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A NOVA EVANGELIZAÇÃO E O PROCESSO DE SECULARIZAÇÃO À LUZ DO SÍNODO DOS BISPOS DE 2012

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PUC-SP

MARCUS VINÍCIUS ANDRADE SANTOS

A NOVA EVANGELIZAÇÃO E O PROCESSO DE

SECULARIZAÇÃO

À

LUZ DO SÍNODO DOS BISPOS DE 2012

MESTRADO EM TEOLOGIA

SÃO PAULO

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A NOVA EVANGELIZAÇÃO E O PROCESSO DE

SECULARIZAÇÃO

À

LUZ DO SÍNODO DOS BISPOS DE 2012

MESTRADO EM TEOLOGIA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Teologia Prática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. Pedro Iwashita.

SÃO PAULO

(3)

PUC-SP

MARCUS VINÍCIUS ANDRADE SANTOS

A NOVA EVANGELIZAÇÃO E O PROCESSO DE SECULARIZAÇÃO

À

LUZ DO SÍNODO DOS BISPOS DE 2012

MESTRADO EM TEOLOGIA

Banca Examinadora

______________________________________

______________________________________

______________________________________

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A Trindade Santa que se desdobra em amor e proximidade para com humanidade.

A minha comunidade Carmelitas Mensageiros do Espírito Santo, que disponibilizaram compreensão e tempo para este estudo e como lugar teológico me ajudam a viver a grandeza da fé nos pequenos detalhes que compõe a vida no cotidiano.

Aos professores Padre Sergio Conrado e Padre Pedro Iwashita que colaboraram e acompanharam este trabalho, com preciosas observações e precioso discernimento.

A Adveniat que colaborou ajudando-me em parte dos custos para que possibilitasse o avanço na elaboração do trabalho.

Ao apoio de pessoas que na vida pastoral pelas paróquias e comunidades em que passeia me ajudaram a compreender com maior profundidade a corresponsabilidade pastoral com aquele que é o Sumo e Eterno Pastor: Jesus Cristo.

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SANTOS, Marcus. A Nova Evangelização e o processo de secularização à luz do Sínodo dos Bispos de 2012.

Ao apresentarmos as duas dimensões propostas pelo tema de abordagem deste trabalho, buscamos dar um destaque a Nova Evangelização e como ela se coloca na contemporaneidade. Conhecer por outro lado o processo de secularização e suas distintas abordagens e desdobramento na história e no pensamento cientifico nos permite olhar para o desafio evangelizador da Igreja com a devida sobriedade frente ao necessário e permanente testemunho que a fé deve apresentar das razões que a animam. Fazer a verificação destes dois mundos presentes no mesmo ambiente em que a vida acontece permite-nos dialogar e até mesmo perceber, seja no que se refere à fé cristã, seja o que se refere ao processo de secularização as dimensões que convergem em um mesmo sentido e no que um coloca ao outro fronteiras conceituais.

Procuramos neste trabalho além da importante abordagem do processo de secularização e o modo como os Padres sinodais refletiram sobre a presença do mesmo nos ambientes eclesiais, abordar também uma nova compreensão do conceito de evangelização e “nova evangelização” nesta atual etapa proposta e oferecida a toda a Igreja a partir do Sínodo dos Bispos de 2012, e que culminou na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium do Papa Francisco. Sabemos que o resultado desta Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, reuni em si o “Sentire cum Eclesia”, não apenas a partir de um epicentro institucional, mas um sentir eclesial a partir da universalidade considerando o particular de cada experiência, cultura e vida dos diferentes rostos da Igreja presente no mundo como um precioso contributo ao todo do tecido eclesial. O Documento de Aparecida, assim como a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe foram sinais que levaram a Igreja a propor através de dimensões maiores e não somente continentais, uma nova convocação universal a Nova Evangelização tendo como referência o Sínodo de 2012.

A conclusão que apresento é que podemos adentrar mais profundamente neste “novo paradigma” e nestes “novos conteúdos programáticos” que convocam a Igreja a uma permanente conversão pastoral. Aprender a discernir os “sinais dos tempos” e se fazer presente na história através de uma frutuosa atitude de resignificação de todos os meios e estruturas, como de costumes ou tendências, para que a Igreja se veja menos atada por elementos secundários, expressando sua força evangélica no mundo, e sendo um sinal escatológico e histórico do Reino dos Céus em meio aos seus contemporâneos.

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SANTOS, Marcus. “The New Evangelization and the secularization process in the light of the Synod of Bishops in 2012”

When we aim to present the two proposed dimensions given by the approaching theme from this work, we seek to highlight the New Evangelization and how it is inserted in the contemporaneity.

On the other hand, knowing the secularization process, its distinct approaches and its unfolding in History and in the scientific thought, it allows us to see the evangelizing challenge of the Church with the right sobriety before the permanent and necessary witness which faith must present on the reasons that motivate it.

Verifying these two worlds which are present at the same environment where life happens, it permits us to dialogue and even to realize, concerning to Christian Faith or to the secularization process the dimensions are converged into the same sense and how each of them provide concept borders.

Besides the important approaches on the process of secularization and how the priest of the Synod reflected on the present of it in the Ecclesial environments, this work also aims to express a new comprehension of the evangelization concept and the “new evangelization” in this current proposed stage that is offered to the whole Church starting from the Synod of Bishops from 2012 which culminated in the Apostolic Exhortation of Pope Francis Evangelii Gaudium.

We know that the result of this Apostolic Exhortation Evangelii Gaudium reunites on itself the “Sentire cum Ecclesia” not only from an institutional epicenter but an ecclesial feeling from the universality considering life, culture and each particular experience of the Church which is present in the world as a precious contribution to a whole Ecclesial tissue.

The Document of Aparecida, as well as the V General Conference of the Latin American and Caribbean Episcopate were signs that led the Church to propose a new universal convocation to the New Evangelization not only continental but also through greater dimensions by having the Synod of 2012 as a reference.

The conclusion I present is that we can go deeper in this “new paradigm” and in these “new programmatic contents” that convoke the Church to a permanent pastoral conversion. Learning how to discern the “signs of the times” and being present in History thought a fruitful attitude of reframing of all means and structures, such as customs and tendencies, so that the Church may see Herself less tied by secondary elements, expressing Her evangelic strength in the world, and being a eschatologic and historical signs of the Kingdom of Heavens among the contemporaries.

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AG Ad Gentes

CD Christus Dominus

CDF Congregação par Doutrina da Fé

CELAM Conferência Episcopal Latinoamericana

CFL Christisfidelis Laici

CIC Catecismo da Igreja Católica

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CV Caritas in veritate

CVII Concílio Vaticano II

DA Documento de Aparecida

DM Documento de Medellín

DP Documento de Puebla

DS Documento de Santo Domingo

DV Dei Verbum

EG Evangelii Gaudium

GS Gaudium et Spes

LG Lumen Gentium

NMI Novo Millenio Ineunte

PP Populorum Progressio

RM Redemptoris Missio

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SUMÁRIO

Introdução...12

CAPÍTULO I

O PROCESSO DE SECULARIZAÇÃO COMO DESAFIO A FÉ CRISTÃ 1. Secularização e processo de secularização...16

