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Práticas de ensino de música no Projeto Conexão Felipe Camarão

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Academic year: 2021

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EMERSON CARPEGIANNE DE SOUZA MARTINS

PRÁTICAS DE ENSINO DE MÚSICA NO PROJETO CONEXÃO FELIPE CAMARÃO

NATAL - RN 2016

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PRÁTICAS DE ENSINO DE MÚSICA NO PROJETO CONEXÃO FELIPE CAMARÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), na linha de pesquisa Processos e Dimensões da Formação Musical, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre Música.

Orientador: Prof. Dr. Agostinho Jorge de Lima.

NATAL - RN 2016

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Catalogação de Publicação na Fonte

Biblioteca Setorial Pe. Jaime Diniz - Escola de Música da UFRN

M379p Martins, Emerson Carpegianne de Souza.

Práticas de ensino de música no Projeto Conexão Felipe

Camarão / Emerson Carpegianne de Souza Martins. – Natal,

2016.

190 f.: il.; 30 cm.

Orientador: Agostinho Jorge de Lima.

Dissertação

(mestrado)

– Escola de Música,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2016.

1. Educação Musical – Dissertação. 2. Música – Ensino e

aprendizagem – Dissertação. 3. Música – Projeto Social –

Dissertação. 4. Música – Tradição Oral – Dissertação. 5.

Projeto Conexão Felipe Camarão (RN) – Dissertação. I.

Lima, Agostinho Jorge de. II. Título.

RN/BS/EMUFRN CDU 78:37

Elaborada por: Elizabeth Sachi Kanzaki – CRB-15/Insc. 293

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À minha família, meus avós (em memória) Maria Natividade de Sousa (Mãe-Maria) e José Venâncio de Sousa (Pai-Zé) por me educarem em base moral, emocional e religiosa; à minha amada mãe Lúcia de Fátima por seu sempre apoio; a meus irmãos Lucidson de Souza e Gerson de Brito pelas piadas e brincadeiras que me faziam sorrir mesmo no cansaço; à minha esposa Nadja Paiva pelo amor, compreensão, valiosos momentos de escuta de meus escritos e pela luz.

A meu orientador, Agostinho Lima, pela paciência e pelo modelo de educador zeloso e comprometido com o aprendizado do orientando que já se esmera em crescer.

Ao professor Jean Joubert, pelo sempre intelectual e positivo apoio que me foram de grande valia.

A Adriano Giesteira pela simplicidade de ser professor humilde e respeitador.

À professora Valéria Lázaro de Carvalho por seu carinho pontual e contribuições valiosas ao meu trabalho.

À professora Amélia Dias pelas oportunidades das aulas que me ajudaram na construção inicial do curso junto com meus colegas mestrandos.

Ao professor Giann Mendes por sua tranquilidade, simpatia e disposição em cooperar com meu trabalho.

A Vera Santana, mentora do Projeto Conexão Felipe Camarão, pelo espaço gentilmente cedido a meus estudos.

A Mestre Marcos da Capoeira pela calma e precisa cooperação com este trabalho. A Antônia Rodrigues por sua facilidade em sempre me deixar à vontade no espaço e me inteirando dos dias e momentos das atividades.

A todos os professores do Conexão, o amigo Carlos Zens por sua cooperação, a Leonardo Santos pela gentileza e disposição à pesquisa, Valério Galvão, ao rabequeiro Osawa Gaudêncio, ao capoeira Alisson Samuel.

Aos demais agentes do Projeto outrora alunos, o flautista Abner Moabe, o rabequeiro e primo Fabrício Cardoso.

A Dona Iza Galvão, guardiã do Boi de Reis, por sua atenção e cooperação com a pesquisa;

Ao meu nobre amigo Ângelo Magalhães pela importante leitura do meu trabalho ainda na fase preliminar.

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A meus grandes amigos mestres em cooperações e construções de vidas, Gislene Araújo, Everson Ferreira, Flávia Maiara, Leandro Rocha, Artur Porpino, Anne Saraiva e José Magnaldo, por seus apoios na e além da academia.

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O presente trabalho é resultado da pesquisa acerca das práticas de ensino de músicas tradicionais no contexto do Projeto Social Conexão Felipe Camarão da Organização Não-Governamental (ONG) TerrAmar, Zona Oeste de Natal - RN. Desse modo, são apresentados dados sobre a localização do Projeto (KISIL, 1997) - conceito, questões sociais da comunidade, acessibilidade, descrições das oficinas, brincadeiras do folclore local e demais atividades de ensino nas Oficinas de Música dentro do referido contexto. O aporte teórico inclui a História da Música e a Educação Musical, as questões da Educação Básica, diversidade e contextos de ensino de Música em projetos sociais e ONGs, bem como o ensino de música popular e práticas sociais de ensino de Música. Nos apoiamos em autores como Fonterrada (2008); Arroyo (1999, 2000a, 2000b, 2002); Penna (2008); Beineke; Oliveira, E. (1998); Oliveira, A. (2003); Kleber (2003, 2006, 2008, 2011); Green, A. (1987); Green, L. (1997, 2000, 2012) e Souza (2004). Assim, se configurando em pesquisa de natureza qualitativa com especulações nos campos ditos não-formais de práticas de ensino e informais de transmissão e troca de conhecimento musical, optamos em trabalhar com o construto de um estudo de caso onde encontramos a realidade de um Projeto que lida com mestres e brincadeiras de tradição oral, professores de instrumentos e alunos da comunidade em processos de ensino e aprendizagem. Apresentamos discussões a partir do cruzamento dos dados coletados em entrevistas e observações do campo com vistas nos processos peculiares de ensino. Concluímos que os repertórios das brincadeiras são vividos nas salas de aula em grupo, ensaios e apresentações e o processo de ensino é o que mais importa para uma ampla aprendizagem das culturas orais de tradição. Esses resultados trazem contribuições para a formação de professores da área da Educação Musical, considerando que lidar com repertórios das culturas populares implica em abrir espaços para se construir um aprendizado processual.

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This work is the result of research on the traditional music teaching practices in the context of social design Conexão Felipe Camarão Non-Governmental Organization (ONG) TerrAmar, Natal - RN West Zone. Thus, data are presented on the project location (KISIL, 1997) - concept, social issues of the community, accessibility, descriptions of workshops, local folklore games and other teaching activities in music workshops within that context. The theoretical framework includes the history of music and Music Education, issues of basic education, diversity and music education contexts in social projects and NGOs, as well the popular music education and social practices of music education. In support of authors like Fonterrada (2008); Arroyo (1999, 2000a, 2000b, 2002); Penna (2008); Beineke; Oliveira, E. (1998); Oliveira, A. (2003); Kleber (2003, 2006, 2008, 2011); Green, A. (1987); Green, L. (1997, 2000, 2012) and Souza (2004). Thus, if setting in qualitative research with speculations in the nonformal said fields of teaching practices and informal transmission and exchange of musical knowledge, we chose to work with the construct of a case study where we find the reality of a project deals with masters and play oral tradition, instrument teachers and community students in teaching and learning processes. Here discussions from crossing the data collected in interviews and field observations with a view in the peculiar process of education. We conclude that the repertoires of play is experienced in classrooms in group rehearsals and performances and the teaching process is what matters most for a wide learning of oral tradition cultures. These results bring contributions to the training of teachers in the field of music education, whereas dealing with repertoires of popular cultures involves open spaces to build a procedural learning.

