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Oficina de Flautas (Doce, Pífaro e Transversal) – 2

Fonte: O autor (2016).

A Foto 28 apresenta uma lousa branca sobre a qual o professor escreveu versões de três músicas, sendo uma do Boi de Reis do Mestre Manoel Marinheiro, outra do Mestre Cícero da Rabeca e uma terceira de Paulo Vanzoline.

O Jaraguá (Boi de Reis) é o título dado à primeira partitura escrita na lousa (de cima para baixo), estando de acordo com a transcrição feita pelo professor Carlos Zens da música de um dos bichos / personagens da brincadeira de Boi de Reis. E, de forma semelhante, as codificações para a partitura foram elaboradas quando das músicas de outros mestres, como A Gia Canta (Mestre Cícero da Rabeca) e Cuitelinho (Bento Costa).

Importou perguntar aos professores quando eles identificam como importante o momento de uso de partituras, gráficos, e aprender de ouvido. Como essas três formas se dão nas práticas de ensino.

Se pensarmos o processo de transcrição de músicas de tradição oral para gráficos da música ocidental levantaremos uma discussão pertinente para nosso estudo quanto ao que se pretende com essa prática.

5.2.5 As aulas de Instrumentos de Sopro (Saxofone, Clarinete, Trompete, Trombone, Bombardino e Tuba)

A princípio, de acordo com informações do professor Leonardo Santos, há disponibilidade de instrumentos a serem tocados. Então, quando chega um aluno novo, o professor pergunta a respeito de seu interesse por instrumento. Qual sua preferência. A partir

disso, ele diz ao aspirante se há disponibilidade daquele instrumento. E não havendo, ele sugere ao aluno que aproveite a disponibilidade de outros e aí possa escolher dentre aqueles (informação verbal)42. O intuito do professor é agregar esse aluno às atividades dentro do

Projeto.

Entrando, esse aluno terá aulas de seu instrumento no mesmo ambiente e dia que os demais. As aulas são em grupo onde o professor faz “agrupamentos como numa Banda de Música. Tipo como naipes” (informação verbal)43.

Em primeiro momento, perguntamos se havia uma sala exclusiva para desenvolver as aulas de Metais. Com suas repostas e nossas observações percebemos certa dinâmica em relação.

Os ambientes nos quais são ministradas as aulas de Metais variam de acordo com os dias. Nos dias e horários que não há aula de construção de instrumentos, em sala preparada, as aulas de Metais acontecem nela. Ao mesmo tempo em que não houver atividades de outras Oficinas, o professor conduz os aprendizes para o salão de entrada, sendo dividida a turma entre esses espaços.

No início, eu escrevi uns arranjos para os Metais e tentei que desse certo. Mesmo porque eu vinha com uma carga muito grande das minhas práticas em Bandas de Música. Mas, com o tempo, vi que não poderia ser assim e passei a adaptar e até mesmo refazer. A leitura de partitura exige certo tempo para o menino entender. E isso não dava pra [sic] fazer de imediato (informação verbal)44.

A leitura de partituras é um dos procedimentos com os quais o professor dispõe inicialmente para suas aulas. No entanto, passou a permitir que os alunos pusessem os nomes das notas a cima ou abaixo das cabeças das notas escritas em partitura. Isso por se tratar da necessidade percebida pelo professor em relação ao pouco tempo que dispunha para ensinar os alunos um repertório para apresentar em eventos.

Como em todo o Projeto, as músicas trabalhadas na Oficina de Metais são das brincadeiras tradicionais, onde se apresenta o desafio da vivência da cultura de tradição com instrumentos que não são originais delas.

Quanto a isso, os alunos quando vem pra [sic] cá, já sabem que o tipo de repertório que é trabalhado. Eles vêm porque ouviram outros amiguinhos

42Informação fornecida por Leonardo Santos, na sede do Conexão, em Natal - RN, em setembro de 2015. 43Informação fornecida por Leonardo Santos, na sede do Conexão, em Natal - RN, em setembro de 2015. 44Informação fornecida por Leonardo Santos, na sede do Conexão, em Natal - RN, em setembro de 2015.

vizinhos deles e que já são alunos do Projeto, tocando sua Rabeca, sua Flauta ou Percussão. Então, a gente não tem muito trabalho quanto a isso. Eles vêm pelo próprio interesse das coisas que já viram daqui (informação verbal)45.

