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Educação infantil e as relações público-privado no município de Campinas : o Programa Naves-Mãe

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Academic year: 2021

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO

NÉLIA APARECIDA DA SILVA

EDUCAÇÃO INFANTIL E AS RELAÇÕES

PÚBLICO-PRIVADO NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS: O

PROGRAMA NAVES-MÃE

Campinas 2016

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EDUCAÇÃO INFANTIL E AS RELAÇÕES

PÚBLICO-PRIVADO

NO

MUNICÍPIO

DE

CAMPINAS:

O

PROGRAMA NAVES-MÃE

Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Mestra em Educação, na área de concentração de Ciências Sociais na Educação.

Orientador: Prof. Dr. Alexandro Henrique Paixão.

O ARQUIVO DIGITAL CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA POR NÉLIA APARECIDA DA SILVA, E ORIENTADA PELO PROF. DR. ALEXANDRO HENRIQUE PAIXÃO.

CAMPINAS 2016

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

EDUCAÇÃO INFANTIL E AS RELAÇÕES

PÚBLICO-PRIVADO NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS: O

PROGRAMA NAVES-MÃE

Autora: Nélia Aparecida da Silva

COMISSÃO JULGADORA:

Orientador: Prof. Dr. Alexandro Henrique Paixão Profa. Dra. Carolina de Roig Catini

Profa. Dra. Marta Regina de Paulo Silva Profa. Dra. Ana Lúcia Goulart de Faria Profa. Dra. Solange Estanislau dos Santos

A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

CAMPINAS 2016

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Não é a sociedade quem deve dizer quais tipos de vida são sadios ou insanos. É a própria vida quem tem de dizer se a sociedade é ou não sadia. E se a vida descobre que a sociedade conspira contra ela, não há outra saída além das resistências e rebeldias (ALVES apud MARCELLINO, 1990, p. 63).

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Dedico esta dissertação, em primeiro lugar, ao Prof. Dr. Vicente Rodriguez, que em 2010, iniciou comigo esta trajetória aceitando ser meu orientador, mas que devido as coisas da vida, alheias a nossa vontade, não pode finalizar o trabalho.

Dedico, também, aos amores e incentivadores da minha vida, meu marido Rodrigo Cavalcante, que muito me incentivou nesta reta final do mestrado. E, minha mãe, Irene de Assis Moreira da Silva, exemplo de mulher guerreira, que com poucos estudos, trabalhando como faxineira, nunca deixou de incentivar os filhos a estudar e a prosperar. E a minha prima

Cidinha (in memoriam) que nunca deixou de vibrar com cada uma de minhas vitórias, saudades de você, Amo muito vocês.

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Tantas pessoas para agradecer neste percurso de pesquisa que nem sei por onde começar.

Bom, agradeço aos amigos do grupo GPPE, e em especial a Wisllayne que fez parte de toda esta trajetória. Muito obrigado ao Prof. Vicente Rodrigues, meu orientador desde 2010 e que me acompanhou como orientador até o momento da qualificação. Vocês foram muito importantes durante esta caminhada.

Ao prof. Dr. Alexandro Henrique Paixão, meu orientador nesta reta final do mestrado, obrigada pela paciência e orientação no texto final.

Agradeço as professoras doutoras Ana Lúcia Goulart de Farias, Marta Regina de Paulo Silva, Carolina de Roig Catini e Solange Estanislau dos Santos, que aceitaram embarcar comigo no universo das naves, bem como fazer parte da banca de mestrado.

Agradeço ao grupo GEPEDISC – Linha Culturas Infantis pelo apoio, colo, socorro nesta caminhada. Em especial à professora doutora Ana Lúcia Goulart de faria pela orientação minuciosa de meu texto; ao Flávio Santiago sempre disposto a me ajudar a qualquer hora do dia; ao Peterson Rigatto Silva sempre solicito, respondendo a toda solicitação demandada; a Reny, minha primeira colega leitora, obrigada pelo carinho e apoio; e obrigado à Fabiana Canavieira que fez a leitura atenta e um trabalho sério de orientação ao ler meus textos. Muito obrigada a todas e todos, vocês são amigos/as muito especiais!

Agradeço a todas as pessoas das instituições de educação infantil Naves-Mãe visitadas, as supervisoras, mães, diretora, professora, monitoras, funcionárias, que me auxiliaram durante a pesquisa respondendo as entrevistas, apresentando o trabalho ou me ouvindo.

Agradeço à minha amiga Crislaine Matozinhos, que esteve comigo durante esta jornada apoiando, aconselhando ou apenas sendo o colo que acolhe. Agradeço a minha família pela paciência, carinho e compreensão, principalmente meu marido Rodrigo, que realizou até leitura das citações para eu poder digitar. Quando eu desanimava me incentivava a não esmorecer. A minha prima Cidinha (in memoriam) pelo carinho, dedicação e incentivo sempre. Você se foi dias antes da defesa, do meu casamento, mas não podia deixar de lhe homenagear por todo carinho e dedicação comigo e minha família nestes anos todos. Morrendo de saudades de você.

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Essa pesquisa de mestrado discute a trajetória, os avanços e as possibilidades do Programa Naves-Mãe, parceria público-privado criada para atender a demanda de vagas para as crianças da educação infantil em Campinas. Mais especificamente, busca-se compreender como essa política pública repercute os direitos das crianças pequenas a uma educação pública gratuita, laica e de qualidade. O problema que orienta esta pesquisa está relacionado ao fato de que essas políticas públicas destinadas à determinada etapa educacional parecem se configurar como último item da pirâmide de prioridades das agendas políticas, sugerindo que para determinadas camadas da população brasileira serve qualquer coisa descartável: qualquer ensino, qualquer espaço ou projeto arquitetônico, e que abriguem ―crianças quaisquer‖. Pois se a Constituição Federal (CF) garante a educação infantil enquanto direito das crianças de 0 a 6 anos e suas famílias, não significa que na prática tal direito será construído. Trata-se de um estudo qualitativo interpretativo que emprega metodologia das ciências sociais de análise da realidade considerando o contexto sócio-político e econômico de forma relacional. Como instrumentos de pesquisa, partiu-se do aprofundamento bibliográfico, análise de documentos oficiais e outras fontes primárias reunidas a partir da pesquisa de campo, através de observações e realização de entrevistas semiestruturadas. Dessa forma, pretendeu-se compreender a organização dessa parceria no município, bem como as implicações que a entrega da gestão das creches/pré-escolas às Organizações Não Governamentais (ONGs) traz para o cenário da educação infantil na cidade. Como resultado, esta pesquisa aponta para não garantia dos direitos das crianças pequenas a uma educação gratuita e de qualidade, devido à precariedade do atendimento nas Naves-Mãe. Observando como esta política foi implantada no município, este estudo discute o processo de desqualificação da educação infantil ofertada às crianças de Campinas.

Palavras-chave: Programa Naves-Mãe; Crianças Pequenas; Políticas Públicas; Público-privado; Creche/Pré-escola.

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This master's research discusses the trajectory, advances and possibilities of Naves-Mãe Program, a public-private partnership created to serve the demand of places for the kids of early childhood education in Campinas city. Specifically, it aims to understand how this public policy affects the rights of young children to a free secular public education with quality. The problem that guides this research is related to the fact these policies destined to this specific educational stage sound to be set as the last item of the priorities pyramid of the political agenda, suggesting that for certain sections of the Brazilian people they may serve any disposable thing: any education, any space or architectural project, and to shelter "any children." For the Federal Constitution (FC) guarantees the early childhood education as a right of 0-6 aged children and their families, it does not mean that in practice this right will be run. It is about an interpretive qualitative study that uses the social science methodology of reality analysis considering the socio-political and economic context relationally. As research tools, it started from the bibliographic deepening, analysis of official documents and other primary sources gathered from the field research through observations and carrying out of semi-structured interviews. Thus, it intends to understand the organization of this partnership in the municipality, as well as the implications that the delivery of the management of daycare center/pre school to the Non-Governmental Organizations (NGOs) causes to the setting of early childhood education in the city. As a result, this research points not to guarantee the rights of young children to a free and quality education, due to the precariousness of care in Naves Mother. Observing how this policy was implemented in the municipality, this study discusses the disqualification process of early childhood education offered to children of Campinas.