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Figura 1 – Setores econômico e social... 25

Figura 2– Felipe Camarão - Natal – RN... 28

Figura 3– Música: Adeus, adeus... 120

Figura 4– Paranauê – Melodia do Canto... 122

Figura 5– Paranauê – Melodia de Canto e Percussão... 123

Figura 6– Conexão – Professor – Oficina... 150

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Foto 1– Parada de ônibus na calçada do Conexão (Rua: Maristela Alves)... 29

Foto 2– Parada de ônibus - frente do Conexão (Rua: Maristela Alves)... 30

Foto 3– Sede do Conexão Felipe Camarão - frente (Rua: Maristela Alves)... 31

Foto 4– Salão principal – 1... 32

Foto 5– Salão principal: máquinas de costura... 33

Foto 6– Salão principal: aula de Capoeira... 33

Foto 7– Salão principal: ensaio do Orquestrim... 34

Foto 8– Oficina de Flautas – 1... 34

Foto 9– Oficina de Flautas – 2... 35

Foto 10– Oficina de Rabeca... 35

Foto 11– Sala de corte e costura – 1... 36

Foto 12– Artesanato de Rabeca – 1... 37

Foto 13– Artesanato de Rabeca – 2... 37

Foto 14– Artesanato de Rabeca – 3... 38

Foto 15– Artesanato de Rabeca – 4... 38

Foto 16– Biongo da Oficina de Mamulengo do Conexão Felipe Camarão... 39

Foto 17– Teatro de Bonecos João Redondo de Josivan de Chico Daniel – 1... 40

Foto 18– Oficina de Capoeira – professor Alisson Samuel – 1... 42

Foto 19– Escola Estadual Clara Camarão... 44

Foto 20– Escola Municipal Maria Cristina... 45

Foto 21– Nota de Voz 1... 85

Foto 22– Nota de Voz 2... 85

Foto 23– Valério Galvão e notação - Percussão 1... 101

Foto 24– Valério Galvão e notação - Percussão 2... 101

Foto 25– Oficina de Rabeca: professor toca, alunos ouvem, veem e repetem... 108

Foto 26– Oficina de Rabeca: aprendendo Música com a escrita alfabética... 108

Foto 27– Oficina de Flautas (Doce, Pífaro e Transversal) – 1... 111

Foto 28– Oficina de Flautas (Doce, Pífaro e Transversal) – 2... 112

Foto 29– Oficina de Capoeira 1... 119

Foto 30– Oficina de Capoeira: meninos praticando no Berimbau... 125

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Quadro 1 - Resumo das distinções dos modelos formal, informal e não-formal... 60 Quadro 2 - Resumo das características do modelo informal e formal... 62 Quadro 3 - Repertórios de Oficinas... 144 Quadro 4 - Semelhanças entre as práticas dos professores no ensino de Instrumento

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AM – Amplitude Modulada ARG – Argentina

BA – Bahia

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CA – Califórnia

CA – Canais Abertos CD – Compact Disc CE – Ceará

CENPEC –Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária

CFC – Conexão Felipe Camarão DF – Distrito Federal

DPD – Dispositivos Portáteis Digitais DPS – Dispositivos Portáteis Simples

DSTs– Doenças Sexualmente Transmissíveis

EDUFBA – Editora da Universidade Federal da Bahia

EMUFRN – Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte ESP – Espanha

FACED – Faculdade de Educação FGV – Fundação Getúlio Vargas FM – Frequência Modulada FPS – Frames Per Second FR – França

GO – Goiás

HD – High Definition Htz – Hertz

IAP – Instituto de Artes do Pará

IBEARTE – Instituto Beneficente de Ensino de Arte IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

IOS – Internetwork Operating System MG – Minas Gerais

MINC – Ministério da Cultura MP3 – MPEG Layer 3

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ONG – Organização Não-Governamental ONU – Organização das Nações Unidas PA – Pará

PDF – Portable Documento Format PE – Pernambuco

POR – Portugal

PPGMUS – Programa de Pós-Graduação em Música PR - Paraná

RJ – Rio de Janeiro RN – Rio Grande do Norte RS – Rio Grande do Sul SC – Santa Catarina

SEEC – Secretaria de Estado da Educação e da Cultura

SEFAC – Secretaria de Educação e Formação Artística e Cultural SEMURB – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo SP – São Paulo

TV – Televisão

UERN – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UFC – Universidade Federal do Ceará

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina UFSCar – Universidade Federal de São Carlos UnB – Universidade de Brasília

UNESP – Universidade Estadual Paulista

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas USA – United States of America

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1 INTRODUÇÃO... 18

2 TERRAMAR... 24

2.1 A Instituição e o Projeto Conexão Felipe Camarão... 24

2.2 O bairro Felipe Camarão... 26

2.2.1 Localização geográfica do bairro... 27

2.2.2 Acessibilidade e visibilidade ao Conexão... 28

2.3 Projeto Conexão Felipe Camarão... 30

2.3.1 O prédio do Conexão (espaços externo e interno) ... 31

2.3.2 Artesanatos de corte e costura... 36

2.3.3 Artesanato de Rabeca... 36

2.3.4 O mamulengo de Josivan de Chico Daniel... 38

2.3.5 O Boi de Reis do Mestre Manoel Marinheiro... 41

2.3.6 A Capoeira... 41

2.3.7 As parcerias com as escolas da comunidade... 42

3 SOBRE ENSINOS DE MÚSICA... 47

3.1 Alguns modelos de ensino... 47

3.2 Ensino de Música de tradição oral... 54

3.3 Ensino formal, informal e não-formal de Música... 57

3.4 Educação Musical como prática social... 64

3.4.1 O ensino de Música em ONGs... 69

3.4.1.1 Ensino individual e Práticas de Ensino de Instrumentos em grupo... 70

3.4.1.2 Ensino contextualizado com a realidade dos alunos... 73

4 METODOLOGIA... 76

4.1 Relatório Final... 76

4.2 Importância de uma metodologia... 76

4.3 Categorias de análise... 77

4.4 Sujeitos da pesquisa... 78

4.5 Coleta de dados... 78

4.6 Análise de dados... 79

4.7 Modalidades da pesquisa... 80

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4.8 Equipamentos eletrônicos e programas na coleta de dados... 84

4.9 Questionário... 86

4.10 Entrevistas semiestruturadas... 86

5 PRÁTICAS DE ENSINO DE MÚSICA DO CONEXÃO FELIPE CAMARÃO... 87

5.1 As práticas de transmissão oral de conhecimento musical no Conexão... 87

5.1.1 A música do Teatro de Bonecos de Josivan de Chico Daniel... 88

5.1.2 O Boi de Reis Mirim e a aprendizagem de Música... 93

5.1.2.1 Dois comandos sonoros... 96

5.1.2.2 Raciocínio preliminar... 97

5.2 Processos de ensino e aprendizagem nas Oficinas do Conexão... 97

5.2.1 Concepções gerais de professores... 99

5.2.2 A Oficina de Percussão... 99

5.2.3 A Oficina de Rabeca... 102

5.2.3.1 Primeira aula de Rabeca... 103

5.2.3.2 O dedo na prima... 105

5.2.3.3 Postura para se tocar a Rabeca... 105

5.2.3.4 As notas musicais e a escrita alfabética... 107

5.2.4 A Oficina de Flautas: Doce, Pífano e Transversal... 109

5.2.5 As aulas de instrumentos de Sopro (Saxofone, Clarinete, Trompete, Trombone, Bombardino e Tuba) ... 112

5.2.6 A Oficina de Capoeira... 115

5.2.7 Orquestrim... 130

5.2.8 Repertórios: transcrições e adaptações de músicas tradicionais... 136

5.3 Outras músicas no Conexão... 145

5.4 Uma situação delicada na ação social (educador – empreendedor?) ... 150

5.5 Conexão Brasil... 156

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 162

REFERÊNCIAS... 170

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho é parte resultante da minha investida2no curso de Mestrado em Música,

Educação Musical, cuja conexão que tenho com o campo empírico é parte da minha relação de outrora com a Instituição. Não pretendo entrar em um apanhado que pareça apresentar uma pesquisa autobiográfica, mas acho importante elucidar a compreensão da escolha pelo tema e campo, pois faz parte da história pessoal deste estudante que é resultado, também, de práticas educacionais de ensino de Música em projetos sociais.

A partida para o desenvolvimento desta pesquisa na área da Educação em Projetos de Ação Social deve-se à trajetória em alguns projetos educacionais que me receberam como aluno. Esses projetos foram possíveis graças à disponibilidade de algumas pessoas em os desenvolverem visando o atendimento de certo número de jovens rapazes, menores de 18 anos, para manter longe dos riscos e até mesmo tirar da marginalização social.

O primeiro projeto educacional do qual fui aluno resultava de uma parceria entre o governo do estado do Rio Grande do Norte (RN) e o Exército Brasileiro. As duas instituições travaram atividades que aconteciam nas dependências do 16° Batalhão de Infantaria Motorizada que eram oferecidas oficinas pré-profissionalizantes referentes às profissões que existiam no âmbito do Batalhão. Como por exemplo, Oficina de Eletricista Predial, Eletricista de Auto, Técnico de Enfermagem, Garçom e Músico. Desses, fiquei indeciso entre garçom e Música.

