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Proposta didática para o ensino da responsabilidade enunciativa no gênero discursivo crônica

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS EM REDE NACIONAL - PROFLETRAS CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ - CERES

DEPARTAMENTO DE LETRAS DO CERES – DLC

JANE MEDEIROS

PROPOSTA DIDÁTICA PARA O ENSINO DA RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA NO GÊNERO DISCURSIVO CRÔNICA

CURRAIS NOVOS/RN 2016

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PROPOSTA DIDÁTICA PARA O ENSINO DA RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA NO GÊNERO DISCURSIVO CRÔNICA

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Letras em Rede Nacional – PROFLETRAS – da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus de Currais Novos, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Letras.

Área de concentração: Linguagens e letramentos. Linha de Pesquisa – Teorias da linguagem e ensino.

Orientador: Prof. Dr. Alexandro Teixeira Gomes.

CURRAIS NOVOS/RN 2016

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte.

UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ensino Superior do Seridó - CERES Currais Novos Medeiros, Jane.

Proposta didática para o ensino da responsabilidade enunciativa no gênero discursivo crônica / Jane Medeiros. - 2016.

109 f.: il. color.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ensino Superior do Seridó, Programa de Pós - Graduação em Letras. Currais Novos, RN, 2016.

Orientador: Prof. Dr. Alexandro Teixeira Gomes.

1. Letras - Dissertação. 2. Análise Textual dos Discursos - Dissertação. 3. Responsabilidade Enunciativa - Dissertação. 4.

Gênero Crônica - Dissertação. 5. Sequência Didática - Dissertação. 6. Ensino - Dissertação. I. Gomes, Alexandro Teixeira. II. Título. RN/UF/BSCN CDU 81'42:37.02

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PROPOSTA DIDÁTICA PARA O ENSINO DA RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA NO GÊNERO DISCURSIVO CRÔNICA

Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Letras em Rede Nacional – PROFLETRAS – da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus de Currais Novos, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Letras.

Data de aprovação: Currais Novos – RN, 22 de dezembro de 2016.

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________ Prof. Dr. Alexandro Teixeira Gomes Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Presidente

___________________________________________ Prof. Dr. Lucélio Dantas de Aquino

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Examinador Interno

____________________________________________ Prof. Dr. Gilton Sampaio de Souza

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Examinador Externo.

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Dedico esta dissertação a minha mãe, Maria Alaíde da Silveira Medeiros.

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A Deus, minha Fortaleza, que sempre me ampara, principalmente nos momentos mais difíceis.

Ao meu querido pai, Emídio, que, mesmo diante da dor, entendeu minhas ausências, nos momentos em que mais precisou de mim.

À minha amiga, Maria do Socorro, que esteve comigo durante toda a caminhada. Sem ela, nada teria sido possível.

À minha família, por ser meu porto seguro, principalmente ao meu irmão Geordan Medeiros.

A todos os professores pelos valiosos ensinamentos.

Aos companheiros de turma, em especial às amigas Almaíza, Aparecida, Cláudia e Luciene.

Ao Programa de Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) pela grande oportunidade que tem dado aos professores do ensino fundamental no ensino de Língua Portuguesa da rede pública, fornecendo ferramentas teórico-metodológicas com vistas a uma inovação na sala de aula e, consequentemente, preparando-os para os novos desafios educacionais do Brasil contemporâneo.

Aos membros examinadores deste trabalho, Prof. Dr. Gilton Sampaio de Souza e Prof. Dr. Lucélio Dantas de Aquino, pelas valiosas contribuições.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Alexandro Teixeira Gomes, que tão bem conduziu esta pesquisa, não medindo esforços para a realização desse trabalho.

A todos que, de alguma forma, contribuíram para a concretização desse sonho, o meu: “MUITO OBRIGADA!”.

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assunção (ou não) pelo dizer por parte do locutor do texto, conforme destacam Adam (2011) e Gomes (2014). O texto, então, passa a ser explorado, a partir de sua materialidade discursiva, considerando-se o estudo de determinados níveis ou planos de análise propostos por Adam (2011). Nesta pesquisa, detemo-nos no nível sete da enunciação de Adam (2011), o qual se propõe a estudar o fenômeno da responsabilidade enunciativa no gênero discursivo crônica. Assim, foi nosso objetivo verificar como se manifesta o referido fenômeno no gênero discursivo crônica, tomando como objeto de análise quatro crônicas escolhidas da coleção “Para gostar de Ler”, do ano de 2003. Do ponto de vista teórico, amparamo-nos em autores como Adam (2011), Gomes (2014), Lourenço (2015), Marcuschi (2008), Koch (2014), Fávero e Koch (2012), Koch e Travaglia (2015), Mussalim e Bentes (2010), Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010), entre outros. No enfoque metodológico, nossa investigação apresenta dois momentos: o primeiro, refere-se à análise do fenômeno da responsabilidade enunciativa no gênero discursivo escolhido; o segundo, à elaboração de uma sequência didática, considerando os pressupostos básicos da responsabilidade enunciativa na construção do propósito argumentativo do produtor do gênero crônica. Em relação ao primeiro momento, percebemos que o produtor do texto assume (ou não) a responsabilidade enunciativa pelo dizer com vistas à realização de seu propósito argumentativo. Nesse sentido, considerando que há uma grande heterogeneidade de PDV no gênero discursivo em estudo, encontramos nas 4 crônicas analisadas, 93 ocorrências de marcas de (não) responsabilidade enunciativa. Assim, em “Carta ao Prefeito”, de Rubem Braga, primeira crônica analisada, o PDV do locutor pode ser percebido nas marcas de asserção, referidas à primeira pessoa, índice de pessoas, bem como, através do uso de modalizadores. Em “O telefone”, segunda crônica em estudo, também de Rubem Braga, percebemos não só o PDV do locutor, mas também, outras fontes enunciativas que podem ser notadas através de marcadores de discurso reportado e elementos gráficos e ortográficos. Nas terceira e quarta crônicas, “Glória”, de Carlos Drummond de Andrade, e “Em código”, de Fernando Sabino, respectivamente, temos, além do PDV do locutor, outras fontes enunciativas por meio do uso de verbos de atribuição de fala, de diferentes tipos de representação da fala (discurso direto, indireto), de marcas de asserção referidas à terceira pessoa e de índices de pessoas. Em relação ao segundo momento, esperamos que a sequência apresentada contribua para o ensino da Língua Portuguesa, proporcionando ao aluno um avanço no desenvolvimento de suas habilidades específicas, melhorando sua criticidade e seu posicionamento frente ao texto.

Palavras-chave: Análise Textual dos Discursos. Responsabilidade Enunciativa. Gênero Crônica. Sequência Didática. Ensino.

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assumption or not by saying on the part of the speaker of the text according to point out Adam (2011) and Gomes (2014). The text, so, is being explored from now on, based on its discursive materiality, considering certain levels or plans of analysis proposed by Adam(2011). In this research, we hold to the seven level of enunciation by Adam (2011) which proposes to study to study the phenomenon of the Enunciative Responsibility in the discursive genre chronicle. Therefore, it was our purpose to verify how to manifest the referred phenomenon in the discursive genre chronicle taking as object of analysis four chronicles chosen from the collection “Para gostar de Ler”' , of the year 2003. From the theoretical point of view, we support us in authors like Adam (2011), Gomes (2014), Lourenço (2015), Marcuschi (2008), Koch (2014), Fávero and Koch (2012), Koch and Travaglia (2015), Mussalim and Bentes (2010), Rodrigues, Passeggi and Silva Neto (2010), among others. From the methodological point of view, our research reports two moments, being the first point referred the analysis of the phenomenon of the Enunciative Responsibility in the discursive genre chosen; the second moment the elaboration of a didactic sequence considering the basic assumptions of the enunciative responsibility in the construction of the argumentative purpose of the producer of chronicle genre. In relation to the first moment, we notice that the producer of the text take up or not the enunciative responsibility by saying in order to accomplishment of his argumentative purpose. Therefore, considering that there is a great heterogeneity of PDV in the discursive genre under study, we found in the 4 chronicles analyzed, 93 occurrences of marks of (non) enunciative responsibility. So, in Carta ao Prefeito by Rubem Braga, the first chronicle analyzed, the speaker's PDV can be realized in assertion marks, referred to the first person, index of people, as well as through the use of modalizers. In the second chronicle under study, O telefone, also by Rubem Braga, we realized not only the speaker's PDV, but also other enunciative sources that can be noticed through reported discourse markers and graphic and spelling elements. In the third and fourth chronicles, Glória by Carlos Drummond de Andrade and Em código de Fernando Sabino, respectively, we also have, besides the speaker's PDV, other enunciative sources through the use of speech assignment verbs, different types of speech representation (direct speech, indirect speech), assertion marks referring to the third person and index of people. In relation to the second moment, we hope which the sequence represented contributed to the Portuguese Language teaching, providing the student an advance in developing their specific skills, improving their criticality and positioning on the text.