Keywords: Naves-Mãe Program; Young Children; Public policies; Public-private, Daycare Center/ Pre School.

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ANEI - Avaliação Nacional de Educação Infantil

ANPED - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação ANPEGE - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia. BM - Banco Mundial

CEB - Coordenadoria de Educação Básica

CEFORTEPE – Centro de Formação, Tecnologia e Pesquisa Educacional CEI - Centros de Educação Infantil

CEMEI - Centro Municipal de Educação Infantil CEU - Centros de Educação Unificados

CF - Constituição Federal

CIEP - Centros Integrados de Educação Pública CIMEI - Centro Integrado de Educação Infantil CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas COLE - Congresso de Leitura

CP - Coordenadoras Pedagógicas

DCNEI - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil DEPE - Departamento Pedagógico

EC - Emenda Constitucional

EJA - Educação de Jovens e Adultos

EMEF - Escolas Municipais de Ensino Fundamental EMEI - Escolas Municipais de Educação Infantil FE - Faculdade de Educação

FEAC - Federação das Entidades Assistenciais de Campinas

FUNDEB - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação

FUNDEF - Fundo de Valorização do Ensino Fundamental

GEPEDISC - Grupo de Estudos e Pesquisas em Diferenciação Sociocultural GPPE - Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas e Educação GREPPE - Grupo de Estudos e Pesquisas em Política Educacional

GRUPECI - Grupos de Pesquisa sobre Crianças e Infâncias IDHM - Desenvolvimento Humano Municipal

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira LDB - Lei de Diretrizes e Bases Nacionais

LRF - Lei de Responsabilidade Fiscal MEC - Ministério da Educação e Cultura

MIEIB - Movimento Interforuns de Educação Infantil do Brasil MP - Ministério Público

NAED - Núcleo de Educação Descentralizado ODM – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

OMEP - Organização Mundial para a Educação Escolar ONG - Organizações Não- Governamentais

OP - Orçamento Participativo OP – Orientadora Pedagógica OS -Organizações Sociais

PAC - Programa de Aceleração do Crescimento

PAEEI - Programa de Atendimento Especial à Educação Infantil PDES - Plano de Desenvolvimento Econômico e Social

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PEFOPEX - Programa de Formação de Professores PI - Parque Infantil

PIB - Produto Interno Bruto

PMC - Prefeitura Municipal de Campinas PME - Plano Municipal de Educação

PNAIC - Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa PNE – Planos Nacionais Educação

PPGE - Programa de Pós-Graduação em Educação PQE - Plano Quadrienal de Educação

Pró-Criança – Programa Especial de Ampliação da Oferta na Educação Infantil PSB – Partido Social Brasileiro

PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira PT – Partido dos Trabalhadores

PUCC - Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), RJ - Reintegrados judicialmente

SAE - Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República SME - Secretaria Municipais de Educação

TCC - Trabalho de Conclusão de Curso TDC- Trabalho Docente Coletivo

TJE - Tributados e Julgados UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos. UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNICAMP - Universidade Paulista de Campinas UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba UNIP - Universidade Paulista (UNIP)

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Figura 2. Vista do pioneiro Parque Infantil de Santo Amaro (década de 1930). Figura 3: Vista aérea do CIEP.

Figura 4 - Nota de Niemayer. Figura 5: Planta baixa do CEU Figura 9: Vista aérea do CEU

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Foto 1: Vista externa da Nave-Mãe

Foto 2: vista aérea da nave, fotografada de um painel exposto no Paço Municipal

Foto 3: Vista externa do solário e das salas de AG I. Foto 4: Vista externa do quiosque e da casa de bonecas. Foto 5: Vista externa do quiosque e da casa de bonecas. Foto 6: Vista externa do quiosque e da casa de bonecas. Foto 7 - foto aérea da unidade.

Foto 8: Parque, no pátio interno da unidade. Foto 9- Parque, no pátio interno da unidade. Foto 10: Parque, no pátio interno da unidade.

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Quadro 1: Levantamento bibliográfico sobre o Programa Naves-Mãe (anexo)

Quadro 2 – Quadro 02 – Número de entrevistas realizadas nas CEIs pesquisadas (anexo)

Quadro 03 - IDHM das 20 metrópoles do país (anexo)

Quadro 4: Quantidade de instituições e matriculas existentes na Educação em Campinas

Quadro 5 – Distribuição da matricula por nível de ensino e participação da rede pública brasileira (anexo)

Quadro 6 – Profissionais que atuam na Educação infantil em Campinas Quadro 7- Atendimento à educação infantil em Campinas

Quadro 8 – Evolução do atendimento entre 2005 e 2011 Quadro 9 – Naves-Mãe e suas mantenedoras

Quadro 10 – Distribuição das Naves por entidades mantenedoras Quadro 11 – Distribuição de Naves-Mãe por NAED

Quadro 12: Condições de trabalho e de salário das/dos profissionais das Naves-Mãe e da rede

Quadro 13: Principais legislações e documentos que norteiam as diretrizes para a educação infantil de 1988 a 2014

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Rememoração: Caminhos trilhados, encontros compartilhados... ...13 Introdução – primeiros passos no processo de escrita ...18 Escolhas metodológicas... 23 CAPÍTULO 1

São dois pra lá e dois prá cá: a educação infantil em Campinas... 32 1.1 Educação infantil em Campinas – do assistencialismo a terceirização... 42 1.2 ―Onde é essa fábrica?” A Pedagogia dos Sentidos e o Programa Naves-Mãe: a pesquisa de campo... 48 1.2.1 - Pesquisa de Campo – implicações das Parcerias público privado em Campinas, a partir do Programa Naves-Mãe... 72 CAPITULO II

Descentralização, reforma do estado e parcerias público-privado na educação: onde fica a educação infantil neste contexto? ...104 2.1 Conceitualizando o caminho da minimização do Estado à concepção das Parcerias Público Privado ...107 2.2. A perversa construção de políticas públicas para a educação infantil no Brasil: as Parcerias Público-Privado... 114 2.2.1 As Parcerias Público-Privado e a educação infantil... 117 2.2.2. Experiências de educação para a classe popular e o Programa Naves-Mãe ...123

CAPÍTULO III

Políticas públicas para a educação infantil e educação: uma questão de direito? ...141 3.1 Definindo políticas públicas e educação... 142 3.2 Uma questão de direito? As legislações nacionais para a educação infantil brasileira... 148 3.3 A legislação nacional e a constituição da educação infantil enquanto direito ...161 Considerações finais

Para não finalizar: Caminhos trilhados e desafios lançados... 172 Referências bibliográficas... 179 ANEXOS

Anexo 1 – Roteiros de Entrevistas ...188 Anexo 2 – Quadros... 190 Anexo 3 – Legislações de Campinas... 192

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Rememoração: Caminhos trilhados, encontros compartilhados

Ando devagar porque já tive pressa

E levo esse sorriso porque já chorei demais Cada um de nós compõe a sua história, Cada ser em si carrega o dom de ser capaz de ser feliz (Almir Sater)

Com esse trecho da música Tocando em frente de Almir Sater e Renato Teixeira (1991),1 inicio a rememoração de um processo que resultou nesta dissertação de mestrado. Aqui busco sintetizar a trajetória, avanços e possibilidades traçadas durante esta pesquisa sobre o Programa Naves-Mãe, parceria público-privado, criada para atender a demanda de vagas para as crianças da educação infantil em Campinas.

Esta pesquisa começou muito antes do ano de 2013, quando iniciei o curso de Mestrado dentro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas e Educação (GPPE), da Faculdade de Educação (FE) / Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Em 2002 teve início minha trajetória acadêmica na Unicamp.2 Naquela ocasião, decidi prestar o vestibular para o PEFOPEX (Programa de Formação de Professores) da FE/UNICAMP.

