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Técnicas projetivas gráficas em adolescentes gestantes: estudo compreensivo

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Academic year: 2017

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LORAINE SEIXAS FERREIRA

Técnicas Projetivas Gráficas em Adolescentes Gestantes: estudo

compreensivo

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LORAINE SEIXAS FERREIRA

Técnicas Projetivas Gráficas em Adolescentes Gestantes: estudo

compreensivo

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Psicologia Clínica, do Instituto de Psicologia Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre

Área de concentração: Psicologia Clínica

Orientadora: Profª Associada Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Catalogação na publicação Biblioteca Dante Moreira Leite

Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

Ferreira, Loraine Seixas.

Técnicas projetivas gráficas em adolescentes gestantes: estudo compreensivo / Loraine Seixas Ferreira; orientadora Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo. -- São Paulo, 2015.

125 f.

Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Clínica) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

1. Gravidez na adolescência 2. Técnicas projetivas 3. Teste da pessoa na chuva 4. Desenho de figuras humanas I. Título.

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Loraine Seixas FERREIRA

Técnicas Projetivas Gráficas em Adolescentes Gestantes: estudo compreensivo

Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de mestre em Psicologia Clínica

Aprovado em:

Banca Examinadora

Profª Drª _______________________________ Instituição: ______________________

Julgamento:____________________________ Assinatura:______________________

Profª Drª _______________________________ Instituição: ______________________

Julgamento:____________________________ Assinatura:______________________

Profª Drª _______________________________ Instituição: ______________________

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

À Prof. Dra. Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo pela orientação ao trabalho, pela dedicação, paciência e sensibilidade nos cuidados com a dissertação, por todo conhecimento proporcionado e pelo apoio sempre presente. Manifesto minha mais sincera gratidão pelo acolhimento, incentivo e contribuições para meu crescimento profissional psicóloga, docente e pesquisadora.

À Prof. Dra. Dora Mariela Salcedo Barrientos pela parceira na pesquisa e pela alegria contagiante.

À Prof. Dra. Paula Orchiucci Miura pela também parceria na pesquisa, pela amizade, apoio, disponibilidade e incentivo.

Aos Profs. Dr. Lucillena Vagostello e Antônio Augusto Pinto Júnior pelas relevantes contribuições, sugestões e críticas no exame de qualificação.

À banca examinadora, pela aceitação do convite, dedicada leitura e discussão do trabalho apresentado.

Às adolescentes participantes do estudo e às instituições onde a pesquisa ocorreu.

Ao Cristiano pela realização do tratamento estatístico.

À Fundação CAPES pela concessão da bolsa de mestrado.

À minha família, toda minha gratidão pelo cuidado, preocupação e apoio em toda minha vida, principalmente minha mãe, por nunca desistir dos meus sonhos, e à minha tia Ana Maria Seixas, por me mostrar a profissão de pesquisadora.

Ao Eduardo, pelo companheirismo, amor, amizade e por compartilhar comigo essa realização com paciência, apoio e auxílio técnico.

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RESUMO

Loraine Seixas FERREIRA, Técnicas Projetivas Gráficas em Adolescentes Gestantes: estudo compreensivo. 2015. 127f. Dissertação (Mestrado). Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

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de prevenção e intervenção junto a essas adolescentes e às suas famílias.

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ABSTRACT

Loraine Seixas FERREIRA, Graphic and Thematic Projective Techniques in Pregnant Adolescents: comprehensive study. 2015. 127f. Dissertation (Masters). Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – DFH, caso I... 123

Figura 2 – Desenho da Pessoa na Chuva, caso I... 123

Figura 3 – DFH, caso II... 124

Figura 4 – Desenho da Pessoa na Chuva, caso II... 124

Figura 5 – DFH, caso III... 125

Figura 6 – Desenho da Pessoa na Chuva, caso III... 125

Figura 7 – DFH, caso IV... 126

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LISTA DE TABELAS

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ... iv

AGRADECIMENTOS ... v

RESUMO ... vi

ABSTRACT ... viii

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ... x

LISTA DE TABELAS ... xi

APRESENTAÇÃO ... 12

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO ... 17

1.1 Contextualizando a Adolescência ... 17

1.2 A Gestação na Adolescência ... 28

1.3 Técnicas Expressivas Gráficas ... 41

1.3.1 Desenho da Figura Humana (DFH) ... 47

1.3.2 Teste do Desenho da Pessoa na Chuva ... 53

CAPÍTULO II: JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS ... 60

CAPÍTULO III: ASPECTOS METODOLÓGICOS ... 62

3.1 Tipo de Estudo ... 62

3.2 Participantes ... 62

3.3 Instrumentos ... 63

3.3.1 Entrevista ... 64

3.3.2 Técnicas Expressivas Gráficas ... 65

3.4 Procedimentos ... 65

3.4.1 Contado com as participantes e responsáveis ... 65

3.4.2 Técnicas Projetivas Gráficas ... 68

3.4.2.1 Desenho da Figura Humana (DFH) ... 69

3.4.2.2 Teste do Desenho da Pessoa Na Chuva ... 70

3.5 Análise dos Resultados ... 70

3.6 Aspectos Éticos ... 71

CAPÍTULO IV: RESULTADOS ... 73

4.1 Comparação entre frequências das técnicas utilizadas ... 73

4.1.1 Resultados para os Grupos Controle e Clínico – DFH ... 73

4.1.2 Resultados para os Grupos Controle e Clínico – Desenho da Pessoa na Chuva 75 4.1.3 Dados das entrevistas ... 77

4.2 Ilustrações Clínicas ... 80

CAPÍTULO V: DISCUSSÃO DOS DADOS ... 89

CAPÍTULO VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 97

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APRESENTAÇÃO

O tema da gravidez na adolescência juntamente com técnicas expressivas gráficas são dois assuntos de grande interesse desde a época da graduação. Meu interesse na pesquisa com a maternidade adolescente surgiu no decorrer da minha trajetória, iniciando-se na graduação. Durante esse período fiz estágio em um hospital público da cidade de Assis/SP, onde havia um trabalho médico e psicológico voltado para as gestantes de alto risco, as quais eram em sua maioria adolescentes, mas também gestantes com questões de saúde que poderiam interferir ou serem agravadas pela gravidez.

Esse hospital recebe gestantes de várias cidades da região e antes da primeira consulta elas são recebidas pela psicóloga responsável, em um grupo de acolhimento, sendo explicado questões sobre as consultas pré-natal, serviços oferecidos pelo hospital e as dependências da instituição. O estágio realizado durante a graduação visava o atendimento da clínica médico (todos os tipos de pacientes) e nesse setor da gestação de alto risco, no qual focava no atendimento de adolescentes gestantes. Nesse grupo, realizei um encontro com uma dessas adolescentes, acompanhada de sua mãe, e durante a conversa ela não parecia entender o que estava acontecendo com ela e com seu corpo. A adolescente tinha um discurso vago, contraditório, carregado de culpa, parecia sentir a necessidade de demonstrar grande inocência (para isso negava sua responsabilidade no ato sexual) e muitas vezes recorreu à mãe para que esta pudesse contar a história da filha. A partir dessa convivência e dos relatos trazidos em supervisão pela equipe que trabalhavam com essas gestantes, comecei a me interessar pelo tema da gravidez na adolescência, visto a relevância que esse fator tem na vida emocional e social dessas meninas.

Já formada, em 2011, fui convidada para trabalhar na Secretaria de Saúdo do Estado do Tocantins, na coordenação de Doenças e Agravos Não Transmissíveis (DANT), na qual era uma das técnicas em saúde responsáveis pela área de Violência e Acidentes do Estado, realizando levantamento de índice de violência do TO, além de ministrar capacitações para o atendimento humanizados dessas pessoas em situação de violência. Era impossível não ficar apreensiva com o tanto de notificações que chegavam todos os dias através das ligações de representantes de saúde pedindo ajuda e com as histórias contadas nas pequenas cidades do Estado durante as capacitações.

