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Autonomia e supremacia da comunidade científica : os acordos internacionais da FAPESP

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Academic year: 2021

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AMANDA ALMEIDA DOMINGUES

AUTONOMIA E SUPREMACIA DA COMUNIDADE CIENTÍFICA: OS ACORDOS INTERNACIONAIS DA FAPESP.

CAMPINAS 2015

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NÚMERO: 320/2015 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

AMANDA ALMEIDA DOMINGUES

“AUTONOMIA E SUPREMACIA DA COMUNIDADE CIENTÍFICA: OS ACORDOS INTERNACIONAIS DA FAPESP.”

ORIENTADORA: PROFA. DRA. MARIA CONCEIÇÃO DA COSTA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRA EM POLÍTICA CIÊNTÍFICA E TECNOLÓGICA.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA AMANDA ALMEIDA DOMINGUES E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. MARIA CONCEIÇÃO DA COSTA

CAMPINAS 2015

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Geociências Cássia Raquel da Silva - CRB 8/5752

Domingues, Amanda Almeida,

D713a DomAutonomia e supremacia da comunidade científica : os acordos

internacionais da FAPESP / Amanda Almeida Domingues. – Campinas, SP : [s.n.], 2015.

DomOrientador: Maria Conceição da Costa.

DomDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

Dom1. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

. 2. Ciência e Tecnologia. 3. Cooperação Internacional. I. Costa, Maria Conceição da,1956-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Autonomy and supremacy of the scientific community : FAPESP's international agreements.

Palavras-chave em inglês: FAPESP

Science and Technology International Collaboration

Área de concentração: Política Científica e Tecnológica Titulação: Mestra em Política Científica e Tecnológica Banca examinadora:

Maria Conceição da Costa [Orientador] Cristina de Campos

Elizabeth Balbachevsky Data de defesa: 05-01-2015

Programa de Pós-Graduação: Política Científica e Tecnológica

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho não teria se realizado sem o auxílio de importantes pessoas e instituições. Sou imensamente grata ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico que apoiou financeiramente a pesquisa e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo que muito gentilmente disponibilizou diversos materiais, bem como o tempo de seus diretores e assessores para me receber.

Agradeço da mesma forma o Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas e seus docentes, em especial à professora Maria Conceição da Costa, minha orientadora.

Sou igualmente grata à professora Elizabeth Balbachevsky que dedicou seu tempo para discutir e comentar o trabalho.

A todos os colegas, amigos e familiares que indiretamente contribuíram para discussões sobre o tema, metodologias e ideias, mesmo sem compreender muito bem o objetivo do estudo.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

AUTONOMIA E SUPREMACIA DA COMUNIDADE CIENTÍFICA: OS ACORDOS INTERNACIONAIS DA FAPESP.

RESUMO

Dissertação de Mestrado Amanda Almeida Domingues

Não há dúvidas de que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) é uma das principais agências brasileiras financiadoras da colaboração internacional. Considerando a importância que conquistou, é preciso compreender e explorar a forma como a FAPESP se ergueu e se sustentou como tal.

Este trabalho pretende analisar as características da colaboração internacional em pesquisa da FAPESP e como elas são operacionalizadas internamente com o objetivo de compreender tanto os fatores domésticos e internacionais que levaram a instituição a destinar uma grande parcela de seus recursos à cooperação internacional atualmente, quanto a forma como as comunidades científicas paulista e brasileira são afetadas por este fenômeno.

Em termos metodológicos, este trabalho consiste em um estudo exploratório descritivo que comporta uma fase de revisão e coleta de dados – materiais institucionais e entrevistas com a Diretoria Científica – e uma etapa de análise dos resultados obtidos por meio de métodos quali e quantitativos.

À primeira vista, seria possível presumir que, assim como sua contraparte federal (o CNPq), a agência seguiria uma estratégia bem delineada de cooperação internacional, com propósitos e objetivos bem definidos e que parte desta estaria intimamente ligada a metas de interesse do governo estadual. Os resultados, no entanto, apontam para um cenário diferente. Umas das maiores financiadoras da colaboração internacional em ciência e tecnologia do país não possui uma área de relações internacionais institucionalizada e, portanto, as parcerias são estabelecidas de forma variantes, dependendo de uma série de conjunturas específicas. Ademais, o ciclo de negociação e implementação dos acordos internacionais é confiado à comunidade de pesquisa, o que fortalece a histórica autonomia da FAPESP em relação governo estadual.

Palavras chaves: Ciência e Tecnologia, Cooperação Internacional, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

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UNIVERSITY OF CAMPINAS INSTITUTE OF GEOSCIENCE

AUTONOMY AND SUPREMACY OF THE SCIENTIFIC COMMUNITY: FAPESP’S INTERNATIONAL AGREEMENTS.

ABSTRACT

Masters Degree

Amanda Almeida Domingues

There is no doubt that São Paulo Research Foundation (FAPESP) is one of Brazil’s main agencies in terms of funding international collaboration. Considering its current importance it is essential to understand and explore how FAPESP rose and held up as such.

This dissertation discusses FAPESP’s international collaboration characteristics and how they are internally operationalized. The objective is to understand the domestic and international factors which led the institution to allocate a large portion of its resources to international cooperation today, and how São Paulo and Brazilian scientific communities are affected by this phenomenon.

In terms of methodology, this work is a descriptive exploratory study that includes a review and data collection – from institutional materials and interviews – phases as well as a result analysis conducted by qualitative and quantitative methods.

One might assume that as its federal counterpart (CNPq) FAPESP would follow a well-designed strategy of international cooperation with clear aims and objectives closely linked to state goals. The results, however, show a different scenario. FAPESP does not have an institutionalized area of international relations and therefore partnerships are established in variants ways, depending on the situation. In addition, the international agreement negotiation and implementation phases are entrusted to the scientific community, which strengthens FAPESP’s historical autonomy from state government.

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xiii SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO I–CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE A COLABORAÇÃO INTERNACIONAL EM C&T ... 7

1.1. A colaboração internacional em C&T na atualidade ... 7

1.2. Conceito ... 12

1.2.1. Do Estado e dos cientistas ... 13

1.2.2. Das agências de fomento ... 16

1.3. Alguns outros pontos sobre a colaboração internacional ... 17

1.4. Atores das colaborações internacionais ... 21

1.4.1. Agências de Fomento ... 24

1.5. Os elementos da cooperação internacional. ... 28

1.6. Oportunidades e obstáculos das atividades colaborativas ... 35

1.7. O crescimento da colaboração internacional em C&T ... 43

1.8. A atuação internacional de unidades subnacionais ... 53

CAPÍTULO II-A TRAJETÓRIA E AS CARACTERÍSTICAS DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL EM C&T DA FAPESP ... 59

2.1. O contexto: a cooperação internacional brasileira em C&T ... 59

2.2. A trajetória institucional da FAPESP ... 63

2.3. A promoção da colaboração internacional na FAPESP ... 65

2.3.1. Objetivos e limites cooperativos. ... 66

2.3.2. A atratividade da FAPESP ... 69

2.3.3. A autonomia financeira e política e a colaboração internacional. ... 72

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2.3.5. Outras atividades ... 80

