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Dados governamentais abertos como instrumento de fortalecimento e atualização da participação societal

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Academic year: 2021

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DEPARTAMENTO DE DIREITO CURSO DE DIREITO

Ana Luíza Berti

DADOS GOVERNAMENTAIS ABERTOS COMO INSTRUMENTO DE FORTALECIMENTO E ATUALIZAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO SOCIETAL

Florianópolis 2020

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DADOS GOVERNAMENTAIS ABERTOS COMO INSTRUMENTO DE FORTALECIMENTO E ATUALIZAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO SOCIETAL

Trabalho Conclusão do Curso de Graduação em Direito do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do Título de Bacharela em Direito

Orientador: Prof. Dr. Luiz Henrique Urquhart Cademartori

Coorientador: Me. Daniel Rocha Chaves

Florianópolis 2020

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Ficha de identificação da obra elaborada pela autora, através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Berti, Ana Luíza

DADOS GOVERNAMENTAIS ABERTOS COMO INSTRUMENTO DE FORTALECIMENTO E ATUALIZAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO SOCIETAL / Ana Luíza Berti ; orientador, Luiz Henrique Urquhart Cademartori, coorientador, Daniel Rocha Chaves, 2020.

90 p.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Jurídicas, Graduação em Direito, Florianópolis, 2020.

Inclui referências.

1. Direito. 2. Dados Governamentais Abertos. 3. Democracia. 4. Participação. I. Urquhart Cademartori, Luiz Henrique . II. Rocha Chaves, Daniel. III. Universidade Federal de Santa Catarina. Graduação em Direito. IV. Título.

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CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

COLEGIADO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

TERMO DE APROVAÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado “DADOS

GOVERNAMENTAIS COMO INSTRUMENTO DE FORTALECIMENTO E

ATUALIZAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO SOCIETAL

” elaborado pela acadêmica Ana Luíza Berti, defendido em 11/12/2020 e aprovado pela Banca Examinadora composta pelos membros abaixo assinados, obteve aprovação com nota 10 (dez), cumprindo o requisito legal previsto no art. 10 da Resolução nº 09/2004/CES/CNE, regulamentado pela Universidade Federal de Santa Catarina, através da Resolução nº 01/CCGD/CCJ/2014.

Florianópolis, 15 de dezembro de 2020

Luiz Henrique Urquhart Cademartori

Professor Orientador

Daniel Rocha Chaves

Coorientador

Victor A. de Menezes

Membro da Banca

Bernardo Lajus

Membro da Banca

DANIEL ROCHA CHAVES:02329788320

Assinado de forma digital por DANIEL ROCHA CHAVES:02329788320

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Centro de Ciências Jurídicas

COORDENADORIA DO CURSO DE DIREITO

TERMO DE RESPONSABILIDADE PELO INEDITISMO DO TCC E

ORIENTAÇÃO IDEOLÓGICA

Aluno(a): Ana Luíza Berti

RG: 5.527.566

CPF: 081.843.339-60

Matrícula: 15204724

Título do TCC: Dados governamentais abertos como instrumento de

fortalecimento e atualização da participação societal

Orientador(a): Luiz Henrique Urquhart Cademartori

Eu, Ana Luíza Berti, acima qualificado(a); venho, pelo presente termo, assumir

integral responsabilidade pela originalidade e conteúdo ideológico apresentado

no TCC de minha autoria, acima referido

Florianópolis, 18 de dezembro de 2020.

________________________________________________

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À minha avó Zita (in memoriam), cujo apoio foi fundamental nesta jornada

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente àqueles que foram fundamentais na elaboração deste trabalho, Prof. Dr. Luiz Henrique Urquhart Cademartori, meu querido orientador que desde as aulas na graduação despertou profunda admiração pelo conhecimento e didática incríveis, e Daniel Rocha Chaves, essencial coorientador. Sem o seu incentivo e apoio não teria conseguido elaborar um trabalho do qual me orgulho tanto.

Seguem também os meus agradecimentos à banca, gentilmente composta por Juliana Goulart e Victor de Menezes. Obrigada por aceitarem o convite, por serem sempre tão disponíveis e por se fazerem presentes neste momento tão especial.

Aproveito do espaço para agradecer, também, a todos aqueles que trilharam a jornada da Graduação em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina comigo, e não poderia começar de outra forma senão agradecendo minha família. Me percebo enormemente abençoada por ter tantos motivos para agradecer e por ter recebido tanto amor durante toda a minha vida.

Desde que o sonho de cursar direito nesta instituição nasceu, tive apoio incondicional acreditaram em mim quando eu mesma não conseguia. Vocês me deram a força necessária para me aventurar sozinha longe de casa e mantiveram as portas e o coração abertos todas as vezes que precisei. Obrigada por me criarem com muitos sonhos e me instigarem a batalhar por cada um deles. Jamais conseguirei expressar toda a minha gratidão aos meus pais e meu irmão. Todos os momentos que não pude estar com vocês e senti saudade se recompensam no encerramento deste ciclo. Obrigada por tudo o que fizeram e continuam fazendo por mim. Ser motivo de orgulho para vocês é minha constante motivação.

Aos meus avós, agradeço por sempre demonstrarem apoio incondicional e imenso orgulho da minha jornada. Obrigada pelo amor e dedicação que depositaram em mim desde sempre. Um agradecimento especial à minha avó Zita, que infelizmente não pode estar aqui para me ver concretizar este sonho que ela particularmente sonhou comigo e me incentivou desde pequena. Obrigada por dedicar tanto tempo e amor na minha educação e principalmente por ter me ensinado, desde pequena, a buscar o meu espaço e a não me deixar ser limitada por nada nem ninguém. Você segue comigo.

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À toda minha grande família, especialmente meus tios, tias, primos e primas, meu mais profundo agradecimento, vocês são minha fortaleza. Ao meu primo João Eduardo, gratidão por seu meu parceiro de vida e de faculdade, foi uma experiência incrível estar na mesma universidade que você e continuar aprendendo contigo.

Seria impossível mencionar aqui todas as pessoas incríveis que tive a benção de conhecer no decorrer do curso de direito. Encerro este ciclo com a certeza de que elas foram o meu maior ganho. A todos os amigos e amigas, minha gratidão e amor. Dentre estas pessoas que foram verdadeiros presentes, não poderia começar senão pelo meu namorado e parceiro de vida, Rafael. Gratidão infinita por todo o amor, carinho, cuidado, compreensão, força e por tudo mais que fizesse por mim. Você tornou a minha graduação (e minha vida) ainda mais especial e completa. Agradeço todos os dias por ter você comigo. Obrigada por me presentear com uma segunda família maravilhosa. Às suas avós, seus pais, sua madrinha, prima e irmã, meu sincero agradecimento pelo acolhimento, amor e apoio. Me sinto abençoada por ter vocês.

Às minhas parceiras de jornada, Carolina, Carla e Clara, agradeço por serem amigas incríveis, pelo colo e por todos os momentos compartilhados, amo e admiro cada uma de vocês. À minha dupla em todos os momentos, Bruna, gratidão por ser uma luz na minha vida e por alegrar todos os momentos, fosse a mais agradável surpresa. À minha irmã de alma, Alessandra, agradeço a conexão, carinho e amor. Todas vocês tornaram este caminho mais feliz, amoroso e cheio de aprendizados. Poder contar com mulheres fantásticas como vocês é um presente.

Aos amigos João Pedro, Felipe, Giancarlo, Paulo, Gabriel, obrigada pela parceria, por trazerem alegria e por terem construído tantas lindas memórias.

Agradeço imensamente à Locus Iuris e todo o seu time, uma extensão da minha família, que me acompanhou e moldou a pessoa e profissional que sou hoje. O desenvolvimento que tive nesta experiência foi exponencial. Espero que continuem crescendo e impactando vidas, formando jovens cada vez mais empreendedores e capazes de transformar realidades. Ao meu amigo Gianluca, um agradecimento especial por ter acreditado em mim e me impulsionado a assumir desafios, sua confiança foi fundamental para o meu crescimento. Às minhas amigas Driélly, Amanda, Camila, Júlia e Juliana, sou grata por ter conhecido vocês, por compartilhar tantos momentos especiais e aprender tanto. Admiro e amo cada uma de vocês.