As atividades aconteciam somente nos dias úteis, atendendo apenas como contra turno no período da manhã, e não atendia a outros jovens no período da tarde. As atividades não se restringiam apenas às Oficinas, pois todos tinham mini-palestras com as assistentes sociais e militares para os assuntos de cidadania, relações sociais, cuidados com o meio ambiente e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), bem como a educação para os cuidados com o bem-estar do corpo, que eram desempenhadas por meio de atividades físicas, como caminhadas, corridas, futebol e exercícios físicos específicos para uma boa resistência física – prática militar leve adequado à faixa etária e projeto dos 14 aos 17 anos.

Optei pela Oficina de Música e, como resultado da participação nesse Projeto, foi oferecido aos alunos desta Oficina um teste para ingressar em um dos cursos oferecidos no Instituto Waldemar de Almeida3. Ingressei e obtive meus primeiros contatos com o Saxofone.

2Nota: esta pesquisa apresentará, neste primeiro momento, o tempo verbal na primeira pessoa do singular por se

tratar da história de vida particular do autor deste trabalho na música em ligação com o tema pesquisado.

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Concomitante a este tempo, foi possível continuar os estudos em outra Organização Não-Governamental (ONG) que estava nascendo por volta do ano de 2001, desta vez no bairro onde eu residia em Natal – Santos Reis. Com o acesso mais facilitado por se tratar da proximidade geográfica fui aprofundando os conhecimentos musicais que estavam diretamente ligados a uma prática de aprendizado em grupo. Nessa instituição, chamada Instituto Beneficente de Ensino de Arte (IBEARTE), foi possível o contato com professores que se preocupavam com questões desde o aprendizado musical até a aplicação na vida, caso os alunos quisessem seguir carreira com estudos específicos.

Os arranjos eram feitos, de acordo com os níveis dos aprendizes, por um maestro reformado do Exército que, através da Música, passava seus ensinamentos quanto a comportamento e respeito no trabalho em grupo. Esclarecimentos simples a respeito de mercado, pessoas, estilos musicais e comportamentos sociais, religião e Música, bem como tantos outros assuntos, faziam parte da prática do ensino na Instituição.

Com as possibilidades de aprendizado viabilizadas a partir do ensino de Música das Instituições (com seus Projetos) nas quais pude ter contato com modelos de educação paralelos ao ensino convencional dito formal. Enquanto aluno busquei por melhoramentos no aprendizado musical e pessoal que logo foi alimentando sonhos, e a conquista desses.

Sonhar era algo fácil na fase da adolescência, porém limitado às condições de um indivíduo que se sentia subjugado e inferior à maioria das outras pessoas – resultado de um entendimento equivocado em relação às diferenças entre as classes sociais. Nesse sentido, sonhar é o desejo pela conquista de condições razoáveis de vida em um curto, médio ou grande espaço de tempo.

Em consequência da empreitada nos estudos com a Música iniciada nesses Projetos, surgiu um convite de uma instituição que promovia a Educação com Música de igual natureza às que eu havia passado como estudante. O convite seria para que eu pudesse dar aulas de Flauta Doce para crianças e adolescentes de um bairro da periferia de Natal, na Zona Oeste.

Tratava-se do bairro de Felipe Camarão, onde a ONG era a TerrAmar na ação do Projeto Conexão Felipe Camarão. Na ocasião as aulas deveriam ser ministradas apenas aos sábados nos dois períodos diurnos (manhã e tarde), em uma das escolas públicas estaduais parceiras desse Projeto, como a Escola Clara Camarão.

As dependências da Escola eram o palco das atividades de ensino musicais no modelo de Oficinas de Instrumentos. Além da Oficina de Flauta Doce, na qual eu ministrava as aulas, existiam as outras oficinas ministradas por outros profissionais, como era o caso da Flauta

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Pífaro, Rabeca, Teatro de Bonecos e Capoeira, todas acontecendo no mesmo dia e ao mesmo tempo na mesma Escola.

Além das atividades na Escola durante todo o dia, ainda existia uma prática de ensino a partir do contato direto com o Boi de Reis do Mestre Manoel Marinheiro. O público dessa atividade era composto por crianças, sem uma idade mínima, pois importava mais que eles conseguissem desenvolver as danças e cantos. E a condução das brincadeiras com os alunos ficava a cargo de Dona Iza Galvão e Neide Galvão, respectivamente a esposa e a filha do Mestre Manoel Marinheiro.

A respeito desses aspectos, trataremos com maiores detalhes ao longo do trabalho quando estivermos descrevendo as atividades iniciais do Projeto, bem como sua relação com os folguedos, mestres envolvidos e a continuidade dos processos e práticas de ensino do Projeto Conexão.

Desse modo, minha caminhada em projetos sociais se fortalecia e o percurso apresentava, dessa vez, uma nova perspectiva: a de professor que lida com questões além da Música em si mesma, observando as relações que se estabelecem entre seus agentes.

Movido inicialmente pelo envolvimento direto com projetos sociais, primeiro como aluno e depois como professor, é que o objetivo central desta pesquisa foi investigar os processos de ensino de Música no Projeto Conexão Felipe Camarão (CFC) da ONG TerrAmar. Os objetivos específicos são identificar e investigar os agentes educadores e suas concepções de Educação e ensino de Música; a relação entre mestres de tradição oral e alunos do Projeto; identificar e investigar o público atendido pelo Projeto; e investigar resultados e mudanças sociais propiciadas pelo Projeto. Na especulação, também nos voltamos a entender se e como peculiaridades dos processos de ensino e aprendizagens de mestres e aprendizes nos folguedos escolhidos pela Instituição poderiam se fazer presentes na prática educacional dos professores de Música contratados para atuarem com os alunos do Projeto.

O Conexão – modo como estaremos nos referindo ao Projeto Conexão Felipe Camarão de agora em diante – lida com a prática de ensino de Música prioritariamente a partir dos repertórios existentes nos folguedos da região, mais precisamente do bairro de Felipe Camarão. As brincadeiras como o Boi de Reis do Mestre Manoel Marinheiro, o Teatro de Bonecos de Chico Daniel, o Mestre Cícero da Rabeca, a Capoeira do Mestre Marcos e o apadrinhamento do flautista Carlos Zens, foram os principais elementos que fortaleceram o início das atividades da TerrAmar no referido bairro.

Por causa da particularidade do Projeto em trabalhar as músicas de folguedos com as crianças e adolescentes, tanto pelo contato desses jovens com as brincadeiras quanto o ensino

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desses repertórios no seio de salas de aula com profissionais da área da Música, percebemos a ligação da pesquisa com a Etnomusicologia.

Estamos tratando de questionamentos da área da Educação Musical, centrada especificamente em questões de processos de ensino e aprendizagem da Música no seio de uma Instituição; e ao mesmo tempo de um estudo na área da Etnomusicologia, quando a preocupação é centrada nos processos de transmissão oral de conhecimentos musicais existentes nas brincadeiras e que o Projeto social utiliza como premissa para suas atividades educacionais.

Com o olhar voltado para as atividades de práticas de ensinos musicais do Projeto social, e com vistas à apresentação da pesquisa desenvolvida, este trabalho está distribuído em capítulos nos quais podem ser vislumbradas todas as suas partes, a contar desta Introdução que é constituída de uma exposição inicial do trabalho, além de uma breve apresentação pessoal do pesquisador com as motivações para a pesquisa.

No segundo capítulo, a abordagem está centrada em questões específicas referentes à Instituição TerrAmar como ONG do Terceiro Setor e desenvolvo esclarecimentos a respeito dos termos que se aplicam ao mesmo. O capítulo foi dividido em três partes, onde na primeira apresento, de uma forma geral, a Instituição e as atividades que ocorrem em suas ações. Na segunda parte, a constituição é de informações referentes à sua localização no bairro e assuntos pertinentes de visibilidade da sede do Projeto Conexão. E na terceira parte está o Projeto: iniciando pelas dependências da sede, seguido das manifestações de tradição oral existentes no bairro e que estão diretamente ligadas ao Projeto. Ainda nesta parte, trazemos questões ligadas ao consumo de outras músicas populares da própria região distintas das que são prioritariamente trabalhadas na ONG. Na sequência, apresentamos as parcerias locais do Conexão e os patrocinadores da ONG que viabilizam a realização do Projeto, bem como as características dos acordos estabelecidos em patrocínio.

