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Desempenho econômico e práticas de gestão em unidades de produção agropecuária: um estudo multicaso no município de Doutor Maurício Cardoso - RS

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação Departamento de Estudos Agrários

Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO

MARCELINO COLLA

DESEMPENHO ECONÔMICO E PRÁTICAS DE GESTÃO EM UNIDADES DE PRODUÇÃO AGROPECUARIA: UM ESTUDO MULTICASO NO MUNICIPIO DE

DOUTRO MAURÍCIO CARDOSO - RS

Ijuí (RS) 2012

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MARCELINO COLLA

DESEMPENHO ECONÔMICO E PRÁTICAS DE GESTÃO EM UNIDADES DE PRODUÇÃO AGROPECUARIA: UM ESTUDO MULTICASO NO MUNICIPIO DE DOUTRO MAURÍCIO CARDOSO - RS

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento – nível Mestrado – da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, linha de pesquisa em Desenvolvimento Local Sustentável, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento.

Orientador: Prof. Dr. David Basso

Ijuí (RS) 2012

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C697d Colla, Marcelino.

Desempenho econômico e práticas de gestão em unidades de produção agropecuária : um estudo multicaso no município de Dr. Maurício Cardoso - RS / Marcelino Colla. – Ijuí, 2012. –

141 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: David Basso”.

1. Gestão. 2. Desenvolvimento rural. 3. Propriedades leiteiras. 4. Doutor Maurício Cardoso/RS. I. Basso, David. II. Título. III. Título: Um estudo multicaso no município de Dr. Maurício Cardoso - RS.

CDU: 338.43

631.16

Catalogação na Publicação

Aline Morales dos Santos Theobald CRB10/1879

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

DESEMPENHO ECONÔMICO E PRÁTICAS DE GESTÃO EM UNIDADES DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA: UM ESTUDO MULTICASO NO

MUNICÍPIO DE DR. MAURÍCIO CARDOSO – RS

elaborada por

Marcelin o Coll a

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. David Basso (UNIJUÍ): ________________________________________________

Prof. Dr. Mário Luiz Santos Evangelista (UFSM): __________________________________

Prof. Dr. Dilson Trennepohl (UNIJUÍ): ___________________________________________

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Dedico a minha esposa Janice, meus filhos Junior e Matheus e meus pais, irmãos e amigos que apoiaram em todos os momentos.

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AGRADECIMENTOS

Muitas pessoas contribuíram, direta e indiretamente, para a elaboração deste trabalho. Sou grato a todos.

Ao meu orientador, Prof. David Basso, faço um agradecimento especial pelas orientações transmitidas ao longo do desenvolvimento deste trabalho. Agradeço-lhe pelo companheirismo, atenção e pela cordialidade.

As produtores rurais que, prontamente, atenderam as solicitações e questionamentos realizados.

Aos amigos, Cissa, Tiago e Fabiane, parceiros de viagem para Ijuí, principalmente quando estava desanimando.

A COTRIMAIO que, através do presidente Amilton José Dotto e todos os seus colaboradores, auxiliaram na busca de apoio do SESCOOP- RS, e o SETREM que disponibilizaram auxílio financeiro para a realização do Curso de Mestrado.

Às pessoas ligadas à UNITEC, FUNCAP, EMATER, Secretaria de Agricultura de Doutor Maurício Cardoso/RS, que, prontamente, auxiliaram nos momentos que foram solicitadas as informações.

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RESUMO

As dificuldades que envolvem o processo produtivo da agricultura na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, em função da reduzida extensão de área por propriedade, adversidades climáticas e outros fatores inerentes à atividade primária dificultam a continuidade e a manutenção de muitos agricultores familiares. O presente estudo objetivou analisar como é o desempenho econômico as práticas de gerenciamento de suas propriedades rurais do município de Doutor Mauricio Cardoso/RS, em especial os produtores de leite, analisando como eles administram os seus negócios e desenvolvem suas atividades produtivas. Em função disso, foram levantadas informações gerais e feita a caracterização da região, analisando as diferentes tipologias das propriedades, análise-diagnóstico dos sistemas agrários, dos sistemas produção e criação, dinâmica de multiplicação das famílias rurais. Na análise dos dados secundários, destaca-se a importância socioeconômica que a atividade leiteira representa para a região de Três de Maio e para o município de Doutor Maurício Cardoso/RS. As entidades desenvolvem programas diversos para estimular e fomentar a produção de leite. Na pesquisa bibliográfica, houve aprofundamento nos conhecimentos sobre todas as questões gerenciais, detalhando informações dos processos administrativos utilizados pelas diferentes entidades de capacitação, nos treinamentos realizados aos produtores rurais, dando ênfase especial aos custos de produção das atividades rurais, com as diferentes terminologias usadas no meio empresarial urbano e, principalmente, nas propriedades rurais. Após análise geral da propriedade, partiu-se para a análise de seis propriedades, de forma mais detalhada. Dessas, cinco delas com presença da atividade leiteira; uma exclusiva com a produção de leite; uma apenas com produção de grãos; as outras quatro com produção de leite associada às outras atividades, como suínos, fumo, e grãos. Essas propriedades têm diferentes tamanhos de áreas e diferentes estruturas de máquinas e equipamentos. Nessas propriedades ocorreram avaliações profundas sobre os sistemas de produção e gerenciamento utilizados pelos agricultores, com posterior análise e interpretação dos resultados quanto aos níveis de reprodução social de cada uma e a contribuição que elas desempenham no desenvolvimento local. Com as considerações e análises das dificuldades para gestão das propriedades rurais, destacou-se a importância da mulher e do jovem no gerenciamento, evidenciando a participação de ambos no planejamento, direção, controle, organização e, principalmente, no custo. Como conclusão, orientou-se a aprofundar a metodologia e padronizar os processos voltados à capacitação via treinamentos dos sistemas S e da orientação via assistência técnica dentro dos diferentes programas de fomentos existentes.

Palavras-chave: Gestão. Desenvolvimento rural. Propriedades leiteiras. Doutor Maurício Cardoso/RS.

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ABSTRACT

The difficulties that involve the agricultural productive process in the Rio Grande do Sul State Northwest region, Brazil, compromise the continuity and maintenance of small agricultural family farms; such difficulties are due mainly to the restricted land extension per property, climate issues and other factors related to this primary activity. This study had as its main objective to analyze how do the rural producers in the Três de Maio region, RS, implement management practices, specially the milk producers, analyzing the ways of their business administration and development of production activities. In this sense, general information was collected as well as a characterization of the region in its different property types; along with a diagnostic analysis of agricultural, production and animal raising systems and the dynamics of multiplication of these rural families. Throughout the analysis of secondary data, we observed the social and economical importance that the dairy activity has for the Três de Maio region and for Doutor Maurício Cardoso city in the same state. Many groups develop various programs to motivate and encourage milk production there. In the bibliographical research, a discussion aiming to improve knowledge on the management area was made, including: administrative processes used by the different groups that work with training for the rural producers, emphasizing costs of rural activities with different nomenclature from the entrepreneur viewpoint in urban areas but mostly in rural properties. After the general analysis of property, we start to analyze six individual properties in greater detail. From those, five had dairy activities; one exclusively with milk production; one with grain production; and the other four with milk production associated to other activities such as swine, tobacco and grain production. These properties had different sizes, infra-structure, machinery and dynamics. In-depth evaluations were made regarding the production and management systems adopted by these farmers followed by analysis and results interpretation regarding the social reproduction levels of each farm and its contribution for developing the local area through their performance. As considerations and analysis of difficulties while managing rural properties, we emphasize the importance of women and youth because of their role in planning, directing, controlling, organizing and above all in costs reduction. In conclusion, we advise to improve the methodology and standardize training processes for S systems and guidance through technical assistance in different support program that are already taking place in the region.

