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2. A Conversão: princípio fundamental para uma nova evangelização

2.1 A Vida Eterna principiada nas bem-aventuranças

Um dos aspectos fundamentais do cristianismo é que ele abre o ser humano para dimensões de eternidade. No início da pregação de Jesus está presente a pregação sobre o Reino de Deus que se faz presente no “já” e no “ainda não” da Igreja peregrinante. Ao caminhar na companhia de seu Senhor a Igreja reconhece-se como a discípula bem aventurada que vive a beatitude de Deus já na cotidianidade das relações humanas. Este entrar na vida já é um acontecimento existencial-ontológico de quem se abriu para a vida que é comunicada pelo Senhor Jesus Cristo: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”(Jo 10,10), realiza-se só quando as pessoas entram na vida eterna. É a ação da Igreja que indica o caminho rumo a vida em abundância.126

As motivações do alto é o que deve mover as iniciativas que tomamos no cotidiano da nossa história. Afirma a Constituição Dogmática Lumen Gentium que: “...

122L‟ Osservatore Romano. D. Mauro Semren, O.F.M. Auxiliar de Banja Luka (Bósnia e Herzegovina)

sábado 3 de novembro de 2012, número 44, p. 18

123123L‟ Osservatore Romano. Relátorio do Cardeal William Wuerl, relator-geral, antes do debate geral,

por ocasião da primeira congregação geral do sínodo dos bispos, sábado 13 de outubro de 2012, número 41, p. 21.

124 MOLTMANN, JÜRGEN. O Caminho de Jesus Cristo. Cristologia em dimensões messiânicas,

Petrópolis: Ed; Vozes, 1993, p, 147.

125 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Evangelização e missão profética da

Igreja: Novos desafios, (n 80), São Paulo: Paulinas, 2006, p. 29.

126L‟ Osservatore Romano. Sua Beatitude Baselios Cleemis Thottunkal, chefe no sínodo da Igreja Sírio

enquanto consideramos a vida daqueles que seguiram fielmente a Cristo, somos incitados a buscar por novas motivações a Cidade futura (cf. Heb 13, 14 e 11, 10)”.127

O crer é o acolhimento da vida que produz vida abundante no coração do discípulo. A partir do batismo a vida eterna se faz presente na vida dos discípulos levando a pessoa a um enraizamento no relacionamento com Cristo.

A bem-aventurada vida que propõe o evangelho é a amizade com a pessoa de Jesus Cristo que se consolidando, se desdobra na missão como auto realização. A bem- aventurança são os sinais daqueles que pelo amor ao Reino de Deus dão o melhor de si e a si mesmo pela causa do evangelho. Não é trocar uma ideologia ateia por uma ideologia religiosa, mas é a manifestação da presença do ressuscitado em meio aos homens.128 Esta manifestação do ressuscitado nos aproxima daquele que conhece as dores que atinge a alma e o corpo do ser humano. Ao tornar-se humano o Senhor Jesus assumiu como suas chagas as chagas da humanidade, deste modo evangelizar para a Igreja é se aproximar também das chagas de seu Senhor:

“Às vezes sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros. Espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contacto com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura. Quando o fazemos, a vida complica-se sempre maravilhosamente e vivemos a intensa experiência de ser povo, a experiência de pertencer a um povo.”129

A nova evangelização deve ser um apelo a uma nova caridade: “Só seremos portadores credíveis da alegria do evangelho se a proclamação for acompanhada da

127 CONCÍLIO VATICANO II. Constituições, decretos e declarações. Constituição Dogmática Lumen

Gentium, 135. Vozes, 1968.

128 L‟ Osservatore Romano. D. Luigi Negri, Bispo de San Marino-Montefeltro (Itália), sábado 3 de

novembro de 2012, número 44, p. 21.

