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A dimensão social da evangelização: O Reino de Deus e sua expansão no

2. A Conversão: princípio fundamental para uma nova evangelização

2.2 A dimensão social da evangelização: O Reino de Deus e sua expansão no

O Reino de Deus é outro acontecimento importante como componente essencial da evangelização. O Reino por meio dos sinais se faz presente como obra de Deus que se opera no mundo. O Reino de Deus não é uma oposição radical a sociedade, mas é sinal de tensão que sinaliza outra realidade que opera como fermento dilatando a presença dos valores do Reino de Deus no mundo. A teologia do Reino é a teologia que justamente se coloca de modo integral a serviço da vida humana e propõe a esta mesma vida o Cristo total. Aqui é importante a compreensão do Reino não somente como cristandade operando como uma força centrípeta e centrifuga, mas operando ao molde de sementes, acolhendo “a multiplicidade e a evolução das culturas, penetra a fé, que é

135 PAPA FRANCISCO. Evangelii Gaudium. Exortação Apostólica. São Paulo: Paulus-Loyola, 2013,

uma comunhão transcendente com Deus, e se múltipla em sua imanência”136 A evangelização aparece através de várias facetas nos diversos campos missionários, por exemplo em alguns países árabes ela é realizada de modo direto através das escolas, universidades, nos hospitais, e nos institutos pertencente às ordens religiosas aberta quer aos cristãos quer aos muçulmanos.137

A fé e a caridade são complementares na vida cristã de modo que se apoiam mutuamente.138 A caridade permite que vejamos o rosto de Cristo expresso na opção preferencial pelos pobres abraçada pela Igreja como uma opção que está “ implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para nos enriquecer com a sua pobreza”.139

A nova evangelização na Igreja em nossos dias é indispensável à dimensão do social como componente a dimensão missionária, testemunha a caridade de Cristo através das obras da justiça, da paz e do desenvolvimento humano integral que propõe esta doutrina.140 Hoje, a cultura da mudança de época apresenta-nos desafios: “a dificuldade de aceitar Deus como fundamento do comportamento humano, assim, como fundamento da justiça, da paz, da fraternidade, a dificuldade de conciliar a experiência democrática com o respeito pelos valores morais”.141 A nova evangelização trilhará também o caminho de uma libertação integral do ser humano, ou seja, abordará desde as dimensões e consequências pessoais do pecado até seus estragos na vida social.142

A dimensão social do evangelho toca várias dimensões da própria vida pública dos cristãos que por sua vez evoca um testemunho público de toda a Igreja:

136 LECLERC, JEAN. O amor às letras e o desejo de Deus: Iniciação aos autores monásticos da Idade

média. São Paulo: Paulus, 2012, p. 05.

137L‟ Osservatore Romano. Sua Beatitude Béchara Boutros Raí, O.M.M, Patriarca de Antioquia dos

Maronitas(Líbano), 3 de novembro de 2012, número 44, p. 19.

138L‟ Osservatore Romano. D. José Luis Azuaje Ayala, Bispo de El Vigía-San Carlos Del Zulia,

Presidente da Conferência Episcopal (Venezuela), sábado 3 de novembro de 2012, número 44, p. 20.

139 DOCUMENTO DE APARECIDA. Texto legislativo da V Conferência do Episcopado Latino-

Americano e do Caribe: 13-31 de Maio de 2007., Brasília-São Paulo: CNBB, Paulus, Paulinas, §3, p. 10.

140 BENTO XVI. Caritas in veritate .Carta Encíclica. São Paulo: Paulinas, 2009, I, § 15, p. 23. 141 L´Osservatore Romano. D. Benedito Beni dos Santos, Bispo de Lorena (Brasil), 27 de outubro de

2012, número 43, p. 9.

