• Nenhum resultado encontrado

Conforme foi citado no tópico anterior, existe, atualmente, a norma de acessibilidade na televisão – NBR 15.290 – estabelecida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), para a captação e edição de imagem de um TILSP na esfera televisiva. Essa norma é de fundamental importância para a compreensão, por parte dos telespectadores surdos, da interpretação dos discursos que circulam nessa esfera.

A norma tem como objetivo estabelecer diretrizes gerais a serem observadas para acessibilidade em comunicação na televisão, considerando as diversas condições de percepção e cognição, com ou sem a ajuda de sistema assistivo ou outro que complemente necessidades individuais. Discute, estabelece e descreve a inserção dos diversos recursos possíveis para a acessibilidade de pessoas com deficiência sensoriais visuais e auditivas.

Nas diretrizes para a janela de libras a norma estabelece que o local onde será gravada a imagem do intérprete deve ter:

a) espaço suficiente para que o intérprete não fique colado ao fundo, evitando desta forma o aparecimento de sombras;

b) iluminação suficiente e adequada para que a câmera de vídeo possa captar, com qualidade, o intérprete e o fundo;

c) câmera de vídeo apoiada ou fixada sobre tripé fixo;

d) marcação no solo para delimitar o espaço de movimentação do intérprete.

Em relação à janela de libras:

a) os contrastes devem ser nítidos, quer em cores, quer em preto e branco;

b) deve haver contraste entre o pano de fundo e os elementos do intérprete;

c) o foco deve abranger toda a movimentação e gesticulação do intérprete;

d) a iluminação adequada deve evitar o aparecimento de sombras nos olhos e/ou seu ofuscamento.

Quanto ao recorte, ou wipe, em relação à imagem do intérprete da libras:

a) a altura da janela deve ser no mínimo metade da altura da tela do televisor;

b) a largura da janela deve ocupar no mínimo a quarta parte da largura da tela do televisor;

c) sempre que possível, o recorte deve estar localizado de modo a não ser encoberto pela tarja preta da legenda oculta;

d) quando houver necessidade de deslocamento do recorte na tela do televisor, deve haver continuidade na imagem da janela.

Os parâmetros acima para a inserção da janela do intérprete deveriam seguir o exemplo abaixo de divisão espacial:

Intérprete de Libras

No que diz respeito aos aspectos de captação da imagem do intérprete da esfera televisiva, a norma de acessibilidade na televisão pontua os requisitos para uma boa interpretação e visualização da libras:

a) a vestimenta, a pele e o cabelo do intérprete devem ser contrastantes entre si e entre o fundo. Devem ser evitados fundo e vestimenta em tons próximos ao tom da pele do intérprete;

b) na transmissão de telejornais e outros programas, com o intérprete da libras em cena, devem ser tomadas medidas para a boa visualização da libras;

c) no recorte não devem ser incluídas ou sobrepostas quaisquer outras imagens.

Segundo a norma, uma produção audiovisual televisiva só será considerada acessível caso siga, criteriosamente, as regras e diretrizes nela estabelecidas. Conforme podemos notar, todas as diretrizes e aspectos pontuados até então, oferecem, ou parecem oferecer, boas condições básicas de captação e edição do TILSP, no intuito de promover uma acessibilidade adequada às pessoas surdas e deficientes auditivas usuárias da libras.

No entanto, as produções brasileiras que inserem a imagem do intérprete de libras, não costumam seguir à risca as determinações estabelecidas pela ABNT. Dentre essas produções audiovisuais encontram-se as propagandas políticas que, quando optam por inserir o TILSP, desrespeitam todas as diretrizes deixando a imagem do intérprete pequena, quase impossível de se perceber a produção discursiva em língua de sinais, deixando a desejar o acesso dos surdos, mesmo com a presença do TILSP, sem acesso aos discursos ali produzidos.

Figura (3)16

A figura (3) mostra uma propaganda política partidária exibida no ano de 2008. Esse tipo de inserção do intérprete de libras raramente acontece. Neste caso é possível visualizar a intérprete, bem como sua sinalização sem grandes interferências do conteúdo visual da propaganda. No entanto, costumeiramente, o intérprete está em tamanho menor e a sinalização quase invisível. Infelizmente não conseguimos exemplos desse tipo de edição da imagem do intérprete em propagandas políticas.

O tipo de recorte, ou wipe, utilizado na figura (3) é o recorte Chroma Key que corresponde a gravação da imagem do intérprete com fundo verde ou azul para posterior recorte e edição. Essas cores são escolhidas para recorte de imagens de seres humanos, pois a pigmentação da pele humana possui menos incidência do azul e do verde facilitando o recorte e a edição da imagem.

Na figura (3) a imagem do intérprete não está inserida em uma delimitação espacial, em uma janela, para a interpretação, mas integra-se ao cenário da produção audiovisual. Esse tipo de wipe tem sido bastante utilizado nas produções televisivas que optam por inserir o intérprete de libras em suas programações, uma das justificativas para a utilização desse tipo de recorte e inserção da imagem é de que a “janela” traz certa poluição visual à totalidade da produção.

Além do recorte Chroma Key existem, ainda, outras possibilidades de edição e inserção do intérprete de libras em produções audiovisuais. A “janela de libras” em

16 Esta imagem foi retirada do site de compartilhamento de vídeos YouTube. Imagem disponível em:

programas veiculados por mídias televisivas é a mais utilizada atualmente. A TV Câmara de Brasília, que exibe as sessões da Câmara dos Deputados com interpretação para a língua de sinais (figura 4) utiliza, em vez do recorte em Chroma Key, um espaço delimitado visualmente na tela para demarcar o espaço da sinalização do intérprete.

