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Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.8 número1

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E N S I N O D E P Ó S - G R A D U A Ç Ã O E M M E D I C I N A T R O P I C A L

J . R o d r i g u e s C o u r a *

INTRODUÇÃO

In ic ia lm e n te devem os co n c eitu a r “M edicina T ropical” a n te s de a n alisar os objetivos do E n sin o d e P ós-graduação nessa área, de concepção tã o v a sta e a brangente. S en so am plo, M edicina T ropical seria to d a aquela d e se n v o W ã a no sen tid o de pro m o ver a saúde, p rev en ir e co n tro la r a doença e sua evolução e p la ­ n eja r a vid a n a s regiõe.s in tertro p ic a is. E sta concepção, e n tre ta n to , de tã o va sta im pediria a adoção da M edicina T ropical com o u m a especialidade m éd ica e, p o rtanto, n ã o h a veria com o aperfeiçoar especialistas n a m e d ic in a inteira.

O conceito de m e d ic in a tro pical co m o especialidade m éd ica va ria con sid e­

ra ve lm en te de acordo com o en fo q u e ou necessidade operacional de cada País ou

região. A ssim , n a m a io ria dos países europeus e m e sm o nos E stados U nidos d a A m érica do N orte, a c h a m a d a M edicina T ropical p ra tic a m e n te se c o n fu n d e com a parasitologia e com a en to m o lo g ia , com a lg u m a ê n fa se n a epidem iologia das doenças p a ra sitá ria s, p orém com a tivid a d e clínica especializada b a sta n te re d u ­ zida. O tra to das doenças in fecciosas e pa ra sitá ria s, ou m e lh o r, dos d o en tes ou portadores dessas doenças, fic a a cargo do clínico geral, n a m a io ria das vezes

não especializado. E ste fa to tem o s observado ao longo de n ossa carreira, em

congressos, visita s e cursos realizados n o exterior, p a rtic u la rm e n te d u ra n te a viagem d e observação que tivem o s a o p o rtu n id a d e de realizar em 1969, quando visitam os 17 In stitu iç õ e s que ■m in is tra m cursos de P ós-graduação em M edicina T ropical, 14 delas n a E uropa C en tra l e 3 n o s E stados U nidos da A m érica. E stes cursos, a lg u n s de c u rta duração de 3 a 4 m eses, com o os d e Liverpool, H a m burgo e Paris, outros de duração m a is longa, de 9 a 11 m eses, com o os de L ondres, A n ­ tu érp ia e o da T u la n e U n iversity nos EUA, são b a sica m e n te cursos de p a ra sito ­ logia e entom ologia, com noções de epidem iologia e in fo rm a çõ es clínicas sobre a patologia tro p ica l n a área das doenças in fecc io sa s e parasitárias.

N o B rasil, de a lguns anos p ara cá, p rec isa m en te após a m o rte de E vandro C hagas, v e m se cria n d o u m a tradição e x tr e m a m e n te p reju d icia l ao d esen vo lvi­ m e n to da M edicina Tropical, qual seja a tríp lice separação e n tre “T ropicalistas clínicos”, p a ra sito lo g ista s e u m a espécie de sa n ita rista s de g a b in ete, n a qual os c h a m a d o s “T ro p ica lista s” de fo rm a çã o clín ica pouco co n h e cem de parasitologia, de en to m o lo g ia , de m icrobiologia e de patologia básica, a lém de u m a fra ca fo r ­ m ação epidem iológica so b retu d o n o que se refere à m o d e rn a epidem iologia q u a n tita tiv a , que exige co n h e c im e n to s fu n d a m e n ta is de m a te m á tic a e esta tística .

