveres, uma vez que está desprovida de educação previdenciária, o que insurge em afronta ao exercício de cidadania, sendo este o objeto do presente estudo.

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This thesis addresses education as an exercise of citizenship concerning the extension of and guarantee to social security protection. Education aims at developing and enhancing human capability, shaping well-rounded human beings, and thus enabling individuals to live in society as citizens entitled to rights. For such, the right to social security is guaranteed by the constitution as a fundamental social right and must be respected as such and enforced by the State. Additionally, it should be remarked that public policies consist of state intervention programs, which together with popular participation focus on implementation of and respect to fundamental rights, including the right to social security. Therefore, the right to social security focuses on protection against potential social contingencies, a purpose that has not been fully achieved, considering that a large portion of the economically active population is not covered by social security, owing to lack of information and knowledge about such rights and duties, since they are deprived of education about social security, which hinders the full exercise of citizenship and constitutes the object of this study.

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CF - Constituição Federal

CNIS - Cadastro Nacional de Informações Sociais CNJ - Conselho Nacional de Justiça

CNPS - Conselho Nacional de Previdência Social CTPS - Carteira de Trabalho e Previdência Social DER - Data de entrada de requerimento

GRPS - Guia de Recolhimento de Previdência Social IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICJ - Índice de Concessão Judicial

INPS - Instituto Nacional da Previdência Social INSS - Instituto Nacional de Seguro Social

IRCJ - Índice de Concessão e Reativação em Grau de Recurso Administrativo ou Ação Judicial

JEF - Juizado Especial Federal

LOPS - Lei Orgânica de Previdência Social MPS - Ministério da Previdência Social PPP - Perfil Profissiográfico Previdenciário RGPS - Regime Geral de Previdência Social

SINPAS - Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social TNU - Turma Nacional de Unifomização

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INTRODUÇÃO... 10

CAPÍTULO 1 - EDUCAÇÃO... 12

1.1 CONCEITO DE EDUCAÇÃO... 12

1.2 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO... 16

1.3 EDUCAÇÃO E AS LEIS... 23

CAPÍTULO 2 - O DIREITO PREVIDENCIÁRIO COMO DIREITO FUNDAMENTAL SOCIAL... 27

2.1 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS... 27

2.1.1 Direitos humanos fundamentais ... 30

2.2 CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO ... 36

2.2.1 Origem da Previdência Social... 36

2.2.2 Evolução histórica da Previdência Social no Brasil ... 38

2.2.3 Conceito de Direito Previdenciário... 43

2.3 OS DIREITOS PREVIDENCIÁRIOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988... 46

CAPÍTULO 3 - POLÍTICA PÚBLICA PREVIDENCIÁRIA E SUAS REPERCUSSÕES... 51

3.1 CONCEITO DE POLÍTICAS PÚBLICAS... 51

3.2 A POLÍTICA PÚBLICA PREVIDENCIÁRIA INSERIDA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988... 57

3.3 A POLÍTICA PÚBLICA PREVIDENCIÁRIA COMO FORMA DE EXPANSÃO DE PROTEÇÃO PREVIDENCIÁRIA ... 60

CAPÍTULO 4 - CIDADANIA COMO UM DIREITO PREVIDENCIÁRIO... 66

4.1 CONCEITO DE CIDADANIA... 66

4.2 CIDADANIA PREVIDENCIÁRIA ... 69

4.2.1 Das Prestações Previdenciárias ... 70

4.2.1.1 Dos benefícios de incapacidade... 71

4.2.1.2 Aposentadoria por idade... 71

4.2.1.3 Aposentadoria por tempo de contribuição ... 72

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4.2.1.6 Salário-maternidade ... 74

4.2.1.7 Auxílio-acidente ... 75

4.2.1.8 Pensão por morte ... 76

4.2.1.9 Auxílio-reclusão ... 77

4.2.1.10 Habilitação e reabilitação profissional ... 78

4.3 A EFETIVIDADE DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO... 79

CAPÍTULO 5 - EDUCAÇÃO PREVIDENCIÁRIA... 84

5.1 DIFICULDADE DA LINGUAGEM PREVIDENCIÁRIA ... 85

5.2 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PREVIDENCIÁRIA - PEP ... 90

5.3 AÇÕES JUDICIAIS ... 92

5.4 MEIOS DE COMUNICAÇÃO ... 95

5.5 SINDICATOS ... 96

5.6 UNIVERSIDADES E ESCOLAS ... 97

5.7 ONGs – TERCEIRO SETOR ... 98

5.8 O PAPEL EDUCADOR DA FAMÍLIA ... 99

CONCLUSÃO... 101

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INTRODUÇÃO

O propósito central deste trabalho é apresentar de que maneira a educação, mediante a abertura de novos canais de participação popular, em conjunto com o Estado, pode tornar efetivo o Direito Previdenciário estendendo a cobertura previdenciária e a igualdade social, e, dessa forma, reduzindo a utilização do Poder Judiciário e ampliando o exercício de cidadania.

A presente dissertação se destina, inicialmente, a abordar de maneira geral o conceito de educação, sendo que tal expressão será novamente apontada nos capítulos posteriores, relacionada com o Direito Previdenciário, sendo o principal conteúdo deste trabalho.

O segundo capítulo deste estudo versa sobre os direitos fundamentais como gênero dos direitos previdenciários, em que serão verificadas a origem e evolução dos direitos fundamentais, sociais, humanos e por fim dos direitos previdenciários. Em virtude da evolução histórica constitucional, o direito à previdência está inserido no artigo 6º da Constituição Federal reconhecido como uma espécie de Direito Social, bem como um direito fundamental, pois desde a hodierna Carta Magna tais direitos passaram a fazer parte do capítulo de Direitos e Garantias Fundamentais.

A partir deste capítulo, observa-se que o Direito Previdenciário surgiu em razão de questões sociais relacionadas aos trabalhadores que passaram a exigir instrumentos de proteção para a solução de determinadas situações dando ensejo à criação de uma legislação específica para cobertura dessas contingências.

O primeiro sistema de seguro social surgiu na Alemanha, tendo como idealizador o Chanceler Otto Von Bismarck, posteriormente outros países passaram a se preocupar e editar leis de proteção previdenciária, principalmente nos casos de doença. No Brasil, desde o século XVI já havia algumas leis de proteção assistencial, mas somente em 1923, mediante a Lei Elói Chaves, nasce a Previdência brasileira.

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No capítulo que se refere às políticas públicas serão observadas as principais reformas e inclusões legais previdenciárias após o advento da Constituição Federal de 1988, que teve como finalidade a ampliação da proteção previdenciária.

Após o estudo do significado de Direito Previdenciário e de Políticas Públicas, compreende-se que todos necessitam de uma proteção especial do Estado, o que significa dizer que não basta apenas existir uma legislação de proteção previdenciária, é fundamental que tais direitos sejam efetivados, para então se concretizar o exercício de cidadania.

No desenvolvimento do quarto capítulo, aponta-se a cidadania como exercício dos direitos previstos pela ordem jurídica, ou seja, quando estes direitos não forem respeitados ou concretizados, exige-se a necessidade da criação de condições mínimas para que tais direitos sejam respeitados e produzam efeitos jurídicos, mediante requisitos legais.

O último capítulo é o resultado dos quatro capítulos antecedentes e nele será demonstrado que mesmo existindo legislação constitucional e infraconstitucional estabelecendo diretrizes previdenciárias ainda há inúmeras pessoas desprovidas de cobertura previdenciária.

Dentro dessa linha de raciocínio, é que iniciaremos analisando a importância do instrumento da educação, de que forma a capacitação da consciência do indivíduo em conhecer a realidade, adquirir conhecimento de seus direitos torna-o um cidadão.