Keywords: Textual Analysis of Discourses. Enunciative Responsibility. Chronicle Genre. Didactic Sequence. Teaching.

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FIGURA 01 - Níveis da análise de discurso e níveis da análise textual... 22

FIGURA 02 - Operações de textualidade... 26

FIGURA 03 - Elementos constitutivos da proposição-enunciado... 28

FIGURA 04 - Desdobramento Polifônico em Adam... 29

FIGURA 05 - Grandes categorias... 30

FIGURA 06 - A Responsabilidade enunciativa na ScaPoLine ... 36

FIGURA 07 - O texto como uma unidade abstrata... 47

FIGURA 08 - O texto como objeto concreto, material e empírico... 48

FIGURA 09 - Texto, discurso e gênero como categorias descritivas... 49

FIGURA 10 - O gênero como prefiguração do texto... 51

FIGURA 11 - O gênero - formas textuais que se manifestam no artefato linguístico... 52

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QUADRO 01 - Algumas características dos gêneros textuais... 46 QUADRO 02 - Classificação do PDV e das marcas de (não) responsabilidade enunciativa; Classificação do PDV e das marcas de (não) responsabilidade enunciativa... 70 QUADRO 03 - Informações gerais da sequência didática... 89 GRÁFICO 01 - Marcas de (não) responsabilidade encontradas na análise... 83

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2 A LINGUÍSTICA TEXTUAL E A ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS... 13

2.1 A Linguística Textual... 13

2.2 A Análise Textual dos Discursos... 20

2.3 A Responsabilidade Enunciativa... 27

3 A LINGUÍSTICA TEXTUAL E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA... 39

3.1 Práticas de Linguagem e PCN: O Ensino de Língua Portuguesa... 42

3.2 Gênero, Texto e Discurso... 44

3.3 O Texto como unidade de ensino... 59

3.4 O Gênero Discursivo Crônica... 60

4 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA... 67

4.1 Uma pesquisa – Duas fases... 67

4.2 Métodos de pesquisa... 67

4.2.1 O método indutivo... 67

4.3 Construção do corpus... 68

4.4 Categorias de análise... 69

5 A RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA NO GÊNERO CRÔNICA... 71

5.1 Análise da Crônica “Carta ao Prefeito” – Rubem Braga ... 71

5.2 Análise da Crônica “O Telefone” – Rubem Braga... 74

5.3 Análise da Crônica “Glória” – Carlos Drummond de Andrade... 76

5.4 Análise da Crônica “Em Código” – Fernando Sabino ... 80

6 PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DA RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA NO GÊNERO DISCURSIVO CRÔNICA... 85

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 98

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ANEXOS... 103

ANEXO A - CRÔNICA 1: “Carta ao Prefeito” - Rubem Braga... 104

ANEXO B - CRÔNICA 2: “O telefone” - Rubem Braga... 106

ANEXO C - CRÔNICA 3: “Glória” - Carlos Drummond de Andrade... 108

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1 INTRODUÇÃO

A Análise Textual dos Discursos (doravante ATD), de acordo com Gomes (2014, p. 23) “é uma abordagem teórica, metodológica e descritiva de estudo do texto proposta por Jean-Michel Adam no âmbito da Linguística Textual e se propõe a estudar a produção co(n) textual de sentido fundamentada na análise de textos concretos”.

A proposta de Adam (2011), para Gomes (2014, p. 26), “busca a compreensão do texto a partir de sua materialidade discursiva, considerando o estudo de determinados níveis ou planos de análise”.

Assim, a partir de uma concepção interativa da linguagem, conforme Adam (2011

apud Gomes, 2014, p. 13), “a ATD pode ser utilizada para descrever qualquer gênero

discursivo, ou seja, todos os discursos são passíveis de uma análise textual em suas dimensões semântica, enunciativa e argumentativa”.

Nesse sentido, desenvolvemos esta pesquisa, tendo como objetivo geral estudar o fenômeno da responsabilidade enunciativa no gênero discursivo crônica. Sua escolha se justifica por tratar-se de um gênero que poderá oferecer ferramentas necessárias para um bom desenvolvimento da competência textual dos discentes. Acrescente-se a isso, o fato de a crônica estar bastante presente no conteúdo didático do ensino de jovens e adultos, modalidade da qual somos professoras e nível para o qual elaboramos a proposta de sequência didática.

A partir de então, selecionamos quatro textos pertencentes ao referido gênero, a partir da coleção “Para gostar de Ler”, volume 4, ano 2003, a saber: “Em código”, de Fernando Sabino; “Glória”, de Carlos Drummond de Andrade; “Carta ao Prefeito” e “O telefone”, ambas de Rubem Braga.

Para a abordagem teórica, amparamo-nos nas teorias de Adam (2011); Gomes (2014); Lourenço (2015); Marcuschi (2008); Koch (2014); Fávero e Koch (2012); Koch e Travaglia (2015); Mussalim e Bentes (2010); Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010); entre outros. Nesse sentido, investigamos a responsabilidade enunciativa por meio de uma escala que, conforme explica Gomes (2014, p. 14) “compreende o fenômeno a partir de quatro gradações, cada uma com um ponto de vista (PDV) e com marcas que podem marcar a assunção ou o distanciamento do ponto de vista”.

Do ponto de vista metodológico, nossa investigação apresenta dois momentos: o primeiro, refere-se à análise do fenômeno da responsabilidade enunciativa no gênero

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discursivo escolhido, e o segundo momento, à elaboração de uma sequência didática considerando os pressupostos básicos da responsabilidade enunciativa no gênero crônica.

No plano metodológico, pontuamos as seguintes questões de pesquisa: 1) Que vozes estão presentes no gênero discursivo crônica e quais seus efeitos de sentido?; 2) Que marcas textuais nos levam a identificar essas vozes?; 3) Como o estudo do gênero discursivo crônica atrelado ao estudo do fenômeno da responsabilidade enunciativa impactam na formação sócio-cultural-textual-discursiva dos discentes?

Para responder a essas questões, estabelecemos como objetivos específicos: 1) Identificar, descrever, analisar e interpretar que vozes estão presentes no gênero discursivo crônica e quais seus efeitos de sentido; 2) Identificar, descrever e analisar que marcas textuais nos levam a identificar essas vozes; 3) Refletir sobre as contribuições do estudo do gênero discursivo crônica atrelado ao estudo do fenômeno da responsabilidade enunciativa na formação sócio – cultural – textual – discursiva dos discentes; 4) Elaborar uma sequência didática com o intuito de trabalhar marcas de responsabilidade enunciativa a partir do gênero crônica. Nossa pesquisa limita-se, assim, no âmbito do fenômeno da responsabilidade enunciativa.

No que concerne ao plano do texto, nosso trabalho obedece à seguinte organização dos elementos textuais: no primeiro capítulo, fizemos uma introdução para apresentar as questões centrais do trabalho.

No segundo, expomos alguns pressupostos para o entendimento do texto como objeto de estudo, a partir de um breve histórico da Linguística Textual, desde seu surgimento, discorrendo sobre a proposta da Análise Textual dos Discursos, até chegarmos ao fenômeno da Responsabilidade Enunciativa.