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aos familiares, dados de uma realidade que até então parecia tão distante e surreal para mim. Com o tempo, pude ir notando como esses fatores iam “moldando” a cultura de algumas cidades menores, nas quais alguns responsáveis pela saúde nem consideravam mais a violência, não conseguindo mais enxergá-la, o que demonstra como as marcas da violência estão mais profundas na história e que essas marcas deixam cicatrizes não só na vítima, mas também em toda a sociedade, como é o caso de adolescentes gestantes que são ameaçadas de serem expulsas de casa ou que os pais se negam a conversarem com elas após o anuncio da gravidez, sendo essa uma violência implícita.

A preocupação era voltada a todas as etapas da vida, mais principalmente às crianças e adolescentes, que ainda estão desenvolvendo sua identidade. A vivência que tive durante esse período reforçou, cada vez mais, meu interesse em estudar a adolescência, por ser uma etapa crucial no desenvolvimento do indivíduo e com diversos desafios para os adolescentes, como a elaboração dos lutos pela perda da condição infantil e a constituição da identidade, e que pode ser influenciada e até afetada de diversas maneiras, por exemplo, com a gravidez na adolescência e tudo o que está ligado a ela (as violências implícitas já mencionadas, preconceito, exclusão, responsabilidades, abandono escolar, entre outras situações), e como essa vida, já tão tumultuada com as próprias questões da adolescência, poderia gerar e cuidar e outra vida.

Em 2012 fui convidada pela Profª Drª Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo e pela Profª Drª Dora Mariela Salcedo Barrientos a fazer parte da pesquisa “Estudo da violência doméstica contra adolescentes grávidas atendidas no Hospital Universitário de São Paulo: bases para intervenção” (Barrientos, 2013)1. Essa pesquisa agregava a meu interesse de

estudo com adolescentes gestantes, permitindo que iniciasse os trabalhos para a dissertação do mestrado.

Dessa forma, esse trabalho se propõe a estudar questões relacionadas à adolescência em uma situação que pode ser agravante na forma de lidar com todas as transformações na qual o adolescente já passa normalmente: a gravidez precoce. Assim, visa compreender questões relacionadas à personalidade e aos aspectos emocionais das adolescentes gestantes que frequentaram um Hospital Escola de São Paulo/SP, comparando-as a outro grupo de adolescentes não gestantes, visando investigar a qualidade das relações e os mecanismos de defesa dos dois grupos pesquisados frente a uma situação de tensão ou hostilidade do meio. Essa dissertação de mestrado também teve como objetivo comprovação da validade do Teste

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do Desenho da Pessoa na Chuva nos grupos estudados.

A relevância da inclusão de um segundo grupo controle, utilizando-se material de adolescentes não grávidas e sem histórico de violência, fez-se necessário ao percebermos algumas características do Grupo Clínico, principalmente no que se refere aos mecanismos de defesas utilizados. Com a inclusão desse grupo, pode-se trabalhar com mais fidedignidade os resultados obtidos.

Visando um mediador que pudesse nos apresentar característica do mundo psíquico dessas adolescentes, encontramos no Teste da Pessoa na Chuva (Querol e Paz, 2005), empregada no contexto da violência doméstica por Barilari, Agosta e Colombo (2000) e estudada por Leila Cury Tardivo no Brasil, (Tardivo, 2012)2, uma forma dessas jovens demonstrarem seus mecanismos de defesas de forma mais sutil e ao mesmo tempo, real. Assim, esse trabalho visa apresentar a técnica utilizada, ainda pouco conhecida no Brasil, e verificar suas contribuições como o estudo da gravidez na adolescência. Para que essas verificações possam ser mais legítimas, utilizamos também uma técnica já conhecida pela grande maioria dos psicólogos, que é o Desenho da Figura Humana, tendo como parâmetros de análise dos dados de Karen Machover (1949), grandes contribuições de Hammer (1981) e de uma autora nacional, também de renome, Odete Van Kolck (1968). Assim pretendemos com essa dissertação, buscar compreender os traços da personalidade e aspectos psicológicos dessas adolescentes, como também difundir as contribuições do instrumento no estudo da personalidade também desse público.

O trabalho se divide em seis capítulos, contendo conteúdos teóricos, dados atualizados e revisão bibliográfica de artigos sobre o tema. O primeiro se dedica à fundamentação teórica e a dados relacionados ao tema que darão fundamento ao estudo, sendo composto por três partes. A primeira se dedica aos aspectos teóricos acerca da adolescência, utilizando-se como referenciais teóricos a psicanálise, com as teorias e pesquisas de autores conhecidos por se trabalhar com essa faixa etária, principalmente Aberastury (1983), Knobel (1981) e Tardivo (2007). A segunda parte do primeiro capítulo tratará de questões relacionadas à gestação na adolescência, trabalhando suas estatísticas no Brasil e no Estado de São Paulo, visando também estudar os aspectos psicanalíticos dessa circunstância, seus “motivos” e consequências para a vida da adolescente mãe e de seu filho.

Na terceira parte serão discutidas técnicas expressivas e expressivas gráficas no Psicodiagnóstico, na clínica e na pesquisa, utilizando-se para isso autores especialistas no

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assunto, como Machover (1949), Hammer (1981), Van Kolck (1968) e Tardivo (2007). Essa parte foi divida em duas, para que se pudesse trabalhar melhor cada uma das técnicas utilizadas. Na primeira parte há a descrição do Desenho da Figura Humana, contando um pouco de seu histórico, contribuições no estudo da personalidade e utilização em pesquisas, e na segunda parte é realizado o mesmo processo com o Teste do Desenho da Pessoa na Chuva.

O segundo capítulo traz a justificativa e objetivos do estudo, o qual se justifica pela crescente preocupação com relação ao tema abordado: gestação na adolescência, tendo como objetivo identificar como esse fator pode interferir no desenvolvimento dessas adolescentes. O terceiro capítulo é dedicado aos aspectos metodológicos do trabalho, sendo ele um estudo quantitativo, mas com análise de ilustrações clínicas, dessa forma conseguindo unir os dados estatísticos com a teoria psicanalítica, reforçando a validade dos testes. Nesse capítulo é descrito a população da pesquisa, os procedimentos utilizados e os instrumentos, apresentando uma descrição mais detalhada da análise de cada um dos instrumentos analisados.

No quarto capítulo serão apresentados e discutidos os resultados da pesquisa. É apresentada a análise estatística do material produzido pelos grupos participantes do estudo, os quais serão comparados entre si. Visando uma melhor exemplificação e compreensão do estudo, nesse capítulo são inseridos alguns casos para ilustração clínica. A inclusão dessa segunda parte exemplifica os dados encontrados na análise estatística, adicionando conteúdo à análise quantitativa, além de ser uma integração entre as facetas profissional psicóloga e pesquisadora. Em seguida, no quinto capítulo, temos a análise e discussão dos dados, visando analisar as informações obtidas de forma estatística com o referencial teórico da psicanálise, como forma de entender a prevalência e divergência da forma de expressão das adolescentes de cada grupo, identificando traços de sua personalidade e mecanismos de defesas, além de detectar se as técnicas utilizadas são aptas também para o grupo de adolescentes gestantes, difundindo a técnica do Desenho da Pessoa na Chuva também para esse público. Ao término, no sexto e último capítulo, encontram-se as considerações do trabalho, com as reflexões dos dados encontrados no estudo. Ao final do trabalho encontram-se as referências bibliográficas utilizadas para a elaboração desta dissertação e anexos.

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CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

A presente dissertação decorreu do projeto “Estudo da Violência Doméstica contra

Adolescentes Grávidas Atendidas no Hospital Universitário de São Paulo: Bases para

Intervenção” (BARRIENTOS, 2013) e, ao mesmo tempo, traz uma ampliação com a inclusão de instrumentos psicológicos, os quais complementam e pretendem trazer uma visão que, baseada no saber psicológico, contribui para o conhecimento e a compreensão do que ocorre com adolescentes que vivenciam a gravidez.

Para sua elaboração, utilizou-se de um estudo com adolescentes gestantes, visando conceituar a adolescência e a gestação nessa fase da vida da mulher, evocando aspectos inovadores no enfoque ao estudo da personalidade e questões emocionais dessas mesmas, utilizando-se para isso o Teste do Desenho da Pessoa na Chuva e Desenho da Figura Humana, apresentados nesse primeiro capítulo.