Figura (4)17

Nesse caso o intérprete está inserido em uma janela em que o fundo é semitransparente sendo possível notar um “descolamento” de sua imagem da programação exibida e, logo, do conteúdo visual da programação. Abaixo da janela do intérprete há um Gerador de Caracteres (GC) em que são exibidas informações verbo-visuais (textos escritos) sobre o conteúdo a ser falado pelos deputados, bem como seus nomes e contatos. A inserção do GC obedece aos parâmetros estabelecidos pela norma de acessibilidade na televisão, uma vez que não está sobreposta à janela do intérprete, mas localiza-se abaixo dela.

Da mesma forma, o canal NBR de Brasília que apresenta os discursos da Presidente da República e dos Ministros também utiliza uma janela para a interpretação em língua de sinais (figura 5). Assim como é feito na TV Câmara, o canal NBR utiliza uma janela com fundo semitransparente separando a imagem do intérprete da programação exibida, conforme podemos ver abaixo:

17 Esta imagem é um recorte de um vídeo disponibilizado na Rede Social Facebook no dia 18/05/2011. O link para visualização deste vídeo é:

Figura (5)18

Os tipos, formatos e estilos das janelas não são determinados pela norma de acessibilidade na televisão e por este motivo é possível encontrar variações nos tamanhos, cores e localização da janela nas produções. Alguns programas aproveitam a necessidade da inserção do intérprete de libras e o utilizam como elemento visual da produção audiovisual.

Figura (6) 19

18

Esta imagem foi retirada do site de compartilhamento de vídeos YouTube. Imagem disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=WjZe_WAjVdI&feature=relmfu Acesso em 25/05/2011. 19

Esta imagem foi retirada do site de compartilhamento de vídeos YouTube. Imagem disponível em:

Figura (7)20

Na figura (6), a janela do intérprete de libras é um pouco maior que as vistas até aqui e apresenta um detalhe na borda que complementa os outros detalhes visuais colocados à direita da janela. Essa imagem foi recortada do Programa Especial exibido pela TV BRASIL. O Programa, assim como o programa que é corpus desta pesquisa, possui como público-alvo as pessoas com deficiência e é a única produção audiovisual no Brasil que aplica o princípio da redundância, já pontuado neste capítulo, utilizando legendagem em língua portuguesa, interpretação para a libras e audiodescrição para pessoas com deficiência visual.

Já na figura (7), que corresponde a uma produção audiovisual produzida por uma instituição religiosa de matriz protestante, a janela do intérprete possui formato diferente de todos os exemplos apresentados. Sua forma é redonda e totalmente “grudada” nas laterais esquerdas e o fundo não é “neutro”, sem imagens, mas é constituído de formas verticais e diagonais sinalizando ser o espaço de uma parede do local em que são realizados as celebrações religiosas de tal instituição.

O tipo de janela utilizado na figura (7) não obedece aos parâmetros estabelecidos pela norma de acessibilidade na televisão e, visivelmente, impossibilita ao telespectador surdo compreender com clareza a sinalização, visto que o fundo com formas geométricas interfere na qualidade da visualização da produção discursiva em língua de sinais.

20

Esta imagem foi retirada do site de compartilhamento de vídeos YouTube. Imagem disponível em:

No Programa Sentidos, corpus desta pesquisa, o wipe utilizado atualmente é o Chroma Key. No início do programa, em 2008, o tipo de recorte e inserção do intérprete de libras era uma janela com fundo branco (Figura 8). No entanto, com o objetivo de aumentar a imagem do intérprete para melhorar a visualização da interpretação e por considerarem a janela utilizada um elemento visualmente poluente da totalidade da produção, passou-se a adotar o recorte em Chroma Key para a inserção do TILSP no programa.

Com o recorte em Chroma Key e sem a inserção da janela com fundo branco a visualização da interpretação em língua de sinais ficou mais clara, visto que também o tamanho do intérprete aumentou, conforme podemos ver na Figura (8).

No entanto, mesmo com essas mudanças para possibilitar ao telespectador surdo uma melhor visualização da interpretação da língua de sinais, algumas mudanças ainda precisam ser realizadas, principalmente no tipo do recorte da imagem do TILSP, pois, mesmo que com o Chroma Key a visualização tenha ficado melhor do que com a janela e fundo branco, em alguns momentos o conteúdo visual do programa interfere na visualização da interpretação. Por este motivo, a atual direção e produção do programa estudam outras possibilidades de janela para o intérprete contemplando as normas de acessibilidade na televisão pontuadas neste capítulo.

Como foi possível perceber, por meio de exemplos de janelas com intérpretes de libras em produções audiovisuais de diferentes gêneros discursivos (jornalístico, político, e religioso) a inserção do TILSP na esfera televisiva vem sendo uma demanda crescente. Mesmo com tantas multiplicidades de inserções deste profissional e da variedade estilística das produções audiovisuais, reafirmamos que o intérprete é um agente de acessibilidade para que telespectadores surdos tenham acesso aos conteúdos produzidos na mídia televisiva.

Além dos aspectos técnicos de captação e edição de imagem que são de extrema importância para atuação do TILSP nesta esfera, existe um fator que é determinante para que a interpretação per se seja realizada de maneira clara e coerente, possibilitando ao telespectador surdo acesso aos discursos ali produzidos, que é o acesso aos textos a serem interpretados antes do próprio ato da interpretação. No próximo tópico falaremos sobre como é construído o processo de interpretação no Programa Sentidos e como esse acesso anterior ao texto auxilia a construção do discurso a ser interpretado.