2.3.6. Os acordos internacionais. ... 84

2.4. O ciclo dos acordos de cooperação internacional da FAPESP. ... 98

2.4.1. Negociação e tramitação interna ... 98

2.4.2. Implementação ... 104 2.4.3. Avaliação ... 105 2.5. Primeiras considerações ... 106 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 109 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 119 ANEXOS ... 131

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES (FIGURAS, QUADROS, TABELAS E GRÁFICOS)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Os atores das colaborações internacionais. ... 23

Figura 2 – Modalidades de coordenação do processo de pesquisa. ... 31

Figura 3- As principais causas do crescimento da colaboração internacional em C&T. ... 51

Figura 4 – Países parceiros da FAPESP em acordos de cooperação em C&T. ... 91

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xvii LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Oportunidades e Obstáculos das colaborações internacionais em C&T. ... 41 Tabela 2 – Bolsas no exterior, segundo a área de conhecimento: Capes, CNPq, FAPESP, 1971. 74 Tabela 3 – Número de bolsas concedidas a estudos no exterior 1963-1973. ... 76 Tabela 4 - Evolução do número de auxílios concedidos a atividades no exterior 1974- 1991. ... 76 Tabela 5 - Evolução do número de auxílios concedidos a atividades no exterior 1992-2012. ... 77 Tabela 6 – Número de bolsas concedidas no âmbito do programa BEPE segundo modalidade para os anos de 2011 e 2012. ... 78 Tabela 7 – Bolsas e auxílios em convênio com entidades de apoio à pesquisa e formação de pesquisadores no exterior – 1962 a 2001. ... 85 Tabela 8 – Número de acordos com instituições internacionais por ano de assinatura. ... 89 Tabela 9 – Número de acordos de cooperação internacional em C&T entre FAPESP e instituições parceiras por país parceiro. ... 92 Tabela 10 – Número de auxílios concedidos no âmbito das parcerias internacionais da FAPESP por país parceiro. ... 94 Tabela 11 – Número de auxílios por área do conhecimento. ... 96

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xix LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABC – Agência Brasileira de Cooperação

AFEPA – Assessoria Especial de Assuntos Federativos e Parlamentares AKA – The Academy of Finland

ANR – Agence Nationale de la Recherche

ATN – Australian Technology Network of Universities AUF – Agence Universitaire de la Francophonie BEPE – Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior BMBF – Ministério alemão de Educação e Pesquisa C&T – Ciência e Tecnologia

CAD – Coordenador Adjunto

CALDO – Consortium of Alberta, Laval, Dalhousie and Ottawa

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CERN - European Organization for Nuclear Research

CGIAR – Consultative Group on International Agricultural Research CIAM – Colaboração Interamericana em Materiais

Cirad – Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento CIRM – California Institute for Regenerative Medicine

CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNRS - Centre National de la Recherche Scientifique

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CONICET – Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas CS – Conselho Superior

CTA – Conselho Técnico Administrativo CVC – Clorose variegada dos citros DA – Diretor de Área

DAAD - Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico DC – Diretoria Científica

DCSR – Danish Council for Strategic Research DFG – Deutsche Forschungsgemeinschaft

DGOEER – Direction Générale Opérationnelle Economie, Emploi & Recherche du Service Public de Wallonie

ENS – Ecole Normale Supérieure

ESRC – Economic and Social Research Council

FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia

FUP – Fundos Universitários de Pesquisa GF – Gerência Financeira

IANAS – The Inter American Network of Academies of Science IFS – International Foundation for Science

Inra – Institut National de la Recherche Agronomique

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Inserm – Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ISTP – International Science and Technology Partnerships Program IUPAC – International Union of Pure and Applied Chemistry

MBL – Marine Biological Laboratory

MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts MRE – Ministério das Relações Exteriores NIH – National Institute of Health

NSERC – Natural Sciences and Engineering Research Council of Canada NSF – National Science Foundation

NWO – Organização Holandesa para a Pesquisa Científica

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OEA – Organização dos Estados Americanos

ONSA – Organization for Nucleotide Sequencing and Analysis ONU – Organização das Nações Unidas

OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PIB – Produto Interno Bruto

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SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SPS – Programa para Paz e Segurança

STIC-AmSud – Ciência e Tecnologia da Informação e da Comunicação para a América do Sul STMWFK – Ministério de Estado de Ciências, Pesquisa e das Artes do Estado Livre da Baviera STO – Organização da OTAN para Ciência e Tecnologia

TICs – Tecnologias de Informação e Comunicação TWAS – Third World Academy of Sciences USP – Universidade de São Paulo

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1 INTRODUÇÃO

A ciência é considerada motor do progresso e estratégia chave para a aproximação das esferas política e econômica, sendo cada vez mais um componente transversal de várias atividades econômicas e sociais (SILVA, 2007). Com a expansão dos processos de globalização1 e internacionalização2, a esfera da ciência e da tecnologia também passou por diversas transformações. A primeira e uma das mais notáveis é o fato de que a produção do conhecimento está baseada hoje na interação crescente entre cientistas, indivíduos e organizações que constituem ao mesmo tempo fonte e usuários de conhecimento (BAUD, 2001). Transformação também importante foi a mudança da trajetória em direção a uma maior integração da comunidade internacional, tirando a ênfase da competitividade e individualidade e a colocando na cooperação e na vida em grupo (GEORGHIOU, 1998). Atualmente, a produção do conhecimento científico depende cada vez mais de pesquisas conduzidas em outros países (VELHO, 2002). Assim, parcerias entre diversos tipos de atores se tornaram importante meio de troca de informações, recursos e criação de ideias inovadoras (OPSCHOOR, 2001), com a coordenação de uma variedade de esforços (PRIMI, 2010). De todos estes elementos e de outros, a serem discutidos neste trabalho, deriva a importância da colaboração para o estudo da produção e disseminação do conhecimento.

Considerando o inédito crescimento atual das atividades de colaboração internacional em ciência e tecnologia (C&T) e o maior reconhecimento de que estas afetam de forma positiva o desenvolvimento da ciência e da economia e possibilita o enfrentamento conjunto de desafios globais (como as mudanças climáticas, questões de saúde e recursos energéticos renováveis), algumas questões a respeito desta colaboração ainda se apresentam como uma

1 Fenômeno que ultrapassa a esfera da economia, a globalização tem também natureza tecnológica, cultural, política e está intrinsecamente relacionada ao progresso das comunicações a partir dos anos 1960 do século XX. Segundo Giddens (1990), o termo se refere à intensificação das relações sociais mundiais (em seus vários aspectos) em diferentes partes do globo, conectando países, instituições, comunidades, indivíduos. Desta forma, acontecimentos locais influenciam decisões, comportamentos, eventos em outras localidades.

2 Segundo Miura (2006), a internacionalização se configura tanto uma resposta quanto um catalisador da globalização. Primeiramente ela representa respostas a um mundo cada vez mais conectado e interdependente, no qual a informação é aspecto essencial para os interesses regionais, nacionais e internacionais. Por outro lado, ela é um agente da aproximação econômica e comercial e consequentemente cultural, científica e tecnológica.

