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Legislação e Normas. do Trabalho. Prof. Cristian Luiz Hruschka Profª Lili de Souza

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2019

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Prof. Cristian Luiz Hruschka Profª Lili de Souza

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Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:

Prof. Cristian Luiz Hruschka Profª Lili de Souza

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial.

H873l

Hruschka, Cristian Luiz

Legislação e normas técnicas em segurança do trabalho. / Cristian Luiz Hruschka; Lili de Souza. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

228 p.; il.

ISBN 978-85-515-0245-7

1.Segurança do trabalho - Legislação – Brasil. 2.Segurança do trabalho – Normas – Brasil. I. Souza, Lili de. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

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III

a

preseNTação

Olá, acadêmico! Você está recebendo o Livro sobre Legislação e Normas Técnicas em Segurança do Trabalho, no qual poderá constatar, após sua leitura, que a prevenção ainda se mostra a maneira mais eficiente para evitar acidentes e levar uma vida produtiva e saudável.

No mundo moderno as relações de trabalho se mostram cada vez mais dinâmicas, cuja velocidade reflete na qualidade do trabalho e, com isso, o risco de acidentes é cada vez maior.

Cautela sempre foi importante no dia a dia da atividade laborativa, porém, não se pode exigir apenas do trabalhador que exerça suas atividades de maneira cuidadosa, recaindo sobre a empregadora a maior responsabilidade quanto à manutenção de um meio saudável de trabalho. Para isso, é necessário que a empresa esteja em dia com seus programas de saúde e medicina ocupacional, bem como de prevenção de riscos laborativos, não podendo, sob nenhuma hipótese, transferir ao trabalhador os riscos de sua atividade profissional, afinal, caso queira auferir lucros deve proteger seus funcionários.

Assim, torna-se necessário o acompanhamento diuturno do profissional da área de segurança do trabalho para que as Normas Regulamentadoras sejam observadas à risca, evitando condutas inseguras do trabalhador que possam acarretar danos a sua integridade física e psíquica.

O livro que agora está em suas mãos servirá como base para que possa iniciar seus estudos no amplo tema das normas técnicas e de proteção e saúde ao trabalho, tema que merece cada vez mais destaque quando se fala em eficiência e produtividade, valendo destacar que prevenção na saúde do trabalhador não é despesa, mas sim investimento.

Na certeza de que o presente conteúdo irá lhe apresentar diversos temas para aprofundamento do estudo e da pesquisa, esperamos mantê-lo motivado para enfrentar esse profícuo campo de aprendizado, cuja demanda de profissionais da área é cada vez maior face às exigências da legislação brasileira. Um tema fascinante!

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NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

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VII

UNIDADE 1 – NOÇÕES SOBRE DIREITO DO TRABALHO ...1

TÓPICO 1 – DIREITO DO TRABALHO ...3

1 INTRODUÇÃO ...3

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO MUNDO ...3

3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL ...8

4 CONCEITUAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO ...11

5 PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO ...13

5.1 CONCEITO ...13

5.2 FUNÇÕES ...16

5.3 PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO ...17

5.4 PRINCÍPIOS DE DIREITO DO TRABALHO ...18

6 DIVISÃO DO DIREITO DO TRABALHO ...21

6.1 DIREITO INDIVIDUAL DO TRABALHO ...22

6.2 DIREITO TUTELAR DO TRABALHO ...22

6.3 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO ...22

RESUMO DO TÓPICO 1...23

AUTOATIVIDADE ...24

TÓPICO 2 – ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E FUNÇÃO SOCIAL ...25

1 INTRODUÇÃO ...25

2 LEIS, DECRETOS E PORTARIAS ...25

2.1 LEIS ...28

2.2 DECRETO ...29

2.3 PORTARIAS ...30

3 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL ...31

3.1 PODER CONSTITUINTE ...32

3.2 CONSTITUIÇÃO DO BRASIL 1988 ...32

3.3 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO ESTADO BRASILEIRO ...33

3.4 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ...34

3.4.1 Direitos fundamentais ...34

3.5 DIREITOS SOCIAIS ...35

3.6 DIREITOS DOS TRABALHADORES ...35

3.6.1 Despedida arbitrária ou sem justa causa ...35

4 LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL ...35

5 FUNÇÃO SOCIAL ...37

RESUMO DO TÓPICO 2...42

AUTOATIVIDADE ...43

TÓPICO 3 – LEGISLAÇÃO TRABALHISTA ...45

1 INTRODUÇÃO ...45

2 CLT – CONSOLIDAÇÕES DAS LEIS TRABALHISTAS ...45

2.1 CLT E AS NORMAS DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO ...46

3 OIT – ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO ...58

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3.1 NORMAS INTERNACIONAIS DO TRABALHO ...59

3.2 O BRASIL E A OIT ...60

4 LEGISLAÇÃO ACIDENTÁRIA ...70

5 CAT - COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO ...77

LEITURA COMPLEMENTAR ...81

RESUMO DO TÓPICO 3...83

AUTOATIVIDADE ...84

UNIDADE 2 – RELAÇÃO DE EMPREGO ...87

TÓPICO 1 – DO CONTRATO DE TRABALHO E DIREITOS TRABALHISTAS ...89

1 INTRODUÇÃO ...89

2 DENOMINAÇÕES E CONCEITO ...90

3 FUNDAMENTOS DA RELAÇÃO DE EMPREGO ...90

4 CARACTERÍSTICAS ...92

5 CONTRATO DE TRABALHO ...93

5.1 SUJEITOS DO CONTRATO DE TRABALHO ...94

5.1.1 Empregado ...94

5.1.2 Empregador ...98

5.2 REQUISITOS ...105

5.3 ESPÉCIES ...107

6 PODER DISCIPLINADOR DO EMPREGADOR ...108

7 TRABALHO DA MULHER E DO MENOR ...112

7.1 TRABALHO DA MULHER ...112

7.1.1 Direito internacional ...113

7.1.2 Breve histórico na legislação brasileira ...114

7.2 TRABALHO DO MENOR ...115

7.2.1 Primeiras medidas de proteção internacional ...116

7.2.2 Breve histórico do trabalho do menor no Brasil ...117

7.2.3 O limite de idade ...118

7.2.4 Outras vedações ao trabalho do menor ...119

7.2.5 Duração do trabalho ...120

7.2.6 Admissão e carteira de trabalho ...121

7.2.7 Deveres dos empregadores com relação a seus empregados menores ...121

7.2.8 Serviço militar ...122 7.2.9 Férias ...122 7.2.10 Da aprendizagem ...122 7.2.11 Penalidades ...123 RESUMO DO TÓPICO 1...124 AUTOATIVIDADE ...125

