Esquemas concorrentes são, com certeza, os mais presentes e im portantes em nossa vida. Falamos sobre esquemas concorrentes quando temos dois ou mais fontes de reforço disponíveis ao mesmo tempo; por exemplo, ir à escola ou ficar em casa vendo TV; jogar futebol ou ir ao cinema no domingo à tarde ou, no caso do rato, pressionar a barra da esquerda produz água em esquem a VI: 10" e a da direita produz água em esquem a VI:20" (Figura 7.5). Nesse exemplo, os dois esquemas estão em vigor ao mesmo tempo, ou seja, tudo o que o rato tem que fazer é responder em um a das barras; o reforço de um esquem a não depende do outro.
Você deve ter percebido que, quando falamos em esquemas concorrentes, estam os nos referindo à escolha, à preferência. Estudar esquemas concorrentes nos ajuda a com preender melhor por que e como as pessoas tom am decisões, como e por que escolhem fazer ou deixar
de fazer algo. Analisemos o experimento da Figura 7.5 para entender melhor co m o funciona, pelo m enos em parte, a preferência. Como a barra da esquerda está VI: 10", pressioná-la produz duas vezes mais reforço que pressionar a bar ra da direita. Como ela produz mais re forços que a barra da esquerda, o rato tenderá a preferi-la. Dizer que ele terá preferência por ela quer dizer simples m ente que ele pressionará mais na direi ta que na esquerda e passará m ais tem po no esquema VI: 10" do que no esque m a VI:20". O mais im pressionante, no entanto, é que o rato não ficará somente pressionando a barra da direita: ele dis tribuirá suas respostas nas duas barras e fará isso proporcionalm ente à quanti dade de reforços disponíveis em cada es quema: se um esquem a produz o dobro
Esquem as concorrentes. A fo tografia mostra uma situação típica em experim entos sobre esquemas concorrentes. Pressionar a barra da esquerda é reforçado em VI: 10" e pressionar a barra da direita em VI: 20 "
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de reforços do outro (isto é, VL10" e VI:20"), o rato pressionará a barra do es quem a que produz o dobro de reforços duas vezes mais do que pressionará a outra barra. O tempo que ele passará em cada esquema tam bém será proporcional. Essa relação entre com portam ento e reforço foi apontada - de modo experim en tal - pela primeira vez por um psicólogo cham ado H errnstein em 1961 e ficou conhecida como a Lei d a Igualação.
A Lei da Igualação trata, portanto, de como os organism os distribuem seus com portam entos em situações onde há esquemas concorrentes. Seu pressuposto básico é de que há um a relação de igualação entre o com portam ento e vários parâm etros do reforço, por exemplo, a quantidade de reforço produzido em cada ocorrência da resposta, a qualidade do reforço, o atraso do reforço (quanto tempo dem ora para o reforço ser apresentado após a resposta ser em itida ) e o esquem a de reforçam ento em vigor para determ inado com portam ento.
Observações da adequação da Lei da Igualação para descrição e previsão do com portam ento são mais simples do que se possa pensar. Se observarmos um jogador de basquete atuando e registrarm os seus arremessos e cestas, percebere mos que a quantidade de arremessos de três e dois pontos é proporcional à quanti dade de cestas de três e dois pontos que ele geralm ente faz; a distribuição do tempo que passamos realizando um a ou outra atividade é proporcional à quanti dade, qualidade e freqüência dos reforçadores disponíveis em cada esquema.
Estudar a preferência do indivíduo por um ou outro esquem a, isolando-se os parâm etros do reforço apontados acima é relativam ente fácil e, até certo ponto, possui resultados intuitivos; todavia, quando os parâmetros do reforço são levados em conta em conjunto, o problem a torna-se mais complexo. É fácil prever que um rato preferirá um VI: 10" a u m VI:20". Mas, se no VI:20" o reforço for sacarose (açúcar), ou se as gotas de água em VI:20" tiverem o triplo de mililitros das gotas liberadas em VI: 10", ou se as gotas em VI: 10" só aparecessem 5" depois da resposta e as gotas liberadas em VI:20" fossem liberadas im ediatam ente após a resposta, qual seria a preferência do rato? Como ele distribuiria seus com porta m entos entre os esquemas? As respostas a estas perguntas, infelizmente, não serão encontradas neste livro. Nosso objetivo é só apresentar resum idam ente esse campo de estudo; discuti-lo mais a fundo foge do escopo deste livro.
Principais conceitos apresentados neste capítulo
Esquemas de refo rçam e n to in te rm iten te Esquemas d e razâo
Critérios que definem quais respostas serão reforçadas.
Esquemas nos quais o reforço depende da ocorrência de um certo número de respostas. Podem ser de razão fixa ou variável.
A maior parte de nossos comportamentos não são reforçados sempre que ocorrem.
Estudar e tirar 10 na prova (VR).
Moreira & M edeiros
Esquemas de Esquemas nos quais o reforço depende in tervalo da passagem de um período de tempo
e da emissão de pelo menos uma resposta. Podem ser de intervalo fixo ou variável.
Esquemas de tem pos Esquemas em que o reforço não é contingente à resposta.
Abrir a caixa de e-mails e encontrar novas mensagens (VI).
Usar uma camisa velha e o time ganhar (VT). Padrão de respostas
Resistência à extinção D R L e DRH DRO
Forma característica como o organismo emite uma determinada resposta. Tempo ou número de ocorrências de uma resposta necessário para que ela se extinga.
Esquemas reguladores de velocidade da resposta. DRL: baixas taxas; DRH: altas taxas.
Reforço diferencial de outros comportamentos. Todos os comportamento, exceto o alvo, são reforçados.
Esquemas com postos Esquemas nos quais dois ou mais esquemas simples estão presentes. Lei comportamental que estabelece uma relação de proporção entre comportamento e reforço. Lei da Igualação
Timidez.
Prestar vestibular 5 vezes, não passar e continuar tentando.
Datilografia. A velocidade é importante. Reforçar qualquer verbalização, menos "contar vantagem".
Os principais são múltiplos, encadeados e concorrentes.
Ler três vezes mais livros de ficção científica do que de poesia.
Bibliografia consultada e sugestões de leitura
C a tan ia. A. C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. P orto Alegre: A rtm ed . C apítulo 10: E sq u em as de reforço. C apítulo 11: C om binação d e esq u em as: s ín tese c o m p o rtam en tal
H errn stein , R. J. (1 9 6 1 ). R elative a n d a b so lu te s tre n g th of resp o n se as a fu n c tio n of freq u en cy of rein fo rcem en t. Journal o f the Experimental Analysis o f Behavior, 4, p. 267-272. M illen so n , J. R. (1967/1975). Princípios de análise do comportamento. Brasília: C oordenada. C apítulo 7: R efo rçam en to in te rm ite n te
Todorov J. C. e H an n a, H. S. (2005). Q uan tificação de escolha e p referên cias. In: J. A breu- R odrigues e M. R. R ibeiro (O rgs.), Análise do Comportamento: pesquisa, teoria e aplicação, p. 159-174. Porto A legre: A itm ed .