142L‟ Osservatore Romano. D. Eduardo Lozano, Bispo de Gualeguaycitu (argentina), sábado 27 de

“Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo. Nenhuma definição parcial e fragmentada, porém, chegará a dar razão da realidade rica, complexa e dinâmica que é a evangelização, a não ser com o risco de empobrecê-la e até mesmo de mutilá-la. Desejo agora partilhar as minhas preocupações relacionadas com a dimensão social da evangelização, precisamente porque, se esta dimensão não for devidamente explicitada, corre-se sempre o risco de desfigurar o sentido autêntico e integral da missão evangelizadora.”143

Em alguns continentes de minoria católica a ação caritativa da Igreja foi apresentada como porta de evangelização para muitos não cristãos. O cuidado com a vida realizado por meio de hospitais, ambulatórios, colégios são para adeptos de outras tradições religiosas sinais eloquentes de amor a humanidade.144 O sínodo dos bispos também procuro elucidar o aspecto diaconal da caridade no processo de evangelização:

“A relação intrínseca entre evangelização e diaconia manifesta-se, como recorda a encíclica Deus Caritas Est, no fato de que juntamente com a liturgia são as dimensões fundamentais e próprias através das quais a Igreja se realiza a si mesma. A Igreja oferece ao mundo um invejável testemunho de caridade, do qual nascem numerosas conversões. A nossa pastoral de caridade é um grande instrumento de evangelização, quer para quem presta, quer para quem recebe os nossos serviços. É claro que a Igreja não se reduz a uma agência social, mas o desafio para nós é exatamente ajudar a reconduzir através das obras de caridade, ao Deus que é caridade. Com efeito, o que chama a fé são a unidade e a caridade. Um elemento essencial da encíclica Deus caritas est talvez tenha sido um pouco descuidado. A chave que abre e fecha a porta do homem ao evangelho é a experiência que Deus ama. Sem esta verdade simples o homem moderno nunca poderá conhecer verdadeiramente a Cristo. A atividade caritativa da Igreja, por conseguinte, pode oferecer-nos uma oportunidade enorme para fazer entrar a luz no mundo.”145

A Igreja deseja ser como uma artéria da sociedade, para levar esperança, encorajamento, conforto e infundir nova energia em toda a sociedade, como o corpo humano é vitalizado pela ação das artérias e das vias que levam oxigênio e nutrimento e

143 PAPA FRANCISCO. Evangelii Gaudium. Exortação Apostólica. São Paulo:Paulus-Loyola, 2013, IV,

§ 176, p. 105.

144L‟ Osservatore Romano. D. Kyrillos William, Bispo de Assiutidcos Coptas (Republica Árabe do

Egito), 17 de novembro de 2012, número 46, p. 22.

145 L‟ Osservatore Romano. Cardeal Robert Sarah, Presidente do Pontifício Conselho “Cor

eliminam as escórias: “Se a Igreja se afastar da sociedade a evangelização não produzirá fruto. É indispensável que através da evangelização, a Igreja infunda

abundantemente nova linfa na vida social e familiar”.146

A caritas desdobrada em amor a Deus e amor ao próximo sinaliza a presença do Reino de Deus no mundo e viabiliza a sua presença:

“A proposta é o Reino de Deus (Lc 4, 43); trata-se de amar a Deus, que reina no mundo. Na medida em que Ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos. Por isso, tanto o anúncio como a experiência cristã tendem a provocar consequências sociais. Procuremos o seu Reino: „Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo‟ (Mt 6, 33). O projeto de Jesus é instaurar o Reino de seu Pai; por isso, pede aos seus discípulos: „Proclamai que o Reino do Céu está perto‟ (Mt10, 7)”.147

A ética é um viés importante dentro do contexto de um testemunho social do evangelho: “a ética leva a Deus que espera uma resposta comprometida que esta fora

das categorias do mercado.”148

Em síntese a dimensão social do evangelho nos remete a integralidade da missão, isto é a totalidade do evangelho que a Igreja nos transmite e nos envia a pregar. A sua riqueza plena incorpora acadêmicos e operários, empresários e artistas, incorpora todos.149