1.1 Contextualizando a Adolescência

Atualmente se considera a adolescência como uma etapa importante no desenvolvimento do indivíduo, tanto no que diz respeito ao desenvolvimento fisiológico (crescimento físico, desenvolvimento da musculatura e força, e amadurecimento sexual), como também no desenvolvimento psíquico, por exemplo, na formação da identidade. Porém nem sempre foi assim. Da mesma forma que a infância, o conceito de adolescência também mudou ao longo dos séculos, sendo influenciados por fatores culturais e sociais de cada época.

Nos dias de hoje a adolescência é vista como uma condição no processo de crescimento, período no qual se concentra grandes e importantes mudanças. Segundo Dolto (1990) essa é uma etapa crucial para o jovem, da mesma forma que os primeiros quinze dias são para o recém-nascido, pois as mudanças nos primeiros dias do nascimento permitirão o feto se tornar uma criança. Da mesma forma as mutações da adolescência são importantes, mas é uma mudança sobre a qual o adolescente não consegue falar, período carregado de ansiedades e indulgências.

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possibilitada através da dissociação da imaginação da realidade (DOLTO, 1990). A adolescência é uma condição do processo do crescimento, vista por muitos autores como um período de transição entre a infância e a idade adulta, por ser um período compreendido entre a puberdade e o desenvolvimento completo do corpo. Neto et al (2007) também a vê dessa forma e acrescenta que nesta fase o adolescente tenta

“matar” uma criança que existe dentro de si, para que a partir desta e das

novas vivências, do aprendizado, dos processos diversos que vivenciam, sendo no âmbito social, biológico, psicológico e espiritual, como no anátomo-fisiológico, possa “nascer” um adulto socialmente aceito,

espiritualmente equilibrado e psicologicamente ajustado (2007, p. 280).

Tardivo (2007) ressalta que o conceito de adolescência não é o mesmo em todas as sociedades e culturas, menos ainda em todas as épocas. Escreve que para a psicanálise a puberdade vem após a fase de latência e que alguns autores consideram a latência em equilíbrio entre as chamadas instâncias psíquicas (ego e superego) e outros se questionam se há esse equilíbrio no período anterior a puberdade, pois na latência ocorre um rearranjo da personalidade, se preparando para a adolescência.

Freud (1905/2006) foi quem postulou esse conceito e já no início do século passado dizia que na puberdade se introduz mudanças que levam à vida sexual infantil a se configurar na vida sexual definitiva, a qual é determinada pelas manifestações infantis da sexualidade. O criador da psicanálise postulou que até a puberdade a pulsão sexual era predominantemente auto-erótica, e com a chegada nessa etapa da vida ela encontra o objeto sexual, o que é possível depois de superado o período de latência. Enquanto auto-erótica, as pulsões e zonas erógenas eram distintas e independentes uma das outras, com o surgimento do novo alvo sexual, todas as pulsões parciais se conjugam e as zonas erógenas agora ficam subordinadas ao primado da zona genital. Segundo o teórico, a consumação inicial da escolha do objeto e da vida sexual do jovem ainda em processo de amadurecimento se dá por meio da fantasia, representações não destinadas a concretizar-se.

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que esse período é um momento crucial na vida do homem, uma etapa decisiva no processo de desprendimento, o qual passa por três momentos fundamentais: o nascimento; final do primeiro ano com a eclosão da genitália, dentição, linguagem, aprender a andar e posição do pé; e o terceiro momento, na adolescência (ABERASTURY, 1983). Esse terceiro momento, é uma fase de conflitos, os quais serão mais intensos naqueles que apresentam pontos de fixação e características regressivas durante a infância e quanto maiores tiverem sido esses pontos de fixação e características regressivas, maior a probabilidade dos conflitos serem maiores (TARDIVO, 2007).

Winnicott (1961/2011) traz a noção da adolescência como um período depressivo, no qual o adolescente traz essas questões das características regressivas, voltando a um estado mais narcísico e, assim, regride à fase de se diferenciar do outro, do “não-Eu”, para que consiga continuar como alguém com um “Eu” próprio, independente. Segundo o autor, essas características relaciona-se com o modo como o adolescente passou pelo Complexo de Édipo, além de considerar o ambiente, as fixações pré-edípicas, a época das dependências e outras questões da infância e que ainda estão presentes no desenvolvimento do adolescente. Dolto (1989) complementa essa relação, exemplificando que a puberdade e a menarca demonstram a vitalidade do sexo feminino, trazendo projetos cada vez menos fantasmáticos de libertação familiar lícita, o que é possível com o desfecho satisfatório do Complexo de Édipo, revisitado na adolescência e importante na organização da vida e saúde mental dos indivíduos.

Rolla (1983 in ABERASTURY, 1983) concorda com os momentos cruciais na vida do jovem e considera a adolescência uma crise vital, que tem importância de superar a crise do nascimento e outras ligadas às situações biológicas. Machover (HAMMER, 1981) acrescenta que essa passagem para a maturidade envolve mudanças constantes na estrutura do corpo da menina e também em seu funcionamento, e assim “novos papéis são tomados por empréstimo daqueles que a cercam e outros são combinados por uma fantasia excitada pela tensão e urgência constrangedoras geradas por seu mundo corporal em mudanças” (p.97), surgindo indecisões, inquietações, entusiasmos x desânimos repentinos, o que a autora chama de “psicose normal”.

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1 – uma busca da identidade e de um si mesmo claramente definidos; 2 –

uma marcada tendência grupal; 3 – a necessidade de fantasear (sic)

ativamente e de recorrer quase constantemente ao mecanismo de intelectualização, o que seria uma forma específica do processo do pensamento nessa idade da vida; 4- crises religiosas nas quais podem-se observar indivíduos que podem passar do ateísmo mais absoluto até o misticismo religioso mais severo; 5- deslocamento temporal com episódios de franca atemporalidade; 6 – uma evolução sexual do auto-erotismo para a genitalidade heterossexual; 7 – uma atitude social reivindicatória; 8 –

contradições sucessivas em todos os aspectos da conduta, que por sua vez estão guiadas por uma tendência à ação, a qual costuma substituir forma mais evoluídas do pensamento; 9 – uma luta constante por uma separação progressiva dos pais; 10 – flutuações constantes de humor e de estado de

ânimo (ABERASTURY, 1983, p.112).

Uma das colaboradoras do livro “Adolescência” de Aberastury e Knobel, (1981), Lea Revelis de Paz, com relação à “síndrome normal do adolescente” questiona que a intensa e efêmera afiliação ideológica ou religiosa pode trazer alguns caracteres patológicos e que o jeito de se vestir, o cigarro, álcool e outras drogas também expressam a adesão a um substituto com o qual se tenta recriar a situação perdida e a substituição da necessidade do vínculo simbiótico, assim a dependência às pessoas, grupos ou pares, ou a uma ideologia pode se relacionar ao temor da solidão e do abandono do objeto. Essa relação pode ser acrescentada como exposto por Dolto (1990) ao afirmar que essa é uma busca de complementaridade além de ser uma forma de obter segurança, equilíbrio e neutralidade, por exemplo, no que diz respeito aos defeitos, pois “os jovens preferem aparecer em público com seu semelhante desajeitado para superarem sua ansiedade, seu mal-estar” (p. 60). A vestimenta também se relaciona, pois por não serem iguais no íntimo, os adolescentes acabam por adotar “uniformes” como uma forma de “disfarce”, e assim conseguem esconder suas diferenças, esconder o íntimo.

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experiências do grupo como também as sexuais, podendo ser vivenciadas como experiências reais de trocas entre as diferentes individualidades. Porém, no que diz respeito às experiências sexuais, o autor traz que elas funcionam mais como uma descarga de impulsos sexuais do que um relacionamento interpessoal.

O primeiro amor é sentido pelo adolescente como a morte da infância, morte de uma época (DOLTO, 1990). Nesse período ocorre uma intensa distribuição pulsional, e “certa parte das pulsões orais passivas, anais passivas, fálicas passivas, com representação olfativa, visual, auditiva, tátil, rítmica, investem narcisistamente a região sexual vulvovaginal, o clitóris e os seios” (DOLTO, p. 80, 1989). Freud (1905/2006) coloca os olhos como os mais frequentemente estimulados no novo modo da organização das zonas erógenas e no papel da excitação sexual, o que acontece devido à situação de cortejar o objeto (qualidade em que vai denominar o objeto sexual de “beleza”), ligando a estimulação ao prazer e, consequentemente, ao aumento da excitação sexual ou a produção dela.