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Por outro lado os parasitologistas, en to m o lo g ista s e p a to lo g ista s tê m noções

m u ito ru d im e n ta re s d e epidem iologia e clin ica das doenças in feccio sa s e p a ra ­ sitárias. Os sa n ita rista s, d e fo rm a çã o b em m a is eclética, p e rd e m -se h o je nos m e ­ andros a d m in istra tiv o s dos g a b in etes, d e u m lado d evido ao seu p eq u en o n ú m e ro e à enorm e exig ên cia “d o c u m e n ta l” dos in te rm in á v e is relatórios e planos in e -xequíveis, e de o u tro lado pela fo rm a çã o em Escolas de S a ú d e Pública isoladas do cam po de trabalho, to rn a n d o -se e x tr e m a m e n te teóricos ou e x cessiva m en te tím idos, após u m a vid a ex e c u ta n d o p ro gram as que n ã o lh es p e rm ite m u m a a v a ­

liação criteriosa do seu tra b a lh o . N ão v e ja m o s sen h o res n e sta s p a lavras n e n h u ­

m a crítica ao “S a n ita rista brasileiro”, m a s ao siste m a a tu a l d e fo rm a çã o e a p ro ve ita m e n to desses “heróis” que, re sistin d o ao d ese stim u lo do Serviço Público, ainda se e n c h e m de e n tu sia sm o q u a n d o se lh es a cen a m com u m p la n o exeqüível e prom issor em term o s de realização de trabalho.

E m nosso m eio, M edicina T ropical deve ser o tip o de a tiv id a d e m é d ic a d e ­ senvolvida p o r p ro fissionais com sólida fo rm a çã o clínico->epidemiológica, sobre­ tu d o no cam po das doenças in feccio sa s e pa ra sitá ria s e com a m p la base de eco­ logia, parasitologia, entom ologia, m icrobiologia, im u n o lo g ia e patologia, capazes de p la n eja r co rre ta m e n te u m a in vestig a çã o epidem iológica de cam po, estabelecer u m diagnóstico clínico e o tr a ta m e n to adequado de u m a doença in feccio sa ou parasitária, pod en d o u tiliza r-se das técn ica s das sub -esp ecia lid a d es básicas m e n ­

cionadas p ara co n firm a çã o d ia g n o stica e in vestig a çã o n u m d e te rm in a d o ra m o

em que v e n h a a especializar-se. N ão querem os com isto d izer que o “T ro p ica lista ” seja u m especialista e m to d a s as coisas, m a s que v e n h a a p ree n ch er c o m p re en

si-v a m e n te a en o rm e la cu n a e n tre o h o sp ita l e o ca m p o ,e n tre o laboratório e a

clínica das doenças in feccio sa s e p arasitárias, com os seus m ú ltip lo s aspectos ja m a is a ten d id o s in te g ra lm e n te por especialistas de siste m a s com o p n eu m o lo -gistas, cardiolo-gistas, neurologistas etc., sem a necessária base parasitológica, m i-crobiológica e epidem iológica e n e m tã o pouco por m icrobiologistas e p a ra sito ­ logistas sem a necessária fo rm a çã o clínica. M edicina T ropical é u m a especialidade peculiar de a tivid a d e de cam po, h o sp ita la r e laboratorial, p o n to de ju n ç ã o e n tre

a clínica, a parasitologia, a m icrobiologia, a patologia e o m eio a m b ien te.

PÓ S-G RAD U AÇ ÃO E D ESEN VO LVIM EN TO

A p ó s-graduação é quase tã o a n tig a q u a n to a própria U niversidade; assim , o prim eiro grau a cadêm ico co n h ecido fo i co n ferid o pela U niversidade de B o lo n h a

em m eados do século X I I (D outorado, do la tim “ D o c e r e ” ) , qua n d o e x istia m a p e­

nas 5 U niversidades n a E uropa: a de S a lerm o e a de B o lo n h a n a Itá lia ; a de

M o ntpellier e a de Paris, n a F rança e a de O x fo rd n a In g la terra . A “ l i c e n c i a

d o c e n t i ” era co n ferid a in ic ia lm e n te pelos C ardeais que p e rm itia m ou n ã o a a bertura de o u tra s escolas a lém da C atedral; em estágio posterior, a licença para en sin a r era o u torgada m e d ia n te u m ex a m e fo rm a l onde se a va lia va a ca paci­ dade e a vocação do c a n d id a to a professor. A fig u ra dos “ G u i a s d e M e s t r e s ” fo i a p rim eira rep resentação livre da su p ervisã o eclesiática para a concessão das licenças. As g randes Escolas com o as de P aris e B o lo n h a p ro cla m a v a m -se C en­ tros de E xcelência e a u m D outor dessas Escolas era p e rm itid o e n sin a r p ra tic a ­ m e n te em qualquer lugar. A U niversidade E uropéia a tin g iu o seu apogeu d u ra n te ós séculos X I I I , X I V e X V sob a supervisã o eclesiástica.

