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Interpretação da língua brasileira de sinais a partir do gênero jornalístico televisivo: elementos verbo-visuais na produção de sentidos MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM

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Marcus Vinícius Batista Nascimento

Interpretação da língua brasileira de sinais a partir do gênero

jornalístico televisivo: elementos verbo-visuais na produção de

sentidos

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA

LINGUAGEM

SÃO PAULO

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Marcus Vinícius Batista Nascimento

Interpretação da língua brasileira de sinais a partir do gênero

jornalístico televisivo: elementos verbo-visuais na produção de

sentidos

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA

LINGUAGEM

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, sob a orientação da Professora Doutora Elisabeth Brait.

SÃO PAULO

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BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

__________________________________________

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(5)

Para o povo surdo, por ser o motivo da existência de tradutores intérpretes de língua de sinais.

Para os profissionais tradutores intérpretes de libras/português, por serem os responsáveis pela construção da ponte enunciativo-discursiva

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AGRADECIMENTOS

Agradecer é ação constitutiva da trajetória do humano em busca de objetivos previamente traçados. Isso porque não é possível traçar objetivos, planos ou até mesmo sonhos sem um processo de alteridade, isto é, de envolvimento do outro (ou

de outros) durante a caminhada. Nesse sentido, queremos agradecer alguns desses

outros que fizeram parte dessa trajetória.

Primeiramente, ao Deus Criador de todas as coisas. Cada porta aberta, cada passo dado e cada escolha realizada aconteceu por Tua permissão. Tu estás em tudo: do silêncio que impulsiona às reflexões, aos conflitos que nos direcionam à busca desse mesmo silêncio. “Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas”

(Romanos 11: 36). Obrigado por ser Senhor em minha vida!

À CAPES pelo apoio financeiro para a realização desta pesquisa.

À minha orientadora, Professora Doutora Beth Brait, por me permitir compor o “círculo braitiano” e por me fazer caminhar do primeiro momento, “Deus e sua época”, até a especificidade desta pesquisa. As orientações sobre a natureza constitutivamente dialógica da linguagem ampliaram meus horizontes para a vida!

À minha mãe, Fátima, pelo amor, carinho e incentivo constante na vida, no caminhar profissional e acadêmico e por compreender as bagunças temporárias com os livros e papéis sobre a mesa, cama e sofá.

Às professoras Kathryn Harrison (PUC-SP) e Ronice Quadros (UFSC) por terem aceitado prontamente compor as bancas de qualificação e defesa final deste trabalho. Obrigado pela possibilidade de crescer com as sugestões valiosas oriundas de suas experiências profissionais e acadêmicas.

Aos professores do Programa de Pós Graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem – LAEL/PUC-SP – que tive oportunidade de conviver e aprender nesse tempo ou ainda na graduação: Angela Lessa, Fernanda Liberali, Zuleica Camargo, Tony Sardinha e Lúcia Arantes.

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Às professoras da graduação em Fonoaudiologia da PUC-SP – Cecília Bonini, Lúcia Masini, Vera Teixeira, Laura Martz, Iza Garcia – por serem as responsáveis pelo despertar do interesse investigativo/científico pela linguagem ainda nos primeiros anos da trajetória acadêmica.

À equipe do Núcleo de TV da AVAPE responsável pela produção do

Programa Sentidos, corpus desta pesquisa: Alessandra Nunes, Giovana Batisttella,

Adriana Minei, Rafael Carvalho, Almir Bonfim Jr. Obrigado pela oportunidade de fazer parte de uma equipe tão dedicada a uma causa 100% social!

Aos colegas que compartilharam dúvidas, tensões e conhecimento nas discussões de nossos trabalhos durante esses dois anos: Bruna Dugnani, Claudia Garcia, Rodolfo Vianna, Rodrigo Fernando, Sandra Lima, Fábio Wolf, Sirlene Barbosa, Orisson Júnior e Maria Inês Otranto.

Aos amigos da Juventude PIB Maia que foram pedra de arrimo nos momentos tempestuosos que permearam essa caminhada: Kleidy França, Willian Valério, Taveira Júnior e Ricardo Castro. Obrigado pela preciosa amizade, poderosa força e apoio constante e incondicional.

À amiga de sempre, Vera Suzart, por me possibilitar enxergar realidades de outros pontos de vista que não o da minha própria altura. Obrigado por alargar minhas fronteiras.

Aos amigos Davi do Carmo, Paula Lima e Diego Moreira pela amizade, carinho, apoio e incentivo para prosseguir e continuar avançando em direção aos meus objetivos profissionais e acadêmicos.

À amiga e colega tradutora intérprete de libras/português, Juliana Fernandes, por ter sido a minha anfitriã no universo dos surdos, por me ouvir, por falar, por me apoiar, por elucubrarmos juntos e pelo sonhar conjunto na possibilidade de construir não só uma formação acadêmica para os TILSP, mas pela luta do reconhecimento profissional dessa classe de trabalhadores.

Aos colegas do Setor de Intérpretes da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (SEINT/FENEIS-SP) pela força e incentivo durante este trabalho.

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Sylvia Lia, Moryse Saruta, Tiago Codogno, Daniela Cury, Paullo Vieira, Mariana Campos, Neivaldo Zovico, Fernando Silva, Aryane Costa, Priscilla Gaspar, Alexandre Melendez, Rodrigo Sabro, Elomena Almeida.

Aos amigos e colegas tradutores intérpretes de libras/português que me acompanharam e me apoioram no percurso deste trabalho: Regiane Eufrausino, Ricieri Palha, Renato Rodrigues, Aaron Rudner, Cyntia Teixeira, Odirlei Faria, Lilian Coutinho, Vânia Santiago, Adriano Paiva. Espero que esta pesquisa possa contribuir para a reflexão e formação de todos aqueles que decidem atuar nessa prazerosa e conflituosa profissão.

A todo o povo surdo por serem os principais motivadores de uma formação de excelência de profissionais tradutores intérpretes de libras/português. A nossa existência é determinada pela existência de vocês!

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Interpretação da língua brasileira de sinais a partir do gênero jornalístico televisivo: elementos verbo-visuais na produção de sentidos

Marcus Vinícius Batista Nascimento

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo realizar uma análise descritiva da atuação do tradutor intérprete de libras/português (TILSP) no gênero jornalístico e na esfera de atividade televisiva a partir da experiência de atuação do autor desta pesquisa como intérprete nesse gênero do discurso. Para isso escolhemos como corpus uma produção telejornalística, de domínio público, constituída por um recorte de uma edição do Programa Sentidos, veiculado por meio de um canal de TV a cabo, disponibilizado na internet posteriormente, com interpretação para a libras durante a exibição. Questionamos que elementos verbo-visuais colaboram e/ou interferem na interpretação da libras no gênero jornalístico, esfera televisiva; como esses elementos afetam as escolhas tradutórias e a construção lexical e sintática na interpretação da libras a partir desse gênero; e quais efeitos de sentidos são produzidos a partir da interferência desses elementos no processo de interpretação do português para a libras. Nesse sentido, fundamentamos a pesquisa na teoria do Círculo de Bakhtin compreendendo os conceitos de exotopia, cronotopo, gêneros do

discurso, enunciação, enunciado concreto, texto, discurso, autoria e situação

extraverbal como fios condutores da análise do corpus que foi transcrito e descrito, a

partir de um movimento exotópico de deslocamento de sujeito analisado para o de pesquisador, de forma que o pesquisador olhe a si mesmo, considerando os elementos linguísticos e extralinguísticos da língua alvo no ato tradutório/interpretativo, a libras, por meio do sistema de transcrição de língua de sinais ELAN (EUDICO Language Annotator) desenvolvido pelo Max Planck Institute