É a fase em que a menina passa a se preocupar com seu corpo, seja para impressionar outras meninas (e ser aceita nos grupos de meninas que se unem para enfrentarem as mães e seus substitutos) ou para atrair o olhar dos meninos, demonstrando um corpo investido como um corpo fálico (DOLTO, 1989). Segundo Dolto (1990), os atritos com os irmãos começam a desaparecer a partir do momento em que os jovens passam a ter relações afetivas e sexuais, mudando o foco de interesse do adolescente. A autora ainda afirma que, o sentimento de fracasso erótico, a ciência de um erro na escolha emocional e social é um ferimento narcísico, que acomete sentimentos de inferioridade reais a uma experiência corporal sentida como uma violação (DOLTO, 1989).

Outro ponto presente na adolescência e que é explicada por Knobel ao descrever a “síndrome normal da adolescência” (1981; ABERASTURY, 1983) é a onipotência do adolescente que muitas vezes são observadas em sintomas que se manifestam na negação e minimização de riscos (por exemplo, acha que não vai engravidar, ou que droga não o vicia) e também com relação à atemporalidade, característica do adolescente em que ele imagina o tempo e espaço diferente do que vivia o que explica o imediatismo dos adolescentes, e a consideração que o passado não existe e o futuro é agora (DOLTO, 1988/90; TARDIVO, 2007).

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amadurecimento e do crescimento nos primeiros anos de vida, a estabilidade dos afetos, a soma das gratificações e frustrações e a adaptação gradativa às exigências ambientais (ABERASTURY, 1983).

Aberastury (1983) reforça que esse desenvolvimento é um processo lento, no qual os princípios dos adolescentes ora são negados, ora afirmados, havendo uma luta entre as necessidades de independência (como descrito no item nove de Knobel, (ABERASTURY, 1983)) e, ao mesmo tempo uma nostalgia de reafirmação e dependência. A autora ainda afirma que a entrada no mundo dos adultos significará para o adolescente a perda definitiva da condição de criança e a inserção no mundo social do adulto, repleto de modificações internas, que é o que vai definindo a personalidade e ideologia do indivíduo.

Nesse sentido, a adolescência pode ser considerada como a fase evolutiva em que o indivíduo busca estabelecer sua identidade adulta, utilizando para isso as bases internalizadas dos objetos parentais e suas inter-relações nos primeiros anos de vida e a verificação constante do ambiente social, ou seja, a identidade será decorrente das experiências de autoconhecimento, vindas da integração do que foi internalizado tanto das relações infantis como das relações interpessoais que está vivenciando, considerando a concepção do que as outras pessoas, a família e os grupos têm a respeito dele (WINNICOTT, 1987/2002; Knobel, 1981). De acordo com o autor, conforme o adolescente vai perdendo sua condição de criança, ele vai perdendo também sua identidade infantil, indo à busca de uma nova identidade e para isso recebe estímulos de seu mundo interno que foi construído sobre as imagens parentais introjetadas, sendo que as imagens proporcionadas pelo mundo externo satisfatório e as boas imagens introjetadas é o que irá ajudar o adolescente a elaborar as crises internas pelas quais está passando. Essa nova identidade irá surgir quando o adolescente for capaz de aceitar simultaneamente os aspectos de criança e de adulto, aceitando assim a maneira flutuante de seu corpo, dessa forma, ao adquirir a identidade, aceita seu corpo (renunciando não só o corpo infantil, mas também a fantasia onipotente e a bissexualidade) e decide habitá-lo, usando-o de acordo com seu sexo, tendo que a conduta sexual não irá aparecer apenas no ato sexual em si, mas em todas as atividades (KNOBEL, 1981).

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interna, é o que vai decidindo a personalidade (ABERASTURY, 1983). A criança atinge a adolescência já com métodos possíveis de fazê-la compreender novos sentimentos, tolerar situações a apuro e rebater situações que tragam ansiedade intolerável (WINNICOTT, 1987/2002), mas essa busca pela identidade, a angustia de não saber quem é, pode levar o jovem a se identificar com figuras negativas ou iniciar a vida sexual precocemente, que será visto como uma possiblidade real de existir e adquirir essa identidade sexual e, assim, a entrada no mundo adulto e a identidade adulta. Nessa etapa também é importante o papel dos grupos e pares, pois o adolescente irá buscar neles a aprovação, segurança e relevância pessoal para conquistar o sentimento de ser ele próprio, passando a eles o papel que antes era da família que começa a ser afastada pelo adolescente na busca de sua individualização (ABERASTURY; KNOBEL, 1981).

Erikson (PEREIRA, 2005) define identidade como o reconhecimento que a pessoa é “única”, inserida em uma determinada sociedade, permitindo que o indivíduo seja capaz de dominar ativamente seu ambiente, demonstrar certa unidade da personalidade e que possa ser capaz de perceber o mundo e a si mesmo. Ele propõe oito estágios ao longo da vida para o desenvolvimento dessa unidade da personalidade, pois considera que estamos em constantes mudanças, sendo a adolescência o período crucial para a formação da identidade. Em cada estágio há um conflito predominante, originado de forças psicossociais, no qual é negociado o senso de identidade que irá influenciar diretamente nos estágios seguintes e deixando uma marca no indivíduo.

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papéis do conflito dessa fase, confusão esta que demonstra que ele ainda não descobriu a si próprio (ERIKSON, 1972; PEREIRA, 2005).

Todo esse processo de mudança, a aceitação do novo corpo, a busca de uma nova identidade, a necessidade da independência vai criando lutos no adolescente que precisam ser elaborados. A patologia da elaboração desse luto irá contribuir para relacionar a adolescência normal com a adolescência psicopática, como também processos psicóticos ou neuróticos (ABERASTURY; KNOBEL, 1981). Aberastury (ABERASTURY; KNOBEL, 1981 e ABERASTURY, 1983) descreve três tipos de lutos fundamentais na adolescência: luto pelo corpo infantil, luto pela identidade e pelo papel infantil e luto pelos pais da infância. O luto pelo corpo infantil leva aos fenômenos de intelectualização e acting-out físico, comum nos adolescente. Nesse momento o adolescente vive a perda do corpo infantil, mas com uma mente ainda na infância, contradição essa que produz um fenômeno de despersonalização que domina o pensamento do adolescente. À medida que o pensamento vai se desenvolvendo, o adolescente passa a negar a perda de seu corpo infantil (temporariamente) e “através de flutuações incessantes com a realidade na qual se relaciona com os pais, a família, o mundo real que o rodeia e do qual depende, elabora esta perda e começa a aceitar sua nova personalidade” (ABERASTURY; KNOBEL, p. 114, 1981).

O segundo luto, o luto pela identidade e papel infantis, leva a um manejo psicopático do afeto e do amor (ABERASTURY; KNOBEL, 1981). Nesse luto há uma grande confusão para o adolescente, pois não pode manter a dependência infantil e também ainda não pode assumir a independência adulta, fazendo com que sofra um fracasso de despersonalização e, assim o adolescente transfere para o grupo de iguais grande parte de seus atributos e, à família, a maior parte de suas obrigações e responsabilidades. O pensamento fica também dividido e assim é possível explicar a típica irresponsabilidade dos adolescentes, colocando no outro a função de verificar ou não o princípio da realidade. Nessa etapa, o pensamento começa a funcionar de acordo com as características do grupo com que se identifica, permitindo mais estabilidade apoio, e vai também aceitando as perdas do corpo e papel infantil, ao mesmo tempo em que muda a imagem de seus pais da infância para substituí-los pelos pais atuais, no terceiro processo de luto da adolescência (ABERASTURY; KNOBEL, 1981 e ABERASTURY, 1983).