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CAPÍTULO 1 EDUCAÇÃO

Pretende-se nesse capítulo apresentar um conteúdo mínimo de condições objetivas que permitam compreender o conceito, a evolução histórica educacional e a finalidade das leis como mecanismos de educação no âmbito jurídico.

A partir do significado de educação será abordado de que forma esse instrumento contribui para o progresso e a concretização do direito previdenciário.

1.1 CONCEITO DE EDUCAÇÃO

O homem é um sujeito inacabado e não um objeto, diante disso, ele tem necessidade de transmitir conhecimento a outros seres humanos com o objetivo de conservar, aprimorar e obter cultura, sendo esta um conjunto de valores essenciais para viver em sociedade e com dignidade.

O homem postula a existência de algo que facilite o processo de crescimento, de aperfeiçoamento, e que também transforme, regule e oriente para um dinamismo perpétuo, denominado educação.1

Daí porque, deve-se inicialmente compreender o significado de educação, sendo absolutamente relevante conhecer a sua etimologia.

A origem etimológica do termo educação decorre de dúcere: trazer, levar.

Educação é a forma nominalizada do verbo educar. [...] diremos que educação veio do verbo latim educare. Nele, temos o prevérbio e – e o verbo-ducare, dúcere. No itálico, donde proveio o latim, dúcere se prende à raiz indo-européia DUK –, grau zero da raiz DEUK –, cuja acepção primitiva era levar, conduzir, guiar. Educare, no latim, era um verbo que tinha o sentido de "criar" (uma criança), nutrir, fazer crescer. Etimologicamente, poderíamos afirmar que educação, do verbo educar, significa "trazer à luz a idéia" ou filosoficamente fazer a criança passar da potência ao ato, da virtualidade à realidade. Possivelmente este vocábulo deu entrada no século XVII."2

1 ESCALONA, Sara López. Antropologia e educação. São Paulo: Edições Paulinas, 1983. p.44. 2 MARTINS, Evandro Silva. A etimologia de alguns vocábulos referentes à educação. Olhares e

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A etimologia da educação também pode ser definida como "ato de extrair ou desenvolver as faculdades físicas, intelectuais e morais do educando"3.

A partir desse conceito, depreende-se que a educação tem a tarefa de guiar o ser humano ao conhecimento de maneira abrangente, isto é, em vários setores, não apenas intelectuais, mas também físicos e psíquicos.

Deve-se ter em mente que, ao definir educação, não se trata apenas de educação informal, isto é, a que alguém adquire por vontade própria. A educação tem significado extenso e restrito, sendo assim, em sentido lato, a educação abrange todas aquelas experiências do indivíduo, pelas quais o conhecimento é adquirido; o intelecto, o espiritual, e interesse próprio. Em sentido reduzido, a educação restringe-se à educação formal4, conscientemente planejada e sistematicamente aplicada,

realizada por várias instituições de educação e, principalmente, pela escola.5

A partir disso, nota-se que o processo educacional consiste em um estímulo de transformações dando ensejo à inserção do indivíduo na sociedade, como um membro operante, de tal maneira a conscientizar-se6 dos problemas sociais, e ainda

tendo o conhecimento dos seus direitos, o que o torna útil ao grupo social e apto para o exercício da cidadania.

Assim, constata-se que a educação é uma forma de capacitação da consciência do indivíduo em superar as percepções abstratas, sair para o mundo, conhecer a realidade, sendo uma ação de socialização e de moralização.

3 SANTOS, Theobaldo Miranda. Noções de filosofia da educação. 8.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1960. p.41.

4 O educador Paulo Freire critica a educação formal – escola –, ao afirmar que um dos princípios essenciais para estruturação da cultura é a substituição da escola por um movimento de educação popular, em que participam um coordenador e algumas pessoas no trabalho comum pela conquista da linguagem, por meio de um trabalho que tem como condição essencial o diálogo. (FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. 10.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. p.5).

5 REDDEN, John D. Filosofia da educação. 2.ed. Rio de Janeiro: Livraria Agir, 1961. p.30.

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Ademais, a educação é um processo histórico. Trata-se de um mecanismo por meio do qual o homem adquire sua essência de acordo com o contexto social, transforma o indivíduo e a sociedade. A educação é uma atividade teleológica, o que consiste em dizer que a formação do indivíduo sempre visa a um fim; é um processo exponencial, isto é, multiplica-se por si mesma com sua própria realização; conquanto a educação seja um fenômeno cultural ela é, por natureza, contraditória, ou seja, implica simultaneamente conservação e transformação.7

Nesse sentido, a capacidade de criação permite a formação da cultura que tem o condão de inserir o indivíduo à sociedade, sendo o intermediário entre a sociedade e a formação humana, trata-se de um instrumento que produz a identidade e a diferença dos indivíduos.

A cultura pode ser compreendida como um conjunto de conhecimentos referente às noções essenciais dos principais domínios do saber8, o que consiste em

dizer que o indivíduo que possui um mínimo de cultura geral, pela via do processo de educação, tem conhecimentos dos seus direitos.

A partir disso, considerando-se o homem um ser social e moral, a educação pode ser compreendida como uma atividade moral, que deve considerar a natureza moral do ser humano, o propósito para que foi criado, as leis naturais da conduta moral e a questão da liberdade e consciência humana. A partir da concepção moral, revela-se o homem não apenas como indivíduo, mas como ser social. Desse modo, a verdadeira educação deve reconhecer estes dois aspectos da natureza humana: o indivíduo e o social. Em relação ao aspecto individual, a educação deve, portanto, promover a liberdade do indivíduo e estimulá-lo a viver em harmonia com a sua natureza moral como ser humano e não apenas para a sociedade. Quanto ao aspecto social, a educação deve ajudar a inserir o indivíduo na família, célula social primária, depois, da família e da escola, no Estado.9

Diante dos conceitos doutrinários abordados, a educação se resume em todas aquelas experiências do indivíduo, obtidas por meio de instituições informais quanto formais, em que se adquire conhecimento, se forma o caráter, se esclarecem

7 SILVA, Mônica Ribeiro da. Educação do campo em movimento: teoria e prática cotidiana. Organização de Sônia Guariza Miranda, Sônia Fátima Schwendler. Curitiba: Ed. UFPR, 2010. v.1. p.20.

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os poderes intelectivos e se fortalece a vontade. As instituições formais são o lar, a família, a Igreja, a escola e o Estado. Como fatores informais, podem ser compreendidas todas as outras fontes mediante as quais o indivíduo adquire conhecimento, caráter e vontade própria.

A própria etimologia da palavra bem o exprime: educar é conduzir, guiar, portanto, a um fim. Conduzir reside em uma finalidade, que, no caso da educação, pressupõe um fim essencialmente positivo, pois o objetivo é tornar o indivíduo um ser superior.

Desse modo, a educação tem um propósito, mediante implicações normativas, ou seja, a partir do momento em que o indivíduo foi submetido a algum método educativo, sendo sempre afirmativo, presume-se que o fim tenha sido alcançado, isto é, algum progresso tenha sido obtido.

Considerando-se que a educação é algo que diz relação ao humano; somente o homem é ser educável, sendo susceptível de aperfeiçoamento, mas é necessário esforço para adquirir o propósito almejado, por meio de estímulos de crescimento e desenvolvimento do indivíduo.

Sendo assim, a educação representa, por conseguinte, um fenômeno fundamentalmente humano que se encontra em todas as sociedades, desde as mais simples e primitivas até as mais complexas e civilizadas, assunto que será tratado no próximo tópico. 10

A sua característica principal é a busca pelo aperfeiçoamento do ser humano em formação, uma vez que ele não é um ser inteiramente formado que dispense auxílio para completar o seu desenvolvimento.