for Psycholinguistics e utilizado no grupo Estudos da Comunidade Surda: Língua,

Cultura e História na Universidade de São Paulo e no curso de Letras/Libras da

Universidade Federal de Santa Catarina. A análise mostrou que os elementos verbo-visuais e a totalidade das imagens das reportagens são fatores de modificação das marcas linguísticas da libras como direção do olhar e do corpo e que essas imagens são decisivas para a negociação de sentidos discursivos provenientes dessa esfera no momento da interpretação. A incorporação das formas e delineios das imagens durante a sinalização do TILSP nos mostraram que a totalidade verbo-visual, constituinte dessa esfera, não só interfere na interpretação da língua de sinais, mas também colabora para que o TILSP realize estratégias interpretativas objetivando a transmissão dos sentidos instaurados pelo projeto discursivo dos enunciadores desse gênero. A partir da análise propomos uma possibilidade de encaminhamento teórico metodológico para a formação e atuação do TILSP a partir de uma perspectiva enunciativo-discursiva, adotando a análise do Programa Sentidos como norteador desta proposta. Para tanto, utilizamos como fio condutor algumas produções telejornalísticas considerando a possibilidade de futuras inserções dos TILSP nessa esfera de produção do discurso e a realização de práticas interpretativas a partir do gênero jornalístico, sugerindo a expansão de sua atuação em outros gêneros circulantes nessa esfera.

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Interpretation of the Brazilian sign language in the television journalistic genre: visual-verbal elements in the production of meaning

Marcus Vinícius Batista Nascimento

ABSTRACT: This research aims to conduct a descriptive analysis of the performance of LIBRAS (Brazilian Sign Language) / Portuguese translator interpreter (TILSP), in the journalism genre and in the sphere of television activity, from the work experience of the author of this research as an interpreter in this kind of discourse. For this, we chose as corpus a public domain television journalistic production, consisting of an edition cut of Programa Sentidos with the libras interpretation during it. The show is broadcasted by a cable television channel and then is available on the internet. We question which verbal-visual elements contribute and / or interfere with the libras interpretation of the journalistic genre, in the television sphere; how these elements affect the translations choices and lexical and syntactic construction in the libras interpretation from this genre, and which sense effects are produced from the interference of these elements in the process of Portuguese-LIBRAS interpretation. In this sense, The Circle of Bakhtin will serve as theoretical foundations of our research, and the comprehension of the Bakhtinian concepts of exotopy, chronotope, speech genres, enunciation, concrete utterance, text, discourse, authorship and extraverbal situation are the guidelines for the corpus analysis, which was transcribed and described from an exotopic movement shift, from the analyzed subject to the researcher, in a way that the researcher could look at himself taking into consideration the linguistic and extralinguistic elements of the target language in the act of translation/interpretation. The target language, LIBRAS, was transcribed using the Sign Language transcription system ELAN (EUDICO Language Annotator), developed by Max Planck Institute for Psycholinguistics and used on the research group Estudos da Comunidade Surda: Língua, Cultura e História (Deaf Community Studies: Language, Culture and History) in the University of São Paulo and in the course de Letras/Libras (Language Studies/Libras)of the Federal University of Santa Catarina.The analysis showed that the verbal-visual elements and images of all the reports are factors of libras linguistic marks modification, as look and body direction, and that these images are crucial for the negotiation of discursive meanings from this sphere at the time of interpretation. The incorporation of shapes and outlines of the images during signaling TILSP showed us that the whole verbal-visual component of that sphere, not only interferes with the interpretation of sign language, but also contributes to the realization of TILSP interpretive strategies aiming the transmission of senses brought by the enunciators’ discursive project in this genre. From the analysis we propose a theoretical and methodological possibility of referral to TILSP training and working from an enunciative-discursive perspective, adopting the analysis of Programa Sentidos as an orientation for this proposal. To this end, we used as guidelines some television journalistic productions, taking into account the possibility of future insertions of TILSP in this sphere of discourse production and realization of interpretative practices in the journalistic genre, suggesting the expansion of its operations in other genres circulating in this sphere.

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Traduzir não é atividade restrita ao estritamente linguístico, nem é a ordem do linguístico estritamente linguística. Traduzir é criar ligações, muitas vezes perigosas; é gerar interfaces, [...] é vincular seres humanos entre si, por vezes de modo confrontativo; traduzir é conviver com um desejo que jamais se realiza, é viver na companhia constante da impossibilidade de realizar plenamente o sentido – e no entanto se traduz.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

CAPÍTULO 1 Panorama histórico da atuação do tradutor intérprete de libras/português (TILSP) ... 20

1.1. Tradutor intérprete de língua de sinais no Brasil ... 21

1.2. Formação e pesquisa para tradutores intérpretes de libras/português ... 28

CAPÍTULO 2 Tradução e/ou Interpretação? Questões terminológicas e as atividades tradutórias e interpretativas ... 34

2.1. Da semelhança semântica à diferenciação do ato ... 34

2.2. Interpretação da língua de sinais: atividade interlinguística de natureza verbo-visual ... ..39

CAPÍTULO 3 Contribuições do Círculo de Bakhtin para o estudo da interpretação da língua de sinais ... 45

3.1. Tradução/interpretação na perspectiva enunciativo-discursiva ... 46

3.2. Gêneros do discurso e a totalidade do ato tradutório/interpretativo ... 52

3.3. Texto, discurso e autoria na prática de interpretação da língua de sinais ... 58

CAPÍTULO 4 O tradutor intérprete de libras/português (TILSP) como agente de acessibilidade para surdos na mídia televisiva ... 66

4.1. Acessibilidade dos surdos à mídia televisiva ... 66

4.2. Aspectos técnicos de captação e edição de imagem do TILSP ... 72

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CAPÍTULO 5

A construção verbo-visual do Programa Sentidos ... 86

5.1. Escolha do corpus ... 86

5.2. Movimento exotópico para enfrentamento e análise do corpus ... 88

5.3. Descrição e delimitação do corpus ... 91

5.3.1. Sistema de transcrição ELAN ... 94

5.4. Análise do corpus ... 99

5.4.1. Totalidade verbo-visual na sintaxe e no léxico ... 100

CAPÍTULO 6 Considerações dialógicas para a atuação do tradutor intérprete de libras/português na esfera televisiva, gênero jornalístico ... 114

6.1. Competência referencial: presença do TILSP na equipe editorial ... 115

6.2. Variação estilística e os processos interpretativos ... 116

6.3. Verbo-visualidade do gênero jornalístico televisivo para a construção de estratégias interpretativas ... 122

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 128

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 133

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INTRODUÇÃO

Historicamente os surdos foram impedidos de falar em sua língua e de posicionarem-se enquanto cidadãos pertencentes a uma comunidade considerada linguisticamente minoritária. Ela, a comunidade surda, deixou de ser reconhecida enquanto minoria linguística e social, tendo a surdez não como traço constitutivo de sua subjetividade, mas como, apenas, uma deficiência.

No entanto, foi a partir dos movimentos multiculturais que tomaram força na década de 1980 protagonizados pelas minorias sociais que impulsionaram uma luta pelo reconhecimento cultural e social de comunidades minoritárias e abrangeram desde minorias étnicas como negros, latinos e índios, até pessoas com deficiência (MOURA, 2000; SKLIAR, 1997), acompanhado das recentes pesquisas e estudos teóricos, iniciados por Willian Stokoe na década de 1960, sobre as línguas de sinais, que a comunidade surda iniciou um movimento em prol do reconhecimento da importância de sua língua no trabalho com o surdo, bem como aspectos como identidade, comunidade e cultura, assim como a reivindicação do acesso às informações por meio de sua língua: a língua de sinais.