Entrei no curso em fevereiro de 2003 com um imenso desejo por novas experiências e descobertas epistemológicas. No primeiro semestre desse ano, tive contato com a Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia Goulart de Faria, com quem descobri um mundo novo: a educação infantil. Passado um ano, em 2004, cursei uma disciplina aos sábados sob sua coordenação, bem como passei a integrar seu grupo de pesquisa: Grupo de Estudos e Pesquisas em Diferenciação Sociocultural (GEPEDISC) - Linha Culturas Infantis.

Das conversas com as colegas, do ingresso no grupo de pesquisa da Ana Lúcia Goulart, até a realização das disciplinas-extras sob sua coordenação, fui sendo decididamente impulsionada para realizar um trabalho

1

Nas pesquisas realizadas, não encontrei uma data específica para a criação da letra desta música.

2

Em 1999, cursei Letras na Universidade Paulista (UNIP). Na mesma década, anos antes (1991 a 1993), frequentei curso de Relações Públicas na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC). Desisti dos cursos de Relações Públicas da PUC e Letras na UNIP por falta de recursos financeiros. Retornei à PUCC em 2001 para cursar Letras, mas abandonei a graduação quando passei no vestibular de Pedagogia da UNICAMP.

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de conclusão de curso (TCC), justamente sob sua orientação. Minha pesquisa foi sobre cirandas infantis do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST). Devo ao encontro com essa professora e às inúmeras experiências de aprendizado e desenvolvimento vividas no GEPEDISC - Linha Culturas Infantis, os estímulos para desenvolver minhas primeiras pesquisas no campo da infância e almejar realizar esta dissertação de mestrado.

Mas isso não é tudo. Participar das aulas da professora Ana Lúcia, voltadas à discussão das Pedagogias e Sociologia da Infância; estar em contato com vasto material bibliográfico sobre a educação infantil, além das legislações que a embasam; ter oportunidade de ouvir os relatos das colegas (no curso não tinha professores, apenas professoras) sobre os prazeres e as mazelas de trabalhar com a primeira etapa da educação básica; tudo isso resultou em experiências que me permitiram, como estudante e também professora do ensino fundamental I, aprofundar meus conhecimentos sobre a infância e a educação. Exemplifico lembrando como fui despertada e apresentada para a discussão da educação infantil dentro da Constituição Federal (CF) de 1998. Chamava minha atenção a maneira como as prefeituras buscavam cumprir os dispositivos de lei, sobretudo, aquilo que reiterava a Lei de Diretrizes e Bases Nacionais (LDB) de 1996, isto é, sobre os municípios terem a responsabilidade de ofertar educação infantil às crianças de 0 a 6 anos e suas famílias.

Durante esses encontros de discussões sobre educação infantil, suas políticas e constituição dos direitos das crianças pequenas, busquei compreender, dentro da perspectiva das políticas na educação, como eram pensadas as formas de organização dos espaços educacionais voltados para crianças de 0 a 6 anos, bem como seu impacto sobre a infância.

Nas discussões, aprofundei o olhar sobre as parcerias estabelecidas entre as Secretarias Municipais de Educação (SMEs) e a sociedade civil, visando atender à demanda não contemplada com vagas nas creches e pré-escolas. Observava os resultados que as (os) profissionais, que atuavam nas redes municipais, apresentavam sobre esse tipo de trabalho, o que despertou o interesse em pesquisar esse tema na pós-graduação, dentro do mestrado em educação.

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Assim, elaborei um projeto de pesquisa submetendo-o a outro grupo de pesquisa da FE - o Grupo de Políticas Públicas e Educação (GPPE) - para desenvolvê-lo dentro da discussão das políticas na educação. O GPPE criado em 1995, tendo como foco debater, pesquisar e sistematizar conhecimentos a respeito da formulação e implementação de políticas públicas, bem como as mudanças que tais políticas trazem para as instituições e as teorias que as embasam, atendia minha curiosidade pelo conhecimento através da perspectiva interdisciplinar orientada para compreender políticas públicas e educação infantil.

Em 2010, fui aprovada no Mestrado em Educação, embora não foi possível cursar plenamente a pós-graduação nesse momento. Passados dois anos, em 13 de dezembro de 2012, fui aprovada em um novo processo seletivo, iniciando os estudos em 2013 sob a orientação do Prof. Dr. Vicente Rodriguez (GPPE), mas continuando atuando como membro do GEPEDISC- Linha Culturas Infantis.3 Devo dizer que a aprovação no mestrado naquele dia treze de dezembro foi um precioso presente de aniversário.

Nos dois primeiros anos do mestrado, cursei diferentes disciplinas, bem como frequentei as reuniões do GPPE. Eu vinha de um grupo que estudava a infância com enfoque na sociologia (GEPEDISC), passando agora a um grupo (GPPE), cuja perspectiva era as políticas na educação, o que se constituía, para mim, uma novidade e um grande desafio.

Durante o tempo da formação realizei pesquisas bibliográficas, participei de seminários, palestras, simpósios, congressos etc., buscando aprimoramento e desenvolvimento. Nesta busca os resultados assim se apresentam: sou autora, conjuntamente com outros membros do grupo GEPEDISC – Linha Culturas Infantis, de dois capítulos de livros: o primeiro intitula-se Brincar na

educação infantil: transgressões e rebeldias, publicado no livro Culturas infantis em creches e pré-escolas: estágios e pesquisa, 2011; o segundo é Infância Sem Terrinha: a vez e a voz das crianças do MST, publicado no livro Infâncias e Movimentos Sociais, 2015; compus a comissão organizadora do II Seminário

3

Sobre a questão da orientação do trabalho, se não fosse por uma vicissitude da vida, o Prof. Vicente Rodrigues estaria acompanhando de perto a finalização dessa pesquisa, que conta desde março de 2016 com a orientação do Prof. Alexandro Henrique Paixão e co-orientação da Prof. Ana Lúcia Goulart de Faria, ambos do Departamento de Ciências Sociais na Educação, da Faculdade de Educação (Unicamp).

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Internacional de Pedagogias Descolonizadoras; fui parecerista ad-hoc das três últimas edições do COLE (Congresso de Leitura); fiz a revisão técnica e escrita da capa final da segunda edição do livro O projeto pedagógico da creche e sua

avaliação: a qualidade negociada, 2013; organizei e sou autora do livro Nosso bairro tem história, 2012; participei de duas edições da ANPEDINHA4 da região sudeste apresentando pôsteres sobre minha pesquisa, uma no Rio de Janeiro, em 2011,5 outra em São João Del Rey, em 2014; participei de três comunicações orais em congressos - Grupo de Estudos e Pesquisas em Política Educacional – GREPPE em Rio Claro (2011); Grupos de Pesquisa sobre Crianças e Infâncias - GRUPECI (2014) e I Seminário Municipal do Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa – PNAIC (2015). E neste instante em que estou escrevendo essa dissertação, estou redigindo um capítulo do livro sobre educação integral na rede municipal de Campinas, fruto da minha experiência como orientadora pedagógica em uma Escola de Educação Integral de Ciclo I.

Partindo dessas ponderações, destaco que a temática que me move nesta pesquisa é a análise do Programa Naves-Mãe e seu alcance enquanto política pública para a educação infantil em Campinas, tendo como alcance maior a garantia do atendimento aos direitos das crianças pequenas e de suas famílias a essa etapa da educação básica.

Por fim, antecipo uma questão que o leitor poderá pôr a prova e julgar durante a leitura deste trabalho. Refiro-me às parcerias entre secretarias municipais de educação e Organizações Não-Governamentais (ONGs) ou Organizações Sociais (OSs) que estão ocorrendo em todo país para atender à demanda por vagas na educação infantil. Nesse contexto, destaca-se a cidade de Campinas: o município tem sido reconhecido em diversos lugares do país como um local em que a educação público-privada está dando certo, merecendo, portanto, ser valorizada e imitada. Partindo dessa proposição de que existe uma valorização em âmbito nacional, conforme pretende-se demonstrar, considero que essas experiências na educação infantil carecem de

4

Encontro de Pesquisa em Educação da Região Sudeste. 5

Lembro que ingressei, pela primeira vez, no mestrado em 2010, tendo apresentado alguns resultados da pesquisa em 2011 neste evento do Rio de Janeiro.

