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CAPÍTULO 5 EDUCAÇÃO PREVIDENCIÁRIA

5.3 AÇÕES JUDICIAIS

Conforme dados recentes do Conselho Nacional de Justiça, o INSS é o órgão com o maior número de ações judiciais no país, sendo réu em 20% das ações que tramitam no Brasil.

Na realidade, muitos desses processos judiciais poderiam ser sanados em instância administrativa197, mas, devido à falta de informação, análise adequada e de

efetividade de algumas normas previdenciárias, os segurados recorrem ao Poder Judiciário para o reconhecimento de todas as circunstâncias do direito pretendido.

Por exemplo, as empregadas domésticas, muitas delas, ajuízam ações judiciais para obter a aposentadoria, mesmo constando na Carteira de Trabalho (CTPS) o registro do tempo de contribuição exigido para obtenção do benefício, mas, em virtude de ausência de recolhimento por parte do empregador, geralmente essas seguradas não conseguem obter seus benefícios, por duas razões: elas não têm conhecimento de que além, do registro na CTPS, é necessário que o empregador recolha as devidas contribuições previdenciárias, e ainda que tal atribuição do empregador deveria ser fiscalizada pelo poder público198, não podendo o segurado ser prejudicado pela falta

de fiscalização que está determinada em lei e em conformidade com o princípio da automaticidade das prestações:

197Desde o ano de 2009 foi instituído o ICJ – índice de Concessões Judiciais. Trata-se de um

instrumento de avaliação desenvolvido para acompanhar a evolução do Programa de Redução de Demandas Judiciais do Instituto. Com o objetivo de melhoria, o indicador teve sua metodologia aperfeiçoada, e enriquecida com mais informações, tendo nova denominação, de IRCJ – índice de Concessão e Reativação em Grau de Recurso Administrativo ou Ação Judicial. Esse programa de ação da Previdência Social tem por escopo aperfeiçoar a qualidade das decisões administrativas para minimizar os litígios judiciais, através da apuração da proporção entre o volume de benefícios concedidos mensalmente por ordem judicial e o volume total mensal de benefícios concedidos administrativamente. (Disponível em: <http://www.agu.gov.br/SISTEMAS/SITE/PaginasInternas/ NormasInternas/AtoDetalhado.aspx?idAto=223455>. Acesso em: 05 mar. 2012).

198Art. 33. À Secretaria da Receita Federal do Brasil compete planejar, executar, acompanhar e

avaliar as atividades relativas à tributação, à fiscalização, à arrecadação, à cobrança e ao recolhimento das contribuições sociais previstas no parágrafo único do art. 11 desta Lei, das contribuições incidentes a título de substituição e das devidas a outras entidades e fundos. (Redação dada pela Lei n.o 11.941, de 2009).

§ 5.o O desconto de contribuição e de consignação legalmente autorizadas sempre se presume feito oportuna e regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo lícito alegar omissão para se eximir do recolhimento, ficando diretamente responsável pela importância que deixou de receber ou arrecadou em desacordo com o disposto nesta Lei.

EMENTA PREVIDENCIÁRIO. PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO. CONTRARIEDADE À JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. TEMPESTIVIDADE. CARÊNCIA. RECOLHIMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES COM ATRASO. ÔNUS DO EMPREGADOR. [...] 2. A Turma de origem reputou improcedente o pedido, por entender que as contribuições previdenciárias realizadas com atraso não podem ser computadas, para fins de aferição da carência exigida pela legislação, para a concessão do benefício. 3. Este entendimento contraria a posição que prevaleceu no Superior Tribunal de Justiça, que, diante de caso similar, admitiu que as ditas contribuições poderiam ser consideradas, ainda que tardiamente pagas, uma vez que foram aceitas pelo próprio INSS. 4. Foi invocado precedente desta Turma Nacional, no qual, também em um caso onde a postulante era uma empregada doméstica, como ocorre no presente feito, reputou-se cumprida a carência, mesmo que pagas as exações com atraso, destacandose que a responsabilidade pelo recolhimento incumbia ao empregador. 5. Pedido de uniformização provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais, por unanimidade, dar provimento ao pedido de uniformização, nos termos do relatório, do voto e da ementa constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Brasília, 17 de março de 2008. ÉLIO WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO Juiz Federal Relator.199