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identidade, além das expectativas sociais que o acompanha, leva o adolescente a um processo de negação dessas mudanças e que ocorrem também e simultaneamente na figura e imagem dos pais e no vínculo com eles, tendo os pais também que elaborar essa perda da relação de submissão da infância. Os adolescentes podem conseguir passar por essa etapa num acordo continuo com os pais e sem manifestarem rebelião em casa, mas essa é própria da liberdade que os pais concedem ao filho, de forma que eles possam existir por seu próprio direito, o que pode ser difícil de ser aceito para os pais, pois, como escreve Winnicott (1971/1975) “poder -se-ia dizer: semeamos um bebê e colhemos uma explosão” (p.196).

Nesse momento, o adolescente se refugia em seu mundo, o que facilita a conexão com os objetos internos do processo de perda, permitindo a elaboração do luto e substituição dos mesmos. As figuras idealizadas dos pais vão sendo substituídas, permitindo o adolescente elaborar o luto, projetando em professores, ídolos, amigos, no diário, a imagem os pais idealizada.

Para Knobel (1981) a elaboração desses três lutos é que irá permitir ao adolescente “colocar seu corpo, papel e seus pais infantis no passado, aceitar a passagem do tempo e, dessa maneira, adquirir o conceito da morte como um processo natural e irreversível do desenvolvimento” (p.119). Porém esses processos de luto podem ser dificultados, necessitando de permanentes ensaios e provas de perda e recuperação, alternando a identidade adulta e infantil, nos casos em que o comportamento dos pais é de incompreensão e das flutuações das extremidades entre dependência e independência, tendo eles próprios dificuldades para elaborarem seus lutos (ABERASTURY, 1983). Indo de encontro com Aberastury, Tardivo (2007) afirma que é possível o adolescente se manifestar de forma harmoniosa quando há um ambiente no qual seja possível pensar, e não atuar.

Esse é um período marcado pela separação dos pais que, segundo Winnicott (1961/2011) têm uma relação fundamental no crescimento do adolescente, quando conseguem se interessar por ele e continuar existindo, possibilitando ao jovem a flutuação entre a independência rebelde e a dependência regressiva. Aberastury (ABERASTURY; KNOBEL, 1981) completa que, quando os pais são ausentes, ou mesmo aqueles muito permissivos, dando liberdade excessiva quando ainda se necessita da dependência, o adolescente pode se sentir ameaçado, ou seja, o desenvolvimento deve ser realizado não visando à diminuição do tempo da elaboração dos três lutos citados, nem a aceleração da aquisição da identidade adulta, ao mesmo tempo em que também não se deve prolongar em demasia esses fatores.

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herdada, é também questão de um entrelaçamento altamente complexo com o meio ambiente facilitador” (p.194). Ou seja, o adolescente ainda precisa dos pais, de um ambiente facilitador que o ajude a crescer, usando a família em grande escala caso essa esteja disponível, mas se ela não está disponível nem para o uso negativo (ser posta de lado) é preciso prover outras unidades sociais. Winnicott (1987/2002) denomina esse ambiente de ambiente suficientemente bom e afirma que o desenvolvimento emocional necessita de condições externas para se concretizar os potenciais de maturação, assim o desenvolvimento infantil só é possível em ambientes desse tipo, pois sem os cuidados maternos adequados, os estágios inicias do desenvolvimento podem não acontecer.

De acordo com Miura (2012), ao ter a possibilidade de vivenciar a ilusão de onipotência, o que só é possível com a existência de uma mãe e um ambiente suficientemente bons, o bebê consegue criar seu objeto subjetivo, possibilitando a constituição de seu mundo subjetivo. A autora ainda afirma que, se a mãe não é capaz de satisfazer as vontades da criança, colocando-a frente às suas necessidades, dará início à constituição do falso self defensivo e patológico no bebê, pois o ambiente se mostrou ameaçador e instável, tendo o falso self se constituindo na tentativa de defesa do verdadeiro self.

O ambiente desagradável, no qual os pais se manifestam de forma egoísta, com dificuldade para deixar o filho crescer, ou se ele se sente em um ambiente abandonado (ex. abandono real na criança, ausência real ou afetiva dos pais), trará prejuízo no desenvolvimento, e sendo o adolescente mais propício a drogadição e outros perigos (TARDIVO, 2007). Segundo Miura (2012) a criança que sofre privação não consegue experimentar um ambiente suficientemente bom e, assim, não consegue incorporar nem experiências e nem objetos bons, promovendo uma falha no amadurecimento e comprometendo sua capacidade para se resolver e sentir culpa. Ao longo do desenvolvimento, o indivíduo que sofreu essa falha poderá buscar vivenciar o que não pode ser vivido e protestam ao ambiente essa falta, acreditando ser o ambiente o responsável pela reparação do dano maturacional (MIURA, 2012). O pedido dessa vivência que esses indivíduos fazem ao ambiente muitas vezes é por meio de sintomas antissociais, o que Winnicott (1945/2002) diz ser uma esperança, uma vez que há uma tentativa de estabelecer o desenvolvimento para o amadurecimento emocional saudável.

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adolescentes “se defendem dos outros, ou através da depressão ou através de um estado de negativismo que agrava ainda mais sua debilidade” (DOLTO, p.20, 1988). Encontramos também a tendência antissocial como expressão patológica, em que a destrutividade dirige-se ao ambiente, sendo uma reação à falha desse ambiente, falha que não pode ser corrigida e gerou sentimento de quebra na continuidade da existência na criança. A tendência antissocial relaciona-se diretamente com a privação, em que um fracasso específico é mais relevante que um fracasso social grupal. Winnicott (1956) frisa a importância de não se pensar na tendência antissocial como um diagnóstico, à medida que pode ser estudada em crianças “normais ou quase normais, relacionando-se a dificuldades inerentes ao desenvolvimento emocional” (p.406), sendo encontrada em indivíduos normais, quanto em neuróticos e psicóticos e em todas as idades.

Nos sintomas antissociais (roubo, mentira, desordens generalizadas) a criança chama a atenção e reivindica do ambiente algo que tinha perdido, seus impulsos inconscientes obrigam alguém a se encarregar de seu cuidado. Caso nada seja feito no estágio inicial da patologia, a delinquência se desenvolve como tendência antissocial organizada, tendo os ganhos secundários reforçando o comportamento e a desilusão torna-se completa (WINNICOTT, 1956).

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adolescentes pesquisados também parece ser desintegrada, tendo que os pais também se sentem perdidos. (TARDIVO, 2007)

Knobel (1981) e Aberastury (ABERASTURY; KNOBEL, 1981 e ABERASTURY, 1983), autores básicos para os trabalhos de Tardivo (2007) e Miura (2012), consideram que atribuir todas as características dos adolescentes em suas modificações psicobiológicas é reduzir a relevância da adolescência, tendo que se considerar o que acontece em seu meio social e que, assim, a aceitação da identidade está determinada pela interação entre o indivíduo e o ambiente. Diante essa afirmação, Winnicott (1987/2002) lista o que seja algumas das necessidades dos adolescentes

A necessidade de evitar solução falsa: a necessidade de se sentirem verdadeiros ou de tolerarem não sentir nada;

A necessidade de desafiar: num contexto em que a dependência deles é satisfeita e podem confiar em que continuará sendo satisfeita;

A necessidade de espicaçar constantemente a sociedade, para que o antagonismo da sociedade se manifeste e possa ser enfrentado com antagonismo (p.172).

Essa interação entre as necessidades do adolescente e seu ambiente deve ser estudada cuidadosamente, e esta dissertação visou observar essa relação considerando a gravidez na adolescência e o ambiente em que essas jovens estão inseridas. Essa interação é de grande relevância, pois, não é só a sociedade que depende de seus membros para ser saudável, pois seus padrões são repetidos aos padrões daqueles que a compõe (WINNICOTT, 1968/1996) e, como afirma Aberastury (ABERASTURY; KNOBEL, 1981), “detrás da máscara de um adolescente difícil está o rosto de uma sociedade difícil, hostil e que não deseja compreender” (p.122).

1.2 A Gestação na Adolescência

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no qual já não é mais criança e vê seu corpo sendo modificado com diversas alterações típicas do crescimento ocasionado por questões hormonais que vão desenvolvendo as características sexuais secundárias, tanto masculinas quanto femininas, o que é percebido pelo aparecimento dos pelos nas regiões pubianas, engrossamento da voz nos meninos e desenvolvimento dos seios e menarca nas meninas. Com esse corpo em constante transformação, vai despertando no adolescente a curiosidade com relação à sexualidade adulta e novas formas de lidar com seu corpo e com o corpo do outro.

