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DIFICULDADE DA LINGUAGEM PREVIDENCIÁRIA

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 86-91)

CAPÍTULO 5 EDUCAÇÃO PREVIDENCIÁRIA

5.1 DIFICULDADE DA LINGUAGEM PREVIDENCIÁRIA

A mera percepção de uma palavra sem a apreensão do seu conceito não permite o conhecimento, ou seja, a ausência de compreensão do significado do conceito, gera a impossibilidade de qualquer raciocínio, portanto, qualquer forma de educação.

A principal tarefa da educação é criar condições para o desenvolvimento humano, condições estas que assegurem o conhecimento e a cidadania. E a educação é tarefa de todos.

Desse modo, considerando-se a dificuldade da linguagem previdenciária, é fundamental que a sociedade seja educada para o entendimento dos seus direitos, isto é, para que o ser humano se insira no meio social (na qualidade de cidadão), tenha conhecimento dos seus direitos e da finalidade do sistema previdenciário que exige a contribuição pecuniária mensal188daqueles que exercem atividade laborativa.

O objetivo precípuo da previdência social consiste na concessão de benefícios, então, somente os beneficiários classificados como segurados (obrigatórios e facultativos) e dependentes são titulares do direito subjetivo de gozar das prestações asseguradas pela Previdência Social.

Sendo assim, para se filiar, requerer informações, documentação e obtenção dos benefícios previdenciários, os interessados têm três opções: procurar uma das agências do INSS; ligar no 135 ou utilizar o site do Ministério da Previdência Social189,

ocorre que, em função da realidade brasileira, a maioria190 da população brasileira

não tem acesso a internet e nem todas têm conhecimento do acesso via telefone, porque o número está exposto apenas nas agências do INSS, portanto, o requerimento de informações é obtido nas próprias agências.

No Brasil, existem agências previdenciárias em quase todos os municípios do país191 e, ainda, unidades móveis, como barcos e automóveis, o que pressupõe

que as informações previdenciárias são de fácil acesso.

188Art. 11 da Lei n.o 8.213/91.

189Disponível em: <http://www.mpas.gov.br/>. Acesso em: 02 mar. 2012.

190Disponível em: <http://www.inclusaodigital.gov.br/noticia/acesso-a-internet-no-brasil-cresceu-112-

em-quatro-anos-segundo-ibge>. Acesso em: 02 mar. 2012.

191Disponível em: <http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=353>. Acesso em:

Em razão de as agências serem as unidades de maior procura dos contribuintes para obtenção de informações, compete, a elas, por intermédio dos servidores públicos, transmitir aos interessados todas as informações necessárias da seara previdenciária.

Embora os servidores do INSS, por meio das agências, sejam os responsáveis pela materialização dos direitos previdenciários, nem sempre tais direitos são devidamente obtidos, em virtude da falta de conhecimento preciso por parte dos cidadãos e pela ausência de informação adequada nos órgãos públicos.

Por exemplo, quando o segurado requer alguma informação sobre a concessão do benefício, a maioria das informações são apresentadas de forma cifrada, como, por exemplo:

APS - Agência da Previdência Social CADPF - Cadastro da Pessoa Física

CAT - Comunicação de Acidente de Trabalho CEI - Cadastro Específico do INSS

CNIS - Cadastro Nacional de Informações Sociais CRPS - Conselho de Recursos da Previdência Social CTC - Certidão de Tempo de Contribuição

CTPS - Carteira do Trabalho e Previdência Social DAT - Data do Afastamento do Trabalho

DCB - Data da cessação do benefício DDB - Data do Despacho do Benefício DER - Data da Entrada do Requerimento DIB - Data do início do benefício

DIC - Data do início das contribuições DID - Data do início da doença DII - Data do início da incapacidade DIP - Data do início do pagamento DN - Data de Nascimento

DO - Data do óbito

DRB - Data da Regularização do Benefício GEX - Gerência Executiva

GFIP - Guia de Recolhimento do FGTS e Informações a Previdência Social GPS - Guia da Previdência Social

INSS - Instituto Nacional do Seguro Social JRPS - Junta de Recursos da Previdência Social NB - Número de Benefício

NIT - Número de Identificação do Trabalhador PAB - Pagamento Alternativo de Benefício PI - Pedido de Informação