Como resultado desses movimentos, os surdos têm assumido seu lugar enquanto cidadãos participando socialmente das decisões que englobam aspectos relacionados à inclusão social e educacional de pessoas com deficiência. Com essa participação os surdos vêm retomando o fio de suas histórias, deixando de serem falados, somente, para se tornarem falantes em sua língua, narrando-se como sujeitos autônomos na linguagem e capazes de ser, fazer, significar e produzir significados.

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conhecimento como agentes de produção e como sujeitos ativos e participantes socialmente. E a partir desse movimento inclusivo e de participação social, surge a necessidade de profissionais que façam a tradução/interpretação dos discursos em libras (língua brasileira de sinais)1/ português/libras.

O profissional responsável por essa função, no Brasil, é o tradutor intérprete de libras/português (TILSP)2 que medeia situações de comunicação entre pessoas surdas e ouvintes que não saibam se comunicar em língua de sinais.

Basicamente, esse profissional atua em três frentes: a) intermedeia a comunicação entre as pessoas surdas usuárias de libras e as pessoas ouvintes usuárias da língua portuguesa em diferentes contextos; b) traduz os textos da libras para a língua portuguesa e os textos da língua portuguesa para a libras; c) auxilia no esclarecimento da forma escrita produzida pelos surdos em quaisquer contextos que se façam necessários (concursos, avaliações em sala de aula, documentos, etc.) (QUADROS et. al., 2009).

A atuação do TILSP vem se expandindo devido às políticas inclusivas governamentais, que vem sendo implantadas desde meados da década de 1990 e

1 Algumas publicações da área de estudo da língua brasileira de sinais utilizam o termo libras com a

primeira letra grafada em maiúscula (Libras) e ainda outras com a grafia maiúscula de todas as letras (LIBRAS). No primeiro caso, essa grafia também é utilizada na legislação de regulamentação e reconhecimento dessa língua (Lei 10.436/02 e Decreto 5.626/05). Neste trabalho usaremos este termo com todas as letras em minúscula, (libras) baseando-nos nas recentes publicações oriundas do grupo de pesquisa Estudos da Comunidade Surda: Língua, Cultura e História da Universidade de São Paulo (McCLEARY, VIOTTI, 2006; McCLEARY, VIOTTI, LEITE, 2010). A justificativa para essa escolha se dá pelo fato de libras ser o nome de uma língua e os nomes das línguas no português brasileiro não são grafados com a primeira letra em maiúscula. Lançaremos mão da grafia com a primeira letra em maiúscula quando realizarmos uma citação direta da legislação ou de publicações que assim a utilizaram.

2

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que buscam incluir socialmente pessoas com deficiência sensorial, física e com mobilidade reduzida.

A legislação vigente prevê e determina a adaptação das diversas instâncias sociais para inclusão dessas pessoas com o acesso igualitário às informações e conhecimentos produzidos nessas instâncias. Dentre as instâncias sociais, apontadas nas leis, que necessitam adaptar-se para possibilitar aos sujeitos com deficiências sensoriais, como os surdos e cegos, acesso às informações, destacam-se os meios de comunicação de massa, em especial a mídia televisiva.

Atualmente, o recurso3 de acessibilidade utilizado pelas redes concessionárias televisivas para surdos e pessoas com deficiência auditiva é a legenda oculta ou closed caption. Porém, esse recurso não propicia ao telespectador surdo um verdadeiro acesso ao conteúdo transmitido pela mídia televisiva, visto que nem todos os surdos sabem ler em língua portuguesa devido a sua primeira língua ser a língua de sinais (MOURA, 2000, QUADROS 1997, 2002).

O recurso mais adequado para o acesso de surdos usuários da libras à produção cultural audiovisual brasileira é a presença de um TILSP nas programações exibidas em que o conteúdo em língua portuguesa é interpretado para a libras.

A portaria 310 de 27 de junho de 2006 do Ministério das Comunicações aponta recursos de acessibilidade na televisão para pessoas com deficiência visual e auditiva, dentre os quais se encontra o TILSP que é considerado canal de mediação entre surdos e ouvintes. A norma de acessibilidade na televisão – NBR 15.290 – estabelecida pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) oferece parâmetros técnicos para a captação e edição da imagem do TILSP, porém os aspectos da prática interpretativa na esfera televisiva, e nos diferentes gêneros que circulam nessa esfera, não são abordados nesses documentos o que torna necessários olhares e pesquisas que delineiem a prática do TILSP, contribuindo para a formação de profissionais que atuem nesse campo.

3

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O TILSP, por sua vez, sendo o profissional apontado pela legislação como a ponte de acesso dos surdos à informação veiculada na esfera televisiva, deve ater-se a variedade de gêneros existentes nessa esfera, atentando para as peculiaridades de cada um, analisando a totalidade verbo-visual, considerando os aspectos linguísticos e extralinguísticos que influenciam e/ou interferem no processo tradutório/interpretativo.

Considerando todos esses aspectos, este trabalho tem por objetivo realizar uma análise descritiva da atuação do TILSP no gênero jornalístico, na esfera de atividade televisiva, a partir da experiência de atuação do autor dessa pesquisa como intérprete nesse gênero do discurso. Assim sendo, o objetivo específico é responder as seguintes questões:

a) Que elementos verbo-visuais colaboram e/ou interferem na interpretação da libras no gênero jornalístico, esfera televisiva?

b) Como esses elementos afetam as escolhas tradutórias e a construção lexical e sintática na interpretação da libras a partir desse gênero?

c) Quais efeitos de sentidos são produzidos a partir da interferência desses elementos no processo de interpretação do português para a libras?

Para tanto, o corpus analisado constitui-se de uma produção audiovisual telejornalística exibida semanalmente por meio de um canal de TV a cabo e disponibilizado posteriormente na internet, com temática específica sobre a inclusão social das pessoas com deficiência e aspectos relacionados ao desenvolvimento sustentável. Trata-se de uma edição do Programa Sentidos que é proposto e mantido pela AVAPE (Associação para Valorização e Promoção da Pessoa com Deficiência).

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http://www.youtube.com/tvsentidos que é o canal do “Programa Sentidos” na internet.

A fundamentação teórico-metodológica que embasa essa pesquisa constitui-se da teoria do Círculo de Bakhtin, mais especificamente dos conceitos de gênero do

discurso, enunciado concreto, enunciação, exotopia, cronotopo, texto, discurso e

autoria. Nessa perspectiva teórica o corpus é obervado, descrito e analisado a partir

da situação concreta de sua produção, considerando a situação sócio-histórica em que a linguagem é produzida, os sujeitos envolvidos e as coerções presentes na esfera de produção do discurso.

Desse modo, essa dissertação está organizada em seis capítulos. No primeiro, Panorama histórico da atuação do tradutor intérprete de libras/português (TILSP), mapeamos os momentos históricos de atuação e formação dos profissionais TILSP, pontuando o movimento de deslocamento do lugar de missionário em instituições religiosas para o de profissional com necessidade de formação específica, acadêmica e científica, habilitado linguística e discursivamente para mediar a comunicação entre surdos e ouvintes que desconhecem a língua de sinais. Também realizamos uma reflexão sobre a construção da formação desse profissional no Brasil e o avanço de pesquisas que descrevem a prática do TILSP, propondo metodologias para os processos interpretativos, além de versarem sobre as questões de identidade e processos formativos desse profissional.