Dolto (1990) traz os rituais de passagem como uma forma de elaborar essa infância que está sendo deixada, relembrando que, em algumas sociedades, esses ritos eram formas de prender os jovens no clã através de rituais de iniciação e os que se saíssem bem eram tidos como figuras de modelos. Se hoje não existe mais tanto um modelo familiar ou social em que o filho tenha que suceder o pai e ser essa figura de modelo, segundo essa autora, os rituais de passagem não se justificam mais, porém ela considera que ainda deve existir um projeto que irá responder à tentação do perigo, com certa prudência e que ajudará o adolescente a deixar a infância. Aqui cabe a relação sexual que pode aparecer sem proteção e com múltiplos parceiros, tendo como consequências doenças sexualmente transmissíveis e/ou gravidez precoce, o que não apenas mata abruptamente a infância como interrompe a adolescência. Pode-se identificar o sentido da adolescência abortada da teoria de Carvajal (1993, citado TARDIVO, 2007), pois essas condutas dificultam a tarefa fundamental da adolescência que é dar conta de sua busca pela identidade. Winnicott (1968) apesar de não falar sobre rituais de passagem também traz a atividade sexual alienada como uma possível maneira que o adolescente encontra de lidar com suas angustias geradas pelas fantasias de morte, uma defesa de pseudomaturidade. Mesmo tendo relações sexuais, e até mesmo a gravidez, os jovens ainda não atingiram a maturidade sexual, que deve incluir toda a fantasia inconsciente do sexo (WINNICOTT, 1971/1975).

Foi abordado que a adolescência não tem uma faixa etária estritamente definida3, mas se sabe que a adolescência vem se sobrepondo à fase anterior, a meninice, período regido pela latência, levando para essa fase as duras questões emocionais do ser adolescente. Em contrapartida, o término da adolescência também é variável em cada indivíduo e também entre as classes sociais. Nas menos favorecidas, essa etapa tende a acabar mais cedo, pois o jovem desde muito cedo tem que trabalhar e obter seu sustento e ajudar em casa, ao passo que nas classes mais altas, prolonga-se a adolescência, muitas vezes invadindo a fase adulta.

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(PASSARINI, 2014). Essa antecipação da adolescência pode ser preocupante, pois, quanto mais cedo o indivíduo entra em conflito com as questões da adolescência, mais cedo terão esses rituais ou projetos de passagem, visando o quanto antes entrar no mundo adulto, e isso inclui a sexualidade, que, como afirmava Dolto (1989), os jovens são solicitados muito cedo e antes de terem o desejo a realizar o ato sexual. Dessa forma, a sexualidade precoce parece ser uma forma de prazer com características infantis na forma como é vivida e adulta na forma como é reconhecida, a entrada no mundo adulto, o que, por si só já é uma definição para esse comportamento em muitos desses adolescentes (TAKIUTI et al, 2015).

Dolto (1989) ainda afirma que mesmo ao se sentir desejada, esse desejo é um sinal de uma atitude libidinal regressiva, um disfarce para o rapto da criança e que apenas após a maternidade corporal afetiva é que a sexualidade feminina consegue alcançar a plena resolução dos resíduos emocionais edipianos, como também “o abandono da sua dependência homossexual por culpabilidade em relação a seus pais (sobretudo a mãe)” (DOLTO, p.106, 1989). A autora traz esses conceitos no que diz respeito à evolução sexual da mulher adulta, que possui um companheiro, o que nos dá espaço para questionar as meninas que começam a atividade sexual precocemente e sentem também todo esse conflito com relação à sua sexualidade, libido, fertilidade e maternidade. Assim se pode pensar que talvez essa seja uma das razões para a gravidez já na adolescência: a resolução de seus conflitos edípicos, o abandono da infância e a evolução da sexualidade.

Dessa forma, uma grande preocupação da saúde com relação à adolescência é a gravidez precoce, pois a fecundidade na adolescência costuma ser alta. Porém, vale ressaltar que a gravidez nessa etapa da vida não é um fenômeno atual, tendo já sido considerado comum em épocas que os casamentos aconteciam em idade precoce, época em que também era comum a morte materna e infantil. A gestação de adolescentes passa a ver vista como um problema de saúde e socioeconômica a partir do momento em que se começa a perceber periculosidade dos fatores de risco associados a essa gestação e as consequências socioeconômicas para as sociedades modernas, acompanhada de responsabilidades e dificuldades que não são compatíveis com a realidade da adolescência de hoje (TAKIUTI et al, 2015).

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da ONU (2013a) demonstra que nos países desenvolvidos, 680 mil partos são de adolescentes, sendo que metade desse número acontece nos Estados Unidos.

Segundo dados do relatório da ONU (2013a) da Situação da População Mundial de 2013, nos países em desenvolvimento, cerca de 70 mil adolescentes morrem a cada ano por complicações na gestação ou parto e, nos países com baixa renda, a gestação em meninas com menos de 15 anos mostra-se com o dobro de riscos de morte materna e fistula obstetrícia, se comparado a mulheres mais velhas, principalmente na África Subsaariana e no sul da Ásia (ONU, 2013a). Outros dados na UNU (2013b) revelam ainda que nos países em desenvolvimento, das adolescentes gestantes, 90% são casadas, mas essa gravidez ainda assim não se relaciona com a escolha baseada em informações qualificadas.

Em Portugal, números de 2010 mostraram que o país tinha uma das mais altas taxas de partos de adolescente de toda a Europa, chegando a 17 por mil habitantes, tendo a Estónia, Hungria, Letónia e Reino Unido com índices piores (Azevedo, Favara, Haddock, Lopez-Calva, Müller, & Perova, 2012). Outros dados da UNU (2013c) ainda revelam que a América Latina tem uma das mais altas taxas de gravidez na adolescência do mundo, registrando, em 2010, 72 nascimentos por mil mulheres de 15 a 19 anos, ficando em terceiro lugar, perdendo para a África Subsaariana, 108 nascimentos, e para o sul da Ásia, com 73 nascimentos. Essas informações ainda demonstram que a maioria dos países latino-americanos estão entre os 50 primeiros do mundo em gravidez na adolescência, e que, enquanto em outras regiões essa taxa caiu 1,6%, no período de 1997 a 2010, na América Latina a queda foi de apenas 1,25%.

A gravidez na adolescência é uma preocupação mundial, tanto que em 2013 a gravidez precoce foi o tema do relatório anual da UNFPA (Fundo de Populações das Nações Unidas). Em se tratando de Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (BRASIL, 2012b) e o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010) trazem números de 2007 relacionados à gravidez na adolescência, no qual 21,3% nascimentos nesse ano foram de filhos de mães com idades entre 10 e 19 anos. Apesar da estatística, o Instituto se mostrou confiante na tendência da redução dessas porcentagens, o que poderia ser uma consequência das campanhas sobre o uso de métodos contraceptivos (BRASIL, 2012b). Dados do UNICEF (2008) demonstraram que o país, registra anualmente 300 mil nascimento de filhos (as) de mães adolescentes e, em 2010, cerca de 12% das adolescentes entre 15 e 19 anos já tinham pelo menos um filho e , no mesmo ano, 19,3% das crianças nascidas eram filhos de mães com menos de 19 anos (UNFPA, 2013).

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índice de casos de gravidez na adolescência, sendo que no último dado consolidado (2011) tiveram 89.815 adolescentes gestantes com menos de 20 anos no Estado de São Paulo. No estado, esses dados veem diminuindo desde 1999, sendo que, em 2011, as mães com idade entre 15 e 19 anos representavam 14,1% do total de partos do Estado, contra os 20,7% de 1998 (SÃO PAULO, 2013). Grande parte dessa diminuição deve-se a medidas preventivas, como por exemplo, as Casas do Adolescente, programa criado em 1996 pela Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo4, espaço com atendimento integral ao adolescente, contemplando o aspecto físico, psicológico e social, onde, além de informação e orientação, há um trabalho que busca identificar as emoções, medos e dúvidas dos adolescentes sobre os mais amplos assuntos, inclusive sobre relacionamentos e sexualidade.

