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Nessa seção, mostramos os aspectos metodológicos da nossa investigação. Iniciamos com a abordagem da pesquisa.

4.1 Uma pesquisa – Duas fases

Nossa pesquisa foi desenvolvida em dois momentos. O primeiro momento trata-se de uma análise que fizemos do fenômeno da responsabilidade enunciativa no gênero crônica. O segundo refere-se ao momento em que realizamos uma sequência didática na qual o professor de língua portuguesa possa trabalhar a responsabilidade enunciativa a partir do gênero crônica.

4.2 Métodos de pesquisa

O método de pesquisa, conforme Marconi e Lakatos (2011, p. 46) equivale ao “conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros –, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista”.

De acordo com o exposto, apreende-se que “a finalidade da atividade científica é a obtenção da verdade, por intermédio da comprovação de hipóteses, que, por sua vez, são pontes entre a observação da realidade e a teoria científica, que explica a realidade” (MARCONI e LAKATOS, 2011, p. 46). Em nosso trabalho, pautamo-nos pelo método indutivo, sobre o qual faremos uma abordagem a seguir.

4.2.1 O método indutivo

Em se tratando do método indutivo, Gonçalves (2005, p. 36) apresenta a definição, a seguir:

É o método caracterizado pelo seu tipo de argumento, que, partindo “de premissas particulares, conclui por uma geral [...] [possibilitando] o desenvolvimento de enunciados gerais sobre as observações acumuladas de casos específicos ou proposições que possam ter validade universal, constituindo-se na base do fazer científico, a partir do estabelecimento da “diferença entre os enunciados científicos, das outras formas de expressão de

conhecimento do mundo construídas pelo homem” (OLIVEIRA, 1997 apud Op. cit., p. 32).

Esse método “[...] nasceu com a filosofia moderna e sua intenção de superar os critérios de verdade aceitos até o momento: a autoridade, a tradição, o preconceito, o hábito e a conjectura ultrapassando a simples observação”, conforme Nascimento (2002, p. 18).

Outra definição de Método Indutivo pode ser tomada de Marconi e Lakatos (2011, p. 53), que o caracteriza como

Um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam, concluem as autoras (Op. cit. 2011, p. 53).

Assim, conforme Marconi e Lakatos (2011, p. 54), para a aplicação do método indutivo:

são necessários três elementos fundamentais, assim apresentados: observação dos fenômenos – nessa etapa, observam-se os fatos ou fenômenos e os analisam, com a finalidade de descobrir as causas de sua manifestação; descoberta da relação entre eles – na segunda etapa, procura- se por intermédio da comparação, aproximar os fatos ou fenômenos, com a finalidade de descobrir a relação constante existente entre eles; generalização da relação – nessa última etapa, generaliza-se a relação encontrada na precedente, entre os fenômenos e fatos semelhantes, muitos dos quais ainda não se observou (e muitos, inclusive, inobserváveis).

No que se refere à construção do corpus, faremos uma breve abordagem a seguir.

4.3 Construção do corpus

Para a primeira parte de nossa investigação, momento em que analisamos o fenômeno da responsabilidade enunciativa no gênero crônica, constituímos um corpus a partir de quatro crônicas escolhidas da obra pertencente à coleção “Para gostar de Ler”, volume 4, da Editora Ática, ano 2003.

Composta por um total de 20 crônicas, a referida obra apresenta uma variada seleção de textos, organizados a partir dos seguintes tópicos: 1) Utilidades – O telefone, Rubem Braga; Da utilidade dos animais, Carlos Drummond de Andrade; Condôminos, Fernando Sabino e Automóvel: Sociedade Anônima, Paulo Mendes Campos. 2) Estilos – Glória, Carlos

Drummond de Andrade; Eloquência Singular, Fernando Sabino; Os diferentes estilos, Paulo Mendes Campos e Carta ao Prefeito, Rubem Braga. 3) Observações – Com o mundo nas

mãos, Fernando Sabino; A fugitiva, Carlos Drummond de Andrade; O fiscal da noite, Rubem

Braga e Segredo, Paulo Mendes Campos. 4) Palavras – Palavras amargas, Paulo Mendes Campos; O crime (de plágio) perfeito, Rubem Braga; Em código, Fernando Sabino e Calça

literária, Carlos Drummond de Andrade. 5) As expectativas e a realidade – Mocinho, Carlos

Drummond de Andrade; Odabed, Rubem Braga; A mulher vestida, Fernando Sabino; Para

Maria da Graça, Paulo Mendes Campos.

Para a apreciação dos textos optamos pela seleção das crônicas a seguir: - De Rubem Braga, foram escolhidas O telefone e Carta ao Prefeito; - De Carlos Drummond de Andrade, Glória;

- De Fernando Sabino, Em código;

Ressaltamos que a sequência didática levou em consideração essas mesmas crônicas.

4.4 Categorias de análise

Parte de nossa investigação tem como principal objetivo analisar as marcas de (não) assunção da responsabilidade enunciativa no gênero discursivo crônica. Nesse sentido, essa pesquisa pautou-se nos critérios propostos por Gomes (2014). Para a construção das análises, definimos como critérios para a apresentação dos exemplos, quadros contendo fragmentos das 4 crônicas escolhidas nas quais serão apresentadas e discutidas as marcas de (não) responsabilidade enunciativa. Antes de partirmos para as análises, faz-se necessário conhecermos os critérios propostos por Gomes (2014), apresentados a seguir:

QUADRO 02. Classificação do PDV e das marcas de (não) responsabilidade enunciativa GRUPO CLASSIFICAÇÃO DO PDV MARCAS LINGUÍSTICAS DE RESPONSABILIDADE E DE NÃO RESPONSABILIDADE GRUPO A 1- PDV mediatizado ou grau

zero de responsabilidade enunciativa

2-

- diferentes tipos de representação da fala (discurso direto, direto livre, indireto, indireto livre e narrativizado);

- fenômenos de modalização autonímica;

- marcadores de discurso reportado, a exemplo de segundo, de acordo com, para etc.;

- marcas de asserção, quando referidas a terceira pessoa; - índices de pessoas;

- dêiticos espaciais e temporais;

- tempos verbais – com destaque especial para o futuro do pretérito, o condicional e o imperfeito;

- verbos de atribuição da fala como afirmam, dizem, consideram etc.;

- reformulações do tipo de fato, na verdade, em todo caso etc.;

- oposição do tipo alguns pensam (ou dizem) que X, nós pensamos (dizemos) que Y etc.;

- indicações de um suporte de percepções e de pensamentos relatados, desde que não acompanhados por índices de primeira pessoa;

- conectores (especialmente os adversativos);

- elementos gráficos e ortográficos, a exemplo de uso das aspas, uso de itálico, negrito etc.

GRUPO B PDV impessoal - enunciados impessoais; - construções com gerúndio.

GRUPO C PDV parcial ou quase-RE do tipo assumimos / concordamos com, nosso pensamento é semelhante a etc.;

- modalidades.

GRUPO D PDV total ou assunção da responsabilidade

enunciativa

- marcas de asserção, quando referidas a primeira pessoa;

- índices de pessoas;

- dêiticos espaciais e temporais;

- tempos verbais com destaque para o presente;

- indicações de um suporte de percepções e de pensamentos relatados, quando acompanhados por índices de primeira pessoa;

- exclamações - atos de fala. Fonte: GOMES (2014)

Ressaltamos, igualmente, que para a construção da sequência didática, utilizamos as marcas propostas por Gomes (2014).