Desse modo, a educação, reconhecida como um processo de formação e aperfeiçoamento do ser humano, deve abranger todos os seus atributos. O homem é um ser múltiplo e complexo no qual diversos caracteres formam uma unidade substancial, a qual permite a realização de um processo educacional. É ser físico, porque possui um corpo regido pelas leis da natureza; é um ser intelectual porque possui uma inteligência racional que o distingue dos outros animais; é um ser moral, porque dotado de razão e liberdade, possui deveres e direitos próprios. Além disso, o homem é ainda um ser social, porque possui uma tendência natural para viver com

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seus semelhantes; é um ser cívico, porque é capaz de prezar e dignificar sua pátria, é um ser profissional, porque é capaz de trabalhar e criar; é um ser religioso, porque é capaz de amar a Deus e seguir os ditames da sua lei externa. Esses atributos são indícios naturais dos fins que regem a vida humana, dos bens que solicitam, e que o ser humano deverá realizar, integralmente, se quiser desenvolver, em toda a sua plenitude, as virtualidades que especificam a sua natureza. E a educação, visando á formação completa e harmoniosa da personalidade, deve atender a todos esse caracteres, deve estimular o homem na sua totalidade, a fim de que seja alcançada toda a sua capacidade de perfeição.11

Em virtude de a educação estar condicionada à finalidade de promover a formação integral do ser humano, ela participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu destino exterior como na sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual. Considerando-se que a formação completa do homem envolve conteúdos físicos, intelectuais, morais, religiosos, sociais, cívico e profissionais – valores que regem a vida humana –, portanto, a história da educação está socialmente condicionada pela transformação dos valores importantes para a sociedade.

Enfim, nesta subseção pretendeu-se apenas apresentar os limites epistêmicos de Educação que sinteticamente consiste em conduzir o ser humano ao processo de formação integral mediante o seu aperfeiçoamento, a fim de que seja aprimorada a capacidade de o indivíduo alcançar um nível superior.

1.2 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Diante do que foi abordado no tópico antecedente, a educação consiste em um fenômeno fundamentalmente humano inserido em todas as sociedades, desde os primórdios da civilização humana até as mais complexas e avançadas, por conseguinte, pode-se dizer que a educação trata-se de um processo histórico.

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Conforme demonstrado inicialmente, por não ser objeto principal deste trabalho a história de educação, deliberamente afastamos aspectos mais profundos sobre o processo educacional do ser humano primitivo, para trazer um panorama que abarque a Antiguidade Clássica, Idade Média, menções ao Cristianismo e por fim o Renascimento. A civilização grega foi a primeira a tratar da disciplina, uma vez que o vocábulo educação advém do grego. Trata-se de um termo que está vinculado à raiz do edo (alimentar-se, em grego; edoceo, em latim: instituir a fundo, ensinar, ensinar algo sobre alguma coisa a alguém); a palavra educação alude, a partir do velho mito de Prometeu, à necessidade humana de completar-se, de reparar um déficit de sua natureza, de conhecer como meio de alcançar a plenitude.12

Na tradição grega, alguns significados da educatio foram formados com o verbo paideo, que significava, a um só tempo, "elevar", instruir e formar. Esse termo indicava um processo de construção consciente de seres concordantes com a forma da comunidade, como ideal normativo.13

Nesse período, a educação grega não consistia na formação integral do homem, conforme foi abordado alhures, apenas algumas das capacidades humanas eram utilizadas para "elevar" o homem.

Em Esparta, o objetivo educacional está voltado apenas à capacidade física do homem, uma vez que eles eram preparados para a guerra e para o serviço estatal.14 Nesse período, o desenvolvimento do físico destacava-se sobre o intelecto

e o objetivo era a formação do indivíduo guerreiro.

Em Atenas, anteriormente a 509 a.C., o único propósito foi a formação e o treinamento do cidadão. Nota-se que, nesse período, a educação é um pouco mais abrangente, embora o único propósito estivesse voltado à formação e ao treinamento do cidadão, que consistia no integral desenvolvimento do indivíduo, corpo e alma, como melhor preparação para a cidadania. Não se limitava a educação somente a treinamento físico como em Esparta, mas incluíam-se os elementos intelectuais, estéticos e culturais.15

12 PIUGRÓOS, Adriana. Voltar a educar: a educação latino-americana no final do século XX. Rio de Janeiro: Agir, 1997. p.74.

13 Id.

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Os gregos foram os primeiros a apontar a educação como um instrumento de preparação para a cidadania, destacando que o desenvolvimento do indivíduo é objetivo principal da educação.16

O método de educação nesse período é marcado pelo progresso em razão da preocupação da formação do homem, ou seja, a partir desse momento o indivíduo passou a adquirir conhecimento em diferentes áreas, tanto em questões físicas quanto psíquicas.

Após essa fase, o período seguinte foi caracterizado pela adoção de nova constituição, em 509 a.C. e com admissão na cidadania de novas classes e grupos mudaram a vida e os deveres do cidadão, gerando a necessidade de novo tipo de educação.

A rivalidade entre Atenas e Esparta, e ainda os ensinamentos dos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles contribuíram para o desenvolvimento educacional de toda civilização antiga.

A educação nesse período foi essencialmente liberal, literária, teórica e individualista. O objetivo principal residia em preparar e treinar o cidadão para essas questões. Esse novo tipo de educação deu ensejo à criação de duas instituições representativas de educação: a Academia de Platão e o Liceu de Aristóteles.17

Platão, em sua obra a República, formulou um dos primeiros planos de educação encontrados na história e ressaltou a importância do propósito cívico. Esse propósito deveria ser promovido pelo desenvolvimento da criança, corpo e alma, por meio de uma divisão, em classes, da sociedade, e na qual os indivíduos fossem educados conforme seu nível especial e habilidade intelectual. O objetivo último da educação, segundo Platão, era a felicidade do indivíduo e o bem-estar do Estado.18

O filósofo, em VI a. C., já afirmava que era o Estado o responsável pela educação, e ainda, reivindicava o acesso universal à educação e também pela igualdade educacional, a mesma instrução para meninos e meninas.

16 MONROE, Paul. História da educação. 10.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1974. p.76.

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Nesse período, antes de Cristo, os filósofos já apontavam a existência do fenômeno da educação e ressaltavam o quanto ela era importante para a dignificação do homem, bem como da sociedade. Entretanto, pode-se perceber que a educação como objetivo de obter conhecimento e formação integral do homem no período grego estava voltada basicamente em preparar o homem de forma completa para serem governantes, bons governantes.

Nesse mesmo período, Aristóteles encontrou no homem duas características: uma sensitiva e como que animal; a outra intelectual e humana. A característica intelectual, sustentava o filósofo, é a base da moralidade e educação deve desenvolvê-la. O mais alto propósito do homem é levar uma vida racional em pensamento e conduta, enquanto o mais alto propósito do Estado é promover o maior bem dos cidadãos. Segundo Aristóteles, eram essas as características da verdadeira virtude e os objetivos últimos da educação.19

Os dois filósofos gregos ao tratar da educação trazem conceitos distintos, mas convergem na finalidade da educação para o homem e do Estado para com a sociedade, uma vez que ambos afirmam que a educação tem a finalidade de capacitar o homem, mas que tal atributo é dever do Estado, o responsável em promover educação em prol da coletividade.