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as suas bases a ta l p o n to que a U niversidade a lem ã en tro u n u m a fa se de e x tr e ­ m a inquietação, c u lm in a n d o com a criação das n o va s U niversidades de H alle,

G ó ttin g en e B erlimberço de u m a n o va c u ltu ra c ie n tífic a e filo só ficacu ja

expressão m a is p u ra en c o n tra m o s e m W ilh elm e  lex a n d er v o n H u m b o ld t. A I n ­ glaterra reviveu a U niversidade de C am bridge a tra vés dos tra b a lh o s de S ir Isaac N ew to n e da crescen te a ten çã o às ciências m a te m á tic a s e física s nos ú l­ tim os anas do século X V II. E sta va a ssim restabelecido o p restíg io c ie n tífic o da U niversidade e u m a n o va era se abria n u m progresso c o n sta n te a té os dias em que vivem os.

O siste m a d e pós-g ra d u a çã o organizado te v e com o berço a U niversidade a le­ m ã e va leu a esse País a lid era n ça c ie n tífic a e tecnológica d u ra n te quase u m século a té a I I G uerra M u n d ia l. Esse siste m a , a d o ta d o pela U niversidade a m e ri­ cana, in ic ia lm e n te n a Y a le U n iversity, que c o n fe riu em 1861 o p rim eiro PhD nos m oldes das g ra n d es U niversidades germ â n ica s, a tin g iu o seu plen o d esen vo lvi­ m e n to n a U niversidade d e J o h n H o p kin s, que se in sta lo u e m 1876, vo lta d a espe­ cia lm e n te p a ra a pesquisa e p a ra o en sin o d e graduados, d efla g ra n d o o g rande im p u lso d a U niversidade a m e ric a n a e d e su a área de in flu ê n c ia , a ta l p o n to que u m g ra n d e n ú m e ro de países passou a m a n d a r os seus graduados para a p er­ feiç o a re m -se na q u ele País, vários países p a ssa n d o a im ita r o seu siste m a de

pós-graduação, e n tre os quais m a is re c e n te m e n te o B rasil. O sucesso in c o n te ste da U niversidade a m e ric a n a e do seu siste m a de pós-g ra d u a çã o deve-se, a nosso ver, a u m a im p la n ta ç ã o rea lista do tip o em presarial, v o lta d a para as necessid a ­ des d a co m u n id a d e e u tiliza n d o -se dela com o fo n te de recursos p ara a m a n u te n ­ ção dos altos padrões d a ciên cia e da tecnologia, o que, e m ú ltim a análise, re­ ve rte com o fo n te de riqueza n u m m e c a n ism o de r e - i n v e s t i m e n t o C o m u n id a d e-U n iversid a d e-E m p resa -C o m u n id a d e.

A u n iversid a d e brasileira, de concepção m e d ie va l em b o ra d e im p la n ta çã o recen te, n ã o en c o n tro u a in d a o seu ca m in h o . O sa lto econôm ico do nosso País, ora e m curso, está sen d o a ssistid o pela U niversidade brasileira, m a s n ã o está sen ã o por ela a co m p a n h a d o e m su a p le n itu d e . Urge u m d e sp e rta r rea lista para que a p ro jeta d a riqueza d este P aís seja a c o m p a n h a d a d a g ra n d eza de suas U ni­ versidades, fo n te peren e de in spiração e liderança.