O terceiro capítulo é composto por questões de embasamento teórico relativo à existência de ONGs e projetos sociais que lidam com Educação, atuando como instituições de ensino e, mais especificamente, os ensinos de Música. Nesse sentido, apresentamos discussões a respeito do ensino tradicional e práticas modernas de Música e ensino não-formal de Música, perpassando modelos de aprendizagem ocorrentes em comunidades. Também é discutido o ensino e a realidade musical dos alunos na perspectiva de compreender as questões de valoração a um modelo de se fazer música em detrimento de outro. Após essa discussão adentramos em uma questão importante e central que é a Música como prática social, observando como outros pesquisadores se posicionaram nesse quesito. Logo em

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seguida, há uma exposição da Música e da Educação Musical como prática social, aprofundando a discussão a respeito do entendimento de inclusão social nas práticas de projetos sociais.

No quarto capítulo, seguimos com questões relativas ao desenvolvimento da pesquisa e a metodologia utilizada. Apresentamos metodologias qualitativas em Educação Musical e, dentro da perspectiva da pesquisa qualitativa da Educação Musical em ONGs, concluímos que o método de pesquisa mais aplicado seria o estudo de caso etnográfico. A partir das técnicas que envolvem o estudo de caso para pesquisa qualitativa em Educação Musical, trabalhamos com instrumentos de coletas específicos, aplicação de questionário (APÊNDICE B) e entrevistas semiestruturadas na forma de conversas entre pesquisador e pesquisados. Buscamos um melhor aproveitamento do campo empírico, nos instrumentamos de equipamentos de gravações de áudio e vídeo para as entrevistas e as observações de aulas, ensaios e eventos. Também fizemos anotações enquanto observávamos e após sair do ambiente – para registrar impressões de acontecimentos que não poderiam ser transcritas durante as observações.

No quinto capítulo, apresentamos as ações do Projeto Social Conexão, da Instituição TerrAmar, e abordamos as propostas educacionais e de ensino de Música, atentando para os repertórios utilizados, o porquê e como esses são trabalhados com os alunos. Ao mesmo tempo em que procuramos demonstrar os processos das práticas educacionais que partem das concepções dos professores em relação às músicas, em relação ao ensino delas e os objetivos do Projeto. Nesse âmbito, trazemos para o corpo do trabalho os Grupos e todas as Oficinas que lidam diretamente com o ensino de Música no Projeto.

Ainda no quinto capítulo, apresentamos análises e discussões de todo o material coletado na observação do campo empírico a respeito do evento da Instituição chamado Conexão Brasil como finalização das atividades do ano no Projeto. Apresentamos, também, as problemáticas que surgiram no campo no decorrer da pesquisa. Tratamos das questões referentes aos dados coletados a partir da metodologia de pesquisa aplicada. Nesse momento, iniciamos as análises de dados documentais de estrutura da TerrAmar (regimento e estatuto), como os conceitos nos quais a Instituição está baseada, bem como a idealização do Projeto Conexão, a escolha pelo bairro de Felipe Camarão, público, o porquê dos folguedos e brincadeiras – como o Boi de Reis do Mestre Manoel Marinheiro, o Teatro de Bonecos de Chico Daniel e a Capoeira do Mestre Marcos.

Como último e sexto capítulo, apresentamos nossas conclusões a respeito das observações, entrevistas, conversas e a pesquisa como um todo, bem como, apresentamos

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nossos raciocínios no sentido de oferecer motivações a reflexões ao desenvolvimento de um trabalho com vistas às propostas de Educação que lidam em projetos sociais, música de tradição e popular urbana.

Concluindo, trazemos reflexões sobre os resultados aos quais chegamos, apresentando contribuições para a área da Educação Musical e formação inicial do professor de Música nos cursos de Licenciatura.

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2 TERRAMAR

Neste trabalho estamos tratando da pesquisa realizada em uma Instituição chamada TerrAmar, uma ONG do Terceiro Setor, que volta sua atenção para as crianças e adolescentes do bairro Felipe Camarão na Zona Oeste de Natal.

2.1 A Instituição e o Projeto Conexão Felipe Camarão

Nosso campo empírico é a TerrAmar que executa o Projeto Conexão Felipe Camarão com atividades que estão diretamente ligadas à prática de ensino de Artes nesta comunidade. E sua importância pode estar na utilização de repertórios das manifestações culturais populares, apresentando possibilidade de preservação de brincadeiras e folguedos.

O Projeto recebe o nome de Conexão devido à existência de projetos paralelos gerenciados pela mesma Instituição em um mesmo espaço físico / sede.

O público atendido no Conexão contempla, portanto, cerca de 400 jovens entre crianças e adolescentes do bairro e adjacências que participam das atividades de Dança e Música. Além de atividades provenientes do Teatro do João Redondo e o Artesanato de Rabeca.

Buscamos trazer tona elementos da práxis do ensino de Música na ONG TerrAmar, bem como fazer reflexões a respeito dessas práticas. Práticas educacionais essas que, segundo os Coordenadores do Conexão, estão pautadas na cultura de tradição oral e sob o olhar de pensadores como Paulo Freire (informação verbal)4. E, a partir desta pesquisa, buscamos

contribuições para discussões sobre perspectivas e possibilidades educacionais não-formais e informais que lidam com o ensino de Música em múltiplos contextos como os de projetos sociais.

Segundo Cabral (2007, p. 11, grifo do autor), o termo ONG nasceu na Europa Continental, sendo originário do ano de 1950 por meio do Conselho Econômico Social das Nações Unidas (ONU), no sentido de “[...] se referir a instituições privadas – não-governamentais – que buscavam espaço no processo de participação na tomada de decisões nos organismos multilaterais [...]”. Nesse contexto, continua afirmando que: “[...] a utilização desse termo não abrange a totalidade de organizações sem fins lucrativos, mas somente as

4Informação fornecida por Vera Santana, Antônia Rodrigues e Leonardo Santos Coordenadores do Conexão,

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organizações que se conectam com movimentos de ajuda humanitária, de desenvolvimento social ou político-ambiental” (CABRAL, 2007, p. 12).

O modelo institucional do qual estamos tratando é compreendido como uma organização do Terceiro Setor que, segundo Chiavenato (1994), é uma categoria que não tem fins lucrativos, bem como, conforme Cabral (2007), visa atender a necessidades humanas sendo baseada no trabalho associativo e voluntário.

É constituída pela ação pública não-estatal, mesmo sendo da iniciativa privada, conforme podemos observar documentos do BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (2001, p. 4) que, inclusive, faz a distinção dos três setores:

No Brasil, assim como em outros países, observa-se o crescimento de um ‘terceiro setor’, coexistindo com os dois setores tradicionais: o primeiro setor, aquele no qual a origem e a destinação dos recursos são públicas, corresponde às ações do Estado e o segundo setor, correspondente ao capital privado, sendo a aplicação dos recursos revertida em benefício próprio. O terceiro setor constitui-se na esfera de atuação pública não-estatal, formado a partir de iniciativas privadas, voluntárias, sem fins lucrativos, no sentido do bem comum.

Nesse sentido, podemos perceber que os setores se comunicam entre si, apresentando uma relação entre as instâncias privadas e públicas. Sendo, o Terceiro Setor, um veículo privado com objetivos que devem permear benefícios para usufruto público.

Figura 1 - Setores econômico e social

Fonte: O autor (2016).

As instituições precisam ser formalizadas para poderem desenvolver suas atividades e para isso seus responsáveis deverão redigir um estatuto que representa a própria ação da

Terceiro

Setor

Segundo

Setor

Primeiro

Setor

(28)

ONG. Uma instituição dessa categoria atua nas comunidades por meio da execução de projetos que viabilizarão suas ações. Logo, baseada no seu estatuto, a organização desenvolverá projetos que a possibilitem arrecadar fundos, quando necessário, no intuito da promoção de um projeto.