No segundo capítulo, Tradução e/ou Interpretação? Questões terminológicas e

as atividades tradutórias e interpretativas, realizamos uma discussão sobre as

diferenças e semelhanças existentes nas atividades de tradução e interpretação, explicitando ao leitor as escolhas terminológicas realizadas para nos referirmos a este profissional no decorrer deste trabalho, além de acompanhar as tendências atuais de discussão a respeito do (s) papel (is) do TILSP referente às atividades tradutórias e interpretativas frente às diferentes situações de interação que envolve o surdo enquanto locutor e interlocutor.

No capítulo três, Contribuições do Círculo de Bakhtin para o estudo da

interpretação da língua de sinais, realizamos uma leitura dos conceitos bakhtinianos

de enunciação, enunciado concreto, gênero do discurso, texto, discurso e autoria

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que norteará a descrição, análise e discussão do corpus, olhando a prática de interpretação da língua de sinais como um ato enunciativo-discursivo que envolve, para além do sistema da língua, a arquitetônica sujeito/discurso/texto/espaço/tempo existente em qualquer ato de enunciação.

No capítulo seguinte, O tradutor intérprete de libras/português (TILSP) como

agente de acessibilidade para surdos na mídia televisiva, iniciamos uma imersão nos

aspectos constitutivos da totalidade do corpus desta pesquisa. Realizamos uma discussão sobre a questão da acessibilidade da mídia televisiva e sobre o TILSP como agente para que essa acessibilidade aconteça. Apresentamos o processo de captação, edição e inserção da imagem do TILSP no programa escolhido como

corpus e descrevemos como é construída a competência referencial, isto é, a

preparação do processo de interpretação que se inicia muito antes do próprio ato interpretativo em si.

Após descrevermos os aspectos gerais da esfera televisiva e do gênero jornalístico, apresentamos no capítulo cinco, A totalidade verbo-visual do Programa

Sentidos, os procedimentos metodológicos de descrição e transcrição para, então,

partirmos para a análise do corpus.

No capítulo seis, Considerações dialógicas para a atuação do tradutor

intérprete de libras/português na esfera televisiva, gênero jornalístico, apresentamos

uma possibilidade de encaminhamento teórico-metodológico para a atuação de profissionais TILSP nessa esfera de atuação, adotando a análise do Programa

Sentidos como norteador dessa proposta de formação aliado ao conceito

bakhtiniano de estilo, mostrando algumas produções telejornalísticas e considerando as possibilidades de futuras inserções do TILSP nessa esfera de atuação.

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CAPÍTULO 1

Panorama histórico da atuação do tradutor intérprete de

libras/português (TILSP)

As áreas de investigação mudam quando novos modos de fazer pesquisa, tanto do ponto de vista teórico quanto metodológico, são percebidos como mais relevantes para alguns pesquisadores que, ao adotar persuasões particulares, começam a ver o mundo por meio de uma par diferente de óculos, por assim dizer, passando a construir (enfatizo: construir) o quê e o como se pesquisa de modos diferentes.

Moita Lopes

Nosso objetivo, neste capítulo, é apresentar o panorama histórico de atuação do tradutor intérprete de língua de sinais no Brasil. O percurso histórico sobre a atuação desse profissional possibilita a compreensão de como tem sido construída uma tradição de estudos e pesquisas relacionadas à tradução e interpretação de língua de sinais, iniciada na década de 1990. Embora esse assunto seja recente no universo acadêmico, a prática interpretativa formalizada em uma atuação profissional tem sido almejada pela classe de TILSP e pela comunidade surda há algum tempo.

Primeiramente, a partir da contribuição de alguns autores do campo de estudos surdos, da tradução e interpretação de língua de sinais e da legislação que promove a acessibilidade de pessoas surdas considerando o TILSP como agente para tal, rastreamos momentos relevantes relacionados à história dos TILSPs descrevendo a ascensão política e social desse profissional e dos usuários4 de seus serviços: os surdos.

4 Na busca por uma terminologia que defina a relação profissional entre surdo e TILSP optamos por

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Em seguida realizamos uma reflexão sobre a situação atual da formação de TILSPs e a produção de pesquisas que vem crescendo a cada ano no Brasil. Utilizando as recentes publicações que demonstram o efervescente direcionamento do universo acadêmico/científico para a prática do TILSP, convocamos alguns dos autores que tem se dedicado a pesquisar sobre a tradução e interpretação da língua de sinais brasileira, bem como a constituição de uma identidade profissional e as complexidades existentes em cada esfera de atuação possível do TILSP.

1.1. O tradutor intérprete de língua de sinais no Brasil

Atualmente existem poucos dados que indicam o momento exato do início da atuação profissional do TILSP junto com a comunidade surda, perante a sociedade. Alguns pesquisadores, na tentativa de rastrear e contar a história desses profissionais vem realizando estudos etnográficos para identificar os momentos determinantes de uma evolução social e histórica desse profissional.

Poderíamos, para iniciar esse mapeamento histórico, remeter-nos a história da educação de surdos no Brasil, iniciada, oficialmente, com a vinda do professor surdo francês Edward Hernest Huet que fundou o Instituto Nacional de Surdos-Mudos, hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES, com apoio de Dom Pedro II para o estabelecimento do Instituto (MOURA, 2000). Nessa instituição professores surdos e ouvintes conviviam e lecionavam as aulas dando indícios que as primeiras situações de comunicação mediadas por meio de interpretação de língua de sinais aconteceram.

Entretanto, algumas hipóteses têm sido levantadas quanto às situações de interpretação para além de instituições educacionais de pessoas surdas. Dentre elas, a que mais vem se confirmando por meio de depoimentos da comunidade surda (RUSSO, 2010) é que os próprios familiares dos surdos assumiam essa função, visto que antes da década de 1990 não existiam políticas inclusivas para pessoas com deficiência e nem profissionais que assumiam essa função.

Pereira (2008), afirma que:

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que povos de diferentes línguas mantiveram contato houve, também, a necessidade de intérpretes. No caso das pessoas surdas, existem hipóteses de que a interpretação que surgiu no meio familiar foi, aos poucos, se estendendo aos professores de crianças surdas e ao âmbito religioso. (p. 138)

Na década de 1980 iniciou-se a atuação do TILSP em espaços religiosos (QUADROS, 2007), entretanto, a função do TILSP dentro dessa esfera vai além da própria prática interpretativa e envolve, dentre outras funções, o acolhimento do sujeito surdo na comunidade religiosa, bem como a conscientização das pessoas em relação a sua condição tanto social como audiológica.

Silva (2010), em pesquisa etnográfica sobre as concepções da surdez em instituições religiosas, afirma que nas instituições de matriz protestante, o intérprete de libras não atua apenas em performances interpretativas, mas assume o papel de missionário-intérprete, “[...] cabe a ele negociar com a congregação e com pastores a fundação e manutenção desse projeto na congregação local, de modo que ele é um mediador fundamental entre surdos e a congregação como um todo” (p. 95).

O autor analisa documentos e manuais criados nas instituições religiosas de matriz protestante que direcionam e determinam como deve ser a atuação do missionário-intérprete junto ao ministério com surdos5. O intérprete também é incumbido de orientar as famílias dos surdos quanto à questão social, cultural e linguística que envolve a surdez.

