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Das Prestações Previdenciárias

No documento MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS (páginas 71-80)

CAPÍTULO 4 CIDADANIA COMO UM DIREITO PREVIDENCIÁRIO

4.2 CIDADANIA PREVIDENCIÁRIA

4.2.1 Das Prestações Previdenciárias

Partindo do que foi exposto, a cidadania previdenciária se efetiva pela concessão de prestações previdenciárias, expressas em benefícios e serviços.

Os benefícios são valores pecuniários destinado aos segurados e dependentes, já os serviços consistem em uma única espécie oferecida pelo INSS, sendo uma prestação imaterial.

149IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário, p.179.

150Considerando-se que o exercício da atividade remunerada é o requisito para condição de segurado

obrigatório, significa dizer que o trabalhador empregado e o avulso não podem ter o direito às prestações previdenciárias afastadas quando o empregador não tiver recolhido suas contribuições, uma vez que tal dever compete única exclusivamente a ele, não podendo tais segurados serem prejudicados por essa atuação, em respeito ao fundamento do Princípio da Automaticidade das Prestações.

151As legislações citadas são espécies de fontes formais do direito previdenciário. Entende-se por

fonte de direito formal mecanismos de criação e revelação das normas jurídicas. Desse modo, os atos administrativos também são fontes do direito previdenciário desde que não contrariem dispositivos constitucionais ou legais.

4.2.1.1 Dos benefícios de incapacidade

Os benefícios de incapacidade consistem em aposentadoria por invalidez e auxílio doença, os quais serão concedidos desde que o segurado atenda aos seguintes requisitos:

a) Aposentadoria por Invalidez: for reconhecido a incapacidade (total e permanente) laboral e ainda insuscetível de reabilitação para toda e qualquer atividade que garanta a subsistência;

a.1) Auxílio-doença: concedido para aquele segurado que ficar incapacitado de forma temporária para o seu trabalho habitual por mais de 15 dias consecutivos, conforme estabelece os arts. 59 a 63 da Lei n.o 8.213/91 e arts. 71 a 80 do Decreto n.o 3.048/99, sendo o critério material para concessão do benefício a incapacidade para o trabalho ou para sua atividade habitual;

b) manutenção da qualidade de segurado152;

c) carência de doze contribuições mensais153;

c.1) quando o benefício for decorrente de acidente de trabalho este requisito não é exigido.

O distintivo do benefício de auxílio-doença para o benefício de aposentadoria por invalidez é que este somente será devido quando for determinada a incapacidade total e permanente, e ainda a insuscetibilidade de recuperação, enquanto aquele exige apenas a incapacidade para atividade habitual exercida pelo segurado.

4.2.1.2 Aposentadoria por idade

A aposentadoria por idade154 é um benefício previdenciário que tem por

objetivo a proteção aos idosos como recompensa dos anos dedicados ao trabalho.

152Art. 15 da Lei n.o 8213/91. 153Art. 24 da Lei n.o 8.213/91 154Art. 48-51 da Lei n.o 8.213/91.

Assim, considera-se ser um benefício destinado aos idosos155 em razão disso, uma das

condições para sua obtenção é o preenchimento do requisito etário: 60 anos a mulher e 65 anos o homem e, ainda, a exigência de carência de 15 anos de contribuição.156

Os trabalhadores rurais também têm direito a este benefício, a regra da carência é a mesma que a dos trabalhadores urbanos, mas quanto ao requisito etário, há uma redução de cinco anos para ambos os gêneros.

4.2.1.3 Aposentadoria por tempo de contribuição

Para obtenção deste benefício, a Lei n.o 8.213/91, arts. 52-56, exige que o segurado homem tenha 35 anos de contribuição e a mulher 30 anos, não havendo restrição de idade mínima.

Entende-se por tempo de contribuição o tempo, contado de data a data, desde o requerimento ou do desligamento da atividade abrangida pela previdência social, descontados os períodos legalmente estabelecidos, como de suspensão de contrato de trabalho, de interrupção de exercício e de desligamento da atividade. O tempo em que o segurado exerceu atividade remunerada abrangida pela previdência social urbana e rural e também esteve em gozo de benefício de incapacidade são reconhecidos como tempo de contribuição, entre outras situações elencadas no art. 59 e 60 do Decreto n.o 3.048/99.

O professor tem direito à redução de cinco anos no tempo de contribuição, como uma aposentadoria especial, desde que exerça atividade exclusivamente157

em sala de aula.

155Lei dos Idosos reconhece os idosos a partir dos 60 anos – Lei n.o 10.741/2003.

156Os segurados filiados antes de 24.07.1991 estão submetidos a uma carência diferenciada disposta

no art. 142 da Lei n.o 8.213/91.

4.2.1.4 Aposentadoria especial

A aposentadoria especial é devida ao segurado que tenha trabalhado durante 15, 20 ou 25 anos, conforme o caso, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. Este benefício está previsto nos arts. 57 e 58 da Lei n.o 8.213/91 e arts. 64 a 70 no RPS.