Para esclarecer, o termo Projeto pode ser aplicado a diversas situações. Porém, o termo pode representar tanto propostas de atividades a serem executadas, quanto outras já em execução ou finalização.

A partir de um determinado grupo de elementos que servem para a idealização de um projeto (desenvolvido por uma instituição) a ser aplicado em uma comunidade ou situação, é necessário haver um incômodo inicial que, segundo Kisil (1997, p. 13), pode ser pensado da seguinte forma: “1. Problemas; 2. Ideias de solução; 3. Ações; 4. Pessoas; 5. Dinheiro”. E no intuito de conseguir apoios o projeto precisa ser “[...] capaz de comunicar todas as informações necessárias num documento escrito, e é por isso que existem elementos básicos que compõem sua apresentação”.

Sabendo dessas possibilidades ressaltamos que ao longo deste trabalho o termo projeto será utilizado primordialmente para designar as ações desenvolvidas pela instituição aqui em discussão – TerrAmar. Havendo outro sentido, denotaremos o contexto da exposição.

Desta feita, a TerrAmar é uma ONG que atua no bairro Felipe Camarão promovendo atividades a jovens da localidade a partir de oficinas previstas no Projeto Conexão. O Conexão – como trataremos daqui em diante – é uma ação educativa que permeia várias atividades artísticas ligadas às práticas e tradições da comunidade. Entre essas atividades estão as de artesãos, costureiras, mestre de Capoeira e mestres instrumentistas e de brincadeiras populares. No entanto, essa explanação é apresentada em tópicos mais adiante, porém, nosso próximo assunto, apresentaremos dados de identificação a respeito da ONG estudada em sua posição geográfica, bem como outras informações do bairro Felipe Camarão que julgamos importante ressaltar.

2.2 O bairro Felipe Camarão

Para conhecer o bairro de Felipe Camarão podemos iniciar a partir da curiosidade em relação a seu primeiro nome que foi Peixe-boi. O emprego do nome está diretamente ligado a relatos de seus moradores da década de 1960 a respeito da existência de enormes peixes no rio Potengi (braço do mar Oceano Atlântico). A localidade pertenceu a um comerciante chamado Manoel Duarte Machado que logo após seu falecimento sua esposa decidiu vender as

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propriedades. A partir de então a região passou a ser habitada por famílias que advinham de várias partes do interior do estado do RN. As pessoas chegavam para fixar residência na região por meio de criações de loteamentos. Algumas partes foram tomadas como posse por outras famílias que não tinham condições de adquirir os terrenos a venda (PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL, 2009).

De acordo com a PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL (2008), presente na coleção Conheça melhor seu bairro, a origem do atual nome Felipe Camarão deve-se a sugestão de um vereador do ano de 1967 e, logo em seguida, foi promulgada a Lei n° 1.760, de 22 de agosto de 1968, quando Natal tinha como Prefeito Agnelo Alves, oficializando o nome do bairro.

Em 5 de abril de 1993, estabelece-se a Lei n° 4.330 que apresentou a redefinição das dimensões de Felipe Camarão que faz limite com os bairros de Bom Pastor (ao Norte), Guarapes (ao Sul) e Cidade da Esperança com Cidade Nova (a Leste). Ainda a Leste, o município de São Gonçalo do Amarante (PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL, 2013).

A população deste bairro estava estimada em 45.907 pessoas entre mulheres e homens nesse período, passando no ano de 2007 a 50.195, e no ano de 2014 aumentando para mais de 55 mil pessoas. Dessa maneira, percebemos que no espaço de onze anos corridos houve um crescimento na população do bairro (PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL, 2009).

Quando observamos os números relacionados às crianças e adolescentes percebemos que, em 2003, entre crianças de 5 e 9 anos era 5.394 e adolescentes (entre 10 e 19 anos) era de 10.562, totalizando quase 16 mil jovens; em 2007 essa estatística mantém números aproximados, mas em 2014 esse número tende a aumentar para um pouco mais que 16 mil. O que implica em várias demandas para os órgãos públicos quanto à organização desse crescimento (PREFEITURA MUNICIPAL DO NATAL, 2003a, 2003b, 2014).

Não entraremos profundamente nesse mérito por estarmos tratando apenas de questões que sirvam de mostruários importantes e identifiquem a localidade com a realidade social do bairro no qual o objeto do nosso estudo está sitiado e a representatividade do Conexão enquanto Projeto promotor de Educação.

2.2.1 Localização geográfica do bairro

Vejamos a Figura 2 a seguir onde está geograficamente localizado o bairro Felipe Camarão na cidade de Natal.

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Figura 2 - Felipe Camarão– Natal - RN

Fonte:FELIPE... [20--?]5.

Trata-se de um bairro periférico6que tem uma dinâmica própria, onde seus moradores

podem ter atividades profissionais, estudantis e de diversão. Para tanto, é favorável entender um pouco mais a seu respeito, no sentido de como as pessoas que nele residem chegam a outras localidades dentro da capital diariamente, bem como pessoas de outros bairros podem ter acesso a ele. Nesse sentido, vejamos a questão da acessibilidade por meio do transporte público segundo os serviços de empresas de ônibus atuantes no bairro.

2.2.2 Acessibilidade e visibilidade ao Conexão

Existe uma característica interessante quanto à localização da sede do Projeto Conexão. Circulam no bairro vários ônibus que fazem as rotas urbanas. E nos itinerários desses transportes está toda a cidade de Natal, sendo possível o deslocamento das pessoas da localidade para as várias outras partes da capital. Nesse sentido, os outros bairros da mesma Zona e todos os outros bairros das demais Zonas são acessados pelos moradores de Felipe Camarão de forma direta, sem que seja necessário que esses usuários peguem mais que um ônibus para a maioria dos locais que desejam dentro do perímetro urbano da capital. E da mesma forma, os residentes dos bairros vizinhos e distantes a Felipe Camarão podem chegar a ele.

5Documento online não paginado.

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Essa é uma informação importante por tratar de trajetos e possibilidades de locomoção a partir das linhas7de ônibus no bairro. Faz parte do itinerário delas um ponto comum que é

um cruzamento no qual está a sede do Projeto Conexão Felipe Camarão em uma de suas esquinas. Seja na ida e/ou volta é comum que todos passem pelo mesmo cruzamento, dessa maneira havendo grande visibilidade do Projeto por residentes e visitantes do bairro.

Há um ponto de parada de ônibus em cada uma das esquinas do cruzamento das duas ruas onde está localizado o Projeto, o que representa certa facilidade na acessibilidade em relação a pessoas de dentro e de fora do bairro. Uma dessas paradas está fixada na calçada do Conexão, como podemos ver na Foto 1 a seguir:

Foto 1 - Parada de ônibus na calçada do Conexão (Rua: Maristela Alves).

Fonte: O autor (2016).

7Linha é um termo comum utilizado que identifica um todo a respeito do transporte urbano coletivo, por

identificação seja numérica, nominal (ou ambos) e seu trajeto com ponto de partida, paradas no caminho e ponto de chegada.

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Foto 2 - Parada de ônibus - frente do Conexão (Rua: Maristela Alves).

Fonte: O autor (2016).

2.3 Projeto Conexão Felipe Camarão

Trata-se de um Projeto que, assim como outros espalhados pelo país, tem como principal objetivo fomentar a Educação por meio das Artes, das quais a Música é seu foco principal.

Por ser um Projeto realizado em um bairro no qual as crianças e adolescentes residem, a facilidade de acesso é ponto positivo para as ações da ONG.

O Conexão nasceu no ano de 2003 por meio da idealização de Vera Santana que pensou, a partir da sua necessidade como educadora, em desenvolver atividades que fomentassem a educação de indivíduos enquanto principais agentes de suas próprias vidas. Nesse direcionamento foi escolhido o bairro de Felipe Camarão por existir nele manifestações da cultura de tradição e transmissão oral.

Esse foi o viés que serviu como ponto inicial para a escrita de um projeto que pudesse abranger o máximo de questões ligadas aos grupos folclóricos, com o objetivo de se promover uma Educação Social pautada nas tradições culturais. Nessa ótica, o Projeto nasce e passa a ter sentido e nome.