Em sequência ao processo histórico da educação, vieram os romanos, mas, em contraste com o conceito grego da formação integral do indivíduo, a incipiente educação romana foi essencialmente utilitária e procurou criar uma nação de soldados e patriotas mediante o treino para a vida prática. Seu objetivo foi a educação do bom cidadão. Esse indivíduo tinha de adquirir aquelas virtudes necessárias ao desempenho dos deveres de cidadão.20

Na realidade, esse período foi inicialmente marcado pela educação moral, em que os ensinamentos eram transmitidos de pais para filhos, sendo que o lar era praticamente a única escola; os filhos eram preparados para ser úteis para pátria, de acordo com os costumes do Estado e das instituições.

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Posteriormente, o objetivo da educação romana tornou-se o treinamento de oradores futuros, o conservador habilidoso, capaz de discutir qualquer problema de natureza pública e, consequentemente, de valor para o Estado. Esse homem devia possuir larga bagagem cultural e, acima de tudo, ser o homem de bem, o ser moral.21

Dessa forma, a educação romana consistiu em duas fases: a primeira se refere a um período em que a educação estava voltada apenas ao aprimoramento físico do homem, portanto a formação não era completa, pois o desenvolvimento se restringia apenas a uma das capacidades do homem e, ainda, somente os indivíduos do sexo masculino eram educados, uma vez que a educação se destinava apenas aos soldados. Na segunda fase, a educação romana acolheu outros conhecimentos, destacando-se a oralidade, bem como a comunicação. Desse modo, ao incluir a comunicação como instrumento de educação, tal atributo permite a formação da cultura, pois se materializa através da linguagem, facilitando a capacidade de o indivíduo conhecer os objetos, tornando um ser mais sociável.

A palavra reconhecido como objeto da comunicação é um atributo apenas do homem, confirmado pelo filósofo grego Aristóteles "somente o homem, entre todos os animais, possui o dom da palavra; a voz indica dor e prazer, e por esta razão é que ela foi outorgada aos outros animais. Eles chegam a sentir sensações de dor e de prazer, e fazerem-se entender entre si. A palavra, contudo, tem a finalidade de fazer entender o que é útil ou prejudicial, e, conseqüentemente, o que é justo e injusto."22

Portanto, a palavra, através da linguagem, instrumento da comunicação, tem o condão de efetivar a educação, pois, a partir do momento em que existe a linguagem, tudo o que tenha nome é permitido de ser comunicado e verbalizado para obtenção do conhecimento, pressuposto da educação.

Após os romanos, a educação foi desmitificada em um novo sentido, de forma religiosa com o advento do cristianismo. Nesse período, o ponto principal no processo educativo consistia no verdadeiro conhecimento do ser inato, inserido na alma por intermédio de Deus.23

21 REDDEN, John D. Filosofia da educação, p.64.

22 ARISTÓTELES. Política. 5.ed. São Paulo: Martin Claret, 2001. p.14.

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A concepção da educação cristã atribuía o homem como imagem de Deus, portanto, cabia aos indivíduos serem pessoas boas, morais, que respeitam a integridade humana, em todos os sentidos: físico, mental e espiritual. Assim, a educação cristã residia no desenvolvimento integral do homem e de todos os homens sob o aspecto espiritual, assim como a felicidade com Deus, pois Ele era a referência do bem, belo e moral, valores que cabiam ao homem perpetuar.

Em seguida, após o declínio e a queda do Império Romano, a invasão dos bárbaros, iniciou-se um período anárquico, gerando desrespeito à ordem e à lei, assim como na aprendizagem e na cultura. A civilização estava em iminente perigo de colapso, sendo a Igreja a única capaz de imprimir ordem ao caos, conseguindo realizar tal tarefa em três séculos.24

Em razão desses conflitos, alguns mecanismos de educação foram criados para que houvesse a paz social no período medieval, como, por exemplo, a cavalaria, que consistiu em uma disciplina individual e social na qual era o cavaleiro treinado de forma religiosa, física e socialmente, a fim de adquirir e manter os ideais cristãos. Na prática incluía atividades religiosas, treinamento físico e militar.

Além da cavalaria, outro tipo de educação medieval, de natureza industrial era chamada de corporações, as quais eram destinadas aos membros da burguesia ou classe média. As corporações eram associações de artesões e comerciantes interessados na indústria e comércio, e conhecidas, respectivamente, como corporações de artesões e de comerciantes. O propósito dessas organizações era orientado para uma educação prática, vocacional, destinada a preparar elementos para a vida industrial e comercial.25

Nessa fase surge um novo tipo de educação destinado ao conhecimento profissional, o trabalho, que segundo o psicanalista alemão Freud, em sua obra O Mal-Estar da Cultura, o trabalho é uma atividade que dignifica o homem, torna o mais nobre e ainda traz a verdadeira felicidade. Portanto, educar o indivíduo a realizar um ofício aprimora o seu desenvolvimento, assim como é o meio de se alcançar a ordem social.

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No fim da Idade Média, o método escolástico iniciou a racionalização do ensino da Igreja, denominado escolasticismo. A sua finalidade se baseava na defesa do dogma religioso pelo uso da razão. O propósito da educação era demonstrar a consistência dessas várias verdades e sua concordância com a razão. Tal demonstração atingiu seu apogeu na Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino.26

O período da Renascença, no século XV, foi marcado por transformações profundas na prática educativa, trazendo novos tipos de conhecimento, na formação intelectual, estética e moral.27

Portanto, no Renascimento a educação se destinada aos conhecimentos da antiguidade clássica, da arte e da religião, ensejando o aparecimento de vários pintores importantes, que expressavam suas aptidões por meio da arte, como, por exemplo, o pintor Leonardo Da Vinci, que também demonstrava a predominância da educação religiosa em suas telas, como no quadro a Última Ceia.

Por alguns séculos o conhecimento da educação renascentista perdurou, havendo uma grande transformação no século XIX, por intermédio de alguns intelectuais, como Karl Marx, que afirmava, em período capitalista, que a educação consistia em política e trabalho, mas que somente este último cumpria o papel de socialização.28

O pensamento educacional hodierno é uma síntese dos movimentos dos últimos tempos, em que estão inseridos os princípios fundamentais de cada movimento histórico em todo harmonioso.29

A partir do processo histórico de educação, nota-se que a atividade educativa atual guarda a mesma finalidade apontada pelos antigos filósofos, o que significa dizer que a educação é um aprendizado que se transforma e se inova em conformidade com as mudanças e necessidades históricas e sociais.

Nos primórdios a educação se destinava apenas ao desenvolvimento físico do homem em razão de confrontos constantes, sendo tal conhecimento fundamental para época, depois, outros tipos de aptidões foram explorados e tornaram-se essenciais para o desenvolvimento tanto do indivíduo como da sociedade.

26 REDDEN, John D. Filosofia da educação, p.65. 27 MONROE, Paul. História da educação, p.148.

28 JAEGER, Wener Wilhelm. Paidéia: a formação do homem grego. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p.77.

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Assim, a formação cultural possui a marca de cada época, circunstanciada pela história. Dessa maneira, a formação do homem por meio da educação não deve se destinar apenas a uma das suas capacidades, pois a educação consiste na formação integral do ser humano, a ausência de conhecimento de alguns dos valores (históricos) essenciais para a vida (intelectual, moral, profissional, religioso, físico, psíquico) impele o indivíduo à não produção completa de sua consciência.

Pode-se concluir que, atualmente, a educação é resultado de um processo histórico e tem como objetivo principal formar o ser humano de maneira completa, para que o indivíduo esteja apto para o trabalho, para a convivência social e familiar, política; e, ainda, como instrumento de socialização, tem a finalidade de auxiliar nas desigualdades sociais, sendo um processo de relacionar o indivíduo com a sociedade, como uma forma de preparação para a cidadania.