129 PAPA FRANCISCO. Evangelii Gaudium. Exortação Apostólica. São Paulo: Paulus-Loyola, 2013, V,

mensagem inseparável da caridade. A caridade de Jesus é o dom de si. A caridade da

nova evangelização deve ser o dom de Jesus.”130

O homem é um ser pluridimensional. A boa nova da salvação deve assumir todas as dimensões do humano para lhe fazer experimentar na vida terrena o bem-estar como sacramento da beatitude futura.131 A evangelização deve partir das coisas práticas e fundamentais da nossa existência: “Quando nós cristãos anunciamos este Deus pessoal, que nos ama, que nos salvou, que nos convida a uma vida feliz e eterna em comunhão com ele, não estamos a formular conclusões que derivam automaticamente

dos nossos conhecimentos sobre a natureza”.132

É dentro deste horizonte mais amplo e que abarca a missão dentro de sua dimensão integral que os padres do sínodo buscaram apresentar respostas que fossem ao mesmo tempo teológicas e pastorais, não deixando de tomar a existência concreta da vida de cada ser humano e sua presença no mundo:

“Já não se pode afirmar que a religião deve limitar-se ao âmbito privado e serve apenas para preparar as almas para o céu. Sabemos que Deus deseja a felicidade dos seus filhos também nesta terra, embora estejam chamados à plenitude eterna, porque Ele criou todas as coisas para nosso usufruto (1Tm 6, 17), para que todos possam usufruir delas. Por isso, a conversão cristã exige rever especialmente tudo o que diz respeito à ordem social e sua consecução do bem comum”133

A beatitude proposta pelo evangelho que procura sinalizar o Reino na busca de uma “Magna” felicidade se desdobra como contributo a ética e a vida frente ao próximo: “a ética leva a Deus que espera uma resposta comprometida que está fora

das categoria do mercado”.134 A proposta da vida beatifica não é somente uma utopia

em direção a qual caminhamos,mas já é o desdobramento do eterno no temporal, é o

130L‟ Osservatore Romano. Dom Sócrates B. Villegas, Arcebispo de Lingayen-Dagupan (Filipinas),

sábado 20 de outubro de 2012, número 42, p.15.

131L‟ Osservatore Romano. D. Der Raphael Dabiré Kusiéle, Bispo de Diébougou ( Burquina Faso ),

sábado 17 de novembro de 2012, número 46, p. 18.

132L‟ Osservatore Roamano. Cardeal Peter Erdó, Arcebispo de Esztergom-Budapeste, Presidente da

Conferência Episcopal (Hungria), Presidente das conferências Episcopais da Europa (C.C.E.E.), sábado 17 de novembro de 2012, número 46, p. 18.

133 PAPA FRANCISCO. Evangelii Gaudium. Exortação Apostólica. São Paulo: Paulus-Loyola, 2013,§

182, p. 109.

134 CONCÍLIO VATICANO II. Lumen Gentium. Constituição Dogmática. Petrópolis: Vozes, 1968, §

fundamento de uma “vida mais feliz” que nos coloca a caminho. Uma fé autêntica é uma fé que se envolve com as grandes questões do mundo, porque envolve a vida de seus contemporâneos:

“Uma fé autêntica que nunca é cômoda nem individualista comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela. Amamos este magnífico planeta, onde Deus nos colocou, e amamos a humanidade que o habita, com todos os seus dramas e cansaços, com os seus anseios e esperanças, com os seus valores e fragilidades. A terra é a nossa casa comum, e todos somos irmãos. Embora a justa ordem da sociedade e do Estado seja dever central da política, a Igreja não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a construção dum mundo melhor. É disto mesmo que se trata, pois o pensamento social da Igreja é primariamente positivo e construtivo, orienta uma ação transformadora e, neste sentido, não deixa de ser um sinal de esperança que brota do coração amoroso de Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, une o próprio empenho ao esforço em campo social das demais Igrejas e Comunidades eclesiais, tanto na reflexão doutrinal como na prática.”135

2.2 A dimensão social da evangelização: O Reino de Deus e sua expansão no