2. O Sentido Histórico da secularização...17

2.1 A Tensão entre secularização e secularismo...19

2.1.2 A Fé cristã e o Estado...21

2.3 O Sentido Filosófico da Secularização...24

2.4 O sentido sociológico da secularização...,...27

2.4.1 O Hibrido e a liquefação da vida como cultural...28

2.4.2 Modernidade, ambivalência e as rupturas sociais e culturais...29

2.4.4 Pluralismo, crise da modernidade e da razão iluminista...32

2.5. O Sentido Teológico da Secularização...34

2.5.1 A Teologia da morte de Deus: espelho de um ambiente secularizado...35

2.5.2 O Homem emancipado...38

2.5.3 A teologia política e o projeto secularizador...38

3. Uma nova antropologia e eclesiologia secular...41

3.1 Degeneração da religião e a mercantilização da Fé...42

3.2 O Corpo como sujeito central da mercantilização...45

4. O Pontificado de Bento XVI e o processo de secularização...,,,,,,...47

4.1. A Antiga Europa Cristã e os novos desafios da secularização...50

4.2 Sínodo: A nova evangelização e a Transmissão da fé Cristã: “A Igreja existe essencialmente para evangelizar”...52

4.3 Papa Francisco e a resposta testemunhal á secularização ...52

(10)

1.2 A Nova Evangelização: “nova no seu fervor, nos seus métodos, nas suas

expressões”...58

1.2.1 Fundamentos Teológico-Pastorais da nova evangelização...60

12.2 Fundamento Antropológicos da Nova evangelização...62

1.2.3 Fundamentos Cristológicos da Nova Evangelização...63

1.2.4 Fundamentos Eclesiológicos da Nova Evangelização...64

1.2.5 Fundamentos Soteriológicos da nova evangelização...65

2. A Conversão: princípio fundamental para uma nova evangelização...66

2.1 A Vida Eterna principiada nas bem-aventuranças...68

2.2 A dimensão social da evangelização: O Reino de Deus e sua expansão no mundo...71

2.3 A centralidade do ministério da pregação na nova evangelização...74

2.4 Os novos evangelizadores-mistagogos...76

3. A Igreja Particular, primeiro sujeito da missão...78

3.1 A missão da pastoral orgânica como um desafio eclesial...79

3.2 A paróquia como lugar privilegiado para uma nova evangelização...81

3.3 A Missão e a espiritualidade de comunhão...84

3.4 Novos movimentos eclesiais e nova evangelização...87

3.5 Nova evangelização e ecumenismo...91

III- CAPÍTULO CAMINHOS PARA UM NOVO PENTECOSTES 1. Conversão Pastoral: um novo paradigma e um novo programa de missão...93

1.2 Missão Integral e evangelizadores com Espírito...96

1.3 Auto-conversão eclesial...98

2. Discipulado e missão...104

2.1 Bispos, presbíteros, religiosos e leigos: discípulos missionários...108

2.1.1 O bispo discípulo Missionário...108

(11)

2.1.3 A vida consagrada discípula missionária...111

2.1.4 Leigos discípulos missionários...112

3. A Igreja diaconal como rosto autêntico da comunidade cristã...114

3.1 O Querigma: primeiro anúncio e novas perspectivas...115

3.2 A Igreja: uma comunidade a serviço do amor e da verdade...117

3.3 Kairós: Um novo encontro pessoal com Jesus Cristo na Igreja...118

3.4 Em torno da Palavra...121

3.4.1 O lugar da homilia na nova evangelização...122

3.4.2 O ministério catequético...126

3.4.3 Os meios de comunicação e a nova evangelização...128

4. A Igreja: Uma comunidade do testemunho a favor e em defesa da vida...128

4.1 Redescobrir a sacralidade da família...129

4.2 A família célula fundamental a ser valorizada...132

4.3 A nova evangelização e os caminhos da educação...133

4.4 Jovens que evangelizam jovens...135

4.5 Os Santos: testemunhas credíveis e modelos para os “novos evangelizadores.”...136

5. A Igreja: uma comunidade do mistério partindo do mistério do ser humano ao mistério de Deus...137

5.1 A liturgia e a Contemplação de Deus e do outro como pedagogia mistagógica a serviço da nova evangelização...138

5.2 Veni Creator Espiritus: “Como um novo Pentecostes”...141

5.3 A experiência de Deus na nova evangelização como experiência de Sentido...143

Conclusão...147

(12)

Introdução

O objetivo central da pesquisa que procuramos aqui desenvolver é o de ressaltar o sentido da nova evangelização dentro da missão e da natureza do próprio ser da Igreja frente aos desafios postos pelo processo de secularização. A Igreja é essencialmente missionária, ou seja, vive profundamente sua missão de evangelizar e de fazer presente no mundo dos homens os valores do Reino de Deus. Dentro desta temática: Nova evangelização e processo de secularização, encontramos o Sínodo dos Bispos como um eixo importante de reflexão.

A partir do Sínodo ou sob a sua luz buscamos apresentar seja com os próprios textos e discursos neles proferido, a Igreja na sua missão evangelizadora. Procuramos aqui buscar compreender o fenômeno da secularização não apenas em seu sentido contraditório, mas como um fenômeno que faz pensar a própria ação pastoral da Igreja dentro desta configuração de mundo secularizado. Ao falarmos em nova evangelização em nossos dias faz-se necessário compreender ao mesmo tempo as forças, as ideias e a estrutura que a cada dia se faz sentir no grande tecido da sociedade e que traz marcas de um mundo em acelerada transformação. A Nova evangelização com seus novos evangelizadores são convidados a compreender este movimento e perceber quais são as suas fronteiras conceituais e quais são os elementos que podem convergir para uma preciosa colaboração para a própria obra evangelizadora.

A Igreja de Cristo está no mundo para ser sal da terra e luz do mundo. É justamento dentro desta paisagem atual de paradoxos múltiplos que está mesma Igreja composta de membros e de agentes de evangelização é convocada a ir de encontro com o mundo contemporâneo e todas as suas conquistas e dramas. A Igreja é convocada a sair, ir ao encontro vivendo o “Ide por todo mundo” como um “Indo” pelos caminhos e estradas da história seja pessoal seja comum de todos os homens.

(13)

modo isolado, mas comunica ao seu entorno um impacto conceitual de reflexão sobre o pensamento e o agir humano.

Uma das instituições a sentir os grandes impactos do processo de secularização foi justamente a Igreja. A Partir deste impacto a Igreja é convocada a refletir sobre a sua ação no mundo. Aqui se faz necessário compreender um caminho que proponha a construção de uma resposta que não seja apenas uma nova apologética, um novo confronto de conceitos e ideias, mas uma dialética deste mesmo processo. O sínodo ao analisar tal processo convoca num primeiro momento a própria Igreja a redescobrir o que significa evangelização e Nova Evangelização. Este é o ponto fundamental que procuramos abordar no segundo capítulo considerando a importância de fazer crescer a compreensão sobre a ação evangelizadora da Igreja.

No capítulo segundo ao colocarmos as bases da evangelização, e, por conseguinte apresentar o contexto da convocação da Igreja para um a nova evangelização procuramos evidenciar a atualidade e os desafios, sejam dos pastores, seja de cada agente de evangelização frente a nova configuração de mundo. Procuramos apresentar alguns fundamentos teológicos, pastorais, cristológicos, antropológicos e soteriológicos que nos permitissem avançar dentro do trabalho percebendo alguns conceitos fundantes da mesma missão evangelizadora da Igreja. Também trabalhamos neste capítulo o valor das Sagradas Escrituras em sua importância na nova evangelização. O sínodo falou da importância de valorizar a homilia e o contexto litúrgico como lugar excelente de praticar uma hermenêutica da fé assim como uma formação mais sólida, seja do clero como da vida consagrada e laical dentro dos conteúdos centrais que são transmitidos através da Palavra de Deus..