F ala-se m u ito h o je em dia n o ‘‘E n sin o por O b jetivo s” e n a “U niversidade E m p re sa ”, term in o lo g ia de a lto co n teú d o d inâm ico, p o rém que não e n c o n tra res­ so n â n cia p rá tica pelo m e n o s n o estágio a tu a l d e n ossas U niversidades, de in fr a -e stru tu ra -e x tr -e m a m -e n t-e frá g il -e p-ersp -ectiva s fin a n c -e ira s lim ita d a s a c u rto p ra ­ zo. É óbvio que o p la n e ja m e n to p ro g ra m á tico é do m a is a lto in te rê sse ; e n tre ta n to , se n ã o firm a d o n u m a in fr a -e s tr u tu r a adequada, ele cairá fa ta lm e n te n o vazio, so b retu d o agora com a velocidade das tra n sfo rm a ç õ e s d e nossa Sociedade. É u r ­ g e n te que en ca rem o s o siste m a educacional n a ba.se de su a in fr a -e s tr u tu r a op e­ racional e n ã o a p en a s n o seu c o n teú d o pro g ra m á tico , do co n trá rio serem os os etern o s “filó so fo s da educação”, u m verd adeiro ex ército de “B ra n ca leo n es”. L o u ­ va m o s o g ra n d e esforço do a tu a l G overno e m e stim u la r a U niversidade e todo o siste m a educacional brasileiro, in clu sive m a is re c e n te m e n te o de p ó s-g ra d u a ­ ção, e n tr e ta n to ve m o s a in d a m u ito d is ta n te o fr u to d e ste esforço, pelo m e n o s n o seto r u n iversitá rio , onde u m a e stru tu ra pobre e arcaica se d e b a te m e io trôpega, d e u m lado com a m a ssific a çã o do en sin o de g raduação e, do outro, com a e x i­

gên cia da fo rm a ç ã o de u m a elite c ie n tífic o -c u ltu ra l d e pós-graduados, fu n ç ã o p a ra a qual, te m o s d e reconhecer, a U niversidade brasileira não e stá d evid a ­ m e n te preparada.

A c re d ita m o s n a U niversidade com o em presa, m a s é necessário que o crédito

se ja dad o c o m o u m a lto in v e s tim e n to e a longo p razo e que o G overno, a Socie­

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O B JE TIV O S DA PÓ S-G RAD U AÇ ÃO

O ob jetivo fu n d a m e n ta l do siste m a de p ó s-graduação organizado é o p ro ­ cesso da fo rm a çã o de professores, d e pesquisadores e c ien tista s, bem com o o tr e i­ n a m e n to de graduados para solucionar problem as d ecorrentes da co m p lexid a d e ãa sociedade m o d e rn a . O próprio en u n c ia d o dos objetivo s desse siste m a e d u ­ cacional de a lto n ív e l já o d e fin e com o u m siste m a de pesquisa e de fo rm a çã o de professores de n ível acadêm ico, d ife r e n te do siste m a d e educação profissio n a l de graduados, em bora não o d isp en se com o base e p ré-req u isito . E m o u tm s p a ­ lavras, a pós-graduação d e n tro ãa filo so fia original alem ã, a d o ta d a pela U ni­

versidade a m ericana, visa criar u m a elite c ie n tífic o -c u ltu ra l c r i a t i v a de “p e n ­

sadores”, pesquisadores e professores de a lto n ível p ara a solução de novos p ro ­ blem as, en q u a n to que a educação p ro fissio n a l de graduados viso.: o ap erfeiço a ­

m e n to e a especialiazção de u m a base e x e c u t i v a de n ív e l superior p ara o ex er­

cício profissional.

O conceito lite ra l de p ó s-graduação seria todo estu d o siste m a tiza d o realizado por graduado no seu resp ectivo cam po de atuação. Ora, se ao pé da letra a d e fi­ nição está correta, com o d o u trin a é a b so lu ta m e n te fa lh a e im precisa, b a sta n d o para verifica rm o s esta in coerência a análise dos o b jetivos da especialização e do doutorado: o p rim eiro visa o a p erfeiç o a m en to profissional, en q u a n to o d o u to ­ rado d e stin a -se à seleção de elites c ie n tífic o -c u ltu ra is. C riou-se e n tã o a te r m i­ nologia de p ó graduação “sen su la to ”, a credito que para d e fin ir o todo e p ó s-g ra d u a ç ã o rfe n sty stL c to ” para d e fin ir a pós-s-g ra d u a çã o e m seu se n tid o oris-ginal,

isfcTê, u P íitrrS § õ ra acrescido da inovação a n g lo -a m e ric a n a — o “m a s te r ”, tr a ­