Uma das questões iniciais levantadas no momento de entrevista com a mentora e responsável Projeto, Vera Santana, foi a respeito da escolha do local (geográfico) e do nome que identifica o Projeto da Instituição. Em relação à locação, a entrevistada informou que

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buscava um lugar de boa visibilidade por parte da comunidade e que fosse de fácil acesso a futuros visitantes (informação verbal)8.

Quanto ao nome, entendeu que Conexão representava bem os ideais de suas propostas para o bairro a partir do que havia observado como possibilidades de projetos dentro de um mesmo contexto predial, onde todas as atividades de fomento à Cultura se encontram e se fundem.

Os tópicos seguintes apresentam materiais de acordo com as visitas feitas ao local da pesquisa. Informações específicas que proporcionam o esclarecimento a respeito das atividades desenvolvidas no seio do Projeto, a partir de fotografias, das falas dos entrevistados em relação a suas práticas no Conexão e descrições das observações feitas durante o estudo.

2.3.1 O prédio do Conexão (espaços externo e interno)

As atividades do Conexão acontecem na sua sede localizada em um vértice de duas ruas, sendo uma por nome de Indomar e a outra por nome de Maristela Alves, onde esta última tem a entrada e saída do Projeto e endereço oficial.

Foto 3 - Sede do Conexão Felipe Camarão - frente (Rua: Maristela Alves).

Fonte: O autor (2016).

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O prédio tem 10 metros de frente, com 4 metros de altura e 20 metros de profundidade, sendo dividido em 6 partes de tamanhos distintos que comportam a demanda do Projeto, sendo: 3 salas voltadas às práticas educativo-musicais; 1 sala para o Artesanato de Rabeca e outros instrumentos, como o Berimbau; 1 sala para a elaboração e montagem de figurinos; e 1 última parte destinada aos banheiros.

As 3 primeiras salas de Música são assim distribuídas:

1. A primeira, na realidade, é um grande salão que também é o primeiro espaço interno a se ter contato toda pessoa que adentrar. Nela, existem as máquinas de costura, acontecem as aulas de Capoeira, os ensaios do Grupo musical Orquestrim e as reuniões com os pais.

Foto 4 - Salão principal – 1.

Fonte: O autor (2016).

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Foto 5 - Salão principal: máquinas de costura

Fonte: O autor (2016).

O espaço também é palco da Oficina de Capoeira, de acordo com a Foto 6:

Foto 6 - Salão principal: aula de Capoeira

Fonte: O autor (2016).

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Foto 7 - Salão principal: ensaio do Orquestrim

Fonte: O autor (2016).

2. Na segunda sala acontecem as aulas de Flautas (Doce, Pífaro e Transversal) e que segue a mesma dinâmica de utilização do espaço. Na realidade, este ambiente no qual funciona a Oficina de Flautas recebe o nome de Sala de Cultura Digital. Nela, são fixos computadores com os quais os alunos de todo o Conexão podem ter acesso, utilizando programas e softwares livres, existindo ainda a possibilidade de impressões de materiais para as aulas a partir das impressoras. Há uma administração de horários que facilita a utilização do ambiente.

Foto 8 - Oficina de Flautas– 1

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Foto 9 - Oficina de Flautas – 2

Fonte: O autor (2016).

3. Uma terceira sala na qual são propiciadas as aulas de Rabeca, instrumentos de Sopro (Metais e Palhetas) e onde se localizam armários onde são guardados esses instrumentos de Sopro. Nesta mesma sala existe outra pequena ao fundo que serve como uma espécie de pequeno Almoxarifado.

Foto 10 - Oficina de Rabeca

Fonte: O autor (2016).

O nome desta sala está agregado a um tocador de Rabeca de Pernambuco que já esteve no Conexão a convite da direção para participar de eventos de fechamento de ano e rodas de prosa, como também houve o contato dele com alunos do instrumento.

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2.3.2 Artesanatos de corte e costura

Para o desenvolvimento de figurinos e adereços existe uma sala própria na qual os tecidos, linhas, máquinas e um todo sejam guardados. Nesse ambiente são feitos os figurinos das crianças e adolescentes das Oficinas que participam dos Grupos. Essas roupas são pensadas de acordo com as histórias de cada oficina e contextos de mestres e brincadeiras que servem como base para o desenvolvimento visual.

A sala recebe o nome de Moda: estilos e costumes, como pode ser observado na Foto 11:

Foto 11 - Sala de corte e costura – 1

Fonte: O autor (2016).

Neste espaço todas as crianças e adolescentes do Projeto adentram para que sejam observadas as medidas das roupas de cada, permitindo uma melhor adequação das propostas das vestimentas.

2.3.3 Artesanato de Rabeca

A Oficina de Artesanato de Rabeca acontece em uma das salas, sendo a última delas ao fundo da sede do Conexão. Trata-se de um ambiente razoavelmente amplo no qual são desenvolvidas as atividades artesãs com construções, reformas e manutenção de instrumentos, como Rabecas, Alfaias e Berimbaus. Nas Fotos 12, 13, 14 e 15 podemos vislumbrar um pouco do espaço destinado a esta Oficina.

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Foto 12 - Artesanato de Rabeca – 1

Fonte: O autor (2016).

Foto 13 - Artesanato de Rabeca – 2

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Foto 14 - Artesanato de Rabeca – 3

Fonte: O autor (2016).

Foto 15 - Artesanato de Rabeca – 4

Fonte: O autor (2016).

2.3.4 O mamulengo de Josivan de Chico Daniel

Josivan de Chico Daniel é mamulengueiro e tem dado seguimento à brincadeira a partir de seu pai e mestre mamulengueiro Chico Daniel, que também mantinha uma relação direta na forma de oficina no Conexão em atividades educacionais semanais. Porém, na atuação do ano de 2015 as atividades da Oficina de Mamulengo não foram promovidas pela inconsistência financeira da Instituição que depende de seus patrocinadores. Deixaremos para

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tratar do assunto sustento do Conexão em um outro momento, apresentando características e importância na celeridade do Projeto.

A brincadeira do Mamulengo se faz presente em discussões fomentadas pelo desejo e preocupações da TerrAmar em manter a brincadeira em ação. Esse fato pôde ser percebido nos momentos da organização do evento de final de ano – Conexão Brasil – quando do convite ao mamulengueiro Josivan de Chico Daniel a participar da roda de prosa e apresentar-se com os bonecos.

Foto 16 - Biongo da Oficina de Mamulengo do Conexão Felipe Camarão

Fonte: O autor (2016).

Na preparação para receber Josivan de Chico Daniel, alguns professores, outrora alunos do Projeto, se articularam para acompanharem a brincadeira de acordo com suas habilidades na Rabeca, Flautas e Percussão no último dia do evento. O repertório é bem diversificado e, de acordo com as experiências desses tocadores, as músicas utilizadas por eles durante toda uma apresentação partem desde o cancioneiro nordestino, passando por músicas de outras brincadeiras, populares nacionais e até composições dos próprios tocadores.

A performance desses jovens em atuação com o brincante mamulengueiro compõe o espectro das petições desse último, que para partes específicas define a música que deseja ser tocada. Contudo, na maioria das vezes deixa por conta dos músicos a escolha delas, pedindo apenas músicas de estilos ligados aos momentos das cenas. Ou seja, pede-se forró, xote, valsa, galope e assim por diante. E nesse sentido, Josivan de Chico Daniel apresenta seu teatro de João Redondo com o acompanhamento dos tocadores do Projeto Conexão Felipe Camarão.

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Foto 17 - Teatro de Bonecos João Redondo de Josivan de Chico Daniel – 1

Fonte: O autor (2016).

O fato da não existência da oficina da brincadeira do João Redondo no Conexão no ano de 2015 está ligado também ao afastamento do brincante Josivan de Chico Daniel ter sido aprovado em concurso público e transferir sua residência para o local de trabalho que atualmente reside em uma outra cidade do interior do estado do RN.

Muitos aprendizados ligados a repertórios que compõem a brincadeira não se tornaram possíveis no referido ano. Apesar disso, os mais novos alunos das diversas oficinas assistem a documentários específicos da brincadeira na qual seus professores atuam juntamente a mestres antigos que participavam como tocadores, como é o caso do Mestre Cícero da Rabeca que acompanhou por anos Chico Daniel do João Redondo com uma ampla variedade de músicas especialmente tocadas no folguedo.