Em relação às práticas de interpretação dentro desses espaços, Silva (2010) mostra o que os manuais instrutivos, criados por organizações representativas dessas instituições em relação ao trabalho com os surdos, dizem sobre o intérprete:

Desse modo, ser intérprete exige uma série de requisitos. Além de ter uma vida espiritual reta, ele deve dominar o Livro de sinais bíblicos [...] que traz um léxico específico de sinais vinculados à religião. Ademais, O clamor expressa uma normatividade referente à performance de interpretação, a saber: ela deve ser realizada no palco, com dois metros quadrados de espaço; o intérprete deve se posicionar em pé; ele deve estar vestido adequadamente, utilizando a própria cor da roupa como pano de fundo para as mãos; ele deve

5 Nome dado ao conjunto de trabalhos realizados com a comunidade surda dentro das igrejas

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saber antecipadamente quais músicas serão tocadas, quais passagens bíblicas serão lidas, qual será o mote da pregação; deve ter clareza e grande capacidade de expressão corporal; ser seguro, tranquilo, autoconfiante; usar adequadamente a língua, pois ela também é objeto da adoração; tomar devido cuidado com aparência, roupa, cabelo, acessórios; entre outras recomendações que visam disciplinar o corpo do intérprete no palco. (p. 86).

Os requisitos exigidos dos missionários-intérpretes no desempenho interpretativo na esfera religiosa passaram, posteriormente, a serem aplicados à atuação profissional, como o posicionamento no palco ao lado do locutor, a vestimenta discreta e adequada, o conhecimento prévio do conteúdo a ser interpretado, seja em palestras, conferências ou em espaços educacionais como salas de aula.

Desse modo, notamos que o próprio desempenho interpretativo dentro da esfera religiosa já sofria influência das condições espaciais, visuais e verbais que ali circulavam. Essas práticas de interpretação, influenciadas pelos aspectos contextuais, foram determinantes para a discussão no processo de formação e atuação profissional de TILSP fora desse contexto, uma vez que grande parte dos TILSP atuantes, atualmente, teve suas primeiras experiências com interpretação de língua de sinais dentro das comunidades religiosas a que pertencem (ou pertenceram).

Nos anos de 1988 e 1992, aconteceram no Brasil o I e o II Encontro Nacional de ILS promovidos pela FENEIS (Federação Nacional de Integração e Educação dos Surdos) do Rio de Janeiro. Esses encontros foram determinantes para a categoria, pois inauguraram os primeiros passos para um movimento de profissionalização e reconhecimento da profissão.

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publicado em 1965 pelo RID – Registry of Interpreters for the Deaf, entidade que certifica os TILS de ASL (American Sign Language).

Em meados da década de 1990 começam a ser inaugurados cursos de formação para tradutores intérpretes de libras/português. Porém, esses cursos não eram oferecidos em nível superior, mas eram cursos livres promovidos pela FENEIS em alguns estados brasileiros devido a expansão da instituição e a inauguração de filiais.

Com as políticas inclusivas instauradas no fim da década de 1990 e no início dos anos 2000 o TILSP passa a ser considerado agente de acessibilidade para pessoas surdas usuárias de língua de sinais e a sua formação passa a ser determinada e exigida legalmente.

A lei 10.098 de 19 de dezembro de 2000 que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, afirma no artigo 18 do capítulo VII referente à acessibilidade nos sistemas de comunicação e sinalização, que:

O poder público implementará a formação de profissionais intérpretes de escrita em braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação.

Posteriormente, em 2002, a Lei 10.436 reconhece a língua brasileira de sinais como meio de comunicação e expressão oficial da comunidade surda estabelecendo um marco na inclusão de surdos, pois se institui, a partir desse reconhecimento, a consideração da comunidade surda enquanto minoria linguística, social e cultural determinando, dentre outros aspectos relacionados a libras, o apoio de redes concessionárias para a sua difusão e uso.

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No ano seguinte, em 22 de dezembro, a lei de libras é regulamentada pelo decreto 5.626. Esse decreto é considerado o “divisor de águas” no que tange a inclusão de sujeitos surdos e a formação de TILSP, pois nele aparece, pela primeira vez, o termo “Tradutor e Intérprete de LIBRAS – Língua Portuguesa” e a determinação da formação desse profissional em nível superior.

Dentre as determinações consta a criação de um exame de proficiência para certificação de profissionais para o ensino e para a tradução e interpretação da libras. O Ministério da Educação em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina, em busca do cumprimento das exigências do decreto, passou a realizar em todo o território nacional, desde o ano de 2006, o Exame PROLIBRAS que tem por objetivo avaliar a compreensão e produção na língua brasileira de sinais (QUADROS et. al., 2009), oferecendo aos aprovados uma certificação profissional para a atuação como professores de libras e tradutores intérpretes de libras/português.

No entanto, o exame PROLIBRAS não substitui a formação desses profissionais, conforme mostram Quadros et. al. (2009):

O exame Prolibras é uma ação de curto prazo para certificar profissionais para participarem dos processos de inclusão dos surdos brasileiros. À medida que contarmos com a formação de profissionais para atuarem nessas áreas, a certificação terá cumprido o seu papel (p. 22).

Também em cumprimento ao decreto 5.626, em 2008, é criado o primeiro curso superior de bacharelado em Letras/Libras no Brasil promovido pela Universidade Federal de Santa Catarina. Santos (2010), afirma que o curso foi criado para atender à legislação que determina a formação de TILSP em nível superior e que a formação do TILSP, anterior à formação em nível superior, acontecia por meio de cursos livres promovidos por associações de surdos, pela FENEIS, por instituições religiosas e por extensões universitárias, com o objetivo de familiarizar o intérprete com alguns tipos específicos de interpretação.

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universidades como, por exemplo, a Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP)/SP, Estácio de Sá/RJ e PUC/MG.

Em 01 de setembro de 2010, a lei 12.319 regulamentou a profissão de tradutor intérprete de libras. Essa regulamentação é considerada uma conquista para a categoria e para a comunidade surda, visto que a busca pela regulamentação da profissão constitui-se em uma luta histórica. No entanto, a lei obteve três vetos, dentre os quais a exigência de uma formação específica em nível superior em tradução e interpretação com habilitação em libras/português com a justificativa de que impor a habilitação em curso superior específico e a criação de conselhos profissionais impediria o exercício de profissionais formados em outras áreas e com formação em nível médio.

A lei salienta que a formação do TILSP pode ser realizada por meio de: a) cursos de educação profissional, promovidos pelo sistema que o credenciou; b) cursos de extensão universitária; c) cursos de formação continuada, promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação.

Não obstante às conquistas legais, as lutas por um reconhecimento social da função por meio de entidades representativas da classe, tem sido determinante para o avanço profissional e conquistas de espaços em universidades e em cenários políticos nos últimos anos.

As APILS (Associações de Profissionais Tradutores Intérpretes e Guias-Intérpretes de Língua de Sinais) começam a surgir, formalmente, no Brasil no início dos anos 2000 e atualmente, segundo o site da Federação Brasileira de Tradutores Intérpretes de Língua de Sinais – FEBRAPILS, somam-se em 16 associações.

A FEBRAPILS foi fundada em 22 de agosto de 2008 e, segundo Russo (2010), tem o

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A organização coletiva da classe com o objetivo de luta pelos direitos enquanto classe trabalhadora e pelo reconhecimento legal e social da profissão, contribui para a transformação de concepções errôneas, em relação a atuação do TILSP, da população que desconhece esse exercício profissional.