Key words: Management. Rural development. Dairy properties. Doutor Maurício Cardoso, RS.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Exemplo de vida útil de algumas benfeitorias e máquinas agrícolas ... 52 Tabela 2: Produção de leite nas diferentes regiões do Brasil ... 59 Tabela 3: Distribuição agrária dos 13 municípios – média histórica dos últimos 5 anos ... 64 Tabela 4: Distribuição agrária das propriedades nos 13 municípios da região de

Três de Maio ... 65 Tabela 5: Evolução da população rural e urbana nos municípios, na região e no Estado no período de 1991-2008 em percentuais ... 66 Tabela 6: Evolução da população por faixa etária no período 1991-2008 na região Noroeste do RS ... 67 Tabela 7: Síntese comparativa de resultados econômicos das unidades de produção - Doutor Maurício Cardoso – 2012 ... 96

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Rebanho de Dr. Mauricio Cardoso ... 71 Gráfico 2: Rebanho leiteiro ... 72 Gráfico 3: Raças ... 73 Gráfico 4: Participação das atividades na composição da Renda Agrícola da Propriedade 1 – 2012 ... 85 Gráfico 5: Participação das atividades na composição da Renda Agrícola da Propriedade 2 – 2012 ... 87 Gráfico 6: Participação das atividades na composição da Renda Agrícola da Propriedade 3 – 2012 ... 89 Gráfico 7: Participação das atividades na composição da Renda Agrícola da Propriedade 4 – 2012 ... 91 Gráfico 8: Participação das atividades na composição da Renda Agrícola da Propriedade 5 – 2012 ... 94 Gráfico 9: Participação das atividades na composição da Renda Agrícola da Propriedade 6 – 2012 ... 95 Gráfico 10: Participação das atividades na composição da Renda Agrícola da Propriedade 1,2,3,4,6 6 – 2012 ... 97

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LISTA DE ABREVIATURAS

ADSA - Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários ART - Anotação de Responsabilidade Técnica BRF - Brasil Food

CI - Consumo Intermediário

COTRIMAIO - Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai Ltda COPER-RIOS: Cooperativa Entre Rios Ltda

CCGL - Cooperativa Central Gaucha de Leite

CERTHIL - Cooperativa de Eletrificação Rural Ltda CF - custos fixos

CFT- Custo Fixo total CFMe - Custo fixo médio CV - Custos variáveis CT - Custos totais

CTMe - Custo total médio COE - Custo operacional efetivo COT - Custo operacional total COMe - Custo operacional médio CO - Custo de Oportunidade D - Depreciação

DA - Depreciação Anual

DVA - Distribuição do Valor Agregado

DRS - Desenvolvimento Regional Sustentável

EMATER - Associação Riograndense de Assistência Técnica FUNCAP - Fundação de Capacitação e Desenvolvimento GP/ha - Gastos Proporcionais à Superfície

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GNP/UTf - Gastos não Proporcionais por Unidade de Trabalho Familiar J - Juros

Ha - Hectare

I - Impostos e taxas pagas ao Estado L - Lucro

NRS - Nível de Reprodução Social MB - Margem Bruta

MBT -Margem Bruta Total ML - Margem Liquida PIB - Produto Interno Bruto

RA/UTF - Renda Agrícola por Unidade de Trabalho Familiar RA - Renda Agrícola ou Renda Agropecuária

RB - Receita Bruta RL - Receita Líquida SM - Salários

SAU/UTF - Superfície Agrícola Útil por Unidade de Trabalho Familiar SAU - Superfície Agrícola Útil

SPA - Sistema de Produção Agropecuária SP - Sistema de Produção

ST - Superfície Total

SICREDI - Cooperativa de Credito de Livre Admissão Noroeste do RS Ltda SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SEBRAE - Serviço de Apoio a Micro e Pequena

SESCOOP - Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo SETREM - Sociedade Educacional Três de Maio

SICREDI - Cooperativa de Crédito de Livre Admissão do Noroeste de RS SINDILOJAS - Associação Comercial e Industrial de Três de Maio STAKEHOLDERS - pessoal envolvidas

PMDS - Plano Municipal de Desenvolvimento Sustentável PRONAF - Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONAMP - Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural T - Vida útil

UNITEC - Cooperativa de Técnicos do Noroeste do RS Ltda UT - Unidade Trabalho

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UTF: Unidade Trabalho Familiar

VA/UT: Valor Agregado por Unidade de Trabalho ou Produtividade do Trabalho VA: Valor Agregado

VAB/ha: Valor Agregado Bruto por hectare VAB: Valor Agregado Bruto

Vi = Valor inicial ou novo Vf = Valor final ou residual VBP: Valor Bruto da Produção

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

1 METODOLOGIA ... 19

1.1 Sistemas agrários ... 19

1.2 Sistemas de produção ... 21

1.3 Tipologia dos sistemas de produção agropecuários ... 22

1.4 Análise-diagnóstico de sistemas agrários ... 22

1.4.1 Entrevistas Técnicas ... 23

1.4.2 Entrevistas para análise de desempenho econômico e sistemas de gestão ... 23

2 DESENVOLVIMENTO E O PROCESSO DE GESTÃO NAS ORGANIZAÇÕES RURAIS ... 26

2.1 Desenvolvimento e sua materialização no meio rural ... 26

2.2 Gestão da propriedade rural ... 30

2.2.1 Diagnóstico da propriedade rural ... 32

2.2.2 Áreas de gestão da propriedade rural ... 36

2.2.3 Custos de produção ... 40

2.2.3.1 Gestão de custos na visão da Administração ... 41

2.2.3.2 Controle de custos no setor agropecuário ... 45

2.2.3.2.1 Custo de produção nas atividades rurais... 47

3 INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A AGRICULTURA NA REGIÃO DE TRÊS DE MAIO E ESPECIFICIDADES DA AGRICULTURA DE DOUTOR MAURÍCIO CARDOSO ... 58

3.1 A produção de leite no Brasil ... 58

3.2 A agricultura na região de Três de Maio ... 60

3.2.1 Algumas ações estão acontecendo dentro dos municípios ... 62

3.2.2 Dados socioeconômicos da região ... 64

3.3 A agricultura em Doutor Maurício Cardoso ... 68

3.3.1 Situação da agropecuária ... 70

3.3.2 Atividade leiteira ... 72

3.3.2.1 Programas de leite em Doutor Mauricio Cardoso ... 74

3.3.3 Cultura da soja ... 76

3.3.4 A cultura do milho ... 77

3.3.5 A cultura do trigo ... 78

3.3.6 A cultura do fumo ... 79

(15)

4 DESEMPENHO ECONÔMICO E PRÁTICAS DE GESTÃO EM ESTABELECIMENTOS

AGROPECUÁRIOS NO MUNICÍPIO DE DOUTOR MAURÍCIO CARDOSO/RS ... 82

4.1 Propriedades analisadas ... 83

4.1.1 Primeira propriedade analisada ... 83

4.1.2 Segunda propriedade analisada ... 86

4.1.3 Terceira propriedade analisada ... 88

4.1.4 Quarta propriedade analisada ... 90

4.1.5 Quinta propriedade analisada ... 92

4.1.6 Sexta propriedade analisada ... 94

4.2 A participação da mulher na gestão ... 98

4.3 Participação do jovem ... 99

4.4 Expansão de áreas de terras pelos produtores ... 100

4.5 Algumas dificuldades na gestão das propriedades rurais ... 103

4.5.1 Relação ao planejamento ... 104

4.5.2 Relação organização ... 105

4.5.3 Relação direção... 105

4.5.4 Relação aos controles ... 106

4.5.5 Relação a custos ... 106

CONCLUSÃO ... 108

REFERÊNCIAS ... 112

(16)

INTRODUÇÃO

Com este estudo procurou-se entender como os agricultores da região de Três de Maio/RS, tendo com base de estudo o município de Doutor Maurício Cardoso/RS, realizam suas atividades; como gerenciam suas propriedades; como utilizam a mão-de-obra; como ocorre o processo de multiplicação; que práticas de gestão têm utilizado. Buscou-se também o entendimento de como ocorre a dinâmica de reprodução da agricultura familiar e a dos demais agricultores.

