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2.3. A promoção da colaboração internacional na FAPESP

2.3.1. Objetivos e limites cooperativos

Uma das ideias que orientam o fazer ciência hoje na FAPESP, segundo vários dos entrevistados, é aquela que “faz o doente, saudável; o pobre, rico; e que faz o homem mais sábio [sic]”. O traço essencial da concepção de ciência para a FAPESP é sua qualidade, ou seja, as parcerias da instituição buscam desenvolver pesquisa considerada, pela maior parte das comunidades científicas mundiais, como válida e frutífera – características que se refletem nos altos índices de citações e aceitações por periódicos de prestígio.

Apesar de estar contida nos discursos dos entrevistados, a prioridade desta ciência não é desenvolver conhecimento para atender demandas da sociedade paulista, mas investir na participação de pesquisadores paulistas no avanço de uma agenda global para a ciência para elevar o prestígio e o reconhecimento, nacional e internacionalmente, dos pesquisadores paulistas e da FAPESP.

A investigação, portanto, dos objetivos da FAPESP com o investimento em colaboração internacional, nos permite concluir que suas intenções permanecem no campo da C&T e não o transbordam, como é o caso do CNPq, por exemplo, onde finalidades científicas convivem com objetivos políticos e diplomáticos. A visibilidade e o impacto da ciência aqui produzida são os principais objetivos da FAPESP quando se trata de investir em atividades colaborativas internacionais. Os argumentos explicativos de como a pesquisa em colaboração internacional aumentam o impacto, a visibilidade e o número de citações da pesquisa produzida já foram discutidos no Capítulo 1. O fato é que a FAPESP declara ter comprovado de forma prática a validade desta argumentação.

Em relação à visibilidade, as parcerias geram canais (comunidades científicas, instituições, periódicos) onde é possível divulgar o trabalho da FAPESP e dos cientistas paulistas. É comum a realização de eventos no país e no exterior com a participação de

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pesquisadores brasileiros com o objetivo de apresentar os temas de pesquisa e as questões ainda em estudo da comunidade científica brasileira, além dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos produzidos no país.

A qualidade superior da pesquisa realizada em parceria também consta como finalidade da cooperação internacional empreendida pela FAPESP. O fato de os pesquisadores paulistas estarem em contato com conhecimentos de ponta e submetidos a análises de mérito de instituições estrangeiras (que são criteriosas e de alta qualidade) justifica o investimento no que a FAPESP acredita ser uma ciência de maior qualidade. Esta ciência reflete o progresso científico e tecnológico que a FAPESP busca para o estado de São Paulo. Uma das maiores vantagens do financiamento a esta cooperação é que ele consiste em um primeiro incentivo a uma parceria que tende a perdurar naturalmente, seja com um novo financiamento da FAPESP ou de qualquer outra agência ou órgão.

Por fim, a expansão do conhecimento da comunidade científica paulista a respeito do que se investiga no exterior e o aprendizado da FAPESP consistem também em importantes objetivos da cooperação internacional da fundação. Na primeira situação, os pesquisadores paulistas entram em contato com novas teorias, métodos, práticas, produtos e tecnologias estrangeiras não disseminados no país. Esse novo conhecimento permite que o pesquisador atue nacionalmente, gerando novos desenvolvimentos e aplicações inexistentes no país, cuja utilidade científica, social, educacional, etc. pode ser explorada. O segundo caso consiste no interesse da FAPESP em trocar experiências e aprendizados com outras Agências de Fomento sobre formas de internacionalização, processos de seleção, revisão de projetos entre outras práticas, buscando um aprimoramento de sua gestão.

