www.bjorl.org
Brazilian
Journal
of
OTORHINOLARYNGOLOGY
ARTIGO
ORIGINAL
Speech
perception
in
noise
in
the
elderly:
interactions
between
cognitive
performance,
depressive
symptoms,
and
education
夽
Laura
Maria
Araújo
de
Carvalho
a,
Elisiane
Crestani
de
Miranda
Gonsalez
b,∗e
Maria
Cecília
Martineli
Iorio
caUniversidadeFederaldeSãoPaulo(UNIFESP),ProgramadePós-graduac¸ãoemDistúrbiosdaComunicac¸ãoHumana,SãoPaulo,
SP,Brasil
bFaculdadedeCiênciasMédicasdaSantaCasadeSãoPaulo,SãoPaulo,SP,Brasil
cUniversidadeFederaldeSãoPaulo(UNIFESP),DepartamentodeFonoaudiologia,SãoPaulo,SP,Brasil
Recebidoem27dejaneirode2016;aceitoem11demarçode2016 DisponívelnaInternetem21defevereirode2017
KEYWORDS
Cognition; Depression; Elderly;
Speechinnoisetest
Abstract
Introduction:Thedifficultytheelderlyexperienceinunderstandingspeechmayberelatedto severalfactorsincludingcognitiveandperceptualperformance.
Objective: Toevaluatetheinfluenceofcognitiveperformance,depressivesymptoms,and edu-cationonspeechperceptioninnoiseofelderlyhearingaidsusers.
Methods:Thesampleconsistedof25elderlyhearingaidsusersinbilateral adaptation,both sexes,meanage69.7years.SubjectsunderwentcognitiveassessmentusingtheMini-Mental StateExaminationandtheAlzheimer’sDiseaseAssessmentScale-cognitiveanddepressive symp-tomsevaluationusingtheGeriatricDepressionScale.Theassessmentofspeechperceptionin noise(S/Nratio)wasperformedinfreefieldusingthePortugueseSentenceListtest.Statistical analysisincludedtheSpearmancorrelationcalculationandmultiplelinearregressionmodel, with95%confidenceleveland0.05significancelevel.
Results:Inthestudyofspeechperceptioninnoise(S/Nratio),therewasstatistically signifi-cantcorrelationbetweeneducationscores(p=0.018),aswellaswiththeMini-MentalState Examination(p=0.002),Alzheimer’sDiseaseAssessmentScale-cognitive(p=0.003),and Geri-atricDepressionScale(p=0.022)scores.Wefoundthatforaone-unitincreaseinAlzheimer’s DiseaseAssessmentScale-cognitivescore,theS/Nratioincreasedonaverage0.15dB,andfor anincreaseofoneyearineducation,theS/Nratiodecreasedonaverage0.40dB.
DOIserefereaoartigo:http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2016.03.017
夽 Comocitaresteartigo:deCarvalhoLM,GonsalezEC,IorioMC.Speechperceptioninnoiseintheelderly:interactionsbetweencognitive
performance,depressivesymptoms,andeducation.BrazJOtorhinolaryngol.2017;83:195---200. ∗Autorparacorrespondência.
E-mail:elisiane.miranda@fcmsantacasasp.edu.br(E.C.Gonsalez).
ArevisãoporparesédaresponsabilidadedaAssociac¸ãoBrasileiradeOtorrinolaringologiaeCirurgiaCérvico-Facial.
Conclusion:Levelofeducation,cognitiveperformance,anddepressivesymptomsinfluencethe speechperceptioninnoiseofelderlyhearingaidsusers.Thebetterthecognitivelevelandthe highertheeducation,thebetteristheelderlycommunicativeperformanceinnoise.
© 2016 Associac¸˜ao Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C´ervico-Facial. Published by Elsevier Editora Ltda. This is an open access article under the CC BY license (http:// creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
PALAVRAS-CHAVE
Cognic¸ão; Depressão; Idoso; Testedefala emruído
Reconhecimentodefalanoruídodeidosos:interac¸õesentredesempenhocognitivo, sintomatologiadepressivaeescolaridade
Resumo
Introduc¸ão:A dificuldadenacompreensãodefaladosidosospodeestarrelacionadaavários fatores,comoodesempenhocognitivoeperceptual.