TÓPICO 2 – SEGURANÇA DO TRABALHO ... 127

1 INTRODUÇÃO ...127

2 BREVE HISTÓRICO SOBRE A SEGURANÇA DO TRABALHO ...130

3 SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHO ...133

LEITURA COMPLEMENTAR ...135

RESUMO DO TÓPICO 2...137

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IX

2 ATRIBUIÇÕES DO PROFISSIONAL EM SEGURANÇA DO TRABALHO...140

3 A RESPONSABILIDADE CIVIL E PENAL DO PROFISSIONAL EM SEGURANÇA DO TRABALHO ...147

LEITURA COMPLEMENTAR ...153

4 INSPEÇÃO DO TRABALHO ...155

RESUMO DO TÓPICO 3...159

AUTOATIVIDADE ...160

UNIDADE 3 – NORMAS REGULAMENTADORAS, CERTIFICAÇÕES E QUESTÕES ECONÔMICAS RELACIONADAS À SEGURANÇA DO TRABALHO ...163

TÓPICO 1 – NORMAS REGULAMENTADORAS ...165

1 INTRODUÇÃO ...165

2 O QUE SÃO AS NORMAS REGULAMENTADORAS E PARA QUE SERVEM ...166

RESUMO DO TÓPICO 1...195

AUTOATIVIDADE ...196

TÓPICO 2 – CERTIFICAÇÕES ...197

1 INTRODUÇÃO ...197

2 ISO - INTERNACIONAL ORGANIZATION FOR STANDARTIZATION ...198

3 ISOS RELACIONADOS À SEGURANÇA ...202

4 OHSAS ...202

RESUMO DO TÓPICO 2...204

AUTOATIVIDADE ...205

TÓPICO 3 – QUESTÕES ECONÔMICAS RELACIONADAS À SEGURANÇA DO TRABALHO ...207

1 INTRODUÇÃO ...207

2 MEDICINA DO TRABALHO ...207

3 A QUEDA NA PRODUÇÃO DE UMA EMPRESA E DA NAÇÃO ...211

4 GASTOS COM ATENDIMENTO MÉDICO E MEDICAMENTOS ...213

5 INDENIZAÇÕES E PENSÕES ...214

LEITURA COMPLEMENTAR ...218

RESUMO DO TÓPICO 3...220

AUTOATIVIDADE ...221

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1

UNIDADE 1

NOÇÕES SOBRE DIREITO DO

TRABALHO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender o universo da disciplina;

• aprender uma noção preliminar do Direito do Trabalho e seus princípios; • definir norma jurídica e Ordenamento Jurídico;

• perceber e distinguir as diferentes normas jurídicas que compõem o Ordenamento;

• assimilar a definição de função social;

• entender a estrutura da legislação trabalhista e acidentária;

• conhecer os objetivos das Organizações Internacionais do Trabalho – OIT.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DIREITO DO TRABALHO

TÓPICO 2 – ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E FUNÇÃO SOCIAL

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TÓPICO 1

UNIDADE 1

DIREITO DO TRABALHO

1 INTRODUÇÃO

Um estudo de assunto tão específico como a Segurança e Medicina do Trabalho nos remete, inicialmente, à observação de um montante de normas técnicas que regem a matéria, mas não se pode olvidar que todo conhecimento só será perfeitamente entendido e completo quando se observam os movimentos históricos que culminaram no todo da disciplina, em seus conceitos teóricos e sua prática.

Neste contexto do Direito do Trabalho, os parâmetros históricos que observamos são ditados por realidades sociais, culturais e econômicas. Somente à luz destas realidades na história da humanidade é que podemos compreender seus conceitos e sua dinâmica.

A concepção histórica indica o desenvolvimento de certa disciplina, inclusive nos fornecendo ferramentas de compreensão do presente e lançando luz para projeções futuras.

Tal como o próprio ser humano, que se compreende, em todos os seus aspectos, como o resultado do seu passado, para se apontar o presente e projetar o futuro, assim, jamais se procederá a um entendimento pleno desse importante ramo do Direito sem a observação do seu desenvolvimento no transcurso do tempo.

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO MUNDO

O trabalho tem origem na própria sobrevivência do homem, mas a gênese da palavra vem do latim tripalium – três paus – que era um instrumento utilizado para bater, rasgar e esmiuçar as sementes de trigo, linho e milho. Seria também uma espécie de canga colocada sobre os animais para forçá-los a fazer determinada atividade, além de ser também um instrumento de tortura romano.

De fato, o trabalho como o exercício regular e efetivo de uma ou mais atividades tem sua primeira forma na escravidão, desde que o ser humano passou a exercer domínio um sobre o outro. O escravo era um ser considerado inferior e dominado pelo outro, superior, o qual podia lhe impor qualquer jugo ou condição. O escravo era considerado um objeto e assim não possuía direito algum, pois qualquer benesse advinha da vontade de seu senhor. Assim, ainda que exercendo efetivamente uma atividade de trabalho, o escravo não era considerado um sujeito

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UNIDADE 1 | NOÇÕES SOBRE DIREITO DO TRABALHO

de direito. Não se considerava, nesta época, a atividade em si, a idade do escravo, o tempo de trabalho. Tudo a respeito do trabalho dependia do dono ou mesmo da nação que dominava outra. Não havia direito, mas o dever de trabalhar, sob as condições impostas, quaisquer fossem essas.

A ideologia do trabalho manual e do esforço físico como uma atividade indigna do homem foi uma concepção presente nos conquistadores dóricos e nos povos aqueus, povos guerreiros e conquistadores mais antigos da região da Grécia. Os gregos – Aristóteles e Platão – davam ao trabalho um significado pejorativo, no sentido de que quem trabalhava era um ser inferior, dotado apenas de força física, a qual era utilizada para as atividades relacionadas às necessidades da vida, que eram consideradas servis. Ao servo faltava a faculdade do pensamento, que era considerada nobre e exercida para participarem das atividades de negócios da cidade, tais como a política, por meio da palavra e da conceituação de todas as coisas. O trabalho não tinha qualquer conotação de realização pessoal, e quem tinha que trabalhar não era um ser livre, no sentido mais amplo da palavra, pois aos nobres senhores lhes era facultada a atividade do pensamento e da elaboração mental. Aos escravos, seres considerados inferiores, lhes cabiam todo o trabalho físico.

Já o poeta Hesíodo e o sofista Protágoras davam ao trabalho valor social e religioso, que não somente agradaria aos deuses, mas criaria riquezas e tornaria os homens independentes.

Em Roma, também o trabalho era feito pelos escravos. Lex Aquilia (284 a.C.) considerava o trabalho como coisa e como algo desonroso e vil. No contexto romano havia uma modalidade de contrato, a locatio conductio, cujo objetivo era regular a atividade do indivíduo que resolvia “locar” sua força de trabalho ou resultado em troca de pagamento. Era uma forma de trabalho do homem livre e não do escravo. Este tipo de modalidade contratual, por assim dizer, se dividia em três formas: locatio rei, que era o arrendamento de uma coisa; a locatio conductio operarum, em que eram locados serviços mediante pagamento; e a locatio conductio operis, que era a entrega de uma obra ou resultado mediante pagamento (empreitada).

Transportando-nos diretamente para posterior momento histórico, adentramos a era feudal. Durante o feudalismo, o trabalho estava relacionado à servidão, no sentido de que os senhores feudais davam proteção militar e política aos servos, os quais tinham que trabalhar e entregar parte de sua produção rural aos seus senhores, em retribuição da aludida proteção.

Os nobres jamais trabalhavam e se considerava o trabalho como um castigo, já que, se o trabalho por conta própria, realizado para fins de sobrevivência, já tinha em si a ideia de pena, o trabalho por conta alheia impunha um sentimento bem mais negativo. São recentes as concepções do trabalho como atributo de dignidade.

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TÓPICO 1 | DIREITO DO TRABALHO

5

É importante aqui frisar os modelos que surgiram nesta época: os mestres eram os proprietários das oficinas, que detinham o conhecimento da obra-mestra. Os companheiros eram aqueles que trabalhavam e percebiam salários dos mestres. E os aprendizes eram os menores que recebiam ensino metódico do ofício ou profissão. Embora, nesta fase, houvesse certo grau de liberdade ao trabalhador, os objetivos eram sempre os interesses das corporações. Estas corporações de ofício tinham características comuns: estabeleciam uma estrutura hierárquica, regulavam a capacidade de produção e estabeleciam técnicas de produção. Os aprendizes trabalhavam a partir dos 12 anos (em alguns países até em idade menor). Esses aprendizes ficavam sob a responsabilidade dos mestres, que poderiam inclusive lhes impor castigos físicos. Os pais dos aprendizes pagavam para que seus filhos aprendessem, por vezes altas taxas. Se o aprendiz dominasse as técnicas de produção, passava a companheiro. Este, por sua vez, somente passava ao grau de mestre se fosse aprovado em exame de obra-mestra, prova que era muito difícil e por vezes muito cara, pois lhes eram cobradas taxas para poderem fazer os exames. No entanto, havia uma situação interessante: aquele companheiro que se casava com a filha ou a viúva de um mestre, passava automaticamente à condição de mestre, sem lhe ser exigido qualquer exame ou prova.