No terceiro capítulo, discutimos a Linguística Textual e o ensino de Língua Portuguesa, com foco nos parâmetros curriculares nacionais, adentrando no gênero discursivo crônica.

No quarto capítulo, exibimos o panorama metodológico da pesquisa. No quinto capítulo, mostramos a análise e a discussão do corpus.

No sexto capítulo, apresentamos uma proposta didática com as marcas de (não) assunção da responsabilidade enunciativa a partir do gênero crônica.

Finalmente, desenvolvemos as conclusões obtidas a partir das discussões do capítulo 6. Além disso, há os elementos pré-textuais e pós-textuais.

Apresentamos aqui, de forma geral, os pontos centrais deste trabalho. A partir de agora, passamos a detalhar esses pontos nos capítulos seguintes.

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2 A LINGUÍSTICA TEXTUAL E A ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS

2.1 A Linguística Textual

A linguística textual constitui “um novo ramo da linguística, que começou a desenvolver-se na década de 1960, na Europa e, de modo especial, na Alemanha”, segundo Fávero e Koch (2012, p. 15). Sua hipótese de trabalho consiste em “tomar como objeto particular de investigação, não mais a palavra ou a frase, mas sim o texto, por serem os textos a forma específica de manifestação da linguagem”, explicam as autoras (Op. cit. 2012, p. 15).

Nesta perspectiva, a Linguística Textual vem despertando o interesse de vários estudiosos da língua, como bem destaca Gomes (2014, p. 19) ao afirmar que, “os estudos do texto vêm ganhando expressividade e apresentando cada dia mais notável interesse por parte de pesquisadores de distintos âmbitos de estudo”.

No presente capítulo, então, traçamos um rápido percurso da linguística textual, abrangendo seus estudos desde o princípio até os trabalhos mais recentes que, de acordo com Conte (1977 apud FÁVERO; KOCH, 2012, p. 17), “pode ser dividido em três grandes momentos, a saber: 1) o da análise transfrástica; 2) o das gramáticas textuais e; 3) o da construção das teorias do texto”. Apontamos, também, os pressupostos teóricos da teoria do texto e suas motivações, de acordo com Schmidt (1978); e por fim, alguns elementos responsáveis pela textualidade, segundo Beaugrande e Dressler (1981) e Halliday e Hasan (1976). Porém, antes de discorrermos sobre os momentos que marcam o histórico da linguística textual, é relevante destacarmos o que dizem alguns pesquisadores sobre a origem do termo.

De acordo com Fávero e Koch (2012, p. 15), “a origem do termo linguística textual pode ser encontrada em Cosériu (1955), embora, no sentido que lhe é atualmente atribuído, tenha sido empregado pela primeira vez por Weinrich (1966, 1967)”.

Gomes (2014, p. 18) salienta que “a Linguística de Texto toma como unidade de análise o texto, considerado como objeto primeiro de estudo”. Para o autor, qualquer ato de comunicação se dá através do texto e não de frases e/ou orações soltas, desconectadas de suas reais situações de interação.

Ainda de acordo com Gomes (2014, p. 18), esse entendimento “opõe-se às teorias que privilegiam o estudo da estrutura linguística sem considerar qualquer relação com seus contextos de uso”.

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Partindo para a explanação dos três grandes momentos que marcam a trajetória da Linguística de Texto, enfatizamos, inicialmente, o correspondente ao da análise transfrástica que, de acordo com Fávero e Koch (2012, p. 18), esse primeiro momento “limita-se à pesquisa de enunciados ou sequências de enunciados, partindo-se, pois, destes em direção ao texto”, definido por Isenberg (1970 apud FÁVERO; KOCH, 2012, p. 18) como “sequência coerente de enunciados”. O principal objetivo é o de “estudar os tipos de relações que se podem estabelecer entre os diversos enunciados que compõem uma sequência significativa, precisamente, entre as frases e os períodos, de maneira a construir uma unidade de sentido”, destacam as autoras (Op. cit., 2012, p. 18).

De acordo com Koch (2014, p. 7), a Linguística Textual teve inicialmente a preocupação de “descrever os fenômenos sintático-semânticos ocorrentes entre enunciados ou sequências de enunciados, alguns deles, inclusive, semelhantes aos que já haviam sido estudados no nível da frase”. Sobre a “análise transfrástica”, afirma a autora, trata-se “do momento no qual não se faz, ainda, distinção nítida entre fenômenos ligados uns à coesão, outros à coerência do texto” (Op. cit., 2014, p. 7).

O segundo momento, para Fávero e Koch (2012, p. 19), “é assinalado pela construção das gramáticas textuais e surgiu com a finalidade de refletir sobre fenômenos linguísticos inexplicáveis por meio de uma gramática do enunciado”. Conforme as autoras, o que a legitima é, pois, “a descontinuidade existente entre enunciado e texto, já que há entre ambos uma diferença de ordem qualitativa (e não meramente quantitativa)” (Op. cit., 2012, p. 19).

Fávero e Koch (2012, p. 19), “o texto é muito mais que uma simples sequência de enunciados”. De acordo com as autoras:

a sua compreensão e a sua produção derivam de uma competência específica do falante – a competência textual – que se distingue da competência frasal ou linguística em sentido estrito [como a descreve, por exemplo, Chomsky (1965)].

Para Fávero e Koch (2012, p. 19), “todo falante de uma língua tem a capacidade de distinguir um texto coerente de um aglomerado incoerente de enunciados, e esta competência é, também, especificamente linguística, em sentido amplo”. Dessa forma, “qualquer falante é capaz de parafrasear um texto, de resumi-lo, de perceber se está completo ou incompleto, de atribuir-lhe um título ou, ainda, de produzir um texto a partir de um título dado”, concluem as autoras (Op. cit.; 2012, p. 19).

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[...] as tarefas básicas da gramática textual seriam: a) verificar o que faz com que um texto seja um texto, isto é, determinar os seus princípios de constituição, os fatores responsáveis pela sua coerência, as condições em que se manifesta a textualidade; b) levantar critérios para a delimitação de textos, já que a completude é uma das características essenciais do texto; c) diferenciar as várias espécies de textos (FÁVERO e KOCH, 2012, p. 19).

Koch (2014, p. 7) destaca que “um texto não é simplesmente uma sequência de frases isoladas, mas uma unidade linguística com propriedades estruturais específicas, assim, tais gramáticas têm por objetivo apresentar os princípios de constituição do texto em dada língua”.

É importante destacar, conforme Mussalim e Bentes (2012, p. 265), que “não é possível afirmar que houve uma ordem cronológica entre o primeiro momento (análise transfrástica) e as propostas de elaboração de gramáticas textuais”.

Nesse momento (das gramáticas textuais), ganham relevância, nos dizeres de Gomes (2014, p. 20), “os modelos de Van Dijk (1972) e Petofi (1973)”. Assim, no primeiro modelo, o de Van Dijk, a gramática textual, conforme Koch (2004, p. 9 apud GOMES, 2014, p. 20), apresenta as seguintes características:

1- insere-se no quadro teórico do gerativismo;

2- utiliza o instrumental teórico e metodológico da lógica formal;

3- procura integrar a gramática do enunciado na gramática do texto, sustentando que não basta estender a gramática da frase e que uma gramática no âmbito do texto apresenta como tarefa principal especificar as estruturas profundas chamadas de macroestruturas textuais.

Já o modelo de Petöfi, de acordo com Fávero e Koch (2005, p. 15 apud GOMES, 2014, p. 20), “propõe ser possível, a partir de suas análises, a análise, a síntese e a comparação de textos”.

Gomes (2014) destaca que “o modelo de Charolles (1978) também se insere nesse segundo momento da Linguística de Texto”. Assim, para Charolles (1978) “é a coerência o fator responsável para que um conjunto de frases se torne um texto”, conforme destaca Gomes (2014, p. 20). Charolles (1978 apud GOMES, 2014, p. 20) “propõe e discute quatro metarregras de coerência elencadas a seguir: 1 – metarregra de repetição; 2 – metarregra de progressão; 3 – metarregra de não contradição; 4 – metarregra de relação”.

