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As parcerias com as escolas da comunidade

Foto 31 – Orquestrim – 1

2.3 Projeto Conexão Felipe Camarão

2.3.7 As parcerias com as escolas da comunidade

O estreitamento da TerrAmar com as escolas do bairro nasceu da necessidade da ONG em se inserir na comunidade e isso foi possível por intermédio do viéis oficial da Educação Básica. Também seria necessário, para se firmar parceria entre as instituições, que os interesses ficassem esclarecidos entre as partes, conforme apresentado no livro Percursos da educação integral: em busca da qualidade e da equidade, dizendo que:

Para fazer junto com alguém, é preciso identificar alguns pontos de convergência nos quais se apoiará o desenvolvimento de uma aliança que agregue valor à ação conjunta, de modo a ampliar a escala de atendimentos, qualificar resultados ou amplificar o impacto no território. As diferenças nas culturas institucionais, nas expectativas em relação às responsabilidades são, em geral, pontos importantes a serem acordados pelas instituições que trabalharão juntas, especialmente se pertencerem a universos diferentes (FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL, 2013, p. 122).

Desta feita, o Projeto Conexão foi apresentado pela ONG TerrAmar a uma escola que logo vislumbrou a possibilidade dos alunos poderem ter mais um horário durante a semana para permanecer no seio da Escola.

A princípio havia somente uma escola com a qual a TerrAmar mantinha contato direto para desenvolver o Conexão. A Escola Estadual Clara Camarão, com a qual o Projeto já deu início firmando essa parceria. Parceria esta que se deu informalmente entre a direção da ONG com a direção da referida Escola e sem qualquer ligação com programas oficiais. Nesse sentido, a Escola oferecia o espaço de algumas salas de aula aos sábados, nos períodos da manhã e da tarde, para as atividades de ensino das oficinas já existentes, no ano de 2004.

A brincadeira de Reisado, a Capoeira e o Mamulengo estavam presentes desde os primeiros contatos da TerrAmar com a escola Clara Camarão. Também havia a presença de um mestre de Rabeca, conhecido como Cícero da Rabeca, que atuava na brincadeira do Boi e no Teatro de Bonecos.

Inicialmente, os alunos do Projeto eram os mesmos alunos da escola Clara Camarão, bem como alunos de outras escolas do bairro que eram convidados. Houve a aproximação da TerrAmar com as direções das escolas no sentido de apresentar e galgar viabilização de espaço físico nelas para as atividades do Conexão – pois ainda não dispunha de um prédio próprio.

Pois bem, nos períodos de aula durante algumas poucas semanas, a Coordenação da referida Escola se encarregou de comunicar aos pais a respeito da novidade, onde os alunos poderiam se inscrever para ter aulas de Flautas, Percussão, Teatro de Bonecos, aprender a brincar no Boi de Reis, jogar Capoeira e tocar Rabeca, tudo isso aos sábados.

Vale notar que a brincadeira do Reisado, para as crianças, acontecia também em outros dias da semana na casa do Mestre Manoel Marinheiro. E de acordo com o que a Mestra da brincadeira de Reis, Dona Iza Galvão, comentou em entrevista, “elas [as crianças] vinha

toda hora aqui em casa pra [sic] querer brincar, né? Aí, a gente dizia a elas que era só naquele dia. Mas elas tornavam a vim. Aí a gente decidiu fazer mais dia” (informação verbal)10.

Pudemos perceber que a iniciativa da TerrAmar em estabelecer contatos, tanto com as manifestações quanto com a Escola Clara Camarão, despertou certo movimento de parte da comunidade do bairro em direção às brincadeiras tradicionais, e principalmente o Boi de Reis.

Na busca por novas escolas parceiras, a Coordenação da TerrAmar encontrou na Escola Municipal Maria Cristina outra oportunidade que se construiu na forma de apresentações de alunos das Oficinas de Instrumentos do Projeto em eventos comemorativos e mini oficinas por professores da ONG. E, de maneira semelhante a essas, a Escola Municipal Djalma Maranhão (Felipe Camarão) também estreitou relacionamento com o Projeto. Nesse sentido, a manutenção dos acordos educativos entre as Instituições foram se fortalecendo até os dias atuais, em 2015.

Foto 19 - Escola Estadual Clara Camarão

Fonte: O autor (2016).

Foto 20 - Escola Municipal Maria Cristina

Fonte: O autor (2016).

Destacamos, dentre as atividades promovidas pelas Escolas a partir dessas parcerias, um acontecimento recente por parte da direção da Escola Maria Cristina que fez uma homenagem ao músico Carlos Zens – então professor do Projeto –, convidando-o como artista, aproveitando a aproximação que se tem com o músico a partir do Projeto Conexão. Percebemos nessa ação que a Escola aproveitou a oportunidade da parceria para promover uma atividade interativa entre os alunos e uma personagem pública.

A respeito de práticas educacionais que se direcionam na busca por ligações com mestres de culturas tradicionais da oralidade podemos citar os exemplos que Sandroni (2000) aponta como interessantes, nas experiências de universidades nos Estados Unidos e na musicalização de crianças em Paris (FR)11. Sandroni (2000, p. 5) diz que: “[...] o exemplo

mais significativo é provavelmente o dos gamelãos javaneses e balineses importados pelo Ocidente desde a década de 60”. E continua pontuando que:

O que torna o gamelão especialmente interessante do ponto de vista didático é seu caráter de instrumento coletivo: trata-se de uma ‘orquestra’ que é concebida como um só instrumento. De fato, nenhum músico pode levar a sua parte do gamelão para casa e estudá-la individualmente - costumo dizer que tal coisa seria equivalente a querer estudar em separado a parte do polegar direito de uma sonata para piano. Com exceção dos poucos instrumentos de sopro e cordas, cada um dos músicos de um gamelão é responsável por apenas um som, que deverá ser acionado no momento exigido para completar a trama melódica em perfeita sintonia com os outros músicos-sons. O ‘bom encaixe’ dos sons de um gamelão corresponde

literalmente ao bom encaixe dos próprios músicos. O virtuosismo do gamelão é um virtuosismo da sociabilidade (SANDRONI, 2000, p. 5-6).

Sandroni (2000), em sua exposição, deixa-nos perceber que esse modelo de atuação poderá ser conduzido desde a Escola Básica, no Ensino Infantil, até níveis de Graduação, conforme seu relato a respeito de mestres das tradições musicais africanas e asiáticas que são levados às universidades americanas. Diante disso, chama atenção a um ponto importante quando diz que não se deve esperar dos mestres uma postura didática nos moldes das tradições escolares para as quais foram (ou são) convidados. Mesmo porque“[...] o contexto é outro, assim como o público a que se dirigem. Mas o sucesso destas experiências parece indicar que em certa medida é possível alcançar um compromisso entre um quadro institucional de tipo Ocidental e metodologias não-Ocidentais ou populares” (SANDRONI, 2000, p. 7).

Com uma proposta similar, a conexão feita entre a TerrAmar e as Escolas do bairro, a abertura das Escolas a novas possibilidades, os convites e homenagens dessas Escolas a artistas mostram que os laços em prol de uma Educação mais ampliada parecem estar se firmando. E, no caso do Projeto Conexão Felipe Camarão, pode ser um dos resultados das iniciativas de ligação com a comunidade educadora do bairro de Felipe Camarão.

3 SOBRE ENSINOS DE MÚSICA

Há formas e modelos de ensinar Música que são empregados em determinados contextos, de acordo com a necessidade específica, no intuito de alcançar um melhor rendimento nos aprendizados dos alunos. Nesse sentido, vejamos alguns modelos de ensino.