A jornada geralmente se encerrava ao pôr do sol, mas a partir da invenção do lampião a gás o trabalho se estendia de 14 até 18 horas por dia, especialmente no verão.

Com um edito de 1776, inspirado nas ideias de Turgot e a Revolução Francesa em 1789, as corporações de ofício foram sendo suprimidas, pois se mostravam incompatíveis com o ideal de liberdade do homem. Na época, dizia-se que a liberdade individual repele a existência de corpos intermediários entre indivíduos e Estado. Ademais, existiram outras causas para a extinção das corporações de ofício, como a liberdade de comércio e o encarecimento dos produtos das corporações.

Em 1791, o Decreto D’Allarde suprimiu de vez as corporações, dando ensejo à liberdade contratual, onde se celebrou que o direito ao trabalho é um dos primordiais do homem (MARTINS, 2012). Neste decreto, qualquer pessoa seria “livre para a realização de qualquer negócio ou exercício de qualquer profissão, arte ou ofício que lhe aprouvesse, sendo, contudo, ela obrigada a munir-se previamente de uma patente, a pagar as taxas exigíveis, e a sujeitar-se aos regulamentos de política aplicáveis”.

Destaca-se ainda nesta fase a Lei Chapelier de 1791, que proibiu o restabelecimento das corporações de ofício, bem como o agrupamento de profissionais e as coalizões, eliminando as corporações de cidadãos de mesmo ofício, estado social ou profissão.

Foi a Constituição Francesa de 1791 que reconheceu o primeiro dos direitos econômicos e sociais: o direito ao trabalho. Coube ao Estado prover meios ao desempregado de ganhar um subsídio para prover o seu sustento.

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UNIDADE 1 | NOÇÕES SOBRE DIREITO DO TRABALHO

Foi a Revolução Industrial que acabou transformando o trabalho em emprego. Relata-se que os trabalhadores, de maneira geral, passaram a trabalhar por salários, gerando uma nova cultura em detrimento da antiga. Afirma-se, com isso, que foi na Revolução Industrial que o Direito do Trabalho e o contrato de trabalho surgiram. Dessa mesma forma, foram concebidos o sentido aos movimentos sociais e políticos ocorridos nos Estados Unidos (1770-1783), por força dos quais se evidenciava a intenção de conquistar novos instrumentos de liberdade.

A força humana foi gradativamente sendo substituída pelas máquinas, tanto no âmbito urbano quanto no rural.

Este novo marco histórico trouxe profundas mudanças na ordem econômica mundial. Dentre os aspectos políticos, houve a transformação do Estado Liberal e da plena liberdade contratual em Estado Neoliberal. O capitalista livremente poderia impor, sem interferência do estado as suas condições ao trabalhador. O estado intervém na ordem econômica e social, limitando a liberdade plena das partes na relação de trabalho.

Em consequência do surgimento das máquinas a vapor e têxteis o desemprego de alguns trabalhadores tornou-se uma realidade social, devido à necessidade de empregar um número menor de pessoas. Surgiu um movimento denominado de “os ludistas”, que eram contra a criação dessas máquinas, chegando ao radicalismo, muitas vezes, de destruí-las. Os ludistas entendiam que as máquinas eram as causadoras da crise do trabalho.

O desemprego tornou-se uma realidade social, devido haver a necessidade de empregar um número menor de pessoas, o que levou os trabalhadores a se sujeitarem a condições terríveis de trabalho, por salários ínfimos. Tudo isso ocasionou a necessidade de intervenção estatal nas relações de trabalho.

A Lei de Peel de 1802, na Inglaterra, disciplinou o trabalho dos aprendizes paroquianos nos moinhos. A jornada de trabalho foi limitada em 12 horas, excluindo-se os intervalos para refeições. O início do trabalho não podia ser antes das 6 horas e nem terminar depois das 21 horas. Observada, também, a educação e a higiene dos menores aprendizes. Em 1819, foi aprovada a lei que tornava ilegal o trabalho de menores de 9 anos e o horário de menores de 16 anos era de 12 horas diárias, nas prensas de algodão.

Na França em 1813, foi proibido o trabalho de menores em minas. Em 1814, foi vedado o trabalho aos domingos e feriados. Em 1839, foi proibido o trabalho de menores de 9 anos e a jornada de trabalho era de 10 horas diárias para os menores de 16 anos.

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TÓPICO 1 | DIREITO DO TRABALHO

7

Com a criação da eletricidade, a partir de 1880, as condições de trabalho tiveram de ser adaptadas. As jornadas de trabalho se tornavam mais e mais estafantes, carecendo de uma atuação estatal mais incisiva.

Dessa forma, a conscientização coletiva, que fora despertada pelo instinto de autoproteção, gerou profundas modificações sociais, jurídicas e políticas.

Em 1º de maio de 1886, em Chicago, nos EUA os trabalhadores organizaram greves e manifestações, visando melhores condições de trabalho, por exemplo, redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas. Dia em que os reivindicadores entraram em choque com a polícia, morrendo quatro manifestantes e três policiais, oito líderes trabalhistas foram presos, um se suicidou, quatro foram enforcados e três foram libertados depois de sete anos na prisão. Este dia ficou reconhecido pelos sindicalistas e pelo governo como o dia do trabalho. A título de curiosidade, nos EUA e na Austrália o dia do trabalho é comemorado na primeira segunda-feira de setembro.

A Igreja também passou a intervir na relação trabalhista, através da doutrina social, “Memorial sobre a questão operária”, em 1845, de D. Rendu e Bispo Annec; as Encíclicas Rerum novarum, em 1891, por Papa Leão XIII; quadragésimo ano, de 1931, e Divini redemptoris, de 1937, de Pio XI; Matter et magistra, de João Paulo XXIII, em 1981; Populorum progressio, em 1967, de Paulo VI; Laboren exercens, de Papa João Paulo II, em 1981. As encíclicas não obrigavam ninguém, mas serviam de fundamento para a reforma da legislação dos países.

Neste ínterim, emergia dos processos revolucionários políticos, sociais e econômicos da época outra revolução, mas desta vez promovida pelo proletariado contra a burguesia e que se ligava diretamente a uma ideologia socialista, de fundo comunista, cujo maior expoente foi Karl Marx.

A Encíclica Rerum Novarum, escrita pelo Sumo Pontífice Leão XIII em 1891, tratou especialmente da condição de trabalho do proletariado, justificando a intervenção com base no argumento de que a Igreja desejava a solução dos litígios havidos entre capital e trabalho, segundo as exigências da verdade e da justiça.

A citada Carta tratou de temas que diziam respeito ao socialismo, ao exemplo dado pela Igreja, aos deveres do estado e às atividades desenvolvidas pelas associações de empregados e de empregadores. Com fulcro nesses fundamentos e baseada nos escritos do Apóstolo São Paulo (1º Cor. 13, 4-7), concluiu que a solução definitiva estaria na caridade, o mais seguro antídoto contra o orgulho e o egoísmo do mundo. Importante citar que a igreja ainda elaborou muitas outras encíclicas, que inobstante o cunho religioso e não obrigatório, houveram por indicar fundamentos para reformas na legislação de outros países.

A partir do término da Primeira Guerra Mundial, surgiu o que pôde ser chamado de constitucionalismo social, que ocorreu com a inclusão nas constituições de preceitos relativos à defesa social da pessoa, de normas de interesse social e de garantia de certos direitos fundamentais, incluindo o Direito do Trabalho.