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caixa preta. No caso brasileiro, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado3 de São Paulo (FAPESP) é o caso mais enigmático: como se deu a evolução e que características marcam a atual cooperação internacional em pesquisa da FAPESP? Como essas características estão relacionadas ao fenômeno da colaboração internacional no Brasil como um todo? Que implicações esse desenvolvimento tem atualmente para uma das maiores e mais produtivas comunidades científicas do Brasil?

O objetivo principal deste trabalho é, portanto, compreender as características das políticas de Cooperação Internacional em Pesquisa da FAPESP a partir dos primeiros anos do século XXI - quando ocorreu a intensificação das atividades de cooperação internacional em C&T da FAPESP – bem como investigar seu processo de criação e implementação. A FAPESP foi escolhida, pois é uma das principais agências brasileiras de financiamento à pesquisa, com intensa atuação e iniciativas internacionais.

O foco do presente trabalho é a Cooperação Internacional em Pesquisa, ou seja, a colaboração internacional para o desenvolvimento conjunto de projetos científicos. Estas atividades representam somente parte da totalidade de ações em colaboração desenvolvidas por duas nações – que incluem também mobilidade de pesquisadores, trocas de materiais, entre outros – porém, foram escolhidas devido ao forte estímulo que recebem dos Estados e de seus órgãos atualmente.

O objetivo principal se decompõe em três objetivos específicos, essenciais para a realização do primeiro. Num primeiro momento, pretende-se compreender e analisar as características da colaboração internacional em pesquisa da FAPESP (objetivos, instrumentos foco, atores, entre outros), bem como a forma como esta é operacionalizada internamente, ou seja, seu ciclo de negociação, implementação e avaliação. Em um segundo momento, o trabalho estará voltado a compreender os fatores domésticos e internacionais que levaram a instituição a destinar uma grande parcela de seus recursos à cooperação internacional atualmente. Como forma de avançar o conhecimento sobre o tema de colaboração internacional em C&T no Brasil, o terceiro objetivo específico diz respeito à reflexão de como estas características afetam as comunidades científicas paulista e brasileira e como as

3 No âmbito deste trabalho é importante diferenciar o Estado do estado. O primeiro caracteriza o Estado Nação, enquanto o segundo diz respeito às unidades federativas dentro de um país.

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primeiras influenciam o desenvolvimento do fenômeno da colaboração internacional em C&T no Brasil como um todo atualmente.

Em termos metodológicos, este trabalho consiste em um estudo exploratório descritivo e seu desenho de pesquisa comporta, basicamente, duas fases. A primeira fase consiste na revisão e coleta de dados e a segunda na análise dos resultados obtidos. O estudo está fundamentado em uma ampla revisão bibliográfica sobre o tema proposto e na coleta de dados, por meio de entrevistas semiestruturadas e materiais institucionais: relatórios anuais desde o ano de 2001, publicações diversas disponíveis no web site da FAPESP, diversas páginas de seu web site dedicadas aos acordos e editais de colaboração internacional e a Revista Pesquisa FAPESP, publicação própria da instituição, além de publicações de outras instituições dedicadas aos temas da colaboração internacional em C&T, como o Jornal da Ciência, por exemplo. Estes materiais possibilitam e investigação dos objetivos, meios e instrumentos utilizados pela instituição para promover ações colaborativas em C&T que fazem parte dos objetivos específicos deste trabalho.

Foram realizadas sete entrevistas com os Diretores de Áreas da, com a Assessora Especial da Diretoria Científica, e com o Diretor Científico, Professor Doutor Carlos Henrique de Brito Cruz.

A dissertação trabalha com duas principais hipóteses. A primeira diz respeito à institucionalização da Cooperação Internacional da instituição. Inicialmente, supôs-se que, assim como sua contraparte federal (o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq) e muitas outras agências de renome internacionais, a FAPESP (muito inspirada pela experiência da National Science Foundation) seguiria uma estratégia bem delineada de cooperação internacional, com propósitos e objetivos bem definidos e que parte desta estaria intimamente ligada a metas de interesse do governo estadual.

Após uma minuciosa análise quantitativa e qualitativa dos acordos vigentes e expirados e de seu processo de negociação, implementação e avaliação, a percepção inicial foi refutada. A FAPESP não possui uma área de relações internacionais institucionalizada, mas este fato não a impede de ter um ciclo de decisão e implementação organizado. As parcerias são estabelecidas de forma variadas, dependendo de uma série de conjunturas específicas, como encontros casuais com parceiros, disponibilidade de certas verbas por parte destes, entre

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outras. As decisões sobre cooperação internacional estão concentradas na Diretoria Científica da instituição e também estão condicionadas aos interesses dos parceiros.

A falta de um setor específico para gestão dos acordos de colaboração internacional não afeta de forma significativa a condução dos trabalhos na FAPESP, com exceção de uma considerável sobrecarga de trabalho de alguns funcionários com cargos de diretoria. Em termos estratégicos, a informalidade das decisões serve aos princípios da FAPESP de resguardar e executar o interesse da comunidade científica paulista.

A segunda hipótese versa sobre os fatores explicativos do grande crescimento de acordos colaborativos e aceitação destes pela comunidade científica paulista. Nosso entendimento é que a histórica autonomia da FAPESP em relação ao governo estadual - não somente em termos financeiros, mas também de decisão da agenda científica - e a grande participação da comunidade científica paulista na gestão das atividades da FAPESP - aproximando-a, assim, das instâncias decisórias na instituição - conformam os dois principais elementos que explicam o vultoso investimento da FAPESP em colaborações internacionais.

No âmbito deste trabalho, foi explorada uma extensa revisão bibliográfica, contendo artigos de periódicos nacionais e internacionais, bem como relatórios sobre o tema de instituições internacionais renomadas como a União Europeia, a Royal Society e a Rand Corporation e foram realizadas entrevistas semiestruturadas com formuladores de política da FAPESP e Diretores de Áreas. As entrevistas se justificam pelo fato de o trabalho exigir dados que não estão disponíveis em registros e fontes documentárias, tornando-as elemento essencial ao estudo. O presente projeto procura compreender quais são e como a FAPESP articula os fatores que motivam e limitam suas atividades de cooperação internacional, sendo crucial, para este objetivo, a compreensão da perspectiva da própria instituição sobre o tema.

Várias razões sustentam a relevância deste tema, não somente para os estudos em C&T, mas também para outros campos da ciência como os estudos brasileiros, de política externa e de políticas públicas. Poucos trabalhos brasileiros se concentram nas políticas nacionais de cooperação internacional em C&T nacionais, mesmo depois do reconhecimento pela sociedade da importância destas para o desenvolvimento nacional e para a construção de capacidades em C&T. O investimento em C&T representa não somente ganhos em termos de capacitação tecnológica e obtenção de vantagens nos campos relacionados à C&T, mas

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também é uma porta de entrada para outras relações nos campos econômico, político, diplomático, ambiental e etc.