A região agrícola de Três de Maio, na qual o município de Doutor Maurício Cardoso está inserido, é constituída basicamente por agricultores familiares. Teve na produção de soja e trigo um dos principais alicerces para o seu desenvolvimento. A grande maioria das propriedades se estabeleceu e permaneceu durante muitos anos com esse sistema de produção.

Nos anos 80, começaram a surgir os primeiros produtores que viram na atividade leiteira uma possibilidade de diversificar e aumentar a renda, a qual se mostrava insuficiente com as culturas tradicionais. A região de Três de Maio e o município de Doutor Maurício Cardoso, são constituídos majoritariamente por pequenos e médios estabelecimentos agropecuários que desenvolveram, no início, atividades de produção de grãos.

Os trabalhos de fomento à produção leiteira foram intensificados nos anos seguintes, pela Cooperativa Agropecuária Alto Uuruguai Ltda (COTRIMAIO), que, contratou profissionais da área da agronomia e veterinária. Estes se dedicaram a socializar informações sobre o processo produtivo, havendo hoje o envolvimento de muitos profissionais na área, por meio de sistemas de capacitação, de entidades de capacitação, e de empresas de fomento no setor leiteiro.

(17)

Gerenciar a propriedade rural torna-se cada vez mais importante. Para tanto, são necessárias ferramentas de gestão, de controle de custos, planejamento, análise de investimento, entre outros, para a permanência das famílias no meio rural.

O processo de emigração que vem ocorrendo nas últimas décadas, e com ele a evasão da mão-de-obra qualificada e jovem alterou substancialmente o perfil da população local. Em 1988, a região em estudo contava com mais de 110 mil habitantes, e o município de Doutor Maurício Cardoso em torno de 10.000 habitantes, porém, atualmente, conforme último censo, a região possui 97 mil habitantes, e o município de Doutor Maurício Cardoso não ultrapassa 5.313 habitantes (IBGE, 2010). Com efeito, o pagamento de aposentadorias torna-se uma das principais fontes de recursos para o município e para a sobrevivência de um considerável grupo de famílias, tanto do meio rural quanto urbano.

No trabalho de campo, o primeiro passo é a definição do território, percorrendo os locais, fazendo uma leitura da paisagem, os terrenos, visualizando as diferentes características topográficas, com o objetivo de atravessar as principais heterogeneidades identificadas desta região. Esses procedimentos permitiram realizar o zoneamento das microrregiões, considerando como homogêneas algumas caracterizas a serem estudas. Assim, é importante não só observar a paisagem, mas também se interrogar sobre ela e interpretá-la. Trata-se de uma tarefa indispensável, pois baseando-se nela, será elaborado o zoneamento agroecológico.

Com base na situação que envolve toda a região Noroeste, optou-se por priorizar a região de Três de Maio, a qual abrange diversos municípios, dando ênfase ao município de Doutor Maurício Cardoso, por este ter as características idealizadas de propriedades familiares, com uma diversificação de produção e forte evolução da atividade leiteira.

Os objetivos principais da proximidade do estudo são as características dos agricultores pertencentes à região, que são agricultores familiares. Nessa região, mais de 78% dos estabelecimentos têm, na sua estrutura fundiária, áreas de terra inferiores a 20 ha e com a atividade leiteira presente em mais de 72% desses estabelecimentos(IBGE,2006). A utilização da mão-de-obra familiar, como base para a realização das atividades, busca formas associativas como mecanismos de resolução de muitos problemas.

(18)

O levantamento de informações sobre clima, tipo de solo, relevo, culturas predominantes, número de produtores, estrutura fundiária, produção em volume, entidades atuantes na região na compra e venda de produtos, processos industriais existentes permitirá um entendimento da sistemática da região. No entanto, há dificuldades de levantarem-se tais informações, de forma precisa, por isso, muitas vezes, estas estão incompletas. Buscam-se informações em diferentes entidades da região. Além dos dados do IBGE (2010), pesquisou-se junto à Associação Riograndenpesquisou-se de Assistência Técnica (EMATER-RS), Prefeitura Municipal, Fundação de Capacitação e Desenvolvimento (FUNCAP), Cooperativas e outros trabalhos de pesquisas que foram realizadas no município e na região.

A evolução na atividade leiteira fez com que produção de leite apresentasse uma relevância muito grande para a geração de renda de agricultores da região, fator fundamental para a sua manutenção familiar e permanência no meio rural. É necessário tornar a produção leiteira na região uma atividade realmente rentável para os produtores, gerando uma maior fonte de renda para aqueles que investem nesta atividade, e, consequentemente, maior desenvolvimento regional no Noroeste do Rio Grande do Sul.

Mais recentemente, de acordo com Lang (2012), o Rio Grande do Sul foi escolhido para ser o local de várias plantas industriais que estão se instalando e de ampliação das que já estão instaladas, pelo seu clima favorável e histórico na atividade. As principais empresas industriais no Estado são: Cooperativa Central Gaucha de Leite (CCGL) em Cruz Alta, Embaré em Sarandi, Italac em Passo Fundo e DPA - Nestlé em Palmeira das Missões. As instalações, no caso da CCGL, preveem um porte relacionado ao volume de matéria-prima disponibilizada pelos associados, que é de 1.000.000 de litros por dia. Esta empresa tem como objetivo exportar produtos para o mercado externo.

A empresa Laticínios Noroeste, instalada no município de Doutor Maurício Cardoso, industrializa leite, produzindo queijos. Sua capacidade é de 1000 litros/dia. A Brasil Food (BRF), que assumiu o parque industrial da Elegê Alimentos, até então maior processador de leite no Estado, possui, em Três de Maio, uma indústria implantada para produção de queijos, com capacidade de 300 mil litros/dia. Recentemente foi inaugurada mais uma unidade no município para produzir leite em pó, com capacidade de recebimento e processamento de 600 mil litros de leite diários, além de outros postos de recebimentos distribuídos em outros municípios da região.

(19)

Por haver uma atuação profissional em sistema de treinamento e capacitação na área de gestão rural, o entendimento de como os produtores estão gerindo suas propriedades permite uma ideia mais precisa do processo de repasse de informações. O fato de não existirem informações que avaliem o sistema de administração utilizada nas propriedades leiteira da região e de possível desconhecimento da necessidade de utilizar ferramentas adequadas de gerenciamento do recursos disponíveis na propriedade levam a uma baixa adoção de técnicas de gestão nas propriedades rurais, embora sejam facilitadores do desenvolvimento de estratégias de trabalho, tanto para os produtores quanto para os técnicos.

O entendimento da forma de gestão utilizada pelos agricultores pode auxiliar os sistemas de capacitação (SENAR, SEBRAE) e as Universidades no fomento de ações de treinamentos na área de gestão no meio rural, com base científica.

Objetivo Geral

O presente estudo tem como objetivo geral analisar as propriedades rurais sob o aspecto econômico e as formas de gestão das mesmas, no município de Dr. Maurício Cardoso –RS.

Analisar como produtores rurais no município de Doutor Mauricio Cardoso fazem a gestão das suas unidades de produção.

Objetivos Específicos

Verificar a característica fundiária da região;

Analisar as principais atividades econômicas envolvidas nas propriedades rurais; Verificar a influência da atividade leiteira nas propriedades rurais da região;

Analisar o desempenho econômico e do diferentes maneiras de gerenciar que os produtores utilizam, comparando os diferentes formas de gestão utilizada.