Para obtenção desse benefício, é necessário que o segurado comprove perante o INSS que a atividade exercida em condições prejudiciais tenha ocorrida de forma permanente, não ocasional e nem intermitente, nos referidos anos expostos.

Além do requisito citado, o segurado deverá comprovar a efetiva exposição aos agentes químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício.

Os agentes nocivos reconhecidos pela Previdência Social que dão ensejo ao benefício especial estão inseridos no Anexo IV do RGPS. Mas para comprovação da efetiva exposição aos agentes nocivos, o segurado deverá apresentar ao INSS formulário denominado de Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP158, conforme

estabelece o INSS.

Sendo assim, pode-se dizer que a aposentadoria especial é um benefício que tem por objetivo garantir ao segurado uma compensação pelo tempo de serviço prestado em condições prejudiciais à saúde ou à integridade física159, razão pela

qual, o segurado tem o direito de se aposentar com tempo de serviço inferior aos demais segurados, que exercem funções normais.

158O PPP passou a ser exigido a partir de 30.06.2003, antes disso, os formulários exigidos tinha

outras denominações, sendo os seguintes: SB-40, Dises BE 5.325, DSS 8.030, Dirben 8.030, conforme estabelece o art. 148 da INS 84/03.

159RIBEIRO, Maria Helena Carreira Alvim. Aposentadoria especial: regime geral da previdência

4.2.1.5 Salário-família

O benefício de salário-família criado pela Lei n.o 4.266/1963, visa atender às

contingências familiares, tendo como objetivo incentivar a natalidade por meio de um complemento, fornecido pelo poder público, aos segurados de baixa renda, conforme estabelece os arts. 65 a 70 da Lei n.o 8.213/91 e arts. 81 a 92 do RPS).160

Assim, os requisitos para obtenção deste benefício são os seguintes: segurado empregado de baixa renda161 (exceto o empregado doméstico); ter filhos menores de

14 anos ou inválidos ou equiparados a filhos. Além disso, para obtenção e manutenção do benefício, é necessário que seja apresentado: o atestado de vacinação e atestado de frequência escolar, ainda, no caso dos filhos inválidos a comprovação da invalidez.

4.2.1.6 Salário-maternidade

O benefício de salário-maternidade é devido a todas as seguradas obrigatórias e facultativas, portanto, todas as contribuintes sob o regime geral da previdência social têm direito a este benefício, desde que atendem aos requisitos descritos nos arts. 71 a 73 da Lei n.o 8.213/91 e arts. 93 a 103 do Decreto n.o 3.048/99.

Este benefício tem por objetivo a proteção da maternidade (tanto da mulher como do filho) durante o período de afastamento de suas atividades, período em que a mãe precisa cuidar e dar uma atenção especial à família, em contrapartida tem garantido seus interesses profissionais, sem reduzir e nem prejudicá-los.

O salário-maternidade abrange todas as categorias de contribuintes do RGPS: segurada empregada, trabalhadora avulsa, empregada doméstica, contribuinte individual, facultativa ou segurada especial, durante 120 dias, com início até 28 dias anteriores ao parto e término de 91 dias depois dele, considerando, inclusive, o dia do parto.

160HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário, p.299.

161Entende-se por empregado de baixa renda o segurado com remuneração mensal de até

R$ 915,05. (Disponível em: <http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/65/MF-MPS/2012/2.htm>. Acesso em: 05 mar. 2012).

As seguradas adotantes ou que obtiver guarda judicial também têm direito à obtenção do salário-maternidade estando sujeitas a determinadas regras específicas quando ao período de gozo do benefício, que varia de acordo com a idade da criança: se ela tiver até um ano de idade, o benefício será de 120 dias, se a criança tiver entre 1 e 4 anos de idade, será de 60 dias, se a criança tiver entre 4 e 8 anos de idade, o período do benefício é de 30 dias.

O gênero masculino na ausência da segurada gestante – titular do direito subjetivo em virtude de falecimento ou nos casos de adoção – não tem direito a esse benefício previdenciário de proteção ao filho, portanto, o pai adotante não é um segurado tampouco cidadão previdenciário deste benefício, pois não tem os mesmos direitos que o gênero feminino nessa espécie de prestação que se destina aos cuidados da criança.

Entretanto, recentemente, o Poder Judiciário Federal de Brasília, em sentença inédita, concedeu o benefício de salário-maternidade a um servidor público do gênero masculino em virtude do falecimento de sua mulher, passando este a ter o direito subjetivo diante da ausência da mãe, o que confirma o fundamento desta proteção previdenciária: a proteção da criança, como um direito fundamental.162

As contribuintes individuais e facultativas, e as seguradas especiais têm direito ao benefício desde que possuam a carência de dez meses, diferente das empregadas domésticas e trabalhadoras avulsas, que não estão sujeitas a este requisito.

4.2.1.7 Auxílio-acidente

O auxílio-acidente é um benefício de natureza indenizatória paga ao segurado empregado (exceto doméstico), ao trabalhador avulso e ao segurado especial previsto no artigo 86 da Lei n.o 8.213/91 e art. 104 do Decreto n.o 3.048/99.