(14)

conjunto seja em nível de Igreja particular, seja em nível de Igreja universal revalorizando a importância de todas as forças de evangelização dentro da Igreja e que podem através de uma pastoral orgânica ser de grande valia a nova evangelização. Dentro destas propostas verifica-se que a paróquia não é uma realidade ultrapassada, mas uma presença viva em meio ao povo de Deus capaz de suscitar novas expressões eclesiais, ao mesmo tempo às novas comunidades e os movimentos com seus carismas específicos oferecem uma preciosa colaboração na ação evangelizadora da Igreja e numa atitude de abertura podem melhor colaborar nas realidades paroquiais e diocesanas em que estão inseridas. Para manter seja a força dinâmica da paróquia em atividade, assim, como a colaboração dos novos movimentos e comunidade no seu vigor evangelizacional é preciso uma auto-conversão eclesial, ou seja, uma conversão pastoral. Este é o ponto que buscaremos abordar no terceiro capítulo a conversão pastoral como uma pré-disposição da Igreja para viver um novo Pentecostes.

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pastoral da Igreja se torne profundamente missionária vivendo sua vocação ad intra e ad extra. Sendo capaz de edificar para dentro e sair ao encontro daqueles que mesmo batizados estão for ou distantes da prática de sua fé batismal.

Dentro destas perspectivas o trabalho procurou apresentar cada membro do Corpo de Cristo como um discípulo missionário, que busca através de seu testemunho e de seu compromisso com Cristo e sua Igreja viver de modo diaconal a sua fé. Vimos por bem apresentar a Igreja no seu rosto diaconal à serviço de Deus e dos irmãos, seja através da celebração dos sacramentos, seja na defesa da vida através da caridade, seja através do anúncio da Palavra de Deus de modo a fazer com que a fé seja transmitida operando transformações significativas na vida pessoal, familiar e social.

A Igreja diaconal está a serviço da vida e uma das maneiras de proteger e promover a vida é proteger e promover a família. A família como Igreja doméstica e célula mãe da sociedade é um lugar onde a vida pode se desenvolver. A família é convoca a ser sujeito da nova evangelização comunicando valores cristãos e humanos no seu próprio interior.

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CAPÍTULO I

O PROCESSO DE SECULARIZAÇÃO COMO DESAFIO A FÉ CRISTÃ

1. Secularização e processo de secularização

O processo de secularização está profundamente ligado a modernidade e vem penetrando na sociedade humana das mais variadas formas. Verifica-se que nos últimos anos varias estâncias dos saberes sejam eclesiásticos ou seculares tem se ocupado com o fenômeno da secularização. Este fenômeno tem sido um dos centrais objetos de estudo recentemente na Igreja católica:

“A secularização se entende por um processo histórico pelo qual o mundo toma consciência de sua consistência e de sua autonomia; seria, portanto, um processo geral de libertação, pelo qual o homem, a sociedade a cultura seriam libertados da tutela e do controle do mito, da religião e da metafísica ou das normas ou instituições dependentes do âmbito sacro ou religioso. As atenções são fortemente voltadas contra o mito, (desmitização), contra o sacro, (dessacralização), contra a metafísica, contra o sobrenatural e contra

a religião como tal”1

O processo de secularização hoje é um fenômeno que pode ser percebido e notado não apenas como algo presente já no mundo, mas ele se coloca de tal forma que se impõe como uma via existencial em busca de um humanismo que seja referencia para o ser humano:

“À medida que a secularização avança, o caminho tradicional vai sendo abandonado, a começar pelas elites intelectuais, pela classe operária e pela juventude secularizada. Na origem, estão à virada cientifica, a crítica aos mitos da natureza, o desfazimento da cosmologia ptolomaica, a entrada do espírito cientifico de experimentação, a explosão da subjetividade, a afirmação da autonomia.

(17)

Este novo caminho corta as paragens já trabalhadas pela nova visão cientifica do universo. Deixa-se para trás toda leitura mítica da natureza. Só realmente existe aquilo que cai sob a explicação da razão cientifica. Se algo lhe escapa não vem da natureza da realidade, mas da imperfeição dos

conhecimentos e instrumentos científicos presentes. “Posterga para o futuro

certo, nem sempre previsível, a solução ainda não conhecida.2

“Para melhor situar o conceito de secularização e secularismo o presente trabalho buscou situá-los dentro de um panorama histórico, precisamente porque na

“secularização” temos um conceito político-ideológico”. Ou seja, um conceito que, no embate das idéias, não mais vem a ser diferenciado, mas se fixa no símbolo da posição própria ou do adversário, e impõe-se uma explicação tanto mais cautelosa e sopesada dos seus níveis de sentido, como também o dos seus níveis de sentido dados à palavra

“secularização”, enfatizando também a diferença entre secularização e o conceito de “secularismo”.

2 O Sentido histórico da secularização

No sentido de fazer justiça as dimensões históricas deste conceito e ao seu emprego sistemático e pluriforme, recomenda-se a análise histórico-conceitual ou histórico-linguistíca dos mesmos, requerendo-se também o levantamento sistemático dos principais sentidos do conceito de secularização na atualidade.

“Acentuações histórico- linguísticas. O dado histórico-linguistíco aponta, no que se respeita aos dois termos mencionados (secularização e secularismo), para o mesmo campo vocabular derivado de saeculum. A palavra saeculum _ originalmente idade do homem e Idade do mundo, sofre decisiva mudança de modo particular na teologia Paulina, no contexto-bíblico cristão, onde o vocábulo passa a ser usado no sentido de mundo do aquém dominado pelo pecado (a ítala e a vulgata traduzem o grego aiôn por saeculum). Esta ênfase, que não se acha absolutamente desprovida de valor, continua marcando o contexto patrístico e medieval de saeculum ( mundo ), de que seria necessário fugir. Mas fornece o fundo para a compreensão que o direito eclesiástico faz do conceito: secularizatio

2LIBÂNEO

(18)

é, conforme o CIC ( 684, 688, 691; 693), a dispensa de um membro de ordem religiosa que rechaçou a profissão perpétua, do grêmio da

vida de clausura e o seu retorno definitivo ao “mundo”3

.

Outras definições a respeito do conceito de secularização tentam encontrar em acontecimentos históricos demarcações mais precisas sobre o conceito de secularização tentando relacionar a figura da Igreja e o sua restrição no que diz respeito a expansão ou a redução de seus bens onde este processo colocou limites ao processo de expansão demográfica da própria Igreja:

O conceito de secularização adquire ênfase decisivamente nova e essencialmente política na história da Igreja, que com este termo veio designar a expropriação por parte do estado e o subseqüente uso para os fins profanos dos bens da Igreja, e na maioria das vezes contra a sua vontade. No decorrer da história da Igreja muitas vezes se procedeu a semelhantes confiscos de propriedades eclesiásticas para finalidades não eclesiais como ocorrera, por exemplo, na época franco-carolíngia e posteriormente no tempo das reformas. Neste contexto histórico e de modo mais específico nas tratativas que antecede o tratado de paz de Vestfália, deve ter sido empregado pela primeira vez o

conceito de “secularização”, no sentido de passar do uso profano, em forte contraste com o “espiritual”. A Intensificação desta linha de significado acarretam as desapropriações dos bens dos mosteiros e das dioceses, como se levaram a cabo em

grande escala na Alemanha em 1803 pelo “Reich” alemão.

A partir deste fundo histórico, não admira que do ponto de vista dos interessados, estes processos como tais tenha sido sentidos e julgados e condenados como injustos. A categoria da ilegitimidade para caracterizar o conceito de secularização torna-se, porém, problemática, quando este conceito passa a referir-se a conceitos espirituais e culturais, ou seja, em sentido figurado. Somente com este significado é que atinge aquele nível que possibilita o uso do conceito e a apreciação respectiva de índole filosófica e teológica.4

Neste primeiro momento nos deparamos com o conceito de secularização que encontrou na linguagem teológica um campo mais amplo de abordagem e de estudos.