Analisar que importância os produtores atribuem aos processos de gestão, (produção, finanças, comercialização e recursos humanos), e que resultados os mesmos tem representado no desenvolvimento das suas propriedades.

Verificar a participação da família na gestão da propriedade rural.

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Formulação do problema

Na região Noroeste do Rio Grande do Sul, muitos produtores tem dificuldades de gerir seus sistemas de produção na atividades desenvolvidas, podendo comprometer a permanência na atividade e sua manutenção familiar.

O conhecimento e a utilização adequada da gestão rural, potencializa aos produtores rurais o aumento de sua renda, facilitando a sua reprodução social e a permanência no meio onde vive?

Neste contexto, faz-se necessária a análise das informações desta atividade, como por exemplo, os sistemas de informação e gerenciamento utilizados, porque, até o presente momento, não foram realizados estudos específicos nesta área. A partir desses estudos, poder-se-ia realizar um planejamento estratégico de ações para o desenvolvimento desta cadeia produtiva, que é de suma importância para a região.

Por essa razão, surgiu o interesse em realizar este estudo, que envolve alguns problemas de pesquisa, a saber: Qual o papel e a importância da atividade leiteira no desenvolvimento rural do município de Doutor Maurício Cardoso e da região de Três de Maio? Como o processo gerencial utilizado através das metodologias de capacitação empregadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e Serviço de Apoio a Micro e Pequena Empresa (SEBRAE) tem auxiliado no reprodução social de unidades de produção que produzem leite? Qual a contribuição que essas unidades de produção podem proporcionar para o desenvolvimento rural? A presença do jovem e da mulher tem auxiliado ou facilitado a utilização de ferramentas de gestão e no incremento e na evolução das propriedades rurais? Em que condições é possível ter uma estratégia de gerenciamento aplicada e que auxilie as propriedades rurais que trabalham com a atividade leiteira, para a promoção do desenvolvimento rural?

O presente trabalho traz informações gerais e específicas sobre a região de Três de Maio e o município de Doutor Maurício Cardoso. Para tanto, procedeu-se a uma revisão bibliográfica sobre desenvolvimento e principalmente sobre conceitos gerais de gestão, analisando de que forma as propriedade rurais têm conduzido seus processos gerenciais, evidenciando os resultados e conclusões observadas durantes as pesquisas realizadas.

(21)

1 METODOLOGIA

A proposta de realização da pesquisa está baseada nos procedimentos da Análise-Diagnóstico de Sistemas Agrários (ADSA) como um método de análise de situações de desenvolvimento (SILVA NETO et al, 2007). A condição básica deste método está na abordagem sistêmica em vários níveis de análise e na busca de explicação, e não somente da descrição de como funcionam os processos utilizados para entender uma dada realidade.

1.1 Sistemas agrários

Para Mazoyer e Roudart (2001), um sistema agrário é, antes de tudo, um modo de exploração do meio constituído, um sistema de forças de produção e técnico que se adapta a condições bioclimáticas de um espaço determinado, que responde às expectativas e necessidades sociais em um momento determinado. É também um modo de exploração do meio, no caso, é o produto específico do trabalho agrícola que utiliza combinações dos meios de produção inertes e vivos para explorar e reproduzir o meio cultivado. Um sistema agrário não possui uma dimensão fixa, pois esta depende do grau de abrangência da análise efetuada, a qual é, por sua vez, definida pelos objetivos específicos do estudo.

Segundo Dufumier (1997), o conceito de sistemas agrários deve permitir identificar e caracterizar as relações que são estabelecidas entre as transformações sucessivas dos ecossistemas artificializados (agroecossistemas), das técnicas praticadas pelos agricultores para domesticar parcialmente as biocenoses e ordenar seus biótipos, e da evolução das condições socioeconômicas que os agricultores produzem. Essas relações podem não ser sempre harmônicas nem estáveis. A dinâmica de um sistema agrário é definida pela acumulação de capital e pela reprodução da fertilidade do agroecossistema das unidades de produção.

(22)

Segundo Silva Neto et al (2007), um sistema agrário é determinado a partir de um conjunto de critérios, ligados aos seus diferentes componentes e subsistemas e deve ser entendido como um sistema complexo e, como tal, seu estudo pode ser fundamentado, em termos conceituais e epistemológicos, nas contribuições da Teoria da Complexidade e do Realismo Crítico. A abordagem da complexidade considera que os sistemas complexos são estruturas dissipativas que estão relacionadas com dissipação de energia. A estrutura dissipativa, para manter-se organizada, depende de um aporte constante de energia. Isto remete à segunda lei da termodinâmica, que trata da entropia, entendida como um processo termodinâmico em que parte da energia não é transformada em trabalho e, dessa maneira, se dissipa. Porém, esta “perda de energia” não implica sempre degradação dos sistemas, pois estes possuem a capacidade de se auto-organizar, e esta capacidade de auto-organização tem origem nas transformações às quais a produção da entropia está associada. Tais processos de auto-organização atribuem às estruturas dissipativas um comportamento imprevisível, pelo fato de ocorrerem, ao longo de suas trajetórias, acontecimentos (não previstos) que podem alterá-las, fenômeno conhecido como ponto de bifurcação. Sendo a sociedade humana também um sistema complexo, é importante analisar as condições materiais de existência para que se possa compreender a evolução desses sistemas (SILVA NETO et al, 2007).

Consistindo a ADSA numa observação da realidade, é importante frisar que, devido à complexidade do que é observado e das limitações da mente humana, nenhuma realidade pode ser explicada apenas a partir do que pode ser diretamente observado. Por isso, as contribuições do realismo crítico são referências importantes para fundamentar a metodologia utilizada neste estudo, a partir da ADSA. O Realismo Crítico pressupõe a estratificação da realidade nas esferas empírica, efetiva e real. A esfera empírica da realidade corresponde ao que é diretamente observável por meio dos sentidos. Já a esfera efetiva da realidade representa os fenômenos ou eventos em si, os quais não necessariamente são diretamente observáveis por meio dos sentidos, mas que se constituem no objeto comumente analisado pela ciência. A esfera real da realidade, por fim, corresponde aos mecanismos, estruturas, poderes, tendências que explicam ou causam os fenômenos estudados.

Para o Realismo Crítico, então, os processos e mecanismos causais (esfera real) subjacentes ao empírico e ao efetivo constituem-se em componentes da própria realidade. A apreensão desses processos e mecanismos é o objeto por excelência da atividade científica (SILVA NETO et al, 2007).

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1.2 Sistemas de produção

Na região de Três de Maio, a partir de meados dos anos 80, uma das reações por parte dos agricultores para fazer frente à situação de dificuldade de garantir a sua reprodução foi uma progressiva reorientação dos seus sistemas de produção para a pecuária de leite, cujo potencial de aumento do valor agregado por superfície é maior do que a produção de grãos (SILVA NETO; BASSO, 2005).

O sistema de produção é a combinação das produções e dos fatores de produção (terra e capital de exploração) na unidade de produção agrícola. Segundo Dufumier (2007), na escala de um estabelecimento agrícola, o sistema de produção pode ser definido como uma combinação (no tempo e no espaço) dos recursos disponíveis para a obtenção das produções: vegetais e animais. Ele pode também ser concebido como uma combinação, mais ou menos coerente, de diversos sistemas produtivos de cultivo e de criação.

Sistemas de cultivo

A unidade de produção agropecuária é dividida em parcelas, que são exploradas segundo a racionalidade do agricultor. O sistema de cultivo é entendido pela natureza das culturas e sua ordem de sucessão e pelos itinerários técnicos aplicados a essas diferentes culturas. Numa unidade de produção, podem ser encontrados um ou mais sistemas de cultivo.