d uzido para o ncsso m eio com o “m e str e ” e incorporado à p ó s-graduação “stric to sen su ”. Pelo m e n o s d uas co n tro vérsia s n a scera m d e n tro do “n o vo ” siste m a d e pós-graduação e n tre n ó s: a p rim eira é sobre a va lid a d e do m e rtra d o n a p ó s-g ra ­ duação “sensu stric to ” e a seg u n d a é sobre o do u to ra d o n a p ó s-graduação p ro ­ fissional, so b retu d o n a área m édica, u m a vez que, por d e fin içã o e d o u trin a , o PhD é u m pesquisador e m in e n te m e n te de área básica.

A cred ita m o s que u m “m o delo brasileiro'’ de p ó s-graduação senso a m p lo possa vir a ser em p reg a d o com sucesso e m nosso m eio, desde que ado ta d o com o “s is te ­ m a ” e não com o curso isolado, n o qual a especialização fo rm a base p a ra o m e s ­ trado e este para o doutorado, com flexib ilid a d e h o rizo n ta l e m cada fa se, p orém com esca lo n a m en to ve rtic a l em p ro fu n d id a d e e com alto poder seletivo. A adoção de u m fis te m a dessa n a tu re za poderia, a nosso ver. h a rm o n iza r a p ó s-graduação profiszional com o u m a eta p a p révia aos graus acadêm icos se m perda do p ra g m a ­ tism o, da flexib ilid a d e e da p ro fu n d id a d e exigidos pelo siste m a . E m n e n h u m o u ­ tro lugar cabe m a is do que aqui a fra se “ad a p te, n r<o a d o te”, p rin c ip a lm e n te no cam po ãa p ó s-graduação onde a exp eriên cia brasileira é e x tr e m a m e n te re d u ­ zida, h a ven d o u m a n a tu ra l te n d ê n c ia p ara a aáoção p u ra e sim p les de siste m a s ex p erim en ta d o s e m outros países, p o rém sem a m e n o r possibilidade de ê x ito no nosso, de in fr a -e s tr u tu r a m a te ria l e h u m a n a c o m p le ta m e n te d ife re n te s.

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A crítica. A realização da “tese” e o concurso de “D ocência L ivre”. Ele é agora u m pro fesso r m a d u ro ; desenvolve o esp írito de co m p etiçã o à procura do que pensa ser “u m lugar ao sol”. E ste é o P rofessor de m in h a época, apurado no ca dinho das d ificu ld a d es, im p e rfe ito , m u ito im p e rfe ito , p o rém fo r te e ex p erien te porque fo i trein a d o n o trabalho.

Senhores,

T em o s agora a o p o rtu n id a d e de u m a seleção o rganizada a tra vés d ós cursos

de m e stra d o e doutorado, p orém não nos ilu d a m o s que u m “M e stre” possa ser fo rm a d o por u m sim p les curso de dois anos ou que u m “D outor P esquisador” seja fe ito por fo rça de m a tríc u la ou aprovação em cursos. N ão se im p ro visa u m P ro­ fessor, não se “cria” u m P esquisador. A cre d ito nos cursos de m e stra d o e d o u to ­ rado com o o p o rtu n id a d e de a p ren d iza d o e fo rm a de seleção. A cred ito n a seleção in d ivid u a l e n a crítica com o en sin a m e n to . H averá p ó s-graduação onde houver u m C h e fe de Escola e u m líder da pesquisa.