Objetivo:Avaliarainfluênciadodesempenhocognitivo,sintomasdepressivoseescolaridade noreconhecimentodefalanoruídodeidososusuáriosdeprótesesauditivas.
Método: A amostraconstituiu-se de25 idososusuários de prótesesauditivas em adaptac¸ão bilateral,deambosossexosemédiade69,7anos.Osindivíduosforamsubmetidosàavaliac¸ão cognitivapormeiodominiexamedoestadomental(MEEM)eaescaladeavaliac¸ãodadoenc¸a deAlzheimer-cognitiva(ADAS-Cog)eavaliac¸ãodesintomatologiadepressivapormeiodaescala dedepressãogeriátrica(EDG).Jáapesquisadoreconhecimentodefalanoruído(relac¸ãoS/R) foifeita,emcampolivre,pormeiodotestelistadesentenc¸asnoportuguês(LSP).Aanálise estatísticaincluiuocálculodecorrelac¸ãodeSpearmanemodeloderegressãolinearmúltiplo, foramadotadoscoeficientedeconfianc¸ade95%eníveldesignificânciade0,05.
Resultados: No estudo do reconhecimento de sentenc¸as no ruído (relac¸ão S/R) houve correlac¸ão, comsignificânciaestatística, entre aescolaridade (p=0,018);assim como com osescoresdostestesMEEM(p=0,002),oAdas-Cog(p=0,003)eoEDG(p=0,022). Observou--seque,para umaumentodeumaunidadenoescoredoAdas-Cog, arelac¸ãoS/R aumenta, emmédia,0,15dBeparaumaumentodeumanonaescolaridade,arelac¸ãoS/Rdiminui,em média,0,40dB.
Conclusão:Oníveldeescolaridade,odesempenhocognitivoesintomasdepressivosinfluenciam oreconhecimentodefalanoruídodeidososusuáriosdepróteseauditiva.Quantomelhoronível cognitivoemaioraescolaridade,melhoréodesempenhocomunicativodoidosonoruído. © 2016 Associac¸˜ao Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C´ervico-Facial. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este ´e um artigo Open Access sob uma licenc¸a CC BY (http:// creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
Introduc
¸ão
A deteriorac¸ão da func¸ão auditiva e o declínio cognitivo sãocondic¸õescomumenteencontradasnapopulac¸ãoidosae podemcomprometeroprocessodeenvelhecimento.Aperda auditivadecorrentedoenvelhecimentocaracteriza-sepela diminuic¸ão dasensibilidade auditiva, principalmente para sonsde frequênciasaltas,e dificuldadesde percepc¸ãode fala.1---3
O uso de próteses auditivas é um meio primordial na reabilitac¸ãodaperdaauditiva.4Noentanto,emfunc¸ãoda
combinac¸ão dealterac¸õesperiféricas e centrais, frequen-temente os idosos não atingem melhoria satisfatória do reconhecimentodefalaemsituac¸õesderuídocompetitivo comousodaamplificac¸ão.