Nesse cenário, Mussalim e Bentes (2012, p. 265) afirmam:

[...] esses autores possuem alguns postulados em comum, a saber: a) consideram que não há uma continuidade entre frase e texto porque há, entre eles, uma diferença de ordem qualitativa e não quantitativa; b) consideram que o texto é a unidade linguística mais elevada, a partir da qual seria

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possível chegar, por meio de segmentação, a unidades menores a serem classificadas. [...] e c) todo falante nativo possui um conhecimento acerca do que seja um texto, conhecimento este que não é redutível a uma análise frasal, já que o falante conhece não só as regras subjacentes às relações interfrásticas (a utilização de pronomes, de tempos verbais, da estratégia de definitivação etc.), como também sabe reconhecer quando um conjunto de enunciados constitui um texto ou quando se constitui em apenas um conjunto aleatório de palavras ou sentenças. Um falante nativo também é capaz de resumir e/ou parafrasear um texto, perceber se ele está completo ou incompleto, atribuir-lhe um título ou produzir um texto a partir de um texto dado, estabelecer relações interfrásticas etc.

No que se refere às causas que levaram os linguistas a desenvolver essas gramáticas textuais, Fávero e Koch (2012, p. 6) concluem que podem ser citadas:

as lacunas das gramáticas de frase no tratamento de fenômenos tais como a correferência, a pronominalização, a seleção dos artigos (definido ou indefinido), a ordem das palavras no enunciado, a relação tópico – comentário, a entoação, as relações entre sentenças não ligadas por conjunções, a concordância dos tempos verbais e vários outros que só podem ser devidamente explicados em termos de texto ou, então, com referência a um contexto situacional.

Sob esse entendimento, os estudiosos perceberam que uma gramática da frase não dava conta dos fenômenos da linguagem e foi, então, que se passou a vislumbrar uma gramática do texto.

Koch (2014, p. 8) considera que “é somente a partir de 1980, contudo, que ganham corpo as teorias do Texto – no plural, já que, embora fundamentadas em pressupostos básicos comuns, chegam a diferir bastante umas das outras, conforme o enfoque predominante”.

Assim, conforme FÁVERO e KOCH (2012, p. 20), “no terceiro momento da Linguística de Texto, no período das denominadas teorias do texto citadas por Conte, adquire particular importância o tratamento dos textos no seu contexto pragmático”. Nesse sentido, Fávero e Koch (2012, p. 20) reforçam que “o âmbito de investigação se estende do texto ao contexto, entendido, em geral, como conjunto de condições – externas ao texto – da produção, da recepção e da interpretação do texto”.

Para Fávero e Koch (2012, p. 21), “a incorporação da pragmática1 aos estudos linguísticos levou a posicionamentos diversos por parte dos vários autores”. Assim sendo,

1 Termo tradicionalmente usado para classificar uma das três principais divisões da semiótica (juntamente com a semântica e a sintática). Na linguística moderna, ela passou a ser aplicada ao estudo da linguagem do ponto de vista dos usuários, especialmente das escolhas que fazem, as restrições que encontram no uso da linguagem na

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destacam as autoras que, para Dressler, “a pragmática constitui apenas um componente acrescentado a posteriori a modelo preexistente de gramática textual, cabendo-lhe tão somente dar conta da situação comunicativa na qual o texto é introduzido” (Op. cit., 2012, p. 21).

Ainda conforme as autoras supracitadas, para Schmidt (1978), a inserção da pragmática significa “a evolução da linguística textual em direção a uma teoria pragmática do texto, que tem como ponto de partida o ato de comunicação – com todos os seus pressupostos psicológicos e sociológicos – inserido numa específica situação comunicativa” (SCHMIDT, 1978 apud FÁVERO E KOCH, 2012, p.21). Nesta perspectiva, podemos perceber que, com a inserção da pragmática ao terceiro momento da linguística textual, introduz-se o contexto como um novo elemento de averiguação dos estudos linguísticos, evidenciando-se, assim, a relevância de se estudar o contexto de produção textual na qual o falante está inserido.

Gomes (2014, p. 21), a partir da consulta de Schmidt (1978), destaca que os principais pressupostos da linguística textual são:

1 – o entendimento de que a língua ocorre em uma sociedade efetiva, ou seja, a “língua-em-função” e nunca um amontoado de signos abstratos da análise tradicional;

2 – o entendimento de que o texto é o que constitui o “sinal linguístico primário” (GOMES, 2014, p. 21).

Nessa mesma perspectiva, Gomes (2014, p. 21) destaca como motivações da Teoria do Texto, segundo Schmidt (1978):

1 – a orientação da linguística para a comunicação, para a interação e para a atuação;

2 – o entendimento da importância do papel semântico exercido pelo contexto e pela situação de comunicação e de que sua ausência pode deixar o texto com uma sensação de incompletude.

3 – o entendimento de que diversas questões linguísticas não podem ser resolvidas exclusivamente no âmbito da frase (GOMES, 2014, p. 21).

A partir do exposto, podemos perceber como o contexto pragmático passa a ocupar lugar de destaque e o foco da investigação passa do texto ao contexto; este, entendido como “a reconstrução de uma série de traços da situação comunicativa [...] que fazem com que os enunciados sejam entendidos como atos de fala” (VAN DIJK, 1992, p. 23 apud GOMES, interação social e os efeitos que seu uso tem sobre os outros participantes em um ato de comunicação. (CRYSTAL, 2008, p. 379).

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2014, p. 21); ou seja, “trata-se de um conjunto de condições externas da produção, recepção e interpretação dos textos” (BENTES, 2006, p. 251 apud GOMES, 2014, p. 21). Assim, nos dizeres de GOMES (2014, p. 21), “não se pode compreender o texto sem o seu contexto de produção”.

Beaugrande e Dressler (1997, p. 11 apud GOMES, 2014, p. 22) afirmam que, “desde o ponto de vista da linguística de texto, é lugar comum afirmar que o que faz com que um texto seja um texto não é sua gramaticalidade, mas sua textualidade”.

Passou-se, então, a pesquisar “o que faz com que um texto seja um texto, isto é, quais os elementos ou fatores responsáveis pela textualidade” (KOCH, 2014, p.11).

Beaugrande e Dressler (1981 apud Koch 2014, p. 11) apresentam, então, “um elenco de tais fatores, em número de sete: coesão, coerência, informatividade, situacionalidade, intertextualidade, intencionalidade e aceitabilidade”.

Para Koch (2014), Beaugrande e Dressler “vêm se dedicando ao estudo dos principais critérios ou padrões de textualidade e do processamento cognitivo do texto”, bem como aos estudos da

[...] semântica procedural, dando realce no estudo da coerência e do processamento do texto, não só ao conhecimento declarativo (dado pelo conteúdo proposicional dos enunciados), mas também ao conhecimento construído através da vivência, condicionado socioculturalmente, que é armazenado na memória, sob a forma de modelos cognitivos globais (“frames”, esquemas, “scripts”, planos) (KOCH, 2014, p. 8).

Em outras palavras, podemos dizer que, como critérios de textualidade, devem-se levar em consideração não somente o conteúdo proposicional dos enunciados, o que se encontra explícito na superfície do texto, mas também o que o usuário/falante traz de conhecimento armazenado na memória, o seu conhecimento de mundo.

Halliday e Hasan (1976 apud Cavalcante 2016, p. 30) “se baseiam num critério semântico-discursivo quando afirmam que a coesão se verifica sempre que, para se interpretar um elemento no texto, recorre-se à interpretação de um outro”. A coesão é, portanto, “uma espécie de articulação entre as formas que compõem e que organizam um texto, ajudando a estabelecer entre elas relações de sentido”, justifica a autora (Op. cit. 2016, p. 30).