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atenção e reflexão, algo que essa pesquisa almeja realizar estudando uma experiência educacional local: as Naves-Mãe.

Face tais considerações, passo a seguir à introdução deste trabalho, momento em que apresento os passos iniciais e resultados alcançados em minha pesquisa nesses três anos e meio de estudos, visando apontar alguns caminhos possíveis para entendermos o momento presente, bem como quais desdobramentos podemos esperar de tais políticas na educação.

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INTRODUÇÃO – primeiros passos no processo de escrita

Exmo Senhor Ministro da Educação Fernando Haddad

Meu nome é Fúlvia Rosemberg. Sou professora titular da PUC-SP onde coordeno o Núcleo de Estudos de Gênero, Raça e Idade (NEGRI), tendo orientado e levado à defesa mais de 50 teses/dissertações, a maior parte delas pesquisas sobre políticas para a infância brasileira. Nestes últimos 30 anos, venho atuando ininterruptamente como pesquisadora e ativista na área da educação infantil e dos direitos da criança pequena: no Congresso Constituinte para defender o artigo 208 da Constituição, no Congresso Nacional para discutir projetos de lei, no Ministério de Educação para participar da elaboração ou análise de projetos e programas todas as vezes que fui convidada. Minha meta é sustentar, lutar mesmo, por uma educação infantil brasileira democrática, isto é, de qualidade com equidade, principalmente para os bebês, via expansão de vagas e melhoria de nossas creches. Menciono luta porque, nestes anos, temos assistido, neste país, algumas propostas e práticas para a educação infantil, especialmente para as creches, devastadoras para as crianças pobres e seus pais, particularmente suas mães. Em sua administração no MEC, venho observando vários avanços no sentido de reverter, com louvor, práticas arcaicas: os bebês têm sido contemplados nas propostas curriculares, nos materiais didáticos, na alimentação escolar, na formação das professoras e gestoras, na construção de escolas de educação infantil com creche, no debate e em propostas sobre qualidade da educação infantil que, felizmente, têm se orientado para a avaliação da oferta e não das crianças usuárias. É com intensa apreensão que venho acompanhando a proposta da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República relativa à política educacional para as crianças pequenas, para os bebês, que, ao invés de manter e ampliar as iniciativas que vêm sendo adotadas pelo MEC (via COEDI) em sua gestão, pretende implementar as chamadas "modalidades de atenção" à criança em substituição a oferta em creche e introduzir procedimentos de avaliação de crianças pequenas (escala norte-americana de desenvolvimento infantil) criticados por muitos especialistas, gestores e ativistas brasileiros e estrangeiros. Há alguns anos atrás recorri ao mito de Sísifo como metáfora da política de educação infantil brasileira no período pós Constituição (tomei a liberdade de anexá-lo a esta

mensagem):6 nossa maldição de reconstruir sempre desmandos administrativos.

Sua administração, porém, vem colaborando em nosso esforço de levar a pedra ao cume da montanha, uma educação infantil brasileira de qualidade com equidade. Porém, exatamente neste momento em que V. SA. se prepara para deixar a liderança do MEC em função de sua candidatura às eleições municipais, identifico sinais da repetição do movimento arcaico de procurar manter a creche prisioneira de Sísifo. Vivemos, acadêmicos, gestores e ativistas da causa das crianças pequenas, da educação infantil, um momento de grande preocupação. Por isto, expresso meu apoio às iniciativas do MEC que estão contribuindo para a expansão e melhoria da qualidade das creches brasileiras. Além disso, reitero minha disposição para colaborar com o MEC nesta empreitada. Atenciosamente Fúlvia Rosemberg

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Segue o link para o referido artigo www.proposicoes.fe.unicamp.br/.../40-artigos-rosembergf.pdf

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Inicio esta introdução com a carta7 que Fúlvia Rosemberg escreveu para Fernando Haddad, quando esse era ministro da educação, como forma de homenagear alguém que nos deixou órfãos intelectualmente em 2014, uma das maiores pesquisadoras sobre políticas públicas para a educação da criança pequena no Brasil, principalmente da criança pequena negra. Essa carta-manifesto também deve funcionar como uma espécie de ponto de partida deste trabalho que visa discutir as políticas públicas para a educação infantil no município de Campinas, analisando o Programa Naves-Mãe, uma parceria público-privado cujos postulados e ações práticas vão ao encontro das preocupações de Fúlvia, expressas na carta ao excelentíssimo Ministro. Aliados a esses fatos, trago também Rosemberg para esta introdução, em função das contribuições dessa autora para o debate das políticas públicas para a educação infantil que almejo realizar nesta dissertação.

Dessa forma, os pressupostos desta pesquisa assim se apresentam no âmbito da educação infantil: primeiro, é necessário reconhecê-la como um direito das crianças de 0 a 6 anos e de suas famílias, conforme versa a Constituição Federal de 1988; segundo, identificá-la como a primeira etapa da educação básica, conforme determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996; logo, deve ser ofertada pelo Estado, na esfera municipal, em instituições públicas, gratuitas, laicas, de qualidade e previamente preparadas para este serviço. Organizadas de forma diferente da casa, da escola e do hospital, deve contar com profissionais formados (as) e especializados (as) para cuidar e educar as crianças pequenas.

Os anos de 1980 correspondem ao período de redemocratização da sociedade brasileira e a ampliação dos canais de participação e teve como consequência direta o aumento das demandas por melhores condições de vida. O direito à educação das crianças de 0 a 6 anos de idade surge no bojo destas demandas. A conquista do direito constitucional à educação das crianças pequenas e a ampliação de creches e pré-escolas são consequências diretas da organização popular; seja no movimento de mulheres, seja nas associações de moradores ou, ainda na organização dos trabalhadores em sindicatos (SILVA, 1999, p. 50).

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A carta faz claras alusões à educação das crianças de 0 a 3 anos, os bebês, na creche, que não é o mote desta pesquisa, pois analiso um programa de atendimento as crianças de 0 a 6 anos. No entanto, Rosemberg, de modo geral, ainda que enfatize mais a creche, apresenta uma acurada preocupação com a educação de todas as crianças na educação infantil, bem como com a qualidade desta educação, que é o meu principal interesse nesta pesquisa.

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Porém, essas demandas nunca foram universalizadas, segundo afirma Rosemberg (2002, p. 35): ―a educação infantil no Brasil é a rainha da sucata‖.8

Subentende-se que as políticas públicas para esse contingente educacional sempre estiveram como último item da pirâmide de prioridades das agendas políticas, sendo que a metáfora da sucata sugere que para determinadas camadas da população brasileira serve qualquer coisa descartável: qualquer ensino, qualquer espaço ou projeto arquitetônico, e que abriguem ―crianças quaisquer‖.

Acerca da invisibilidade da educação infantil para a União, os Estados e Municípios devo destacar que somente em 1988, com a constituinte, essa etapa da educação vai sair definitivamente da pasta da promoção social (até este momento apenas a pré-escola estava dentro da pasta da educação) passando a ser afirmada como etapa educativa da vida das crianças e não mais como um serviço social ou higienista. Contudo, a despeito da lei, apontam Rossetti-Ferreira, Ramon e Silva (2002) que, garantir legalmente um direito, não faz com que esse seja realmente efetivado na prática.

Pensando nisso, nasceu esse trabalho orientado para o estudo da gestão escolar no município de Campinas. Como objeto de pesquisa, optei pelo Programa Naves-Mãe, que é um projeto que se realiza dentro das parcerias público-privado visando atender às políticas públicas para a educação infantil na cidade. Meu objetivo principal é compreender como esta politica pública repercute os direitos das crianças pequenas a uma educação pública, gratuita, laica e de qualidade. Para chegar a este pressuposto, trago como objetivos específicos entender como se deu e se dá a organização e o alcance da implementação desse programa na cidade. Como se observa, o tema da gestão é orientado por uma reflexão de políticas educacionais.

