• Nenhum resultado encontrado

DE A N Á L I S E DO COMPORTAMENTO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "DE A N Á L I S E DO COMPORTAMENTO"

Copied!
210
0
0

Texto

(1)

p r in c íp io s

b á s ic o s

DE A N Á L I S E

DO COMPORTAMENTO

MÁRCIO BORGES MOREIRA

M estre em Psicologia pela U niversidade Católica de Goiás (UCG).

D outorando em A nálise do C om portam ento pela U niversidade d e Brasília (UnB). Professor do In stitu to de E ducação Superior de Brasília (IESB).

CARLOS AU GU ST O DE M EDEIRO S

D outor em Psicologia pela U niversidade de Brasília.

(2)
(3)

Agradecimentos

A todos os nossos alunos que contribuíram direta ou indiretam ente com idéias e sugestões para o aprim oram ento deste livro.

Ao curso de psicologia do Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB; www.iesb.com.br) e ao Professor João Cláudio Todorov, pelo apoio e incentivo n a elaboração desta obra.

(4)

Aos Professores

Este livro foi escrito enquanto desenvolvíamos e m inistrávam os um curso de Princípios Básicos de Análise do Com portam ento para alunos de graduação em Psicologia nos moldes do Sistema Personalizado de Ensino® (PSI). Na prim eira versão de nosso curso, organizamos um a apostila com textos de Catania, Ferster, Tourinho, entre outros. Para facilitar a com preensão dos alunos em relação a tais textos, começamos a elaborar algum as transparências e alguns resum os explicativos. Foi assim que o livro começou a ser escrito.

Em um curso dado nos moldes do Sistema Personalizado de Ensino, não temos aulas nas quais o professor transm ite o conteúdo para o aluno. O conteúdo da disciplina é cuidadosam ente divido (em 20 unidades, no nosso caso), e o aluno seguirá passo a passo, m udando de um a unidade para a outra apenas no m om ento em que dem onstrar total domínio do conteúdo de cada unidade. Cada aluno segue em seu próprio ritmo, ou seja, não h á datas para as avaliações, e cada avaliação pode ser refeita quantas vezes forem necessárias para que o alu­ no dem onstre domínio do assunto abordado. Cada aluno só se subm ete à avalia­ ção de um a unidade quando se sente preparado para tal. Para que a disciplina possa funcionar nesses moldes, cada aluno recebe, além do m aterial a ser estuda­ do, instruções claras e objetivas do que e de como estudar o m aterial da disciplina. Além disso, contamos com a ajuda - essencial ao m étodo - de tutores (alunos que concluíram a disciplina em semestres anteriores). Professores e tutores da disciplina disponibilizam horários para o atendim ento individual a cada aluno (tirar dúvidas, discutir os tópicos abordados, realizar as Verificações de Aprendiza­ gem, etc.). Eventualm ente, o professor faz palestras ou dem onstrações experi­ m entais sobre os assuntos tratados nas disciplinas, sendo voluntária a participa­ ção do aluno, nestas palestras.

A terceira turm a do curso iniciou seu semestre utilizando um a versão deste livro m uito próxima à versão final, a qual se encontra neste m om ento em suas mãos. Já nas primeiras sem anas de aula, percebemos um a sensível diferença no desem penho dos alunos em comparação à primeira turm a. Essa diferença refletiu- se objetivam ente no núm ero de reform ulações das Verificações de A prendizagem dos alunos.

Ao ler o livro, é possível perceber que a linguagem utilizada está mais próxima daquela empregada por nós em sala de aula do que daque­ la encontrada nos textos clássicos. Foi dada grande ênfase a exemplos do cotidiano, e certo esforço foi em preendido para fornecer ilustrações que facilitassem a leitura.

(5)

Aos alunos

Escrevemos u m livro sobre Princípios Básicos de Análise do Com portam ento para alunos de graduação em Psicologia. Nossa principal orientação ao elaborá- lo foi tentar colocar no papel aquilo que falamos em sala de aula. M uitas vezes, o aluno não entende o assunto ao ler um texto, m as entende quando o professor "traduz" o que está escrito. Por que não escrever logo da form a m ais simples? Foi o que fizemos.

Tivemos um certo trabalho para ilustrar o livro para que o leitor tenha m enos trabalho para estudá-lo. Ao ler cada capítulo, estude cuidadosam ente cada figura, cada diagram a e cada gráfico, presentes no texto. Ainda, para facilitar o estudo, disponibilizamos no website www.walden4.com.br um a série de vídeos e de exer­ cícios. Recomendamos fortem ente que se faça bom uso desse m aterial de apoio. Esperamos que, por meio deste livro, seja possível conhecer adequadam ente a Análise do Com portamento, um a belíssima área da Psicologia que tem ajudado psicólogos do m undo inteiro a trabalhar de forma efetiva nos mais diversos cam ­ pos de atuação do psicólogo, como, por exemplo, em clínica, em organizações, em escolas, em contexto hospitalar, nos esportes, em educação especial, no trata­ m ento do autism o, nas com unidades, no planejam ento cultural, no tratam ento das mais diversas psicopatologias, nos laboratórios de pesquisa psicológica (com anim ais ou hum anos), n a psicofarmacologia, n a psicologia jurídica e no auxílio a crianças com déficit de aprendizagem ou atenção, entre várias outras.

(6)

Prefácio

Em 25 de junho de 2006, Amy Sutherland publicou um artigo no New York Times

de grande sucesso entre os leitores. Assinantes do jornal podem entrar em sua página n a internet e enviar cópias de artigos para amigos por e-mail. Por semanas, depois de publicado o artigo, continuava como um dos preferidos dos leitores para enviar pela Internet. O título é curioso, e o tem a inusitado: "O que Sham u m e ensinou sobre um casam ento feliz". Sham u é um anim al e o artigo aborda a experiência da autora ao descobrir que os métodos usados por treinadores para ensinar elefantes a pintar, hienas a fazer piruetas, macacos a andar de skate, etc., poderiam ser usados, sem estresse para ensinar boas m aneiras a seu m a­ rido. O artigo seria um excelente marketing para psicólogos analistas do com porta­ m ento não fosse por um porm enor: sim plesm ente não m enciona de onde veio o conhecimento. Mais de 70 anos depois da publicação de B. F. Skinner, distinguin­ do dois tipos de aprendizagem, respondente e operante, os princípios de análise do com portam ento desenvolvidos no livro de 1938, Comportamento dos organismos,

e no texto de F. S. Keller e W. N. Schoenfeld, Princípios de psicologia, de 1950, parecem estar tão consolidados que até fazem parte do senso comum. Em lingua­ gem acessível, sem term os técnicos, estão em livros de auto-ajuda, em textos voltados para o com portam ento em organizações, n a especificação de roteiros para o ensino a distância e em outras obras voltadas para o público em geral.

A abordagem sistem ática dos conceitos e princípios da análise do com porta­ m ento é o objetivo m aior do texto de Márcio Borges Moreira e Carlos Augusto de Medeiros. Preparado para o curso de graduação em Psicologia do Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB) para a utilização do sistema personalizado de ensino (ou M étodo Keller), o trabalho foi beneficiado pelo caráter experim ental do ensino, que perm ite identificar dificuldades e lacunas do texto por meio das reações dos leitores. Temos, pois, um livro didático de leitura fluida, que prepara o aluno para entender e usar os term os e conceitos tão úteis para o desem penho profissional do psicólogo.