Váriosestudostêmdemonstradoqueacompreensãode sentenc¸as noruído está comprometidaem pacientescom demência.5,6Essedéficitpodeseratribuídoàdificuldadeno
processamentogramatical e/ousemântico dainformac¸ão, assimcomo à maiordemanda cognitivanecessária paraa
decodificac¸ão ecompreensãodosinaldefalana presenc¸a doruído.7
As habilidades cognitivas, como atenc¸ão, memória e linguagem, estão envolvidas no processo de detecc¸ão, discriminac¸ão, compreensão e organizac¸ão do discurso. A compreensão da interac¸ão das func¸ões cognitivas com as func¸ões sensoriais pode auxiliar na reabilitac¸ão do idoso com dificuldade de adaptac¸ão da prótese audi-tiva, bem como nortear o avanc¸o tecnológicona áreada protetizac¸ão.8,9
Sabe-se que um déficit cognitivo pode estar associado aorelatodesintomasdepressivos.Asalterac¸õescognitivas maisfrequentesemidososdeprimidossãoasfunc¸ões execu-tivas,osdéficitsatencionaiseadiminuic¸ãonavelocidadedo processamento.Considerandoqueadepressãopodesimular umquadrodemencial,10,11faz-senecessáriaainvestigac¸ão
Combasenessasconsiderac¸ões,acredita-senahipótese dequeoreconhecimentodefalanoruídodeidosos usuá-riosdeprótesesauditivaséprejudicadoquandoassociadoa declíniocognitivoepresenc¸adesintomatologiadepressiva. Assim,esteestudotevecomoobjetivoavaliar,pormeiode testesdereconhecimentodesentenc¸asnoruído,o desem-penhodeidososusuáriosdeprótesesauditivas,segundoos aspectoscognitivosedepressivos.
Método
Considerac¸õeséticas
Este estudo caracterizou-se como pesquisa experimental comamostranãoprobabilísticaporconveniência.Este tra-balhofoiaprovadopelaComissãodeÉticaemPesquisada instituic¸ão,osparticipantesforaminformadossobreos obje-tivos e a metodologiado estudo proposto e concordaram comparticipac¸ãovoluntária,aoassinarumTermode Con-sentimentoLivreeEsclarecido.
Selec¸ãodossujeitosecasuística
Aamostrafoiselecionadadeacordocomosseguintes crité-riosdeelegibilidade:
• Teridadeigualousuperiora60anos;
• Ser portador de perda auditiva neurossensorial,
simé-trica,adquirida,degrauleveamoderadamentesevero, segundoaclassificac¸ãodeLloydeKaplan,1978;
• Serusuáriodeprótesesauditivasemadaptac¸ãobilateral,
modelosidênticos,retroauricularesouintra-aurais;
• Fazerusoefetivodaamplificac¸ãohaviapelomenostrês
meses(pós-períododeaclimatizac¸ão);
• Ausênciadecomprometimentosevidentesdealterac¸ões
neurológicas,articulatóriase/oudefluênciaverbal.
Apartirdoscritériosdeelegibilidade,foramconvocados portelefone, paraa participac¸ãonesteestudo, 25 indiví-duos, nove do gênero masculino e 16 do feminino, entre 60e85anos(médiade69,7).
Procedimentos
Todosospacientesforamsubmetidosaavaliac¸ãodos aspec-toscognitivosedepressivos,bemcomoapesquisadarelac¸ão sinalruído(S/R)dotestelistadesentenc¸as doportuguês. Os procedimentos foram feitos em uma única sessão de avaliac¸ão,comdurac¸ãodeaproximadamente90minutos.
Avaliac¸ãodosaspectoscognitivos
Aavaliac¸ãocognitivafoifeitapormeiodostestesminiexame doestadomental (MEEM)eescaladeavaliac¸ãodedoenc¸a deAlzheimer---ADAS-Cog.
OMEEMéumtestederastreiousadoparaavaliarafunc¸ão cognitiva.NoBrasil,foiadaptadoporBertoluccietal.12 O
teste avalia oitoparâmetros cognitivos divididos em sete categorias: orientac¸ão temporal e espacial, memória em
curtoprazo eevocac¸ãodepalavras,cálculo,praxia, habi-lidadesdelinguagemevisoespaciais.Apontuac¸ãodoteste variade0a30pontos.Quanto menorapontuac¸ão,maior a chance de o indivíduo apresentar alterac¸ão na capaci-dadecognitiva.Neste estudo,foi usada aclassificac¸ãode pontuac¸ãosegundoBruckietal.13
Nesta pesquisa também usou-se a sessão cognitiva da escaladeavaliac¸ãodedoenc¸adeAlzheimer(ADAS-Cog),que écompostapor11itens,osquaisavaliammemória (reconhe-cimentoe evocac¸ão),linguagem(discursoe compreensão) e praxia (cópia e ideomotora). O escore foi classificado conformeaescolaridadedopacienteeforamconsiderados alteradosaquelesfora dafaixaqueequivaleàmédiamais doisdesviospadrões.14
Caberessaltarqueessasescalasforamusadaspara clas-sificarodesempenho cognitivodosindivíduosna categoria normal ou alterado, conforme sua escolaridade. Nenhum participanteapresentavadiagnósticodedoenc¸ade Alzhei-mer.