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À Federação Catarinense das Empresas Juniores, minha gratidão pelos desafios, aprendizados e senso de propósito compartilhado. Ao Núcleo de Empreendedorismo, obrigada pela experiência única e engrandecedora. Um agradecimento muito especial aos meus amigos Gustavo e David. À Gustavo, por ser um verdadeiro amigo e por me permitir receber o amor que tens neste coração lindo. À David, por acreditar na minha capacidade e potencializá-la, também, por estar sempre disposto a ajudar e orientar. Vocês são exemplos de amigos e profissionais que levo para a vida toda.

Às minhas amigas/irmãs de infância e de toda a vida, Sabrina e Tayná, agradeço por me acompanharem e sonharem comigo. Vocês foram e são essenciais, com vocês eu sempre estive em casa. Foi lindo trilharmos esta jornada juntas. Tenho muito orgulho das mulheres e profissionais maravilhosas que assisti vocês se tornarem. Amo vocês sempre, obrigada por tudo. À Bruna, toda a gratidão pela irmandade sobretudo nestes anos, fosse um porto seguro, uma alegria, e me provou constantemente que o amor e a amizade não conhecem a distância. Amo você. À Vanessa, obrigada pela amizade, amor e carinho. Seguiremos juntas, como sempre. A todo o meu grupo de amigas e parceiras de Iporã, gratidão por serem motivo de alegria e celebração. Estar com vocês é estar em casa. Obrigada pelo espaço de sinceridade e trocas.

Aos meus amigos desde as primeiras séries, Lucas, Henrique, Weslley e Júlio, gratidão por serem parceiros, amigos e motivo de alegria e orgulho. Sou feliz por ter vocês comigo. Henrique, obrigada por ser parte da minha família há tantos anos e por nunca soltar minha mão.

Por último, mas não menos importante, minha sincera gratidão à Universidade Federal de Santa Catarina. O sonho que por muitos anos nutri de fazer parte desta instituição se realizou da mais bela forma. Foi uma verdadeira benção desfrutar de uma universidade cheia de vida, conhecimento, pessoas ímpares, professores exemplares, alunos diferenciados, iniciativas diversas e uma estrutura incrível. Sem dúvidas, saio uma melhor pessoa e profissional por conta das oportunidades que ali encontrei. Obrigada a todos que se dedicaram e dedicam a mantê-la uma referência. Espero um dia poder retornar ao menos uma parcela do que recebi.

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Democracy is the worst form of government, except for all those other forms that have been tried from time to time. (Winston Churchill, 1947).

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RESUMO

No desenvolver histórico das formas de governo, as informações desempenharam um papel estratégico que se mantém até hoje. Para a ideia de democracia, especialmente, o conhecimento e controle social acerca da res publica são importantes. No Brasil, os diferentes governos apresentaram relações diversas com o trato das informações, que podem ser analisadas através das mudanças constitucionais percebidas no país. Na atualidade, o acelerado avanço das Tecnologias de Comunicação e Informação e a amplamente discutida necessidade de se ampliar os mecanismos de participação societal se juntam num complexo contexto que exigem respostas em formas inovadoras de se unir, em uma proposta, a participação societal ao mundo conectado tecnologicamente. A partir do método dedutivo, propor-se-á o conceito de Dados Governamentais Abertos como forma de aumentar o controle e a participação pública no atual cenário da democracia e de avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação.

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Information had a strategical role in the historical development of the forms of government and that role continues nowadays. Especially in a democracy, the information and social control over the res publica are important. In Brazil, different governs have shown diverse forms of dealing with information and those can be

is observed, in which Information and Communication Technologies advance rapidly and the widely discussed need of a bigger societal participation both require innovative answers that can connect those challenges in one solution. The Open Government Data will be suggested, using the deductive method, as a form of raising public control and participation in the actual democracy and technological advance scenario.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Evolução do índice de democracia eleitoral (1900-2015) ... 47 Figura 2 Evolução dos demais componentes da democracia ... 48 Figura 3 Evolução dos indicadores do componente deliberativo... 50

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Projetos de Lei e Propostas de Emenda à Constituição: Pertinência Temática x Produção Total do Congresso Nacional ... 59

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CF Constituição Federal

DGA Dados Governamentais Abertos GA Governo Aberto

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística OP Orçamento Participativo

LAI Lei de Acesso à Informação STF Supremo Tribunal Federal

TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 15 1.1 OBJETIVO GERAL ... 17 1.1.1 Objetivos Específicos ... 17 1.1.1.1 Objetivo específico 1 ... 17 1.1.1.2 Objetivo específico 2 ... 17 1.1.1.3 Objetivo específico 3. ... 17

2 O SEGREDO DE ESTADO NA HISTÓRIA ... 18

2.1 O segredo para platão ... 18

2.2 O SEGREDO NA IDADE MÉDIA ... 19

2.3 A SEMENTE DA MUDANÇA O SEGREDO E O ILUMINISMO ... 20

2.4 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ... 25

3 A EVOLUÇÃO DO ESTADO DE DIREITO E DA DEMOCRACIA BRASILEIRA ... 28

3.1 A PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL ... 30

3.2 A PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA... 32

3.3 A CONSTITUIÇÃO DE 1934 ... 33

3.4 O ESTADO NOVO ... 34

3.5 A REDEMOCRATIZAÇÃO ... 35

3.6 A DITADURA MILITAR ... 37

3.7 A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ ... 38

3.7.1 A Assembleia Nacional Constituinte ... 40

3.8 BREVE ANÁLISE DE ÍNDICES DEMOCRÁTICOS NA HISTÓRIA BRASILEIRA ... ... 43

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3.9.1 A democracia participativa como forma de aproximar o representado

democratizando a democracia ... 56

4 DISPONIBILIZAÇÃO DE INFORMAÇÕES PÚBLICAS NO BRASIL ... 60

4.1 DADOS GOVERNAMENTAIS ABERTOS COMO INSTRUMENTO ... 64

4.1.1 Governo Aberto ... 67

4.1.2 Governo Eletrônico ... 68

4.2 DADOS GOVERNAMENTAIS ABERTOS ... 69

4.2.1 Dados Governamentais Abertos como instrumento para maior e mais atualizada participação societal ... 73

4.2.2 Estado da arte dos Dados Governamentais Abertos no Brasil ... 75

5 CONCLUSÃO ... 78

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1 INTRODUÇÃO

O trato das informações pelo governo ou governante é estratégico desde tempos remotos na história. O poder de divulgar ou não informações carrega, intrinsecamente, uma forma de influência.

O primeiro capítulo demonstra que historicamente esta influência foi exercida de diferentes formas e para atingir diferentes propósitos, desde o segredo completo nos tempos da monarquia para facilitar o controle da plebe até o mínimo segredo possível, nas democracias contemporâneas. O caminho entre o segredo como regra e o segredo como exceção certamente foi tortuoso, apesar de inevitável, ao passo que nascia e se desenvolvia um pensamento crítico acerca da res pública.

O segundo capítulo trata do desenvolvimento da democracia brasileira, perpassando por todas as constituições e um breve relato da sociedade à época. Busca-se estabelecer a conexão entre períodos autoritários na história do país e a existência de maior ocultação de informações públicas.

Atingindo a linha de eliminação do segredo, a Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 5º, inciso XXXIII, estabeleceu como direito de todos o recebimento de informações oriundas dos órgãos públicos, sejam elas de interesse particular ou público, no prazo da lei e sob pena de responsabilidade, estando ressalvadas desta obrigatoriedade as informações cujo sigilo é fundamental para a manutenção da segurança no Estado.

No âmbito da administração pública e de forma a reforçar a garantia prevista no artigo supracitado, tem-se, no artigo 37 da Constituição Federal, a inclusão da publicidade como um dos princípios a serem observados pela administração pública no Brasil.