A respeito das dificuldades que a FAPESP lida no exercício da colaboração internacional, pode-se dizer que seus líderes estão bastante otimistas. Segundo seus Diretores de Área, o financiamento de projetos e a disponibilidade de recursos para apoiá-los não consistem uma limitação à colaboração internacional. Atualmente, a FAPESP consegue atender à demanda da comunidade científica em termos de recursos. A modalidade de apoio em colaboração internacional não desloca recursos do financiamento nacional, ou seja, se um pesquisador submeter um projeto com um parceiro internacional ao fluxo contínuo da FAPESP, ele

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conseguirá o mesmo recurso se o projeto tiver mérito científico. Na verdade, o que a FAPESP faz é reorganizar seus recursos para que o apoio a pesquisas em cooperação internacional - onde há o compartilhamento de recursos e o financiamento de pesquisadores estrangeiros por meio de suas instituições no estrangeiro - também sejam possíveis. Há, então, a facilitação de apoio e o estímulo a projetos em parceria com determinadas instituições, permitindo uma aproximação maior entre seus pesquisadores.

Enquanto a FAPESP atualmente atende à demanda de financiamento à pesquisa de qualidade produzida no estado de São Paulo, os limites orçamentários e a autonomia de recursos de alguns de seus parceiros pode constituir um limite para o estabelecimento de parcerias. Como a operacionalização da parceria (traduções, instalação do pesquisador e garantia de seus benefícios no estrangeiro, análise de solidez e acompanhamento do projeto e etc.) é custosa e trabalhosa, a FAPESP prefere trabalhar com parcerias que possam proporcionar diversos apoios. Parceiros que possuem muitos limites orçamentários ou que enfrentam problemas com liberação de recursos não são prioridade para a fundação, pois os acordos gerados poderiam apoiar poucos projetos e pesquisadores.

Outro limite que é estabelecido pelos parceiros que procuram a FAPESP diz respeito à modalidade de apoio. A FAPESP possui diretrizes legais de utilização dos recursos públicos para financiamento à C&T. Alguns parceiros possuem demandas cujo apoio não pode ser efetivado pela FAPESP, como por exemplo, o pagamento de auxílios a pesquisadores estrangeiros. Portanto, a limitação jaz naquilo que está permitido à FAPESP financiar com o dinheiro público. No entanto, isso não constitui um impedimento significativo ao estabelecimento de colaborações. Se o parceiro tiver interesse, flexibilidade e disposição, o acordo é possível, considerando as possibilidades de ambos os parceiros.

Ainda em relação aos parceiros, pode haver uma limitação temática. Algumas agências de fomento – em geral as de países pequenos – não têm oportunidade de financiar projetos em todas as áreas do conhecimento, como a FAPESP. Por isso, suas parcerias são limitadas a determinadas áreas e/ou subáreas nas quais a comunidade científica paulista pode não ter interesse ou expertise necessária para manter a parceria.

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É interessante notar que, para a Diretoria Científica da FAPESP, os limites em relação aos acordos de cooperação internacional são determinados pelos parceiros estrangeiros. Em poucas situações – como as detalhadas abaixo - se reconhece que a FAPESP apresenta dificuldades com a gestão destas colaborações.

O aumento das colaborações internacionais pode ser barrado, dentro de alguns anos, por uma limitação da estrutura da FAPESP. Dos recursos repassados à instituição pelo governo estadual, apenas 5% pode ser gasto com sua própria gestão. A FAPESP possui atualmente cerca de 200 funcionários e possuía o mesmo número há 12 anos69. Mecanismos de aperfeiçoamento de gestão como a informatização, o rearranjo interno e a organização da gestão são táticas utilizadas pela fundação para garantir uma gestão eficaz sem recorrer a um aumento significativo de gastos administrativos.

Além da estrutura da FAPESP, outra dificuldade enfrentada pelas parcerias internacionais é a capacidade da comunidade científica de responder às chamadas de propostas. Os Diretores de Área acreditam que isto não ocorre atualmente, mas admitem que se houver uma tendência de estagnação do crescimento desta comunidade - que já está bastante envolvida com projetos de pesquisa - ela pode não ter a capacidade de responder à crescente oferta de propostas em colaboração internacional.