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5.3. Descrição e delimitação do corpus

5.3.1. Sistema de transcrição ELAN

Para chegar aos discursos e sentidos produzidos por meio da interpretação da língua de sinais na esfera televisiva, gênero jornalístico, partiremos da materialidade linguística e enunciativa. Para tanto, será necessário transcrever essa materialidade para, então, lê-la buscando encontrar, a partir de lentes dialógicas, os sentidos produzidos por meio desse ato enunciativo.

Para transcrever a materialidade linguística da interpretação da língua de sinais no corpus optamos por utilizar o sistema de transcrição de língua de sinais ELAN (EUDICO Language Annotator) desenvolvido pelo Max Planck Institute for Psycholinguistics e utilizado no grupo Estudos da Comunidade Surda: Língua, Cultura e História da Universidade de São Paulo (USP), nos grupos de pesquisas sobre Língua de Sinais e no curso de Letras/Libras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

25 O bloco descrito e transcrito está disponível no canal da TV Sentidos no YouTube, mais especificamente no link: http://www.youtube.com/watch?v=1D0q5vmqd1c (Acesso em 18 de junho de 2010).

Figura (11): Sistema ELAN utilizado na transcrição do corpus com as trilhas estabelecidas de acordo com as necessidades desta pesquisa.

A escolha desse sistema justifica-se pelo seu uso atual nas pesquisas relacionadas à língua de sinais em diversas faces: descrição linguística da libras, análise do processo de aquisição de linguagem por crianças surdas, criação de bancos de dados em línguas de sinais, sistematização de um sistema de transcrição de línguas na modalidade gestual-visual-espacial, etc. Além de ser um sistema de transcrição que possibilita transcrever e descrever marcas de sinais manuais e de sinais não manuais que ocorrem simultaneamente abrangendo maiores aspectos das línguas sinalizadas (McCLEARY, VIOTTI, LEITE, 2010; PICHER et. al. 2010; QUADROS & PIZZIO, 2007).

Atualmente existem algumas propostas de transcrição da língua de sinais com utilização do ELAN como, por exemplo, a de McCleary, Viotti e Leite, (2010) que a partir da experiência de criação de corpus de narrativas em libras no grupo Estudos da Comunidade Surda: Língua, Cultura e História (ECS/USP) tinham por objetivo “[...] registrar longos trechos de discurso de forma criteriosa, seguindo parâmetros de padronização, de modo que o corpus pudesse ser utilizado por pesquisadores brasileiros e estrangeiros” (p.269).

Segundo os autores, existem atualmente alguns sistemas que possibilitam a transcrição e descrição linguística multimodal. No entanto, o ELAN tem sido usado com maior recorrência na descrição de línguas na modalidade gestual-visual- espacial e possibilitam o uso de arquivos de vídeo e áudio o que contribui para a análise de interação bimodal (surdo e ouvinte), bem como para os estudos da gestualidade.

Na proposta de McCleary, Viotti e Leite (2010) a transcrição possui uma pauta contendo várias trilhas separadas, cada uma delas relacionada a um aspecto da sinalização. Essa proposta de transcrição foi adaptada posteriormente no sistema ELAN por meio da criação de trilhas subsequenciadas que ficaram organizadas da seguinte maneira:

NOME DA TRILHA DESCRIÇÃO

IU Translation (Intonation Unit

Translation) Registro da tradução para o português das unidades básicas do discurso na libras.

MS-Gloss-BP (Manual Sign Gloss

Brazilian Portuguese) Registro de glosas, em português brasileiro, referentes aos sinais manuais.

MS-Gloss-E (Manual Sign Gloss English) Registro de glosas, em inglês, referentes aos sinais manuais. NMS-Gloss-BP (Non-manual Sign Gloss

Brazilian Portuguese) Registro de glosas, em português Brasileiro, referentes aos sinais não Manuais.

NMS-Gloss-E (Non-manual Sign

Gloss English) Registro de glosas, em inglês, referentes aos sinais não manuais. SMS-Gloss-BP (Simultaneous Manual

Sign Gloss) Registro de glosas, em português Brasileiro, referentes aos sinais manuais realizados simultaneamente a outro sinal.

Eyebrow Registro das configurações das

sobrancelhas

Eyegaze Registro das configurações e

movimentos do Olhar

Hands Registro de qual mão realiza o sinal

Location Registro da localização da mão no

espaço de Sinalização durante a realização do sinal.