P Ó S-G RAD U AÇ ÃO N A M ED IC IN A TR O P IC A L

Ao co n ceitu a rm o s M edicina T ropical, d e fin im o -la com o u m a especialidade de a tivid a d e de cam po, h o sp ita la r e laboratorial, p o n to de ju n ç ã o e n tre a clínica, a parasitologia, a m icrobiologia, a patologia e o m eio a m b ie n te . D en tro dessa lin h a de idéias, qualquer p ro g ra m a de pós-g ra d u a çã o nessa área deverá in clu ir ob rig a to ria m e n te os ra m o s m e n cio n a d o s e os seus desd o b ra m en to s. O estu d o da ecologia e da epidem iologia p ro p orcionam ao a lu n o u m a a b ertu ra p a ra os p ro ­ blem as do m eio a m b ie n te e de sua im p o rtâ n c ia no. d e se n v o lv im e n to da patologia tropical. A e sta tístic a e a in tro d u çã o ao e stu d o da m eto d o lo g ia c ie n tífic a e sta ­ belecem o senso da m e d id a dos fe n ô m e n o s, in d isp e n sá v e l ao pesquisador e p ro ­ fessor, que u tiliza m c o n s ta n te m e n te a crítica com o e n sin a m e n to , te sta n d o as “verd a d es” estabelecidas e descobrindo o u tra s verdades em su a a tivid a d e cria­ dora. O d e se n v o lv im e n to do senso de indagação e de com provação ex p e rim e n ta l deve ser p o n to c u lm in a n te dos o b jetivos de q u a lquer p ro g ra m a de pós-graduação

“sen su stric to ”. O vocabulário do e stu d a n te deve ser rico das indagaçõesp o r­

que, quando, com o e ondee o seu esp írito deve ser im p reg n a d o da curiosidade

e do desejo de resp o n d ê-la s e x p e rim e n ta lm e n te . Os m a is sim p les p roblem as d ev em se r respondidos e com provados c ie n tific a m e n te . S e m e p e rg u n ta sse m a d ife re n ç a e n tre o e stu d a n te de graduação e de p ó s-graduação e m M edicina T ro ­ pical, diria que o p rim eiro responde p ela p rá tic a e pela in fo rm a çã o e que o ú ltim o resp o n d e p ela crítica e p ela exp erim en ta çã o .

a ) S e l e ç ã o d o s c a n d i d a t o s

E ste é c e rta m e n te o p o n to crucial e m a is d ifíc il d e to d a a pós-graduação, in ic ia lm e n te porque a m a ioria dos ca n d id a to s e g ra n d e p a rte dos professores c o n fu n d e pós-g ra d u a çã o com a p e rfe iç o a m e n to e especialização p ro fissional. Por o u tro lado, a d eficiên c ia dos cursos d e graduação com a m a ssifica çã o do en sin o n a s escolas profissio n a is e a criação de n o va s escolas, com corpo d o ce n te fra co e in e x p e rie n te , en treg a ao m erca d o de pós-g ra d u a çã o u m a m a ssa d e e stu d a n te s m a l fo rm a d o s, que e m busca de m e lh o ra r os c o n h e c im e n to s que n ã o p u d era m o b ter n a graduação, p ro c u ra m os cursos de pós-graduação, m eio a ta ra n ta d o s à p rocura de u m a bolsa d e estu d o s p a ra o 7? a n o com o tá b u a de salvação, e n q u a n to se o rg a n iza m para e n fr e n ta r a vid a p ro fissional. E sta é c e rta m e n te a p rin cip a l causa da d esistên cia ou a b a n d o n o dos cursos d e pós-g ra d u a çã o pelos alunos, so b retu d o n a fa se de realização das “T eses”, q u a n d o descobrem a su a to ta l fa lta d e p reparo e vocação p a ra a carreira d o ce n te e de pesquisa.

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19) C an d id a to s que já e ste ja m exercen d o o m a g istério e /o u d esen vo lven d o lin h a s de pesqui'.a e m M edicina T ropical ou e m áreas correlatas. 29) C andidatos com residência e m C línica M édica ou e m D oenças In fe c c io ­

sas e P arasitárias e /o u com exp eriên cia de epidem iologia de ca m p o em M edicina T ropical, de laboratório d e parasitologia, en to m o lo g ia etc. 39) In te rn o s d e Serviços de D oenças In feccio sa s e P a rasitárias qualificados,

que d e m o n stre m excepcional in teresse pela pesquisa e que d ese je m filia r-se à a tivid a d e docente.

49) C an d id a to s p ro ced en tes de área s prioritárias, N orte, N o rdeste e C en tro -O este do B rasil, p rin c ip a lm e n te aqueles que d ese je m filia r -s e às U ni­ versidades locais.

59) E strangeiros que possam observar e p ropagar os co n h e c im e n to s aqui adquiridos e m iscig en a r os seus c o n h e c im e n to s e exp eriên cia d e vid a com os e stu d a n te s brasileiros.