Avaliac¸ãodoaspectodedepressão
Paraaavaliac¸ãodasintomatologiadepressivafoiaplicadaa versãoreduzidadaescaladedepressãogeriátrica(EDG-15), composta por 15 perguntas com opc¸ões de respostas fechadas(‘‘sim’’ou‘‘não’’).Paraaanálisedosresultados foramconsideradososcritériosdepontuac¸ãosugeridospor Almeida,11 foram considerados alterados escores maiores
decincopontos.
Relac¸ãosinalruído(S/R)dotestelistadesentenc¸as doportuguês
Para a pesquisa da relac¸ão S/R usou-se o teste lista de sentenc¸asdoportuguês(Costa,1998),15 oqualécomposto
porlistascomdezsentenc¸ascadauma,eumruído competi-tivodeespectrodefala.Nestapesquisa,aaplicac¸ãodoteste foi em campo livre em ambiente acusticamente tratado, o indivíduo foi posicionado a um metro da fonte sonora, nacondic¸ão0◦ azimute, ouseja, àfrentedoindivíduo.A
apresentac¸ãodassentenc¸asseguiuaestratégia ascendente--descendente.16 O nível de ruído foi mantido constante
durantea apresentac¸ãodas sentenc¸as, foisomente modi-ficada a intensidade de apresentac¸ão das sentenc¸as. Foi estabelecidaarelac¸ãoS/Rinicialde+5dB.Paraocálculo darelac¸ãoS/R,ovalormédiodoLRSRfoisubtraídodonível deintensidadedoruído.Dessaforma,arelac¸ãoS/R corres-pondeuàdiferenc¸a,emdB,entreovalordoLRSReovalor doruídocompetitivo.
Análiseestatística
Paraestudar acorrelac¸ão entreostestese a relac¸ão S/R comaidade,escolaridade etempodeusodoASSI,foram construídosdiagramasdedispersãoecalculados coeficien-tesdecorrelac¸ãodeSpearman.17Osmesmosprocedimentos
foramadotadosnoestudo dascorrelac¸õesentreostestes doisadoise entreostestesearelac¸ãoS/R.Foiajustado ummodelo deregressão,17 tevecomo variávelrespostaa
Tabela1 Estatísticasdescritivasparaidade(anos),escolaridade(anos)etempodeusodoAASI(meses)
Variável N Média Desviopadrão Mínimo Mediana Máximo
Idade 25 69,7 7,6 60 67 85
Escolaridade 25 4,5 3,1 0 4 11
Tempouso 25 10,2 6,5 3 7 27
AASI,aparelhodeamplificac¸ãosonoraindividual.
Tabela 2 Valores observados dos coeficientes de correlac¸ão de Spearman17 entre relac¸ão S/R e tempo
deusodeAASI,escolaridadeeidade
Relac¸ãoS/R R P
Tempodeuso −0,13 0,536
Escolaridade −0,47 0,018*
Idade −0,22 0,286
AASI,aparelhodeamplificac¸ãosonoraindividual.
e a escolaridade. O procedimento forward stepwise foi adotadonaselec¸ãodasvariáveisexplicativas.Asmédiasdos escores,nosquatrotestes,foram,também,estimadaspor intervalo,foiadotadocoeficientedeconfianc¸ade95%.Nos testesdehipótese,foifixadoníveldesignificânciade0,05 eosvaloressignificantesforamgrafadoscomasterisco(*).
Resultados
Inicialmentefez-seumaanálisedasestatísticasdescritivas paraaidade,escolaridadeetempodeusodoAASIda amos-traestudada(tabela1).