Sistema de criação

O sistema de criação pode ser entendido como o conjunto de técnicas aplicadas sucessivamente e de forma combinada a um conjunto de animais de uma mesma espécie destinada à produção de um ou mais tipos de produtos de interesse comercial e/ou para consumo de subsistência. O sistema de criação pode ser formado por uma ou mais espécies.

Um sistema de produção pode ser especializado, dedicando-se apenas a sistemas de cultivos ou sistemas de criação. Pode, também, combinar culturas e criações, com uma parte da área destinada a pastagens e outra parte destinada à produção, a outras formas de cultivo.

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1.3 Tipologia dos sistemas de produção agropecuários

A tecnologia dos sistemas de produção agropecuária tem por objetivo agrupar as unidades de produção agropecuária em tipos, em função da análise realizada na etapa anterior, relacionada aos processos de evolução e diferenciação. A tipologia procura agrupar as unidades de produção de um sistema agrário segundo as diferentes formas de organização da produção (sistemas de produção) adotadas pelos agricultores para assegurar a sua reprodução social (viabilidade) ao longo do tempo. Segundo Basso, Delgado e Silva Neto (2003), uma tipologia consiste no agrupamento das unidades de produção de um sistema agrário segundo os grandes tipos de agricultares e dos sistemas de produção que estes praticam.

A análise de situação, visando a identificar suas possibilidades de desenvolvimento, implica considerar a unidade de produção agropecuária como objeto de observação e análise privilegiado, por ser neste o local que se realiza a atividade produtiva, e por ser esta a base para qualquer proposta de intervenção (SILVA NETO et al, 2007).

O estudo realizado por Silva Neto et al (2007) na região de Três de Maio permitiu identificar uma diversidade significativa entre os agricultores. Somente no segmento da agricultura familiar, houve a classificação em três categorias de agricultores segundo, fundamentalmente, a natureza do capital empregado, quais sejam: agricultores que utilizam a tração animal; agricultores que usam a tração simples; e agricultores que utilizam tração mecanizada completa. Em cada uma dessas categorias, foram identificados quatro tipos de agricultores em função de diferentes combinações das atividades que desenvolvem.

1.4 Análise-diagnóstico de sistemas agrários

O método baseia-se em passos progressivos, partindo do geral para o particular. Iniciou-se pelos níveis de análise mais gerais e evoluiu-se para os níveis mais específicos e para os fenômenos particulares. Assim constrói-se progressivamente uma síntese, cada vez mais aprofundada, da realidade observada. A busca da explicação e não somente da descrição dos fenômenos observados deve ser uma preocupação constante.

Devido à diversidade das realidades agrárias, é necessário recorrer à estratificação dessas realidades, estabelecendo grupos homogêneos. Não basta estudar cada uma das partes

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ou dos fenômenos da realidade agrária que se quer conhecer; é necessário entender as relações entre as partes e entre os fatos ecológicos, técnicos e socioeconômicos.

A realização de uma análise-diagnóstico de sistemas agrários envolve procedimentos específicos em cada uma das etapas do estudo. As etapas e os procedimentos metodológicos são explicitados na sequência.

1.4.1 Entrevistas Técnicas

As técnicas utilizadas na pesquisa foram de entrevistas não estruturadas, a revisão e pesquisa bibliográfica, a de observação e a estratificação de tamanho de propriedade e análise das atividades econômicas dos valores agregados e renda rurais.

Após analise gerais das propriedades rurais, definiu-se o numero de seis para analise mais detalhada, permitindo a comparação de propriedades leiteiras com diferentes tamanhos de áreas, que estivesse associada a outras atividades de produção, como grãos, suínos, fumo, além de outra que só trabalhasse com leite e finalizando na comparação com a produção apenas de grãos.

1.4.2 Entrevistas para análise de desempenho econômico e sistemas de gestão

A análise econômica dos sistemas de produção é uma etapa importante do diagnóstico. Inicialmente, através de conversas e observações gerais com produtores rurais do município e da região, buscou-se perceber e analisar as formas como esses produtores realizam suas atividades, os fatores que motivam aplicação de tecnologia, a utilização de formas de gestão, entre outros itens, que envolvem as atividades rurais.

Aplicação de uma modelagem econômica dos sistemas de produção torna-se importante para analisar o valor agregado ou o quanto essas propriedades estão produzindo de riqueza. Assim, poder-se-á verificar quanto cada unidade de produção está contribuindo para compor a renda dos agricultores, em de cada tipo de modelos dos sistemas de produção construídos a partir dos sistemas referidos anteriormente (sistemas de cultivo e de criação).

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Torna-se necessário observar o potencial de multiplicação de cada sistema para entender e auxiliar as demais unidades familiares. Observar quais as maiores possibilidades que elas têm de permanência no meio em que estão vivendo, para que possam manter-se viáveis e assim sustentar um maior período. Nesse momento, optou-se por definir algumas propriedades que possuíssem algumas características e sistemas de produção, para aprofundar o estudo.

A análise econômica dos sistemas de produção é realizada a partir da elaboração dos modelos do valor agregado (VA) e da renda agropecuária (RA).

O valor agregado de um sistema de produção é definido como: VA = PB - CI – D

Onde:

VA = Valor Agregado;

PB = Produção Bruta (corresponde ao valor da produção física);

CI = Consumo Intermediário (corresponde ao consumo de bens e serviços durante o ciclo de produção);

D = Depreciações de máquinas/equipamentos e instalações (em um ano agrícola).

A partir da distribuição do valor agregado, é calculada, para cada sistema de produção, a renda dos agricultores, a qual é definida como:

RA = VA - J - S - T – I Onde:

RA = Renda Agropecuária; VA = Valor Agregado;

J = Juros pagos aos bancos (ou outro agente financeiro); S = Salários;

T = Arrendamentos pagos aos proprietários da terra; I = Impostos e taxas pagas ao Estado.

A partir do cálculo do valor agregado e da renda produzidos por cada sistema de produção, podem ser elaborados dois tipos de modelos lineares. Um modelo do valor agregado ou renda global do sistema de produção, que possibilita identificar os tipos de

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agricultores com maiores dificuldades de se manter na atividade agrícola, através da análise da renda agrícola por unidade de trabalhador familiar (RA/UTf) com o Nível de Reprodução Social (NRS) equivalente à renda mínima para assegurar o desenvolvimento das unidades de produção e consumo dos agricultores. E outro modelo da composição da renda produzida pelo sistema de produção a partir da discriminação das atividades ou subsistemas de cultura ou de criação desenvolvidas, que possibilitam identificar, para cada tipo de agricultor, as atividades que geram mais renda por unidade de superfície (contribuição marginal), assim como as necessidades de capital fixo para a sua implantação.

Posteriormente, procedeu-se a um levantamento de como os produtores estão utilizando as ferramentas de gestão, que sistema gerencial utilizam para a condução de suas atividades, a forma administrativa com que conduzem as propriedades, a forma de planejar as operações a serem desenvolvidas a curto, médio e longo prazos. Análise de que ferramentas estão sendo utilizadas no processo de controle das questões técnicas e operacionais, bem como o levantamento de custos envolvidos em todas as atividades. Entender, de um modo geral, que importância os produtores dão à gestão dos seus negócios, que impacto isso tem sobre o desenvolvimento da sua propriedade e quanto contribui na sua reprodução social.

Na sequência, foi realizada análise dos tipos de ações técnicas que as unidades de produção estão utilizando; que forma de assistência técnica recebem; quais os modelos de orientação tecnológica, se os adotados pela empresa que vende ou compra o insumos, ou se voltados para maximizar os resultados dos recursos disponíveis, contribuirá para melhor entender e montar modelos adequados de assistência que poderão se trabalhados por profissionais da área técnica.