Apesar dessa diminuição, a taxa de natalidade de adolescentes no país ainda é considerada alta pela UNFPA (2013), sendo observado um viés de renda, raça/cor e escolaridade como características significativas na prevalência da gravidez precoce. Ainda há muito a ser feito para que a taxa de gravidez na adolescência diminua, o que vem acontecendo devido às campanhas destinadas aos adolescentes e à ampliação do acesso ao planejamento familiar, no qual um estudo com adolescentes grávidas se faz importante, uma vez que considerando as crenças, valores e modos como representam e agem as adolescentes grávidas é que os profissionais terão possibilidade de exercerem a escuta, o acolhimento e o cuidado.

Essa gravidez vem vinculada com a antecipação da realização sexual, antes mesmo de se sentirem “prontas” para isso, como nos traz Dolto (1989) através dos depoimentos de adolescentes em suas consultas, onde a psicanalista pode notar que as dificuldades psicológicas destas moças eram consequências de relação sexual que não tinha sentido para elas, o que havia acontecido por cederem das zombarias dos amigos e entram na vida sexual, mesmo sem sentirem desejo (ou amor, como também postula a autora), para não serem taxadas de infantis e por temerem serem frígidas. O surgimento dos meios anticoncepcionais parece ter contribuído para essa iniciação precoce, que passam a se entregar mesmo sem prazer e depois de algumas experiências muitas adolescentes param de tomar a pílula por querer tem um bebê, para superarem a frigidez que pensam ter, certificando-lhes que pelo menos não mulheres, garantido com a concepção, mas depois desejam recorrer ao aborto (DOLTO, 1989), na maioria dos casos, abortos inseguros. A recorrência da gravidez também é um fenômeno que acontece com frequência, pois essa adolescente tem um risco maior de voltar a engravidar em um curto espaço de tempo.

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A prevenção à gravidez na adolescência, como em espaços como as Casas do Adolescente em São Paulo, é de extrema importância, considerando que a gestação nessa época da vida pode trazer dificuldades na elaboração dos conflitos típicos da fase adolescente, complicações na gravidez, parto e puerpério, sendo a adolescente considerada cientificamente um grupo de risco devido à ocorrência de problemas de saúde tanto para si como para seu concepto, além de questões relacionadas à imaturidade da adolescente, por exemplo, atribulações no cuidado do filho. Porém essa gravidez pode acarretar danos para além da saúde física, mas também traz questões emocionais e socioculturais, como por exemplo, educação e emprego, que terão impactos tanto na vida da adolescente como na do bebê.

A gravidez nessa fase pode dificultar a conclusão escolar ou até mesmo interromper, consequentemente representando uma divisão nas possibilidades sociais favorecidas pela escolarização, prejudicando a formação profissional. O estudo de Novellino (2011) demonstrou que as adolescentes dessa classe econômica são as mais afetadas quanto à escolarização e que no geral o nível de escolaridade das mães adolescentes é menor se comparado com as que não possuem filhos. A pesquisa mostra que essas mães em sua maioria tem o ensino fundamental incompleto, o que afetará na colocação do mercado de trabalho.

Dados do IBGE (Brasil, 2011) trazem que 88,1% das jovens entre 15 e 16 anos e que não tinham filhos estudavam, já das que tinham filho(s), apenas 28,5% frequentavam a escola. No intervalo de idade maior, entre 18 e 24 anos, as que não tinham filhos a porcentagem era de 40,9% contra10% para as mães, o que demonstra o abandono escolar pelas jovens mães, visto a dificuldade de conseguirem conciliar maternidade e escola. A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (BRASIL, 2008) já trazia dados sobre a escolaridade das mães adolescentes, demonstrando que 40,7% das adolescentes grávidas eram analfabetas funcionais. Essa pesquisa também demonstrou que em relação a adolescentes com 12 anos ou mais de estudos não foi encontrado nenhum caso de gravidez.

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produtividade econômica equivalente a mais de 3,5 bilhões de dólares no primeiro e 7,7 bilhões de dólares no outro.

Em se tratando de saúde, outro importante agravo da gravidez precoce, Barbón Pérez (2011) cita que, de acordo a Organização Mundial de Saúde, a gravidez na adolescência é um risco para a saúde física materno-fetal, podendo também acarretar sequelas psicossociais. Conforme a autora, no que se refere ao biológico, à gestação é considerada de risco, podendo ocorrer hemorragias, trabalho de parto prolongado, complicações em longo prazo, prematuridade, lesões durante o parto, morte perinatal e baixo peso ao nascer. A ONU (2013b) também traz que as mães jovens enfrentam um maior risco de complicações maternas, morte e invalidez. No Brasil, do número total de mortalidade materna em 2013, 64.515 óbitos, quase 10%, foram de mães entre 10 e 19 anos (BRASIL, 2013). Já do ponto de vista psicossocial, a autora menciona questões como abandono dos estudos, descompasso na integração psicossocial e pouco preparo para o desenvolvimento de uma relação satisfatória com o bebê, ocasionado pelo fim abrupto da infância.

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principalmente na relação com o “não eu”, que vai deixando de ser ameaçadora.

Segundo Winnicott (1960/1990), o indivíduo só consegue atingir o estado do “eu sou”, com a existência de um meio que seja protetor, encontrado na mãe suficientemente boa, na sua preocupação com seu filho e na capacidade de perceber as necessidades do ego infantil, possível por meio de sua identificação com a própria criança. Essa identificação é possível pelo fato da mãe já ter experimentado os cuidados de uma mãe suficientemente boa, permitindo que essas experiências infantis de vivência de conforto e segurança ficassem guardadas psiquicamente, o que também é fundamental para o desenvolvimento da capacidade de ser mãe (WINNICOTT, 2000). É importante frisar que o conceito de “mãe suficientemente boa” não diz respeito apenas à figura da mãe propriamente dita, podendo ser transferida para um substituto (pai, avós, cuidadores). O autor ainda afirma que essa mãe suficientemente boa é aquela capaz de desenvolver uma preocupação materna primária, ou seja, uma sensibilidade que favorece a identificação com as necessidades do bebê (não direcionando as necessidades maternas), o reconhecimento de sua total dependência e promover a maturação emocional, possibilitando a capacidade de envolvimento afetivo com o bebê e a promoção dos cuidados.

Ao dizer que as adolescentes não tem maturidade para o desenvolvimento de uma relação satisfatória para o bebê não se está afirmando que elas não possuam essa capacidade, mas sim pensar se essa jovem conseguirá equilibrar o fim abrupto da infância de forma a conseguir ser uma mãe suficientemente boa para seu filho, tomando para si as responsabilidades, além de continuar o seu próprio desenvolvimento de maneira satisfatória. Essa preocupação é real e com “suficiente” Winnicott (1960/1990) não diz que o cuidador precisa ser perfeito, desde que a mãe se identifique com as necessidades do bebê e é essa identificação que talvez as adolescentes ainda não estejam preparadas.

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ser interrompido e destruído (WINNICOTT, 1987/2002), como pode acontecer com a gravidez precoce.

Especialistas do IBGE (BRASIL, 2012b) também questionam o preparo da adolescente nos cuidados com os bebês e afirmam que a maternidade antes dos 16 anos é desaconselhável devido à falta de maturidade física, funcional e emocional dessas adolescentes. Segundo dados desse instituto, na maioria das vezes, a adolescente fica grávida entre a primeira e a quinta relação sexual (BRASIL, 2012b).

Apesar dessa imaturidade e de muitas vezes a gravidez precoce ser vista como um problema de saúde e psicossocial, uma vergonha pela família e a perda da juventude, nem sempre ela é percebida desta forma pela adolescente, família e grupo social (HOGA et al, 2009). A pesquisa de Neto et al (2007) destaca que a maior parte das adolescentes participantes do estudo relataram querer ter o filho, podendo afirmar que essa gravidez é “precoce” e não “indesejada”, e que ela pode estar relacionada a uma auto realização dessa adolescente, ou pode ser a solução conflitos e resolução de um futuro incerto. Para algumas destas adolescentes a gravidez é vivida repleta de significados positivos, se apresentando como a busca de estabilidade e permanência, que poderia traduzir uma tentativa de obter autonomia e maturidade, ou uma forma de sair dos problemas domésticos, principalmente falta de liberdade e violência (HOGA et al, 2009). A valorização do casamento e da maternidade pode significar para a mulher uma possibilidade de autonomia rápida, passando o status de “filha-criança-impotente” para o de “mãe-adulta-poderosa” (TAKIUTI et al, 2015).