Foifeitoumestudocomparativoentrereconhecimento desentenc¸asnoruído(relac¸ãoS/R)e asvariáveis,tempo deusodapróteseauditiva,escolaridadeeidade. Observou--seumacorrelac¸ãonegativa,comsignificânciaestatística, entrerelac¸ão S/Reescolaridade,ouseja,quantomaiora escolaridademenoréarelac¸ãoS/R(tabela2).
Atabela 3demonstraacorrelac¸ãoentrearelac¸ãoS/R dotesteLSPeosescoresdostestesMEEM,Adas-CogeEDG. Observou-seumacorrelac¸ãosignificanteentrearelac¸ãoS/R eostestesestudados.Assim,quantomaiorapontuac¸ãodo MEEM,menordoADAS-CogedoEDG,menorseráarelac¸ão S/RparaotesteLSP.
Foifeitoummodeloderegressãolinearmúltiplo,apartir darelac¸ãoexistenteentrearelac¸ãoS/Reasvariáveis Adas--Cogeescolaridade(tabela4).
ApartirdoscoeficientesdoAdas-Cogedaescolaridade nomodeloajustado,observou-seque,paraumaumentode
Tabela 3 Valores observados dos coeficientes de correlac¸ão de Spearman17 entre relac¸ão S/R e MEEM,
Adas-CogeEDG
MEEM ADAS-COG EDG
Relac¸ãoS/R
R −0,57 0,58 0,46
P 0,003* 0,002* 0,022*
Tabela 4 Modelo de regressão linear múltiplo entre a relac¸ãoS/ReasvariáveisAdas-Cogeescolaridade
Relac¸ãoS/Rprevista=−0,037+0,15×Adas-Cog---0,40 ×Escolaridade
umaunidadenoescoredoAdas-Cog,arelac¸ãoS/Raumenta, emmédia,0,15dB,eparaumaumentodeumanona esco-laridade,arelac¸ãoS/Rdiminui,emmédia,0,40dB.
Discussão
A compreensão de fala é, na maioria das vezes, prejudi-cadapelapresenc¸aderuídocompetitivo.Sãocadavezmais comunsasqueixasdedificuldadesdecompreensãodefala em ambientes ruidosos entreos idososusuários de próte-sesauditivas.18,19Nesteestudo,optou-seporusartestesde
reconhecimento desentenc¸as comapresenc¸adeum estí-mulocompetitivo(ruído),emcampolivre,paraavaliaresses indivíduosaosimularcondic¸õesdecomunicac¸ãomais próxi-masdasencontradasnocotidiano.
Os idosos foram selecionados aleatoriamente em um servic¸odeconcessãodeprótesesauditivasemcidade metro-politana(SP).Apopulac¸ãoqueprocuraesseservic¸oconsiste, emsuamaioria,depacientesdebaixarendaebaixa esco-laridade, oquerefleteoperfilsocioeconômicodamaioria dos idosos residentes em países em desenvolvimento. Na amostraatualobservou-seumbaixoíndicedeescolaridade entreosparticipantese, alémdisso, arelac¸ãoS/Robtida notesteLSPtendeaaumentarquantomenorfora escola-ridade.Issodemonstraqueosidososcommenortempode escolaridadetêmpiordesempenhoemcondic¸õesdeescuta difíceis.
É importante destacar que a baixa escolaridade pode interferirdiretamentenodesempenhoemtestescognitivos, conformerelatadoporBertoluccietal.12Atémesmoem
pes-soasquenãoapresentavamevidênciasdedéficitcognitivo, quantomenora escolaridade,piorapontuac¸ão nostestes cognitivos.12,13,20,21
DeacordocomPichora-Fuller,22 paramelhor
compreen-sãodainfluênciadaaudic¸ãonaparticipac¸ãodasatividades devidadiáriadeumindivíduo,deve-seconsiderara variá-vel idade com as diferenc¸as nos desempenhos cognitivo e perceptual. As dificuldadesna compreensãodefala são aumentadasporalgunsfatores,comooruídoeamemória. Além disso, a significância desses processos vai depender dascaracterísticassocioemocionais apresentadasporcada indivíduo.
e Adas-Cog, quanto menor o nível cognitivo, pior será o desempenhoauditivodoidosonoruído.Oreconhecimento defalanoruídoéumatarefaquedemandaousode memó-riaeatenc¸ão,bemcomoahabilidadedefechamento,pois oouvintenecessitaidentificaramensagemdistorcidapelo ruído e buscar a informac¸ão de fala na memória.23,24 O
estudodePichora-Fulleretal.25mostrouqueacapacidade
dememóriadetrabalhoéreduzidaquandoonívelderuído éaumentadoemrelac¸ãoaodosinal.