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UNIDADE 1 | NOÇÕES SOBRE DIREITO DO TRABALHO

A Constituição que primeiro tratou do tema foi a do México em 1917, na qual em seu artigo 123, estabelecia: jornada de oito horas, proibição de trabalho de menores de 12 anos, limitação da jornada dos menores de 16 anos a seis horas, jornada máxima noturna de sete horas, descanso semanal, proteção à maternidade, salário-mínimo, direito de sindicalização e o de greve, indenização de dispensa, seguro social e proteção contra acidentes de trabalho.

Já a segunda Constituição a versar sobre o assunto foi a de Weimar (Alemanha) de 1919, a qual buscou disciplinar a participação dos trabalhadores nas empresas, autorizando a liberdade de coalização dos trabalhadores, bem como criou um sistema de seguros sociais e também a possibilidade de os trabalhadores colaborarem com os empregadores na fixação de salários e de mais condições de trabalho.

Vale mencionar aqui que o conflito entre o coletivo e o individual ameaçava a estrutura da sociedade e sua estabilidade. Surge daí a necessidade de um ordenamento jurídico comum, com sentido mais justo de equilíbrio.

Daí em diante os países passaram a constitucionalizar os direitos trabalhistas. O Tratado de Versalhes de 1919, ao oficializar a paz na Primeira Guerra Mundial, tratou também da criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para a proteção das relações entre empregados e empregadores no âmbito internacional, expedindo convenções e recomendações nesse sentido.

A Carta del Lavoro, celebrada na Itália em 1927, instituiu o sistema corporativista-fascista, que visava organizar a economia em torno do Estado, visando o interesse nacional. O Estado centralizava o poder, em consequência, as relações jurídicas e de trabalho. Este sistema inspirou Portugal e Espanha.

Já em dezembro de 1948, a Declaração Universal dos Direitos do Homem surgiu prevendo alguns direitos aos trabalhadores, como limitação razoável do trabalho, férias remuneradas periódicas, repouso e lazer etc.

Percebe-se que o Direito do Trabalho, foi surgindo em praticamente todos os povos, pela inspiração de cunho humanitário, consagrando a intervenção estatal nas relações laborais, em confronto ao neoliberalismo, que indicava que o trabalho deveria se regular pelo mercado, pela lei de oferta e procura.

3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL

Aqui no Brasil, o trabalho foi eminentemente do escravo negro advindo da dominação de Portugal de terras africanas, já que os portugueses tiveram

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TÓPICO 1 | DIREITO DO TRABALHO

9

As relações de trabalho entre os brancos eram administradas pelas ordens da Coroa de Portugal, pois se tratavam de homens livres, tais como soldados, imigrantes, médicos e outros profissionais autônomos, cosmógrafos, religiosos e os condenados em Portugal que adquiram liberdade em troca de virem para o Brasil.

A Lei do Ventre Livre de 1871 e a Lei dos Sexagenários de 1885, foram as precursoras do movimento de libertação efetiva da escravatura, que ocorreu com a assinatura da Lei Áurea, pela princesa Isabel, em 1888. Após a abolição da escravatura e com o advento da república, é que houve a edição de leis ordinárias que regulavam o trabalho, bem como as constituições brasileiras também trataram do tema, embora, inicialmente, versavam apenas sobre a forma do Estado e o sistema de governo.

Posteriormente, as constituições brasileiras passaram a tratar de todos os ramos do Direito e especialmente do Direito do Trabalho, como ocorre com nossa Constituição atual. Assim, a Constituição de 1824, apenas tratou de abolir as corporações de ofício (art. 179, XXV), pois deveria haver liberdade do exercício de ofícios e profissões.

O parágrafo 8º do artigo 72 da Constituição de 1891 reconheceu a liberdade de associação que tinha um caráter genérico, estabelecendo que a todos era lícita a associação e reunião, livremente e sem armas, não podendo a polícia intervir, salvo para manter a ordem pública.

Leis ordinárias disciplinaram vários temas: trabalho de menores (1891); organização de sindicatos rurais (1903) e urbanos (1907).

Ressalta-se que no ano de 1919, as transformações que vinham ocorrendo na Europa em decorrência da Primeira Guerra Mundial e o aparecimento da OIT incentivaram a criação de normas trabalhistas em nosso país. Ademais, existiam muitos imigrantes no Brasil que deram origem a movimentos operários reivindicando melhores condições de trabalho e salários. Surgia uma política trabalhista idealizada por Getúlio Vargas, em 1930.

Foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio em 1930, órgão que passou a expedir decretos sobre profissões, trabalho de mulheres, salário-mínimo e Justiça do Trabalho.

Getúlio Vargas editou a legislação trabalhista para organizar o mercado de trabalho e controlar os movimentos trabalhistas, em face da expansão da indústria. Seguindo com a história no ano de 1934, foi promulgada a primeira Constituição brasileira a tratar especificamente do Direito do Trabalho, sob a influência do constitucionalismo social. Esta Constituição possuía as seguintes garantias: liberdade sindical (art. 120), isonomia salarial, salário-mínimo, jornada de oito horas de trabalho das mulheres e menores, repouso semanal, férias anuais remuneradas (§ 1º do art. 121).

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UNIDADE 1 | NOÇÕES SOBRE DIREITO DO TRABALHO

A Carta Constitucional de 1937 marcou a fase intervencionista do Estado, devido ao golpe de Getúlio Vargas. Nesta linha, sua inspiração foi a Carta del Lavoro, de 1927, e a Constituição Polonesa. Oliveira Viana, sociólogo, jurista e grande inspirador de nossa legislação trabalhista, asseverava que o liberalismo era incapaz de preservar a ordem social. Foi também criado o sindicato único, vinculado ao Estado, e o imposto sindical. Estabeleceu-se também a competência normativa dos tribunais do trabalho, com o fim de evitar o confronto direto entre empregado e empregador. Nesta carta, a greve e o lockout foram considerados nocivos ao trabalho e ao capital e incompatíveis com os interesses da produção nacional. Havia trechos nesta Constituição que foram copiados literalmente da Carta del Lavoro.

Importante salientar que, em 1º de maio de 1943, foi editado o Decreto-lei nº 5.452, que estabeleceu a Consolidação da Leis do Trabalho (CLT), a qual reunia diversas leis esparsas, não sendo, portanto, um código, o qual pressupõe direito novo. Tratava-se, portanto, da consolidação, da reunião de leis, porém seu fundamento foram os princípios da Encíclica Rerum Novarum e das Convenções da OIT.

Considerada uma norma democrática, a Constituição de 1946 rompeu com o corporativismo da Constituição anterior. Nessa Constituição encontrou-se a participação dos trabalhadores nos lucros (artigo 157, IV), repouso encontrou-semanal remunerado (artigo 157, VI), estabilidade (artigo 157, XIII), direito de greve (artigo 158) e outros direitos que se encontravam na norma constitucional anterior.

Algumas leis de relevo também foram editadas nesta época: Lei 605/49, sobre repouso semanal remunerado na Lei 3.207/57, sobre as atividades dos empregados vendedores, viajantes e pracistas; Lei 4.090/62, instituindo o 13º salário; Lei 4.266/63, que criou o salário-família.

A Constituição de 1967 e a Emenda Constitucional nº 1 de 1969, introduziram institutos novos a época: a cogestão e o regime do FGTS que, de início, conviveu com o da estabilidade e o da indenização, competindo ao empregado a “opção” por um deles; o salário-família foi assegurado aos dependentes do trabalhador; a idade mínima para o trabalho foi reduzida para 12 anos; garantia à aposentadoria da mulher aos 30 anos de trabalho, com vencimento integral.

Nesta fase da história, frisa-se também a instituição de legislação ordinária importante: Lei 5.859/72, acerca do trabalho dos empregados domésticos; Lei 5.889/73, que versando sobre o trabalhador rural; Lei 6.019/74, sobre o trabalhador temporário; Decreto-lei 1.535/77, dando nova redação às férias (da CLT).