Nesse caso, muitas delas, poderiam ser previamente instruídas de que forma é recolhida a contribuição previdenciária nesta função e a importância de guardar as GRPS que comprovam o recolhimento ou holerite que comprova o vínculo empregatício, como uma forma de prevenção, isto é, antes de se obter o benefício, elas já teriam o conhecimento dos seus direitos e que medidas deveriam ser adotadas na ausência de tais recolhimentos antes de requerer a prestação previdenciária.

Caberia à Previdência Social criar mecanismos de informação, como, por exemplo, enviar extratos anuais aos segurados comunicando os recolhimentos e o tempo de contribuição desde que o segurado tornou-se filiado da previdência social.

Além das empregadas domésticas, aqueles que exerceram atividades nocivas, em sua maioria, não têm conhecimento de que com a devida apresentação de um formulário denominado PPP – Perfil Profissiográfico Previdenciário, é possível obter uma majoração no tempo e no valor da aposentadoria, mediante a comprovação da sujeição aos agentes nocivos.

As empresas são obrigadas a entregar tais formulários de PPP aos segurados conforme estabelece a lei previdenciária, mas, na prática, muitas delas não entregam

199BRASIL. TNU - Turma Nacional de Uniformização. PEDILEF 200670950114708, Rel. Juiz Federal

esses documentos, ou entregam da maneira incorreta, prejudicando signficamente a obtenção e também o valor do benefício.

A jurisprudência a seguir confirma a necessidade da demonstração da atividade sujeita a condições especiais através da PPP:

EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. CONCESSÃO. ATIVIDADE ESPECIAL. COMPROVAÇÃO. REQUISITOS LEGAIS. 1. Uma vez exercida atividade enquadrável como especial, sob a égide da legislação que a ampara, o segurado adquire o direito ao reconhecimento como tal e ao acréscimo decorrente da sua conversão em comum. 2. Constando dos autos a prova necessária à demonstração do exercício de atividade sujeita a condições especiais, conforme a legislação vigente na data da prestação do trabalho, deve ser reconhecido o respectivo tempo de serviço. 3. Comprovado o tempo de labor especial faz jus o demandante à concessão do amparo, a contar da data do requerimento administrativo, nos termos do que dispõe o artigo 53, II, da Lei 8.213/91.200

A partir dessa decisão judicial, nota-se mais uma vez que os segurados recorrem ao Judiciário por ausência de conhecimento. No caso da aposentadoria especial, o objetivo de se aposentar de forma mais benéfica (em tempo inferior comparado a aposentadoria por tempo de contribuição) é interesse do segurado, portanto, compete a ele apresentar os formulários de PPP para comprovação da atividade nociva, sendo fundamental ter conhecimento de tais direitos específicos. Mas de que forma, por exemplo, um soldador, que geralmente não têm formação escolar completa teria conhecimento da existência deste formulário de nome tão complicado, e ainda de que forma deveria ser preenchido?

Nesse caso, o conhecimento para obtenção deste benefício requer um entendimento mais específico sobre a matéria, portanto, caberia aos sindicatos, em que esses trabalhadores são filiados, instruir e educá-los de que forma requerer o melhor benefício, sem ter que utilizar de medidas judiciais, quando tais formulários estão devidamente preenchidos.

Essas duas situações demonstradas são apenas alguns dos inúmeros processos que tramitam no Poder Judiciário que poderiam ser sanados mediante um trabalho preventivo de educação, de conhecimento da linguagem técnica e

200BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4.a Região. APELREEX 0002359-30.2008.404.7101, Sexta

principalmente da lei previdenciária, que, conforme dito no primeiro capítulo, tem função educativa.

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 93-96)