As atividades de colaboração internacional em C&T têm crescido significativamente nas últimas décadas, representando um desenvolvimento inédito na história. Este crescimento foi causa e consequência do maior envolvimento de atores no tema, tanto no âmbito político, como governos e prefeituras, mas também fora deste, como empresas, por exemplo. A principal consequência disto foi o maior apelo de diversos atores – até mesmo aqueles não pertencentes à C&T - ao aumento de investimentos e engajamento em colaborações internacionais. Desta forma, o governo passa a se destacar neste cenário por ser um dos principais investidores nestas atividades e por ser responsável pela formulação, negociação, implementação e avaliação de políticas de cooperação internacional em C&T. No entanto, estes atores enfrentam importantes desafios relacionados a estas atribuições que precisam ser conhecidos e estudados para que o ciclo destas políticas seja constantemente aprimorado.

Com o intuito de explorar os objetivos apresentados, este trabalho está dividido em três capítulos. A dissertação se inicia com uma revisão completa a respeito do tema de colaboração internacional em C&T, para que o leitor possa se familiarizar com as diversas dimensões e características do fenômeno atual das colaborações internacionais. O capítulo está dedicado a esclarecer conceitos sobre o tema, - atestando sua importância - oportunidades e obstáculos que este fenômeno gera, bem como apresentar as principais teses que explicam seu crescimento inédito nos últimos anos.

O segundo capítulo aborda a trajetória e as características da cooperação internacional em C&T da FAPESP. Para tanto, esta seção apresenta brevemente o contexto atual da colaboração internacional em C&T no Brasil, ressaltando características particulares do cenário nacional, bem como os atores que vem contribuindo para seu desenvolvimento. Este breve histórico é fundamental para o entendimento do contexto de formação e institucionalização da FAPESP, bem como do desenvolvimento de suas atividades de promoção à cooperação internacional - temas também apresentados no capítulo.

Um dos principais tópicos deste capítulo é a investigação dos mecanismos utilizados pela fundação para estimular atividades em cooperação: os auxílios regulares, os acordos

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internacionais e outros. Nesta seção, serão apresentadas as principais características e transformações destes tipos de assistência, que existem, em sua maioria, desde a institucionalização da fundação na década de 1960. No mesmo capítulo, os acordos internacionais serão explorados com mais detalhes, pois estimulam diretamente o foco do presente trabalho: a Cooperação Internacional em Pesquisa. A dissertação segue com a análise dos acordos de cooperação e das características da formulação e implementação destes, o que contribuirá para o desenvolvimento de futuros trabalhos sobre o desempenho dos programas de cooperação internacional da instituição. Além disso, no contexto apresentado de intensificação de colaborações internacionais e de reconhecimento, por parte dos atores públicos, da importância política, econômica, social e científica que elas podem gerar, é crucial conhecer os objetivos e as características das ações empreendidas por estes atores para que se possa compreender os desafios que encontrarão e como superá-los.

O terceiro capítulo aborda o tema específico deste trabalho, a colaboração internacional em C&T na FAPESP: as características de suas políticas de Colaboração Internacional, seus fatores determinantes e como elas afetam o desenvolvimento da C&T no Brasil e sua comunidade de pesquisa. Nele, são apresentadas as principais conclusões da pesquisa.

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CAPÍTULO I–CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE A COLABORAÇÃO INTERNACIONAL EM C&T

1.1. A colaboração internacional em C&T na atualidade

As colaborações internacionais em C&T4, até o final da década de 60 do século XX, eram vistas como um dentre os diversos componentes das relações culturais entre as nações, aspecto relevante nas negociações políticas, estas sim de fundamental importância (TONI, 1994). Foi somente na década de 1970 - quando se percebeu a influência política e o controle que os grandes conglomerados norte-americanos tinham sobre a C&T - que estas foram reconhecidas como relevantes às relações internacionais (SKOLNIKOFF, 1993)5.A partir daí, a colaboração apresentou um crescimento sem precedentes e recebeu apoio e estímulo de governos, instituições de financiamento à pesquisa e outros órgãos públicos.

A partir do seu desenvolvimento e dos benefícios que gera6, a colaboração científica é um pré-requisito da ciência moderna (MELIN; PERSSON, 1996) e passou a ser um aspecto contemporâneo importante da organização da ciência (BEAVER; ROSEN, 1978).O contato internacional é tratado pela sociologia da ciência como um aspecto inerente à organização social da atividade científica. A colaboração internacional em C&T está fundada na idéia da existência de um ethos científico marcado por imperativos institucionais que revelam, pelos princípios do universalismo, comunismo, desinteresse e ceticismo, a existência de padrões e critérios universais que caracterizam o método científico7 (MERTON, 1967). Essa moral

4 Para uma referência mais completa sobre a história da cooperação internacional em C&T, vide Price; Beaver (1966), Crane (1975), Beaver e Rosen (1978), Miquel e Okubo (1993), Lopes (1997), Georghiou (1998), Gaillard (1998), Wagner (2000), Celis (2002).

5 A partir desta percepção, a maior parte das nações adota o chamado Paradigma Amplo das Colaborações Internacionais (COMISSÃO EUROPEIA, 2009) no qual objetivos não relacionados à dinâmica científica, como econômicos, financeiros, políticos e diplomáticos interagem com objetivos intrínsecos à ciência e orientados a ela. Hoje, a cooperação em C&T é reconhecidamente um meio para atingir outras finalidades políticas (COMISSÃO EUROPEIA, 2009).

6 Vide tópico oportunidades e obstáculos.

7 O ethos científico é composto por quatro imperativos institucionais (MERTON, 1977). O universalismo diz respeito à existência de padrões e critérios universais que caracterizam o método científico. O comunalismo, o desinteresse e o ceticismo organizado formam os outros três imperativos da teoria de Merton. O primeiro concebe a ciência como patrimônio da humanidade, o segundo como uma atividade livre de influências, e sem

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aproxima os cientistas, permitindo que a ciência transcenda as fronteiras nacionais e estimule o contato internacional(FRAME; CARPENTER, 1979).

A alta e fácil disponibilidade de informações permitida pelo desenvolvimento da internet criou um fluxo maior de troca de experiências e ideias, facilitando o desenvolvimento da C&T. Nos dias de hoje, a cooperação internacional em C&T e a mobilidade se tornaram uma condição importante quando se tem em mente a carreira acadêmica e o impacto da pesquisa (COMISSÃO EUROPÉIA, 2009). Percebe-se cada vez mais que os grandes desenvolvimentos da C&T são fruto das colaborações internacionais, que se tornaram fundamentais para a elaboração e execução de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento científico e tecnológico nacional (DUARTE, 2008). Atualmente, a colaboração internacional em C&T não vem somente crescendo de forma quantitativa, mas está mudando a organização, a condução e o rendimento da pesquisa científica. Este aumento torna a pesquisa científica mais globalizada, colaborativa e distribuída, ou seja, um crescente número de países participa da ciência global e desenvolve capacidades científicas e uma maior proporção de projetos e publicações resulta de colaborações entre investigadores de diversos países, envolvendo grupos cada vez mais afastados e expertise mais dispersa8 (WAGNER et al., 2001). As fronteiras nacionais não têm o mesmo significado para as atividades científicas como antes e seus resultados não são explorados necessariamente em sua origem.