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2 DESENVOLVIMENTO E O PROCESSO DE GESTÃO NAS ORGANIZAÇÕES RURAIS

Neste capítulo, procura-se resgatar contribuições teóricas para contextualizar dois temas centrais do estudo. O primeiro envolve as questões relacionadas ao processo de desenvolvimento e como este processo se materializa no meio rural; o segundo, é o que trata do processo de gestão dos estabelecimentos agropecuários.

2.1 Desenvolvimento e sua materialização no meio rural

Os seres humanos têm algumas necessidades básicas para sua sobrevivência, denominadas de necessidades fisiológicas, como a alimentação, a vestimenta, a moradia, entre outros aspectos ligados à saúde do corpo. A necessidade de segurança e a de ser parte de uma sociedade também são indispensáveis para o ser humano estar pleno e autorrealizar-se.

Sen (2000) define como desenvolvimento: é o aumento da capacidade de os indivíduos fazerem escolhas. É esta visão do desenvolvimento que o faz exigir uma definição positiva de liberdade: liberdade não é apenas a ausência de restrições, o direito abstrato de ir, vir, comprar, vender, amar e ser amado. A liberdade – e, portanto, o desenvolvimento - não podem ser pensados fora das condições concretas de seu exercício.

Não basta que a lei garanta certos direitos: o essencial é que os indivíduos tenham as capacidades, as qualificações, as prerrogativas de se deslocar, de participar dos mercados e de estabelecer relações humanas que enriqueçam sua existência.

Basso (2004) explica que as pessoas e famílias rurais tendem a compor aquelas estratégias de vida ou de reprodução que: - sejam mais consistentes com o rol de ativos que

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controlam num determinado momento; - reflitam suas aspirações mais imediatas, mas também aquelas de médio e de longo prazo; - pareçam ser as mais viáveis em função das oportunidades e restrições impostas pelas circunstâncias econômicas do contexto em que vivem. Torna-se evidente que os produtores rurais buscam constantemente alcançar alguns quesitos que julgam necessários para manutenção da qualidade de vida, e associando a possibilidade de aumentar ou acumular maiores patrimônios.

A necessidade de o agricultor familiar na região Noroeste do RS consolidar a atividade leiteira é decisiva não apenas por representar uma fonte regular de leite, mas em especial pela amplitude em termos de mercado. Porém, no relato de Silva Neto e Basso (2005), observa-se um declínio nos volumes produzidos pelos agricultores familiares nos anos 90, indicando a inviabilidade de muitos produtores pela pequena escala, visto que a agroindústria propõe um sistema que concentra a produção e, por conseguinte, a renda, com consequências negativas sobre o desenvolvimento.

Abramovy (2009) refere que continua imensa a distância entre a profissão de fé no potencial de desenvolvimento embutido no meio rural e a materialização deste potencial em políticas públicas e conquistas sociais efetivas, por maiores que tenham sido os avanços recentes neste sentido.

O desenvolvimento pode ser encarado como um processo de alargamento das liberdades reais de que uma pessoa goza. A tônica das liberdades humanas contrasta com perspectivas mais restritas de desenvolvimento que se identificam com o crescimento do produto interno bruto, com aumento das receitas pessoais, com a industrialização, com o progresso tecnológico, com modernização social.

Segundo Sen (2000, p. 48), “Afinal, de que adianta um modelo de desenvolvimento baseado na riqueza econômica se isto não se reflete na melhoria das condições de vida das pessoas?” Este questionamento se torna claro no ambiente rural, onde ocorre um grande empenho dos agricultores na realização das atividades, nos trabalhos para melhorar os processos produtivos, com objetivo de atingir a condição ideal de qualidade de vida.

Ainda, para Sen (2000), essas distorções apontam para um novo modelo de desenvolvimento, baseado na expansão das melhorias das condições de vida das pessoas. Para

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o autor, o desenvolvimento pode ser visto como um processo de expansão das liberdades das pessoas. O desenvolvimento como expansão de liberdades substantivas chama atenção para os fins em vez de restringi-las aos meios que desempenham um papel importante no processo. Nessa abordagem, a expansão da liberdade é considerada o fim primordial (papel constitutivo) e o principal meio do desenvolvimento (papel instrumental).

Abramovay (2009) expõe que o maior desafio que têm pela frente as forças capazes de levar adiante um pacto de desenvolvimento territorial consiste na mudança do ambiente educacional existente no meio rural. Os projetos de desenvolvimento terão mais chances de sucesso quanto mais forem capazes de extrapolar um único setor profissional. Não apenas as questões técnicas da produção trabalhada pelos profissionais técnicos, mas dotá-los de prerrogativas de setores da educação, da formação, do crédito, da informação.

O papel constitutivo relaciona-se com a importância das liberdades substantivas no enriquecimento da vida humana. As liberdades substantivas incluem capacidades elementares, como ter condições de evitar a fome, a subnutrição, a morbidez e a morte prematura, além de saber ler e fazer cálculos aritméticos, ter participação política e liberdade de expressão etc.

O desenvolvimento supõe que se removam as principais fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância ou interferência excessiva de Estados repressivos.

A dificuldade de alcançar esses níveis de desenvolvimento no meio rural, assim como em outros meios, torna-se evidente e com tendência a não concretização dos mesmos, em função de questões diversas.

O desenvolvimento sustentável e suas dimensões têm relação com o meio. A busca de alternativas, perante os efeitos excludentes do capitalismo, a partir de teorias e experiências baseadas na associação econômica entre iguais e na propriedade solidária, não é uma tarefa simples (SANTOS, 2002). O pensamento associativista e a prática cooperativa desenvolveram-se como alternativas tanto no individualismo liberal quanto no socialismo centralizado, sendo as cooperativas tão antigas quanto a capitalismo industrial. Como prática

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econômica, o cooperativismo inspira-se nos valores da autonomia, da democracia participativa, da igualdade, da equidade e da solidariedade.

Segundo Kageyama (2008), as áreas rurais podem ser associadas como um local de isolamento, com maior dificuldade de acesso ou contatos, devido à baixa densidade populacional e à maior distância entre as unidades produtivas, entre os agentes e os mercados.

As áreas rurais, para Wiggins e Proctor (2001 apud KAGEYAMA, 2008), constituem o espaço no qual assentamentos humanos e infraestrutura ocupam somente pequenas manchas da paisagem, cuja maior parte é dominada por campos e pastagens, bosques e florestas, água, montanhas e desertos.

A visão tradicional atribui a ruralidade três características: são espaços de baixa densidade populacional, em que a população se ocupa de atividades agrícolas e vive em situação de atraso material e cultural. A origem dessa visão é uma dicotomia que opõe o tradicional, representado pelo campo, pelo agrícola e pelo rural, ao moderno representado pela cidade, pela industria e pelo urbano. Essa situação tem por consequência lógica a inevitável migração da população rural para as cidades. (GOMES, 2001 apud KAGEYAMA, 2008, p. 19-20).

No entanto, com as transformações tecnológicas e a modernização agrícola nos países mais avançados, surge um novo conceito para o rural. Wanderley (2000 apud KAGEYAMA, 2008) destaca algumas características desse novo conceito:

a) a diversificação social, na medida em que o rural se torna atrativo para as categorias sociais de origem urbana, seja com fins produtivos (descentralização econômica), seja com fins residenciais (aposentados e outras categorias), seja com fins preservacionistas;

b) o estabelecimento de relações de complementaridade com o urbano, em substituição ao caráter de antagonismo;

c) o crescimento demográfico, pela redução das migrações para a cidade e atração de outras categorias sociais;

d) a “modernização rural”, pela elevação das rendas e pela extensão ao rural do acesso às facilidades e conforto proporcionados por produtos e serviços que antes eram privilégios das cidades;

e) a valorização dos patrimônios natural e cultural das localidades que passam a ser percebidas como fonte de desenvolvimento local, emprego e renda para a população rural;

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f) os novos papéis dos agricultores, que passam a ser “agricultores territoriais”. Entre as novas exigências do desenvolvimento rural estão a oferta de empregos para a população rural, a segurança alimentar e a garantia de qualidade dos produtos, bem como a proteção ambiental. Os agricultores deverão contribuir ainda para a construção e fixação das paisagens rurais e para a guarda e reprodução das tradições culturais, estendendo suas atividades para além do núcleo produtivo agrícola, tornando-se polivalentes e pluriativos.

