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Fonte: O autor (2016).

Em algumas ocasiões, as palmas se apresentam como uma célula rítmica que, dependendo da música em questão, é um motivo rítmico que pode ser mais rápido ou mais lento.

O bater de palmas é iniciado pelo professor que logo pede para os alunos repetirem do mesmo jeito que ele está fazendo.

Ao transcrevermos músicas para a partitura tradicional, podemos dizer que o motivo rítmico envolve dois tempos, onde o primeiro é dividido em duas palmas e o segundo em repouso / pausa. Dessa maneira, a representação na partitura pode ser a partir da fração 2/4, onde a unidade de tempo é uma semínima em um compasso binário simples. Assim, as duas palmas são representadas por duas figuras de som, sendo a primeira uma colcheia pontuada executada na parte forte do tempo e, na sequência, a segunda é uma semicolcheia, deixando o segundo tempo com uma pausa de um tempo.

Também há outra célula rítmica com a seguinte configuração: compasso também binário simples (2/4); segundo tempo dividido em duas partes iguais em colcheias; seguindo para o primeiro tempo do próximo compasso tocando apenas a primeira parte do tempo (parte forte) e deixando a parte fraca como pausa de colcheia.

Essas duas células rítmicas das palmas são executadas em várias músicas presentes na Oficina de Capoeira. A primeira célula rítmica acima, ocorre na música Adeus, adeus57;

enquanto escolhemos para a segunda célula a música São Bento Grande58. 57Música interpretada pelos mestres e alunos da Oficina de Capoeira.

Figura 3– Música: Adeus, adeus

Música: Adeus, adeus

Mestre: Adeus, adeus – Coral: boa viagem Mestre: Eu vou-me embora – Coral: boa viagem

Mestre: Nossa senhora – Coral: boa viagem Fonte: Martins (2015a)59.

Percebemos que, com o desenrolar das aulas, os alunos passam a identificar qual célula rítmica deve ser utilizada para um determinado bater de palmas em relação a uma música executada. E ainda que essa ação aconteça de forma quase imediata, no momento em que o professor inicia um toque no Berimbau ou um Canto Capoeira. É uma atividade de

reflexo em resposta automaticamente sinestésica por parte dos alunos. E acontece sem pressa alguma, apenas sobrevém.

Após o esclarecimento a respeito de palmas, apresentamos os instrumentos de Percussão que são integrantes de suma importância na Capoeira. Silva (2012, p. 109) diz que:

Os instrumentos são inerentes à capoeira e as suas rodas se compõem acompanhadas por alguns deles. Os mais utilizados são o pandeiro, o atabaque e o berimbau, sendo este último uma referência desta prática corporal e o mais importante deles para a capoeira. É o berimbau quem dita o ritmo, a forma de jogar e o que será realizado na roda.

Esses Instrumentos fazem parte da força que rege a Capoeira. São eles os motivadores dos movimentos e

[...] durante o jogo de capoeira angola, os jogadores parecem ser envolvidos por uma atmosfera mágica, uma espécie de transe que conduz toda a movimentação dos capoeiras, um diálogo de corpos que se entrelaçam, deslizam um sobre o outro, orientados pelo ritmo sóbrio dos berimbaus, pandeiros, agogô, reco-reco e atabaque, que compõem a orquestra, e que cumprem a função de manter essa atmosfera solene [...] (ABIB, 2004, p. 70).

Na Oficina do Conexão, os instrumentos também são igualmente importantes tanto para o professor quanto para os alunos que os desejam tocar. O professor oferece a todos os alunos a oportunidade de tocar nos instrumentos, nem que seja por um curto espaço de tempo em algumas aulas. No entanto, quem mais se interessar por tocar o Atabaque, por exemplo, poderá ter a chance se expressar desejo além da curiosidade inicial como a maioria dos alunos apresenta.

No acompanhamento que fizemos com nossas observações às aulas de Capoeira, notamos que já havia 3 alunos mais antigos que faziam as partes nos Atabaques e Pandeiro. Quando perguntamos como havia sido o processo deles para começarem a tocar os Atabaques, o professor nos forneceu essas informações supracitadas.

Desta feita, registramos em áudio os toques das rodas que aconteciam na sala de aula da Capoeira nas músicas Adeus, adeus60 que foram transcritos na seguinte célula rítmica

descrita:

- compasso 2/4;

- primeiro tempo, se subdividido em quatro partes iguais, a primeira batida contempla os três primeiros (3, 3/4), enquanto a quarta parte fica com a segunda batida – ambas percutidas na região grave do instrumento (colcheia pontuada + semicolcheia);

- o segundo tempo é dividido em duas partes iguais, onde a batida da parte forte do tempo é na região grave do instrumento, enquanto a segunda (na parte fraca) é mais à borda do Atabaque produzindo um som mais agudo que o anterior (duas colcheias: grave e médio).