1.3 EDUCAÇÃO E AS LEIS

Conforme exposto no tópico antecedente, desde a civilização grega já havia afirmações de que a educação era um dever estatal; nesse sentido, o mesmo pode-se dizer em relação às leis, que compete ao Poder Legislativo, órgão estatal a função de elaborar as leis.

As leis, por intermédio do legislador, têm a função de um verdadeiro educador dos cidadãos. A lei é o verdadeiro veículo da educação da sociedade; pois é pela lei é que o Estado estabelece os atos e omissões dos indivíduos.30

Observa-se que a lei é um instrumento de grande importância na educação dos adultos, pois são elas que disciplinam a vida em sociedade, portanto, devem ser respeitadas e cumpridas, a fim de que seja possível conviver em harmonia.

Nesse contexto, compreende-se que a lei tem uma função ampla, não é apenas um mecanismo de educação destinado a um indivíduo isolado, ela tem o papel de regular a vida em sociedade, portanto tem valor apreciável quando respeitada em conjunto.

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A noção de sociedade como ordem se materializa mediante a criação de um plano normativo, que consiste em um mínimo de regularidade de comportamentos. Assim, compreende-se que a lei, sendo um instrumento de ordenação, tem o papel de controle social.31

Desde a origem da civilização grega, notava-se que o homem ditava leis para determinadas situações que consistiam em um fator determinante, como nos casos em que havia guerras, a miséria, problemas econômicos e sociais, tais problemas, que geravam revoltas e as insatisfações, ensejavam instrumentos de controle materializados por meio de leis.32

Desse modo, as leis são o instrumento da ação legislativa que se efetiva pela educação, sendo uma atribuição do Estado, editar e disciplinar as condutas permissivas e proibitivas, assim como os direitos dos cidadãos.

Nessa linha, considerando-se que o ser humano vive em sociedade, ou seja, que permite à vida em grupo, depende fundamentalmente da formação de alguma espécie de ordem que permita, oriente e regre o comportamento humano, isto é, que o eduque, cabendo tal incumbência ao Estado por meio da criação de leis.

O Direito é o instrumento que tem como objetivo, mediante a criação de leis, regulamentar como forma de socialização, o convívio harmonioso entre os indivíduos. Entretanto, a sua finalidade depende da participação dos indivíduos, bem como da sociedade de forma que permita o exercício do poder estatal para atuação efetiva do Direito.

Mas é o Estado é a instituição que estabelece o controle social, que abarca os modos de ordenação, as diretrizes de comportamento dos indivíduos por meio do Direito. Desse modo, o Estado é a organização política que permite a formação do poder constituinte:

O poder constituinte é o poder último, ou se, quisermos, supremo, originário, num ordenamento jurídico [...] devemos pressupor, portanto, uma norma que atribua ao poder constituinte a faculdade de produzir normas jurídicas: essa norma é a norma fundamental.33

31 SALDANHA, Nélson. Sociologia do direito. 2.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1980. p.74. 32 JAEGER, Wener Wilhelm. Paidéia..., p.1304.

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Nesse sentido, compete por intermédio do poder constituinte, a edição de leis, normas que estabeleçam diretrizes, direitos e obrigações para toda coletividade. Sendo o poder constituinte resultado da ação política, é ela que irá estabelecer as normas que serão fixadas à sociedade. Assim, o poder político é aquele exercido pelo Estado, e é este que tem a incumbência de prover, por meio das leis, a convivência harmoniosa coletiva.34

A existência do poder constituinte será vinculado à sua legitimidade, devendo tais normas, no atual Estado Democrático, assegurar a todos os cidadãos, dentre alguns direitos, os direitos sociais – espécie de direitos fundamentais – estabelecidos no preâmbulo da Constituição Federal de 1988.

O Estado Democrático de Direito, compreendido como Estado Social, é a expressão atual dos valores legitimantes à ordem estatal, tem o dever de promover a justiça social mediante a prática de direitos sociais e da concretização de instrumentos que ofereçam a cidadania35, fundado na dignidade da pessoa humana:

Um Estado social só se legitima quando promove a prosperidade econômica e ultima a segurança social, quando se faz atuante na esfera material por um princípio positivo, quando diminui o nível de conflitos sociais, quando intervém menos pelas vias coercitivas do que pelas vias persuasivas, quando pune mesmo e incentiva mais, quando faz da negociação o instrumento hábil de seu diálogo com os entes autônomos e oferece a contraprestação, quando substitui a recusa e o confronto pelo consenso e pela cooperação. Mas para chegar-se a estado Social desse teor, com tal programa de conduta e orientação, faz-se mister uma Constituição democrática e aberta, uma Constituição que só é possível se na composição da Constituinte se acharem representadas todas as forças participantes do pacto social, se for uma Constituição do povo e da nação, veículo de sua vontade soberana, vontade que não se pode desconhecer sem sacrificar a legitimidade.36

Sendo os direitos sociais37 direitos fundamentais assegurados pela Constituição

Federal de 1988 desde o preâmbulo, significa dizer que, em virtude de estar positivados em lei constitucional, a lei não deve ficar numa esfera puramente normativa, ou seja, a lei deve influir na realidade social, impondo mudanças sociais democráticas, garantindo a perpetuação de valores socialmente fundamentais.

34 BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico, p.58-59.

35 O termo cidadania será tratado no quarto capítulo, mas de forma sintetizada, trata-se da conscientização dos cidadãos, de seus deveres e direitos.

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Admitida a lei como educadora da vida em sociedade, ela deve ser devidamente cumprida; assim, os direitos sociais, especificamente o direito à previdência, objeto de estudo deste trabalho, são direitos garantidos constitucionalmente por meio de lei, que tem a função de transformar a sociedade, principalmente pela busca da igualização das condições dos socialmente desiguais.

Sendo a educação um pressuposto para a valorização da existência humana, e tendo a dignidade da pessoa humana caráter de princípio fundamental na Constituição Federal, a educação se materializa pela lei, sendo esta o mecanismo estatal que tem a função de conduzir, orientar e controlar os valores e direitos que valorizam o homem como membro da sociedade.

Portanto, o indivíduo que não tem o hábito de respeitar a lei, consequentemente, não tem condições de integrar-se à vida social.

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CAPÍTULO 2

O DIREITO PREVIDENCIÁRIO COMO DIREITO FUNDAMENTAL SOCIAL

O presente capítulo tem por escopo apresentar o conceito e a concepção histórica dos direitos fundamentais sociais, bem como dos direitos previdenciários, reconhecidos como espécie dos direitos sociais, e, por fim, também demonstrar a partir de que momento tais direitos passaram a ser positivados e protegidos na Constituição de 1988.

2.1 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS

Os direitos fundamentais são aqueles direitos positivados que receberam da Constituição um grau mais elevado de garantia ou de segurança; e que aspiram à validade universal, sendo imutáveis ou pelo menos de mudança dificultada, a saber, direitos unicamente alteráveis mediante lei de emenda à Constituição.38

Portanto, tais direitos devem ser preservados e não podem suprimidos em virtude da sua importância de dimensão coletiva, reconhecidos como a base e o fundamento do Estado de Democrático de Direito.

Os direitos fundamentais são oriundos do resultado de um processo político, econômico e social que se verifica a partir das revoluções liberais do século XVIII e XIX.

Desse modo, a historicidade dos direitos é inegável, assim, a evolução do tempo exige novas ideias gerando o desenvolvimento do direito, de acordo com os movimentos sociais.39 Nesse sentido, reconhece que os direitos fundamentais são

decorrentes de certas circunstâncias caracterizadas por lutas em defesa de liberdades contra direitos não mais compatíveis com a realidade e necessidade de um povo.