João Cláudio Todorov

(7)

Sumário

Prefácio...xi

1

O reflexo inato /1 7

Reflexo, estímulo e resposta... 18

Intensidade do estímulo e magnitude da resposta... 20

Leis (ou propriedades) do reflexo... 22

Lei da intensidade-magnitude... 22

Efeitos de eliciações sucessivas da resposta: habituação e potenciação...24

Os reflexos e o estudo de emoções... 25

Principais conceitos apresentados neste capítulo... 28

Bibliografia consultada e sugestão de leitura... 28

2

O reflexo aprendido: Condicionamento Pavloviano / 29

A descoberta do reflexo aprendido: Ivan Petrovich Pavlov...30

Vocabulário do condicionamento pavloviano... 32

Condicionamento pavloviano e o estudo de emoções... 32

Generalização respondente...35

Respostas emocionais condicionadas com uns... 38

Extinção respondente e recuperação espontânea... 38

Contracondicionamento e dessensibilização sistemática...39

Uma “palavrinha" sobre condicionamento pavloviano... 42

Condicionamento pavloviano de ordem superior... 43

Algumas outras aplicações do condicionamento pavloviano...44

Fatores que influenciam o condicionamento pavloviano...45

Principais conceitos apresentados neste capítulo... 46

Bibliografia consultada e sugestões de leitura...46

3

Aprendizagem pelas conseqüências: o reforço / 47

O comportamento operante produz conseqüências no ambiente...48

O comportamento é afetado (é controlado) por suas conseqüências... 49

Exemplos simples de controle do comportamento por suas conseqüências....50

(8)

Reforçadores naturais versus reforçadores arbitrários... 52

Outros efeitos do reforço...53

Extinção operante... 55

Resistência à extinção... 56

Fatores que^influenciam a resistência à extinção...57

Outros efeitos da extinção... 58

Modelagem: aquisição de comportamento... 60

Principais conceitos apresentados neste capítulo...62

Bibliografia consultada e sugestões de leitura...62

Aprendizagem pelas conseqüências:

o controle aversivo / 63

Por que "controle aversivo do comportamento"?... 63

Contingências de reforço negativo... 65

Comportamento de fuga e comportamento de esquiva... 66

Punição... 69

Dois tipos de punição...70

Efeitos colaterais do controle aversivo... 75

Por que punimos tanto?... 79

Quais as alternativas ao controle aversivo?...81

Algumas conclusões importantes ...83

Principais conceitos apresentados neste capítulo...83

Bibliografia consultada e sugestões de leitura... 84

Primeira revisão do conteúdo / 85

O reflexo inato (Capítulo 1) ... 85

O reflexo aprendido: condicionamento pavloviano (Capítulo 2 ) ...87

Aprendizagem pelas consequências: o reforço (Capítulo 3 )... 89

Aprendizagem pelas consequências: o controle aversivo (Capítulo 4 ) ...90

Comportamento operante e comportamento respondente (Reflexo)... 91

Principais conceitos revistos... 94

Controle de estímulos: o papel do contexto / 97

Discriminação operante e operante discriminado... 98

Contingência tríplice ou contingência de três term os...98

Treino discriminativo e controle de estím ulos...100

Generalização de estímulos operante... 101

Classes de estímulos... 105

O atentar (atenção como um comportamento)...106

(9)

Moreira & Medeiros 15

Encadeamento de respostas e reforço condicionado ... 111

Principais conceitos apresentados neste capítulo... 115

Bibliografia consultada e sugestões de leitura...115

Esquemas de reforçamento / 1 1 7

Esquema de reforço contínuo e esquemas de reforçamento intermitente... 117

Os principais esquemas de reforçamento intermitente: FR, VR, FI, VI... 118

Comparação entre esquemas intermitente e contínuo... 123

Padrões comportamentais de cada esquema...125

Esquemas não-contingentes e o comportamento supersticioso...128

Esquemas reguladores da velocidade do responder (taxa de respostas)... 129

Reforçamento diferencial de outros comportamentos (DRO)...131

Esquemas compostos... 131

Principais conceitos apresentados neste capítulo...134

Bibliografia consultada e sugestões de leitura...135

Segunda revisão do conteúdo /1 3 7

Controle de estímulos: o papel do contexto (Capítulo 6 ) ... 137

Esquemas de reforçamento (Capítulo 7 ) ... 139

Psicologia e aprendizagem... 141

Principais conceitos revistos... 142

A análise funcional: aplicação dos conceitos /1 4 5

Análise funcional do comportamento... 146

Análise funcional de um desempenho em laboratório... 151

Análise funcional de um caso clínico... 155

Uma última nota... 162

Bibliografia consultada e sugestões de leitura... 164

Atividades de laboratório /1 6 5

Teoria versus teste empírico: um exemplo simples...165

Por que estudar o comportamento de animais em um curso de psicologia?... 166

O laboratório de condicionamento operante... 167

Atividade prática 1: modelagem... 168

Atividade prática 2: reforço contínuo da resposta de pressão à barra (CRF) ..175

Atividade prática 3: extinção e recondicionamento... 177

Atividade prática 4: esquema de reforçamento (razão fixa e razão variável).. 178

(10)

Sumário

Atividade prática 5: esquema de reforçamento (intervalo fixo

e intervalo variável)... 179

Atividade prática 6: treino discriminativo (o papel do contexto)... 181

Atividade prática 7: encadeamento de respostas (comportamentos em seqüência)... 182

Algumas normas e dicas para

se redigir um relatório científico / 191

Noções gerais para confecção do relatório científico... 192

Regras gerais para a confecção do relatório científico... 193

Capa... 193

Resumo e palavras-chave... 194

Sumário... 195

Introdução... 196

M étodo...200

Resultados... 202

Discussão... 203

Referências bibliográficas... 204

Anexos...206

Esboço de como ficará o relatório... 207

Checklist - o que checar após finalizar o relatório... 208

B. F. Skinner, análise do comportamento

e o behaviorismo radical / 211

Burrhus Frederic Skinner... 211

Análise do comportamento... 213

O behaviorismo radical de Skinner...215

Principais conceitos apresentados neste capítulo... 220

(11)

mmÊÈÊÊÊSÊBÊmgÊÊÊmËSiÊÊSMÊmsmm

M M i

C Â P t x ï s i û t ' * ^ ^ '

•--O reflexo inato

SfeigÃíni^^rv :i>tófi;Sl$%S^: ï'x-, áS* 7-' '

Q uando o médico bate o m artelo no joelho de um paciente, o m úsculo de sua coxa contrai-se (você “dá um chute no ar"); quando a luz incide sobre sua pupila, ela se contrai; quando você ouve um barulho alto e repentino, seu coração dispara (taquicardia); quando você entra em um a sala m uito quente, você começa a suar. Esses são apenas alguns exemplos de com ­ portam entos reflex o s in a to s. Note que há algo em com um em todos eles: há sempre um a alteração no ambiente que produz uma alteração no organismo (no corpo do indivíduo).

Todas as espécies anim ais apresentam com portam entos reflexos inatos. Es­ ses reflexos são um a “preparação m ínim a" que os organism os têm para com e­ çar a interagir com seu am biente e para ter chances de sobreviver (Figura 1.1). Se você colocar seu dedo na boca de um recém-nascido, autom aticam ente ele irá “sugar" o seu dedo. Da m esm a forma, quando o seio da m ãe entra em conta­ to com a boca do bebê, um a resposta sem elhante é observada (sucção). Não é

Os refle xos inatos são m u ito im p o rta n te s p a ra nossa so b revivên cia . As figuras A e B

(12)

necessário que o recém-nascido aprenda a mamar. Im agine como seria difícil ensinar a um bebê esse com portam ento (m am ar). Se você espetar o pé de um bebê, ele contrairá sua perna, afastando seu pé do objeto que o está ferindo. Esses e inúm eros outros reflexos fazem parte do rep ertório co m p o rta m en ta l

(com portam entos de um organismo) de animais hum anos e não-hum anos desde o m om ento de seu nascim ento (e até m esm o da vida intra-uterina); por isso, são cham ados reflexos inatos.

No dia-a-dia, utilizamos o term o reflexo em expressões como "aquele goleiro tem um reflexo rápido”, “o reflexo da luz cegou seu olho por alguns instantes” ou ‘‘você tem bons reflexos". O term o reflexo tam bém foi em pregado por alguns psicólogos e fisiologistas para falar sobre com portam ento. Neste capítulo, discutirem os os com portam entos chamados reflexos, especialm ente dos reflexos inatos. Para ta n ­ to, é necessário que, antes de falarmos sobre os com portam entos reflexos, especi­ fiquemos o que é, para nós (psicólogos), um reflexo.

Na linguagem cotidiana (por exemplo, "aquelegoleiro tem um reflexo rápido”),

utilizamos o term o reflexo como um sinônimo de resp osta, ou seja, aquilo que o

organ ism o fez. Em psicologia, quando falamos sobre comportamento reflexo, o termo reflexo não se refere àquilo que o indivíduo fez, mas, sim, a um a relação entre o que ele fez e o que aconteceu antes de ele fazer. Reflexo, portanto, é um a relação entre estím ulo e resposta, é um tipo de interação entre um organismo e seu ambiente.