A chave do desenvolvimento rural, para Murdoch e Marsden (1994 apud KAGEYAMA, 2008), está numa mudança do uso da terra. Vários fatores (as demandas sociais, as políticas de reconversão do uso da terra, o fato de o capital fixar-se na terra) podem produzir uma série de mercados segmentados de uso da terra, orientados a diferentes setores de produção e consumo (atividades agrícolas, pecuária, pesca e florestal, recreação, residência, indústrias) que se descentralizam. O peso de cada um desses mercados vai mudando e reconfigurando e desenvolvimento rural, e o espaço rural transforma-se numa “multiplicidade de espaços” no interior de uma mesma área geográfica, cada um com a sua lógica, suas instituições e suas redes de atores sociais.

O desenvolvimento rural no Brasil adquiriu mais força a partir da década de 1990. Conforme Schneider (2007 apud KAGEYAMA, 2008), isso se deve ao fato de o Estado e as políticas públicas passarem a contribuir com a orientação de estudos sobre o desenvolvimento rural. O fortalecimento das discussões sobre a agricultura familiar e o crescimento desta como categoria política, ligada aos movimentos sindicais dos trabalhadores rurais, foram fator-chave para a crescente influência do Estado no meio rural pelas políticas para a agricultura familiar (PRONAF), reforma agrária, segurança alimentar, os assentamentos e as ações de apoio à agricultura familiar. Da mesma forma, a sustentabilidade ambiental veio contribuir para o desenvolvimento rural no Brasil.

2.2 Gestão da propriedade rural

O conceito clássico de administração compreende uma série de funções e atribuições que buscam, como objetivo final, o lucro (ANTUNES; ENGEL, 1999). Esta afirmação está presente em todos os tempos, e hoje está sendo adequada com a necessidade de controlar e gerenciar um número cada vez maior de atividades e variáveis que acontecem dentro e fora da propriedade.

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O entendimento do conceito de gestão rural é de extrema importância para ressaltar a necessidade de fazê-la da forma mais adequada no meio rural. Dalmazo e Albertoni (1992) destacam certo amadorismo nos trabalhos de gestão rural conduzidos no país. Argumentam, por um lado, que os agricultores sempre executaram a seu modo e de acordo com o seu grau de formação e de informação a administração de suas propriedades. Por outro lado, argumentam que valiosos instrumentos de gestão ainda não foram incorporados aos procedimentos normais dos agricultores e dos técnicos que atuam na atividade agrícola.

A administração eficiente de uma empresa rural pode ser entendida como a forma mais racional de se utilizarem os recursos físicos, financeiros, humanos e mercadológicos da propriedade a fim de se obter resultados compensadores e contínuos, conforme os objetivos do produtor. Conforme Hoffmann et al (1976), dada à diversidade das organizações rurais e a sua condição socioeconômica, os objetivos dos produtores podem ser os mais variados possíveis e, inclusive, se alterarem ao longo do tempo. Isso dificulta uma sistematização ou generalização do processo administrativo para diferentes produtores rurais, exigindo esforços no sentido de realizar a tipificação dos produtores para minimizar esse problema. Assim, as funções de planejamento, organização, direção e controle, que em conjunto formam o processo administrativo, devem ser analisadas com o devido cuidado, conferindo à administração rural características mistas de “ciência”, “técnica” e “arte”.

A administração rural é um dos programas fundamentais, já destacado por muitos estudos que buscam desenvolver a melhor forma de aplicá-los aos maiores interessados, que são os agricultores familiares. Porém, é necessário dispor de metodologia e de estratégias adequadas para ser desenvolvido e para que a atividade ocorra da melhor forma possível.

De acordo com Lima et al (2005), é necessário pensar estratégias, métodos e conteúdos adequados à problemática administrativa dos produtores familiares. É indispensável reconhecer e compreender as particularidades da atividade administrativa nesse tipo de produção. Somente a partir disso se justificam e se fundamentam ações específicas para as unidades familiares.

Muitos fatores estão imbricados para que se possa entender a natureza da atividade administrativa. Lima et al (2005) afirmam que, dentre esses fatores, estão as desigualdades das condições econômicas e sociais de produção, típicas do desenvolvimento capitalista da

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agricultura, que geram formas de organização da produção diferenciadas. A racionalidade da atividade administrativa é tributária das condições sociais e econômicas que se verificam em cada tempo e lugar. Ela é contingente e situacional.

A racionalidade da atividade administrativa é o conjunto de conhecimentos usados para planejar e gerenciar as atividades de propriedades rurais e agroindustriais, visando ao desenvolvimento rural sustentável. A administração rural passa por várias modificações estruturais e comportamentais frente à nova ordem mundial de globalização, consumindo conceitos antigos e reconhecendo suas teorias na busca do aperfeiçoamento organizacional para a empresa rural.

No Brasil, o desenvolvimento teórico e prático, segundo Lima et al (2005), tem como base duas estruturas: o ramo da economia rural e a ciência administrativa. A primeira abordagem é representada basicamente pela obra de Hoffmann et al (1976). Segundo os autores, a administração rural estuda a organização e a administração de uma empresa agrícola, visando ao uso mais eficiente dos recursos para obter resultados mais compensadores e contínuos. A segunda abordagem preocupa-se com a análise dos aspectos inerentes à empresa rural e suas inter-relações com o meio ambiente, buscando contemplar os diferentes elementos do processo administrativo, todas as áreas e os níveis hierárquicos da empresa e o seu relacionamento com o meio ambiente.

Para Lima et al (2005), o processo de produção na agricultura condiciona a atividade administrativa nas organizações rurais, conferindo a estas outras características. Em função disso, postula-se a necessidade de adaptação ao meio rural dos princípios e métodos administrativos concebidos nas atividades industriais e comerciais, bem como o emprego de uma abordagem sistêmica no exame dos problemas práticos e científicos na área de administração rural.

2.2.1 Diagnóstico da propriedade rural

O diagnóstico ou inventário da propriedade é a primeira fase para se realizar o planejamento. Para PERES (2009) o diagnóstico é composto de três partes: - a descrição dos estoques de capitais ou dos fatores primários de produção que a empresa/instituição controla ou possui; a viabilidade de longo prazo da instituição, que contempla uma análise econômica

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e outra financeira e indicam se a empresa/instituição tem viabilidade no longo prazo; e - a contribuição das atividades para a viabilidade de longo prazo da empresa, que identifica a(s) atividade(s) que contribuem mais ou positivamente para o resultado econômico e aquela(s) que contribuem menos ou negativamente para o resultado. O diagnóstico corresponde a um retrato atual da empresa, independente do que se pretende com o plano de negócio, ou projeto propriamente dito. Daí sua utilidade na elaboração do planejamento estratégico da empresa. De fato, o planejamento estratégico inicia-se com a análise dos ambientes interno e externo da empresa/instituição e requer todos os dados do diagnóstico.

O diagnóstico da empresa é composto de três partes: a descrição dos capitais que a empresa controla; a análise das viabilidades econômica de longo prazo e financeira da empresa; e a decomposição da contribuição de cada uma das atividades que compõem o portfólio da empresa para sua rentabilidade econômica. O diagnóstico fornece, portanto, um retrato da situação atual da empresa. Esse retrato é fundamental para a elaboração do plano estratégico, que definirá o plano de negócio, que compõe a segunda parte desta obra.