Quanto ao repertório que o professor Leonardo Santos utiliza nesta Oficina, perguntamos se, quantas e quais eram as músicas que os alunos dos Metais estavam tocando da Capoeira, ao que nos respondeu que se tratavam de duas (Paranauê46 e São Bento

Grande47), mas que já estava sendo preparada Adeus, adeus48(informação verbal)49.

A respeito dos tons que os meninos estavam tocando algumas músicas da Capoeira, ele nos respondeu as músicas Adeus, adeus50e Paranauê51(informação verbal)52. O professor

Leonardo Santos diz:

Emerson, eu não sei por que que eu não consigo resultados que gostaria de obter com os meninos da Oficina de Metais. A facilidade com que os outros meninos da Rabeca, por exemplo, conseguem sair [mudar] de tom para outro, de uma música pra [sic] outra com menos aperreio, e os meninos de Metais não conseguem. Eu tenho que achar esse fio aí pra [sic] dar certo (informação verbal)53.

Em relação à questão de pertencimento da cultura de tradição existente no bairro, Leonardo diz que:

De certa forma, apesar de não ser a música pela música... mas é uma coisa ampla [..], intensa, grande e que arrasta as pessoas, como eu tô [sic] lhe dizendo... lá em Dona Iza [Galvão] tem dois Grupos de Boi de Reis Mirins. São várias crianças. E esses meninos viram adolescentes e, muitas vezes, tem até vergonha. Mas, o bacana é que os adolescentes viram adultos. E depois que essa fase complicada [...] passa... eles se identificam novamente... por que eu vejo adultos, quando a gente toca a música do Boi, o cara... parece [a música] vassourinha... todo mundo se anima assim, sabe? (informação verbal)54.

E quando perguntamos a Leonardo Santos a respeito da necessidade da montagem do repertório para o Conexão Brasil, nos informoudizendo que: “Olha... é um desafio, porque o

45Informação fornecida por Leonardo Santos, na sede do Conexão, em Natal - RN, em setembro de 2015. 46Música interpretada pelos alunos da Oficina de Metais.

47Música interpretada pelos alunos da Oficina de Metais. 48Música interpretada pelos alunos da Oficina de Metais.

49Informação fornecida por Leonardo Santos, na sede do Conexão, em Natal - RN, em setembro de 2015. 50Música interpretada pelos alunos da Oficina de Metais.

51Música interpretada pelos alunos da Oficina de Metais.

52Informação fornecida por Leonardo Santos, na sede do Conexão, em Natal - RN, em setembro de 2015. 53Informação fornecida por Leonardo Santos, na sede do Conexão, em Natal - RN, em setembro de 2015. 54Informação fornecida por Leonardo Santos, na sede do Conexão, em Natal - RN, em setembro de 2015.

nível dos alunos ainda não dá. Vou ter que fazer adaptações para que todos não deixem de tocar” (informação verbal)55.

Na exposição das práticas das Oficinas do Conexão podemos dizer que toda prática de sala procura se afinar com as brincadeiras. As músicas das brincadeiras são aprendidas em sala de aula, mas os alunos têm contato com os mestres quando das oportunidades da visita deles ao Projeto. Dona Iza Galvão vai toda a semana no Conexão, e, muitas vezes, é convidada pelos professores para ouvir como os alunos estão tocando as músicas do Boi de Reis. Mestre Marcos também se faz presente em vários momentos. No entanto, outros mestres, como o de Rabeca, que é o Instrumento apresentado como carro-chefe do Projeto, não há mais. Apesar de em outrora, quando ainda estávamos em pesquisa de iniciação científica, termos apresentado e facilitado o contato da ONG com um dos mestres desse Instrumento na região metropolitana de Natal.

Para concluirmos esta parte da exposição de Oficinas do Conexão podemos apresentar o Quadro 3 a partir de questões levantadas em relação à utilização de músicas de folguedos em sala de aula.