Reflexo, estímulo e resposta

Para com preenderm os o que é reflexo, ou seja, um a relação entre estímulo e resposta, é necessário que antes saibamos claram ente o que é u m estímulo e o que é um a resposta. Os termos estímulo e resposta são am plam ente usados por nós n a linguagem cotidiana. O significados desses dois term os, ao se referir a com portam ento, são, no entanto, diferentes do uso cotidiano. Q uando falamos sobre com portam ento reflexo, esses term os adquirem significados diferentes: estím ulo é u m a parte ou m udança em um a parte do am b ien te; resposta é um a m udança no o rg a n ism o (Figura 1.2). Analise os exemplos de reflexos da Tabela 1.1 tentando relacioná-los aos conceitos de estím ulo e resposta apresentados anteriorm ente.

Note que n a Tabela 1.1 temos a descrição de quatro reflexos, ou seja, a descrição de cinco relações entre o am biente (estímulo) e o organism o (resposta). No re ­

flexo "fogo próximo à m ão -+ contração do braço", "fogo próximo à m ão" é um a m u ­ dança no am biente (não havia fogo; agora há), e "contração do braço" é um a m udança no organism o (o braço não estava contraí­ do; agora está) produzida pela m udança no am biente. Portanto, quando m encionam os "reflexo", estam os nos referindo às relações en tre estím ulo e resposta que especificam que determ inada m u d an ça no a m b ie n te

Estímulo — —

---

Resposta fogo próximo à mão

---

► contração do braço martelada no joelho ---► flexão da perna

alimento na boca ---► salivação

(13)

Estímulos (S) Respostas (R)

B o oü !

M udança no A m b ie n te M udança no O rganism o

( p r o d u z )

R eflexos são relações e n tre es tím u lo s e respostas. Respostas são mudanças em nosso o rg a­ nism o produzidas por mudanças no am biente. A reiação entre estím ulo e resposta é cham ada reflexo.

p rod u z determ inada m udança no o rgan ism o. Dito em term os técnicos, o refle­ xo é uma relação entre um estímulo e uma resposta na qual o estímulo elida a resposta.

E com um em ciência term os símbolos para representar tipos diferentes de fenômenos, objetos e coisas. Em um a ciên cia d o co m p o rta m e n to não seria diferente. Ao longo deste livro, você aprenderá diversos símbolos que representam os aspectos com portam entais e am bientais envolvidos nas in tera çõ es organ is-m o -a is-m b ien te. Para falar de com portam ento reflexo, utilizaremos a letra S para representar estímulos e a letra R para representar respostas. A relação entre estím ulo e resposta é representada por um a seta (-+). Quando a análise compor- tam ental envolve dois ou mais reflexos, é com um haver índices nos estímulos (Sj S2 S3, ...) e nas respostas (Rt, R2, R3, ...). O reflexo patelar, por exemplo, pode­ ria ser representado assim:

ou seja, S é o estímulo (batida de um martelo no joelho) e R é a resposta (flexão da perna). A seta significa que o estím ulo produz (elicia) a resposta. Dizemos,

(14)

nesse caso, que S elicia R , ou que a batida de um m artelo no joelho elicia a resposta de flexão da perna. A Tabela 1.2 apresenta vários exemplos de estímulos e respostas. Quando há um "X" n a coluna "S", trata-se de um estímulo. Quando o "X" está n a coluna em "R", trata-se do exemplo de um a resposta. Quando houver apenas um traço "__" nas colunas "S" e "R", significa que é necessário completar a tabela m arcando um "X" na coluna "S" para estím ulos e um "X" na coluna "R" para respostas.

Intensidade do estímulo e magnitude da resposta

Antes de estudarm os um pouco mais as relações entre os estímulos e as repostas, é necessário conhecermos os conceitos de in ten sid a d e do estím u lo e m a g n itu ­ d e d a resp o sta . Tanto intensidade como m agnitude referem-se ao "quanto de estímulo" (intensidade) e ao "quanto de resposta", ou à força do estímulo e à força da resposta, como falamos na linguagem cotidiana. Tomemos como exemplo o reflexo patelar (Figura 1.3a). Nele, o estímulo é a m artelada no joelho, e a distensão da perna é a resposta. Nesse caso, a força com que a m artelada é dada é a intensidade do estímulo, e o tam anho da distensão da perna é a m agnitude da resposta. Q uando entram os em um a sala m uito quente, começamos a suar.

Nesse exemplo de com portamento reflexo, o estím u­ lo é o calor (tem peratura), e a resposta é o ato de suar. A intensidade do estímulo, nesse caso, é m edi­ da em graus Celsius (25°, 40°, 30“, etc.), e a m agnitu­ de da resposta é m edida pela quantidade de suor produzido (10 mililitros, 15 mililitros...).

A Tabela 1.3 apresenta alguns exemplos de estí­ mulos e respostas e informa como poderíamos medi- los. A prim eira coluna da Tabela 1.3 ("S" ou "R") indica se o exemplo é um estímulo (S) ou um a res­ posta (R). A terceira coluna apresenta um a forma de m edir esses estímulos e essas respostas. Note que as formas de medir, colocadas na Tabela 1.3, repre­ sentam apenas algum as possibilidades de m en- suração de estímulos e respostas.

Aprender a observar e m edir o com portam ento é extrem am ente im portante para o psicólogo. Inde­ pendentem ente da nossa vontade, sempre estamos fazendo referência, mesmo que implicitam ente, a alguma m edida de com portam ento. Até mesmo o leigo faz isso quando, por exemplo, pergunta: "Você ficou com m uito medo naquele m om ento?"; "O que mais excita você: palavras ou cheiros?". Muito, pou­ co, mais, menos - estas não são m edidas muito boas, mas fazem referência direta a elas. Por isso, devemos ser hábeis em m ensurar o com portam ento.

Eventos S R

Cisco no olho X

Sineta do jantar

Ruborização (ficar vermelho)

Choque efétrico X

Luz no olho

Lacrimejo X

Arrepio

Som da broca do dentista

Aumento na freqüência cardíaca X

Contração pupilar X

Suor

Situação embaraçosa

Cebola sob otho X

(15)

M oela&?Mfo£eÍ«>s

S o u R Estím ulo/resposta Com o m edir?

S Som, barulho Altura em decibéis

R Salivar Gotas de saliva (em mililitros)

R Contração pupilar Diâmetro da pupila (em milímetros)

S Choque elétrico Volts

S Calor Graus Celsius

R Taquicardia Número <Je batimentos por minuto

R Suor (sudorese) Mililitros de suor produzido

R Contração muscular força da contração em Newtons

S Alimento Quantidade em gramas

(a)

A n te s d o e s tím u lo Estím ulo

(martelada)

Resposta

(movimento)

Antes do estímulo Estím ulo

(luz)

Resposta

(contração pupilar)

(16)

22 O reflexo inato

Leis (ou propriedades) do reflexo

Ao longo dos três últimos séculos, vários pesquisadores, entre eles alguns psicólo­ gos, estudaram os reflexos inatos de hum anos e não-hum anos, buscando com ­ preender m elhor esses com portam entos e identificar suas características princi­ pais e seus padrões de ocorrência. Estudaremos, a seguir, algum as das descobertas desses pesquisadores.

O objetivo de um a ciência é buscar relações uniform es (constantes) entre

eventos® , e foi exatam ente isso que os cientistas que estudaram (e estudam ) o com portam ento reflexo fizeram: eles buscaram identificar relações constantes entre os estímulos e as respostas por eles eliciadas que ocorressem da ^ , m esm a form a nos mais diversos reflexos e nas m ais diversas espécies.

© U roew ftoéquatauefm u- ^ . , - , , . , ,

rtnnfitVn1' naifánomundo Essas constancias nas relações entre estímulos e respostas sao chamadas leis (ou propriedades) do reflexo. Exam inarem os, a seguir, tais leis.

Lei da intensidade-magnitude

A lei da intensidade-m agnitude estabelece que a intensidade do estím ulo é um a m edida diretam ente proporcional à m agnitude da resposta, ou seja, em um refle­ xo, quanto m aior a intensidade do estímulo, maior será a m agnitude da resposta (ver Figura 1.4). Tomando novam ente como exemplo o reflexo que compreende u m barulho alto (estímulo) e u m susto (resposta), teríamos o seguinte: quanto

Antes do estímulo

Estím ulo (S) (Intensidade)

R esposta (R) (magnitude)

i

-.t itÍIL'

.aáwa»tf ».liüBIt«

(17)

Moreira & M edeiros 23

mais alto o barulho, m aior o susto. Quando você abre a janela do seu quarto pela m anhã, após acordar, a luz (estímulo) que incide sobre seus olhos elicia a contra­ ção de suas pupilas (resposta). Segundo a lei da intensidade-m agnitude, quanto mais claro estiver o dia, mais suas pupilas irão se contrair.