Santos (2006), descreve comportamentos que demonstram uma depreciação da função do TILSP e que o colocam em uma posição distante das discussões acerca dos processos tradutórios e formativos enquanto profissional. Essas representações são mapeadas pela autora por meio da sistematização de enunciados como “lindo teu trabalho”, “você não precisa traduzir isso”, “vocês são pagos?”, que apontam para o deslocamento do lugar profissional do TILSP para um inferior em que interpretar língua de sinais significa “apoiar” o surdo.

Com a organização da categoria enquanto classe trabalhadora e com a luta pelo reconhecimento profissional, concepções como as mapeadas por Santos (2006) tendem a se diluir na medida em que o TILSP assume seu lugar enquanto profissional com formação específica para atuar nesta função, tornando visível socialmente os motivos de sua atuação.

Devido a essas representações sociais de que o TILSP existe para oferecer “apoio” ao surdo, a classe profissional ainda depara-se com pedidos de atuação voluntária em eventos e festividades organizados por repartições públicas (como, por exemplo, secretarias, coordenadorias e conselhos das pessoas com deficiência) que deveriam, naturalmente, defender o TILSP como agente de acessibilidade para surdos usuários da libras reconhecendo-o como profissional por meio de remuneração pelos serviços prestados.

A atuação voluntária desses profissionais para órgãos de caráter público torna-se uma compactuação com o Estado, com o não investimento na inclusão social de pessoas surdas e com deficiência. Além de corroborar a concepção de que o voluntariado junto às instituições públicas demonstra o quanto esse mesmo Estado considera a atuação do TILSP um processo de tutela e assistencialismo ao surdo.

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estigmatizados pela sua deficiência, também deixam de serem vistos como sujeitos que necessitam de tutela para comunicação, mas que precisam de profissionais com formação específica e que realizam tradução e interpretação de discursos em libras/português/libras.

Direcionando nosso olhar às leis citadas até aqui, notamos que existe uma política legislativa em prol da formação de TILSP. Mesmo a regulamentação da profissão em que foi vetada a formação específica de nível superior, há a determinação da formação em outros níveis educacionais. Nessas leis, o TILSP é considerado como recurso, dispositivo e agente6 que promove a acessibilidade de sujeitos surdos e com deficiência auditiva que sejam usuários da libras.

Porém, no que diz respeito ao processo de formação desse profissional, notamos ausência de diretrizes curriculares e de parâmetros formativos específicos, que possibilitem uma formação efetiva para que o TILSP possa atuar, com autonomia, nas mais diversas esferas da comunicação humana, bem como nos diferentes gêneros discursivos circulantes nessas esferas.

O estabelecimento dessas diretrizes ficou a cargo da academia, que vem expandindo os estudos e pesquisas referentes à prática de tradução/interpretação da língua de sinais/português. As leis determinam a formação, mas não oferecem os caminhos para que ela aconteça. Afirmam e reafirmam o exercício profissional do TILSP e sua importância para a inclusão de surdos usuários da libras, mas não apontam os caminhos mais adequados e pertinentes para uma formação eficaz e efetiva.

1.2. Formação e pesquisa para tradutores intérpretes de libras/português

A formação acadêmica de TILSP no Brasil é recente e vem impulsionada pelas lutas históricas da comunidade surda, pelas leis de acessibilidade, pelas políticas inclusivas instauradas por meio do governo brasileiro e pelas resoluções de organizações internacionais como a ONU e a UNESCO.

6 Vide Norma da ABNT/NBR 15290 – Acessibilidade em comunicação na televisão. Existe uma

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Essa formação tem sido fundamentada a partir de experiências e pesquisas realizadas em países que atuam na formação desses profissionais há alguns anos como, por exemplo, os Estados Unidos e os países Escandinavos, conforme nos mostra Quadros (2007). Em uma revisão dos processos de formação de tradutores intérpretes de língua de sinais nesses países, a autora aponta como esses profissionais possuem intensa formação para atuação com surdos usuários do serviço de interpretação posteriormente ao seu egresso da academia.

A emergência na formação de TILSP abre novas possibilidades de pesquisa, oferecendo espaços, inclusive, para que os profissionais que atuam há algum tempo no mercado adentrem na academia para uma reflexão metalinguística sobre sua prática construindo percursos teóricos para embasá-la, contribuindo com a sistematização dos processos interpretativos e com a formação de novos profissionais.

Sobral (2008), na obra Dizer o ‘mesmo’ a outros: ensaios sobre tradução, reflete sobre o processo de teorização da prática e de uma prática fundamentada em bases teóricas na atuação do tradutor/intérprete. O autor argumenta sobre a importância deste profissional saber articular as teorias que apreende nos espaços acadêmicos à sua prática, além de frisar que as escolhas realizadas por esse profissional, no ato tradutório, são fundamentadas em arcabouços teóricos:

[...] se nem toda teorização acerca da atividade do tradutor é feita a partir da atividade concreta do tradutor, em contrapartida toda atividade de tradução envolve escolhas que refletem, implícita ou explicitamente, alguma espécie de teorização (p. 13).

A questão de que nem todo “prático” é um “teórico” e vice-versa também é abordada por Sobral. Porém, o autor enfatiza que toda atividade prática exige uma meta reflexão que pode apontar para caminhos teóricos:

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A partir da discussão realizada por Sobral (2008), propomos um olhar sobre a teoria e a prática na formação de TILSP e sobre a recente produção de pesquisas relacionadas à atuação desse profissional. Por ser um campo recente no universo científico brasileiro, a área de tradução e interpretação da libras/português tem “bebido” de muitas fontes com objetivo de alçar e delimitar um campo específico e autônomo para a produção de conhecimento.

Na maioria das vezes, as pesquisas partem de inquietações e questionamentos derivados da prática de TILSP que possuem, em alguns casos, longa experiência de atuação. Essas inquietações impulsionam esses “práticos” a teorizar sobre sua prática e a buscar fundamentos teóricos para responder às suas inquietações.

Pereira (2010), traz grande contribuição ao campo de pesquisas relacionadas a tradução e interpretação da língua de sinais com o levantamento do estado da arte da produção acadêmica brasileira sobre a temática. A autora realiza um levantamento bibliográfico sobre as teses e dissertações concluídas e em andamento e mostra as áreas em que a temática tradução e interpretação de língua

de sinais é recorrente, totalizando oito campos epistemológicos, identificados a partir

das produções acadêmicas concluídas, a saber: Linguística Aplicada, Linguística, Educação Especial, Semiologia, Ciências da Linguagem, Educação, Educação Escolar e Letras Vernáculas.

A autora aponta maior produção de pesquisas dentro do campo da Educação, em primeiro lugar, e da Linguística Aplicada que desponta em segundo, e levanta a hipótese de que a alta demanda da inserção de surdos na esfera educacional ocasiona a atuação massiva do TILSP nessa esfera do que em outras, indicando maiores inquietações e questionamentos que direcionam os “práticos” a pesquisarem dentro do campo epistemológico que se relaciona com a esfera de atuação prática, a Educação.

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A partir dos dados levantados por Pereira (2010), podemos observar a variação na produção científica quanto às questões que circundam a temática de TILSP. A recorrência de pesquisas da área da Linguística Aplicada, dos Estudos da Tradução e da Educação justifica-se pela proximidade que esses campos têm com a prática da tradução e interpretação da libras/português.