38 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 25.ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p.560. 39 FACHIN, Melina Girardi. Direitos humanos e fundamentais: do discurso à prática: um olhar por

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Somente a partir do reconhecimento e da consagração dos direitos fundamentais inseridos nas primeiras Constituições é que se convencionou pensar nos direitos fundamentais por meio de dimensões40, em virtude das modernidades, com reflexos

de novas necessidades básicas, de modo especial em decorrência da evolução do Estado Liberal (Estado formal de Direito) para o moderno Estado de Direito (Estado social e democrático de Direito), assim como as transformações oriundas do processo industrial e suas implicações, bem como pelo impacto tecnológico e científico, pelo processo de descolonização e tantos outros fatores direta ou indiretamente relevantes neste contexto e que poderiam ser considerados. Desse modo, subentende-se que a primeira dimensão dos direitos fundamentais é justamente aquela que marcou o reconhecimento de seu status constitucional material e formal.41

Os direitos de primeira dimensão são os direitos da liberdade, consistem em direitos oponíveis ao Estado, isto é, o não fazer do Estado, são direitos da pessoa humana, individuais, em relação ao Estado; enfim, são direitos de resistência perante o poder estatal. Na realidade, essa dimensão de direito tem como escopo principal proteger a pessoa das arbitrariedades praticadas pelo Estado.

Em suma, são direitos que correspondem à fase inicial do processo constitucional, caracterizado pelo progresso do pensamento liberal e individual, de liberdades religiosas, políticas, civis, como o direito à vida, à segurança, à propriedade, à igualdade formal perante a lei, em que há limitação estatal.

Os direitos de segunda dimensão merecem um exame mais amplo. Dominaram o século XX, denominados direitos sociais, culturais, econômicos, bem como os direitos coletivos ou de coletividade, introduzidos no constitucionalismo das distintas formas de Estado Social, destinados ao bem-estar da coletividade.42

Neste trabalho, os direitos de segunda dimensão serão ressaltados por se tratar de direitos fundamentais sociais, sendo que a previdência social é um direito

40 Neste trabalho será utilizado o termo "dimensão" e não geração, pelo fato de que a dimensão não suprime as diferentes fases da evolução dos direitos fundamentais, diferente da geração que pode ser compreendida como uma substituição gradativa de uma geração por outra. As dimensões dos direitos fundamentais tratam-se de um processo de acumulação de direitos, e não de sucessão, por esta razão, o termo dimensão foi priorizado.

41 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 8.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. p.44.

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social positivado no artigo 6.o da Constituição Federal de 1988 e será o foco do

objeto de estudo.

Em virtude dos reflexos industriais e os graves problemas sociais e econômicos no decorrer do século XIX, a atuação estatal era fundamental para a realização da justiça social, portanto, tais direitos são prestações positivas do Estado em relação ao cidadão, que tem como escopo propiciar melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualdade de situações sociais desiguais por intermédio do Estado, bem como promover um direito de participação do bem-estar social.43

Desse modo, tais direitos não têm apenas a preocupação de evitar a intervenção do Estado na esfera da liberdade individual, mas também um propósito principal, que seria o de garantir o bem-estar social mediante prestações materiais.

Essa dimensão consistiu em buscar a igualdade material, mediante a atuação positiva do Estado, para sua concretização, portanto este cunho prestacional comissivo estatal, é o marco distintivo desta nova fase de evolução dos direitos fundamentais.44

Diante desse diferencial dos direitos sociais fundamentais, quanto às prestações positivas, significa fizer que, por meio do Estado, o titular do direito fundamental tem o direito de exigir um pleno desenvolvimento econômico e social por parte do Estado, pela via de uma intervenção positiva.

A terceira dimensão é fruto da consciência de um mundo partido entre nações desenvolvidas e subdesenvolvidas ou em fase de precário desenvolvimento que deu origem a uma outra dimensão de direitos fundamentais ensejando o surgimento da fraternidade e solidariedade. Nesta fase os direitos a serem tutelados referem-se ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade.

Há ainda quem defenda a existência de uma quarta dimensão de direitos fundamentais, conforme o doutrinador Paulo Bonavides, que os classifica como direitos que correspondem à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo.45

A partir da historicidade dos direitos fundamentais, nota-se que seu conteúdo é baseado nas várias dimensões, englobando os direitos individuais, sociais e de natureza

43 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais, 8.ed., p.57. 44 Id.

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coletiva, incorporado as demais dimensões que vão sendo inseridas e concretizadas ao longo dos tempos, de acordo com os acontecimentos e a necessidade social.

Os direitos fundamentais apresentam dupla dimensão: a dimensão objetiva e a dimensão subjetiva.

Nesse sentido, assevera Gilmar Mendes:

Os direitos fundamentais são, a um só tempo, direitos subjetivos e elementos fundamentais de ordem constitucional objetiva. Enquanto direitos subjetivos, os direitos fundamentais outorgam aos titulares a possibilidade de impor os seus interesses em face dos órgãos obrigados. Na sua dimensão objetiva, os direitos fundamentais, tanto aqueles que não asseguram, primariamente, um direito subjetivo, quanto aqueles outros, concebidos como garantias individuais, formam a base do ordenamento jurídico de Estado de Direito democrático.46

Assim, tais direitos se caracterizam em virtude de serem positivados na ordem constitucional dotados de um conjunto de valores básicos, os quais devem atender ao bem-estar da coletividade, mediante a atuação do poder público.

Conclui-se que os direitos fundamentais são direitos do homem, caracterizando-se como verdadeiras liberdades positivas, de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria de condições de vida aos hipossuficientes, visando à concretização da igualdade social.47

A partir desse contexto, compreende-se que tais direitos são históricos, universais e também individuais, e principalmente essenciais, pois protegem os valores fundamentais que dignificam o ser humano.

2.1.1 Direitos humanos fundamentais

Ao acompanhar o estudo sobre a evolução e o conceito dos direitos fundamentais, pode-se afirmar que, sem dúvida, a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, documento internacional, é resultado dos valores e princípios advindos das dimensões dos direitos fundamentais.

46 MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e controle da constitucionalidade. 2.ed. São Paulo: Celso Bastos, 1999. p.32.

(32)

Assim, essa declaração de âmbito universal consiste em um conjunto de diretrizes correspondente aos direitos humanos, as quais devem ser respeitadas por todas as nações.

Compreende-se por Direitos Humanos, segundo Alexandre de Moraes,

o conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal, e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana.48

A Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 foi instituída após agressões aos direitos humanos ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial e à conclusão de que a proteção destes direitos não poderia ficar restrita à esfera interna de cada Estado. Nesse contexto, a criação da ONU foi de extrema importância para proteção dos direitos humanos, de maneira universal; com efeito, tais direitos passaram a ser adotados pela legislação dos Estados ocidentais, assim como no Brasil, que tem a dignidade da pessoa humana como base principiológica fundamental a partir da Carta Política de 1988.49

Enfim, a base nos estudos humanistas e seu aperfeiçoamento, chegou-se ao que hoje chamamos de Direitos Humanos, que tem como escopo a busca pelo bem comum, referendado pela proteção e perfazimento da dignidade da pessoa humana.

A dignidade da pessoa humana é uma expressão difícil de ser conceituada em virtude da abstração de seus elementos, entretanto, o jurista Ingo Wolfgang Sarlet assim a definiu:

[...] a qualidade instrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existências mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e via em comunhão como os demais seres humanos.50

48 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos artigos 1.o a 5.o da Constituição da república, doutrina e jurisprudência. 9.ed. São Paulo: Atlas, 2011. p.8.

49 PIOVESAN, Flávia. Os direitos humanos e o direito constitucional internacional. 12.ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p.179.