Por fim, para tangibilizar o princípio da publicidade e dispor como ele acontece na prática, foram trazidos parâmetros na Lei de Acesso à Informação (LAI). Através dela é operacionalizado o supracitado direito de acesso à informação, que adota o segredo como exceção e da publicidade como regra, atribuindo às instâncias da administração pública a responsabilidade de assumir a transparência, independente de solicitação, das informações de interesse público. As informações deverão ser divulgadas, segundo a LAI, em sítios eletrônicos e de forma a facilitar a compreensão dos cidadãos.

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O papel central que o acesso à informação desempenha nas democracias é importado do pensamento de Norberto Bobbio, pois é através dele que o povo exerce o controle s

(1997), todas as decisões e, mais em geral, os atos dos governantes, devem ser conhecidos pelo povo soberano, trata-se de um eixo da democracia, que é o governo controlado pelo povo, e como poderia ser pelo povo controlado caso estivesse escondido?

Em tempos modernos, com o advento das Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC, foi também digitalizado e intensificado o debate sobre o governo, os governantes e sua tomada de decisão e tudo o que interfere neste universo. Dado o contexto, é cada vez menor o espaço para o segredo, a diminuição dele é reforçada pela crescente sede por informações e dados da administração pública.

Entendido o caráter fundamental do acesso à informação, no último capítulo, passa-se a inseri-lo no contexto de evolução constante das TIC. É sabido que o avanço tecnológico acontece em passos largos e numa velocidade impossível de ser acompanhada pelo legislativo. Assim, somente a disponibilização das informações em sítios eletrônicos, como manda a LAI, não é suficiente para garantir um pleno acesso à informação. Ainda que fosse suficiente, é considerado ultrapassado quando comparado com as tecnologias disponíveis.

O avanço tecnológico tem se ocupado de promover mudanças em todos os âmbitos, inclusive no da administração pública. Neste âmbito também segue a linha das demais rupturas provocadas pela tecnologia: os dados são a peça-chave, o fundamento e o combustível que possibilita o seu acontecimento. Logo, para ruptura tecnológica no campo da administração pública, os seus dados são fundamentais.

A velocidade de propagação de informações, a facilidade dos meios para fazê-lo e a massa crítica da população são alguns dos fatores que, combinados, culminaram no surgimento de modernas diretrizes para a divulgação de informações. Dentro das novas propostas para trato das informações governamentais surge a dos Dados Governamentais Abertos DGA, que possuem uma função dupla, a de tornar o acesso à informação condizente com o avanço tecnológico e de facilitar novas formas de participação societal.

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Assim, utilizar-se-á o método dedutivo para propor o conceito de Dados Governamentais Abertos como alternativa mais adequada para o aumento do controle público e da participação societal, de forma alinhada com o avanço das TIC e com o princípio constitucional da publicidade e a LAI.

1.1 OBJETIVO GERAL

Propor a adoção dos Dados Governamentais Abertos como instrumento para ampliar e modernizar o controle público e a participação societal na democracia brasileira.

1.1.1Objetivos Específicos

1.1.1.1 Demonstrar a evolução histórica do segredo de estado e seu papel nas formas de governo

1.1.1.2 Analisar o desenvolvimento das formas de governo brasileiras e apontar a relação entre sigilo e autoritarismo até chegar aos atuais desafios da democracia representativa

1.1.1.3 Propor o conceito de Dados Governamentais Abertos como forma de fortalecer a democracia por meio da ampliação e modernização da participação societal e do empoderamento da sociedade civil.

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2 O SEGREDO DE ESTADO NA HISTÓRIA

Inicialmente, cabe uma compreensão do tratamento das informações de governo (independentemente de sua forma) na história. Cumpre destacar que se trata de um necessário recorte a fim de expor apenas os pontos cruciais para o desenvolvimento do presente trabalho, haja vista a complexidade e infinidade de aspectos integrantes do segredo de Estado.

Feita a consideração, abordar-se-á o papel desempenhado pelo segredo no desenvolver histórico das formas de governo, iniciando pelo apreço ao segredo demonstrado por Platão (com a figura do rei-filósofo) e em seguida a visão estratégica de segredo tida na Idade Média, bem como a sua transformação em algo repreensível a partir do surgimento de um pensamento crítico em relação ao governo, sobretudo em regiões específicas da Europa no século XIX, sob influência do iluminismo.

Segredo, aqui, será entendido como a informação propositalmente mantida longe do conhecimento público pelo detentor do poder e que diz respeito aos interesses do governo.

Feito o recorte, será apontada a conexão deste segredo com a atual democracia.

2.1 O SEGREDO PARA PLATÃO

Iniciar-se-á o estudo nas origens do pensamento político com Platão. O pensador defendia que a pólis estaria bem governada quando tal incumbência fosse atribuída a um filósofo portador de determinadas virtudes, consideradas essenciais para o cargo. Ele insere a figura do rei-filósofo, homem esclarecido pela verdade escondida na natureza e pela constante busca de aproximar a pólis desta verdade. Desta busca derivam as mais elevadas possibilidades para a pólis, as quais apenas este rei-filósofo, por sua elevada capacidade, pode acessar.

Por acreditar na supremacia de um rei-filósofo, Platão considerava perfeitamente cabível que, munido de sua verdade, tal rei pudesse manter segredo e contar mentiras ou o que considerasse mais cabível para preservar o interesse da sociedade. Tratava-se de um privilégio reservado ao rei, aos juízes e aos altos cargos,

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pois, por outro lado, qualquer cidadão comum que mentisse deveria ser severamente punido. Este diálogo elucida a visão de Platão:

Sócrates [...] a verdade deve sobrepor-se a tudo, porque se não nos enganamos, ao dizermos que a mentira é inútil aos homens sob a forma de remédio, claro é que esse uso deve ser confiado apenas aos médicos e não a todas as pessoas.

Adimanto Isso é verdade.

Sócrates Aos magistrados também, de preferência a todos os demais, cumpre mentir, enganando os inimigos ou aos concidadãos, no interesse da sociedade.

Adimanto Perfeitamente.

Sócrates Por esta razão, se o magistrado surpreender em flagrante delito de mentira qualquer cidadão, quer de vida privada, quer adivinho, médico ou arquiteto, puni-lo-á com severidade por introduzir no Estado, como num navio, um mal capaz de levá-lo à destruição e à ruína. (Platão, 20141).

Desta forma, o filósofo, único possuidor das capacidades importantes para Platão, é encarregado de guardar o interesse público e o futuro da pólis, enquanto o restante da população, limitada em suas capacidades, deveria focar em seus ofícios particulares.

As raízes do pensamento de Platão se mantiveram na Idade Média. O que antes era um rei esclarecido pela busca da verdade na natureza, através da filosofia, se tornou um rei todo poderoso, escolhido pela força divina origem de uma fusão entre clero e realeza. Assim, o nascimento do Estado moderno manteve a tendência ao segredo firmada por Platão.

2.2 O SEGREDO NA IDADE MÉDIA

A baixa idade média presenciou uma monarquia alicerçada na providência o ímpar, de providência divina sempre legitimado pela igreja para governar da forma mais ajustada a pobre e ignorante plebe, desprovida de qualquer capacidade para se autogovernar.

Considerando a dominação da Igreja Católica e a pertinente aliança desta com a monarquia, formou-se um Estado absoluto e inquestionável, afinal, quem poderia duvidar da vontade da própria divindade na terra, do representante direto de

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Deus? A fusão indissociável entre Igreja e Estado constituiu uma tirana forma de dominação e repressão.

A cega obediência àquilo postulado pela Igreja e o medo da punição divina culminaram na cega obediência ao escolhido de Deus, o rei. Este movimento resultou nos conhecidos estados absolutistas, conforme apontado por Sergio Cademartori ao citar Pierangelo Schiera:

[...] o Absolutismo apresenta-se-nos em sua forma plena como a conclusão de uma longa evolução, a qual, através da indispensável mediação do cristianismo como doutrina e da Igreja romana como instituição política universal, conduz, desde as origens mágicas do poder, até a sua fundação em termos de racionabilidade e eficiência. (Cademartori e Cademartori, 2011, p. 332).