Para tanto, pergunto: os direitos das crianças de 0 a 6 anos a uma educação infantil pública, laica e de qualidade está sendo respeitado dentro destes novos paradigmas criados no município? Trata-se, portanto, de uma

8 ―Rainha da Sucata‖ foi o título de uma telenovela exibida no ano de 1990 pela Rede Globo de Televisão. O enredo girava em torno de uma personagem e sua família que ascenderam socialmente graças ao trabalho com sucatas. Sucatas não passam de lixo descartável, mas que podem ser reutilizados, reaproveitados, gerando, por exemplo, riquezas, conforme nos conta a novela. Em relação à educação infantil, a metáfora diz respeito à educação das crianças pequenas ser vista como precária, descartável, algo sucateado, mas que pode ser ressignificado.

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questão geral que irá me orientar ao longo da exposição. Contudo, esse não é o único ponto que a pesquisa quer se ocupar. Apresento a seguir outras cinco questões que irão nortear as discussões deste trabalho:

I. Qual o impacto do espaço físico e territorial na organização das Naves-Mãe?

II. Quanto às matrículas, qual é a demanda (e quem demanda)?

III. Como estão organizados os/as profissionais que atuam nos Centros de Educação Infantil (CEIs) Naves-Mãe?

IV. As crianças na proposta das Naves e na legislação?

V. Pensando em termos de leis, como os direitos das crianças são assegurados?

Mas antes de passarmos às questões, devo esclarecer que o munícipio de Campinas buscou, a partir de 2005, resolver os problemas referentes ao déficit na demanda reprimida na educação infantil na cidade, criando programas de educação maciça à população de 0 a 6 anos, com capacidade física de educar até 500 crianças nessa faixa etária.

[...] a demanda por vagas na educação infantil se constitui para o município de Campinas num grande desafio, a ser vencido deste a década de 1990. Assim, a partir de 2005, novos enfrentamentos começam a ser definidos pelas políticas públicas municipais, tendo como perspectivas não só os dispositivos legais e constitucionais, mas em função da realidade que se caracteriza com o déficit de 15.294 crianças na lista de espera, ou seja, não atendidas pelas instituições municipais de educação infantil, situação que precisa ser modificada por meio de políticas efetivas que garantam uma educação pública municipal de qualidade (RAMOS, 2010, p. 113).

Tais programas têm sua organização e legislação apoiadas nas legislações mandatórias nacionais que permitem, e de certa forma até estimulam, o estabelecimento de parceria com a sociedade civil, através de parcerias público-privadas, criando novas formas educacionais e uso do dinheiro público na educação das crianças de 0 a 6 anos.

Não vem ao caso discutir como a legislação para a educação infantil nacional vem sendo debatida desde a abertura política pós-ditadura, importa as atuais diretrizes que apontam, seja para o estabelecimento da educação infantil enquanto direito, seja para legitimar as parcerias público-privadas, conforme podemos observar nas Naves-Mãe, objeto desta pesquisa.

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Partindo dessas ponderações, busco focar duas dimensões políticas-pedagógicas:

1. Legislação Nacional e Municipal entre os anos de 1988 a 2014, com ênfase na Constituição Nacional, a Lei de Diretrizes e Bases e os Planos Nacionais de Educação (PNE) de 2001 e 2014;

2. Implementação e organização do Programa Naves-Mãe no município de Campinas e as relações público-privado para a educação infantil no município.

Quanto as fontes bibliográficas, apresento como referência os trabalhos de: Souza (2006), Hofling (2001) e Nogueira (2009), Faria (1995, 2005), Rosemberg (2002, 2003, 2007), Canavieira (2010), Campos (2012a, 2012b), Silva (1999), Nascimento (2012), Rodriguez (2009), Arelaro (2012), Campos (2012b), Campos e Campos (2012), Santos (2012) e de Dourado e Bueno (2001), Anderson (1995), Peroni (2007, 2013), Silva (2007), Domiciano, Franco e Adrião (2011), Adrião, Borghi e Domiciano (2011), Oliveira e Borghi (2013), Tonolli (1996), Ramos (2010), Cunha (2013), Santos (2010), Rovêdo (2010), entre outros (as) autores (as), cujas pesquisas contribuíram para minhas reflexões.

Diante disso, o trabalho que se segue foi dividido em três capítulos, essa introdução que busca apresentar meu objeto de estudo e a metodologia a ser empregada no desenvolvimento desta pesquisa e as considerações finais, fechando a discussão.

O primeiro capítulo apresenta a pesquisa de campo, realizando uma discussão sobre o Programa Naves-Mãe como política de privatização do público, analisando as características dessa política pública, no sentido de entender quais os alcances e entraves para as crianças campineiras e quais caminhos tais arranjos podem levar à educação infantil no município. Devo enfatizar que essa poderá servir de modelo para a implementação de parcerias em todo Brasil.

O segundo capítulo traz uma discussão acerca das políticas públicas para a educação infantil, como essas se constituem, quais seus alcances e limitações e como foram incorporadas à oferta da educação infantil no

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município de Campinas. Apresento uma análise teórica sobre as relações público-privado e como tais parcerias correspondem e atendem os anseios e as necessidades da educação infantil no país e na cidade. Além disso, indico alguns caminhos sobre como essas relações podem apontar para o futuro da educação pública no país. Feito isso, apresento três experiências brasileiras de educação às crianças das camadas populares brasileiras visando discutir como, antes do Programa Naves-Mãe, já existiam no país outras experiências pensadas para as crianças pobres, mas com objetivos muito diferentes, algo que precisa ser resgatado.

O terceiro e último capítulo discute a constituição da educação infantil enquanto direito, analisando as legislações que regulam a educação infantil no Brasil e em Campinas. Este capítulo tem como foco a CF, a LDB, os Planos Nacionais de Educação (PNE) de 2001 e 2014, esses atrelados a pesquisas que foram realizadas a partir de análise dessas legislações enquanto garantia dos direitos subjetivos das crianças de 0 a 6 e suas famílias, bem como de que maneira as leis tratam a questão da educação infantil na atualidade, apontando os desafios e caminhos trilhados para essa etapa da educação básica. Nas considerações finais, faço uma síntese dos assuntos discutidos ao longo dos capítulos, apresentando possíveis rumos que esta pesquisa suscitou.

Como se observa, as questões outrora apresentadas (I-V) vão reaparecendo em cada um dos capítulos. Seguir por elas me permitirá formar uma unidade de exposição acerca da educação infantil no município de Campinas como um problema de políticas públicas, cujo fim impacta a gestão escolar na cidade, em particular, no Programa Naves-Mãe.

Dito isso, tão logo apresentar as escolhas metodológicas, passarei ao encaminhamento dessas questões (I-V).

Escolhas metodológicas

A concentração do interesse do pesquisador em determinados problemas, a perspectiva em que se coloca para formulá-lo, a escolha dos instrumentos de coleta e análise do material não são nunca fortuitos: todo estudioso está sempre engajado, de forma profunda e muitas vezes inconsciente, naquilo que executa. Além de sua posição diante do objeto a estudar, urge considerar também o momento histórico-cientifico em que se encontra, a maneira de compreender as

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ciências no mundo intelectual de que faz parte. Duas perspectivas se reúnem sempre: o ser pensante é sempre único, sua individualidade é patente; seu modo de conhecer e, portanto, sua imaginação, sua interpretação, seu julgamento de valor são [sic] sem dúvida inteiramente pessoais. No entanto, o indivíduo só existe na coletividade e no seu grupo que adquire sua maneira de considerar as ciências, as técnicas de que dispõe são as que nele aprendem. Mesmo quando inova, suas criações estão delineadas pelo que nele existe. Todo individuo encerra uma parte que é particularmente sua e uma parte que foi insuflada pelo seu meio; partes que sempre se interpenetram, mas que ora estão em harmonia, ora em oposição (QUEIROZ apud LUCENA, CAMPOS, DEMARTINI (orgs.), 2008, pp. 16-17).9

A fim de apresentar o percurso metodológico que resultou nesta dissertação, trago as ponderações de Maria Isaura Pereira de Queiroz a respeito das escolhas que o pesquisador ou a pesquisadora realiza ao organizar sua ação em campo, tendo como intuito delinear o caminho por mim escolhido para apresentar o Programa Naves-Mãe e seus desdobramentos para as políticas públicas no município de Campinas voltadas para a educação infantil. Conhecer tais escolhas e recortes é entrar em contato com o método de pesquisa desta dissertação.