As pesquisas em Linguística Aplicada relacionadas a essa temática justificam-se pela interdisciplinaridade que esjustificam-se campo possibilita com outras áreas do conhecimento, relacionando os aspectos inerentes às práticas de linguagem e pelo fato de que a tendência de muitos estudos contemporâneos em Linguística Aplicada tem sido “[...] focalizar a linguagem como prática social e observá-la em uso, imbricada em ampla amalgamação de fatores contextuais.” (FABRÍCIO, 2006, p. 48). Vasconcellos (2010), apresenta possível justificativa para afiliação das pesquisas de tradução e interpretação da libras/português ao campo de Estudos da Tradução:

A inserção estratégica do tradutor e do intérprete de línguas de sinais em um campo disciplinar já estabelecido, longe de diminuir a importância de sua questão identitária, pode contribuir para o fortalecimento do empoderamento (“empowerment”) desses profissionais que, mesmo filiados a um campo disciplinar já constituído, não perdem sua especificidade ou visibilidade (VASCONCELLOS, 2010, p. 121).

Os campos aqui citados e apontados pelas publicações convocadas neste capítulo mostram uma possível necessidade de constituição de um campo específico de pesquisas relacionadas à tradução e interpretação da libras/português. Estudos relacionados ao processo de formação, de construção das identidades do TILSP, do processo tradutório da língua de sinais para a língua portuguesa escrita e vice-versa, da interpretação enquanto atividade entre culturas e outras temáticas vêm ocupando o cenário acadêmico nos últimos dez anos7.

Santos (2010), coloca que dentre as questões que necessitam de avanços em pesquisas referentes a formação do TILSP destacam-se a proficiência linguística, a

7

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inserção cultural, as habilidades, competências, técnicas e estratégias de trabalho, qualidade de interpretação e comportamento ético perante as situações apresentadas. Acrescenta-se a esses aspectos a importância da flexibilidade linguística, enunciativa e discursiva para a atuação em diversos campos da atividade humana, aliada à capacidade analítica e peremptória para escolhas adequadas no ato tradutório/interpretativo no processo de verter sentidos de um discurso à outro.

As atuais afiliações, inserções e intersecções com os campos epistemológicos aqui citados, colaboram com o crescimento da área de estudos em tradução e interpretação da língua de sinais, indicando uma possível interdisciplinaridade para novas pesquisas relacionadas a esse campo.

O II Congresso Nacional de Pesquisas em Tradução e Interpretação de Língua de Sinais, realizado na Universidade Federal de Santa Catarina em novembro de 2010, abriu espaço para a apresentação da produção científica relacionada à área por meio de comunicação oral e exposição de pôsteres. Os trabalhos foram organizados em sete eixos temáticos: formação de intérpretes de língua de sinais, formação de tradutores de língua de sinais, discurso e tradução/interpretação de/para a língua de sinais, metodologias para implementar a tradução de/para a língua de sinais, avaliação da tradução/interpretação de/para a língua de sinais, tradução de/para a escrita de sinais, metodologias para implementar a interpretação de/para a língua de sinais.

O site oficial do congresso mostra que, no total, foram quarenta e nove trabalhos aceitos e apresentados com grande variação nos campos epistemológicos em que as pesquisas estavam relacionadas. Nas apresentações foi notório aos participantes as diversas abordagens teóricas buscadas pelos autores para embasar as pesquisas relacionadas a prática de tradução e interpretação da libras/português. A própria subdivisão temática dos trabalhos já sugere essa multiplicidade de olhares e abordagens teóricas nas pesquisas que falavam sobre a prática, formação e identidade do TILSP.

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como coloca Sobral (2008), na construção de teorias através da prática sem fazer com que uma seja aplicação de outra, pois

[...] não há teoria, por mais ‘perfeita’ que seja, que possa ser simplesmente aplicada a uma prática, ao menos com bons resultados, porque as práticas não são estáticas (nem as teorias, ao contrário do que pensam confortável ou dogmaticamente alguns) (p. 17) .

Ao articularmos esses dados e reflexões teóricas com as demandas de formação instauradas pelas políticas de inclusão social das pessoas com deficiência, sistematizadas em leis e que enxergam o TILSP como agente de acessibilidade para surdos usuários da libras, bem como a recorrente determinação legal de formação desses profissionais, começamos a perceber o quanto as demandas sociais e legais ampliam os campos de atuação desse profissional, fazendo com que questionamentos e inquietações sobre sua atuação o levem a pesquisar, descrever, delimitar e delinear sua prática dentro dos espaços acadêmicos e de construção de conhecimentos.

Nesse sentido, buscamos aqui descrever a atuação do tradutor intérprete de libras/português em uma das esferas possíveis de atuação e que, possivelmente, é uma área de crescente demanda, haja vista a amplitude e crescimento dos movimentos surdos na exigência de acessibilidade em todos os âmbitos sociais, dentre eles, a esfera televisiva, gênero jornalístico.

(34)

CAPÍTULO 2

Tradução e/ou Interpretação? Questões terminológicas e as atividades

tradutória e interpretativa

Se o sentido nasce da diferença, é só na diferença que podemos encontrar sentido. Como a tradução é uma atividade de criação de pontes entre diferenças, e como a tradução entre línguas orais e línguas de sinais envolve diferenças, pode-se dizer legitimamente que traduzir em libras também é dizer o “mesmo” a outros.

Adail Sobral

No sentido de manter uma coerência com as atuais discussões sobre a prática de tradução/interpretação da língua de sinais, este capítulo tem o objetivo de apresentar considerações teóricas sobre diferenças e semelhanças conceituais entre os termos tradução e interpretação, bem como aos termos que se referem ao sujeito que realiza essa atividade: intérprete, tradutor, tradutor/intérprete.

Para essa discussão convocamos os autores dos Estudos da Tradução, da área de Tradução e Interpretação de Língua de Sinais e perseguimos essa diferença com o objetivo de justificar as escolhas terminológicas realizadas neste trabalho, assim como a delimitação, ou delineio, da atividade que está a cargo do profissional que media enunciativo-discursivamente a interação entre surdos e ouvintes.

2.1. Da semelhança semântica à diferenciação do ato

Uma das discussões centrais na pesquisa, formação e prática de tradutores e intérpretes está, justamente, na diferença das atividades de tradução e

interpretação. Nesse sentido, queremos ser coerentes com essa tendência e

apresentar considerações teóricas sobre as possíveis diferenças entre essas duas atividades, além de justificar as escolhas variantes, neste trabalho, do uso de termos como tradutor/intérprete, intérprete e tradutor, bem como ato tradutório e ato

interpretativo.

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lexical, mas aprofundam-se marcando-a na prática e na realização dessas atividades. No entanto, antes de convocar as vozes teóricas dos estudos tradutológicos que perseguem essa diferença, queremos apresentar os traços de semelhanças nos atos de traduzir e interpretar que determinam, dentre outros aspectos, a realização de uma atividade de mediação entre línguas.

O pano de fundo que institui a semelhança nessas atividades pode ser, inicialmente, desvelado na origem etimológica da palavra tradução. Segundo o

Dicionário de Radicais Clássicos – Dialética da Língua Portuguesa de Alcebíades

Fernandes Junior, o radical TRA, proveniente de TRAH e TRAIN, originários do grego e do latim, significa puxar, adestrar, conduzir uma veste, enquanto DUÇ, também vindo do latim, significa tirar, guiar, conduzir. O radical TRA permanece nas línguas de origem e influência latina: francês – TRAduction, italiano – TRAduzione e inglês TRAnslation. Nesse sentido, a tradução é um ato de puxar, conduzir de um

determinado lugar a outro com uma nova veste.