Nesse cenário, Halliday e Hasan (s.d apud Marcuschi 2012, p. 28) destacam que “o texto não consiste em sentenças; ele apenas se realiza nas sentenças, de modo que as partes do texto não se integram como as partes de uma sentença que se unem entre si”. Conforme o autor, a unidade do texto é de natureza distinta da sentença. É a textura que distingue “um

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texto de um não texto, sendo que a textura é formada pela relação semântica de coesão”. Para Halliday e Hasan (s.d apud Marcuschi 2012, p. 28), “a coesão não é uma relação sintática e sim semântica, determinada pela interpretação e pela pressuposição. O texto passa a ser uma unidade semântica e não gramatical”.

Assim sendo, mediante o percurso traçado sobre os momentos que marcaram a linguística textual, Mussalim e Bentes (2012, p. 268) determinam

[...] que as mudanças ocorridas em relação às concepções de língua (não mais vista como um sistema virtual, mas como um sistema atual, em uso efetivo em contextos comunicativos), às concepções de texto (não mais visto como um produto, mas como um processo), e em relação aos objetivos a serem alcançados (a análise e explicação da unidade texto em funcionamento em vez da análise e explicação da unidade texto formal, abstrata), fizeram com que, se passasse a compreender a Linguística de Texto como uma disciplina essencialmente interdisciplinar, em função das diferentes perspectivas que abrange e dos interesses que a movem. Ou ainda, mais atualmente, conforme Marcuschi (1998a) como uma disciplina de caráter multidisciplinar, dinâmica, funcional e processual, considerando a língua como não autônoma nem sob seu aspecto formal.

Isso posto, Mussalim e Bentes (2012, p. 272) propõem que se veja, então, a “Linguística do Texto, mesmo que provisória e genericamente, como o estudo das operações linguísticas e cognitivas reguladoras e controladoras da produção, construção, funcionamento e recepção de textos escritos ou orais”. Nesse sentido, para essas autoras, o tema da Linguística do Texto abrange “a coesão superficial ao nível dos constituintes linguísticos, a coerência conceitual ao nível semântico e cognitivo e o sistema de pressuposições e implicações a nível pragmático da produção do sentido no plano das ações e intenções” (Op.

cit. 2012, p. 272).

Segundo Koch e Travaglia (2015, p. 69), uma Teoria do Texto ou Linguística do Texto constitui-se de:

Princípios e/ou modelos cujo objetivo não é predizer a boa ou má formação dos textos, mas permitir representar os processos e mecanismos de tratamento dos dados textuais que os usuários põem em ação quando buscam interpretar uma sequência linguística, estabelecendo o seu sentido e, portanto, calculando sua coerência.

Koch (2014, p. 11) também enfatiza que:

a Linguística Textual trata o texto como um ato de comunicação unificado num complexo universo de ações humanas. Por um lado, deve preservar a

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organização linear que é o tratamento estritamente linguístico abordado no aspecto da coesão e, por outro lado, deve considerar a organização reticulada ou tentacular, não linear portanto, dos níveis do sentido e intenções que realizam a coerência no aspecto semântico e funções pragmáticas (Op. cit., 2014, p. 11).

Ainda a respeito da Linguística Textual, destacamos o surgimento, em 2008, no Brasil, da tradução da obra de Jean–Michel Adam, intitulada “A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos”. Propondo uma relação entre a linguística textual e a análise do discurso que permite pensar o texto e o discurso de forma articulada, Adam (2011, p. 25) revela que:

A linguística textual tem como ambição fornecer instrumentos de leitura das produções discursivas humanas. A linguística não (ou não é mais) a “ciência-piloto” das ciências do homem e da sociedade, mas tem ainda muito a dizer sobre os textos, e seu poder hermenêutico permanece inteiro, sobretudo se ela consentir em abrir-se às disciplinas que, da Antiguidade até nossos dias, têm o texto como objeto (retórica e poética, estilística, filologia e hermenêutica, teoria da tradução e genética textual, análise de dados textuais ou análise de textos em computador, sem esquecer a história do livro e as diversas semióticas).

Assim, confere Adam (2011) que a linguística textual visa

[...] teorizar e descrever os encadeamentos de enunciados elementares no âmbito da unidade de grande complexidade que constitui um texto. [...] [ela] concerne tanto à descrição e à definição das diferentes unidades como às operações, em todos os níveis de complexidade, que são realizadas sobre os enunciados (ADAM, 2011, p. 63 – 64).

Nossa pesquisa se insere nesse novo contexto. Desse modo, comentaremos esse novo quadro teórico na seção seguinte.

2.2 A Análise Textual dos Discursos

A Análise Textual dos Discursos (ATD), elaborada pelo linguísta francês Jean-Michel Adam, “constitui uma abordagem teórica e descritiva do campo da linguística do texto que se situa na perspectiva de um posicionamento teórico e metodológico” (PASSEGGI et al, 2010, p.151 – 152) que, “com o objetivo de pensar o texto e o discurso em novas categorias, situa decididamente a linguística textual no quadro mais amplo da análise do discurso” (ADAM, 2008b, p. 24 ).

(23)

Nesse sentido, segundo Adam (2011), a ATD postula ao mesmo tempo,

uma separação e uma complementaridade das tarefas e dos objetos da linguística textual e da análise de discurso, [definindo] a linguística textual como um subdomínio do campo mais vasto da análise das práticas discursivas (ADAM, 2011, p.43).

Assim, é importante ressaltar que, para Gomes (2014), conforme Adam (2008, 2010a, 2010b, 2011):

o que une a Análise Textual dos Discursos ao domínio da Linguística Textual e ao da Análise do Discurso são as práticas discursivas institucionalizadas, ou seja, os gêneros de discurso, cuja determinação pela história deve ser considerada pelo viés da interdiscursividade (ADAM, 2011, p. 60).

Nesse sentido, Adam (2012, p. 191 apud GOMES, 2014, p. 27), apresenta três observações que devem ser consideradas previamente para o entendimento da ATD:

- Observação 1 – a linguística textual é uma das disciplinas da análise de discurso. Definida como um campo interdisciplinar, a AD necessita de uma teoria da língua em uso (Saussure fala de <língua discursiva>) que não pode desconsiderar a questão do texto como unidade de interação humana. A linguística textual é um dos subdomínios da AD;

- Observação 2 – o texto é o objeto de análise da ATD. Ele é o traço linguístico de uma interação social, a materialização semiótica de uma ação sócio-histórica da fala;

-Observação 3- desde que há texto, isto é, reconhecimento do fato de que uma série de enunciados forma um todo comunicativo, há enunciados em classe de discurso. Em outras palavras, não há texto (s) sem gênero (s) e é neste sistema de gêneros de uma formação sócio-histórica determinada que a textualidade encontra a discursividade e que a linguística textual encontra a análise de discurso (ADAM, 2012, p. 191 apud GOMES, 2014, p. 27). Pelo exposto, conforme observa Gomes (2014, p. 28):

a aproximação da Linguística Textual e da Análise do Discurso, tem como elemento de intersecção os gêneros discursivos. Não se pensa mais o texto de maneira descontextualizada e dissociada do discurso. O texto passa a ser entendido de forma articulada com o discurso a partir do estabelecimento de novas categorias, tendo como elemento de intersecção os gêneros.

Um conceito mais amplo de genericidade que “permite pensar a participação de um texto em vários gêneros” (ADAM; HEIDMANN, 2011, p. 20 apud GOMES 2014, p. 28) também merece destaque na ATD. Assim, para os autores:

(24)

À exceção de gêneros socialmente bastante constritivos, a maior parte dos textos não se conforma a um só gênero e opera um trabalho de transformação de um gênero a partir de vários gêneros (mais ou menos próximos). Considerar essa heterogeneidade genérica é [...] o único meio de aproximar a complexidade de procedimento que liga um texto ao interdiscurso de uma formação social dada (ADAM e HEIDMANN, 2011, p. 21 apud GOMES 2014, p. 29).

Para Monte (2014, p. 8 apud GOMES, 2014, p. 29), Adam e Heidmann consideram que “os seguintes elementos da textualidade são afetados pelo conceito de genericidade: a) as configurações semânticas; b) o regime de interpretação dos enunciados; c) os modos de responsabilidade enunciativa; d) objetos comunicativos; e) estilo e composição”.