A atual Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB), aprovada em 5 de outubro de 1988, trata de direitos trabalhistas nos artigos 7º a 11. Houve uma mudança em relação à Norma Magna, pois nas Constituições anteriores os direitos trabalhistas sempre eram inseridos no âmbito da ordem econômica e

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Uma nota importante ainda é que o artigo 7º da Lei Maior abriga uma lista extensa dos direitos trabalhistas, parecendo uma verdadeira CLT. E ainda os art. 8º ao 11 estabelecem regras atinentes ao direito sindical e à associação profissional.

4 CONCEITUAÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO

Antes de conceituarmos o Direito do Trabalho, podemos explicitar que a expressão “Direito do Trabalho” é termo recente, que surgiu na Alemanha por volta de 1912. Outras expressões já foram utilizadas, que refletiam o contexto histórico-jurídico da época, mas que se mostraram, de certa forma, incompletas, das quais citamos as expressões: direito operário, direito industrial, direito corporativo, direito social, direito sindical.

Na atualidade, a expressão Direito do Trabalho se mostra mais ampla e magnânima, pois reflete os conceitos mais gerais do instituto e não as particularidades, as quais acaba por abrigar.

No Brasil, a partir da Constituição de 1946, todas as outras passaram a usar o termo, sendo igualmente a mais utilizada em muitos países.

As faculdades de Direito utilizaram a expressão Direito do Trabalho para suas respectivas cadeiras a partir da Lei 2.724/56.

Conceituar um termo ou expressão jurídica é atividade importante, que delimita o campo do conhecimento sobre certo assunto, trazendo clareza de percepção, mas que ajuda a desenvolver uma linha de raciocínio que culmina na cognição completa da área a ser estudada ou observada.

Encontram-se na doutrina várias definições e conceitos de Direito do Trabalho. Alguns doutrinadores defendem o critério subjetivista na formulação do conceito de Direito do Trabalho, ao analisarem a disciplina levando em conta os sujeitos a que se aplica o Direito do Trabalho, em que a regra só se aplica aos empregados, ou seja, aqueles que trabalham com subordinação ao poder diretivo do empregador mediante remuneração.

Outros partem de uma definição mais objetiva, e definem o Direito do Trabalho a partir da matéria com a qual ele se ocupa (seu objeto) e não com as pessoas sobre as quais o Direito do Trabalho se aplica (sujeitos).

Existem as conceituações mistas, assim entendidas como aquelas que misturam critérios objetivos e subjetivos na definição, ou seja, referem-se simultaneamente às pessoas atingidas e à matéria regulada pelo Direito do Trabalho.

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Há alguns que entendem ser este ramo do direito melhor definido quando enfocam todas as relações de trabalho, e outros defendem as relações de trabalho subordinado, sendo por essa razão a mais aceita para o atendimento da meta científica estabelecida para uma definição.

Eis algumas definições:

• Definição do professor Amauri Mascaro Nascimento (2013, p. 60): “direito do trabalho é o ramo da ciência do direito que tem por objeto as normas, as instituições jurídicas e os princípios que disciplinam as relações de trabalho subordinado, determinam os seus sujeitos e as organizações destinadas à proteção desse trabalho em sua estrutura e atividade”.

• Definição de Sergio Pinto Martins (2012): “direito do trabalho é o conjunto de princípios, regras e instituições atinentes à relação de trabalho subordinado e situações análogas, visando assegurar melhores condições de trabalho e sociais ao trabalhador, de acordo com as medidas de proteção que lhes são destinadas”.

• Definição de Evaristo Moraes Filho (2010): apresenta uma definição mista ao enxergar o conceito de Direito do Trabalho, como um conjunto de normas jurídicas destinadas a regular as relações de trabalho entre patrões e operários e, além disso, outros aspectos da vida destes últimos, mais precisamente, em razões de suas condições de trabalhadores.

Percebe-se, da análise das três definições, que todas remontam a um ramo que abrange um conjunto de partes organizadas que formam um sistema, um todo.

O Direito do Trabalho possui princípios, que seriam os pilares sobre os quais as normas se fundam. Abrange os princípios comuns ao mundo do direito em geral, mas especialmente os peculiares, que dizem respeito ao ramo propriamente dito.

O Direito do Trabalho contém as regras que regem a matéria, as quais a maioria se encontra na CLT.

O Direito do Trabalho também não é apenas um conjunto de normas e princípios, mas também de entidades e instituições que criam e aplicam o ramo do direito.

O Estado é aquele que cria as normas do Direito do Trabalho, através da elaboração de leis atinentes ao ramo do Direito do Trabalho. O Ministério do Trabalho edita portarias, resoluções e instruções normativas e também mantém a fiscalização da aplicação das normas. A Justiça do Trabalho, por sua vez, julga as causas trabalhistas.

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Embora diretamente relacionados, o objeto do estudo do Direito do Trabalho é a relação de trabalho subordinado e não o trabalhador. Este será sempre o sujeito, mas não é qualquer trabalhador que é sujeito do Direito do Trabalho, apenas aquele que é empregado e sujeito à relação de trabalho com subordinação a um empregador. Assim é que não se incluem neste ramo o trabalhador autônomo e o funcionário público, que são relações de trabalho regidas por outros princípios, ainda que contenham, por vezes, certa semelhança.

Qual a finalidade deste ramo tão importante do direito? Sem dúvida é assegurar melhores condições de trabalho ao trabalhador, inclusive condições sociais, de forma que possa executar suas atividades laborais em ambiente adequado, de forma adequada e colher os frutos do seu salário para obter vida digna para si e sua família, a fim de desempenhar sem barreiras seu papel na sociedade.

Neste aspecto, o Direito do Trabalho vai sempre priorizar a proteção do trabalhador, considerando sempre que este se encontra do lado menos poderoso na relação de trabalho em comparação ao empregador. Visará as regras mínimas protetivas do direito do trabalhador, não proibindo, por lógico, que se alcancem patamares ainda melhores de condições laborais.

5 PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO

Com relação aos princípios do Direito do Trabalho, iniciamos nosso estudo com o conceito de princípios para lastrear o conhecimento, bem como com a distinção entre este e regras, que analisaremos a seguir.

5.1 CONCEITO

Princípio como a própria palavra denota, é onde começa algo é o fundamento, a origem, a causa, o início, o ponto de partida.

A palavra princípio vem do latim principium, principi, que significa origem, base, antes de tudo, começo. No grego, a palavra se origina do termo prin, que possui o mesmo significado.

Trazendo um exemplo concreto, princípio é o fundamento de uma construção, o ponto de partida de uma estrada.

Platão entendia como princípio o fundamento do raciocínio. Para Aristóteles era a premissa de uma demonstração.

Há princípios morais, religiosos, éticos, jurídicos, políticos, tal seja a sua correspondência com determinado assunto ou ciência. Ateremos-nos aos princípios jurídicos, que possuem características próprias, que inspiram e orientam o legislador e o aplicador do direito, embora por vezes certos princípios, ainda que jurídicos, se originaram doutros, como a ética ou política.

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Os princípios são importantíssimos, conhecê-los é como ter uma bússola no meio do deserto. São eles a base sólida, as vigas que conferem unidade a todo o sistema jurídico. O princípio funciona, assim, como diretriz para a elaboração, entendimento, interpretação e aplicação das regras no próprio ramo do direito.

Os princípios diferenciam-se das regras em diversos aspectos.

A regra está prevista no ordenamento do jurídico, o princípio não necessariamente. A regra é a prescrição objetiva e obrigatória, que impõe determinada conduta, ainda que seja interpretativa. Os princípios têm grau de abstração muito maior do que a regra, são gerais, aplicados a um indeterminado número de atos e fatos e servem para uma série indefinida de interpretações.