3DICIONÁRIO DE CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE TEOLOGIA. São Paulo: Paulus, 2005, p.

815.

(19)

Berger diz: “é possível também investigar suas origens históricas, inclusivesua conexão histórica com o cristianismo, sem afirmar em um primeiro momento suas causas positivas e uma degenerescência do mesmo. Este ponto deve ser particularmente enfatizado, tendo-se em vista as discussões correntes entre os teólogos. Uma coisa é sustentar que há uma relação de causalidade histórica entre o cristianismo e alguns

traços do mundo moderno. Outra completamente diferente é dizer que „portanto‟, o

mundo moderno, inclusive seu caráter secular, deve ser tido como certa realização lógica do cristianismo. É saudável lembrar, a esse respeito, que a maior parte das relações históricas tem um caráter irônico. Em outros termos, o curso da história tem pouco a ver com a lógica interna das idéias, que nele aparecem às vezes como fatores

causais”.5 Outro aspecto do desdobramento histórico da secularização é que a guinada antropológica fora interpretada de diversas formas sejam por aqueles que refletem as mudanças que se deram na sociedade, ou seja, por aqueles que pretendiam se fazer os sujeitos desta mudança colocando o homem no centro de todas as importantes e possíveis transformações históricas que se deveriam efetuar. Por vezes este antropocentrismo se verificou em sua fragilidade, por não saber conter ou direcionar adequadamente toda a energia ideológica presente em si mesmo. É o que se verificou na história da secularização, iniciada no século XVII, culminando no século XX com o

postulado da “morte de Deus” e com a exaltação do super homem. Os dois totalitarismos mais assustadores da época, assim como as duas grandes guerras mundiais são inexplicáveis sem estas duas teses que entram em crise depois de 1945 demonstrando assim, o lado doloroso do processo de secularização no que diz respeito ao seu posicionamento radical e agressivo como se verificou em alguns momentos históricos.6

2.1 A Tensão entre secularização e secularismo

Num segundo momento temos também a reflexão que se desenvolve sobre o tema do secularismo que já é uma situação em que a secularização uma vez tendo ganhado carta de cidadania procura se desenvolver como realidade inerente ao ambiente

5BERGER, Peter. O dossel sagrado-Elementos para uma teoria sociológica da Religião. 1º Edição, São

Paulo: Paulus, 2004, p. 119.

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social, político, jurídico que já se encontra marcadamente definido através de uma reflexão altamente secularizada que busca cortar o foco de um horizonte transcendente sobre a vida, o mundo, o ser humano e focá-lo na imanência das realidades temporais:

1. A palavra “secularismo” indica a forma mais radical de secularização ou respectivamente o seu “estado consumado”

enquanto definitivo desvinculamento da religião ou a atitude de espírito em que a secularização levou e na qual o homem restringe-se exclusivamente ao campo do profano (contradizendo a interpretação religiosa ou transcendente do sentido).O conceito alcança aí o seu mais extremado limite, visto que no significado de interpretação do mundo como pura imanência elimina-se o seu correspondente, que dele originariamente fazia parte, a saber, o conceito de religioso e sagrado, visto que então o horizonte, em que antes se achava incluído o conceito de secular e secularismo, surge como tendo sido ocultado. O conceito de secularismo nos meados do século XIX entende-se no sentido de cosmo visão ideologicamente delimitada e acentuadamente anti-religiosa7

Ao tentarmos definir o significado dos termos e conceitos que se relacionam com o secularismo nos deparamos com uma gama de definições:

Secularizar é tornar secular o que era eclesiástico. Sujeitar às leis civis. Absolver (alguém) do voto de clausura; deixar de ser religioso. A origem da palavra indica claramente que se trata de um processo contra o clericalismo, contra a separação de um universo eclesial do resto do mundo, contra uma legislação de isenção que beneficia pessoas e bens da Igreja; e finalmente, contra a separação do religioso e do civil, do sagrado e do profano8

Geralmente uma grande parte das referências a secularização cai numerosamente sobre uma definição puramente de cunho religioso-clerical.

7 DICIONÁRIO DE CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE TEOLOGIA. São Paulo: Paulus, 2005, p. 816.

(21)

2.1.2 A Fé cristã e o Estado

A história narra que com a queda do império Romano o cristianismo alcança uma importante vitória que iria principiar mudanças significativas nos futuros séculos no mundo da política, economia, filosofia e toda a compreensão sobre o mundo, o homem e sobre Deus nos séculos seguintes. Após milênios de gerência de várias partes do mundo e de forma especial da Europa o cristianismo experimentará um poderoso golpe através da revolução Francesa onde se inicia uma revogação de todos os privilégios e extensão de domínio que pertencia ao sacro Império Romano liderado por Sumos Pontífices a século. Contudo a expansão da revolução Francesa com propósitos que futuramente feriram sua relação com a Igreja deslocou de maneira contundente a Igreja e sua pretensão política secular, ou pelo menos na prática enfraqueceu consideravelmente o estado católico modelo de governo para o grande desenvolvimento

social: “a secularização transformou-se no grande desafio do mundo contemporâneo com relação a Igreja, causa determinante da diminuição da prática religiosa, da redução das vocações, da perda dos valores éticos do catolicismo na vida individual e familiar, e ainda, em particular, por tender a meta de uma organização de vida coletiva que

prescinde dos valores cristãos, reduzindo ou anulando a importância social da Igreja”.9

O Beato João Paulo II em contrapartida ao avanço da secularização apresenta

uma oportuna “Nova Evangelização” como caminho para restaurar na Europa cristã a relevância da fé na qual a sociedade receba novamente da Igreja seus valores fundamentais.10 No interior da Igreja contemporânea várias motivações impulsionam aos diversos grupos ou correntes espirituais, intelectuais ou organizacionais no que se refere a secularização. Para os neo-integristas a secularização representa a atual ameaça a Igreja em nossos dias. A Secularização seria o sinônimo de descristianização. Permitir a marcha deste processo de secularização seria o mesmo que perder a identidade cristã, moldando-se ao mundo e assumir princípios que seriam destrutivos para os valores católicos. Já em outros ambientes católicos pensa-se justamente num programa e numa agenda que procure justamente englobar de maneira universal toda a estrutura política, sindical, econômica buscando garantir a incidência da Igreja católica buscando superar

9AAS 80 (1988), PP. 1310-14; 81 (1989), PP 233 e 1335-36; (1991), p. 99, e em “La

documentation catholique”, 70 (1988), p. 1038.

(22)

por meio de uma “Nova Cristandade” os conflitos quanto aos limites conceitos no que

se refere à secularização e ao secularismo. Este movimento pretenderia concordar com alguns postulados da modernidade tais como o pluralismo, os direitos humanos, contudo, a Igreja deveria permanecer a ser a legitimadora última dos princípios da vida social.11

Rosino Gibellini diz que a secularização tem dois significados: o jurídico, no qual se vê a passagem de pessoas do estado clerical para o secular, o de bens eclesiásticos a propriedade secular, e ainda o sentido cultural, que é bem mais tardio se formando apenas por volta do final do século XIX e início do século XX, o qual aponta para a emancipação da vida cultural da tutela eclesiástica.12

Portanto, desde os seus primórdios, o termo secularização, mostra-se já marcado por um esquema antitético: o do dualismo de regular e secular que já contém em si mesmo a metamorfose moderna dos pares “paulinos” celeste/terreno,

contemplativo/ativo, espiritual/mundano.