Assim, aliado a tais observações, Gomes (2014) revela que é preciso considerar o esquema apresentado em Adam (2011, p. 61), que “oferece elementos para o entendimento do texto como uma prática discursiva analisada à luz de determinados planos ou níveis de análise linguística”, conforme a Figura 01 a seguir:

FIGURA 01 - Níveis da análise de discurso e níveis da análise textual

(25)

Mediante o exposto, faz-se necessário discorrermos sobre os principais níveis de análise propostos pela Análise Textual dos Discursos (doravante, ATD) que, conforme (PASSEGGI et. al., 2010, p. 150), são os seguintes:

a) um nível sequencial – composicional (N4 – N5), em que os enunciados elementares (a proposição-enunciado ou proposição enunciada) se organizam em períodos, que comporão as sequências. Estas, por sua vez, agrupam-se conforme um plano de texto. Esse nível focaliza a estruturação linear do texto, no qual as sequências desempenham um papel fundamental; b) um nível enunciativo (N7), baseado na noção de responsabilidade enunciativa, que corresponde às “vozes” do texto, à sua polifonia;

c) um nível semântico (N6), apoiado na noção de representação discursiva e em noções conexas (anáforas, correferências, isotopias, colocações), que remetem ao conteúdo referencial do texto;

d) um nível argumentativo (N8), embasado nos atos de discurso realizados e na sua contribuição para a orientação argumentativa do texto.

Dentro desse contexto, os autores supracitados ainda justificam que:

[...] o nível sequencial-composicional refere-se diretamente à estruturação linear do texto. Por outro lado, os níveis enunciativo, semântico e argumentativo são expressos linearmente e, além disso, também podem corresponder a uma estruturação não linear do texto. Conferem ainda que, a explicitação da responsabilidade enunciativa e a construção de uma dada representação discursiva apresentam diversas características não lineares (PASSEGGI et al., 2010, p.152).

Assim sendo, para Gomes (2014, p. 30), a proposta de Adam (2011) “busca uma análise fina e detalhada dos dados empíricos, ou seja, busca analisar apenas o que se encontra evidente na realidade material” (ADAM, 2010b, p. 10 apud GOMES 2014, p. 30). Nesse sentido, considera o autor que “o gênero, como uma prática discursiva materializada, encontra-se intermediando o texto na intersecção entre texto e discurso. O gênero é, pois, uma categoria de análise que se encontra no mesmo nível das demais propostas por Adam” (GOMES, 2014, p. 30).

(26)

Nessa mesma linha de raciocínio, Lourenço (2015, p. 26) afirma que a ATD “implica na articulação entre elementos intrínsecos e extrínsecos, que na perspectiva de Adam (2011), manifestam-se como essenciais para a determinação do sentido global da textualidade”.

Lourenço (2015, p. 26) ressalta que na proposta de Adam (2011):

o estudo analítico de um texto deve considerar o exame de um plano textual dado, levando em consideração os elementos de textura, estrutura composicional, semântica, enunciação e atos de discurso que, por sua vez, completam-se, apenas, se postos em relação a elementos do plano discursivo ou externo ao texto, os quais [...] configuram-se na ação visada, na interação social, na formação sociodiscursiva e no interdiscurso.

Para Lourenço (2015, p. 28), “o conjunto menor, inserido no primeiro plano de análise, que forma a base do esquema de Adam, é reservado exclusivamente à análise textual,

i.e., importa uma abordagem tipicamente pertinente à LT”. As setas, presentes no esquema,

“mostram a relação de articulação existente entre os dois níveis: da análise de discurso e da análise textual”, conclui Lourenço (2015, p. 28).

Sendo assim, Adam (2012, p. 192 – 193 apud GOMES 2014, p. 31) destaca as razões teóricas, metodológicas e didáticas que o levaram a propor a Análise Textual dos Discursos:

- Das razões teóricas: existem teorias parciais pertinentes nos diferentes níveis. Assim, a teoria dos atos de fala ou atos ilocutórios (Austin, Searle, etc.) é uma teoria parcial do N8; a teoria dos gêneros é uma teoria do nível N3; a teoria das sequências textuais que eu desenvolvo é uma teoria parcial do nível N5; a linguística da enunciação (Benveniste) e a teoria do ponto de vista (Rabatel, Nolke) são as teorias do nível N7; a teoria da argumentação na língua (Ducrot) é uma teoria dos níveis N8 e N6. O nível N1 é perfeitamente teorizado por pesquisadores que se posicionam no interacionismo (Bronckart) e é o objeto principal das teorias interacionistas e conversacionais, enquanto o N2 é o objeto clássico da análise do discurso francesa (Pêcheux), bem conhecida no Brasil.

- Das razões metodológicas e didáticas: a complexidade do objeto de estudo é tal, que é metodologicamente necessário dividir e distinguir o momento da análise do momento da teorização. Cada nível é, conforme o próprio autor, um momento de análise, uma unidade de pesquisa e de ensino (esse é um aspecto didático que o autor considera como mais importante) ligado aos outros, mas suficientemente distintos para formar um todo. Na verdade, um texto pode ser descrito usando apenas um nível de análise, usando a teoria pertinente de cada nível. Na opinião do autor, a questão é ver que nós estamos, então, diante de um objeto parcial de alta complexidade, que requer uma descrição de uma teoria mais vasta.

Visando coerência e estabilidade teórico-metodológica suficiente para sua proposta, Adam (2011, p. 104) propõe “uma unidade textual elementar, isto é, uma unidade mínima de

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sentido chamada proposição-enunciado”. Para isso, o autor discorre sobre as noções de frase e de período e afirma que:

[...] a noção de frase dificilmente pode ser mantida como uma unidade de análise textual. Ela é, certamente, uma unidade de segmentação (tipo)gráfica pertinente, mas sua estrutura sintática não apresenta uma estabilidade suficiente (ADAM 2011, p. 104).

Nesse sentido, Adam (2011, p. 106) situando a discussão no âmbito da produção e da leitura de conjuntos textuais mais vastos e não apenas literários verifica a necessidade de

[...] uma terminologia metalinguística que permita descrever uma complexidade de unidades mínimas das quais a gramática não permite, por si só, dar conta. Temos necessidade, metalinguisticamente, de uma unidade textual mínima que marque a natureza do produto de uma enunciação (enunciado) e de acrescentar a isso a designação de uma microunidade sintático-semântica (a que o conceito de proposição, atende, finalmente, bastante bem). Ao escolher falar de proposição-enunciado, não definimos uma unidade tão virtual como a proposição dos lógicos ou gramáticos, mas uma unidade textual de base, efetivamente realizada e produzida por um ato de enunciação, portanto, com um enunciado mínimo.

Em relação à noção de proposição-enunciado, Adam (2011, p. 108) a define como “o produto de um ato de enunciação” e acrescenta:

Toda proposição-enunciado compreende três dimensões complementares, às quais se acrescenta o fato de que não existe enunciado isolado: mesmo aparecendo isolado, um enunciado elementar liga-se a um ou a vários outros e/ou convoca um ou vários outros em resposta ou como simples continuação. Essa condição de ligação é, em grande parte, determinada pelo que chamaremos orientação argumentativa (ORarg) do enunciado. As três dimensões complementares de toda proposição enunciada são: uma

dimensão enunciativa [B] que se encarrega da representação construída

verbalmente de um conteúdo referencial [A] e dá-lhe uma certa

potencialidade argumentativa [ORarg] que lhe confere uma força ou valor ilocucionário [F] mais ou menos identificável (ADAM, 2011, p. 109).

É importante salientar também que, conforme Gomes (2014) observa, o reconhecimento da proposição-enunciado se dá com base em três critérios, a conhecer:

1-um critério do sentido – cada ato de enunciação deverá expressar um enunciado único com sentido completo, muito embora esse sentido completo somente se configure em constante diálogo com os demais atos enunciativos que formam o todo textual;

(28)

3-um critério gráfico e/ou morfossintático – marcado pela presença de um elemento de pontuação e/ou de um conector (GOMES, 2014, p. 33).