50 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição

(33)

A dignidade da pessoa humana é o valor basilar dos direitos humanos, bem como dos direitos fundamentais, de modo que cada dispositivo legal referente a tais direitos está intrinsecamente ligado à proteção da concepção da dignidade da pessoa humana.

Segundo a doutrina, os direitos humanos são os direitos não positivados, apenas positivados no âmbito internacional, diferente dos direitos fundamentais que são reconhecidos ou outorgados e protegidos pelo Direito Constitucional de cada Estado.51

Diante disso, os direitos fundamentais e direitos humanos, embora sejam expressões muitas vezes utilizadas como sinônimos, possuem significado nitidamente distintos. Tal diversidade é devidamente apresentada pela doutrina de Canotilho:

[...] direitos do homem são direitos válidos para todos os povos e em todos os tempos (dimensão jusnaturalista-universalista); direitos fundamentais são os direitos garantidos e limitados espacio-temporalmente. Os direitos do homem abarcariam da própria natureza humana e daí o seu caráter inviolável, intemporal e universal; os direitos fundamentais seriam os direitos objectivamente vigentes numa ordem jurídica concreta.52

Considerando-se que este trabalho se destina aos direitos previdenciários, tais direitos sociais somente apareceram após a proclamação da Constituição Francesa de 1848, quando houve uma ampliação dos Direitos Humanos fundamentais aos trabalhadores, em que previa direitos dos cidadãos garantidos pela Constituição, a liberdade de trabalho e da indústria, a assistência aos desempregados, às crianças abandonadas, aos enfermos e aos velhos sem recursos, cujas famílias não podiam socorrer.53

A proteção de direitos humanos aos trabalhadores, de conteúdo previdenciário, somente passou a ser positivada, no âmbito internacional, no século XVIII, antes disso não havia sequer alguma legislação que protegesse os trabalhadores quanto aos riscos sociais.

Assim, a Revolução Francesa (1789) foi o marco inicial, no âmbito internacional, de proteção dos direitos sociais, antes deste documento os trabalhadores não eram

51 FACHIN, Melina Girardi. Direitos humanos e fundamentais..., p.32.

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tutelados em relação aos direitos previdenciários. Nesse período, havia muitas injustiças sociais, o que consequentemente influenciou na criação de regulamentação de tutela aos trabalhadores que não tinham mais condições de laborar disposto no art. 13 da Constituição Francesa de 1848.54 Tal documento consagrava os direitos

sociais em que estão inseridos os direitos trabalhistas e de assistência.

O segundo documento de âmbito internacional que visava à proteção aos direitos previdenciários foi a Constituição Mexicana, 1917, que estabeleceu, no artigo 123, as diversas conquistas para o reconhecimento dos direitos sociais como direitos humanos, dentre eles: a responsabilização dos empresários por acidentes de trabalho; jornada de trabalho de oito horas; descanso semanal; descanso para mulheres que tiveram filhos; criação de um salário mínimo suficiente para satisfazer as necessidades essenciais dos operários, proteção às trabalhadoras gestantes; responsabilidade dos empresários quanto à segurança e higiene no ambiente de trabalho etc. 55, sendo um grande avanço na tutela dos cidadãos quanto aos direitos

sociais previdenciários e trabalhistas.

Posteriormente, a Constituição Alemã, 1919, também conhecida como a Constituição de Weimar, estabeleceu o "sistema de seguridade social", para conservação da saúde e da capacidade de trabalho, estabelecendo proteção da maternidade e prevenção os riscos da idade, da invalidez e das vicissitudes da vida (art. 161).56

Além desses direitos sociais, expressamente previstos, a Constituição de Weimar destacava-se pela tutela dos direitos sociais, ao estabelecer uma regulamentação internacional da situação jurídica dos trabalhadores que garantia à classe operária um mínimo de direitos sociais e que os operários e empregados seriam chamados a colaborar, em nível de igualdade, com os patrões na regulamentação dos salários e das condições de trabalho, assim como no aprimoramento das forças produtivas.57

54 Art. 13. A Constituição garante aos cidadãos a liberdade de trabalho e de indústria. A sociedade favorece e encoraja o desenvolvimento do trabalho, pelo ensino primário gratuito profissional, a igualdade nas relações entre o patrão e o operário, as instituições de previdência e de crédito, as instituições agrícolas, as associações voluntárias e o estabelecimento, pelo Estado, os Departamentos e os Municípios, de obras públicas capazes de empregar os braços desocupados; ela fornece assistência às crianças abandonadas, aos doentes e idosos sem recurso e que não podem ser socorridos por suas famílias.

55 COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 7.ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p.190.

(35)

Desse modo, as duas constituições, mexicana e alemão, tiveram grande importância na evolução dos direitos humanos no contexto dos direitos sociais previdenciários, proteção esta que não existia antes de suas proclamações.

Nota-se que somente a partir do século XX as questões relacionadas ao trabalho e à previdência passaram a ser aspectos de preocupação estatal dando ensejo à positivação em diplomas constitucionais internacionais.

Além dessas declarações, a Carta do Trabalho de 1927 trouxe um grande avanço em relação aos direitos sociais dos trabalhadores, prevendo principalmente previsão de previdência, assistência, educação e instruções sociais.58

Nessa sequência de documentos internacionais de tutela aos direitos humanos, em 1945 foi proclamada a Carta das Nações Unidas, um dos mais importantes documentos, de caráter internacional e universal, que simboliza uma nova ordem com importantes transformações no Direito Internacional para o reconhecimento e fortalecimento dos direitos humanos.

Desse modo, a assinatura de tal documento por diversas nações teve como escopo evitar conflitos e manter a paz, visando proteger de forma universal os homens por meio dos direitos humanos, mediante uma organização política, ONU, que pudesse abarcar todas as nações do mundo, na defesa da dignidade humana, bem como a adoção de um padrão internacional de proteção de direitos humanos.59

Segundo Flávia Piovesan:

[...] A Carta das Nações Unidas de 1945 consolida, assim, o movimento de internacionalização dos direitos humanos, a partir do consenso de Estados que elevam a promoção desses direitos a próposito e finalidade das Nações Unidas. Definitivamente, a relação de um Estado com seus nacionais passa a ser uma problemática internacional, objeto de instituições internacionais e do Direito internacional.60

Esse documento visava tornar obrigatória a atuação dos Estados-membros em promover e proteger os direitos humanos mediante as condições de segurança e bem-estar a fim de que fosse alcançada a pacífica e harmoniosa relação entre as Nações.

58 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais..., p.13.

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Embora essa carta tenha como finalidade a defesa, a promoção e o respeito aos direitos humanos e às liberdades individuais, ela não é específica quanto aos dispositivos legais dando ensejo, após três anos, a uma nova legislação internacional, denominada Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, conforme citado no início deste tópico.61

Essa Carta simboliza o início da universalidade dos valores, em que todos os cidadãos aspiram os mesmos ideais, cujo fim consiste em acolher a homogeneização dos valores dos homens.

Nesse sentido, o jurista Norberto Bobbio a define nos seguintes termos:

Ela inaugura uma ordem internacional de respeito e proteção de dignidade humana e a reconhece, sobretudo, como fundamento dos direitos humanos, e que a condição de pessoa é o requisito único e exclusivo para a titularidade de direitos, consagrando a universalidade dos mesmos. Há um reconhecimento de direitos inerentes a toda pessoa, portanto, anteriores a qualquer forma de organização política ou social.62

Após a sua promulgação, diversos documentos internacionais de proteção aos direitos humanos que visavam especificamente à proteção previdenciária foram ratificados pelo Brasil.

A própria Declaração Universal dos Direitos Humanos – 1948 reconhece o direito à previdência como um direito humano com a garantia a todos os homens, o direito a proteção nos casos de doença, invalidez, viuvez e velhice, mediante o art. XXV.