Também escolhemos a música Paranauê61, de andamento mais lento, inicialmente,

mas podendo acelerar de acordo com o pedido do professor. Vamos à descrição: - compasso 2/4;

- uma batida na parte forte do primeiro tempo na região grave do instrumento sem nada na segunda metade do tempo (colcheia + pausa de colcheia);

- segundo tempo dividido em duas partes iguais, no qual a parte forte é percutida na região grave e a segunda metade (parte fraca) é percutida na região aguda.

Figura 4– Paranauê – Melodia do Canto

Paranauê

Paranauê (cont.)

3) Mestre

Deus verá que o Morro – Paraná Se mudou para a cidade – Paraná

5) Mestre

Cantando com alegria – Paraná Mocidade estimada – Paraná

4) Mestre

Eu aqui não sou querido – Paraná Mas na minha terra eu sou – Paraná Coro

Coro

6) Mestre

O enfeite de uma mesa – Paraná É um garfo e uma colher - Paran Fonte: Martins (2015b)62.

Figura 5– Paranauê – Melodia de Canto e Percussão

Fonte: Martins (2015b)63.

Nessa última música, o Atabaque é encarregado de executar a célula, mas a cada giro, de aproximadamente 8 compassos binários (2/4), o instrumentista pode fazer uma variação rítmica de maneira improvisada e logo retomar a célula base para dar continuidade.

Como dito, identificamos o comportamento espontâneo dos infantes a vários estímulos sonoros, como também é o caso do Berimbau. Porém, antes de falarmos da presença desse Instrumento na Oficina de Capoeira do Conexão, façamos uma apresentação para que possamos conhecê-lo.

Para compreendermos a estrutura instrumental da Capoeira, de modo geral, vejamos como Candusso (2009, p. 1) descreve a Capoeira, com ênfase ao Berimbau:

Um ritmo, um som que magnetiza e atrai para si as pessoas. Um pau de biriba, uma cabaça, um arame. O berimbau. Um dobrão, uma vareta (ou baqueta), um caxixi. O som produzido ecoa longe. Corpos jogando ao som do berimbau. Roda. Ritmo. Toques. Cantiga. Ritual. Ancestralidade. Celebração. Vida.

Trata-se de um monocórdio de grande vara de curva (em média de 1,4 a 1,6 metros), onde nas extremidades é fixado um arame, ou fio de aço espesso, que se mantém em linha reta. Há uma cabaça amarrada por meio de dois pequenos furos que a partir deles é passada uma linha grossa que se fixa na parte inferior e traseira do Instrumento. A cabaça ainda tem uma ligeira abertura circular voltada para trás. Essa parte do Instrumento é segurada normalmente com a mão esquerda.

Há uma baqueta que é levada ao encontro do arame do Berimbau, percutindo nele para que vibre e assim produza um som que é amplificado pela cabaça. Ainda com a mão direita é possível segurar um caxixi, que também é parte do aparato do Berimbau. Apesar de ter apenas

uma corda é possível extrair do arame dois sons a partir da utilização de uma pedra ou moeda que é segurada pela mão esquerda, tornando bifônico o Instrumento.

O estudo do Berimbau na Oficina de Capoeira do Conexão faz parte da vontade de experimento de cada aluno pelo Instrumento, não sendo uma obrigação e sim uma oportunidade que o professor proporciona por meio da exposição e diz que todos podem tocar um pouco para sentir. A partir desse passo, os alunos têm livre acesso para tocar na forma de rodízio e em momentos de pausas entre as aulas ou intervalos delas. Porém, quando desejam tocar o Instrumento nas práticas das rodas de Capoeira da própria Oficina, só o poderão fazer quando o professor perceber real interesse, se dedicarem nas oportunidades que surgirem e estiverem com alguns toques de Berimbau bem internalizados.

Tudo começa com as oportunidades dos rodízios nas aulas e nesses experimentos entre as aulas. Nesse passo, quase todos apresentam curiosidades, todavia poucos são os que se interessam por continuar experimentando até conseguirem relativos domínios de certos ritmos e batidas. São práticas informais entre os alunos das Oficinas durante os intervalos de aula.