PIS - Programa de Integração Social PR - Pedido de Reconsideração

RGPS - Regime Geral de Previdência Social

Utilizando-se o exemplo das siglas, nos casos em que o segurado precisa de um relatório das contribuições recolhidas dos anos em que trabalhou, ele precisa solicitar um documento denominado CNIS - Cadastro Nacional de Informações Sociais, mas tem de ser dos salários-de-contribuição, ou então, nos casos em que ele precisa obter informações do início e fim do benefício em concessão, tais dados são comunicados num documento chamado de "INFBEN" e com as seguintes siglas: "DER, DDB e DIB", diante disso, nota-se a complexidade da linguagem técnica previdenciária para adquirir simples informações dos benefícios.

Ora, tais siglas ou palavras de difícil compreensão facilitam o serviço dos servidores do INSS, mas dificultam o entendimento dos segurados. A linguagem é complicada, se não existe uma maneira de alterar tais nomenclaturas, então o ideal seria a criação de um "dicionário previdenciário", o qual deveria ficar exposto nas próprias agências e lá estariam o significado de cada sigla e o conteúdo básico que todos os segurados deveriam saber para compreender o mínimo sobre os seus direitos previdenciários.

Sem contar que a carta de indeferimento dos benefícios previdenciários não expressa de maneira clara o que de fato foi admitido pelo instituto previdenciário e o que foi desconsiderado, gerando muitas dúvidas aos segurados e, muitas vezes, levando a busca em juízo para o reconhecimento de todas as circunstâncias de fato que constituem o direito pretendido.192

Além disso, uma das grandes preocupações da Previdência Social é que uma grande parcela da população economicamente ativa não contribui para previdência social, em razão da alta taxa de informalidade, mesmo havendo normas que favoreçam os trabalhadores de baixa renda a contribuir com alíquotas reduzidas. Diante disso, pode-se concluir que a ausência de contribuição por parte de tais trabalhadores decorre por diversos motivos, sendo um deles a baixa eficiência de informação, ou seja, o desconhecimento da importância e da obrigação em recolher tais contribuições geram a exclusão de cobertura previdenciária.

Excetuando-se os trabalhadores celetistas que têm cobertura previdenciária em razão do exercício de atividade remunerada, o recolhimento previdenciário é dever obrigatório do empregador. Para os demais e a grande maioria que trabalha na informalidade (sem registro em CTPS), a ausência de contribuição afasta tal proteção, em virtude da falta de instrumentos efetivos de comunicação que informe e fiscalize que todo trabalhador que "exerce atividade remunerada" tem o dever de contribuir e em troca dessa imposição tem a tutela previdenciária. E, ainda, aqueles que são reconhecidos como contribuintes individuais devem contribuir por meio de uma guia de recolhimento da previdência social – denominada GRPS (novamente outra sigla) e que eles têm a possibilidade de contribuir com alíquotas diferenciadas193,

que estão apenas dispostas no site194 da previdência social, que requer muita atenção

para o preenchimento, conforme o quadro a seguir:

continua

CÓDIGO DESCRIÇÃO

1007 Contribuinte Individual – Recolhimento Mensal NIT/PIS/PASEP

1104 Contribuinte Individual – Recolhimento Trimestral –NIT/PIS/PASEP

1120 Contribuinte Individual – Recolhimento Mensal - Com dedução de 45% (Lei n.NIT/PIS/PASEP o 9.876/99) -

1128 CI OPTANTE LC 123 TRIMESTRAL COMPL

1147 Contribuinte Individual – Recolhimento Trimestral - Com dedução de 45% (Lei n.NIT/PIS/PASEP o 9.876/99) - 1163 Contribuinte Individual (autônomo que não presta serviço à empresa) – Opção: Aposentadoria apenaspor idade (art. 80 da LC 123 de 14/12/2006) – Recolhimento Mensal – NIT/PIS/PASEP 1180 Contribuinte Individual (autônomo que não presta serviço à empresa) – Opção: Aposentadoria apenaspor idade (art. 80 da LC 123 de 14/12/2006) – Recolhimento Trimestral– NIT/PIS/PASEP 1201 GRC Trabalhador Pessoa Física (Contribuinte Individual, Facultativo, Empregado Doméstico, SeguradoEspecial) – DEBCAD (Preenchimento exclusivo pela Previdência Social)