Quanto ao repertório e sua exploração por parte dos professores de instrumentos do Conexão ao João Redondo, podemos nos concentrar no fato de os professores levarem em consideração as músicas comuns do cancioneiro popular nordestino e de outras brincadeiras.

Outra questão que podemos dar destaque é a execução das músicas enquanto esses músicos atuam em apresentações do teatro. Pois, é de grande valia para um aluno a audição ao vivo e de forma direta, podendo ver e perceber nuances das performances de seus professores junto à brincadeira. Dessa maneira, eles percebem não somente a execução do instrumento, mas como são feitas as escolhas das músicas na hora do fazer brincante. Em algumas vezes, sendo específicos os pedidos e, em outros, ficando a mercê da própria opção do tocador por uma música em detrimento de outra – para determinado instante.

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O contato desses alunos com a tradição está de alguma maneira viva e se faz bastante presente, pois seus professores ainda atuam quando há a necessidade de um evento, mesmo que esporádico, do mamulengo tradicional que existia no bairro de Felipe Camarão.

2.3.5 O Boi de Reis do Mestre Manoel Marinheiro

A brincadeira de Boi de Reis, no Conexão, está presente desde o início das atividades da Instituição quando ainda estava sendo estruturando o Projeto, com a ideia de fortalecer um Boi de Reis Mirim que já se fazia presente. No bairro de Felipe Camarão, Manoel Marinheiro era o mestre da brincadeira que lá se fazia presente. Porém, os ensaios e festejos aconteciam na parte da frente da casa do Mestre, onde em muitas ocasiões seus familiares também participavam e ajudavam a sua esposa, Dona Iza Galvão, no funcionamento das ações.

Dona Iza Galvão conduzia o Boi Mirim que também ensaiava na frente da residência do casal em um espaço de terra. As crianças da família e filhos de vizinhos eram os componentes desse Grupo de festejo de tradição.

Os organizadores da TerrAmar passaram a enxergar a prática como algo de grande valia para a comunidade e entrou em contato com o Mestre e a sua esposa para aliarem ao Projeto as atividades da prática de ensino da brincadeira do Boi às crianças. Nesse sentido, a brincadeira passou a ser parte das atividades do Conexão que ajudou na aquisição dos figurinos.

Segundo Dona Iza Galvão, as crianças do bairro tinham contato com a brincadeira nos vários momentos de ensaios que se faziam do Boi e prestavam atenção aos passos das danças quando as músicas eram tocadas e os personagens entravam para dançar. Além disso, elas ficavam muito atentas aos movimentos dos pés dos participantes quando dançavam (informação verbal)9.

2.3.6 A Capoeira

No espaço do Conexão Felipe Camarão, a Oficina de Capoeira – conforme já iniciada apresentação – tem como sala de aula o hall central de entrada do prédio do Projeto.

É uma sala onde a concentração carece de muita maestria por parte do professor que, com a ênfase na disciplina, consegue manter a atenção de seus aprendizes. Quanto a este

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assunto, o professor tem observações que permeiam sua preocupação com a qualidade do ensino de seus infantes.

De acordo com as entrevistas feitas com o professor de Capoeira e o mestre faremos maiores esclarecimentos das práticas educativas dessa Oficina. A importância de tratar das questões musicais nela existentes está no quesito de como o repertório se estabelece, bem como quais as funções das músicas na própria Oficina e a utilização das músicas nas demais. Assim sendo, também nos importou entender as questões de musicalidade necessárias exigidas pelos professores a seus alunos, bem como um olhar voltado para perceber as questões instrumentais e vocais (com e sem texto), atentando para o bater de palmas nos ritmos propostos pelo professor e mestre.

Nessa ótica, também observamos as relações dos alunos com as músicas, bem como suas respostas sinestésicas a partir do estímulo dos instrumentos tocados nas aulas e rodas. Pois, nas aulas, o professor apresentava os instrumentos, os toques (células rítmicas), as músicas cantadas, as mudanças de todos esses elementos e o que os aprendizes de Capoeira deveriam fazer e como responder a partir dessas incitações musicais.

Foto 18 - Oficina de Capoeira – professor Alisson Samuel - 1

Fonte: O autor (2016).

2.3.7 As parcerias com as escolas da comunidade

O estreitamento da TerrAmar com as escolas do bairro nasceu da necessidade da ONG em se inserir na comunidade e isso foi possível por intermédio do viéis oficial da Educação Básica. Também seria necessário, para se firmar parceria entre as instituições, que os interesses ficassem esclarecidos entre as partes, conforme apresentado no livro Percursos da educação integral: em busca da qualidade e da equidade, dizendo que:

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Para fazer junto com alguém, é preciso identificar alguns pontos de convergência nos quais se apoiará o desenvolvimento de uma aliança que agregue valor à ação conjunta, de modo a ampliar a escala de atendimentos, qualificar resultados ou amplificar o impacto no território. As diferenças nas culturas institucionais, nas expectativas em relação às responsabilidades são, em geral, pontos importantes a serem acordados pelas instituições que trabalharão juntas, especialmente se pertencerem a universos diferentes (FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL, 2013, p. 122).

Desta feita, o Projeto Conexão foi apresentado pela ONG TerrAmar a uma escola que logo vislumbrou a possibilidade dos alunos poderem ter mais um horário durante a semana para permanecer no seio da Escola.

A princípio havia somente uma escola com a qual a TerrAmar mantinha contato direto para desenvolver o Conexão. A Escola Estadual Clara Camarão, com a qual o Projeto já deu início firmando essa parceria. Parceria esta que se deu informalmente entre a direção da ONG com a direção da referida Escola e sem qualquer ligação com programas oficiais. Nesse sentido, a Escola oferecia o espaço de algumas salas de aula aos sábados, nos períodos da manhã e da tarde, para as atividades de ensino das oficinas já existentes, no ano de 2004.

A brincadeira de Reisado, a Capoeira e o Mamulengo estavam presentes desde os primeiros contatos da TerrAmar com a escola Clara Camarão. Também havia a presença de um mestre de Rabeca, conhecido como Cícero da Rabeca, que atuava na brincadeira do Boi e no Teatro de Bonecos.

Inicialmente, os alunos do Projeto eram os mesmos alunos da escola Clara Camarão, bem como alunos de outras escolas do bairro que eram convidados. Houve a aproximação da TerrAmar com as direções das escolas no sentido de apresentar e galgar viabilização de espaço físico nelas para as atividades do Conexão – pois ainda não dispunha de um prédio próprio.

Pois bem, nos períodos de aula durante algumas poucas semanas, a Coordenação da referida Escola se encarregou de comunicar aos pais a respeito da novidade, onde os alunos poderiam se inscrever para ter aulas de Flautas, Percussão, Teatro de Bonecos, aprender a brincar no Boi de Reis, jogar Capoeira e tocar Rabeca, tudo isso aos sábados.

Vale notar que a brincadeira do Reisado, para as crianças, acontecia também em outros dias da semana na casa do Mestre Manoel Marinheiro. E de acordo com o que a Mestra da brincadeira de Reis, Dona Iza Galvão, comentou em entrevista, “elas [as crianças] vinha

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toda hora aqui em casa pra [sic] querer brincar, né? Aí, a gente dizia a elas que era só naquele dia. Mas elas tornavam a vim. Aí a gente decidiu fazer mais dia” (informação verbal)10.

Pudemos perceber que a iniciativa da TerrAmar em estabelecer contatos, tanto com as manifestações quanto com a Escola Clara Camarão, despertou certo movimento de parte da comunidade do bairro em direção às brincadeiras tradicionais, e principalmente o Boi de Reis.

Na busca por novas escolas parceiras, a Coordenação da TerrAmar encontrou na Escola Municipal Maria Cristina outra oportunidade que se construiu na forma de apresentações de alunos das Oficinas de Instrumentos do Projeto em eventos comemorativos e mini oficinas por professores da ONG. E, de maneira semelhante a essas, a Escola Municipal Djalma Maranhão (Felipe Camarão) também estreitou relacionamento com o Projeto. Nesse sentido, a manutenção dos acordos educativos entre as Instituições foram se fortalecendo até os dias atuais, em 2015.