Dolto (1990) traz dados que comprovam esse comportamento desde o final do século passado com uma pesquisa da época em que o anticoncepcional começou a se popularizar na Europa. Nesse estudo foram divididos dois grupos de jovens, um com informações sobre o anticoncepcional e educação sexual e outro sem informações, e pode-se concluir que as adolescentes com informações sabiam que poderiam engravidar já numa primeira relação sexual, mas ainda assim houve casos de gravidez, os quais as meninas disseram que não conseguiam deixar de ter relações sexuais por quer ter um bebê, mas, quando enfim engravidam, ficam preocupadas com as consequências e procuram o aborto.

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desenvolvimento psicossexual, ocasionados por conflitos infantis não solucionados. Para os autores, a gravidez nessa faixa etária poderia ser uma atuação relacionada a uma fixação de caráter oral e pré-edipico em relação à mãe (mãe pré-edípica), ocasionado tanto pela privação, quanto pela superestimação. Assim os autores entendem que a gravidez precoce pode ser vista como uma atuação da adolescente que está relacionada ao desejo de se vingar da mãe, por ter se sentido rejeitada por ela, buscando recriar uma situação perdida, revivendo a união mãe-bebê por meio da gestação, sendo esse um movimento regressivo em direção a busca dessa mãe pré-edípica.

Apesar de algumas adolescentes expressarem o desejo de serem mães, ainda assim apresentam conflitos típicos da sua faixa etária que se sobrecarregam com as questões da gestação, deixando-a vulnerável, associando a gravidez com o apoio que irá receber da família e do companheiro. O estudo de Moreira et al (2008) que visou trabalhar com os conflitos vivenciados pelas adolescentes na descoberta da gravidez encontrou que as adolescente têm medo de contar sobre a gravidez para a família e companheiro, pois ficam com medo da reação dos pais, de não se apoiada por eles e de ser abandonada pelo namorado, gerando insegurança, medo e angústia diante a gravidez.

A preocupação com a aceitação e a relação com o companheiro também é frequente, rodeada de medos de abandono e não aceitação. Winnicott (1968/1996) frisa a importância do pai no cuidado como bebê, pois a confiança que a mãe tem em seu companheiro e o apoio que recebe (o que pode vir da sociedade) facilita a passagem da dependência absoluta da criança para a relativa, transposta pelo manejo adequado do cuidador, permitindo à criança estabelecer tanto a noção como os limites do seu Eu, interagindo mundo interno com mundo externo, evoluindo rumo à independência. O pai também ajuda a mãe a ir deixando o estado de preocupação materna primária para voltar assumir seu papel de mulher.

Catharino e Giffin (2002) também trazem em sua pesquisa que a aceitação da gravidez pode ser positiva, com o consentimento da gravidez na adolescência por parte dos pais, afirmando que é notável a aceitação do neto pela avó, que em muitos casos também foi mãe na adolescência. Nos casos em que a gravidez não é bem aceita pela família, Monteiro (2007) observa em seu estudo que a revelação da gravidez gerou conflitos e presença de violência física e psicológica, sendo que a relação paterna a que se tornou mais dificultosa.

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ameaçam expulsar a filha de casa, ou brigam com ela com a notícia da gravidez), mas são de fato indícios de violência, principalmente psicológica, encontrada nos resultados da pesquisa de Barrientos (2013) como a de maior incidência, tendo a figura materna como principal agressora, seguida da figura paterna e do companheiro, porém esse estudo com adolescentes gestantes que relataram vivências de violência também foram encontrou outras formas de violência (física e sexual). A violência psicológica (ou tortura psicológica) ocorre quando os pais ou responsáveis depreciam a vítima constantemente, bloqueando seus esforços de auto-aceitação e causando imenso sofrimento psíquico (AZEVEDO & GUERRA, 1998).

Muitas gestantes adolescentes temem revelar a gravidez por já terem ouvido histórias de outras adolescentes que sofreram violência, principalmente psicológica e abandono, por parte dos pais e/ou companheiro. Dados do estudo de Pereira et al (2010) confirma essa afirmação, pois sua pesquisa encontrou que cerca de 7% das adolescentes entrevistadas afirmaram ter sofrido violência durante a gestação, o que é um dado considerado alto, visto o que a gravidade dessa violência pode ocasionar, como complicações durante o parto ou também dificuldades no cuidado com a criança. Esse mesmo autor também relata as consequências da violência ao longo da vida, tendo que 14,2% das adolescentes da pesquisa apresentaram depressão durante a gestação, o que pode ser associado à violência que sofreram durante sua história.

As situações de violência foram mais identificadas em adolescentes que tiveram a primeira relação sexual e a primeira gravidez antes dos 16 anos, o que também atrapalha no comparecimento da jovem nas consultas de pré-natal (AUDI et al, 2008). Outra pesquisa ainda demonstrou que a gravidez vinda de um namoro instável, marcado pelo temor da traição, desconfianças e busca por satisfação sexual também são determinantes encontrados nos casos de violência contra a mulher grávida (DURAND, 2006).

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Passarini (2014), em seu estudo, também se refere à interferência da violência na gestação adolescente, porém trabalhando com adolescentes que sofreram graves violências durante toda a vida, comprovando que as meninas estudadas apresentam grandes dificuldades na vida, tanto devido às vivencias de violência doméstica como pela maternidade. A autora observa que essas meninas atuam a agressividade, manifestando-se com violência em relação aos outros (até mesmo ao filho) e/ou com elas próprias e que a dinâmica familiar disfuncional relaciona-se com a violência doméstica que sofreram que também está ligada a iniciação sexual precoce e falta de cuidados preservativos. Também é questionado na pesquisa que o sexo e a consequente gravidez aparecem como formas de lidar com os conflitos familiares ou a fuga deles (como os trabalhos anteriormente descritos abordaram), sendo o sexo entre os adolescentes que passaram por violência “uma forma de lidar com sentimentos de isolamento e com a falta de pertencimento familiar e institucional” (p.152). Foram encontrados sentimentos de serem responsáveis, culpadas, pela gravidez/maternidade e a imaturidade também foi percebida, pois as meninas demonstraram que não sabiam como ser mães, precisando do auxilio de outras pessoas, o que a autora relaciona com a reprodução da violência sofrida por elas, em que o modelo de cuidado adequado não parece estar disponível para essas adolescentes.

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grávidas, entre outros comportamentos, observando a atuação como forma defensiva.

A violência na gestação também foi encontrada nas estatísticas do VIVA/Sinan do Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a) apresentando que das adolescentes notificadas vítimas de violência, 6,9% eram gestantes. Agressões de todos os tipos podem se tornar um agravo durante a gestação, dificultando a realização do pré-natal adequado, devido ao desinteresse da vítima e, como sugere Mendes (2005), o agressor pode exercer um controle sobre a adolescente, evitando o contado dela com profissionais de saúde, ocultando episódios de violência. Barrientos (2013) escreve que as práticas violentas contra as adolescentes grávidas frequentemente estão associadas às relações familiares, dessa forma, propõe que os profissionais de saúde estejam atentos nos cuidados dessas pacientes, com um olhar biopsicossocial, observando as questões intrafamiliares, com o objetivo de detectar, prevenir, dar encaminhamentos e apoio a essas meninas.

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Tabela 1. Qui-quadrado e frequências de cada característica do DFH para o Grupo de  Controle e o Grupo Clínico
Tabela 2. U de Mann-Whitney e frequências de cada característica do DFH para o  Grupo de Controle e o Grupo Clínico
Tabela 3. Qui-quadrado e frequências de cada característica do Desenho da Pessoa na  Chuva para o Grupo de Controle e o Grupo Clínico
Tabela 4. U de Mann-Whitney e frequências de cada característica do Desenho da  Pessoa na Chuva para o Grupo de Controle e o Grupo Clínico
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Referências

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