No cerne do significado etimológico aplicado ao ato, a prática de interpretação de línguas também está vestida desse sentido, visto que se caracteriza pelo ato de

trazer de um lado a outro colocando no discurso mobilizado uma nova veste, uma

nova forma linguística, mas mantendo a sua interioridade (se é que assim pode ser pontuado), o sentido. Portanto, é possível afirmar que a interpretação também é um ato tradutório, pois “[...] todo ato de tradução é tanto tradução como interpretação, porque traduzir é sempre interpretar e porque sempre que se interpreta se traduz” (SOBRAL, 2008, p. 88).

Mesmo havendo essa congruência semântica entre tradução e interpretação, podemos questionar o motivo da diferenciação entre traduzir e interpretar, ainda que assumamos que as duas atividades são caracterizadas pela mediação realizada entre diferentes línguas, cujos destinatários são interlocutores que desconhecem (ou conhecem insuficientemente) a língua fonte do discurso a qual se pretende ter acesso e, por isso, necessitam de uma mediação linguística-enunciativa-discursiva.

(36)

atividade tradutória independente da sua modalidade linguística. Todavia, assumimos, também, em ressonância com as concepções apresentadas a seguir,

que traduzir e interpretar são atividades diferentes caracterizadas, primordialmente,

pelas esferas de produção em que são realizadas.

Alguns teóricos e pesquisadores dos Estudos da Tradução nos mostram que

a tradução é uma atividade ligada à transposição escrita de uma língua à outra,

enquanto a interpretação é caracterizada por uma transposição oral, em tempo real, face a face, entre línguas (PAGURA, 2003, RONAI, 1987).

Sobral (2008), salienta que os estudiosos dos processos tradutórios costumam realizar uma distinção entre traduzir, que refere-se à pratica de tradução de textos escritos, interpretar para designar a tradução de textos orais e em língua de sinais, verter para designar a todo tipo de tradução da primeira língua do tradutor para uma segunda língua e para realizar adaptações explícitas de letras de canções e poemas, e transcriar para traduções de textos literários. Para o autor, a exploração sistemática de diferentes terminologias para referir-se ao ato de “[...] mobilizar um texto por meio de outro discurso” (p. 70) são iniciativas para destacar diferentes aspectos de um mesmo processo.

Para Cokely (1992), existem diferenças cruciais entre as atividades dos tradutores e dos intérpretes. O autor salienta que uma das diferenças entre os modelos tradutórios e os modelos interpretativos está no fato de que o intérprete, por exemplo, está limitado a um “espaço-tempo” específico, pois sua atuação depende totalmente da fala e, por consequência, do ritmo e entoação do orador, enquanto o tradutor possui um “espaço-tempo” diferenciado, mais expandido, em que é possível recorrer a outras referências para a tradução, refazê-la, refiná-la, se necessário, após possíveis releituras do material traduzido, sendo esta uma ação recursiva.

No mesmo trajeto, explorando a interpretação como uma ação diferenciada

da tradução, Pagura (2003) chama atenção para as motivações da constante

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No tocante à tradução/interpretação da língua de sinais brasileira existem, ainda, alguns questionamentos quanto ao uso correto da terminologia. Assim como na Lei mencionada por Pagura (2003), o termo “tradutor e intérprete” também foi instituído legalmente para a atividade do profissional que media enunciativo-discusivamente situações de interação que envolve a língua de sinais brasileira e a língua portuguesa. O decreto 5.626/05, que regulamenta a lei de Libras, 10.436/02, determina a formação de tradutores e intérpretes de libras – língua portuguesa para atuar na mediação de comunicação entre surdos e ouvintes.

A libras, atualmente, possui um sistema de escrita em construção, o Sign

Writing8 (Escrita de Sinais). No entanto esse sistema não tem sido adotado como

forma de comunicação em provas, avaliações e registros oficiais9, por não ser reconhecida amplamente pela comunidade surda. A lei de libras, 10.436/02, acentua em um parágrafo único que “a Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa”. Nesse caso, o termo tradutor

intérprete, refere-se a possíveis situações em que a língua portuguesa escrita estará

envolvida no processo tradutório. Russo (2009), salienta que:

[...] em alguns momentos, os intérpretes de língua de sinais também atuam como um tradutor, já que o par linguístico da LIBRAS é a língua portuguesa, uma língua grafa. Um exemplo de uma situação é quando um surdo produz um determinado discurso em LIBRAS, registra-o em vídeo e repassa-o para que o agora tradutor de língua

8 O Sign Writing foi criado na Dinamarca em 1974, a princípio, para registrar passos de dança e logo

despertou o interesse de pesquisadores de língua de sinais, por possibilitar a representação gráfica de movimentos corporais e espaciais (STUMPF, 2008). Segundo Silva e Nogueira (2010) o Sign Writing tem sido estudado como forma gráfica de escrita de línguas de sinais no mundo e existem atualmente no Brasil pesquisas concluídas em que o resumo da dissertação foi produzido em língua portuguesa e escrita de sinais, além de outras pesquisas voltadas para essa temática (STUMPF, 2008; 2008; SILVA, 2009; GOMES, 2009). Esse sistema de representação gráfica ainda não é reconhecido amplamente pela comunidade surda como uma escrita da libras. No entanto, os pesquisadores da área a utilizam como a forma escrita oficial dessa língua. Em 2010, foi publicado pela primeira vez no periódico Cadernos de Tradução do Programa de Pós Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina, com conceito A2 na avaliação Qualis-CAPES, um artigo em Sign Writing: “Tradução e interpretação da Língua Brasileira de Sinais: Formação e Pesquisa” (QUADROS, STUMPF, 2010) disponível em: http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/15714/14228.

9 A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tem oferecido aos alunos surdos dos cursos de

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de sinais faça a tradução para o português escrito. Nesse momento, o intérprete de língua de sinais assume uma outra função, a de traduzir, ou seja, de verter um texto de modalidade visuo-gestual para um outro texto de modalidade escrita (p. 24).

Existem outras situações em que a modalidade escrita da língua portuguesa será o par linguistico da libras. A esfera jurídica, por exemplo, em uma situação de interpretação, quando houver um surdo que não sabe se comunicar pela língua portuguesa escrita e, por determinação do juiz, for necessário algum registro gráfico de seu depoimento, o intérprete assumirá a função de tradutor, pois a transposição, nesse caso, será da língua de sinais para a língua escrita10.

Alguns pesquisadores e autores atuais têm escolhido utilizar apenas

interpretaçãode libras para a atividade realizada e intérprete de libras para o sujeito

que realiza essa ação, justificando que a tradução não está ligada, diretamente, a sua função, como é o caso de Lacerda (2009), que analisa a atuação do Intérprete

de Libras em atuação na educação infantil e no ensino fundamental. A autora

reconhece a função tradutória de uma atividade interpretativa, mas, baseando-se em autores dos Estudos da Tradução, descreve as diferenças entre essas duas ações.

Baseando-nos na discussão realizada até aqui, neste trabalho, realizamos escolhas específicas para referirmos à atuação do profissional que media enunciativo-discursivamente a comunicação entre surdos e ouvintes. Utilizaremos o termo tradutor/intérprete de libras/português (TILSP)para a referência ao sujeito que realiza essa função, em sintonia com as atuais publicações da área que utilizam essa terminologia, com a lei que institui a formação desses profissionais e, também, por abranger as possibilidades (poucas, mas reais) de atuação desse profissional em situações que a língua escrita estará envolvida, além de referir-se ao caráter tradutório da interpretação, tal como pontua Sobral (2008).

Em relação à atividade, ao evento da prática de transpor um texto a outro, será utilizado o termo interpretação ou ato interpretativo com referência a

10 Atualmente tem sido realizada a avaliação e formação de tradutores e intérpretes surdos que

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