Foto 19 - Escola Estadual Clara Camarão

Fonte: O autor (2016).

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Foto 20 - Escola Municipal Maria Cristina

Fonte: O autor (2016).

Destacamos, dentre as atividades promovidas pelas Escolas a partir dessas parcerias, um acontecimento recente por parte da direção da Escola Maria Cristina que fez uma homenagem ao músico Carlos Zens – então professor do Projeto –, convidando-o como artista, aproveitando a aproximação que se tem com o músico a partir do Projeto Conexão. Percebemos nessa ação que a Escola aproveitou a oportunidade da parceria para promover uma atividade interativa entre os alunos e uma personagem pública.

A respeito de práticas educacionais que se direcionam na busca por ligações com mestres de culturas tradicionais da oralidade podemos citar os exemplos que Sandroni (2000) aponta como interessantes, nas experiências de universidades nos Estados Unidos e na musicalização de crianças em Paris (FR)11. Sandroni (2000, p. 5) diz que: “[...] o exemplo

mais significativo é provavelmente o dos gamelãos javaneses e balineses importados pelo Ocidente desde a década de 60”. E continua pontuando que:

O que torna o gamelão especialmente interessante do ponto de vista didático é seu caráter de instrumento coletivo: trata-se de uma ‘orquestra’ que é concebida como um só instrumento. De fato, nenhum músico pode levar a sua parte do gamelão para casa e estudá-la individualmente - costumo dizer que tal coisa seria equivalente a querer estudar em separado a parte do polegar direito de uma sonata para piano. Com exceção dos poucos instrumentos de sopro e cordas, cada um dos músicos de um gamelão é responsável por apenas um som, que deverá ser acionado no momento exigido para completar a trama melódica em perfeita sintonia com os outros músicos-sons. O ‘bom encaixe’ dos sons de um gamelão corresponde

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literalmente ao bom encaixe dos próprios músicos. O virtuosismo do gamelão é um virtuosismo da sociabilidade (SANDRONI, 2000, p. 5-6).

Sandroni (2000), em sua exposição, deixa-nos perceber que esse modelo de atuação poderá ser conduzido desde a Escola Básica, no Ensino Infantil, até níveis de Graduação, conforme seu relato a respeito de mestres das tradições musicais africanas e asiáticas que são levados às universidades americanas. Diante disso, chama atenção a um ponto importante quando diz que não se deve esperar dos mestres uma postura didática nos moldes das tradições escolares para as quais foram (ou são) convidados. Mesmo porque“[...] o contexto é outro, assim como o público a que se dirigem. Mas o sucesso destas experiências parece indicar que em certa medida é possível alcançar um compromisso entre um quadro institucional de tipo Ocidental e metodologias não-Ocidentais ou populares” (SANDRONI, 2000, p. 7).

Com uma proposta similar, a conexão feita entre a TerrAmar e as Escolas do bairro, a abertura das Escolas a novas possibilidades, os convites e homenagens dessas Escolas a artistas mostram que os laços em prol de uma Educação mais ampliada parecem estar se firmando. E, no caso do Projeto Conexão Felipe Camarão, pode ser um dos resultados das iniciativas de ligação com a comunidade educadora do bairro de Felipe Camarão.

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3 SOBRE ENSINOS DE MÚSICA

Há formas e modelos de ensinar Música que são empregados em determinados contextos, de acordo com a necessidade específica, no intuito de alcançar um melhor rendimento nos aprendizados dos alunos. Nesse sentido, vejamos alguns modelos de ensino.

3.1 Alguns modelos de ensino

O ensino de Música em escolas e conservatórios brasileiros tem sido primordialmente estruturado a partir da música de tradição europeia que adentrou o Brasil no período da colonização, em 1500, com os jesuítas portugueses e espanhóis, servindo como norteadora do ensino dessa música no país. Isso significa dizer que os estudos musicais eram baseados também em compositores passados, quando contemporâneos de cada época como, por exemplo, os períodos barroco, clássico e romântico.

Nesses períodos existiam maneiras comuns de se fazer música entre os compositores que deveriam seguir regras técnicas para as construções de melodias, frases, movimentações harmônicas, seções e a estruturação geral de uma obra, e sendo tudo isso representado pela escrita de partituras.

Assim, a música europeia, e tudo que fizesse parte dela, estava presente nos conservatórios, sendo fortalecida até ser tomada no Brasil como padrão musical a ser ensinado; compreendida como adequada por sua forma organizacional já disseminada em países europeus e trazida com mesmas concepções musicais, permanecendo até os dias atuais no país.

Dessa maneira, somente os modelos de aprendizados musicais europeus de séculos passados tornaram-se bases referenciais nos conservatórios brasileiros, passando também às universidades e conseguindo serem postos como norteadoras para uma prática de formação de novos instrumentistas e músicos. Portanto, tornaram-se presentes em matrizes curriculares dos cursos dessas instituições de ensino que apresentavam essa música como de melhor qualidade em relação a outras modalidades das camadas populares, sendo essas últimas descartadas por serem compreendidas inicialmente como músicas de baixa qualidade.

No entanto, com o passar dos tempos outras possibilidades musicais têm adentrado a realidade dos contextos escolares, como o olhar de novos educadores musicais que têm apresentado novas e diferentes perspectivas das que anteriormente estavam estabelecidas como verdade, mas que dessa vez também veem a música urbana como parte a ser estudada e

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vivenciada nos espaços escolares (GREEN, L., 2012). E isso não somente na Música, mas na Educação de uma forma mais ampla, como sugere Durkheim (1955, p. 27), quando escreve que “[ela] tem variado infinitamente, com o tempo e o meio”. Durkheim (1955) faz um rápido apanhado a respeito de práticas educativas em um passeio pelo tempo e por países diversos inicialmente falando das gregas e latinas, cuja Educação

[...] conduzia o indivíduo a subordinar-se cegamente à coletividade, a tornar-se uma coisa da sociedade. Hoje, esforça-tornar-se em fazer dele personalidade autônoma. Em Atenas, procurava-se formar espíritos delicados, prudentes, sutis, embebidos da graça e harmonia, capazes de gozar o belo e os prazeres da pura especulação; em Roma, desejava-se especialmente que as crianças se tornassem homens de ação, apaixonados pela glória militar, indiferentes no que tocasse às letras e às artes. Na Idade Média, a educação era cristã, antes de tudo; na Renascença toma caráter mais leigo, mais literário; nos dias de hoje a ciência tende a ocupar o lugar que a arte outrora preenchia (DURKHEIM, 1955, p. 27).

Percebe-se, no exposto de Durkheim (1955), que com o passar dos anos, a Educação tem se direcionado por caminhos de desprendimentos que tendem a promover autonomia aos indivíduos das sociedades. Isso porque, com o passar dos anos, cada sociedade vai incorporando novas formas, e as mudanças surgem de acordo com as necessidades dos indivíduos, o que exigem transformações em conteúdos escolares bem como em maneiras de educar os cidadãos.

Contudo, não é unânime entre educadores e instituições, pois existem resistências, conforme nos apresenta Loureiro (2003) quando escreve que há posturas distintas de cunho pedagógico que vêm acontecendo ao longo dos tempos, onde em uma delas o privilégio é por linearidade de conteúdos, enquanto outra aposta na oportunidade da promoção a experiências práticas e dinâmicas assim como no fazer musical.

Nesse sentido, Schön (1992), discute que há a necessidade de novas possibilidades de se pensar a Educação com transformação na maneira de atuação do professor em sala de aula, prevendo ainda que este profissional deva instaurar em sua prática a pesquisa constante no seu ofício de educador para ampliar a capacidade de ensino e consequente melhoria no aprendizado dos alunos. Assim, o alcance e a manutenção da boa qualidade do ensino estarão na maneira de agir do professor enquanto pesquisador, de modo a favorecer a utilização de elementos de vários tempos com novas ferramentas pedagógicas atualizadas que promovam um ensino contemporâneo.

Nesse sentido, na área da Educação Musical podemos observar educadores que se consagraram por suas observações a questões educacionais de seus tempos e as abordagens

Referências

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