1228 CI TRIMESTRAL RURAL

1236 CI OPTANTE LC 123 MENSAL RURAL

1244 CI OPTANTE LC 123 MENSAL RURAL COMPLEMENTACAO

1252 CI OPTANTE LC 123 TRIMESTRAL RURAL

1260 CI OPTANTE LC 123 TRIMESTRAL RURAL COMPLEMENTACAO

1287 CI MENSAL – RURAL

1295 CI OPTANTE LC 123 MENSAL COMPL

1406 Facultativo Mensal -NIT/PIS/PASEP

1457 Facultativo Trimestral -NIT/PIS/PASEP

193http://www.mpas.gov.br/conteudoDinamico.php?id=450>. Acesso em: 02 mar. 2012.

194http://www1.previdencia.gov.br/pg_secundarias/paginas_perfis/perfil_comPrevidencia_05.asp>.

conclusão

CÓDIGO DESCRIÇÃO

1473 Facultativo – Opção: Aposentadoria apenas por idade (art. 80 da LC 123 de 14/12/2006) –Recolhimento Mensal – NIT/PIS/PASEP 1490 Facultativo – Opção: Aposentadoria apenas por idade (art. 80 da LC 123 de 14/12/2006) –Recolhimento Trimestral – NIT/PIS/PASEP

1503 Segurado Especial Mensal -NIT/PIS/PASEP

1554 Segurado Especial Trimestral -NIT/PIS/PASEP

1600 Empregado Doméstico Mensal -NIT/PIS/PASEP

1619 EMPR. DOMEST. PATRONAL 12% MENSAL AFAST/SAL. MATERNIDADE

1651 Empregado Doméstico Trimestral -NIT/PIS/PASEP – (que recebe até um salário mínimo)

1678 EMPR. DOMEST. PATRONAL 12% TRIMESTRAL AFAST/SAL. MATERNIDADE

1686 FACULTATIVO - OPTANTE LC 123/2006 - RECOLHIMENTO MENSAL - COMPL.

1694 FACULTATIVO - OPTANTE LC 123/2006 - RECOLHIMENTO TRIMESTRAL - COMPL.

1708 Reclamatória Trabalhista - NIT/PIS/PASEP

1759 Acréscimos Legais de Contribuinte Individual, Doméstico, Facultativo e Segurado Especial – Lei nº8212/91 – NIT/PIS/PASEP

1805 CI COM DIREITO A DEDUCAO MENSAL – RURAL

1813 CI COM DIREITO A DEDUCAO TRIMESTRAL – RURAL

1821 FACULTATIVO / EXERCENTE DE MANDATO ELETIVO / RECOLHIMENTO COMPLEMENTAR

Quadro 1 - Código de Pagamento

Os contribuintes individuais, como, por exemplo, uma esteticista, que passa a obter remuneração mensal, automaticamente torna-se segurada obrigatória de acordo com a Lei n.o 8.213/91, devendo recolher o INSS todo mês, mas de que

forma ela deve pagar? E sob qual desses códigos ela deve pagar? Qual é a data do vencimento? O valor a ser recolhido é sempre o mesmo? É possível alterar o código?

No caso do recolhimento sob o código de número 1163, o que este código difere do código 1007? Qual é a alíquota a ser recolhida? Se for uma alíquota reduzida, destinada aos trabalhadores de baixa renda, de quanto será o valor do benefício a ser recebido?

Enfim, as siglas e os códigos são diversos, e as implicações de cada um deles requer um mínimo de conhecimento. A partir disso, nota-se que essa quantidade de caracteres – linguagem da Previdência Social – é muito complexa, de difícil compreensão, portanto, o ideal seria que fossem adotadas medidas educacionais que facilitassem o entendimento dos trabalhadores para recolher da melhor maneira, manter a filiação e ainda ter a consciência dos reflexos futuros que tal obrigação pecuniária proporciona àqueles que contribuem com regularidade.

A linguagem simples contribui para eficiência de proteção previdenciária, bem como aprimora a utilização da organização administrativa – INSS, resultando em satisfação aos segurados,195 considerando-se que o objetivo precípuo na efetivação

da proteção previdenciária se materializa por meio de prestações aos beneficiários, classificados como segurados e dependentes.

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 86-91)