Partindo das premissas enunciadas pela autora em que as escolhas de um (a) pesquisador (a) sempre estão impregnadas de suas escolhas individuais, imbricadas com os ―insights‖ que a coletividade em que está inserido (a) lhe fornece o tempo todo, busco apresentar minhas escolhas para a elaboração desta pesquisa. Escolhas que ora apresentam um olhar individualizado, ora se impregnam da visão da coletividade, mas que, em geral, visam trazer a discussão sobre a implementação de uma política pública voltada para a educação das crianças pequenas, essa mesmo, fragmentária, cambaleante, plena de contradições, produzindo e provocando em mim inúmeras preocupações e questionamentos sobre como as conquistas de alguns direitos, como os que as crianças de 0 a 6 anos e suas famílias conquistaram em 1988, estão sendo esquecidos ou suprimidos.

Para empreender tal envergadura, escolhi como percurso metodológico a pesquisa qualitativa, construída a partir da análise e leitura dos diferentes documentos e bibliografias que têm como foco de estudos as dimensões

9

Este texto, escrito por Maria Isaura Pereira de Queiroz, em 1992, encontra-se reunido integramente em um livro que as autoras supracitadas organizaram para compilar as obras da socióloga sobre a pesquisa em ciências sociais.

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elencadas para esta pesquisa: levantamento bibliográfico, pesquisa de observação em campo e entrevistas semiestruturadas.

[...] a pesquisa qualitativa ocupa um reconhecido lugar entre as várias possibilidades de se estudar os fenômenos que envolvem os seres humanos e suas intrincadas relações sociais, estabelecidas em diversos ambientes [...] um fenômeno pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisado numa perspectiva integrada. Para tanto, o pesquisador vai a campo buscando ―captar" o fenômeno em estudo a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas, considerando todos os pontos de vista relevantes (GODOY, 1995, p. 21).

De acordo com os estudos de Boni e Quaresma (2005) e de Triviños (1987), a pesquisa qualitativa é um dos instrumentos mais usados nas ciências sociais e políticas, o que não significa que a pesquisa quantitativa – ou elementos dela – também apareçam compondo a análise qualitativa. Porém, variáveis que expõem ―significados‖, ―motivações‖, ―valores‖ e ―crenças‖ (BONI e QUARESMA, 2005, p. 70), dificilmente, são quantificáveis, por isso, constituem este trabalho o universo da pesquisa qualitativa.

Inspirada nos trabalhos de Triviños (1987, p.125), o enfoque de meus estudos se inscreve dentro de uma perspectiva dialética, orientada pela interpretação da materialidade sócio histórica que constitui o Programa Naves-Mãe. Contudo, o método dialético não deve ser visto como um instrumento ou um acessório de pesquisa. Ele se constitui enquanto um modo de ver e de pensar as contradições dos objetos de estudos. Significa que a análise crítica das Naves-Mãe deverá expor alguns problemas estruturais, como as parcerias público-privado, e compreender fenômenos ligados aos ideais políticos da gestão escolar.

Boni e Quaresma (2005) e Triviños (1987), delineiam os passos de uma pesquisa científica de caráter qualitativo em: levantamento de dados, observação dos fatos ou fenômenos, inferências e contatos com pessoas que fazem parte do contexto pesquisado a fim de obter informações necessárias ao desenvolvimento da pesquisa e, por fim, análise e sistematização dos resultados obtidos. Assim, dentro da escolha do meu repertório de pesquisa e seguindo a lógica apresentada pelo pesquisador e pelas pesquisadoras, apresento a seguir o desenvolvimento metodológico realizado neste estudo.

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Quando defini meu objeto de pesquisa, isto é, o Programa Naves-Mãe, sua implementação e alcance dessa política na garantia ou não dos direitos das crianças pequenas de Campinas a uma educação pública laica, gratuita e de qualidade para estas e suas famílias, necessitei buscar embasamento teórico tanto na legislação quanto em bibliografias que me permitissem conhecer aquele programa e, assim, poder estabelecer as hipóteses que norteariam meu trabalho.

Dessa forma, realizei primeiro uma análise documental sobre as legislações nacionais e municipais para a educação infantil, tendo como foco principal a Constituição Federal de 1988, pelos motivos citados na introdução deste texto; depois, passei à Lei de Diretrizes e Bases, que insere a educação infantil como primeira etapa da educação nacional e, por fim, os Planos Nacionais de 2001 e 2014, por sua natureza organizativa das políticas nacionais para a educação infantil.

Definida as legislações a serem esmiuçadas, comecei a construir a bibliografia a ser lida para aprofundar as questões das políticas públicas para a primeira infância, as relações público-privado e a criação e implementação do Programa Naves-Mãe.

Iniciei a pesquisa pelo diretório do GPPE, tendo como busca pesquisas que tinham como tema a educação infantil e, nesse tocante, descobri três pesquisas de doutorado, uma de mestrado e um Trabalho de Conclusão de Curso. De todos os trabalhos desenvolvidos pelos (as) estudantes do grupo, o que mais se aproximava da minha pesquisa era a pesquisa de doutorado de Elaine Regina Cassan, intitulada A política de educação infantil no município de

Campinas-SP: um diálogo com as fontes documentais. Nesse trabalho foi

realizada uma análise dos documentos que regem a educação infantil entre os anos de 1993 a 2008 no município de Campinas, dos quais me interessavam os legislados a partir de 2005, ano de implementação do Programa Naves-Mãe.

A seguir busquei ampliar o campo da pesquisa. Nessa ocasião realizei um levantamento bibliográfico sobre o Programa Naves-Mãe, criado em 2005 durante o governo do Partido Democrático Trabalhista (PDT), como forma de zerar o déficit de vagas na educação infantil em Campinas. Isso aconteceu depois que o Ministério Público (MP) da cidade acatou uma ação Vara da

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Infância e Juventude de Campinas, que reivindicava o aumento da oferta de vagas para as crianças da educação infantil do município - na época havia uma defasagem de mais de 15 mil crianças, todas em lista de espera.

Pesquisei em diversos bancos de dados obtendo um número até que considerável de estudos e pesquisas relacionados ao tema, mas a maioria com abordagens descritivas muito parecidas do programa, conforme relato no quadro em anexo (Ver ―Anexo 2‖ – Quadro 1). Tal fato pode encontrar ressonância na existência de uma única bibliografia sobre o tema, escrita pelo ex-prefeito Dr. Hélio de Oliveira Santos (2010), em que apresenta as concepções do programa, só que do ponto de vista do empreendedor. Reuni muitas reportagens sobre o tema, sendo a grande maioria localizada no site da Prefeitura Municipal de Campinas e alguns nos jornais locais.

Em síntese, eu me perguntava o que expunham no sentido temático todas aquelas pesquisas, ensaios, opúsculos e páginas de internet. Na verdade, tratava-se dos seguintes temas: formação de professores (as); políticas públicas de escolarização da educação infantil; análise do programa e um estudo comparativo entre as matrículas apenas pública para as crianças da educação infantil campineiras versus matrículas por entidades conveniadas. Quanto aos artigos em periódicos e anais, esses se dividem entre apresentações de pesquisas em andamento (muitas das quais culminaram nos trabalhos acadêmicos apresentados); discussões direcionadas às parcerias público-privado, aos programas de financiamento, às pesquisas de cunho psicológico, todas analisando os impactos de programas públicos voltados para a saúde, educação e assistência na vida cotidiana dos trabalhadores e das trabalhadoras campineiros (as).