Dessa forma, para Adam (2011 apud GOMES 2014, p. 34), “o texto é um todo formado por uma ou mais proposição-enunciado e submetido a duas operações de textualização, operação de segmentação e operação de ligação”. Estas aparecem destacadas no esquema a seguir de Adam (2011), que aponta, segundo Gomes (2014, p. 34), “tanto a construção das unidades semânticas como os processos de continuidade pelos quais se reconhece um segmento textual”. Vejamos o esquema:

FIGURA 02 - Operações de textualidade

Fonte: ADAM (2011, p. 64)

Podemos constatar que a Figura 2 detalha o conjunto das operações de textualização. Assim, conforme afirma Adam (2011, p. 64), “uma primeira segmentação [3] recorta as unidades de primeira ordem, enquanto uma primeira operação de ligação [4] as reúne em unidades de ordem superior de complexidade”.

Segundo Adam (2011, p. 64):

essas unidades (períodos e/ ou sequências) são objeto de uma nova segmentação [6] que determina seus limites inicial e final. A ligação [7] dessas unidades de segunda ordem resulta em parágrafos de prosa ou em estrofes constitutivas de um plano de texto [8] e em uma unidade textual delimitada, ela própria, por uma sexta operação de segmentação, que se pode denominar peritextual [9], na medida em que fixa os limites ou fronteiras materiais de um texto.

(29)

Feita essa introdução sobre a ATD, apresentamos a seguir algumas considerações sobre o nível enunciativo de Adam, baseado na noção de responsabilidade enunciativa - objeto de estudo desta pesquisa.

2.3 A Responsabilidade Enunciativa

A noção de responsabilidade enunciativa, conforme Passeggi et al. (2010, p. 153) “não é consensual para os autores que se dedicam ao seu estudo”. Para Culioli (1971, p. 4031 apud PASSEGGI et al., 2010, p. 153), “toda enunciação supõe responsabilidade enunciativa do enunciado por um enunciador”.

No entanto, para Nolke, Flottum e Norén (2004 apud PASSEGGI et al., 2010, p. 153), os proponentes da Teoria Escandinava da Polifonia Linguística – ScaPoLine, “assumir a responsabilidade enunciativa é ser a fonte do enunciado, é estar na origem, é assumir a paternidade”.

De acordo com Rabatel (2008a, p. 21 apud PASSEGGI et al., 2010, p. 153):

o sujeito responsável pela referenciação do objeto exprime seu PdV tanto diretamente, por comentários explícitos, como indiretamente, pela referenciação, ou seja, através de seleção, combinação, atualização do material linguístico.

Dentro desse contexto, Rabatel (2009, p. 85 apud PASSEGGI et al., apud 2010, p. 153) postulou “a noção de ‘quase-RE’ para os enunciadores segundos, aos quais pode-se imputar um PdV, mesmo que eles não tenham dito nada”.

Para Rabatel (2010, p. 153 apud PASSEGGI et al., 2010, p. 153), “esse postulado o distancia de Ducrot (1984), uma vez que, para esse autor, assumir a responsabilidade enunciativa é falar, é dizer”. Isso também distancia Rabatel (2009 apud PASSEGGI et al., 2010, p. 153) da ScaPoLine, visto que, “para ele, pode-se imputar um ponto de vista PdV, mesmo a quem não tenha falado, mesmo a quem não está na origem do enunciado”.

Para Adam (2011 apud GOMES 2014, p. 69),

a responsabilidade enunciativa é o fenômeno que permite aferir o grau de engajamento do locutor-narrador em um ato de enunciação. Desse modo, é possível observar se o locutor-narrador assume a responsabilidade sobre o que foi dito ou opta por manter um distanciamento enunciativo e atribui o enunciado a outras instâncias enunciativas.

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Nesse sentido, Gomes (2014, p. 69) declara: “o autor coloca a responsabilidade enunciativa como uma das dimensões que compõem a proposição-enunciado”. Conclui Gomes, ainda, que, para Adam, “é o nível [B] o responsável pela validade dos enunciados e se encontra em posição mediana entre os níveis [A] e [C]” (GOMES, 2014, p. 69). Vejamos o que nos mostra o esquema a seguir:

FIGURA 03 - Elementos constitutivos da proposição-enunciado

Fonte: ADAM (2011, p. 111)

A partir do referido esquema, Adam (2011apud GOMES 2014, p. 69) justifica que a “representação feita pelo triângulo não hierarquiza os três componentes, mas, ao contrário, situa [A] e [C] na mesma linha [...] e põe a enunciação [B] em posição mediana, entre [A] e [C]”. Isso quer dizer que “a responsabilidade enunciativa possui uma conexão com o que já foi dito anteriormente e com o que vai ser dito mais na frente”, conclui Gomes (2014, p. 69). É, portanto, na opinião do autor, “um vértice que se refere ao passado e ao futuro” (GOMES 2014, p. 69).

Conforme Adam (2011 apud GOMES 2014, p. 69), “a responsabilidade enunciativa não se separa de um ponto de vista (PDV) e os dois se situam no âmbito da polifonia, dando conta do desdobramento polifônico dos enunciados”. Isso significa, nos dizeres de Gomes (2014, p. 69) que “todo enunciado possui um ou mais PDV, entendidos por Adam como as vozes presentes no quadro enunciativo”. Os PDV podem “ser assumidos ou não pelo

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locutor-narrador, marcando, assim, a (não) responsabilidade enunciativa dos enunciados”, conclui Gomes (2014 p. 69).

Nesse sentido, destacamos, na proposta de Adam (apud GOMES, 2014), o seu entendimento de locutor e enunciador. Assim, Adam (2011, p. 70 apud GOMES 2014, p. 70) “considera o locutor como a pessoa que fala, como a pessoa física responsável pela enunciação”. Porém, quando o “enunciador assume a responsabilidade pelo enunciado, o conceito de locutor se confunde com o de enunciador e quando o enunciador se distancia do PDV, temos um locutor diferente do enunciador”, explica Gomes (2014, p. 70). Nesse caso, conclui Gomes (2014, p. 70) que “podemos ter, inclusive, mais de um enunciador, ou seja, podem aparecer distintos PDV atribuídos a diversas instâncias enunciativas, às quais o enunciado se vincula para dar conta do desdobramento polifônico”, conforme nos mostra o esquema a seguir:

FIGURA 04 - Desdobramento polifônico em Adam

Fonte: GOMES (2014, p. 70)

Ainda segundo Adam (2008b, p. 117 apud PASSEGGI et al., 2010, p. 153), em outras palavras, “o grau de responsabilidade enunciativa de uma proposição é suscetível de ser marcado por um grande número de unidades da língua”. Nessa direção, conforme explica Passeggi et al., (2010, p. 153 – 154) , o autor propõe oito categorias, a saber:

(1) os índices de pessoas; (2) os dêiticos espaciais e temporais; (3) os tempos verbais; (4) as modalidades; (5) os diferentes tipos de representação da fala (discurso direto; discurso direto livre; discurso indireto; discurso indireto livre e discurso narrativizado); (6) as indicações de quadros mediadores; (7) os fenômenos de modalização autonímica e (8) as indicações de um suporte de percepções e de pensamentos relatados.

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É interessante destacar que as grandes categorias aqui enumeradas expandem a descrição do que Benveniste (1974, p. 79 – 88 apud ADAM 2011, p. 117) chamava de “aparelho formal de enunciação” 2.

Corroborando o que foi dito anteriormente, para Adam (2011 apud LOURENÇO 2015, p.41), “a RE ou PdV podem ser materializados textualmente por diversas marcas que caracterizam o grau de Responsabilidade Enunciativa de uma proposição”, conforme apresentadas no quadro seguinte:

FIGURA 05 - Grandes categorias

2 Ao propor a noção de aparelho formal da enunciação, Émile Benveniste quer dizer que, a língua, como sistema que é, tem em sua organização (estrutura) um aparelho formal que possibilita ao sujeito enunciar nessa língua. O aparelho (indicadores de subjetividade, tempos, modos, etc.) como tal pertence à língua, mas seu uso é dependente da enunciação a qual, por sua vez, supõe sujeito. Ou seja, o conceito de enunciação está ligado ao princípio da generalidade do específico (FLORES; NUNES, 2007).