Lei do lim iar

Esta lei estabelece que, para todo reflexo, existe um a intensidade m ínim a do estím ulo necessária para que a resposta seja eliciada. Um choque elétrico é um estím ulo que elicia a resposta de contração muscular. Segundo a lei do limiar, existe um a intensidade mínima do choque (de 5 a 10 volts, apenas como exemplo - esses valores são fictícios, e o valor do lim iar é individual) que é necessária para que a resposta de contração m uscular ocorra. Essa faixa de valores, no exemplo, que varia de 5 a 10 volts, é cham ada lim iar. Portanto, valores abaixo do limiar não eliciam respostas, enquanto valores acima do lim iar eliciam respostas. Há ainda outra característica im portante sobre o limiar do reflexo. Percebeu-se que o lim iar não é um valor definido. Nesse exemplo, o lim iar com preende valores entre 5 e 10 volts; sendo assim, choques aplicados com intensidades variando entre 5 e 10 volts (limiar) às vezes eliciarão a resposta de contração muscular, às vezes não. O gráfico apresentado na Figura 1.5 m ostra essa relação entre a in te n ­ sidade do estím ulo e a eliciação da resposta.

Lei do lim iar. Existe um a intensidade m ínim a do estím ulo necessária para eliciar um a resposta. Só a partir do terceiro quadro o suor é produzido.

Lei da latência

L a tên cia é o nom e dado a um intervalo entre dois eventos. No caso dos reflexos, latência é o tempo decorrido entre apresentação do estím ulo e a ocorrência da resposta. A lei da latência estabelece que, quanto m aior a intensidade do estí­ mulo, m enor a latência entre a apresentação desse estím ulo e a ocorrência da resposta (ver Figura 1.6). Barulhos altos e estridentes (estím ulos) geralm ente nos eliciam um susto (resposta). Segundo a lei da latência, quanto mais alto for

Sem suor Sem suor Suor (resposta)

(18)

; Antes do estimulo * Estím ulo (S) Resposta (R)

Lei da la tê n c ia . Q uanto mais fraco é o estím ulo (m enor intensidade), mais te m po se passará entre a apresentação do estím ulo e a ocorrência da resposta, ou seja, m aior será a latência da resposta.

o barulho, m ais rapidam ente haverá contrações m usculares que caracterizam o susto.

Além da latência entre apresentação, estím ulo e ocorrência da resposta, a intensidade do estím ulo tam bém possui um a relação diretam ente proporcional à duração da resposta: quanto maior a intensidade do estímulo, m aior a duração da resposta. Q uando um vento frio passa por nossa pele (estím ulo), nós nos arrepiamos (resposta). Você já deve ter tido alguns arrepios "m ais dem orados" que outros. O tem po pelo qual você "ficou arrepiado" é diretam ente proporcional à intensidade do frio, ou seja, quanto mais frio, mais tem po dura o arrepio.

Efeitos de eliciações sucessivas da resposta:

habituação e potenciação

Outra característica im portante dos reflexos são os efeitos que as eliciações suces­ sivas exercem sobre eles. Q uando u m determ inado estím ulo, que elicia um a determ inada resposta, é apresentado ao organism o várias vezes seguidas, em curtos intervalos de tempo, observamos algumas m udanças nas relações entre o estím ulo e a resposta.

(19)

H ab itu a ç ã o do re fle x o . Quando somos expostos a um determ in ado estím ulo por um tem po prolongado, a m agn itu­ de da resposta tende a dim inuir. Na figura (a), a cada cebola cortada (um a após a outra), dim inui a quantid ade de lacrim ejação. Quando estamos em um local barulhento, (figura b) após alguns m inutos, tem os a im pressão de que o barulh o dim inuiu.

Após algumas cebolas estarem descascadas, seria perceptível que as lágrimas nos olhos teriam dim inuído ou cessado.

Para alguns reflexos, o efeito de eliciações sucessivas é exatam ente oposto da habituação. À m edida que novas eliciações ocorrem, a m agnitude da resposta aum enta (ver Figura 1.8).

Os reflexos e o estudo de emoções

(20)

26 O reflexo inato

ouvido falar a seguinte frase: "Na hora nâo consegui controlar

(m inhas emoções)". Já deve ter achado estranho e, até certo ponto, incompreensível por que algum as pessoas têm algu­ mas emoções, como ter medo de pena de aves ou de baratas, ou ficar sexualm ente excitadas em algum as situações no m ínim o estranhas, como coprofilia® e necrofilia®. M uitas dessas emoções que sentimos são respostas reflexas a estí­ mulos am bientais. Por esse motivo, é difícil controlar um a emoção; é tão difícil quanto não "querer chutar" quando o médico dá um a m artelada em nosso joelho.

Os organismos, de acordo com suas espécies, nascem de algum a forma preparada para interagir com seu ambiente. Assim como nascemos preparados para contrair um m úscu­ lo quando um a superfície pontiaguda é pressionada contra nosso braço, nascemos tam bém preparados para ter algu­ mas re sp o sta s e m o c io n a is quando determ inados estím u­ los surgem em nosso am biente. Inicialm ente, é necessário saber que emoções não surgem do nada. As emoções surgem em função de determ inadas situações, de determ inados con­ textos. Não sentim os medo, alegria ou raiva sem motivo; sentimos essas emoções quando algo acontece. M esmo que a situação que causa um a emoção não seja aparente, isso não quer dizer que ela não exista, podendo ser até m esm o u m pensam ento, um a lembrança, um a m ú ­ sica, um a palavra, etc. (isto ficará m ais fácil de entender no Capítulo 2, quando tratarem os da aprendizagem de novos reflexos).

O utro ponto im portante a ser considerado é que boa parte (não tudo) daquilo que entendem os como emoções diz respeito à fisiologia do organismo. Quando sentimos medo, por exemplo, um a série de reações fisiológicas estão acontecendo em nosso corpo: as glândulas supra-renais secretam adrenalina, os vasos san­

güíneos periféricos contraem -se, e o sangue concentra-se nos m ú s­ culos (ficar branco de m edo), entre outras reações fisiológicas (Fi-

® Excitar-se na presença de fezes. g U ra ] g y o a m esm a forma, quando sentimos raiva, alegria, ansie-morfâs^°eSSeXUa*SCOm*3eSSOaS ^ ac*e ou tr*steza' outras m udanças em nossa fisiologia podem ser detectadas utilizando-se aparelhos próprios. Esse aspecto fisiológico das emoções fica claro quando falamos sobre o uso de medicamentos (ansiolíticos, antidepressivos, etc.). Os remédios que os psiquiatras preescrevem não afetam a m ente hum ana, mas, sim, o organismo, a sua fisiologia. Quando nos referimos às emoções (sobretudo às sensações), estam os falando, portanto, sobre respostas dos organismos que ocorrem em função de algum estímulo (- situação). Os organismos nascem preparados para ter algum as modificações em sua fisiologia em função de alguns estímulos. Por exemplo, se u m barulho alto e estridente é produzido próximo a um bebê recém-nascido, poderemos observar em seu organism o as respostas fisiológicas que descrevemos anteriorm ente como constituintes do que cham am os medo.

Em algum m om ento da evolução das espécies (teoria de Charles Darwin), ter determ inadas respostas emocionais em fu n çã o da a p resen ta ç ã o de alguns

(21)

Tfif rnuíi* í JL Mfl4iH'Brtrr ‘ ifnnBU« ql «sywBBwtfe 27

REFLEXO RESPOSTAS FISIOLÓGICAS

A u m e n to na fre q ü ê n c ia ca rdía ca

C o n s triç ã o c a p ila r (fic a r b ra n c o de

m e d o )

S ecre çã o de a d re n a lin a

Estímulo Resposta MEDO (emoção)

C om o o re fle x o está rela c io n a d o com as em oções q u e sentim os? Q uando sentim os uma emoção, com o o medo, várias alterações estão ocorrendo em nosso corpo.

estím ulos m ostrou ter valor de sobrevivência. O m undo, na época em que o primeiro ser hum ano “apareceu", provavelmente era m ais parecido com o da Figura 1.10 do que com o m undo que conhecemos hoje.