Há o reconhecimento cada vez maior, pelos atores envolvidos com a ciência e pela comunidade em geral, de sua importância, não somente para a realização de objetivos relacionados à dinâmica científica, como o desenvolvimento de capacidades tecnológicas e a atração de talentos em determinadas disciplinas, mas também a fundamental contribuição da colaboração internacional em C&T para outras esferas, como a econômica e a política. A cooperação permite uma aproximação com outras nações, o que proporciona espaço para diálogos em assuntos de interesse econômico –atração de investimentos internacionais e o aprimoramento da competitividade nacional - político - a garantia da segurança nacional e o apoio ao enfrentamento de desafios globais - diplomático – a assistência a países não

preconceitos e o terceiro como algo passível de teste e aprovação junto à comunidade especializada. Os quatro imperativos fundamentam os métodos da ciência.

8 Evidências deste processo são o aumento da importância de projetos da Big Science e a extensão de seu modelo, como por exemplo, o Conselho Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN da sigla em francês) e o projeto Genoma.

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desenvolvidos e a manutenção do papel de doador internacional - e cultural– desvendar aspectos históricos importantes e preservar material cultural. A sociologia da ciência afirma que o aspecto internacional é inerente à dinâmica científica (CELLIS, 2002). O crescimento das colaborações internacionais, o maior envolvimento de órgãos e instituições do governo e supranacionais comprovam esta tese, atestando a essencialidade do envolvimento internacional para o avanço da ciência que também contribuiu para a transformação da organização, condução e rendimento da pesquisa científica.

No entanto, a colaboração internacional apresenta hiatos importantes que devem ser mencionados. Um importante resultado do fenômeno da colaboração internacional em C&T é a transferência de habilidades e conhecimentos entre nações. Porém, esta transferência não ocorre de maneira igual entre todas elas. O conhecimento se concentra bem mais que o capital, gerando grandes defasagens entre o "norte" e o "sul" (VELHO, 2002). Dados da UNESCO de 1996 revelam que enquanto a média de renda per capita dos 24 países mais ricos é cerca de 60 vezes maior que a dos 50 países mais pobres, a média de gastos com C&T dos primeiros é 250 vezes maior que a dos últimos (UNESCO, 1996). Os países desenvolvidos gastam cerca de 2% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), enquanto países em desenvolvimento gastam cerca de 0,5% e possuem 10 vezes menos cientistas, per capita, que seus colegas do norte (OPSCHOOR, 2001). Estimativas (KERWIN, 1981) afirmam que 20% dos povos mais avançados fazem 95% da P&D no mundo e somente seis países são responsáveis por cerca de 90% da P&D global (CGEE, 2006). Segundo Hassan (2010) há cerca de 25 países com capacidades fortes em CT&I, a maioria deles membros da OCDE. Nações com capacidade moderada em CT&I são em torno de 100 e incluem países do mundo em desenvolvimento; e 77 nações, em sua maioria países subsaarianos e do mundo islâmico, possuem fraca capacidade em CT&I.

O grau de colaboração internacional em C&T destes países acompanha esta tendência: os países do norte têm apresentado altas taxas de crescimento em todas as dimensões da atividade colaborativa9 (VELHO, 2002), enquanto os países do sul não apresentam taxas tão altas e lutam por um maior reconhecimento de sua atividade científica na comunidade

9 De 1985 a 1995, a produção de artigos científicos de países europeus dobrou e a produção de artigos com países avançados fora da Europa aumentou em três vezes.

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internacional. A distância entre os países do norte e do sul em termos de acesso ao conhecimento e ao potencial para desenvolvê-lo continua crescendo, disso deriva a importância de programas que visam atacar estas assimetrias (OPSCHOOR, 2001).

Uma consequência deste fenômeno é a necessidade de países do sul desenvolverem parcerias com países do norte com o objetivo de adquirir capacidades e progredir em termos de C&T, o que acaba fazendo destes os maiores parceiros dos primeiros. Colaborações norte-sul10 ocorrem entre países interessados no desenvolvimento da ciência em geral e entre aqueles que possuem uma agenda voltada ao desenvolvimento econômico (OPSCHOOR, 2001). Elas contribuem significativamente para a construção e o fortalecimento de capacidades de pesquisa no sul11 (VELHO, 2002) como, por exemplo, a maior integração de parceiros do sul na comunidade científica, o aprimoramento de habilidades científicas e de gestão, a crescente produção científica, entre outros.

O Brasil, em muitas áreas do conhecimento, não é um país reconhecido por sua excelência científica e, portanto, em suas relações colaborativas os cientistas brasileiros ocupam mais a posição de receptores do que doadores de conhecimentos científicos e tecnológicos. No entanto, além de crescer consideravelmente nos últimos anos (LOTURCO, 2009), existem certas áreas nas quais o país possui uma expertise superior, como é o caso da Agricultura e da Parasitologia (ADAMS; KING, 2009). Neste novo contexto, a colaboração parece se readaptar, transformando as antigas relações subordinadas em novos relacionamentos mais simétricos.

A disparidade identificada entre nações também ocorre no nível nacional, ou seja, dentro de regiões de vários países. As atividades científicas e os investimentos em C&T estão distribuídos de forma desigual devido a uma série de fatores de ordem histórica, geográfica, econômica, política e geopolítica. Nos Estados Unidos, por exemplo, no ano de 2004, dez estados recebiam mais de três quintos do investimento em P&D, com a Califórnia recebendo mais de um quinto deste (ROYAL SOCIETY, 2011). Em grande parte dos países do mundo,

10 Também denominada de cooperação vertical, que ocorre entre países com diferentes níveis de desenvolvimento científico e tecnológico. As colaborações que ocorrem entre nações com níveis de desenvolvimento semelhantes é também chamada de horizontal.

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Algumas disciplinas científicas (como a física de altas energias) dependem fundamentalmente da cooperação internacional com grandes centros de pesquisa internacionais e países avançados para serem desenvolvidas em países do sul, como o Brasil, por exemplo.

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certas regiões concentram grande parte da produção científica nacional, como é o caso de Moscou – com 50% da produção científica russa- Teerã, Praga, Budapeste e Buenos Aires - 40% da produção de seu respectivo país - e Londres, Paris, Pequim e São Paulo – mais de 20% da produção nacional (ROYAL SOCIETY, 2011).

O exemplo da FAPESP ilustra muito bem a disparidade nacional brasileira em termos de C&T. O estado de São Paulo está entre os mais desenvolvidos do país, pois concentra grandes instituições públicas de pesquisa12, universidades de qualidade e em termos econômicos, possui grandes indústrias, comércio e centros financeiros, fato que contribui para justificar a grande arrecadação de impostos. Um por cento desta arrecadação é repassado automaticamente para a FAPESP que, como será mostrado, goza de autonomia financeira e política e desfrutando de uma série de características favoráveis, sabe não somente explorar o interesse internacional nas áreas de expertise brasileira, como também investe em temas de relevância internacional, na chamada ciência internacional. Este tema será tratado com mais detalhes adiante, mas é importante notar aqui que a busca pelo reconhecimento e prestígio determinam o financiamento desta ciência internacionalizada e de relevância internacional que, atualmente, logra atrair o interesse da comunidade científica internacional.