Para esta pesquisa, usarei alguns (algumas) desses (as) autores (as) no intuito de apresentar o Programa Naves-Mãe, indo além do apresentado no livro de Santos (2010), inclusive para as análises que farei sobre o que observei em campo, a fim de contribuir com as reflexões elaboradas sobre o que vi e vivenciei durante a pesquisa. Baseio-me também um livro de Ramos (2010), que conta do processo de implementação da educação infantil no município, das creches assistencialistas ao Programa Naves-Mãe. Essa publicação é o resultado da tese de doutorado da autora e que foi lançado juntamente com o livro do ex-prefeito, no Congresso Pedagogia dos Sentidos

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(2011). Esta publicação e mais 2 outras pesquisas de profissionais da educação de Campinas, tiveram os custos de editoração pagos pela Prefeitura Municipal de Campinas (PMC) especialmente para este congresso e foram distribuídos gratuitamente aos participantes.

Os estudos em políticas públicas para a primeira infância no Brasil é um campo recente, em que as pesquisas de maior envergadura começam a surgir a partir da década de 1970, quando se inicia o processo de abertura política e as lutas dos movimentos sociais e feministas por creches para as mães trabalhadoras.

Assim, dividi as bibliografias pesquisadas em três linhas de discussão e pesquisa: documentais, através das legislações; pesquisas bibliográficas desenvolvidas em relação à parceria público-privado, sociologia da infância, o Programa Naves-Mãe e a garantia da educação infantil enquanto direito.

Além da pesquisa documental e bibliográfica, realizei também uma pesquisa de campo e construí, a partir daí, uma pesquisa de observação, nos termos que Maria Isaura Pereira de Queiroz define essa metodologia:

[Trata-se de] uma categoria da pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa aprofundadamente. Esta definição determina suas características que são dadas por duas circunstâncias, principalmente. Por um lado, a natureza e abrangência da unidade [...] Em segundo lugar, também a complexidade do estudo está determinada pelos suportes teóricos que servem de orientação em seu trabalho de investigador (apud TRIVIÑOS, 1987, pp. 133-134 –

interpolação por minha conta).

Nesse contexto, elaborei meu plano de observação do campo, tendo como foco a observação de algumas categorias presentes no desenvolvimento do trabalho na educação infantil, tais como: espaço físico; formação inicial e continuada; concepções de educação e currículo entre outros, que aliada a entrevistas semiestruturadas, possibilitaram a construção de uma análise do processo de implementação da política no município e seu alcance no cotidiano das instituições.

A fim de melhor localizar o leitor, apresentarei um resumo de minha movimentação nos Centros de Educação Infantil pesquisados, bem como alguns aspectos técnicos da pesquisa de campo, que serão melhor aprofundados no capítulo I.

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Então, resumindo: quando iniciei a pesquisa de mestrado delimitei minha metodologia em uma pesquisa de campo de observação, dentro da análise qualitativa. Minha intenção era pesquisar quatro naves, uma em cada Núcleo de Educação Descentralizado (NAED), que contém o programa. Porém, devido ao tempo de desenvolvimento de uma pesquisa de mestrado ser dividido entre disciplinas e pesquisas, aliado ao fato de exercer trabalho remunerado concomitantemente aos estudos e a escrita do texto, a pesquisa se limitou as duas naves.

Devo dizer que encontrei dificuldades para entrar nas instituições, sob diferentes alegações: algumas diretoras não atendiam aos meus telefonemas, depois que sabiam o motivo do meu contato; outras atendiam, eram muito educadas, mas não marcavam uma data de visita, alegando ter outros compromissos agendados. Penso que o que ocorreu pode estar relacionado à preservação dos trabalhos nas naves, levando às diretoras a preferirem salvaguardar-se a permitir a minha entrada em campo. Não apenas isso: existe uma atmosfera de precariedade que os diretores tentam encobrir ou se envergonham de existir, conforme presenciei em um encontro informal dentro de um evento sobre gestores, em que a colega se intimidava em se apresentar como uma diretora de Nave-Mãe, tendo em vista que na ocasião estavam reunidos todos os gestores efetivos da rede pública de Campinas.

O mesmo aconteceu com as equipes pedagógicas dos NAEDs, que não concederam entrevistas ou qualquer outro tipo de dados mais relevantes. Para este estudo consegui entrevistar apenas três, das dezoito supervisoras que atuam com Naves-Mãe de dois NAEDs e que atendem naves de diferentes ONGs. As conversas foram muito produtivas para o entendimento da ação de acompanhamento do trabalho desenvolvido nas instituições, mas entrar em contato com mais supervisoras (es) poderia ter enriquecido ainda mais o trabalho e minhas conclusões.

Quanto às Coordenadoras Pedagógicas (CPs), durante a nova gestão, essas foram transferidas para o Centro de Formação, Tecnologia e Pesquisa Educacional - CEFORTEPE ou para a Coordenadoria de Educação Básica (CEB). Apartadas das Naves, não foi possível a realização de entrevistas com estas funcionárias que outrora acompanhavam o gerenciamento e o trabalho pedagógico nas unidades. Devo dizer que o afastamento dessas profissionais

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coincidiu com a aproximação da Secretaria Municipal de Educação (SME) ao Programa.

O mesmo posso dizer em relação à CEB, na gestão anterior consegui entrevistar funcionárias (os) desta coordenação, mas na atual nenhuma das pessoas que busquei contato abriram-se a uma conversa. Em todas as abordagens foram gentis e educadas (os) ao me atenderem, mas não marcavam a data de retorno para conversa, consequentemente, desisti.

Como já havia entrevistado as coordenadoras da CEB durante o governo do PDT e que estavam presentes na implementação do programa, obtive muitos dados e informações relevantes para esta pesquisa.

Como vemos, a despeito dos desencontros, muitos encontros aconteceram durante minha pesquisa de campo, que foi realizada com base em entrevistas semiestruturadas com coordenadoras da CEB, professoras, monitoras, diretoras e vice-diretora, orientadoras pedagógicas e mães das crianças que frequentavam as naves. Essas últimas em número bastante reduzido, pois as falas eram muito próximas e se resumem em: agradecimento ao trabalho realizado, pois julgam ser muito bom; felicidade em relação à criança estar matriculada, receber boa alimentação e uniforme. Conclusão: nenhuma mãe apresentou crítica ao programa.

A impressão que tenho nas falas das famílias é que veem o trabalho educacional nas naves como uma benesse da prefeitura concedida a elas. Entendo que dada a escassez de vagas em creches e pré-escolas municipais, conseguir um lugar para seus filhos e filhas serem cuidados (as) e minimamente educados (as), enquanto trabalham, é visto com um privilégio. O que temos é um contingente de famílias satisfeitas, sentimento que as impede de localizar as falhas e problemas intrincados nesse Programa. Esta hipótese merece ser melhor explorada em pesquisa futura.

Escolhi entrevistas semiestruturadas por compreender que estas, segundo a definição de Triviños (1987) e Boni e Quaresma (2005) possibilitam uma melhor relação entre entrevistado e entrevistador, possibilitando um processo de retroalimentação, pois o entrevistado fica mais à vontade para expressar opiniões e apresentar fatos, seguindo uma linha determinada pelo entrevistador, que precisa estar muito atento à entrevista, direcionando-a, mas intervindo o mínimo possível, permitindo que o entrevistado possa se expressar

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de forma mais livre possível sobre o tema que se quer abordar (Ver ―Anexo 2‖ – Quadro 2.

Dessa forma, realizei a pesquisa de campo em dois Centros de Educação Infantil Naves-Mãe: CEI 1 - Região do Ouro Verde, lotado no NAED Sudoeste e em outra Nave-Mãe; CEI 2 - Região Noroeste - atende crianças de 0 a 6 anos de bairros sem grandes investimentos em infraestruturas, como asfalto, rede de esgoto ou sinalização das ruas.

