Após a punição de um com portamento, os organismos, em geral, passam a em itir um a segunda resposta que torne improvável a repetição do comportamento punido. Essa segunda resposta é cha m ada resposta incompatível ou resposta controladora, um a vez que é um a forma de o organismo controlar seu próprio com porta mento. A resposta é negativam ente reforçada por dim inuir a pro babilidade de emissão de um com portam ento punido e, por con seguinte, de o organismo entrar em contato com a punição.
Um triste exemplo desse conceito pode ser o caso do rapaz que às 3 da manhã, depois de ingerir cerveja, telefona para à ex-namora da fazendo juras de amor. Mas, para infelicidade do rapaz, quem
atende é o novo nam orado dela com voz de sono. Certamente, essa é um a punição positiva que dispensa comentários, a qual, na verdade, dim inuirá a probabilidade de ele telefonar outras vezes. Entretanto, ao beber novam ente, às 3 da m anhã, ele pode sentir-se tentado a fazer o “maldito" telefonema. Para evitar que repita esse comportamento, o ex-namorado simplesmente entrega o celular a um amigo, pegando-o só no dia seguinte. Entregar o celular ao amigo é um a resposta incom patível ao comportamento de telefonar, um a vez que o torna menos provável.
Um outro exemplo m uito com um é o da m enina que teve um nam oro em que investiu muito. Mas, para infelicidade da moça, seu nam orado a trocou por outra pessoa. Essa m enina sofreu m uito com o término, ou seja, seu com porta m ento de investir em um relacionamento estável foi severamente punido. Ela pode desenvolver o seguinte padrão: quando começar a se envolver com alguém e perceber que está começando a gostar dessa pessoa, ela rompe o relacionamento antes de se estabelecer o namoro. Nesse caso, a resposta de romper relacionam en tos ainda no início pode ser considerada incompatível com o com portam ento de namorar, o qual foi punido no passado.
Daí decorre a grande desvantagem da emissão de respostas incompatíveis. Elas tornam impossível para o organism o discriminar que a contingência de punição não está mais em vigor, um a vez que impede que o organismo se exponha à contingência novam ente. No caso de nossa amiga, ela pode ter perdido m uitas
A prendizagem pelas conseqüências: o controle aversivo
oportunidades de ser feliz com alguém que não a abandonaria. Como ela term ina um a relação a n tes de começá-la, não tem meios de perceber que, dessa vez, a situação será diferente.
Contracontrole
Este talvez seja o efeito colateral do controle aver sivo mais indesejado. No contracontrole, o orga nism o controlado em ite um a nova resposta que im pede que o agente controlador m a n ten h a o controle sobre o seu com portam ento. No caso da punição, garante-se que o com portam ento punido continue a ocorrer sem en trar em contato com ela. U m exemplo banal ocorre quando freiam os o carro diante de u m radar, colocando-o na velocidade perm itida pela via e, assim, nos esquivamos da m ulta. Na realidade, a função punitiva do radar seria suprim ir o fato de dirigir acima da velocidade perm itida em toda a sua extensão, e não apenas na presença dos radares. A resposta de frear na presença apenas do radar é negativam ente reforça da (não levar m ulta). Entretanto, não foi esta a resposta esperada pelo controlador de trânsito, o qual program ou essa contingência de punição.
No caso do reforço negativo, a resposta de contracontrole suprim e ou evita o estím ulo aversivo sem a em issão da resposta program ada pelo controlador. Um professor de educação física que utiliza reforço negativo para fazer com que seus alunos se em penhem nos exercícios costum a gerar respostas de contracontrole. Os alunos fazem os exercícios determ inados pelo professor, este não tece n enhum com entário. Entretanto, se ele vê algum aluno parado, dá-lhe um a bronca na frente dos colegas. Em outras palavras, os alunos som ente fazem os exercícios para evitar a repreensão do professor (reforço negativo). Um contracontrole óbvio é fazer o exercício apenas no m om ento em que o professor está olhando; assim que vira as costas, os alunos ficam parados a enrolar. Nesse caso, a resposta de observação, que é agir discrim inativam ente ao com portam ento do professor (aten tar ao que o professor está fazendo), é de m odo negativo reforçada pelas broncas. Outro exemplo ocorre quando a mãe obriga o filho a comer. Se ele está com endo, sua mãe não diz nada. Por outro lado, se o filho pára de comer, a m ãe começa a brigar com ele. É provável que essa criança dê sua com ida para o cachor ro quando sua m ãe não estiver por perto, e diga que já com eu tudo. Ligar o chuveiro, m as não se molhar, fingindo que está tom ando banho, tam bém é um exemplo de contracontrole com um em itido por crianças e adolescentes. Como diz o verso da antiga m úsica “No m undo da lua", do Biquíni Cavadão: "Não quero mais ouvir a m inha m ãe reclamar, quando eu entrar no banheiro, ligar o chuveiro e não m e m olhar".
A mentira como um contracontrole. A m entira, m uitas vezes, funciona como um a resposta de contracontrole, como no caso do Bart Simpson dizendo para a Sra. Krabappel (sua professora) que o Ajudante de Papai Noel (seu cachorro) havia comido o dever de casa. Caso Bart chegasse à escola sem o dever feito, sua
Moreira & M edeiros 79 professora adm inistraria alguma punição, como um a bronca ou um a advertên
cia. A fim de evitar entrar em contato com o estímulo aversivo, Bart inventa a história de que seu cachorro comeu o dever de casa, esquivando-se.
Um exemplo mais banal que esse é muito comum entre namorados. A nam o rada, que está oito quilos acima do peso, emite aquela pergunta infeliz: "Benzinho, você acha que eu engordei?".
O pobre do nam orado está em um a situação desesperadora, pois, caso seja sincero, sua nam orada, mesmo chateada, pode começar um a dieta, ficando mais atraente para ele. Entretanto, a conseqüência de longe mais provável é a de que um a resposta sincera leve a um a briga homérica, a qual certam ente representa um a punição positiva, além da punição negativa pela perda dos reforçadores primários aos quais teria acesso estando de bem com a namorada. A resposta que se torna provável, obviamente é: "O que é isso meu amor? Você está linda!"
Apesar de faltar com a verdade, o nam orado será recompensado por isso, evitando a punição adm inistrada pela nam orada caso falasse a verdade e ainda entrando em contato com os reforçadores providos por ela. Sendo assim, a m enti ra, nesse caso, é um a resposta de contracontrole, pois garante que nosso amigo evite a punição.
Um ratinho esperto. Para finalizar a discussão acerca do contracontrole, deve mos saber que não se restringe a animais hum anos. Um experimento de controle aversivo ilustra esse ponto de maneira muito interessante. Trata-se de um experi m ento simples em que um rato previamente modelado a obter comida com res postas de pressão à barra passa a receber um choque pela grade metálica no chão da caixa quando a pressiona, continuando a receber comida como conse qüência dessa resposta (ou seja, punição sem extinção). O pêlo do animal é um isolante elétrico e, mesmo sem ser um eletricista, nosso ratinho desenvolveu um método m uito interessante de obter seus reforçadores, evitando o contato com o estímulo aversivo. Ele simplesmente deitava de costas na grade do chão da caixa, colocava a cabeça no comedouro e pressionava a barra cilíndrica com o rabo. Nosso m alandrinho, portanto, com essa resposta de contracontrole, obtinha ali m ento e evitava o choque.