Neste período surge a importante contribuição de Nicolau Maquiavel com sua

alguns poucos conselheiros nos quais confie e deve buscar ouvir deles a verdade e não a bajulação, para então, de forma reservada, decidir os rumos a serem tomados no governo. Diz ainda que, caso não tenha conselheiros merecedores de sua confiança, deve se reservar e decidir por si próprio, inclusive escondendo suas motivações para evitar o enfraquecimento perante os inimigos.

A contribuição de Maquiavel, cuja pretensão era ser como um manual para os reis daquele tempo, continua sendo esclarecedora ao demonstrar o papel fundamental e altamente recomendado do segredo nos Estados absolutos, papel este que foi mantido na evolução para os Estados modernos.

Num contraponto, a publicidade, por sua vez, servia como uma forma de o monarca expor certos aspectos de sua vida, como casamento, nascimento de filhos, mortes e festividades. Destarte, era mantida a figura do rei como perfeita e divina, enquanto todas as suas decisões políticas se mantinham escondidas do público.

Na lógica estabelecida à época, o segredo era praticamente um favor feito pelo monarca para os governados ignorantes, abençoados com a presença de um Deus terreno para lhes governar. A proteção em troca da cega obediência.

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ocorrido na direção de diminuir o espaço do segredo de Estado, jogando luz sobre os aspectos mantidos escondidos pelo Estado absoluto.

Jürgen Habermas

ilustrar o processo de desenvolvimento de um pensamento crítico acerca do Estado, quando aumenta o interesse sobre a res publica:

A Revolução Francesa foi o propulsor para o movimento de politização de uma esfera pública inicialmente de cunho literário e voltada para a crítica da arte. Isso vale não só para a França, mas também para a Alemanha. Uma nsão de uma imprensa opinativa e a luta contra a censura e pela liberdade de opinião caracterizam a mudança de função da rede expandida da comunicação pública até a metade do século XIX. A política de censura, com a qual os Estados da Federação Alemã lutaram contra a institucionalização de uma esfera pública política [...] apenas tornou inevitável que a literatura e a crítica fossem sugadas pelo redemoinho da politização. (Habermas, 2014, p. 39).

Conforme apontado por Habermas, através de um crescente interesse crítico pelas artes e literatura, foram se desenvolvendo e intensificando espaços privados de discussão, os quais culminaram, juntamente com revolução cultural vivida no iluminismo, na sede de informações sobre a política e o governo, a fim de questionar as motivações ocultas da realeza.

É a partir do iluminismo, então, que se assume uma reinvindicação por maior publicidade, questionando a figura do Estado absoluto, do rei por direito divino aquele que não tem obrigação de revelar aos pobres súditos seus motivos e que, no ato de governar, exerce uma função egoísta pois fecha os olhos para motivações diversas das próprias.

Faz-se necessário, enquanto se trata de iluminismo, pontuar um importante instrumento de sua realização, a Ilustração. Esta, segundo Rouanet, foi uma importantíssima realização histórica do movimento iluminista:

Pertencem ao iluminismo as correntes de idéias que combatem o mito e o poder, utilizando argumentos racionais. A definição é grosseira, mas basta para nossos fins. O movimento intelectual que floresceu no século XVIII pode ser denominado a Ilustração. Ela foi uma importantíssima realização histórica do Iluminismo talvez a mais importante. (Rouanet, 1998, p. 301).

O olhar cuidadoso da Ilustração, naquele período, recaiu sobre todas as coisas. Nada era tão grande que não pudesse ser visto nem tão pequeno que não merecesse ser visto. A opressão e a tirania passaram a ser conhecidas como uma

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fórmula para manter o poder centralizado, para manter as suas forças em segredo. Rouanet explica este olhar:

Aplicada ao homem e às instituições humanas, a máxima significa que não há mais zonas de sombra no mundo social e político. [...] Os mitos e dogmas se mantinham porque não eram vistos, mas agora precisam ser vistos. A teoria política do absolutismo dizia que o governo dos homens foi instituído por Deus implacável, a Ilustração descobre, com a doutrina do contrato, que ele foi uma criação convencional do homem. A teologia cristã fundava sua autoridade nas Escrituras a Ilustração lê essas escrituras e descobre, com Bollingbroke e Voltaire, [...] que elas são um tecido de ficções. (Rouanet, 1987).

Desenvolveu-se, assim, a busca por entender as manifestações invisíveis do poder absolutista e, a partir da Ilustração e do pensamento crítico, a tendência iluminista lançou luz sobre as escrituras católicas nas quais se alicerçava o poder. Assuntos relativos ao poder absoluto foram chamados também para a luz, abrindo espaço para a reinvindicação de maior publicidade, através da qual se esperava aplicar a ilustração e desvendar os mistérios seculares daquele governo. Estas abordagens sobre a importância da publicidade se transformaram fortemente, caminhando até o conceito de publicidade de atos de governo que se conhece hoje.

Sobre a evolução da publicidade, Immanuel Kant acredita que a

as as liberdades,

nexo causal entre a opinião pública e o caráter público do poder, apresentando, como do direito pú

Para fundamentar sua fórmula, Kant defende que a própria necessidade de esconder uma intenção (impedi-la de se tornar pública) para não comprometer sua finalidade por resistência dos demais é, na verdade, uma clara demonstração de ameaça ou injustiça aos demais.

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Ou seja, a necessidade de manter segredo demonstra, invariavelmente, o medo de frustração daquele objetivo por interferência de outros e, somente uma atitude injusta ou incorreta pode ensejar a certeza de resistência dos demais.

O autor manifesta, ainda, que apenas o uso público da própria razão pode permitir que se chegue ao verdadeiro iluminismo entre os homens. Para que este uso público aconteça de forma adequada, é necessário haver publicidade sobre os atos do soberano, permitindo a todos o uso de sua razão e a crítica do status quo.

Bobbio reforça a máxima trazida por Kant e propõe uma certa validação empírica dela, cuja aplicação, segundo aquele, permite distinguir o bom do mau governo:

[...] O que é que constitui um escândalo público? [...] E qual o momento em que nasce o escândalo? O momento em que nasce o escândalo é o momento em que se torna público um ato ou uma série de atos até então mantidos em segredo ou ocultos, na medida em que não podiam ser tornados públicos pois, caso o fossem, aquele ato ou aquela série de atos não poderiam ser concretizados. (Bobbio, 1997, p. 11).

Para fundamentar a sua comprovação empírica, defende:

Qual empregado público poderia declarar em público, no momento em que é empossado em seu cargo, que irá se apropriar do dinheiro público (peculato) ou do dinheiro que embora não pertencente à administração pública é por ele apropriado por razões de ofício (malversação)? [...] É evidente que semelhantes declarações tornariam impossível a ação declarada pois nenhuma administração pública confiaria um cargo a quem as fizesse. Esta é a razão pela qual semelhantes ações devem ser desenvolvidas em segredo e, uma vez tornadas públicas, suscitam aquela perturbação da opinião publicidade para distinguir o justo do injusto, o lícito do ilícito, não vale para as pessoas em quem, como o tirano, o público e o privado coincidem, na medida em que os negócios do estado são os seus negócios pessoais e vice-versa. (Bobbio, 1997, p. 11).

Faz-se necessário registrar a importância do segredo até as contestações iluministas. Ele servia como tática de combate aos inimigos, como estratégia de

fortaleza do rei absoluto, como instrumento de manutenção do poder.

A contestação causou, no crescente espaço privado de discussão do público (entendido como aquilo que afeta a todos), o conhecimento da existência destes temas. A partir da Ilustração, os dogmas católicos, fundamento dos Estados

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absolutistas, não são mais um segredo, apesar da ferrenha luta da Igreja para que assim se mantivesse.