A teologia eclesial ainda não concebeu esta tarefa (ou seja: chamar o processo de secularização, a partir de sua degeneração em secularismo, de volta até sua essência verdadeira). Em vez disso, algumas linhas teológicas procuram reverter à secularização como tal, na medida em que contrapõe a ela um modo de pensar baseado em realidades sacrais, as quais pretensamente rompem e limitam a mundaneidade natural de todo o existente.13

A distinção de conteúdo entre secularização e secularismo apresenta conotações diferentes. Existe uma diferença entre a secularização e o secularismo. A palavra "secularização" sugere um movimento, um processo, e não um estado essencial, o qual é mais bem expresso pela palavra "secu1aridade".

Tendo verificado como Gogarten descreve a degeneração da secularização na modernidade, cabe dar um nome a esta "degeneração". Isto Gogarten realiza ao introduzir o conceito de secularismo. A tarefa necessária e possível da fé cristã é, para

11BUTTIGLIONE, R. “Secolarizzazione e cristianitá”, em “La Chiesa Del concilio. Studi e

contributi”, Milão, 1985, p. 165-184. 12GIBELLINI, Rosino.

A Teologia do século XX. 2ªEdição, São Paulo: Loyola, 2002, p. 123.

13Wilfried JüEST,Verhangnis und Hoffnung der Neuzeit: Kritische Gedanken zu F..Gogartens

(23)

ele, proteger a secularização de sua degeneração em secularismo.Isso não se faz, como no modelo de cristandade, buscando-se inverter o processo de secularização, o que é contraproducente, ou procurando-se uma apropriação eclesiástica deste processo.

Tendo como pano de fundo todo este processo de secularização em andamento desde o século XVI na Europa de forma específica se verifica também um processo de desclericalização que é apresentado como um desafio empírico para a Igreja. Sendo que a proposta deslocada do teocentrismo a cada dia apercebe-se como que colocada de lado pelos que promovem o processo de secularização e reconhecem que o teocentrismo promove a dominação de Deus, assim como a hierocracia a dominação dos clérigos.14 A secularização transformou-se no grande desafio do mundo contemporâneo em relação à Igreja, causa determinante da prática religiosa, da redução das vocações, da perda dos valores éticos do catolicismo na vida individual e familiar, e ainda, em particular, por tender a meta de uma organização de vida coletiva que prescinde dos valores cristãos, reduzindo ou anulando a importância social da Igreja.15Contudo, na prática o que se verifica é que ainda existe uma incidência verbal da Igreja sobre várias dimensões da sociedade, entretanto, o impacto da seculariação fez a Igreja reconsiderar sua presença na sociedade frente ao secularismo pessoal e ambiental que permeiam as novas estruturas sociais.16

O historicísmo, como a secularização, é visto como um produto do próprio cristianismo. Ressegurado dessa sua proveniência, ele pode abrir espaço para uma compreensão da historicidade onde autonomia e a noção de uma dependência radical -como filiação -podem ser reconciliadas.

Para Vattimo, porém, a secularização só é um fato interior ao cristianismo e ao Ocidente porque Deus se debilita e recusa sua transcendência violenta.17 Afirma schimitt que “Todos os conceitos concisos da teoria do Estado moderno são conceitos

teológicos secularizados”.18

14 CONGAR, Yves-Marie. Entretiens D`autonomne. Les editions Du Cerf, 29, bd Latour-Maubourg, Paris, p. 35.

15MENOZZI, Daniele. A Igreja católica e a secularização. São Paulo: Paulinas, 1998, p. 11.

16L’Osservatore Romano. Sábado 03 de novembro de 2012, número 44, p.07.

17VATTIMO, Gianni.

Acreditar em acreditar, p. 17-18. 50.

(24)

2.3 O Sentido Filosófico da Secularização

O processo de secularização é uma tentativa de busca de autonomia por parte da sociedade e das ciências que vendo-se atada ao mito e a religião ou qualquer esfera normativa religiosa quer agora buscar a sua autonomia. Podemos verificar que o processo de secularização produz na sua lógica interna um progressivo afastamento da dimensão religiosa da vida, seja de Deus e de qualquer realidade sobrenatural que não é empiricamente verificável. Contudo, o iluminismo não surge num primeiro momento como rompimento com a fé cristã, mas como uma busca possível e mais ilustrada de conhecimento. O Cristianismo desde a sua origem buscou ser também uma forma de iluminismo.19

Alguns autores tentam apresentar o princípio da secularização no início do iluminismo. Kant fora um dos primeiros a propor e a colocar a questão:

“O que é o Iluminismo? Kant inicia tal texto, esclarecendo que o iluminismo é à saída do homem da menoridade da qual ele mesmo é culpado, consistindo tal menoridade na incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. O próprio homem seria culpado por isso, pois não é que lhe falte o entendimento, mas o que ele não teria seria a decisão e a coragem em servir de si mesmo, não se valendo de tutores, daí resultando não só o preconceito, como a opressão gananciosa ou dominadora. Sair da menoridade só seria possível por meio do uso público da razão.”20

É importante aqui considerar que esta guinada estrutural por vezes leva em conta os pressupostos cristãos, contudo, tentam superá-los:

Numa perspectiva sociológica, é possível dizer, inclusive, que as formas de consciências modernas relacionadas com o direito abstrato, a ciência e a arte autônoma, que gira em torno do quadro profano, não poderiam ter-se desenvolvido sem as formas

19 RATZINGER, Joseph.D’ÁRCAIS, Paulo F.

Deus Existe? São Paulo: Planeta, 2009, p. 24.

(25)

organizacionais do cristianismo helenizado e das igrejas cristãs, sem as universidades, os conventos e as catedrais. E isso vale

especialmente para as estruturas mentais”.21

Na área do direito e da política várias são as formas e mecanismo pensados para deslocar ou colocar a fé em uma dimensão não pertinente o que de fato gera um estranhamento na pessoa, pois sendo cidadão pertencente a um estado tendo os seus direitos e deveres convive também em uma “outra” sociedade humana que é a Igreja no caso o cristão católico. O ordenamento jurídico universalista e moral social igualitário precisam ser unidos, a partir de dentro, ao ethos da comunidade de tal forma que um consistentemente, saiba conviver na alteridade com o outro.

Aqui é oportuno confrontar o pensamento de Kant com o de Gogarten. Entretanto esta relação de dependência assume, para Gogarten, uma matiz que exclui por princípio a heteronomia. A filiação não tem como modelo, a infância. O ser humano que é pensado como filho é autônomo. O filho não é criança em sua menoridade, mas é filho emancipado (mündig). Como filho emancipado, sua própria relação com o mundo é redefinida. Este último, o mundo, passa a ser concebido como a herança do filho, pela qual ele é responsável em sua autonomia. 31

A filiação do homem representa, no âmbito da fé, a afirmação originária de Deus quanto à autonomia do homem. Diferentemente do que acontece na maioridade de Kant. A autonomia é um dom. Somente através da filiação a autonomia pode ser alcançada e preservada. Em outras palavras: não há autonomia autêntica à parte da filiação originária, assim como não há responsabilidade (Verantwortung) autêntica pelo mundo que não contenha constitutivamente a referência ao Pai em termos de resposta (Antwort). É óbvio, nisto tudo, que o próprio falar de uma autonomia autêntica ou legítima supõe uma forma da autonomia que se efetiva inautêntica ou ilegitimamente.22 Esta expectativa normativa, com a qual o Estado liberal se defronta com as comunidades religiosas, coincide com os próprios interesses delas à medida que se abre a possibilidade de desempenhar, para além do espaço público político, uma influência própria na sociedade como um todo. Contudo, esta influência pode apresentar aspectos

21 HABERMAS, J. Era das Transições. Tradução Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo

Brasileiro, 2003, p. 53.