O valor de sobrevivência das emoções para as espécies pode ser ilustrado n a Fi­ gura 1.10. Provavelm ente o anim al que está sendo atacado pelo tigre (estím ulo) está sentindo algo sem elhante ao que cha­ mamos de medo (resposta em ocional): seu coração está batendo mais rapidam ente, seus vasos sangüíneos periféricos contraí­ ram-se, retirando o sangue da superfície de sua pele e concentrando-o nos m úscu­ los. Essas respostas fisiológicas em relação à situação m ostrada (o ataque do tigre) tor­ nam mais provável que o anim al escape

com vida do ataque: se o sangue saiu da Em oções p a ra quê? Ilustração de com o emoções (medo, por

(22)

2 8 O reflexo inato

rão m enos sangram ento, se o sangue concentra-se nos m úsculos, o anim al será capaz de correr mais velozmente e de dar coices mais fortes. Utilizamos como exemplo o medo por acharm os mais ilustrativo, m as o m esm o raciocínio aplica- se a outras emoções, sejam ou não consideradas prazerosas para nós.

Não há dúvidas hoje de que boa parte daquilo que conhecemos como emoções envolve relações (com portam entos) reflexas, ou seja, relações entre estímulos do am biente e respostas (com portam ento) dos organismos.

Principais conceitos apresentados neste capítulo

Estim ulo Qualquer alteração ou parte do

ambiente que produza uma mudança no organismo

R esposta Qualquer alteração no organismo produzida por uma alteração no ambiente (estímulo)

R eflexo é uma relação entre um estímulo específico e uma resposta específica

In tensid ade É a força (ou quantidade) de um do e s tim u lo determinado estimulo

M a g n itu d e É a força de uma determinada da resposta resposta

Contida colocada na boca faz o

organismo sativar.

Saliva produzida pela colocação de comida na boca.

Comida elicia (produz) salivação.

Quantidade de comida colocada na boca (3 gramas, 7 gramas...).

Quantidade de saliva produzida (2 gotas, 3 gotas, 2 mililitros, 4 mililitros...).

Bibliografia consultada e sugestões de leitura

Catania. A. C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre: Artmed. Capítulo 4: Com portam ento eliciado e com portam ento reflexo. Millenson, J. R. (1975). Princípios de análise do comportamento. Brasília: Coordenada. Capítulo 2: Com portam ento reflexo (eliciado)

(23)

O reflexo aprendido:

Condicionamento

Pavloviano

Você começa a suar e a trem er ao ouvir o barulho feito pelos aparelhos utilizados pelo dentista? Seu coração dispara ao ver um cão? Você sente náuseas ao sentir o cheiro de determ i­ nadas comidas? Você tem algum tipo de fobia? M uitas pessoas responderiam “sim" a essas perguntas. Mas, para todas essas pessoas, até um determ inado m om ento de sua vida, responde­

riam "não" a essas perguntas; portanto, estam os falando sobre a p ren d iza g em

e sobre um tipo de aprendizagem cham ado Condicionamento Pavloviano. No capítulo anterior, sobre os reflexos inatos, vimos que eles são com portam en­ tos característicos das espécies, desenvolvidos ao longo de sua h istó ria filo g e-nética®. O surgimento desses reflexos no repertório com portam ental das espécies preparam -nas para u m primeiro contato com o ambiente, aum entando as chances de sobrevivência. Uma outra característica das espécies anim ais tam bém desen­ volvida ao longo de sua história filogenética, de grande valor para sua sobrevivên­ cia, é a ca p a cid a d e d e ap ren d er n o v o s reflexo s, ou seja, a capacidade de reagir de formas diferentes a novos estímulos. D urante a evolução das espécies, elas "aprenderam " a responder de determ inadas maneiras a estímulos específicos de seu am biente. Por exemplo, alguns animais já "nascem sabendo" que não podem comer um a fruta de cor am arela, a qual é venenosa.

Os reflexos inatos com preendem determ inadas respostas dos organismos a determ inados estímulos do am biente. Esse am biente, no entanto, m uda constan­ tem ente. Em nosso exemplo, a fruta am arela possui um a toxina

venenosa que pode levar um organism o à morte. Se anim ais de _ .

, _ , O A lt e r a ç oe sf isio ló gi c a se a n a

(24)

O reftafO «prendido: Condicionamento Pavloviano

mos, o am biente m uda constantem ente. Essa fruta, ao longo de alguns m ilhares de anos, pode m udar de cor, e os anim ais não mais a rejeita­ riam, ou m igrariam para outro local onde essas frutas têm cores diferentes. Sua preparação para não comer frutas am arelas torna-se inútil. É nes­ se m om ento que a capacidade de aprender novos reflexos torna-se importante. Suponha que o ani­ mal em questão m ude-se para um am biente o n ­ de h á frutas vermelhas que possuem a m esm a toxina que a fruta amarela. A toxina, inatam ente, produz no anim al vômitos e náusea. Ao comer a fruta vermelha, o anim al terá vômito e náusea (respostas) eliciados pela toxina (estím ulo). Após tal evento, o anim al poderá passar a sentir náuseas ao ver a fruta vermelha, e não mais a comerá, dim inuindo as chances de m orrer envenenado. Discutiremos, a partir de então, u m reflexo aprendido (ver a fruta verm elha -» sentir náuseas). É sobre essa aprendizagem de novos reflexos, cham ada Condicionamento Pavloviano, que tratarem os neste capítulo. Iv an P avlo v e m seu la b o ra tó rio . Esta fo tog rafia

m ostra Pavlov trabalhando em seu laboratório.

A descoberta do reflexo aprendido: Ivan Petrovich Pavlov

Ivan P etrovich Pavlov, um fisiologista russo, ao estudar reflexos biologicamente estabelecidos (inatos), observou que seus sujeitos experim entais (cães) haviam

ap ren d id o novos reflexos, ou — ---— — --- — __ seja, estím ulos que não elicia-vam d e te rm in a d a s resp o stas p assaram a eliciá-las. Em sua homenagem, deu-se a esse fenô­ m eno (aprendizagem um novo reflexo) o nom e de C ondiciona­ m e n to P avloviano.

Pavlov, em seu laboratório (ver Figura 2.1), estudava as leis do reflexo que vimos no Capítulo 1. Ele estudava especificamente o reflexo salivar (alim ento na boca -► salivação). Em um a fís­ tula (um pequeno corte) próxi­ m a às glândulas salivares de um cão, Pavlov introduziu um a pe­ quena m angueira, o que perm i­ tia medir a quantidade de saliva produzida pelo cão (m agnitude da resposta) em função da quan­ 0 a p a ra to e x p e rim e n ta l usado p or Pavlov. A figura ilustra a situação

(25)

M oreha & M edeiros

tidade e da qualidade de comida que era apresentada a ele (ver Figura 2.2). Pavlov descobriu acidentalm ente que outros estím ulos além da com ida tam bém estavam eliciando salivação no cão. Pavlov percebeu que a simples visão da co­ m ida onde o alim ento era apresentado eliciava a resposta de salivação no cão, assim como o som de suas pegadas ao chegar ao laboratório ou sim plesm ente a aproxim ação da hora em que os experim entos eram freqüentem ente realizados tam bém o provocavam. Pavlov, então, decidiu estudar com mais cuidado esses acontecim entos.

O experim ento clássico de Pavlov sobre a aprendizagem de novos reflexos foi feito utilizando-se um cão como sujeito experim ental (sua cobaia), carne e o som de um a sineta como estímulos, e a resposta observada foi a de salivação (ver Figuras 2.2 e 2.3).

Basicamente, o que Pavlov fez foi em p a relh a r (apresentar u m e logo em seguida o outro), para o cão, a carne (estímulo que naturalm ente eliciava a respos­ ta de salivação) e o som da sineta (estím ulo que não eliciava a resposta de salivação), m edindo a quantidade de gotas de saliva produzidas (resposta) qu an ­ do os estím ulos eram apresentados. Após cerca de 60 em parelham entos dos estím ulos (carne e som da sineta), Pavlov apresentou para o cão apenas o som da sineta, e m ediu a quantidade de saliva produzida. Ele observou que o som da

(26)

O

rs&em

aprendido: Coodfòevuunento Pavloviano

■"S.** n. V *-' » % -> - <r**» " , - ' r «.

sineta havia eliciado no cão a resposta de salivação. 0 cão havia aprendido um novo reflexo: salivar ao ouvir o som da sineta.

Vocabulário do condicionamento pavloviano

Quando se fala de condicionamento pavloviano, é necessário conhecer e empregar corretam ente os termos técnicos que a ele se referem. Vamos exam inar m elhor a Figura 2.3 e identificar nela tais termos.