Nos capítulos a seguir apresento os resultados desta pesquisa e os caminhos trilhados para responder às questões apresentadas no início deste trabalho: I. Os direitos das crianças de 0 a 6 anos a uma educação infantil pública, laica e de qualidade está sendo respeitado dentro destes novos paradigmas criados no município? II. Qual o impacto do espaço físico e territorial na organização das Naves-Mãe? III. Quanto às matrículas, qual é a demanda (e quem demanda)? VI. Como estão organizados os/as profissionais que atuam nos Centros de Educação Infantil (CEIs) Naves-Mãe? V. As crianças na proposta das Naves e na legislação? VI. Pensando em termos de leis, como os direitos das crianças são assegurados?

Nesses termos, retomo Triviños (1987), quando comenta que uma das características da pesquisa qualitativa é possibilitar que todas as etapas do trabalho sejam desenvolvidas ao mesmo tempo e que no desenvolvimento da mesma seja possível formular novas questões, reelaborar as hipóteses, redefinindo o projeto inicial a fim de chegar a um melhor resultado sobre análise do objeto pesquisado.

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CAPÍTULO I

SÃO DOIS PRA LÁ E DOIS PRÁ CÁ: a educação infantil em

Campinas

O Programa Naves-Mãe inscreve-se no debate das parcerias público-privadas10 no município de Campinas e nas implicações dessa política pública para a educação das crianças de 0 a 6 anos.11 De cunho neoliberal, essa política orienta-se pelo princípio do ―mais por menos‖ destinado às crianças pequenas campineiras e às suas famílias. Almeja-se, por um lado, atender determinada demanda reprimida, isto é, as crianças fora das instituições de educação infantil e cujas famílias pleiteiam uma vaga.

Já, em relação ao trabalho pedagógico realizado nas unidades, esse não abdica, por outro lado, da qualidade que se espera para essa etapa da educação básica, a despeito das condições materiais, econômicas, formativas que tal programa enseja, conforme pretende-se demonstrar.

Toda escolha traz em seu bojo um porque, uma razão de ser. A razão pela qual optei por apresentar o tema de pesquisa no primeiro capítulo visa apresentar esse objeto, abrindo lacunas e possibilidades de discussões que serão realizadas nos dois capítulos subsequentes ao abordar as relações público-privado e as políticas públicas nacionais que fazem coro e endossam esse tipo de arranjo político ofertado à população campineira.

Dessa forma, a organização deste capítulo parte de uma caracterização do município, que visa apresentar o lugar de onde estou falando, situando a discussão dentro de um espaço físico determinado, com suas especificidades e complexidades. A seguir apresento um histórico da educação infantil no município, situando as Naves-Mãe dentro do contexto desta etapa da educação e finalizo com minha pesquisa de campo e as conclusões que cheguei a partir do que foi observado nas unidades. Isto posto, esclareço ao leitor que ao longo do capítulo vou apresentando questões e inquietações que foram surgindo ao

10 No capítulo 2 realizo um aprofundamento sobre o termo parceria público-privado. 11

Usarei nesta pesquisa a idade de 0 a 6 anos de idade, pois no município pesquisado o corte na matrícula de entrada no 1º ano do ensino fundamental estipula 6 anos completos até 31/03. Desta forma, as crianças que completam 6 anos após esta data permanecem na educação infantil.

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longo da pesquisa e que buscarei responde-las nos capítulos dois e três à luz das teorias e legislações.

Partindo dos dados apresentados pelo Diagnóstico - Plano Municipal de

Educação, de março de 2015, a cidade de Campinas, situada no Estado de

São Paulo, caracteriza-se por ser sede da Região Metropolitana de Campinas, com dezenove municípios, contando com população estimada de 1.154.617 habitantes, distribuídos em 797,91 km² de território. Seu Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) (2010) é de 0,805, ocupando o 2º lugar no ranking das regiões metropolitanas do Brasil (Ver ―Anexo 2‖ – Quadro 3), ficando atrás apenas de São Paulo; seu PIB per capita é de 38.929,69 reais. Ainda segundo os dados do documento, o Sistema Municipal de Educação (SME) foi criado através da Lei nº 12501/2006 e, em consonância com a Lei Orgânica do Município, tem por princípio a oferta de educação pública, gratuita e laica para crianças de 0 a 14 anos, e Educação de Jovens e Adultos (EJA), aos que não concluíram a sua educação na idade certa, tendo por definição promover a equidade nas condições de acesso e permanência das crianças e adolescentes desses seguimentos educacionais. A rede pública municipal possuía, em 2015, 305 instituições de ensino sendo 73 EMEIs; 68 CEMEIs, 22 Naves-Mãe; 44 instituições conveniadas; 45 no Ensino Fundamental/EJA e 04 de EJA apenas, cujo número de sujeitos matriculados nestas unidades encontra-se no quadro 4 abaixo, que para fins de comparação do quantitativo de sujeitos matriculados no Brasil, segue uma apresentação no quadro 5 em ―Anexo 2‖ ‖.

Quadro 4: Quantidade de instituições e matriculas existentes na Educação em Campinas12

NÍVEL DE ENSINO INSTITUIÇÕES MATRICULAS

EDUCAÇÃO INFANTIL13 CRECHES 155 14.235

PRÉ-ESCOLAS 45 9.456 ENSINO FUNDAMENTAL 45 18.318 EJA14 35 5.524 12 Fonte: Integre – abril 2015. 13

Os números referem-se à educação infantil nas EMEIs, CEMEIs e Naves-Mãe, consideradas pela SME como públicas.

14

As instituições de EJA são apenas 04, mas não disponho de dados sobre a quantidade de matrículas em cada unidade. Além dessas, existem mais 31 unidades de ensino fundamental

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A população residente no município com idade entre 0 a 6 anos é de 84.021 crianças, sendo que desse montante, 48.109 frequentam as creches e pré-escolas em instituições públicas e particulares. As Naves-Mãe estão entre as instituições públicas.

No cômputo total, nos centros de educação infantil públicos a Secretaria de Educação atende 23.691 crianças na faixa de 0 a 6 anos, sendo 14.235 crianças de 0 a 3 anos e 9.456 crianças de 4 a 5 anos.15 A educação inclusiva do município atende 272 crianças na educação infantil, contando também com 19 salas de recursos multifuncionais para a realização do trabalho pedagógico especializado às crianças portadoras de deficiências na rede.16 A SME fica responsável também por autorizar e supervisionar a educação privada no município.

Caberá a Secretaria Municipal de Educação, na forma da lei, elaborar normas para instalação, funcionamento e fiscalização das escolas de educação infantil, maternal, creches e internatos mantidos por particulares, obedecidas as normas gerais de educação nacional (CAMPINAS, 1990).

Para atender a esta população nos centros de educação infantil, a SME conta com o número de profissionais efetivos (as) registrados no ―Quadro 6‖. Tais números, embora pareçam expressivos, não contemplam a cobertura do atendimento em todas as creches e pré-escolas da cidade, sendo necessário que a SME chame os (as) concursados (as) em lista de espera com urgência para suprir a demanda.

Quadro 6 – Profissionais que atuam na Educação infantil em Campinas17

Número de professores/as efetivos 1016

Número de professores/as em função pública 06 Número de professores/as RJs (Reintegrados judicialmente e TJE Tributados e Julgados)

119

que também atendem alunos de EJA, concomitantemente ao atendimento do ensino fundamental.

15

Estes dados são de abril de 2015, e no segundo semestre do referido ano foram inauguradas mais 3 Naves-Mãe e os números foram alterados, mas ainda não há dados disponíveis para consulta pública.

16

É preciso deixar registrado que estas 272 crianças estão inclusas nos números gerais de matriculas na educação infantil. Mas como recebem recursos federais para atendimento especializado devido a suas deficiências, de acordo com o estabelecido na LDB/96, é preciso registrar os números relativos às políticas de inclusão no município.

17

Referências

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