O que se percebe é que apesar da fundamental importância do envolvimento internacional e dos inúmeros benefícios que a colaboração pode gerar para os indivíduos e nações, ainda existem hiatos importantes entre os países parceiros e até mesmo dentro de um mesmo país. No primeiro caso, o contraste ocorre devido aos diferentes níveis de investimento em C&T, acarretando no desenvolvimento desigual de capacidades. Países desenvolvidos têm condições de investir mais recursos em C&T do que países pobres e por este motivo apresentam níveis de excelência científica maior do que os países em desenvolvimento. O segundo caso representa diferenças significativas em relação à distribuição de atividades e investimentos em C&T dentro de um mesmo país. Como visto, em inúmeras nações existem regiões mais desenvolvidas, produtoras de grande parte do conhecimento científico nacional e de outro lado, regiões mais pobres que continuam à margem do desenvolvimento cientifico e tecnológico.

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A hierarquia gerada por estas diferenças, em especial entre as nações, resulta em uma cooperação não igualitária que segue os moldes (forma de condução e apropriação dos resultados) e os objetivos dos parceiros mais ricos ou mais influentes. Diversas soluções para este hiato foram propostas e houve tentativas de implementação, compreendendo a construção de agendas autônomas, o envolvimento mais ativo de parceiros do sul e o foco na aplicação dos resultados das pesquisas (GAIILLARD, 1998). Porém a constituição de um consenso não foi possível e ainda representa uma barreira importante para o avanço destas parcerias. Ademais, os recursos necessários para viabilizar estas soluções nem sempre estão disponíveis às nações do sul ou não podem ser despendidas pelos países do norte. Outras envolvem atores e estruturas fora do campo da C&T, o que complica a situação.

Desta forma, é possível compreender que a teoria da dependência – segundo a qual países menos desenvolvidos mantêm relações de dependência econômica com países desenvolvidos – é tão válida para o desenvolvimento econômico quanto para a C&T (COMISSÃO EUROPEIA, 2009). A dominação da Europa Ocidental e Estados Unidos em termos de publicação mundial de artigos é uma evidência que corrobora esta afirmação. Este domínio cria dependências estruturais entre as nações mais desenvolvidas em termos científicos e os países menos desenvolvidos.

1.2. Conceito

Qualificar cooperação internacional em C&T não é uma tarefa simples. O conceito13 pode englobar diversas atividades distintas com diferentes níveis de interação e número de parceiros. Há muitas definições do termo, variando conforme a visão do autor sobre o tema.

Existem duas principais literaturas sobre cooperação internacional que são relevantes para este trabalho. A primeira delas, a mais conhecida, difundida e com maior número de

13É importante citar que alguns teóricos, como Silva (2007) diferenciam os termos cooperação e colaboração. Segundo estes, colaboração é uma relação assimétrica e não equitativa, tendo, de um lado, um ator principal responsável pela parceria e proprietário dos resultados e, de outro, seus coadjuvantes. Já cooperação é uma relação mais igualitária que privilegia o diálogo, a negociação e a decisão conjunta, a definição de projetos em comum acordo e o compartilhamento de custos. Apesar de reconhecer que na prática há dois tipos de relações de parceria, uma mais assimétrica e uma mais equitativa, marcada mais pela coordenação do que pelo controle, no âmbito deste trabalho os dois termos serão tratados como semelhantes, preservando as diferenças existentes nas análises caso a caso.

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estudiosos adota a perspectiva dos cientistas e/ou do Estado de uma forma geral, ou seja, o olhar destes atores para as principais questões atuais sobre a colaboração em C&T.

1.2.1. Do Estado e dos cientistas

Desta perspectiva, a colaboração em C&T é entendida como o trabalho de um conjunto de pesquisadores com a missão de produzir novo conhecimento científico (KATZ; MARTIN, 1997). Já Wagner (2005) acredita que os atores trabalham em projetos científicos ou experimentações específicas com um mesmo objetivo. Merton (1967) define cooperação de forma mais ampla, como uma decisão conjunta de uma sociedade (a comunidade científica) na qual as regras são conhecidas, aceitas e respeitadas por seus membros.

Alguns autores definem o termo mais especificamente, com o objetivo de apoiar trabalhos empíricos, como Leclerc et al. que a precisam como o "conjunto de trabalhos cooperativos desenvolvidos entre dois ou mais indivíduos/instituições/países e identificado por meio de artigos coassinados" (LECLERC, 1992, p.142). Crane (1975) e Velho (1985) também definem cooperação como a coautoria de artigos, mas também englobam no conceito a comunicação informal. A primeira definição é bastante estudada e utilizada em diversos trabalhos empíricos, mas a segunda é difícil de ser avaliada, pois não gera necessariamente resultados concretos que possam ser mensurados.

Ainda da perspectiva dos cientistas e Estados, outra forma de encarar a cooperação internacional em C&T é pensá-la como sinônimo de assistência, ou seja, apoio financeiro concedido a projetos liderados por agências voltadas ao desenvolvimento econômico dos países do norte, como a United States Agency for International Development. Esta abordagem, mais comum entre teóricos da colaboração norte-sul, refere-se à cooperação como os recursos concedidos e os programas implementados para contribuir com o desenvolvimento e o fortalecimento de capacidades científicas em diferentes países (VELHO, 2002, p. 32). Há também a abordagem essencialmente política, que encara a colaboração, principalmente a internacional, como forma de materializar as relações internacionais (COSTA FILHO, 2006).

Estas definições apresentam alguns elementos complicadores, pois englobam diversas atividades distintas que se encaixam ou não no conceito de acordo com características próprias

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do observador que a define. Conselhos gerais, insights, participação em projetos de pesquisa e coautoria de artigos representam tipos diferentes de colaboração em C&T, variando de contribuições essenciais para o objetivo comum a insignificantes. Segundo Katz e Martin (1997), a maior dificuldade na definição do termo consiste em delinear os limites deste conceito, identificando a proximidade que os cientistas devem ter para que sua atuação seja considerada colaboração. Características específicas da área em que os cientistas atuam, do país em que conduzem a pesquisa e da época em que vivem influenciam a definição.

Então o que é exatamente a colaboração internacional em C&T da perspectiva dos cientistas e dos Estados e como ela se diferencia de uma colaboração nacional? Em geral, atores em colaboração são aqueles que: trabalham juntos em uma atividade de C&T durante parte considerável de sua duração; fazem contribuições significativas para seu desenvolvimento; estruturam a ideia original; e se responsabilizam por fases essenciais de seu desenvolvimento (KATZ; MARTIN 1997). Ou seja, a colaboração internacional em C&T consiste no trabalho conjunto de cientistas de dois ou mais países, cujo objetivo é concretizar um determinado interesse, possibilitando o intercâmbio de conhecimento. A construção de bases de dados internacionais, organização de conferências, coleta e manutenção de fundos para um laboratório internacional, estabelecimento de padrões técnicos, assistência técnica e assistência ao desenvolvimento são somente alguns exemplos (WAGNER, 2005).