(33)

Nesse sentido, para Lourenço (2015, p. 42),

o autor concebe a Responsabilidade Enunciativa na equivalência de ponto de vista, que grafa da seguinte forma: PdV. Assim, a RE de uma proposição “ou ponto de vista (PdV) permite dar conta do desdobramento polifônico” (ADAM, 2011, p. 110) presente nos enunciados.

Portanto, “a RE, enquanto estratégia linguística é possível de ser marcada por unidades textuais e revela a assunção ou não de determinado conteúdo proposicional por uma instância (ou instâncias) enunciativa (s) dada(s)”, conclui Lourenço (2015, p. 43).

Objetivando o avanço dessa investigação a respeito do fenômeno da responsabilidade enunciativa, torna-se imprescindível, inicialmente, apresentarmos o pensamento bakhtiniano a respeito da polifonia e do dialogismo. Assim, destacamos que Bakhtin (2010 apud LOURENÇO 2015, p. 43) desenvolve a noção de polifonia nos estudos da linguagem, “apresentando a ideia de dialogismo como caracterizadora da consciência do homem, ao afirmar que o homem interior se mostra no diálogo com outros homens, constituindo-se, o diálogo, não em um meio, mas em um fim”.

Dessa maneira, em Problemas da Poética de Dostoiévski, Bakhtin reflete o dialogismo nos seguintes termos:

A palavra não é um objeto, mas um meio constantemente ativo, constantemente mutável de comunicação dialógica. Ela nunca basta a uma consciência, a uma voz. Sua vida está na passagem de boca em boca, de um contexto para outro, de um grupo social para outro, de uma geração para outra. Nesse processo, ela não perde o seu caminho nem pode libertar-se até o fim do poder daqueles contextos concretos que integrou [...]. A palavra, ele [um membro de um grupo falante] a recebe da voz de outro e repleta de voz de outro. No contexto dele, a palavra deriva de outro contexto, é impregnada de elucidações de outros. O próprio pensamento dele já encontra a palavra povoada (BAKHTIN, 2010, p. 232 apud LOURENÇO, 2015, p. 43).

Assim, entendemos que a palavra é utilizada como forma de interação pelos falantes, representando tudo o que ouvimos e reproduzimos em contextos diversos, deixando de ser a língua um sistema limitado de regras.

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Lourenço (2015, p. 44) comenta que na concepção de linguagem3 concebida por Bakhtin, confirma-se a ideia do autor de que “o dialogismo está imbricado na linguagem, porque profundamente a penetra e se faz presente em todas as suas relações”, já que

[...] as relações dialógicas são extralinguísticas. Ao mesmo tempo, porém, não podem ser separadas do campo do discurso, ou seja, da língua como fenômeno integral concreto. A linguagem só vive na comunicação dialógica daqueles que a usam. É precisamente essa comunicação dialógica que constitui o verdadeiro campo da vida da linguagem (BAKHTIN, 2010, p. 209 apud LOURENÇO, 2015, p. 44).

Diante de tais considerações, concordamos com Lourenço (2015), ao relatar a importância também, para esta investigação, de registrar o pensamento de Ducrot (1980), que “teve como fonte de suas reflexões, a polifonia pensada por Bakhtin” (LOURENÇO, 2014, p. 44).

Conforme explica Lourenço (2015, p. 44), “esse estudioso põe em questionamento o pressuposto de que o sujeito falante é único e que cada enunciado só pode ser relacionado a um único autor”.

Assim, a partir de tal pressuposto, justifica Lourenço (2015, p. 44) que “o referido autor prossegue suas reflexões afirmando que uma situação de polifonia demanda dois tipos de personagens: os locutores e os enunciadores”.

Dessa forma, de acordo com o que estabelece Lourenço (2015, p. 44):

os locutores são aqueles apresentados no enunciado como sendo, por eles, seus responsáveis e os enunciadores, como os seres ou instâncias cujas vozes estão presentes na enunciação, mas que não são responsáveis pela ocorrência de palavras.

Nesse sentido, Ducrot (1988, p. 16 apud LOURENÇO 2015, p. 44) traz o esclarecimento de que “o autor de um enunciado não se expressa nunca diretamente, sem que ponha em cena em um mesmo enunciado um certo número de personagens [...] em um mesmo enunciado estão presentes vários sujeitos com estatutos linguísticos diferentes”.

Ducrot (1988 apud LOURENÇO 2015, p. 44), então, “pensa o estabelecimento de vozes presentes em um enunciado a partir de três categorias distintas: o sujeito falante, o

3 Para Bakhtin (2004), a linguagem é um ato social que se realiza e se modifica nas realizações sociais e é, ao mesmo tempo, meio para a interação humana e resultado dessa interação, já que seus sentidos não podem ser desvinculados do contexto de produção. A linguagem é, portanto, de natureza sócioideológica e tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo (BAKHTIN 2004, p.31).

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locutor e o (s) enunciador (es)”. Assim, conforme detalha Lourenço (2015, p. 44), “o sujeito falante não constitui foco de interesse para os estudos linguísticos, pela explicitude de sua identificação”.

Para autora supracitada, “figuram como interesse dos estudos linguísticos as categorias de locutor, que reproduz a voz do texto, entidade pertencente ao cotexto linguístico”; e por fim, “de enunciador (es), a instância abstrata que necessariamente não precisa ser identificada com a figura do locutor, e a quem se atribui a RE” (LOURENÇO 2015, p. 44).

Dessa maneira, Ducrot (1988 apud LOURENÇO 2015, p. 45) “considera a presença de diferentes sujeitos com estatutos linguísticos distintos num enunciado, representando pontos de vista diferentes partilhados por um locutor”.

Desse modo, sobre o postulado Ducrotiano, destaca Lourenço (2015, p. 45) que:

[...] em cada texto/enunciado existem enunciadores diferentes, portadores de ponto de vista diferentes, e que o locutor em seu discurso irá aderir a uma das perspectivas demonstradas, sendo a polifonia uma constante no discurso, possibilitando o locutor não se responsabilizar pelo dito, atribuindo-o a um outro enunciador.

Nesse sentido, após explicitada a tese da polifonia e do dialogismo elaborada por Bakhtin, submetida às reflexões de Ducrot, Lourenço (2015, p. 46) relata que, “a língua se assenta como fenômeno social de interação verbal, que no âmbito da linguagem todo discurso se estabelece em rede de complexas inter-relações dialógicas entre enunciados”.

Em Rabatel (2009 apud GOMES 2014, p. 72), o termo Prise en charge énonciative (PEC) é utilizado para falar de responsabilidade enunciativa. Esta temática demarca o início dos seus trabalhos cujos pressupostos ducrotianos entendem que

[...] o locutor é aquele que está na fonte do enunciado, é o ser empírico responsável pelo material linguístico, e que o enunciador é aquele que assume a responsabilidade pelo enunciado, isto é, os enunciadores são esses seres que são considerados como se expressando através da enunciação, sem que para tanto se lhe atribuam palavras precisas; se eles “falam” é somente no sentido em que a enunciação é vista como expressando seu ponto de vista, sua posição, sua atitude, mas não, no sentido material do termo, suas palavras (DUCROT, 1987, p. 192 apud GOMES, 2014, p. 72).

Para tanto, conforme já revelado inicialmente por PASSEGGI et al., (2010, p. 153), Rabatel (2009a apud Lourenço 2015, p. 53) “registra uma diferença entre a ocorrência da Responsabilidade Enunciativa (prise en charge – PEC), em que os conteúdos proposicionais são assumidos pelo primeiro locutor/enunciador (L1/E1), porque ele os julga verdadeiros”, e

Referências

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