O rei onipresente como o próprio Deus se torna objeto de estudo e pensamento crítico, notadamente na França, para uma classe que buscava desvendar os mistérios e iluminar a escuridão de anos de opressão e sistemas de poder que privilegiavam enormemente ao clero e ao monarca.

Esta classe contestatória foi fortemente influenciada pelo surgimento de espaços públicos como cafés, espaços de discussão e reunião de cidadãos e outros ambientes propícios para tais fins que, combinados com o espírito iluminista, resultaram em uma crescente opinião pública sobre o estado, conforme apontado por Cademartori e Cademartori (2011, p. 333):

A opinião pública advém assim como uma instância política central nas relações entre as esferas política e privada sob o Estado moderno. É através dela que a burguesia tenta impor limites à atuação da autoridade, ao tempo em que combate o segredo como característica da atuação estatal, pois quer submeter esta última à luz da razão ilustrada.

Tal movimento de Ilustração também tem uma intenção política, qual seja a de eliminar a obscuridade do poder, o plano escondido em que ele acontece e se articula.

Um tema inerente ao segredo de Estado que, entretanto, não será abordado com profundidade (o segredo será entendido como parte de um contexto que evoluiu para a publicidade, sem adentrar especificamente nas consequências do contra-poder secreto) é o dos arcana. Os arcana podem se subdividir em outras categorias, cada uma representando um movimento diferente de organização secreta para obtenção de poder. Estes grupos atravessaram a história, muito fortalecidos pelo segredo, evidentemente.

Bobbio (1997) ressalta que não existe um poder ou governo secreto dissociado de um contrapoder secreto. Maquiavel, por sua vez, demonstra a seriedade do tema através da recomendação de cuidado que o absoluto deve ter, ao instrui-lo a dividir suas decisões com conselheiros de confiança ou então mantê-las em completo segredo. É certo, portanto, que quando um governo se estrutura sob um agir secreto, da mesma forma se estruturarão as forças que desejam sua queda ou possuem outros interesses.

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Regressando ao iluminismo, apesar de a eclosão da democracia não ter sido precisamente concomitante, foi naquele momento, conforme aventado por Carl Schmitt, que nasceram algumas das mais características reivindicações democráticas: a liberdade de pensamento e a liberdade de manifestação do pensamento, inclusive através da imprensa. Partindo deste momento histórico, tais pretensões passam a ser consideradas direitos políticos, os quais se tornaram inerentes a praticamente todos os sistemas de governo nos séculos posteriores, até serem novamente atacados e deslegitimados por democracias contemporâneas.

2.4 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

Para Thomas Hobbes (2019) também o soberano era a personificação encarnada do próprio Deus. Ao tratar das formas de injustiça que se podem operar contra o soberano, o autor deixa clara a sua visão. Qualquer ataque ou tentativa de substituição do soberano seria injusta, até mesmo uma aliança com o Deus, a divindade, seria injusta:

E quando alguns homens, desobedecendo a seu soberano, pretendem ter celebrado um novo pacto, não com homens, mas com Deus, também isto é injusto, pois não há pacto com Deus a não ser através da mediação de alguém que represente a pessoa de Deus, e ninguém o faz a não ser o lugar-tenente de Deus, o detentor da soberania abaixo de Deus. E esta pretensão de um pacto com Deus é uma mentira tão evidente, mesmo perante a própria consciência de quem tal pretende, que não constitui apenas um ato injusto, mas também um ato próprio de um caráter vil e inumano. (Hobbes, 2019, p. 62).

Hobbes ainda defende que:

Em segundo lugar, dado que o direito de representar a pessoa de todos é conferido ao que é tornado soberano mediante um pacto celebrado apenas entre cada um e cada um, e não entre o soberano e cada um dos outros, não pode haver quebra do pacto da parte do soberano, portanto nenhum dos súditos pode libetar-se da sujeição, sob qualquer pretexto de infração. (Hobbes, 2019, p. 62).

O iluminismo descobriu que promover o uso da razão e jogar luz sobre as estruturas de poder limitaria o abuso do poder pela vontade do soberano e diminuiria a trágica opressão perpetrada por ele.

Os fundamentos do que viria a ser a democracia moderna surgiram da ideia de impor limites ao poder absoluto e das prerrogativas aventadas pelo iluminismo, incluindo a publicidade como um elemento importantíssimo.

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Com efeito, Fonseca (1999, p. 3) ressalta o pensamento de Foucault (1971), e concorda que, a partir da segunda metade do século XVIII a população deverá se tornar o centro em torno do qual o governo deve concentrar suas observações, para governar efetivamente.

Os direitos firmados na Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1789 garantiram certas liberdades ao indivíduo, como a manifestação do pensamento, o livre exercício religioso (importante após a sangrenta perseguição católica aos seus oponentes) e a propriedade privada. Não obstante, foram estabelecidos igualmente direitos a serem exercidos coletivamente, quais sejam os de associação, o de pedir contas à administração pública, a proteção contra ordens arbitrárias, e faculdade de verificar a necessidade de contribuição pública, dentre outros.

Foi visível a inserção de mecanismos de controle por parte dos governados e de uma abertura para sua liberdade de expressão, bem como a proteção destes mecanismos contra algumas das principais manifestações do controle absolutista instituição arbitrária de impostos e a cega imposição de prisão e penas para indivíduos, conforme o gosto do rei absoluto. Nascem, portanto, mecanismos de controle do governo basilares para o que viria a ser a democracia.

O movimento de Revolução Francesa teve, sem dúvida, muitos reflexos na história das formas de governo e é neste ponto que se dará o enfoque deste trabalho. Não será aprofundada a discussão sobre o quão democráticos foram estes movimentos, pois é sabido que se desenvolveram no seio de organizações burguesas, logo, excluíam boa parte da população à época. Para o trabalho, no entanto, importa saber quais foram os mecanismos surgidos e quais foram as suas consequências.

Merecem destaque, ainda, a livre manifestação do pensamento e a liberdade de opinião. A partir deste exercício é permitido ao indivíduo desenvolver livremente seu pensamento e manifestá-lo da forma desejada, desde que esta não fira a liberdade de outrem. Para se operacionalizar tal direito, faz-se necessário, em primeiro lugar, o acesso à informação que não passou despercebido pelo movimento da Ilustração. Criaram-se, assim, as fontes de um direito à informação e do direito a formar, por si mesmo (e não pelo mandamento da igreja ou do tirano) um pensamento. De forma breve, este foi aproximadamente o plano de fundo para o entendimento da prejudicialidade do segredo e da preferência à publicidade e ao

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acesso às informações pelo público para possibilitar um governo menos tirano e opressor.

Bobbio analisa o fenômeno de transformação do estado absoluto para o Estado de direito e ressalta o papel da publicidade nesta transição:

O que distingue o poder democrático do poder autocrático é que apenas o primeiro, por meio da livre crítica e da liceidade de expressão dos diversos pontos de vista, pode desenvolver em si mesmo os anticorpos e consentir realmente colocar à prova a capacidade do poder visível de debater o poder invisível, é o da publicidade dos atos do poder que, como vimos, representa o verdadeiro momento de reviravolta na transformação do estado moderno que passa de estado absoluto a estado de direito. (Bobbio, 1997, p. 22) Para Bobbio, dentre todas as críticas à democracia, a que menos recebe atenção é a crítica à opacidade do poder, ou ao governo invisível, aquele que se

diferença entre autocracia e democracia, já que naquela o segredo de estado é uma regra e nesta uma exceção regulada por leis que não lhe permitem uma extensão indébita. (Bobbio, 1997).