Quando a colaboração envolve órgãos do Estado14, ela também representa um instrumento de política externa e de ampliação dos interesses externos de uma nação. A cooperação internacional em C&T passa a ser uma ação coordenada de dois ou mais Estados, com vistas a atingir resultados por eles julgados desejáveis e deve ser desenvolvida no conjunto do relacionamento internacional do país (AMORIM, 1994), pois ela é uma ferramenta poderosa de aprimoramento das relações internacionais, bem como de aproximação e manutenção de relações em outros campos, como o econômico, por exemplo. Neste contexto, a cooperação para o intercâmbio deve ser diferenciada da colaboração internacional em C&T, que compreende o compartilhamento de conhecimento e possui o

14 No plano internacional, a colaboração está guiada pelos pressupostos do respeito mútuo entre as soberanias, da autonomia na construção de objetivos e da alteridade. O princípio da alteridade diz respeito não somente ao respeito de um Estado pela existência de outro, mas também à afirmação da interdependência entre estes em diversos âmbitos, como o político, econômico, cultural, etc. (AMORIM, 1994).

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envolvimento ativo do Estado. No primeiro caso, em geral, o Estado não interfere no seu desenvolvimento e realização, pois há forte influência e iniciativa da comunidade de pesquisa15. Já no segundo caso, o Estado é um ator essencial que deve garantir e incentivar o desenvolvimento da comunidade de pesquisa e fornecer apoio institucional e financeiro para os programas, protegendo também a propriedade intelectual gerada (DUARTE, 2008)16. Desta forma, é possível conceber a cooperação internacional em C&T apoiada em três pilares fundamentais: o conhecimento, os cientistas e o Estado (DUARTE, 2008). Os cientistas geram e disseminam o conhecimento, sustentados por sua contínua busca por respostas e pelo desenvolvimento da ciência. O conhecimento é o objeto desses homens da ciência e o objetivo das propostas do Estado, formuladas para superar problemas da sociedade. Este é o fornecedor do aparato institucional e do aporte financeiro para formação, qualificação, intercâmbio de recursos humanos, troca de experiências e conhecimento, buscando o desenvolvimento nacional da C&T (COSTA FILHO, 2006).

Além da importância do Estado para o estímulo às atividades de colaboração internacional, outro aspecto muito importante e que é muitas vezes deixado de lado pela literatura que trata do tema é o fato de que a cooperação internacional deve ser entendida como um complemento ao esforço interno, ou seja, à base científica e tecnológica nacional existente (AMORIM, 1994) e deve estar concentrada em áreas cujos recursos humanos estejam formados e integrados na comunidade científica, pois "o estoque de conhecimento, estrutura e cientistas são a base para experiências de intercâmbio e colaborações" (DUARTE, 2008, p. 149). A qualidade da capacidade doméstica regula tanto a demanda – escolha pelos parceiros – como a oferta de colaboração - quanto maior é a qualidade da pesquisa, maior será o número de parceiros interessados em colaborar17 (PRIMI, 2010). Assim, a cooperação como "fonte exclusiva ou principal de desenvolvimento pode levar à dependência e submissão" (AMORIM, 1994, p.149).A cooperação apoia o desenvolvimento da C&T, mas não pode

15Este é o caso dos acordos de intercâmbio entre instituições de Ensino e Pesquisa nacionais e estrangeiras. Nestes, os contatos dos pesquisadores no exterior são uma grande influência para o início do intercâmbio de estudantes.

16O projeto Genoma e a Estação Espacial Internacional são exemplos de projetos nos quais a atuação do Estado foi essencial.

17 A partir disso, pode-se concluir que políticas de apoio à cooperação em C&T devem ter um forte componente de fortalecimento de capacidades domésticas.

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compensar a falta estrutural de capacidades endógenas (PRIMI, 2010). Desta forma, a capacidade de absorver o conhecimento gerado pela colaboração é um importante aspecto limitante da cooperação em C&T.

1.2.2. Das agências de fomento

No debate sobre colaboração internacional, há uma segunda literatura pouco difundida e desenvolvida que aborda os investimentos em projetos de C&T da perspectiva das agências de fomento. Os estudos se concentram principalmente na tensão que estes órgãos enfrentam entre o atendimento de demandas do Estado e da sociedade. Alguns pontos sobre esta literatura precisam ser levantados.

Dietmar Braun é o nome mais expressivo desta literatura, um dentre poucos experts em política científica a questionar como o sistema científico lida com a questão do desenvolvimento cognitivo da ciência, ou seja, do processo incremental e paradigmático de transformação do conhecimento (BRAUN, 1998, p. 808). A análise de Braun (BRAUN, GUSTON, 2003) está concentrada no chamado dilema do agente-principal, que explora os desafios com os quais as agências de fomento lidam em seu trabalho diário de delegar recursos e responsabilidades aos cientistas (papel de principal) e ao mesmo tempo orientar sua atuação com base nas demandas de seus financiadores (papel de agente) que muitas vezes são representados por órgãos políticos.

Em seu artigo de 1998, Braun explica que são os capitais econômico, cultural e social que determinam esse desenvolvimento cognitivo. O primeiro capital, o econômico, se refere aos recursos financeiros e organizacionais, bem como a infraestrutura necessária para o desenvolvimento da ciência; o segundo corresponde aos recursos cognitivos e às faculdades mentais adquiridas pelos cientistas durante o período de sua formação; e o capital social representa o reconhecimento dos pares e sua reputação em seu campo de atuação (BRAUN, 1998).

Mas qual a relação entre este debate e a cooperação internacional? A questão é que na busca pelo desenvolvimento cognitivo da ciência, aquele que detém ou possui a autoridade sobre a distribuição do capital econômico possui influência direta ou pelo menos indireta neste

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desenvolvimento. Desta forma, os detentores deste capital determinam o tema da investigação, bem como os responsáveis por ela e a forma como ela deve ser conduzida (BRAUN, 1998), incluindo o campo de colaboração internacional. Braun (1998) explica que as agências de fomento tem atraído significativa atenção da comunidade de pesquisa devido ao fato de que elas detêm o controle do capital econômico relacionado ao desenvolvimento cognitivo da ciência, ou seja, estipulam condições e critérios para a pesquisa científica aos quais os pesquisadores devem se adaptar.

Se, por um lado, as agências de fomento servem aos interesses da comunidade cientifica, elas também implementam demandas políticas. É o que Braun e Guston (2003) chamam de dupla relação agente-principal das agências de fomento tanto em relação aos tomadores de decisão quanto à comunidade científica. Nestas relações interdependentes todos os lados possuem recursos importantes a oferecer e benefícios que desejam alcançar(BRAUN; GUSTON, 2003).

Desta forma, a literatura concentrada no papel das agências de fomento e nos problemas que enfrentam considera a colaboração internacional em C&T como um instrumento destas últimas para avançar o desenvolvimento cognitivo da ciência. Assim como outros instrumentos, no âmbito da atuação das agências de fomento, o investimento em colaboração internacional enfrenta a concorrência entre demandas da comunidade científica e dos tomadores de decisão. Porém, a dupla relação agente-principal vivenciada pelas agências de fomento quase nunca impede que esta usufrua de considerável autonomia para determinar suas estratégias (BRAUN, 1997 citado em BRAUN, 1998). A FAPESP não foge a esta regra.

1.3. Alguns outros pontos sobre a colaboração internacional

A partir de todos os trabalhos citados, apreende-se que colaboração internacional em C&T pode ser definida de diversas formas, complicando o entendimento do conceito. Muitas vezes, os autores se utilizam de certas definições muito específicas ou abrangentes demais para fundamentar trabalhos empíricos conduzidos sobre o tema. Características específicas da área em que os cientistas atuam, do país em que conduzem a pesquisa e da época em que vivem influenciam a definição. Quando esta colaboração envolve órgãos do Estado, ela

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também passa a representar um instrumento de política externa e a ser desenvolvida no conjunto do relacionamento internacional do país.