A Figura 2.3 apresenta três situações: (1) antes do condicionam ento; (2) durante o condicionamento; (3) após o condicionamento. Na situação 1, a sineta (na realidade o seu som) representa um estím u lo n eu tr o (cuja sigla é NS®) para a resposta de salivação: o som da sineta n a situação 1 n ão elicia a resposta de salivação. A situação 2 m ostra o em p arelh

a-•Assi<#as vêm do inglês, uncon- m e n to do estím ulo neutro ao estím u lo in co n d icio n a d o (cuja cfttkmed stimulift <U5); «rcamfi- sigla é US). Dizemos que a relação entre a carne e a resp o sta

tiorted fwponse{UR); neutral sti- in c o n d ic io n a d a (UR) de salivação é um re fle x o in c o n d icio -muius (NS), coEXft&ned stimulus n a d o , pois não depende de aprendizagem. Após várias repetições (CSk condftiofted response (CR). , . - _ , . . . , . . .

■ da situaçao 2, chegamos a situaçao 3, na qual o condicionamento foi estabelecido, ou melhor, houve a aprendizagem de um novo reflexo, cham ado de reflex o co n d icio n a d o . O reflexo co n d icio n a d o é um a relação entre um e s tím u lo co n d icio n a d o (C S) e um a r e sp o sta co n d icion ad a

(CR). Note que o estímulo neutro e o estímulo condicionado são o mesmo estímulo (som da sineta). Nomeamos de formas diferentes esse estím ulo n a situação 1 e na situação 3 para indicar que sua fu n çã o , com relação à resposta de salivar, foi modificada: na situação 1, o som não eliciava a salivação (estím ulo neutro) e, na situação 3, o som elicia a salivação (estím ulo condicionado).

Um aspecto im portante em relação aos termos neutro, incondicionado e con­ dicionado é que o uso deles é relativo. Quando falamos sobre com portam entos reflexos (ou co m p o rta m en to s r e sp o n d en te s, outro nom e dado aos reflexos na psicologia), estam os sempre nos rem etendo a um a relação entre um estímulo e um a resposta. Portanto, quando dizemos que um determ inado estímulo é n eu ­ tro, como no caso do som da sineta n a situação 1 da Figura 2.3, estamos dizendo que ele é neutro para a resposta de salivar. Quando dizemos que a carne é um estím ulo incondicionado, estam os afirm ando que ela é um estím ulo incondicio­ nado para a resposta de salivar. Se a resposta fosse, por exemplo, arrepiar, a

carne seria u m estím ulo neutro para tal resposta. A Figura 2.4 • UmparacSp»^ m raodeto. representa o diagram a do paradigm a® d o co n d icio n a m en to

r e sp o n d en te de forma genérica.

Condicionamento pavloviano e o estudo de emoções

(27)

Estímulo Neutro

^ Emparelhamento de estímulos

*

---■■* Rj

S,

R,

Estímulo Resposta incondicionado incondicionada

Estímulo Resposta condicionado condicionada

Reflexo incondicionado

(In ato )

Reflexo condicionado

(A prendido) Novo

n p H U

D ia g ra m a q u e re p re s e n ta o co n d ic io n a m e n to p a v lo v ia n o . Esta figura é um a diagram a de com o é fe ito (ou com o ocorre) o condicionam ento pavloviano. N ote que estím ulo neutro e estím ulo condicionado são o mesm o estím ulo: ele (S2) apenas m uda de função.

estím ulos e respostas (são, portanto, com portam entos respondentes). Se os or­ g a n ism o s p o d e m ap ren d er n o v o s reflex o s, p o d e m ta m b ém ap ren d er a sen tir e m o ç õ e s (re sp o sta s em o c io n a is) q u e n ã o e s tã o p r e s e n te s em seu rep ertório co m p o rta m e n ta l q u a n d o n a scem . Exemplifiquemos m elhor esse fenôm eno apresentando u m experim ento clássico sobre condicionam ento pav­ loviano e emoções, feito por J o h n W atson , em 1920, o qual ficou conhecido como o caso do pequeno Albert e o rato.

O objetivo de W atson ao realizar tal experim ento foi verificar se o Condiciona­ m ento Pavloviano teria utilidade para o estudo das emoções, o que se provou verdadeiro. Basicamente, a intenção de W atson foi verificar se, por meio do Condi­ cionam ento Pavloviano, u m ser hum ano (um bebê de aproxim adam ente 10 m e­ ses ) poderia ap ren d er a te r m ed o de algo que não tinha. Para sanar sua dúvida, W atson partiu para a experim entação controlada, ou seja, buscou na prática suas respostas em am biente controlado, no qual é possível ter dom ínio sobre as variáveis relevantes para o experimento.

(28)

3 4 O reflexo aprendido: Condicionam ento Pavloviano

Antes do condicionamento Estímulo incondicionado

E stím u lo n e u tro (ra to )

Sem m e d o

E s tím u lo in c o n d ic io n a d o (so m e s trid e n te )

R esposta in c o n d íc io n a d a (m e d o )

T

Durante o condicionamento Após o condicionamento

E stím ulo in c o n d ic io n a d o (ra to )

R esposta in c o n d íc io n a d a (m e d o )

W atson: o co n d icio n a m en to d e um a resposta d e m e d o . 0 psicólogo am ericano John W atson, m ostrou a rele­ vância do condicionam ento pavloviano para a compreensão das emoções (como podemos aprender a sentir determ i­ nadas em oções em relação a estím ulos que antes do condicionam ento não sentíamos).

tanto os seus m ovim entos como algumas respostas fisiológicas. Após ouvir o som da m artelada, o bebê contraiu os músculos do corpo e da face e começou a chorar. W atson repetiu a m artelada e observou com portam entos parecidos, con­ cluindo que o estímulo barulho estridente é incondicionado para a resposta incon- dicionada de medo. Feita essa verificação, W atson fez um a outra. Em um a outra sessão, o pesquisador colocou próximo ao pequeno Albert u m rato albino (estí­ mulo) e observou as respostas dele. Observou-se que o bebê dem onstrou in te­ resse pelo animal, olhou para ele por alguns instantes e, em seguida, tentou tocá-lo. W atson concluiu que o bebê não tinha medo do pequeno ratinho. Feita essa segunda verificação, o experim entador fez o em parelham ento do estímulo incondicionado (som estridente) com o estím ulo neutro (rato) para a resposta de medo. W atson posicionou a haste de m etal próximo ao bebê e colocou o rato a seu alcance. No m om ento em que Albert tocou o rato, W atson bateu o martelo contra a haste, produzindo o som que havia eliciado respostas de medo no bebê. Após alguns em parelham entos (som -rato), W atson colocou próximo ao bebê apenas o rato e observou suas respostas. Ao fazer isso Watson, pôde observar que, ao ver o rato, Albert apresentou respostas parecidas com aquelas produzidas pelo som estridente. Watson observou, então, a aprendizagem de um novo reflexo, envolvendo respostas emocionais. Albert aprendeu a ter medo do rato.

(29)

M oreira & M edeiros 35

baratas, ou ficar sexualm ente excitadas com estímulos bastante estranhos (copro- filia e necrofilía, por exemplo). Também podemos agora com preender por que emoções são "difíceis de controlar". É difícil controlar emoções, pois elas são respostas reflexas (respondentes).

Q uando um médico bate o m artelo no joelho de um paciente, ele não decide se a perna irá ou não se distender: ela sim plesm ente se distende. Da m esm a forma, um a pessoa que tem fobia de penas de aves não decide ter m edo ou não quando está na presença desse estím ulo, ela tem o medo. Pouco ou nada adianta explicar a essa pessoa que seu medo é irracional, que não h á motivos para ela tem er um a simples pena de ave. O m esm o raciocínio vale para pessoas que se sentem bem (ou tristes) ao ouvir um a determ inada m úsica ou para pessoas que se excitam tendo relações sexuais na presença de fezes (coprofilia). Não precisa­ mos de explicações m irabolantes e cheias de palavras bonitas para falar de em o­ ções, sejam boas, sejam ruins.