Bobbio reforça o obstáculo constituído pelo segredo de Estado na instituição de uma democracia, o qual Cademartori e Cademartori explanam da seguinte forma: Parte ele da ideia de que atualmente o Estado apresenta aspectos de representatividade ampliada que superam a concepção original do Estado representativo clássico, moldado na ideia britânica da existência de um parlamento que corporificaria os interesses da sociedade. Tome-se, para exemplificar, o seguinte trecho: Aqui que nós, para resumir, chamamos de estado representativo teve sempre que se confrontar com o Estado administrativo, que é um estado que obedece a uma lógica de poder completamente diferente, descendente e não ascendente, secreta e não pública [...] (Cademartori e Cademartori, 2011, p. 8)

Para Bobbio (1997), a democracia é o governo do poder visível:

Como regime do poder visível, a democracia nos faz imediatamente vir à mente a imagem, a nós transmitida pelos escritores políticos de todos os tempos que se inspiraram no grande exemplo da Atenas de Péricles, da público como o objetivo de apresentar e ouvir propostas, denunciar abusos ou pronunciar acusações [...] (Bobbio, 1997, p. 4)

O autor reforça sua visão ao citar o bispo de Viço, Michele Natale:

Não existe nada de segredo no Governo Democrático? Todas as operações dos governantes devem ser conhecidas pelo Povo Soberano, exceto algumas medidas de segurança pública, que ele deve conhecer apenas quando cessar o perigo. (Bobbio, 1997, p. 6)

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Este trecho é exemplar porque enuncia em poucas linhas um dos princípios fundamentais do estado constitucional: o caráter público é a regra, o segredo a exceção, e mesmo assim é uma exceção que não deve fazer a regra valer menos, já que o segredo é justificável apenas se limitado no tempo [...] (Bobbio, 1997, p. 6).

O governo democrático tem como ponto fulcral o controle e a participação do povo, e tal premissa jamais poderia se firmar caso os acontecimentos se mantivessem escondidos do povo.

Resta claro, pela forma que a necessidade de publicidade se desenvolveu e pelos apontamentos teóricos trazidos que, quanto mais democrático um governo, menor o espaço para o segredo. No mesmo sentido, quanto mais absoluto, menor o espaço para a publicidade. E, de forma geral, a partir da transformação dos Estados absolutos em Estados de direito, a primeira hipótese passou a predominar.

3 A EVOLUÇÃO DO ESTADO DE DIREITO E DA DEMOCRACIA BRASILEIRA

Passando às democracias modernas, caberá novamente um recorte para indicar que a análise do presente trabalho se dará em relação ao Brasil. Far-se-á uma exposição da democracia brasileira para, em seguida, passar a conectá-la com as problemáticas trazidas pelas novas Tecnologias de Informação e Comunicação TIC num contexto de participação popular, elemento que se apresentará como fundamental para o fortalecimento da democracia.

A abordagem das TIC nesta discussão revela-se fundamental:

[...] a atual conjuntura das Tecnologias da Informação e Comunicação alterou significantemente a forma de manifestação da opinião, do exercício da liberdade de associação e dos interesses em cena no jogo político. A popularização de formas de comunicação como a Internet proporciona novas experiências ao exercício da cidadania. (BEÇAK, 2011, p. 3552).

Ainda, será feita uma passagem pela história das constituições brasileiras a fim de apontar seu reflexo na sociedade e entender quais os passos dados pelo país a

Para cumprir com o objetivo de propor o conceito de dados abertos como facilitador de uma maior inclusão e controle social sobre o Estado e o governo, é essencial demonstrar quão pouco inclusiva foi a história e a evolução das

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constituições brasileiras. Além disso, é importante destacar a conexão entre sigilo, censura e concentração de informações no governo e as práticas autoritárias e ditatoriais experenciadas no Brasil.

Segundo a colaboração de Walter Costa Porto na obra de Caio Tácito: O conhecimento de nossa trajetória constitucional, de como se moldaram, nesses dois séculos, nossas instituições políticas, é, então, indispensável para que o cidadão exerça seu novo direito, o de alargar, depois do voto, seu poder de caucionar e orientar o mandato outorgado a seus representantes. (TÁCITO, 2010, p. 6).

No mesmo sentido, para Bobbio, por democracia se entende um conjunto de regras (as chamadas regras do jogo) que consentem a mais ampla e segura participação da maior parte dos cidadãos, em forma direta ou indireta, nas decisões que interessam a toda a coletividade. (Bobbio, 1983, p. 56)

Assim, tentar-se-á entender quais foram as regras do jogo para participação dos cidadãos brasileiros ao longo da breve história democrática do país.

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu a República Federativa do Brasil, constituída em um Estado Democrático de Direito, conforme seu preâmbulo: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Os objetivos do Estado Democrático brasileiro são a garantia de exercício dos direitos sociais e individuais, estes últimos remontam às batalhas iluministas francesas contra o absolutismo explanadas anteriormente.

No entanto, antes de esta ainda tão nova Constituição se firmar, o Brasil foi palco de momentos autoritários e regimes ditatoriais, com breves períodos democráticos, ou de tentativas democráticas, entre eles.

Apesar de a jornada democrática ter sido turbulenta, o país conquistou importantes feitos no que diz respeito à participação dos cidadãos tanto nas eleições quanto em discussões de aspectos importantes para a inclusão social e estratégias públicas como assistência social, direitos humanos, política para mulheres, cultura, dentre outros. Esta participação popular na discussão será aprofundada mais adiante.

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Por ora, nos deteremos a desenvolver brevemente alguns dos caminhos percorridos pela nação até se encontrar sob a guarda da Carta Magna de 1988 e da democracia.

3.1 A PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL

Após a Proclamação da República, ocorrida em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro I, em 25 de março de 1824, outorgou a Constituição Política do Império do Brasil. Um dos objetivos desta constituição era o de organizar a estrutura administrativa e política brasileira após a independência. Esta Constituição estruturou o Império e foi especialmente marcante por ter instituído o poder moderador, exercido pelo imperador, além da divisão de poderes entre executivo, legislativo, judiciário e o então moderador.

O supramencionado poder moderador representa uma herança absolutista no então império, haja vista que assegurava ao imperador a possibilidade de dissolver a Câmera, suspender magistrados, nomear senadores e aprovar as resoluções da Assembleia Geral (junção da Câmera dos Deputados e do Senado) e dos Conselhos Provinciais. Segundo a própria constituição firmou em seu artigo 98, o poder errogativas conferiam muito poder à pessoa do imperador.

Outra inovação desta constituição foi o voto censitário, permitido para homens livres, maiores de 25 anos e com renda anual superior a 100 mil réis. Estes votariam nas eleições primárias, que selecionavam quem votaria em deputados e senadores. Por outro lado, para ser candidato aos cargos de senador e deputado os critérios aumentavam, havendo a necessidade de o homem ser também brasileiro, católico e de auferir renda anual ainda maior.

Uma organização bicameral foi instituída ao se estabelecer a Câmara dos Deputados, com cargos temporários, e o Senado, com membros vitalícios, escolhidos pelas províncias e aprovados pelo imperador. Apesar de ter havido uma constituição, fruto da união do imperador e de alguns escolhidos entre a elite brasileira, são perceptíveis fortes resquícios da estrutura controladora e centralizadora do absolutismo, centralizados no próprio imperador.

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O contexto social da Constituição de 1824 era de uma população de aproximadamente 4 milhões de pessoas, um terço das quais eram escravas. Neste cenário, a economia era movimentada principalmente pele exportação e havia grandes interesses da elite econômica à época na manutenção do regime escravagista, continuando com maiores lucros nas operações.

A primeira constituição brasileira, assim, protegeu os interesses da elite econômica ao preservar o regime escravagista e fortaleceu a figura absoluta do imperador, a despeito da divisão dos poderes, dada a inclusão do poder moderador com amplas permissões de interferência nos demais.

Não obstante, a primeira constituição brasileira, de certa forma, provou sua eficiência ao ser a constituição que mais durou no país, com 65 anos de vigência. Aqui se considera eficiência como sinônimo de duração, pois a manutenção no tempo representa a adequação ao cenário social e econômico ainda que tenham sido observados os interesses de uma minoria financeiramente avantajada.