O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – 1966 também assegura a previdência como um direito humano, portanto universal, estabelecido no artigo 9.o e também a proteção previdenciária às gestantes, por um

período de tempo razoável antes e depois do parto (art. 10).

A Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher, de 1979, também determina o direito ao benefício de salário-maternidade, por um sistema de previdência (art. 10).

(37)

A Convenção sobre direito da criança, de 1989 prevê o direito à pensão por morte, sendo mais um benefício previdenciário de proteção universal.

Desse modo, percebe-se que a legislação internacional previa a garantia dos direitos sociais previdenciários desde o século XVIII, portanto, com o advento a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, de âmbito internacional, tais direitos, de dimensão e importância coletiva, passaram ser reconhecidos como direitos humanos, de caráter universal e internacional, bem como direitos fundamentais sociais, positivados na Constituição Federal de 1988.

2.2 CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Após esse panorama histórico geral sobre direitos fundamentais sociais e direitos humanos, serão analisados neste tópico os direitos previdenciários, o conceito, a evolução histórica e o contexto atual.

2.2.1 Origem da Previdência Social

Nos primórdios das relações de trabalho não havia sequer alguma legislação que protegesse os trabalhadores, o que se comparava, na época, ao trabalho escravo. Dessa forma, os indivíduos, por ausência de tutela trabalhista, estavam sujeitos aos riscos da atividade laborativa, com a possibilidade da perda da capacidade de trabalho.63

Em virtude desses infortúnios, os trabalhadores revoltados, com a falta de garantias e leis trabalhistas, começaram a fazer manifestações em busca de melhores condições de trabalho e de subsistência, dando início à criação de uma regulamentação previdenciária.64

63 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 9.ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p.34.

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A partir disso, pode-se afirmar que o Direito Previdenciário é um ramo do direito decorrente da revolução industrial e do desenvolvimento humano, em um período em que havia muitos acidentes de trabalho e nenhuma proteção contra tais riscos.65

Diante da insatisfação dos trabalhadores, nesse período de industrialização e urbanização, pela ausência de tutela social por parte dos Estados, foram instituídos diversos modelos de proteção individual e social, para a solução de tais problemas. Originou-se daí a lei de seguro-invalidez e velhice, igualmente custeados pelos trabalhadores, empregadores e Estado, sendo esta a primeira lei de proteção social voltado aos trabalhadores, criada pelo chanceler Otto Von Bismarck, em 1883.

O programa social engendrado por Bismarck tinha o objetivo de solucionar as insatisfações dos trabalhadores mediante um compromisso de proteção social.66

Outras leis foram sendo criadas no início do século XIX; a Inglaterra editou uma lei de reparação de acidentes de trabalho em 1907, e, quatro anos depois, editou uma lei de cobertura às situações de invalidez, doença, aposentadoria e desemprego. Posteriormente, as Constituições Mexicana (1917) e Alemã (1919) também introduziram normas de previdência social, conforme demonstrado no capítulo anterior nas cartas históricas dos direitos humanos.67

Um grande progresso nesse contexto histórico de proteção social aos trabalhadores foi a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1917, que também tinha programas destinados à tutela previdenciária, passando a criar em 1927 a Associação Internacional de Seguridade Social.68

Embora estivesse havendo um progresso na ampliação de cobertura previdenciária aos trabalhadores, ainda assim, não havia proteção a todos os indivíduos, independente de contribuição, sendo obrigatória a contribuição em troca de cobertura previdenciária.

Somente em meados da década de 1940, a Grã-Bretanha substitui os planos previdenciários existentes pelo Plano Beveridge, que tem uma concepção mais abrangente, tornando a previdência um sistema universal, em que o financiamento/

65 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário. 8.ed. São Paulo: Quartier Latin, 2010. p.21. 66 BALERA, Wagner. Noções preliminares de direito previdenciário. São Paulo: Quartier Latin,

2004. p.49.

67 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Previdência social: custeio e benefícios. 2.ed. São Paulo: LTr, 2008. p.33.

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contribuição é arrecadado por toda a sociedade, passando a concretizar a noção de solidariedade.69

A solidariedade criada nesse período deu início a uma consciência de pertença social, ou seja, os riscos individuais são assumidos pelos demais participantes do sistema previdenciário, uma vez que todos contribuem.

A partir desses infortúnios econômicos e sociais, houve um contingente muito grande de pessoas vivendo em condições miseráveis e desumanas, em virtude disso, foi necessário criar mecanismos para remediar tais problemas de dimensão coletiva; portanto, não era mais suficiente dar a cada um o que era seu, sendo necessária uma concepção nova que ampliasse essa regra, isto é, dar a cada um o que não é seu, mas que, na verdade, é devido pela simples condição humana, sendo esta a essência da solidariedade.

Essa nova concepção de um plano universal e baseado na solidariedade, em que toda sociedade contribui, deu ensejo à criação da Seguridade Social, e consequentemente à instituição de um regime de repartição, em que toda a sociedade financia para a criação de um fundo único previdenciário, o qual é o gestor das prestações previdenciárias das quais os indivíduos necessitarem. A maioria dos países adota esse sistema previdenciário, inclusive o Brasil, que o adotou com a promulgação da Constituição de 1988.

2.2.2 Evolução histórica da Previdência Social no Brasil

O primeiro registro de Previdência Social no Brasil foi o Decreto n.o 9.192-A,

de 1989, que criou um plano de aposentadoria aos empregados dos Correios, com algumas regras relevantes, como a idade mínima de 60 anos e a concessão com 30 anos de serviço.70

Na Constituição de 1891 foi a primeira vez que surgiu a expressão "aposentadoria", mas era restrita apenas aos funcionários públicos em caso de

(40)

invalidez decorrentes de serviços prestados à nação, e ainda não existia participação contributiva.71

O Decreto n.o 9.284/1911 criou a Caixa de Aposentadoria e Pensões dos

Operários da Casa da Moeda, alguns anos depois; a Lei n.o 3.724/1919 instituiu a

indenização obrigatória de responsabilidade objetiva ao empregador, pela empresa, das consequências do acidente de trabalho. Mas o marco inicial da legislação previdenciária foi a chamada Lei Elói Chaves, o Decreto-Legislativo n.o 4.682, de 24 de janeiro de 1923.72

Essa lei determinou a criação de Caixas de Aposentadoria e Pensões para os empregados ferroviários, e nesse mesmo ano foi instituída a primeira delas, a Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Empregados da Empresa Great Western do Brasil.73

A preocupação e as transformações dos sistemas protetivos ocorridos no mundo tiveram influência no texto constitucional brasileiro a partir da Constituição de 1924, em que surgiu o termo "socorros públicos".74

Anos depois, a Lei n.o 5.109/26 estendeu proteção previdenciária aos portuários e marítimos. Posteriormente, durante a década de 1930 tais caixas de aposentadorias foram aos poucos sendo substituídas por um regime de proteção de categorias profissionais.

Percebe-se que nesse período, embora houvesse limitação da atuação estatal nessas instituições previdenciárias de categoria profissional, havia um plano de benefícios previdenciários, mediante cotização, em que era realizada uma forma de mutualismo, isto é, quem contribuía tinha direito as prestações.

A partir da Constituição Federal de 1934 é que se utilizou o termo "previdência" pela primeira vez; portanto, a partir desse momento foram estabelecidos os direitos previdenciários, introduzindo o direito à gestante e ainda a instituição de regime

71 VIANNA, Claúdia Salles Vilela. Previdência social..., p.34.

72 LEITE, Celso Barroso. A proteção social do Brasil. São Paulo: LTr, 1972. p.29. 73 Id.

74 Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos cidadãos brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte: [...]

Referências

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