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contraditórios que beiram a indiferença como bem descreveu Kierkegaard e que fora apresentada por Harvey Cox em seu livro a Cidade secular:

“Um circo ambulante ardia em chamas junto de uma aldeia

dinamarquesa. O diretor dirigiu-se aos artistas que estavam já preparados para atuar e escolheu entre eles o palhaço para que chamasse os aldeões e os avisasse do perigo que corriam, pois as chamas através dos campos recém-ceifados podiam chegar à própria aldeia. O pintalgado palhaço correu às pressas para a praça da aldeia e gritou a todos que viesse ao circo a apagar as chamas. Os aldeãos riam e aplaudiam esta nova e magnífica forma de atraí-los ao grande espetáculo. O palhaço chorou e suplicou, insistiu que não estava a representar um papel, mas que a aldeia estava realmente em perigo mortal. Quanto mais implorava, mais os aldeões se riam... até que o fogo, saltando através dos campos, chegou à aldeia: Isto é também o que se passa quando os clérigos falam de Deus. A gente escutá-os com curiosidade e condescendência, como a homens que representam o seu papel. Mas pela coisa em si, com a íntima convicção de que o que eles dizem pode ser ignorado sem perigo23.

O iluminismo afirma que o olhar que merece consideração seria o olhar do cientista imparcial que analisa friamente as questões correntes e os preconceitos do vulgo. Mas descobriu-se que não era tão fácil assim. Como se podia estar seguros de estar vendo as coisas como eram? Como se pode ultrapassar a distância entre a mente e o mundo? Como se podia ter a certeza que o objeto ali em frente é de fato, idêntico à minha percepção dele? Na sua busca de certeza, a mente tem de duvidar de tudo. Tem de ser cética suspeitosa e desconfiada.

Bernard Williams caracteriza seu pensamento da seguinte maneira: “Há um

imenso empenho em face da verdade ou, de qualquer modo, uma suspeita generalizada, uma disponibilidade contra ser enganado, uma ânsia de ver para lá das aparências as

estruturas reais e os motivos que estão por detrás delas”.24 Pode-se afirmar que o modo de se produzir ciência em nossos dias é profundamente influenciado pela duvida, contudo, além de toda a dívida que temos para com o iluminismo em seu sentido

positivo, mas “se este torna-se o modo prioritário de entender a procura da verdade,

23 HARVEY, Cox. La Ciudad secular. Barcelona, 1968, p. 265.

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criaremos inevitavelmente uma sociedade que será desconfiada, marcada pela suspeita e pela insegurança, e cujos laços sociais hão de desmoronar-se.”25Dentro deste contexto e quadro verificamos que o processo de secularização interpretado por teólogos como um eclipsar do sentido de Deus26 na estrutura de sociedade atual e de forma específica européia apresenta seus efeitos27 contra- dissentes a toda a cultura cristã até então vigente.

O processo de secularização causou um impacto tanto na vida pessoal de vários cristãos como em todo o tecido da comunidade eclesial, tornado nítido28 cada vez mais sua influência e desafiador para os cristãos a tarefa de se manter fiel ao evangelho nestas circunstâncias.29

2.4 O Sentido Sociológico da Secularização

A sociologia da religião procura compreender este fenômeno através de outras abordagens descrevendo a religião como sub specie temporis e não como sub specie aeternitatis como pretende a teologia aqui já temos uma configuração específica de conceitos em que ciência plaina sobre seus referenciais teóricos:

O sentido de modernidade aqui trabalhado encontra

analogia com sua aplicação filosófica, que se traduz como modernidade pós-renascentista. Um dos traços substantivos desta modernidade refere-se à “iniciativa teórica, até agora inédita na história humana, que propugna a imanentização dos termos da relação de transcendência, com a abolição da sua dimensão metafísica e a emergência do existente humano como fonte de movimento de autotranscendência desdobrando-se na esfera da imanência: nas instituições do universo político, na construção do mundo técnico, na concepção autônoma do agir ético, na fundamentação teórica, enfim, da visão de mundo”30

25RADCLIFFE,Timothy. Por que ser cristão? São Paulo: Paulinas, 2011, p.193 26L’ Osservatore. Romano

. sábado 13 de Outubro de 2012, número 41, p.21.

27L’ Osservatore. Romano.

sábado 20 de Outubro de 2012, número 42, p.17.

28L’ Osservatore. Romano.

sábado 03 de Outubro de 2012, número 14, p. 44.

29L’ Osservatore.Romano.

sábado 03 de Novembro de 2012, número 44, p. 10.

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Entendemos ser pertinente destacar também os sentidos que podem ser identificados em torno do conceito da secularização no âmbito das humanidades. Segundo Marramao é possível identificar cinco acepções de secularização: 1) Como ocaso da religião; 2) Como conformidade ao mundo; 3) Como dessacralização do mundo; 4) Como descomprometimento da sociedade para com a religião, relegando a religião ao âmbito privado; 5) Como transposição de crenças e modelos de comportamento da esfera religiosa à secular.31Aqui verifica-se que os atuais processos sociais que tem se destacado nas atuais gerações trazem uma marca palpável do processo de secularização verificado de maneira contundente nas sociedades contemporâneas.32Algumas característica da configuração do processo de secularização apresentamos aqui dentro das formas de uma sociedade marcadamente híbrida, ambivalente, e plural. Elementos estes que já carregam sementes para posteriores situações estruturais da sociedade.

2.4.1 O Hibrido e a liquefação da vida como cultural

O hibridismo cultural desperta várias observações positivas e negativas a respeito deste fenômeno cada vez mais crescente. A globalização é um permanente convite a um posicionamento hibrido diante da história. O fenômeno cultural perpassa as culturas e se entrelaça de modo mais freqüente e intenso. Vemos por exemplo como este fenômeno se faz presente no mundo da música onde vários ritmos se misturam dos mais variados cardápios musicais presentes em todo o planeta. Hoje o recurso técnico

usado nas gravações a “mixagem” onde se pode re-masterizar e se criar verdadeiras novidades sonoras apontam para o potencial deste fenômeno.

No pensamento de Bauman vemos como ele tenta descodificar uma face da cultura hibrida questionando a sua vulnerabilidade:

“...a imagem da “cultura híbrida” é um verniz ideológico sobre a extraterritorialidade alcançada ou proclamada. Isenta da soberania

31MARRAMAO, Giacomo

. Céu e Terra: Genealogia da Secularização. São Paulo: Fundação editora da Unesp, 1997, p. 135.

32L’ Osservatore Romano

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de unidades políticas territorialmente circunscritas, tais como as

redes extraterritoriais habitadas pela elite global, “ cultura hibrida”

busca sua identidade na liberdade em relação a identidades designadas e inertes, na licença para desafiar e menosprezar os tipos de mercadores, rótulos ou estigmas culturais que circunscrevem e limitam os movimentos e as escolhas do resto das pessoas, presas ao

lugar: os “locais”.33

Frente a uma permanente dissolução dos laços de interdependência social e de compromissos revogáveis existe uma luta simultânea contra a dissolução e a fragmentação. O ser humano está sitiado entre o desejo de liberdade e a necessidade de segurança. Contudo, a hibridação é apresentada como uma função que a torna louvável e cobiçada no mundo a separação34. Na busca identitária o ser humano é pressionado a não pertencer definitivamente a nada de maneira que o ser humano encontra-se conflitado e perturbado entre uma tendência cosmopolita de emancipação individual e a participação numa coletividade nacional e regional. E desse conflito não há quem o salve: é ele mesmo que deverá fazer todas as escolhas tornando-se responsável por aquilo que venha a se tornar.

A Identidade na contemporaneidade é uma reinvidicação pela diferença. Na vida líquida, a dissolução permanente dos valores sociais e das antigas referências do passado, a identidade encontra como meio de afirmação a distinção e a diferença como objetivos e metas a serem vivenciadas.