5.2.6 A Oficina de Capoeira

Na Oficina de Capoeira do Conexão, o aprendizado musical está presente como parte da formação dos indivíduos comungantes das práticas gerais da Arte. O professor conduz o ensino da Capoeira de maneira semelhante a um mestre que conduz seu grupo em um contexto Capoeira fora do Projeto. Nesse sentido, o professor segue os ensinamentos de acordo com os objetivos e a realidade do Projeto como, por exemplo, a disciplina, organização, civilidade e compromisso de um projeto social.

Os momentos das práticas estão de acordo com filosofias e cada mestre segue uma específica, representando uma disposição de partes equivalentes em que cada condutor tem a liberdade de modificar a partir das próprias experiências acumuladas ao longo dos anos e os objetivos tanto da filosofia quanto de um mestre nela com base ou na “Capoeira de Angola” ou na “Capoeira Regional” (REIS, 1997, p. 99).

Na Capoeira há várias músicas para os inúmeros momentos, formando um repertório que é imprescindível na roda, onde cada uma serve, também, como condutora dos ânimos56

dos praticantes, sendo essa uma de suas funções. E, mesmo não sendo o central objetivo, a

55Informação fornecida por Leonardo Santos, na sede do Conexão, em Natal - RN, em setembro de 2015. 56Ânimo aqui está no sentido das emoções de cada pessoa no grupo.

música é um elemento indispensável, porém está a serviço de um todo e, por isso, sua presença e disposição representam grande grau de importância. Sendo assim, segue um padrão em relação aos objetivos do Mestre Capoeira para momentos específicos (ARAÚJO, 2004).

E apesar de não existir um repertório específico para início de um trabalho pedagógico, na Oficina de Capoeira do Conexão o professor utiliza a música da Capoeira a partir das músicas da Capoeira de Angola.

No Conexão, os alunos da Oficina de Capoeira se referem ao professor tanto por este título como pelo título de mestre, pois se trata da prática da hierarquia existente na própria Arte. Hierarquia esta que é contada sua história aos aprendizes no primeiro dia de aula e aprofundada no decorrer das demais.

Para poder dar continuidade, façamos uma distribuição de nomenclaturas para ficar claro quando estamos tratando das questões referentes ao professor e das questões referentes ao mestre. Essa ordem não segue uma estrutura que nos veio apenas como possibilidade de organizar as ideias, do contrário ela está diretamente baseada nos comportamentos e ações observadas no locus.

Desta feita, quando estivermos utilizando o título de professor, estamos nos relacionando com o Capoeira Alisson Samuel, sendo esse título que ele emprega a seus alunos desde o primeiro dia aula. Ou seja, ele tem o cuidado de apresentar as diferenças entre a função dele como funcionário da TerrAmar e a situação do Mestre Marcos. Este último, por sua vez, é Mestre Capoeira reconhecido pela Instituição e, dessa maneira, é apresentado para os alunos do professor Alisson Samuel.

Com o professor Alisson Samuel, os alunos passam a ter os primeiros contatos com a música de Capoeira na Oficina ocorrendo desde a primeira aula. Nesse primeiro encontro é apresentada aos alunos, de forma prática, a parte percussiva do bater de mãos (em palmas), ao mesmo tempo em que os alunos ouvem o próprio professor tocar um dos instrumentos de Percussão, podendo ser tanto um Pandeiro quanto um Atabaque. Ainda na primeira aula, os alunos são estimulados pelo professor a cantar uma música de acordo com sua petição de repetição do mesmo fragmento executado por ele.

Na prática desta Oficina, não se preconiza o aprendizado da música dissociada dos movimentos de corpo, como o próprio bater de palmas já se apresenta. O conhecimento musical nesse contexto é oral, ou seja, aprende-se primordialmente pela audição. A esse respeito, apresentamos aqui as observações das partes musicais e abordamos suas importâncias sob os seguintes aspectos:

1) Cantos (melodia e texto); 2) bater de palmas;

3) tocar instrumentos de Percussão; e 4) tocar de Berimbaus.

Comecemos com a parte vocal no fazer do Canto, onde observamos que seu ensino acontece normalmente no tempo seguinte à fala do professor e anterior às práticas de movimentos. É específico para a prática, pois se refere a músicas com textos os quais são executadas pelo professor / mestre e devendo serem repetidas pelos alunos, cada trecho, logo em seguida.