Afinal, a Constituição de 1824 não serviu apenas para os momentos de estabilidade política, conseguida, no Império, a partir da Praieira (1848-1849), que foi a última rebelião de caráter político no período monárquico. Serviu, também, com a mesma eficiência, para as fases de crise que se multiplicaram numa sucessão interminável de revoltas, rebeliões e insurreições, entre 1824 e 1848. Mais do que isso: foi sob esse mesmo texto, emendado apenas uma vez, que se processou, sem riscos de graves rupturas, a evolução histórica de toda a Monarquia. Essa evolução inclui fatos de enorme relevância e significação tanto política como econômica e social. As intervenções no Prata e a Guerra do Paraguai; o fim da tarifa preferencial da Inglaterra e o início do protecionismo econômico, com a tarifa Alves Branco, de 1844; a supressão do tráfico de escravos, o início da industrialização e a própria Abolição, em 1888, são alguns desses exemplos. (NOGUEIRA, 2012, p. 10).

Cabe destacar, ainda, que essa constituição teve forte influência da versão inglesa, segundo a qual era constitucional apenas o que diz respeito aos poderes conferidos ao Estado e aos direitos individuais. Todas as matérias restantes poderiam ser modificadas por leis ordinárias.

Quando se formou uma conjuntura de forte insatisfação com o império e suas constantes interferências pelos diversos setores da sociedade exército, Igreja Católica e elite econômica (por conta da Lei Áurea, que deu fim ao regime escravocrata), ocorreu a Proclamação da República no Brasil, no dia 15 de novembro de 1889, a partir de um levante que uniu as insatisfações de tais grupos sob um caráter político-militar.

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3.2 A PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA

Formou-se um Governo Republicano Provisório assumido pelo Marechal Deodoro da Fonseca no cargo de presidente. Durante o Governo Provisório convocou-se a eleição da Constituinte para junho de 1890.

Na sequência, foram eleitos 205 deputados e 63 senadores, a maior parte deles de Minas Gerais, contando com 37 representantes, seguidos de São Paulo e Bahia, com 22 cada. Todos os referidos cargos eram ocupados por homens ricos em sua maioria advogados, médicos e militares.

Neste momento estava em pauta o federalismo, com linhas a favor da união ou dos estados. Aquela liderada por Rui Barbosa sagrou-se vencedora a unionista.

Feito importante à época foi a garantia das liberdades individuais no texto da lei novamente, herança iluminista bem como a organização dos poderes conferidos à União. A Constituição Federal de 1891 trouxe, ainda, a figura do habeas corpus, cujo objetivo era proteger contra a violência ou coação ilegais, abuso de poder e prisões arbitrárias.

O contexto socioeconômico demonstrava um país que havia abolido o regime escravagista, mas que, no entanto, permanecia com a maior parte da população, incluindo os antes escravos e seus descendentes, totalmente excluídos da vida política, junto com mulheres, pobres e não nobres. O país já somava mais de 10 milhões de habitantes e o número de votantes não chegava aos 2% da população, mantendo-se o voto censitário e incluindo o voto direto.

Seu texto foi alterado em 1926, quando foram inseridas maiores possibilidades de intervenção federal e estado de sítio, um indicativo do que estava por vir.

Pelo contexto observado, é perceptível a marca de concentração de poder e direito de participação resguardados a um segmento específico de cidadãos enquanto isso, a esmagadora maioria da população permanecia alheia às decisões tomadas por aquele pequeno grupo. Tal concentração resultou em um período autoritário, marcado por uma liderança que reforçou ainda mais a restrição e controle das informações que chegavam ao grande público.

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3.3 A CONSTITUIÇÃO DE 1934

Os períodos que antecederam a Constituição de 1934 foram turbulentos. A Crise de 19292 chegou ao Brasil com fortes impactos na economia, enfraquecendo as exportações ligadas ao agronegócio. Considerando que à época o país tinha sua economia alicerçada na cultura do café, tal acontecimento trouxe insatisfação geral e consequentemente diminuiu a satisfação com o governo de Washington Luís.

Durante a República Velha as eleições presidenciais seguiam a lógica

escolhidos dos estados de Minas Gerais e São Paulo. Washington contrariou a ordem estabelecida e indicou como sucessores Júlio Prestes, de São Paulo, para a presidência e, para a vice-presidência, Vital Soares, então presidente do estado da Bahia.

Frente a tais acontecimentos, uma aliança liderada por Getúlio Vargas se organizou e trouxe a proposta de quebrar com o controle oligárquico, no entanto, não venceu a eleição. A aliança buscou apoio de militares especialmente tenentes, e, com isso, diversas intervenções simultâneas aconteceram pelo país e, pouco tempo depois, Getúlio Vargas tomou posse do governo provisório3.

Ao tomar o poder, Vargas depôs a maioria dos governadores estaduais e reduziu a atuação de órgãos municipais, estaduais e federais do legislativo, além de cassar a constituição anterior.

A oligarquia paulista se viu afetada pelas atitudes de Vargas e se apoiou num discurso constitucionalista para iniciar outra revolução armada. Eclodiu, então a Revolução Constitucionalista de 1932, também conhecida como Guerra Paulista, movimento armado cujo principal objetivo era derrubar o governo de Getúlio e formar uma nova constituinte, voltando a garantir os privilégios paulistas instalados a partir da política café com leite.

Pressionado, Getúlio convocou eleições para deputados, com a inovação de ter representantes de diferentes categorias profissionais, e a constituinte iniciou-se em 1933.

2 A Crise de 1929 também é conhecid

Unidos da América e repercutiu pelo mundo todo.

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O resultado foi a Constituição de 34, que deu especial foco para direitos da família, de educação e cultura, apresentando uma tendência conhecida como federalismo renovado. Os poderes da união sobre os estados foram ampliados, as justiças Eleitoral e do Trabalho foram criadas, o voto feminino foi permitido e o ensino primário gratuito e obrigatório também.

O texto foi emendado em 1935, após a intentona comunista, reforçando as medidas de segurança do Estado. Neste momento era perceptível a intenção de Getúlio de estabelecer formas autoritárias de poder, a qual se manteve na constituição seguinte.

3.4 O ESTADO NOVO

A tendência autoritária e centralizadora de Vargas foi confirmada com o golpe do Estado novo. Ao completar cerca de oito anos no poder, a expectativa era de que ocorressem novas eleições, para as quais algumas candidaturas estavam se lançando.

O governo de Vargas concebeu o Plano Cohen, que consistiu na invenção de uma suposta conspiração cujo objetivo era instalar o comunismo no Brasil. Apoiado nesta narrativa, Vargas, juntamente com os militares, instituiu o Estado Novo por meio

de uma nova Constituição om

a Constituição polonesa de 1935 e sua clara inspiração nos regimes fascistas europeus. As prerrogativas do presidente foram reforçadas através da nova

políticos foram eliminados e o poder centralizado na figura da autoridade suprema. A partir daquele ano o governo passou a interferir na mídia brasileira, impondo a censura para impedir a divulgação de informações desfavoráveis. Até mesmo direitos individuais sofreram restrições. Opositores eram violentamente enfrentados e exilados, a pena de morte foi instituída. Aqui se observa um exemplo de restrição da publicidade tanto por meio da não divulgação de informações quanto por meio da censura e outras práticas que permitiam apenas que se exaltasse o governo diretamente conectada com movimentos autoritários e centralizadores de poder.

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Visando sua permanência autoritária no poder, Getúlio se apoiou nas eleições indiretas a cada 6 anos estabelecidas pela Constituição de 37.

Com o advento da segunda guerra mundial e o apoio brasileiro aos Estados Unidos, oposição aos regimes fascistas europeus base sobre a qual se construiu o governo de Getúlio , o discurso do então presidente foi muito prejudicado pela manifesta contraditoriedade.

O movimento de queda do governo não passou despercebido por Vargas e seus apoiadores, que desde 1942, passaram a ressaltar a figura do presidente em programas de rádio. Não obstante, as forças contrárias ao governo e a favoráveis à redemocratização do país passaram a se movimentar com mais força, celebrando uma união com um fator fundamental para Vargas ter chegado ao poder o apoio dos militares.