A colaboração internacional em C&T, no âmbito deste trabalho e ao contrário de muitas visões, representa um fenômeno que não ocorre necessariamente entre atores com os mesmos objetivos e interesses. Muitas vezes, instituições são levadas a colaborar por falta de recursos, pressões externas ou orientações governamentais. É certo que os atores envolvidos possuem interesses, mas nem sempre estes são semelhantes aos dos parceiros. O que ocorre é uma convergência de interesses diversos, cujos resultados esperados gerados pela parceria beneficiariam os envolvidos de diferentes formas.

Igualmente importante para a definição de colaboração internacional é compreender que os objetivos que levam os atores a iniciarem parcerias perpassam a esfera da C&T e atingem finalidades econômicas, políticas, diplomáticas. O reconhecimento da influência que o desenvolvimento científico e tecnológico possui em outras esferas é um dos fatores que explica a importância legada ao tema atualmente por uma gama de atores. Da mesma forma, a definição de colaboração internacional não estará completa se não constar a atuação do Estado como apoiador institucional e financeiro das atividades colaborativas. Por isso, neste trabalho, o Estado é um dos atores principais que atua como incentivador de atividades de colaboração, obtendo benefícios que ultrapassam as esferas dos campos da C&T.

As definições de Duarte (2008) e Costa Filho (2006) fundamentam o conceito de colaboração internacional desenvolvido neste estudo: esta compreende o intercâmbio e desenvolvimento conjunto de novos conhecimentos, proporcionando oportunidades de capacitação e desenvolvimento econômico e que exige apoio institucional e financeiro do Estado.

A esta definição acrescenta-se que, nos âmbitos nacional e global, é importante complementar capacidades científicas e tecnológicas à base de C&T nacional existente, bem como às dos envolvidos, pois estas regulam tanto a demanda quanto a oferta de colaborações. Assim, o investimento em colaboração internacional em C&T deve preceder outros investimentos, a saber, nas capacidades nacionais de C&T e na capacidade de absorção do conhecimento gerado pela parceria.

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As atividades colaborativas podem se iniciar de modo formal, ou seja, sendo precedidas pela assinatura de um instrumento específico entre os parceiros, sejam eles indivíduos, países ou instituições. Nesta condição, elas representam formas estruturadas de cooperação com comprometimento a longo prazo, atividades concretas e contratos e seus atores operam o acordo de forma autônoma (BAUD, 2001). Além do modo formal, as colaborações podem se iniciar informalmente, não necessitando destes mecanismos18. Esta última é, segundo Beaver e Rosen (1978), a forma mais antiga e comum de cooperação entre cientistas19. Ambos os tipos de colaboração têm por enfoque a produção conjunta de resultados, mas a principal distinção entre eles é a existência de um acordo formal de governança, no nível nacional ou institucional, no qual o propósito inicial para o estabelecimento da cooperação é a relação entre os atores (GEORGHIOU, 1998).

As colaborações científicas tendem a se iniciarem informalmente20, como resultados de conversas informais, de troca de ideias entre pesquisadores21(EDGE, 1979, PRICE; BEAVER, 1966, HAGSTROM, 1965).Esta é a forma mais habitual de cooperação, caracterizada pela espontaneidade e liberdade dos cientistas em buscar seus colaboradores e é de extrema importância para o desenvolvimento da ciência, pois, aproxima os parceiros e segundo alguns autores, tende a ser mais eficiente que as colaborações formais (TONI, 1994). É bastante comum que colaborações internacionais se iniciem de modo informal e se formalizem com o tempo, envolvendo instituições e até mesmo nações.

É comum que a colaboração internacional em C&T se inicie informalmente. No entanto, esta colaboração nem sempre pode ser mensurada por ser de difícil identificação e por gerar resultados também difíceis de serem medidos e identificados. As colaborações formais são de mais fácil identificação, pois são precedidas de documentos formais assinados pelas partes. Estes acordos, nos âmbitos nacional e global, consistem em políticas de cooperação

18 O encontro entre os atores pode se dar por acaso, de forma intencional, por recomendação ou referência de um terceiro ou ainda fazer parte de uma atividade específica que exija o encontro (BEAVER, 2000).

19 Ela também representa a principal dificuldade para mensurar as atividades colaborativas, por ser, em grande parte, não registrada.

20 Nas colaborações internacionais, a formalização da parceria pode encontrar grandes obstáculos devido a diferenças institucionais e de legislação nos vários países (VASCONCELLOS; POLO, 1994), por isso, os atores optam por permanecerem colaborando de modo informal.

21 Daí deriva a importância da afinidade entre os colaboradores para a construção e manutenção de vínculos colaborativos.

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internacional em C&T, ou seja, ações explícitas dos governos oficiais (regulamentos, programas, acordos oficiais e memorandos de entendimento, investimentos financeiros, etc.) que têm por objetivo influenciar a intensidade, o conteúdo e a direção das colaborações entre pesquisadores através das fronteiras, sejam estes dos setores público ou privado (COMISSÃO EUROPEIA, 2009). Devido à facilidade de acesso aos dados, bem como da importância que estas políticas adquiriram atualmente por influenciarem os atores científicos e direcionarem as colaborações internacionais em C&T, este trabalho tem como foco as colaborações formais, ou seja, as políticas nacionais para colaboração internacional em C&T.

A importância da colaboração informal para a formação de parcerias sólidas e o fundamental papel dos cientistas na escolha das formas, temas e parceiros para a cooperação são reconhecidos, porém o foco da pesquisa jaz nas colaborações formais. Isso porque o Estado, principal articulador das parcerias formais, é tratado como um ator com papel preponderante neste tema, por ser o principal apoiador das atividades de colaboração: tanto institucionalmente, por meio de acordos e instrumentos de colaboração, quanto financeiramente, através de suas agências de fomento e investimentos em projetos e programas. O estabelecimento e a manutenção de colaborações internacionais, em especial as formais, dependem de fatores externos à comunidade de pesquisa e vão além do nível individual, atingindo as esferas econômica, política e social. Por isso, no âmbito deste trabalho o Estado é tratado como ator fundamental.

Sobre a ideia de que as colaborações informais são mais eficientes que as formais, ela não pode ser confirmada na prática. Há muitos fatores envolvidos no sucesso de uma colaboração internacional que não dependem somente do modo como são escolhidos os parceiros ou como a relação inicial entre eles ocorreu. É certo que a afinidade inicial entre os colaboradores é um ponto importante para o sucesso das colaborações, porém não é possível afirmar que nas colaborações formais ela não esteja presente. A escolha da forma como ocorrerá a colaboração (formal ou informal) é uma questão que deve levar em conta os objetivos da parceria, pois ambas as formas apresentam vantagens e desvantagens. As colaborações informais podem acarretar em menores custos de transação, mas não encontram apoio institucional e financeiro. Já as colaborações formais são, em geral, financiadas por instituições e possuem maior estabilidade, tendo uma clara divisão do trabalho. Porém, muitas

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