A regra traz a expressão a um princípio, esteja ele explícito na regra ou não. As regras são a aplicação dos princípios, ou operam a concreção dos princípios sobre os quais se apoiam.

O princípio que será considerado na interpretação da regra, enquanto o inverso não ocorre. São os princípios que sustentam os sistemas jurídicos, influenciando a formação da regra e servindo, via de consequência, a sua interpretação. Os princípios influenciam as regras, eles as inspiram e as guiam, fundamentando a construção do ordenamento jurídico.

De certa forma, diz-se que os princípios delimitam os contornos do ordenamento jurídico, entretanto não são absolutos ou imutáveis, pois uma mudança na realidade fática poderá implicar em necessidade de mudança na legislação e isto pode ocorrer, de tal forma, que seja necessário mudar o princípio, a direção a tomar, justamente por causa da mudança histórica que o originou.

O princípio é assim, muito mais abrangente que a regra: ele fornece fundamentos que a embasam e visam a sua correta compreensão e interpretação, estabelecendo limitações à regra.

Neste sentido, resta claro que violar um princípio é muito mais grave do que violar uma regra, já que isto implica na não observância a todo o sistema jurídico. Violar um princípio significa violar toda a base de sustentação de um sistema que desta forma não se sustenta.

Os princípios guardam íntima conexão com a filosofia, guardando grau de abstração relativamente elevado. Podem ser vagos, indeterminados, amplos. Eles apontam, como a filosofia o faz, para a essência das coisas, para as ideias de justiça e direito. São eles que permitem verificar a ratio legis.

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A regra tem natureza específica e traz muitas vezes a concreção dos princípios. Elas se aplicam diretamente, não comportando exceções. São aplicadas por completo ou não são aplicadas.

Busca-se harmonia entre os princípios, os quais coexistem entre si. Se há conflito entre um e outro a solução decorre sempre da interpretação que faz prevalecer o mais recente sobre o anterior, o de maior grau sobre o de menor grau. Isto também harmoniza as regras que deles decorrem, permitindo interpretação de valores e de interesses quando se observa e interpretam as leis, inclusive sistematicamente.

Um princípio pode ser hierarquicamente superior a outro, por ser mais abrangente ou por ser desdobramento do primeiro ou de outro, e deve-se observar que quando os princípios se entrecruzam, primeiro se verifica o peso relativo de cada um deles.

Os princípios especiais devem prevalecer sobre um princípio geral e o intérprete somente irá socorrer-se dos princípios gerais de direito, caso não existam princípios específicos de certa matéria.

Mesmo sendo os princípios constitucionais mais abrangentes e importantes, os mesmos também estão hierarquizados dentro do sistema, com a prevalência do princípio de hierarquia superior sobre o de hierarquia inferior.

Há preponderância também do princípio do interesse público sobre o particular ou a prevalência do princípio do interesse público sobre o do direito adquirido.

Quanto às regras, o ordenamento jurídico pode ter critérios para resolver o conflito entre elas, e o tratamento se mostra diferente comparado ao dado aos princípios. Não há como verificar se uma regra é mais importante do que outra. Todas o são, pois se dirigem a situações específicas, embora aplique-se a vários atos ou fatos, mas há regra de maior hierarquia e que tem preferência sobre a de menor hierarquia. Se há conflito entre duas regras, uma delas não é válida, deixando de existir. As regras antinômicas excluem-se. A regra mais nova tem preferência sobre a mais antiga (vide dispositivos do Decreto-lei 4.657/42) ou a mais específica sobre a mais genérica.

O princípio não tem por objetivo ser aplicado apenas à determinada situação jurídica, mas a uma série indeterminada de situações. Além do quê, não seguir um princípio não gera uma sanção legal, o que pode haver é uma sanção moral.

A regra espelha uma regulamentação de caráter geral, a regra coloca em ordem e atende uma gama de situações específicas. Princípios servem de base ao Direito como fontes de sua criação, aplicação ou interpretação.

As regras colocam apenas questões de validade, aplicam-se ou não à determinada situação, já os princípios têm função sistemática, aplicam-se automática e necessariamente quando as condições previstas como suficientes

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para sua aplicação manifestam-se. A regra é geral porque estabelecida para número indeterminado de atos ou fatos, o princípio é geral porque comporta série indefinida de aplicações, não admitindo hipóteses nas quais não seria aplicável, porém sem conteúdo especifico nenhum.

Dentro da Ciência do Direito princípios não são objetivos, são gerais e fundamentais, são proposições diretoras, que orientam a formação da norma e a compreensão da realidade diante da mesma. Assim como a realidade muda, também o princípio muda. Destarte que os princípios não são absolutos e imutáveis, mas a realidade acaba mudando certos conceitos e padrões anteriormente verificados, formando novos princípios, adaptando os já existentes e assim por diante. Portanto, há que se examinar cada princípio partindo do contexto histórico em que surgiram, para, dentro desta dinâmica histórica, serem alterados ou adaptados diante da nova situação.

De grande importância, portanto, revestem-se os princípios no Direito, pois atuam antes de a regra ser feita, ou numa fase pré-jurídica ou política. Nessa fase, os princípios acabam influenciando a elaboração da regra, como proposições ideais a serem observadas na elaboração da regra jurídica.

5.2 FUNÇÕES

Os princípios possuem as funções informadora, normativa e interpretativa. Como anteriormente dito, os princípios inspiram, instruem e orientam o legislador. Essa é a função informadora do princípio. O princípio serve de base à criação de preceitos legais, fundamentando as normas jurídicas e servindo de fundamentação para o ordenamento jurídico. São descrições informativas primordiais na elaboração da regra jurídica.

Outra função é a normativa, quando os princípios atuam de forma supletiva, especialmente suprindo eventuais lacunas ou omissões da lei, no caso de não haver uma disposição legal específica que discipline determinada situação. Nesse caso, os princípios atuam como regra de integração da norma jurídica, preenchendo as lacunas existentes no ordenamento jurídico, completando-o e inteirando-o.

A função de interpretação que cabe ao princípio igualmente é importante, pois a norma jurídica deverá sempre ser interpretada de acordo com os princípios de sua formação. É assim que servem de critério orientador para os intérpretes e aplicadores da lei, para alcance da exata compreensão para sua aplicação específica.

Exemplificamos da seguinte forma: o art. 8° da CLT autoriza o intérprete a utilizar-se da analogia, da equidade, dos princípios gerais de Direito,

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deste dispositivo, que os princípios têm função integrativa da norma jurídica, pois apenas na falta de disposições legais ou contratuais é que serão aplicados e poderão também ser utilizados como forma de interpretação, quando a norma não seja suficientemente clara para o caso a ser dirimido.

Importante frisar que em nosso sistema os princípios não têm função retificadora ou conectiva da lei, pois só são aplicáveis em caso de lacuna da lei. A finalidade dos princípios é de integração da lei. Se há norma legal, convencional ou contratual os princípios não são aplicáveis.

5.3 PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO

Princípios gerais de direito são aqueles que são comuns ao Direito em geral. Importante destacar, por exemplo, que ninguém poderá alegar a ignorância do Direito, tal como expresso no art. 3° da Lei de Introdução ao Código Civil, onde fica claro que ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.

Nossa Constituição norteia nosso ordenamento jurídico como um Estado Democrático de Direito, estabelecendo princípios que o regerão: o princípio do respeito à dignidade da pessoa humana; o respeito à personalidade humana, como um direito fundamental; a inviolabilidade do direito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; o princípio da proibição do abuso de direito ou do lícito exercício regular do próprio direito.

Nosso Código Civil, por sua vez, estabelece que não constituem atos ilícitos os praticados no exercício regular de um direito reconhecido (art. 188, I). Veda o enriquecimento sem causa, privilegia a função social do Direito, no sentido de regular a vida humana na sociedade, estabelecendo regras de conduta que devem ser respeitadas por todos. Entretanto, pode-se dizer que o Direito é que está a serviço da sociedade e não esta a serviço do Direito.