Lunner,26 Akeroyd,27 Gates et al.,24 Miranda28 e Besser
etal.7 encontraramcorrelac¸õesentreodesempenho
cog-nitivo e a habilidade de reconhecer a fala no ruído, os indivíduos com melhor desempenho nos testes cognitivos mostraram melhores resultados na tarefa de reconheci-mento de fala. Vários estudos na literatura especializada apontaramqueoreconhecimentodefalanoruídoexigeuma demandadas habilidadescognitivas queseencontramem declínionapopulac¸ãoidosa.26,27,29---32
A partir da relac¸ão existente entre a relac¸ão S/R e as variáveis Adas-Cog e escolaridade foi elaborado um modeloderegressãolinearmúltiplo.Asdemaisvariáveisnão apresentaramcontribuic¸ãosignificativaadicionalàs seleci-onadasparaexplicararelac¸ãoS/R.Assim,épossívelprever arelac¸ãoS/Remqueoidosoidentifica50%dassentenc¸as, apartirdoescoredotesteAdas-Cogedotempode escola-ridade.
Omodeloderegressãopropostonesteestudoéum instru-mentoquepodeedeveserusadonaclínica,especialmente quando não há recursos tecnológicos que possibilitem a aplicac¸ãodetestesdefalanapresenc¸aderuído competi-tivo.ApartirdoscoeficientesdoAdas-Cogedaescolaridade no modelo ajustado, concluiu-se que, para um aumento de uma unidade no escore do Adas-Cog, a relac¸ão S/R aumenta, em média, 0,15 dB e para umaumento de um ano na escolaridade, a relac¸ão S/R diminui, em média, 0,40dB.
Além dos déficits cognitivos, a depressão também é umdosproblemas desaúdemaisfrequentesnapopulac¸ão idosa.33---35Adepressãoéumsintomacomumnosidososcom
perda auditiva, pelas limitac¸ões funcionais da vida diária que essa privac¸ão ocasiona.36---38 Sabe-se que a depressão
interfere significativamente no desempenho cognitivo do paciente.39
Naatualamostra,observou-seumacorrelac¸ãoentre sin-tomatologiadepressivaeoreconhecimentodesentenc¸asno ruído. Os idosos deprimidospodem apresentar alterac¸ões nas func¸ões executivas, déficits atencionais e diminuic¸ão navelocidadedoprocessamento,10eacredita-sequeessas
alterac¸ões consequentemente possam trazer prejuízos no desempenho comunicativo do idoso usuário de próteses auditivaemambientesdedifícilescuta.
A partirdos achados dapresentepesquisa, acredita-se que a aplicac¸ão de um teste de reconhecimento de fala noruídopodeserumaimportanteferramentaparaauxiliar nomonitoramento dos benefícios daadaptac¸ãode próte-ses auditivas em idosos. Ao examinar a populac¸ão idosa comperdaauditiva,dificilmenteseobtêmindivíduos total-mentesaudáveis,porissosurgeainvestigac¸ãodainfluência dealgunsfatorescomumenteencontradosnessafaixa etá-ria, como o declínio cognitivo e os sintomas depressivos, poisessespodeminterferirnegativamentenoprocessode reabilitac¸ãoauditiva.
Conclusão
Oníveldeescolaridade,odesempenhocognitivoeos sinto-masdepressivosinfluenciamnoreconhecimentodefalano ruídodeidososusuáriosdepróteseauditiva.Quantomelhor onívelcognitivoemaioraescolaridade,melhoréo desem-penhodoidosonoruído.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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