2.4.2 Modernidade, ambivalência e as rupturas sociais e culturais

Uma evidência importante que o processo de secularização traz e que se faz

verificável no que se refere a uma presença “totalizadora” do pensamento secularizante é que ele não se restringiu em ser uma mera retórica, mas este pensamento se impôs como uma forma de viver e de ser no mundo moderno. Forjou consciências e criou

33BAUMAN Zygmunt. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009, p 46.

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estruturas jurídicas onde a vida e o pensamento tivesse uma emancipação cada vez maior sobre as realidades da vida seja política, social e econômica.

Com o apogeu da modernidade nos deparamos com outro fenômeno que nos chama a atenção que é justamente a ambivalência como lugar de sua residência. A modernidade é de fato esta manifestação ou esta busca de luzes que por vezes apresenta as mais variadas ambivalências. Queremos aqui analisar um pouco a dimensão ambivalente da modernidade no período contemporâneo em que vemos as mais variadas formas de tentativas de legitimação da modernidade.

Sabemos que um dos sonhos da razão legislativa se funda no auxílio em que ela encontra por parte da filosofia. A filosofia na modernidade prestou e presta um papel importante na fundamentação de todo o sistema do estado moderno que temos hoje. Filósofos como Kant não são apenas artistas das palavras, que se ocupam de novas concepções sobre o mundo e o ser humano, mas um doador de lei, que legisla para a razão humana.35

A filosofia é na modernidade está força que possui autoridade legislativa. A razão na modernidade não tolera desconexão no pensamento, mas por meio de várias cognições claras e distintas procura se legitimar como autêntico conhecimento. O conhecimento que se propõe procurar por parte da modernidade é aquele que transcende o senso comum, constituído de meras opiniões e crenças (opinião: Juízo insuficiente

tanto subjetivo como objetivamente; crença o tipo mais pérfido de juízo, “reconhecido como objetivamente insuficiente”, mas subjetivamente aceito como convincente), só pode e deve “ser revelado pelos filósofos”.

Define-se como modernidade o conjunto de rupturas sociais e culturais que se desencadeia no mundo a partir de várias mudanças verificáveis. O humanismo e o renascimento que se desencadeia no século XVI, assim como as diversas batalhas intelectuais vão configurando o mundo moderno, contudo esta gestação da modernidade acontece mediante uma tensão entre o tradicional e o novo. Esses acontecimentos terminaram por desfazer a imagem do mundo antigo, o valor das tradições, a matriz hegemônica da natureza dando lugar ao primado da razão teórica e prática, á subjetividade, à história, às experiências, ao fenômeno de secularização. A teologia européia, ao defrontar-se com tal realidade complexa, empenhou-se, num primeiro

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momento, numa atitude de defesa e depois em amplo diálogo crítico e interpretativo da Tradição da Fé.

A complexidade das relações que vão se fazendo presente neste novo mundo moderno é configurada no século XVII e XVIII através de elaborações científicas que dão fundamentos políticos e filosóficos a modernidade. A modernidade acaba por se tornar um valor transcendental, uma moral e um mito de referência presente em toda parte36.

Apresentamos aqui os três planos que a modernidade busca de forma geral desenvolver na sociedade:

1) Plano técnico-econômico: A modernidade define o tipo de relação com a natureza que leva à procura sistematizada de produtividade. Na era moderna, A natureza já não é a matriz de toda ordem social e moral. Ela é um reservatório das forças produtivas. O homem já não se situa na natureza, mas face à natureza, não pensa como um elemento da natureza, mas como o seu mestre;

2) Plano jurídico-político: A modernidade reside na separação que se instaura entre a esfera da vida pública e a esfera da vida privada. Kant desloca esta dissociação entre esfera pública ( uso da razão sempre livre) e esfera privada ( uso da razão pode ser limitada)para o centro do processo pelo qual o homem sai da menoridade e que ele é responsável. E desloca a religião para a esfera privada. Esta dissociação do privado e do público é a pedra angular da concepção moderna do político.37

Por um lado, há o estado, transcendente e abstrato, e o conjunto das regras formais de direito que lhe correspondem; por outro lado, há o indivíduo e as sua liberdade. Esta dualidade era ignorada pelos sistemas políticos anteriores.

Esta separação do estado político da vida privada pertence aos tempos modernos. As hierarquias, os grupos intermediários, as comunidades primárias da sociedades tradicionais desaparecem ou perdem a sua consistência para dar

36 J.CHESNEAUX,De La modernité, Paris: Découvert, 1984, p.71.

37KANT, E. Philosophie de l`histoire. Les Orígenes de La pensée de Hegel. Paris: Denoel-gonthier, Coll.

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lugar ao burocrático do estado, modelando, segundo a sua própria racionalidade, todos os setores da vida social.

3) O sujeito como plano: A hegemonia do estado esvai-se para dar lugar a modernidade filosófica, plenamente realizada com Kant, que separa o sujeito e o objeto, a consciência deslocada para o centro e o universo. A este duplo processo poder-se-a chamar a modernidade psicológica, isto é, certa maneira de o homem pensar a sua individualidade e conquistar a sua identidade.38

2.4.4 O pluralismo e crise da modernidade e da razão iluminista

A quebra de paradigmas e as diversas manifestações do pluralismo religioso, impõem-se a cada dia de forma a tender o ser humano a valorizar as diversas idéias, normas pensamentos, símbolos, instituições que o circundam. A Europa principalmente encontra-se afetada por um pluralismo intercontinental.

Todo Europeu é atirado para uma pluralidade de valores, modelado por uma pluralidade de normas, comprometido por uma pluralidade de referências, emergido numa pluralidade de sensibilidades, solicitado por maneiras diversas de levar a sua existência a se organizar socialmente39.

A pluralização institucional da modernidade provoca uma instabilidade das estruturas de plausibilidade. No lugar das antigas certezas religiosas, instaura-se a dúvida. O tempo da cristandade cedeu e hoje estamos vivendo em um mundo pluralista. É mister que tenhamos uma chave de leitura de um mundo plural e não mais como uma realidade monolítica, estática e hierarquicamente organizada. Em uma sociedade

dinâmica o “pluralismo consiste essencialmente num regime de competitividade

cultural, que vê todos os valores em competição, primeiro através da conquista do

direito de cidadania e depois pela formação de hierarquia em que são ordenados”40. Ao

mesmo tempo em que o pluralismo não descarta a religião e os seus valores culturais ele a nivela e a coloca em uma situação de relativização.

38BARBOSA, G. ADÉRITO.A nova evangelização. Lisboa: Paulinas, 1994, p. 256. 39 G.THILS, foi chretienne, p. 44.

(33)

A diversidade acontece em um ambiente desprovido de preferências e exclusivismos onde a persuasão pode tornar um ideal religioso pertinente através de sua persuasão e não imposição. Aqui surge justamente o problema da plausibilidade cristã. Uma vez que o pluralismo não admite qualquer tipo de monopólio e entra em crise a sua plausibilidade diante da sociedade de um modo universal, a sua tradição eclética enquanto se apresenta em suas pretensões entra em crise.

Em si mesmo, tal dissenso pode ser legítimo se considerado o fato que a mensagem cristã não possibilita interpretações definitivas pautadas num único referencial hermenêutico. Contudo, quando o dissenso manifesta controvérsias doutrinais e de autoridade que acarretam divisões na comunidade cristã, ele é mais do que um posicionamento hermenêutico diferenciado.

Se o pluralismo torna-se um problema para as religiões outro maior seria a própria privatização da religião como um golpe fatal do secularismo frente a grande pluralidade de afirmações ou hermenêuticas sobre a presença da religião no mundo. As religiões não seria uma realidade pertinente na organização da sociedade por isso deveria ser vivida de modo privativo. Isto dá-nos a impressão que a fé seria algo mais simbólico ou até mesmo folclórico que não proporcionasse nada de claro aos novos rumos históricos das sociedades.41.