Antes da descrição dos capitais, é necessário esclarecer o conceito de empresa aqui utilizado. Empresa é um conjunto de estoques de capitais, controlados por uma entidade – uma pessoa, uma família ou uma pessoa jurídica – que transforma insumos comprados de outras empresas em produtos ou serviços a serem comercializados nos mercados ou, em alguns casos, consumidos pelos recursos humanos da empresa. Esta definição ampla abriga desde pequenas propriedades familiares com maior ou nenhum grau de produção para a própria subsistência, inclusive o caso de famílias de parceiros, que trabalham em terras arrendadas, até as maiores empresas organizadas como sociedade anônima ou sociedade por cotas limitadas (PERES et al, 2009).

Segundo Antunes (1999, p. 14), “O gestor, para atingir os objetivos da propriedade, deve levar em consideração as funções básicas da administração”. Estas são quatro:

Planejamento – é a organização e distribuição dos recursos produtivos no tempo e no espaço. Envolve a definição de objetivos, a definição de programas e procedimentos necessários para atingi-los, a tomada de decisões sobre os acontecimentos, e a escolha de alternativas possíveis ao negócio que está sendo desenvolvido.

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Algumas ferramentas são utilizadas no processo de planejamento da empresa rural, entre elas destacam-se os fluxos de trabalho. O fluxograma é o processo de definição de atividades a serem desenvolvidas por cada pessoa, o fluxo de caixa para orçamentos de entradas e saídas de recursos financeiros da propriedade, plano de ações a serem desenvolvidas na propriedade, estabelecimento de indicadores, entre outras ferramentas que podem ser utilizadas no processo de planejamento de uma empresa rural (SEBRAE, 2006).

Acredita-se, na administração moderna, que um elemento fundamental na motivação das pessoas para terem desempenhos satisfatórios na empresa é a sua participação na gestão estratégica da instituição. Segundo Canziani (2001), quando as decisões estratégicas são tomadas com a aquiescência dos executores, os processos produtivos fluem com muito mais eficiência e com menores custos, porque as pessoas querem conhecer e aferir os riscos associados aos processos em que estão envolvidos. Elas podem colaborar para aumentar a eficiência da empresa quando, efetivamente, “vestem a camisa” da mesma (PERES et al, 2009). De fato, uma empresa bem administrada é a que consegue cooptar todos os seus recursos humanos no sentido da sua colaboração para que os objetivos estratégicos sejam atingidos. Isso só pode ser conseguido quando há transparência de metas e objetivos gerais, com a correspondente delegação de decisões.

A partir do retrato da propriedade, elaborado com os dados levantados e com os elementos do diagnóstico, o próximo passo, no correto desempenho da função de planejamento das empresas, corresponde à análise explicitada sobre como ela está desempenhando o papel que se espera dela. Em primeiro lugar, é necessário identificar quem espera que a empresa cumpra certos papéis; em segundo, deve-se explicitar quais são os papéis que dela se espera. Em seguida, é preciso determinar como ela está cumprindo os papéis e o que precisa ser feito para que ela os desempenhe da melhor forma possível. É conveniente lembrar que existem elementos de circularidade na ordem de estabelecimento do plano estratégico e dos planos de negócios.

Idealmente, os planos de negócio, ou projetos propriamente ditos, derivam de metas que são os elementos comuns aos planos estratégicos e operacionais. Na prática, há certa circularidade no planejamento e no desenvolvimento de um plano de negócios, e pode ser necessário o ajuste do plano estratégico à medida que se elabora o projeto.

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Segundo Peres et al (2009), pelo menos dois grupos de indivíduos estão diretamente interessados no desempenho das empresas rurais. O de maior visibilidade é formado por elementos envolvidos diretamente com o negócio: - as famílias dos acionistas, em geral dos próprios empresários, as dos trabalhadores da empresa, os fornecedores de insumos e serviços para a empresa e os compradores dos seus produtos. O segundo é formado por todas as pessoas afetadas pelos mercados nos quais a empresa atua: a) outras empresas do mesmo negócio ou da cadeia do agronegócio da qual ela faz parte, principalmente das concorrentes, mas também daquelas com as quais ela coopera para atingir as escalas mínimas requeridas pelos negócios modernos; b) os consumidores dos produtos finais da cadeia agroindustrial da qual a empresa participa; c) os diversos órgãos de governo que zelam pelo abastecimento da população e pela preservação dos recursos naturais; e d) os organismos não governamentais da sociedade civil que tem interesses ligados aos mercados nas quais a empresa atua. Esses dois grupos de indivíduos são chamados de stakeholders, já que não há um termo consagrado, em português, para expressá-los.

Assim, no processo de definição dos planos da propriedade, é necessário que os envolvidos sejam ordenados segundo sua importância, e que seus objetivos sejam claramente explicitados. O plano estratégico trata, portanto, de deixar claros os objetivos de mais alto nível dos stakeholders, mais importantes, para, em seguida, escolher as estratégias necessárias para atingi-los. O que são estratégias?

O termo estratégia é fundamentalmente militar. Talvez por isso mesmo tenha dado tão certo no mundo dos negócios, já que a competição pela sobrevivência e pelo crescimento da empresa no ambiente dos mercados lembra muito uma situação de guerra. Só os mais aptos sobrevivem e crescem; os menos aptos tendem a perecer e desaparecer (PERES et al., 2009).

De fato, os mercados são extensões da lei geral que rege a relação entre as espécies, a qual foi magistralmente entendida por Charles Darwin e publicada em seu famoso livro sobre as origens e lutas pela sobrevivência das espécies. Apesar da cultura, traço específico do homem, permitir à humanidade incorporar alguns valores que consideram éticos, não submetendo a espécie a todas as limitações que a luta pela vida impõe às outras, os mercados são as formas criadas, espontaneamente, pelas sociedades para acomodar os impulsos dos indivíduos na consecução de seus objetivos de consumo. Estratégias empresariais são,

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portanto, caminhos de ação, aceitos pelas regras legais e morais da sociedade, e que servem para garantir a sobrevivência e o crescimento das empresas.

Organização - envolve a enumeração das atividades necessárias para alcançar os objetivos, estabelecer formas para utilização adequada de todos os fatores envolvidos, ajustando cada item no processo produtivo de forma adequada às suas capacidades e dimensões. Exemplo: locais de trabalho e sede da propriedades (SENAR, 2010).

Direção - envolve a orientação e a supervisão das pessoas envolvidas, motivando e guiando seus acompanhados. A orientação deve estar fundamentada na comunicação clara para a transição das informações. Deve ser motivadora para impulsionar as pessoas a agirem proativamente e com liderança exercida, de forma a canalizar no sentido do resultado cada propriedade (SENAR, 2010).

Controle – mede o desempenho, corrige desvios negativos e assegura a realização dos planos. Somente é possível controlar aquilo que se pode medir. A aplicação de ferramentas de controle operacionais, gerenciais de orientação básicas, como anotações de utilização de insumos, controle de uso de máquinas e equipamentos, controles de produção, fluxo de entrada de dinheiro trarão resultados para a propriedade rural (SENAR, 2010).

A administração rural sofreu influências de formas de administração moderna, como a estratégia corporativa, que apresentou grande desenvolvimento, principalmente a partir da década de 1980 com o fenômeno da reestruturação empresarial – “conjunto amplo de decisões e de ações, com dimensão organizacional, financeira e de portfólio” (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2000, p. 60).

2.2.2 Áreas de gestão da propriedade rural

Para Souza et al (1995), a complexidade das propriedades rurais acentua-se à medida que são analisados os pontos de vista internos, (ligados à tecnologia, à estrutura, aos objetivos etc.) e os pontos de vista externos (relacionados a políticas econômicas, mercado etc.). Associadas a isso existem as variáveis climáticas que interferem diretamente na questão gerencial, por serem as atividades conduzidas, na sua maioria, a céu aberto.

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