Todos nós temos sensações de prazer ou de desprazer, em maior ou m enor grau, diferentes das de outras pessoas, da m esm a forma que podem os sentir emoções diferentes em relação a estím ulos iguais. Algumas pessoas excitam -se ao ouvir certas palavras de amor, outras não. Algumas se excitam ao serem chicoteadas, outras não. Algumas pessoas têm m edo de ratos, outras de voar de avião, outras de lugares fechados e pequenos, e outras, ainda, têm medos diferentes desses. Algumas pessoas se sentem tristes ao ouvir um a determ inada música, outras não têm n enhum a sensação especial em relação àquela m esm a música. A razão de "responderm os em ocionalm ente" de formas dife­ rentes aos m esm os estím ulos está na história de condicionam ento de cada um de nós (existem outras formas de aprenderm os respostas

emocionais, como a observação, m as elas não serão estudadas neste g watson

capítulo). (1878-1958)

Todos nós passam os por diferentes em parelham entos de estím u­ los em nossa vida. Esses diferentes em parelham entos produzem o

nosso "jeito" característico de sentir emoções hoje. Alguém que, por exemplo, ao dirigir quando está chovendo, sofre um acidente pode passar a ter medo de dirigir quando estiver chovendo. D urante o acidente, houve o em parelham ento de alguns estím ulos incondicionados para a resposta de medo (barulho, dor, im pacto súbito, etc.) com u m estím ulo neutro para a resposta de medo: dirigir na chuva. Alguém que tem o hábito de ter relações sexuais à luz de velas pode, depois de alguns em parelham entos, sentir certa excitação apenas por estar na presença de velas. Alguém que tenha comido um a deliciosa costela de porco com um m olho estragado (e passado m al) pode sentir náuseas ao sentir nova­ m ente o cheiro da carne de porco.

Generalização respondente

(30)

(incon-36 O reflexo aprendido: CbndidGnarnento Pavloviano

G en e ralizaç ã o re s p o n d e n te. Estímulos parecidos fisicam ente com o es­ tím ulo previam ente condicionado podem passar a eliciar a resposta condi­ cionada. Veja que to das as aves, apesar de diferentes, possuem várias se­ m elhanças físicas.

dicionada ou condicionada) es- pecífica. Isto não significa, no

jJ tm ' ÊmIÊS* entanto, que, após

ocondiciona-J /m m ento de u m reflexo, com um t t .áL, estím u lo específico, som ente aquele estímulo específico elicia- rá aquela resp o sta. Após u m condicionamento, estímulos que se assemelham fisicamente ao estímulo condicionado podem passar a eliciar a resposta condicionada em questão.

Esse fenôm eno é cham ado g e ­ n era liza çã o resp o n d en te. Na Figura 2.6, vemos um exemplo desse fenôm eno. Uma pessoa que por ventura tenha passado por um a situação aversiva envol­ vendo um a galinha como aquela no centro da Figura 2.6 pode passar a ter m edo de galinha. M uito provavelmente essa pes­ soa passará tam bém a ter m edo de outras galinhas da m esm a raça e de outras aves. Isso acontece em função das semelhanças físicas (cor, tam anho, textura, forma, etc.) dos dem ais estím ulos com o estím ulo condicionado presente na situação de aprendizagem, no caso, a galinha do centro da Figura 2.6.

Em alguns casos, como o do exemplo anterior, a resposta condicionada de m edo pode ocorrer na presença de partes do estímulo condicionado, como, por exemplo, bico da ave, penas, suas pernas. Note que essas partes do estímulo

condicionado são fisicam ente sem elhantes para todas as aves apresentadas na Figura 2.6.

Um in teressante aspecto da generalização respondente reside no fato de que a m agnitude da resposta eliciada dependerá do grau de sem e­ lhança entre os estímulos em questão. Quanto m ais parecido com o estím ulo condicionado pre­ sente no m om ento do condicionam ento um ou­ tro estímulo for, maior será a m agnitude da res­ posta eliciada. Em outras palavras, no exemplo, se um a pessoa passa a ter m edo de galinhas por um determ inado em parelham ento desse anim al com estímulos aversivos, quanto m ais parecida com um a galinha um a ave for, mais m edo essa ave eliciará na pessoa caso ela entre em contato com a ave. A variação n a m agnitude da resposta em função das sem elhanças físicas entre os estímulos é denom inada g rad ien te d e gen eraliza ção .

(31)

Moreira Sc M edeiros

medo de tanto desse cão como de outros cães em geral. Caso isso aconteça, quanto mais parecido um cão for com um pastor ale­ mão, m aior será a m agnitude da resposta de medo eliciada por ele.

Veja no exemplo da Figura 2.7 como o m edo eliciado dim inui à m e d id a q ue o cão (estím u lo ) apresentado vai diferenciando-se do estím ulo condicionado origi­ nal: o pastor alemão. É interes­ sante notar que até m esm o um cão de p elú cia pode p a ssa r a eliciar u m a resposta de medo. Essa resposta (esse m edo), no entanto, será bem mais fraca que o m edo eliciado na presença de u m pastor alemão de verdade. No experim ento de W atson (com o

pequeno Albert, ver Figura 2.8), foi verificada a generalização respondente. Após o condicionam ento da resposta de m edo eliciada pelo rato, ele m ostrou ao bebê alguns estím ulos que com partilhavam algum as características físicas (forma, cor, textura, etc.) com o estím ulo condicionado (o rato albino), estím ulos que se

G ra d ie n te de g e n eraliza çã o . A m agnitude de um a resposta condicio ­ nada dim inui à m edida que dim inuem as sem elhanças entre o estím ulo presente no condicio nam ento (o prim eiro cão à esquerda) e os dem ais estím ulos sem elhantes ao estím ulo original.

(32)

O reflexo aprendido: Condicionamento Pavloviano

pareciam com ele, e registrou seus com portam entos. O que W atson percebeu foi que estím ulos que se pareciam com o estímulo condicionado (barba branca, um anim al de pelúcia, um cachorro branco, etc.) utilizado na situação de aprendiza­ gem do novo reflexo passaram tam bém a eliciar a resposta de medo. Na Figura 2.8, podem os ver um a pessoa usando um a barba branca e o pequeno Albert inclinando-se na direção oposta a essa pessoa, dem onstrando m edo da pessoa de barba branca.

Respostas emocionais condicionadas comuns

Da m esm a forma que os indivíduos têm emoções diferentes em função de diferen­ tes histórias de condicionamento, eles com partilham algumas emoções sem elhan­ tes a estím ulos sem elhantes em função de condicionamentos que são comuns em sua vida. Às vezes, conhecemos tantas pessoas que têm, por exemplo, medo de altura que acreditamos que m edo de altura é um a característica inata do ser hum ano. No entanto, se olharm os para a história de vida de cada pessoa, será difícil encontrar um a que não tenha caído de algum lugar relativam ente alto (mesa, cadeira, etc.). Nesse caso, temos um estímulo neutro (perspectiva, visão da altura) que é em parelhado com u m estímulo incondicionado (o impacto e a dor da queda). Após o em parelham ento, a simples "visão da altura" pode eliciar a resposta de medo. É m uito com um tam bém encontrarm os pessoas que têm medo de falar em público, como tam bém é com um encontrarm os pessoas que durante sua vida tenham passado por algum a situação constrangedora ao falar em público.

É im portante saber como os seres hum anos aprendem novos reflexos e, por­ tanto, novas emoções. Em contrapartida, para sua prática (ajudar/ensinar pes­ soas) talvez seja mais im portante ainda saber como fazer com que os indivíduos não sintam mais algumas emoções em função de alguns estímulos que podem estar atrapalhando sua vida, o que veremos adiante.

Extinção respondente e recuperação espontânea

No experim ento de Pavlov antes citado, após o condicionam ento (produzido pelo em parelham ento do som ao alim ento), o som de um a sineta passou a eliciar no cão a resposta de salivação. Essa re sp o sta reflex a co n d icio n a d a (salivar na presença do som ) pode desaparecer se o estímulo condicionado (som) for apresentado repetidas vezes sem a presença do estímulo incondicionado (alimento); ou seja, quando u m CS é apresentado várias vezes, sem o US ao qual foi em parelhado, seu efeito eliciador se extingue gradualm ente, ou seja, o estímulo condicionado começa a perder a função de eliciar a resposta condicionada até não m ais eliciar tal res­ posta. Denominamos tal procedim ento e o processo dele decorrente de e x tin ­ ção re sp o n d en te .

(33)

Moreira & M edeiros 39

■ I I

!■

11

Número de exposições ao est ímulo condicionado (som da sinet a)

E xtinção res p o n d e n te e rec u p era çã o es p o n tâ n e a . Um reflexo, após extinto, pode ganhar força novam ente sem novos em parelha- m entos, esse fenôm eno é conhecido com o recuperação espontânea.