Manifestações estudantis contra o fascismo ganharam força em 1943 e, após o Decreto Lei de 18 de abril de 1945, que concedeu a anistia a todos que tivessem cometido crimes políticos a partir de julho de 1934, as forças contrárias à Vargas encontraram mais espaço de organização e manifestação.

A despeito de todos os esforços do então presidente para se manter no cargo, inclusive convocando uma nova eleição e buscando aliados políticos para uma reeleição, seu governo foi deposto em outubro de 1945. O apoio militar que havia sido peça chave para a ditadura se instalar se voltou contra ela e orquestrou a retirada de Vargas do poder.

3.5 A REDEMOCRATIZAÇÃO

Compreendeu-se, assim, que após anos de uma ditadura imposta por Getúlio Vargas, o Brasil clamou pela redemocratização. Assim, em 1946 foram convocadas pelo então presidente José Linhares, as eleições. Eurico Dutra foi eleito com o apoio de Getúlio. Os eleitos para os cargos de senador e deputados reunidos formariam a nova constituinte.

A composição da comissão responsável pelo projeto era distribuída de acordo com o número de representantes de cada partido no legislativo.

No intuito de redemocratizar o Brasil e também sob a influência da derrota dos regimes autoritários em nível mundial após a Segunda Guerra, na Constituição de

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1946 os direitos individuais foram reestabelecidos, a censura4 e a pena de morte foram extintas, os três poderes voltaram a operar de forma independente e estados e municípios voltaram a ter sua autonomia.

Tratando de República, a Constituição Federal de 1946 perdurou por 20 anos, ficando atrás somente da CF de 1891, com 43 anos, e teve um papel mediador importante, haja vista o fato de terem acontecido diversos levantes, tentativas de golpe e outras revoltas:

João Goulart, Ministro do Trabalho, e provocando também a do Ministro da Guerra, Ciro Espírito Santo. [...] Deposição de Vargas, entre 22 e 24 de agosto de 1954, pelos Generais, Brigadeiros e Almirantes, após a tentativa de assassinato de Carlos Lacerda e homicídio do Major Rubens Vaz (reação do General Lott, Ministro da Guerra, em 10 de novembro de 1955, depondo o Presidente interino Antônio Carlos Luz, que se transferira para o cruzador Tamandaré, alvejado pelas fortalezas da barra do Rio. [...] O golpe de Lott contra Café Filho, o Presidente que o nomeou, sequestrando-o e impedindo-o de reassumir suas funções, quandimpedindo-o se recuperimpedindo-ou de um incômimpedindo-odimpedindo-o circulatório que o fizera transmitir o cargo a Carlos Luz e recolher-se a uma casa de saúde. Foi decretado, então, o único estado de sítio depois da Constituição Federal de 1946. [...] Os levantes de Aragarças e Jacareacanga contra o Presidente Kubitschek, prontamente sufocados em 1956 e 1957. [...] Tentativas de golpes dos Ministros militares (Deny, Rademacker e Moss) de 25 a 30 de agosto de 1961, para evitar a posse do Vice Jango, quando o Presidente Jânio Quadros renunciou a 25 de agosto de 1961. [...] (LIMA SOBRINHO, 2012, p. 124).

Além das diversas tentativas de tomada do poder e revoltas, o período desta constituição foi marcado pela realização de um plebiscito popular para definição do sistema de governo brasileiro, que, no ano de 1961, havia se tornado parlamentarista por conta de uma Emenda Constitucional. Esta emenda foi motivada pela resistência dos militares a permitir que o vice-presidente eleito, João Goulart ou Jango , assumisse o cargo de presidente após a renúncia de Jânio Quadros, presidente eleito. Assim, para diminuir a interferência de Jango no cenário político, foi orquestrada a mudança inicial de presidencialismo para parlamentarismo. No entanto, ao se convocar um plebiscito, a população votou e determinou a volta ao presidencialismo, opção que representou 82% dos votos no plebiscito.

4 Aqui, novamente, percebe-se a conexão entre as informações e as formas de governo mais ou menos

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3.6 A DITADURA MILITAR

Num cenário de forte agitação política, revoltas e levantes, as condições para uma ditadura militar se instalar aos poucos se firmaram. O presidente João Goulart empenhava fortes campanhas de reforma agrária, fato provocador de diversas greves e confrontos entre reformistas e fazendeiros. Em 1961 ocorre, em Belo Horizonte, a Marcha pela Família com Deus e pela Liberdade, que incita a reação dos conservadores ao governo. Em setembro de 1963 acontece Revolta dos Sargentos, somando ainda mais tensão ao cenário. Tratava-se de um movimento de sargentos, suboficiais e cabos pela sua elegibilidade, que acabava de ser negada pelo STF, seguindo a determinação da Constituição de 1946.

Dada a situação de extrema vulnerabilidade em que se encontrava o governo de Jango, qualquer fragilidade poderia significar a tomada do poder pelos seus oponentes, que cresciam à medida que o presidente se comprometia com causas como a reforma agrária.

Após uma entrevista polêmica de Carlos Lacerda governador de Guanabara para a imprensa norte-americana, na qual defendeu o Brasil estar vivendo um governo autoritário de esquerda e pediu por ajuda internacional. Em resposta, Jango enviou para a aprovação do Congresso um decreto de estado de sítio, que, dias depois, foi retirado por ele próprio.

A partir deste ponto foi questão de tempo até os militares se organizarem e deporem o presidente, que não resistiu. O marechal Humberto Castello Branco foi eleito, de forma indireta, em 11 de abril de 1964, o presidente do Brasil. Foram implantadas as bases do que seria a ditadura militar brasileira.

A Constituição de 1946, cujo objetivo era a redemocratização do país, mostrou-se pouco útil para os objetivos da ditadura militar esta fazia o caminho oposto ao escolhido pela constituição, restringindo direitos, fortalecendo a atuação dos órgãos de segurança nacional, impondo censura e perseguindo violentamente opositores5, principalmente os de movimentos estudantis e de reforma agrária. Foi convocada, então, uma comissão de juristas para elaborar uma constituição coerente com os objetivos do governo.

5 Novamente a ascensão de um regime autoritário se conecta com o aumento do espaço de segredo e

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Nasceu, assim, a Constituição de 1967, eliminando as eleições diretas para presidente, suspendendo garantias dos magistrados e concentrando poder na União. No entanto, esta constituição foi apenas o primeiro passo do regime ditatorial, que foi se intensificando através das constantes edições de atos institucionais, dentre os quais o número 5 merece destaque por ter oficialmente substituído o regime presidencial pela ditadura presidencial.

O Ato Institucional 5 veio após uma série de respostas da sociedade brasileira às arbitrariedades da ditadura militar. A morte do estudante Edson Luis de Lima Souto em um protesto no Rio de Janeiro chocou a sociedade e reuniu 60 mil pessoas em seu velório. No mesmo ano ocorreu a Passeata dos Cem Mil, reunindo opositores da ditadura, inclusive artistas e intelectuais da época.

A resposta do comando militar foi no sentido de proibir todas as manifestações, a censura na comunicação se intensificou e a tortura como prática de repressão do governo se consolidou. O Congresso Nacional foi fechado, ao presidente foi permitido decretar estado de sítio por tempo ilimitado, demitir funcionários públicos, interferir em municípios, cassar mandatos e até mesmo confiscar bens particulares.

Em 1969 teve vez a Emenda Constitucional nº 1, também interpretada como outra constituição, ao passo que reformulou as disposições da anterior e continha 217 artigos.

Dados outros dez anos de ditadura militar, além da constante caça aos opositores, tornou-se clara uma forte crise econômica resultado de um período de acentuada concentração de renda. Assim, apesar de, em meados de 1979, o próprio comando militar ter se preparado para uma abertura lenta e gradual à democracia, visando manter os benefícios conquistados, a pressão popular foi tamanha com

brasileiras e as forças políticas contrárias se organizaram de tal forma a realizar uma eleição, ainda indireta, na qual sagrou-se vencedor Tancredo Neves, em 1984. Não obstante, sua morte levou José Sarney a ser o primeiro presidente após 21 anos de ditadura militar.

Referências

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