Repetition Registro do número de vezes que o

movimento constitutivo do sinal é repetido.

Dictionary Registro das páginas dos sinais em Capovilla e Raphael, quando o sinal for dicionarizado.

Comments Registro de comentários sobre a

transcrição.

(McCLEARY, VIOTTI E LEITE, p. 278, 2010).

Esclarecemos que a proposta de McCleary, Viotti e Leite (2010) é utilizada no processo de descrição linguística da língua de sinais brasileira a partir de narrativas de falantes nativos dessa língua, isto é, sujeitos surdos. Nossa proposta nessa pesquisa não é descrever o sistema da libras, mas sim analisar o processo de interpretação da língua portuguesa para esta língua. Por esse motivo, não seguiremos o padrão de trilhas estabelecidas na proposta destes autores. No entanto, usaremos como base a organização das trilhas subsequenciadas, bem como a forma de anotação do léxico.

Desse modo, organizamos nossa transcrição no ELAN com o objetivo de mapear a produção lexical e sintática da libras no ato interpretativo e a simultaneidade da interferência dos elementos verbo-visuais nessa produção linguístico-enunciativa utilizando em algumas trilhas o recurso dos vocabulários controlados, que constitui-se de um repertório fechado de possibilidades de anotação que pode ser previamente inserido e depois utilizado como base para todos os arquivos de anotação. Abaixo se encontra a ordem subsequenciada das trilhas com os marcadores que utilizamos nos vocabulários controlados durante a transcrição:

NOME DA TRILHA DESCRIÇÃO

Texto em português Registro do texto em língua fonte (português).

Locutor/português Registro de identificação do locutor do discurso em português: - REPÓRTER/OFF (áudio/narração da reportagem) - APRESENTADOR; - ENTREVISTADO; e - ENTREVISTADO 2.

Elementos verbo-visuais Registro dos elementos verbo-visuais que aparecem simultaneamente ao ato de interpretação:

-GC: Gerador de Caracteres; -TT: Imagem em Toda a Tela; -IR: Imagens da reportagem;

-OEV: Outros elementos verbo-visuais. Glosa – sinais manuais Registro de glosas, em português,

referentes aos sinais manuais.

Mãos Registro do uso das mãos para a

produção do sinal: - md: mão direita; - me: mão esquerda; - 2m: duas mãos.

Direção do olhar Registro das configurações e

movimentos do olhar: > Olhar para direita; < Olhar para esquerda; ^ Olhar para cima; v Olhar para baixo; % Olhar para frente.

Tipo de espaço Registro da altura do espaço da

sinalização:

- AC: Altura da cabeça; - AP: Altura do peito; - ACT: Altura da cintura.

Locação Registro da localização da sinalização:

- EE: Espaço a esquerda; - ED: Espaço a direita; - EF: Espaço a frente.

Corpo Registro do direcionamento do corpo:

- DE: Direcionado para esquerda; - DD: Direcionado para direita; - DF: Direcionado para frente.

Apontação Registro dos apontamentos espaciais:

- AE: Apontação para esquerda; - AD: Apontação para direita; - AF: Apontação para frente; - AB: Apontação para baixo; - AC: Apontação para cima.

O texto em língua fonte (português) também foi transcrito em uma trilha no sistema ELAN com base na proposta do Projeto de Estudo da Norma Linguística Urbana Culta de São Paulo – Projeto NURC-SP/Núcleo USP (2003).

Durante a discussão dos dados levantados no corpus utilizaremos alguns recursos para marcar a mobilização da transcrição para o texto da dissertação. Para nos referirmos aos enunciadores da língua portuguesa (o apresentador, os

repórteres, os entrevistados) utilizaremos a grafia em caixa alta e negrito seguido da sigla (L.F) (Língua Fonte), e o texto em português será transcrito em itálico. Para nos referirmos ao enunciador da libras (o TILSP) utilizaremos a grafia em caixa alta seguido da sigla L.A. (Língua Alvo). O registro da transcrição da libras será grafado conforme a proposta de Quadros e Karnopp (2004) em que as glosas, isto é, os nomes do sinais em língua portuguesa, serão grafadas em caixa alta, conforme exemplificado abaixo.

APRESENTADOR (L.F): texto transcrito em língua portuguesa TILSP (L.A): TEXTO EM LIBRAS

Também optamos por recortar alguns trechos da transcrição realizada do ELAN para mostrar a simultaneidade da produção linguística com os elementos verbo-visuais.