O princípio da segurança jurídica privilegia a necessidade da manutenção das relações jurídicas. É aplicável o princípio da boa-fé, seja no Direito Civil, no Comercial, no Direito do Trabalho e no Direito Processual. Presume-se a boa-fé. A má-fé deve ser provada. Todo e qualquer contrato deve ter por base a boa-fé, inclusive o contrato de trabalho.

Não se pode alegar a própria torpeza como forma de deixar de cumprir certa relação, e determinada situação não pode ser considerada como nula em razão de a própria parte lhe ter dado causa.

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No tocante aos contratos, o princípio norteador é de que o contrato faz lei entre as partes (pacta sunt servanda), ou seja, os acordos devem ser cumpridos, atenuando-se apenas quando houver uma modificação substancial da situação anterior, quando há lugar para a revisão contratual. Os contratos ainda se regem por outros princípios, dos quais destacamos de que nenhum dos contraentes pode exigir o implemento de sua obrigação antes de cumprir sua parte no pactuado, e o de que em nos contratos deve haver reciprocidade de direitos e obrigações.

Há uma gama de princípios gerais, o que para o observador do mundo do direito deve gerar estudo e compreensão. Vê-se a extrema importância dos princípios gerais, eis que fundamentam de forma cabal o ordenamento jurídico, assegurando a unidade do sistema, como um conjunto de valores coordenados entre si.

5.4 PRINCÍPIOS DE DIREITO DO TRABALHO

O Tratado de Versalhes (1919) mencionava, em seu art. 427, os princípios fundamentais do Direito do Trabalho, em que figurava, como primeiro princípio, o de que o trabalho não pode ser considerado como mercadoria ou artigo de comércio. Nossa Constituição estabelece a liberdade de contratação (art. 5º XIII), sendo as partes livres para contratar, salvo disposições contrárias de ordem pública. Se é princípio constitucional fundamental a dignidade da pessoa humana, certamente isso valerá para o trabalhador.

Os doutrinadores do ramo do Direito do Trabalho divergem, por vezes, uns dos outros no que respeita a definir quais os princípios do Direito do Trabalho, mas podemos citar alguns princípios de relevo:

Princípio da proteção do trabalhador

Princípio importantíssimo do Direito do Trabalho, considera que empregado deve ser juridicamente tido como a parte mais frágil do contrato, como uma forma de compensar a superioridade econômica do empregador. O princípio protege aquele com vínculo empregatício e não qualquer trabalhador. A dita proteção ao trabalhador se dá de três formas:

1- in dubio pro operario, ou seja, se houver dúvida quanto ao direito, a aplicação deverá ser sempre a mais favorável ao empregado. No caso do processo trabalhista, tal princípio não poderá ser aplicado integralmente, considerando-se quem tem o ônus da prova no caso concreto, de acordo com as especificações dos arts. 333 do CPC e 818 da CLT;

2- aplicação da norma mais favorável ao trabalhador, conforme implícito no caput do art. 7º da Constituição, a qual se divide de três maneiras:

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• não prevalência da hierarquia das normas jurídicas, para os casos em que, havendo várias normas a serem aplicadas numa escala hierárquica, deve-se observar a que for mais favorável ao trabalhador, ainda que hierarquicamente seja inferior. A exceção caberia às normas de caráter proibitivo;

• interpretação da norma mais favorável, toda vez em que, havendo várias normas a observar, aplica-se a regra mais benéfica ao trabalhador. O art. 620 da CLT prescreve que "as condições estabelecidas em convenção, quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em acordo". O contrário também pode acontecer, como no exemplo do caso de que as normas estabelecidas em acordo coletivo, quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em convenção coletiva. 3- aplicação da condição mais benéfica ao trabalhador, quando as vantagens já

conquistadas não podem ser modificadas para pior. Cite-se a Súmula 51 do TST: "as cláusulas regulamentares, que revoguem ou alterem vantagens deferidas anteriormente, só atingirão os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração do regulamento". É um desdobramento, no âmbito do Direito do Trabalho, do princípio constitucional do direito adquirido (art. 5º, XXXVI). Assim, uma cláusula menos favorável aos trabalhadores só tem validade em relação aos novos obreiros admitidos na empresa.

Princípio da Irrenunciabilidade de Direitos

É o princípio que valoriza cada conquista do trabalhador como necessária em um contexto de imensas dificuldades. Assim, os direitos trabalhistas são irrenunciáveis pelo trabalhador. Não se admite, por exemplo, que o trabalhador renuncie as suas férias. Se tal fato ocorrer, não terá qualquer validade o ato do operário, podendo reclamá-las na Justiça do Trabalho. O art. 94 da CLT é claro no sentido de que "serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos trabalhistas". Cabe exceção se o trabalhador o renunciar ou transigir perante um juiz do trabalho, pois nesse caso não se pode dizer que o empregado esteja sendo forçado a fazê-lo. Estando o trabalhador ainda na empresa, não se poderá falar em renúncia a direitos trabalhistas, pois poderia dar ensejo a fraudes. Em determinados casos, a lei autoriza a transação de certos direitos com a assistência de um terceiro.

A transação só é permitida relativamente aos direitos renunciáveis, e quando pressupõe incerteza do direito. A transação interpreta-se restritivamente, assim como os negócios jurídicos benéficos interpretam-se estritamente (art. 114 e art. 843 do CC); porém, a assistência na rescisão do contrato de trabalho não importa transação. Assim, a transação tem de ser interpretada restritivamente (art. 114 do CC), mas não pode implicar renúncia de direitos trabalhistas. Compreende a transação concessões recíprocas, por isso, é bilateral. A renúncia é unilateral. Objetiva a transação prevenir litígios.

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Princípio da Continuidade da Relação de Emprego

A presunção é a de que o contrato de trabalho terá validade por tempo indeterminado, ou seja, haverá a continuidade da relação de emprego. A exceção à regra prevista em lei acerca dos contratos por prazo determinado, inclusive o contrato de trabalho temporário, os quais possuem condições especiais de validade e existência. A ideia geral é a de que a preservação do contrato de trabalho preserva os direitos a ele inerentes, evitando a lesão a estes direitos. Proíbe-se, por exemplo, uma sucessão de contratos de trabalho por prazo determinado. A Súmula 212 do TST adota essa ideia ao dizer que "o ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o despedimento, é do empregador, pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado".

São exemplos da continuidade do contrato de trabalho encontrados na legislação: a estabilidade ou a garantia de emprego, que impedem a dispensa do trabalhador por parte do empregador; a mudança na estrutura e na propriedade da empresa (arts. 10 e 448 da CLT), que não alteram o contrato de trabalho; a transferência do empregado (art. 469 da CLT), que preserva a relação de emprego; as hipóteses de redução de salários e de redução da jornada (art. 7º, VI, e XIII, respectivamente, da Constituição), que promovem flexibilização de condições de trabalho temporárias com a fiscalização do sindicato de trabalhadores, evitando dispensas nas crises econômicas.

Princípio da Primazia da Realidade

No Direito do Trabalho a realidade é muito mais importante do que a forma, assim, os fatos prevalecem sobre os documentos. Há casos, por exemplo, que um empregado possui um contrato de prestador de serviços autônomo com a empresa, no entanto, a realidade é de um contrato que possui todas as características de vinculação de emprego, subordinação, cumprimento de horários e metas. O que será observado realmente são as condições fáticas que demonstrem a existência do contrato de trabalho. São privilegiados, portanto, os fatos e a realidade sobre a forma ou a estrutura empregada.