Inicialmente, a fixação do conhecimento está na preocupação pela assimilação dos textos. Paralelamente, fica implícita a necessidade da precisão rítmica de cada palavra e/ou frase, permanecendo em outro plano a altura das notas e suas relações intervalares. A precisão das alturas das notas na melodia não parece ser uma preocupação para o professor de Capoeira.

Com o transcurso das aulas, os alunos passam a ouvir mais as letras das músicas, internalizando e, consequentemente, se apropriando delas. Nesse processo, as rítmicas das melodias são aprendidas e as alturas das notas bem como as relações intervalares tendem a se fixar também. É um processo que leva um tempo relativamente longo, perpassando por diversas aulas até que o professor se mostre satisfeito com os resultados dos alunos. Haja vista a não existência, no grupo, de um instrumento melódico ou harmônico cuja serventia fosse a de referenciar a altura de uma mesma nota para toda vez que há a prática do Canto. Mas, seria necessário um instrumento nessa prática? Também não percebemos qualquer inclinação por parte de professores de outras Oficinas ou petição por parte do professor da Capoeira em relação a esse assunto. A resposta para nossa pergunta já apresentamos quando dissemos que esse não é o foco da Capoeira.

A questão é, que em sua gênese, a realidade da Oficina de Capoeira dispensa a utilização de instrumentos melódicos em suas aulas, mesmo que isso pudesse servir de base para determinar alturas de notas musicais ao professor antes de serem iniciados os Cantos e ensinados aos alunos.

Nesse raciocínio, notamos que o ensino do Canto na Oficina de Capoeira é realizado por imitação, onde o professor canta um determinado trecho da melodia guardando despreocupação com as questões de definições das alturas e relações intervalares. Ou seja, se a partir de uma determinada altura melódica inicial – vinculada a uma sílaba do texto de uma música, por exemplo – a melodia estiver no sentido ascendente, o aluno é instruído

intuitivamente a fazer o mesmo movimento. No entanto, dependendo da energia desprendida pelo professor em cantar novamente a seus alunos, quase sempre o faz com início em uma nova altura também. Desse modo, todo o fragmento melódico é deslocado de acordo com seu novo início. Esse, por sua vez, também não tem manutenção de relações intervalares – como terças (maiores ou menores) e pequenas aproximações –, mas o professor prioriza a direção melódica entre uma sílaba cantada e outra, sendo o mais importante para essa prática de Canto.

Outro aspecto importante a ser notado nessa prática é a altura da primeira nota de início de uma melódica (trecho ou música completa), onde sua precisão não é sempre a mesma, se analisarmos a partir de um diapasão. Como já dissemos, não há qualquer referencial melódico ou harmônico, ficando a melodia por ser iniciada de acordo com a memória do professor.

Nessa atmosfera, os Cantos são ensinados, praticados repetidamente pelo professor e os alunos, em repetições imediatas, aprendem a cantar de acordo com suas compreensões e capacidades, e assim por diante são continuados os aprendizados melódicos das músicas, bem como é o caso da parte rítmica dessas melodias que são aprendidas em paralelo.

Esta é uma parte que não está dissociada da anterior. Pois, no mesmo instante em que o professor apresenta e faz as repetições das melodias, ele contempla a rítmica de cada fragmento melódico e, com essa configuração, a música é compreendida ritmicamente em paralelo à melodia.

Em se tratando de ritmo, adentremos na exposição das questões da parte instrumental da Capoeira. É sob essa ótica que nessa Oficina temos uma subdivisão em três partes: a primeira parte é a das palmas; em seguida, a da Percussão com os instrumentos como Atabaque e Pandeiro e, por fim, a terceira parte é de ensinar a tocar de Berimbaus.

Na primeira parte temos as palmas. Elas estão presentes em todos os momentos desde os instantes que os instrumentos de Percussão são tocados. Passando pelas ocasiões somente de Canto, de tocar apenas os Berimbaus e, depois, quando todos estes fenômenos sonoros são executados ao mesmo tempo.