Os requisitos para obtenção do auxílio-acidente são os seguintes: a) redução da capacidade laborativa que habitualmente exercia;

b) a relação entre a lesão e o trabalho exercido (no caso de auxílio-acidente decorrente de acidente de trabalho;

c) consolidação de sequela/lesão decorrente de acidente – de qualquer natureza.

O benefício de auxílio-acidente tem duas modalidades, uma é decorrente de acidente de qualquer natureza e a outra é oriunda de acidente de trabalho, mas em ambos os casos exige-se o resultado de sequela definitiva163.

O que difere uma da outra é que no caso em que o benefício for advindo de acidente de trabalho é necessário, para sua obtenção, demonstrar o nexo entre a lesão ou incapacidade com o trabalho exercido.

4.2.1.8 Pensão por morte

O benefício de pensão por morte é devido e exclusivo aos dependentes164 do

segurado falecido visando suprir ou minimizar a falta do responsável pelo sustento da família.

As regras para obtenção deste benefício estão previstas nos arts. 74 a 79 da Lei n.o 8.213/91 e arts. 105 a 115 do Decreto n.o 3.048/99.

O benefício somente será concedido aos dependentes do segurado, se no momento do óbito, o segurado falecido mantinha a qualidade de segurado ou, não atendendo a este requisito, havia implementado todos os requisitos para obtenção de uma aposentadoria, ou, então, o reconhecimento da incapacidade permanente ou temporária, dentro do período de graça.165

A relação de dependentes do segurado está descrita no art. 16 da Lei n.o 8.213/91, são eles: o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não

163No anexo III, do Decreto n.o 3.048/99 estão elencadas as situações que geram o direito ao

auxílio-acidente.

164Art. 16 da Lei n.o 8213/91.

emancipado (enteado), de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido. E, ainda, os pais, o irmão, não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido. Além da comprovação de dependência como requisito para obtenção do benefício, é também exigida a comprovação da dependência econômica, mas apenas para os alguns dependentes, os pais e irmão, para os demais, a dependência econômica é presumida.

Sendo assim, entende-se que os dependentes se apresentam originalmente como beneficiários da Previdência Social devido ao vínculo direto com o segurado falecido.166

4.2.1.9 Auxílio-reclusão

O benefício de auxílio-reclusão, assim como a pensão por morte, é destinado aos dependentes e independe de carência, conforme estabelece os arts. 80 da Lei n.o 8.213/91 e arts. 116 a 119 do Decreto n.o 3.048/99.

O auxílio-reclusão visa proteger os dependentes do segurado que está privado da sua liberdade, estando preso e, portanto, impossibilitado de obter recursos para a subsistência de sua família – dependentes.

Para obtenção desse benefício é necessário que o segurado seja de baixa renda167 e não receba nenhum benefício previdenciário, e ainda esteja detido sob

o regime fechado ou semiaberto. Para manutenção do benefício é obrigatória a apresentação trimestral do atestado de que o segurado permanece recluso ou detento com o reconhecimento da autoridade competente, portanto, na ausência deste documento ou em caso de fuga o benefício será suspenso.

166CORREIA, Marcus Orione Gonçalves. Legislação previdenciária comentada. São Paulo: DJP,

2008. p.259.

167Portaria INSS – valor R$ 915,05 (Disponível em: <http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/

4.2.1.10 Habilitação e reabilitação profissional

A habilitação se refere àqueles beneficiários que sempre foram destituídos de capacidade laborativa, já a reabilitação se destina àqueles que perderam tal capacidade.

São os únicos serviços oferecidos pela Previdência Social e estão dispostos nos art. 89 a 93 da Lei de Benefícios.

Conforme expresso em dispositivo constitucional, art. 203, inciso IV, a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência constituem um dos objetivos da seguridade social, que tem por finalidade a promoção de integração dessas pessoas à vida comunitária.

Trata-se de um processo assistencial de educação (habilitação) e adaptação (reabilitação) profissional que visa proporcionar aos beneficiários incapacitados, de forma parcial ou integral para o trabalho, sem a exigência de carência, e às pessoas portadoras de deficiência, os mecanismos necessários para a inserção (e reintegração) no mercado de trabalho.168

Conclui-se, a partir disso, que essa prestação imaterial tem como objetivo dignificar o homem, ao iniciar ou reigressar o portador de alguma deficiência no mercado de trabalho, considerando que o trabalho é o fundamento para alcançar a dignidade, assim como o exercício de cidadania, por meio da garantia de cobertura previdenciária aos segurados.

Por fim, após a análise geral das prestações previdenciárias, nota-se que os beneficiários do RGPS são reconhecidos como cidadãos previdenciários, o que consiste em dizer que eles gozam de proteção previdenciária pela obtenção de benefícios previdenciários em virtude de exercer atividade remunerada ou verter contribuições previdenciárias, e desde que atendidos aos requisitos legais de cada benefício. Portanto, aqueles indivíduos que não cumprem os requisitos da legislação previdenciária ficam excluídos do sistema previdenciário, reconhecidos apenas como indivíduos nesse panorama social.

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