É verificável a forma clara e perceptível que os sintomas de crise da modernidade. A primeira e a segunda guerra com seus rastros de destruição produzidos pelas bombas atômicas. Os regimes totalitaristas como o nazismo, stalinismo, comunismo com sua lógica de opressão e morte como jamais se tinha visto. Em épocas mais recentes verificamos os regimes ditatoriais do terceiro mundo, a fome que assolou mais de um terço da população mundial. A massa de excluídos nos países ricos, a extensão do comércio de armas e o narcotráfico, a crise do mundo socialista e as guerras da atualidade. Nota-se claramente que a razão que pretendia ser altamente desvinculada de qualquer alienação política e ideológica tornou-se novamente uma razão

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instrumentalizada. A crise da razão iluminista fora reduzida a instrumento do poder e do lucro42.

A razão iluminista ao se dedicar aos vários aspectos da realidade por vezes, descartou elementos importantes do ser humano, ou pelo menos quis apenas considerar estas mesmas realidades somente a partir de seu ponto de vista, desconsiderando outros saberes. Desta forma por vezes a razão se viu incapaz de dar conta de todos os fatores da realidade e acabou por ser manipulada por interesses técnicos e científicos que pretendem dominar a natureza e a história e colocar a razão como serviçal do poder econômico, político e ideológico.

2.5 O Sentido Teológico da Secularização

A busca de sentido feita dentro do contexto da modernidade coloca o homem de certa forma em um ambiente em que ele percebe certa decadência dos antigos projetos de engajamentos em realidades que para ele seriam de vital importância como bem descreve William Mc Namara:

“O meu lamento em relação à sociedade contemporânea é devido a

sua decadência. Há ainda uns poucos prazeres que ainda me atraem, mas quase nenhuma beleza me cativa e nada de heróico me excita. Não me sinto provocado ou desafiado por nenhum círculo ou posição intelectual, nem por novas teologias e filosofias e não há nenhuma arte que me prenda a atenção ou me desperte a mente. Tampouco existem movimentos sociais, políticos ou religiosos que me entusiasmem ou me animem. Não há homens livres a quem possa submeter-me, nem santos em quem possa encontrar inspiração. Não há pecadores descontrolados o bastante para me impressionar ou com quem eu possa compartilhar a minha infeliz condição. Ninguém suficientemente humano para validar o estilo de vida “corrente”. É,

portanto, muito difícil viver neste enfadonho mundo sem se sentir dominado pelo tédio.

O futuro está, nas mãos daquela minoria de coração humilde e compassivo, que apaixonadamente busca a Deus no mundo

42 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL.

(35)

maravilhoso e ao mesmo tempo confuso de realidades redimidas e interligadas que se estende diante de nosso nariz43.

É justamente dentro deste ambiente da religião que o indivíduo trava sua peregrinação de fé, ora sitiado por um ambiente profundamente hostil a sua fé ora, encontrando nas antigas estruturas religiosas uma medicinal dose de sentido oferecido pela mesma religião. Abordamos aqui o pensamento teológico nascido no contexto da teologia protestante como do ambiente da teologia católica, assim como alguns de seus expoentes.

2.5.1 A Teologia da morte de Deus: espelho de um ambiente secularizado

Outro ponto importante é o discurso a respeito da morte de Deus que foi engendrado no campo filosófico e que penetrou também nas ciências teológicas. A secularização fora apresentada como uma perda do sentido religioso e metafísico do mundo e do homem e uma concentração neste mundo e neste tempo.44

Hubert Lepargneur conseguiu muito bem captar as diversas mudanças ocorridas pelo processo de secularização, percebendo as grandes mudanças ocorridas nas estruturas:

“A secularização que aos poucos abrange todos os domínios da cultura

comporta: 1) Um elemento positivo que corresponde ao termo largamente utilizado de maturidade do homem (homem adulto), da sua libertação dos mitos, da magia, das alienações do sagrado e das assombrações do além, da prepotência abusiva daqueles que tinham pretensões ao poder espiritual para dominar as formas terrestres da vida social dos homens. Este aspecto só é possível em favor de um crescente domínio do homem sobre a natureza, muito tempo considerada, como enigmático habitável de forças sobrenaturais. Neste sentido a secularização é uma reação cultural global, aos progressos específicos das ciências e das técnicas, da industrialização e da urbanização. 2) Um elemento destrutivo das religiões, se não da religiosidade, da humanidade, assim como da própria noção de Deus. Deus não existe porque a nossa maneira pragmática de pensar, hoje em dia, não

nos permite mais conceber um conteúdo concreto atrás desta palavra „Deus‟.

Este aspecto abre o caminho para a crítica radical da religião e para seu desaparecimento histórico, com a possível conservação da fé cristã, para

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alguns (teólogos da morte de Deus), ou sua eliminação, para a maioria dos homens radicalmente secularizados. Desde já podemos situar a questão do

movimento teológico da „morte de Deus‟ (movimento sem nenhuma

estruturação, muito diversificado e até contraditório) com o nosso tema

secularização: 1) Esta chamada „teologia da morte de Deus‟ constitui um

esforço - um tanto desesperado - para interpretar „de maneira cristã‟, o

fenômeno da secularização, representativo no mundo atual. Essa interpretação poderia ser resumida da seguinte maneira: Deus morreu em Jesus Cristo; eis a Boa Notícia do Evangelho. Jesus libertou o homem religioso do constrangimento imposto às gerações anteriores pelo imperialismo do Deus transcendente. Jesus representa a redução da transcendência divina à pura imanência histórica (re-interpretação da kenosis de São Paulo): eis a que se reduz o fato da Encarnação. Não há Reino dos Céus a não ser o reino terrestre da humanidade. Ser cristão é compreender este significado da pessoa e da vida de Jesus, e imitar sua dedicação aos outros homens. 2) O definhamento da religião e o repúdio cultural da divindade (que tem um dos seus pólos no movimento da „morte de Deus‟), não são somente interpretação de um fenômeno de secularização que

lhe seria exterior; eles fazem parte, inclusive o referido movimento

„teológico-ateu‟, deste fenômeno total de secularização. A razão disto é simples: a secularização é uma verdadeira práxis que engloba o processo sociológico e sua elaboração ou auto-justificação teórica. A „teologia da

morte de Deus‟ constitui a ponta avançada do movimento de secularização

tomando consciência de si e refletindo ainda sobre sua possível ligação com o que se chamava anteriormente cristianismo.45

Filósofos como Nietzsche acreditam que todo o processo de niilismo pode ser

resumido na morte de Deus, ou, também, na “desvalorização dos valores supremos”.

Para Heidegger, o ser se aniquila na medida em que se transforma completamente no valor. É importante aqui tentarmos retomar o movimento ateu que ocorre em toda a Europa e outros países do ocidente como um movimento que aparece cheio de ambigüidades e que por vezes buscou fundamentar-se em conceitos cristãos.

Outra ambigüidade gerada pela pretensa concepção da morte de Deus é o fatalismo que se degenera em desespero. A figura do niilismo como uma forma de autonomia esvazia o esquecimento secularista da filiação, do cuidado e do encargo de uma herança. Assim, também o secularismo carece de purificação. Esta purificação exige uma justa distinção entre Deus e o mundo. O conceito de salvação aparece na modernidade encapado de um engajamento na mundaneidade o que permite voltar novamente a uma divinização do mundo sem uma justa diferenciação das realidades que o constituem. É preciso retomar de modo equilibrado a presença do divino no mundo.

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