Princípio da Razoabilidade

Bom senso e uso da razão são elementos que devem informar igualmente o Direito do Trabalho, pois é correto pensar que o ser humano, em suas atividades cotidianas e mais especificamente o trabalho, fará uso de sua razão para caracterizar seu comportamento. Razoabilidade no contrato de trabalho diz respeito às condições e meios normais para a consecução de resultados pretendidos, apresentando-se como elemento norteador da solução dos casos, limitando ou elastecendo direitos, tendo em vista a regra do equilíbrio e isonomia conveniente ou razoabilidade. Quando se conjetura de Direito do Trabalho,

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No Direito do Trabalho, o princípio da razoabilidade aplica-se de duas formas: • para análise de determinada explicação ou solução, dada em determinada

situação, quando a relação contratual não possui contornos tão evidentes e que torna-se necessário, com a racionalidade, distinguir a realidade da simulação; • como limite ao empregador, evitando possíveis arbitrariedades, na relação

jurídica de subordinação com o empregado.

Neste cenário, o princípio da razoabilidade também é relevante instrumento para se elucidar algumas questões práticas, especialmente diante das tendências atuais de terceirização, ou de trabalho realizado na residência do trabalhador, ou em horários diferentes dos comumente utilizados. Aplica-se, dentre outros, na avaliação do poder disciplinar, na proporcionalidade entre as sanções aplicáveis e também quando se faz notória má conduta por parte do empregador.

Princípio da Boa-Fé

Conquanto já se tenha explicitado que este princípio é geral, importante explicitar as aplicações específicas no que respeita ao Direito do Trabalho, tais como, o dever de fidelidade, o uso abusivo do direito de greve, enfim, refere-se à conduta da pessoa que considera cumprir realmente o seu dever, com a plena consciência de não enganar, não prejudicar, nem causar danos, sem abusos ou desvirtuamentos.

Princípio da Responsabilidade Solidária do Empregador

Simples, mas importante, especialmente em um mundo cada dia mais globalizado, este princípio deve ser aplicado quando há grupos econômicos de empresas sob um mesmo conglomerado, todas as empresas, mesmo que distintas ou em ramos diferentes, mas que haja subordinação a uma matriz tem a responsabilidade de adimplir as obrigações trabalhistas advindas.

6 DIVISÃO DO DIREITO DO TRABALHO

Os doutrinadores divergem quanto à divisão do Direito do Trabalho, porém, por ser bastante abrangente, a divisão em Direito Individual do Trabalho e Direito Coletivo do Trabalho é aceita por uma grande maioria de autores.

Há alguns que dividem este ramo de forma bem específica atinente a cada assunto: Introdução ao Direito do Trabalho; Direito Internacional do Trabalho; Direito Individual do Trabalho (contrato de trabalho e seu conteúdo); Direito Sindical e Direito Público do Trabalho (que se subdividiria em Direito Processual do Trabalho, Direito Administrativo do Trabalho, Direito Penal do Trabalho, Direito da Previdência e Assistência Social, incluído no penúltimo o acidente do trabalho). Entretanto, uma divisão coerente, que seria um meio termo entre as duas primeiras relatadas, seria a seguinte:

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6.1 DIREITO INDIVIDUAL DO TRABALHO

Esta divisão do Direito do Trabalho abrange o contrato individual do trabalho e as regras legais ou normativas a ele aplicáveis.

As relações de trabalho individuais possuem como sujeitos o empregado, o empregador e a prestação de trabalho subordinado, por pessoa física, de forma não eventual, remunerada e pessoal.

Destarte, o Direito Individual do Trabalho trata do contrato de trabalho em toda a sua abrangência, desde o seu nascimento, seu desenvolvimento e sua cessação, além de outras regras a ele atinentes, como o FGTS e a estabilidade.

6.2 DIREITO TUTELAR DO TRABALHO

É um instituto que se torna mais importante à medida que o Estado, as organizações internacionais do Trabalho, o setor público e as próprias empresas privadas se empenham, cada qual em sua esfera de atuação, em proporcionar um ambiente de trabalho que proporcione ao trabalhador manter-se saudável, física e mentalmente, e seguro. Inclusive, a aplicação das sanções cabíveis no caso do descumprimento das regras a ele atinentes.

O Direito Tutelar do Trabalho trata das regras sobre a proteção do trabalhador e seu meio ambiente de trabalho, normas de segurança, medicina e higiene do trabalho, a jornada de trabalho, sobre os repousos do trabalhador e sobre a fiscalização trabalhista.

6.3 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

A razão de ser das relações coletivas está na necessidade de união dos trabalhadores para que possam defender, em conjunto, as suas reivindicações perante o poder econômico. Não se pode olvidar que em toda a história do Direito do Trabalho, o trabalhador, individualmente, não tem a necessária força para defender seus interesses, o que, em conjunto, aumenta muito o seu poder de ação.

O conteúdo do Direito Coletivo do Trabalho envolve as relações grupais, coletivas, entre empregados e empregadores, cujos sujeitos são identificados a partir da reunião de empregados ou empregadores de uma determinada área, o que é cognominado categoria. O Direito Coletivo do Trabalho é o conjunto de regras, princípios e institutos reguladores das relações entre os trabalhadores, enquanto uma categoria profissional, com os seus empregadores.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• A história do Direito do Trabalho remonta questões espirituais/bíblicas, passando pela evolução histórica no mundo e no Brasil.

• O conceito de Direito do Trabalho, embora sob a ótica de vários doutrinadores, resume-se em o conjunto de normas que visam regular as relações de trabalho subordinado e situações análogas, com o objetivo de assegurar melhores condições de trabalho com medidas de proteção aos trabalhadores, sob o comando de princípios.

• Inclusive o princípio da boa-fé, alcança também o Princípio da Responsabilidade Solidária do Empregador.

• A maior Divisão do Direito do Trabalho é o Direito do Trabalho Individual e o Direito do Trabalho Coletivo.

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Para finalizar este primeiro momento de estudo estamos propondo como atividade de verificação a elaboração de um breve resumo (uma página) – na metodologia exigida (Arial, 11, espaço entrelinhas 1,5, justificado).

Realizado o trabalho, releia brevemente o tópico estudado e compare seu resumo com todo o conteúdo lido.

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TÓPICO 2

ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

E FUNÇÃO SOCIAL

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Avançamos nosso estudo, agora apresentando lições sobre o Ordenamento Jurídico Brasileiro e Função Social, com a análise de leis, decretos e portarias.

Analisaremos do que se trata o Ordenamento Jurídico Brasileiro, tendo em vista os avanços sociais, que culminaram na Função Social, presente na atual Constituição da República Federativa do Brasil, em que no título que trata da Ordem Econômica e Financeira encontramos a função social da propriedade, entre os princípios gerais da atividade econômica.

2 LEIS, DECRETOS E PORTARIAS

Antes de adentramos nas noções gerais sobre as Leis, Decretos e Portarias, faz-se necessário compreendermos o que é o Ordenamento Jurídico. Assim, entende-se por Ordenamento Jurídico o conjunto sistematizado e organizado das normas jurídicas positivas, tuteladas pelo Estado, vigentes num determinado momento e aplicáveis num determinado âmbito territorial.

As normas jurídicas não são postas ao acaso, aleatoriamente, como se fosse um agregado inorgânico de preceitos. Essa pluralidade de normas que compõem o direito positivo de um Estado configura um complexo orgânico, ordenado e hierarquizado, formando um verdadeiro sistema.

Esse sistema incorpora a totalidade do direito vigente em determinado Estado, compreendendo todo o universo de normas jurídicas, desde as situadas no nível mais elevado, como as leis constitucionais até as de menor expressão hierárquica, como as sentenças judiciais, os contratos e mais diferentes normas baixadas pela administração pública.

Adolf Merkl comparou a estrutura das normas jurídicas com a figura da pirâmide, comparação essa que ganhou corpo, sedimentando-se universalmente como símbolo de cada ordem jurídica estatal.

Referências

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