Para que um reflexo condicionado per­ ca sua força, o estím ulo condicionado deve ser apresentado sem novos em- parelham entos com o estímulo in co n -d icio n a -d o . Por exemplo, se um indi­ víduo passou a ter medo de andar de carro após um acidente autom obilísti­ co, esse m edo só irá deixar de ocorrer se a pessoa se expuser ao estím ulo condicionado (carro) sem a presença dos estímulos incondicionados que es­ tavam presentes no m om ento do aci­ dente.

A necessidade de se expor ao estímulo condicionado sem a presença do estímulo incondicionado é a razão pela qual carre­ gamos, ao longo da vida, uma série de me­ dos e outras emoções que, de algum modo, nos atrapalham. Por exemplo, devido a em parelham entos ocorridos em nossa

infância, podemos passar a ter medo de altura. C onseqüentem ente, sempre que puderm os, evitarem os lugares altos, m esm o que estejamos em absoluta seguran­ ça. Desse modo, não entram os em contato com o estím ulo condicionado (altura), e o m edo pode nos acom panhar pelo resto da vida. Se tal pessoa, no entanto, por algum a razão, precisar trabalhar na construção de prédios, ao expor-se a lugares altos em segurança provavelm ente seu m edo deixará de ocorrer.

Uma característica interessante da extinção respondente é que, às vezes, após a extinção ter ocorrido, ou seja, após um determ inado CS não eliciar mais um a determ inada CR, a força de reflexo pode voltar espontaneam ente. Por exemplo, alguém com m edo de altura é forçado a ficar à beira de u m lugar alto por um longo período de tempo. No início, a pessoa sentirá todas as respostas condiciona­ das que caracterizam seu medo de altura. Após passado algum tempo, ela não mais sentirá medo: extinção da resposta de medo. Essa pessoa passa alguns dias sem subir em lugares altos e novam ente é forçada a ficar no m esm o lugar alto a que foi anteriorm ente. É possível que ocorra o fenômeno conhecido como recu p e­ ração esp o n tâ n ea , ou seja, o reflexo altura -*• medo ganha força outra vez, após ter sido extinto. Sua força será m enor nesse momento, ou seja, o medo que a pessoa sente é m enor que o medo que sentiu antes da extinção. Porém, sendo exposta novam ente ao CS sem novos em parelham entos com o US, o m edo tornará a desaparecer, e as chances de um a nova recuperação espontânea ocorrer diminuem.

Contracondicionamento e dessensibilização sistemática

(34)

O reflexo aprendido: Qmá^ciansunento Pavioviano

conhecim entos referentes ao condicionam ento pavioviano. M ostram os como n o ­ vos reflexos são aprendidos, qual a relação entre emoções e condicionam ento pavioviano e que novos reflexos podem perder sua força por m eio de um procedi­ m ento cham ado extinção respondente. Provavelmente, na sua atuação profissio­ nal como psicólogo, você irá se deparar com vários pacientes que desejam con­ trolar suas emoções, como, por exemplo, tratar algumas fobias. Você já sabe como fazer as pessoas perderem seus medos: extinção respondente. Não obstante, alguns es­

tímulos produzem respostas emocionais tão fortes, que não será possível expor a pessoa diretam ente a um estímulo condicionado que elicie m edo (sem a presença do estímulo incondicionado) para que ocorra o processo de extinção respondente (enfraquecimento do reflexo). Algumas pessoas têm medos tão intensos, que a exposição direta ao estímulo condicionado poderia agravar mais ainda a situação.

Im agine alguém que tenha um a fobia m uito intensa a aves. Já sabemos que, para que se perca o m edo de aves, o indivíduo deve ser exposto a esses animais (estím ulo condicionado) sem a presença do estím ulo incondicionado para a res­ posta de medo que foi em parelhado a aves em algum m om ento da sua vida. Não podemos, no entanto, sim plesm ente trancá-lo em um quarto cheio de aves e esperar pelo enfraquecim ento do reflexo. Isso ocorre porque, em primeiro lugar, dificilmente conseguiríamos convencer alguém a fazer isso. Em segundo lugar, o m edo pode ser tão intenso, que a pessoa desmaiaria; ou seja, não estaria mais em contato com o estímulo condicionado. Por último, o sofrim ento causado a esta pessoa fugiria com pletam ente às norm as éticas e ao bom senso. Felizmente, contam os com duas técnicas m uito eficazes para produzir a extinção de um reflexo que am enizam o sofrimento: co n tra c o n d icio n a m en to e d e sse n sib i­ liz a çã o sistem á tica .

O contracondicionam ento, como sugere o próprio nom e, consiste em condi­ cionar um a resposta contrária àquela produzida pelo estím ulo condicionado. Por exemplo, se um determ inado CS elicia um a resposta de ansiedade, o contra­ condicionam ento consistiria em em parelhar esse CS a u m outro estímulo que elicie relaxam ento (um a música ou um a m assagem, por exemplo). A Figura 2.10 ilustra dois exemplos nos quais h á contracondicionamento. As duas situações estão divididas em três momentos: (1) os reflexos originais; (2) o contracondicio­ nam ento e (3) o resultado do contracondicionam ento. No exemplo em que há o cigarro, temos, em um primeiro m om ento, dois reflexos: tom ar xarope de Ipeca e vomitar; fum ar e sentir prazer. Se um a pessoa tom ar o xarope algumas vezes im ediatam ente após fumar, depois de alguns em parelham entos, fum ar pode passar a eliciar vômito no indivíduo, o que, provavelmente, dim inuiria as chances do indivíduo continuar fumando.

(35)

j

Xarope de ipeca + Vôm ito

i

Cigarro Vômito

Rato Ansiedade

Rato Relaxamento

' 0 X arope de Ipeca (que co n té m e m etina ) é usado para e lic iar v ô m ito em pessoas q ue in ge rira m substâ ncias venenosas.

C o n trac o n d ic io n a m en to . Esta técnica consiste sim plesm ente do em parelh am ento de estím ulos que elidam respostas contrárias (p. ex., ansiedade versus relaxam ento; prazer versus desconforto).

u m psicólogo para ajudá-lo a superar seu pavor de cães. O profissional não poderia sim plesm ente expô-lo aos cães que lhe provocam pavor para que o medo dim inua (ele não precisaria de u m psicólogo para isso, nem estaria disposta a fazê-lo). Será possível, nesse caso, utilizar com sucesso a dessensibilização sistemática. Em função da generalização respondente, a pessoa em questão não tem m edo apenas do cão que a atacou (supondo que a origem do medo esteja em um ataq u e) ou de cães da m esm a raça. Ela provavelm ente tem medo de cães de outras raças, de diferentes tam anhos e formas. Alguns medos são tão intensos, que ver fotos ou apenas pensar em cães produzem certo medo.

(36)

4 2 O reflexo aprendido: Condicionam ento Pavloviano

Figura 2.11

D essen sibilização sistem átic a. A dessensibilização sistemática é um a técnica: expõe-se o in divíd uo gradativam ente a estím ulos que eliciam respostas de m enor m agnitude até o estím ulo condicionado original.

É m uito comum, na prática psicológica, utilizar em conjunto contracondi- cionam ento e dessensibilização sistem ática. No exem plo anterior, ju n to à exposição gradual aos cães e aos estím ulos sem elhantes, o psicólogo poderia utilizar um a m úsica suave, por exemplo.

Uma “palavrinha” sobre condicionamento pavloviano

Imagem

Figura 11.1  Com paração entre a freqüência  acum ulada  de respostas em  esquema de  reforçam ento  CRF  e  Fl:25&#34;  (50  m inutos  de  registro).

Referências

Documentos relacionados

São por demais conhecidas as dificuldades de se incorporar a Amazônia à dinâmica de desenvolvimento nacional, ora por culpa do modelo estabelecido, ora pela falta de tecnologia ou

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

de lôbo-guará (Chrysocyon brachyurus), a partir do cérebro e da glândula submaxilar em face das ino- culações em camundongos, cobaios e coelho e, também, pela presença

mundial esteja infectada com esse organismo, 80% permanece sem nenhuma evidência clínica da doença. pylori em pacientes dispépticos submetidos à endoscopia digestiva alta por meio

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

Já no século XVII, Gregório de Matos exibia sua vasta galeria de tipos humanos que contribuíram para construir sua maior e principal personagem – a cidade da

Apesar do glicerol ter, também, efeito tóxico sobre a célula, ele tem sido o crioprotetor mais utilizado em protocolos de congelação do sêmen suíno (TONIOLLI

A solução, inicialmente vermelha tornou-se gradativamente marrom, e o sólido marrom escuro obtido foi filtrado, lavado várias vezes com etanol, éter etílico anidro e