69) A pessoa do ca n d id a to , sua in telig ê n cia , su a c u ltu ra geral, seu ca rá ter e su a sa n id a d e físic a e m e n ta l.

b ) D e s e n v o l v i m e n t o d o C u r s o

1 . S e m i n á r i o s e d i s c u s s õ e s

E sta é a fo rm a m a is vá lid a a nosso v e r p a ra o a p rim o ra m e n to c ie n tífic o -cu ltu ra l do a lu n o de pós-graduação, pois de u m lado lh e dá a o p o rtu n id a d e d e buscar por si m e sm o a in fo rm a çã o disp o n ível n a lite ra tu ra m éd ica , m e ta -bolizá-la pela crítica e p ela m e d ita çã o e a p re se n tá -la de fo rm a pública p ara os seus colegas e observadores, obrigandose a e stu d a r d e n tro d e u m a a u to -d lscip lin a in te le c tu a l e a receber as crítica s e observações, que aos poucos vão se inco rp o ra n d o à sua personalidade de p rofessor e fu tu r o pesquisador. T em os u tiliza d o este m é to d o com g ra n d e sucesso: os a lu n o s recebem com a n tece d ên cia u m a série de cerca de 40 te m a s a n u a is p ara d isc u tire m u m por sem a n a , n o p rim eiro ano do curso. A o fin a l de cada sem a n a , depois de u m a e x te n sa revisão bibliográfica sobre o a ssu n to e de te re m deb a tid o e n tre si, 4 a 6 alunos a p re se n ta m o te m a e m fo rm a de sem in á rio público, onde recebem as críticas, observações e p e rg u n ta s dos professores, colegas e a lu ­ nos p resen tes. E sta fo rm a de a p resentação, a lém de e stim u la r o a lu n o ao estu d o a p ro fu n d a d o dos tem a s, p ro p o rcio n a -lh es u m g ra n d e desem baraço de exposição, serv in d o -lh e s ta m b é m com o tr e in a m e n to didático.

2 . T r e i n a m e n t o c l í n i c o

P arece-nos d a m a is a lta im p o rtâ n c ia p ara o “T ro p ica lista ” u m a fo r ­ m a çã o clínica global, co m ê n fa se n a s doenças in feccio sa s e p a ra sitá ria s em seus m ú ltip lo s e variaaos aspectos. D eve ser realizado d a n d o -se resp o n sa ­ b ilidade aos p ó s-g ra d u a n d o s n a s e n fe rm a ria s, a m b u la tó rio s, n a apresen ta çã o

dos casos clínicos de su a responsabilidade e n a orien ta çã o dos in te rn o s e

e stu d a n te s s o b su a supervisão. Dois a nos de exp eriên cia n u m Serviço de

bom m o v im e n to e elevado n ív e l são s u fic ie n te s p a ra d esem b a ra ça r u m a luno d ilig e n te e aplicado.

3 . T r e i n a m e n t o e m l a b o r a t ó r i o

A lém dos cursos d e parasitologia, en to m o lo g ia e m icrobiologia é n ec es­ sário que o a lu n o adquira desem baraço n a s técn ica s básicas de laboratório e de

e x p erim en ta çã o a n im a l, a fim de que possa desen vo lver-se com m a io r p ro ­ fu n d id a d e e m u m a delas, quando do d ese n v o lv im e n to e x p e rim e n ta l de sua

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Jan.-Fev., 1974

Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

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adquira u m bom c o n h e c im e n to de citologia, das técn ica s de coloração, do m a n e jo das ch a v es en to m o ló g ica s e dos m eio s d e preservação de esp écim ens p ara e x a m e posterior, a lém n a tu r a lm e n te da fa cilid a d e de re c o n h ecim e n to m orfólógico dos ele m e n to s parasitários, em sa ngue, fezes, u rin a e nos tecidos. E n fim , o “T ro p ica lista ” deve ser fa m ilia riza d o com o laboratório, p ara e x e ­ cução das técn ic a s co n ven cio n a is e ab erto ao a p ren d iza d o das técn ica s m a is so fistica d a s n u m c a m p o p a rtic u la r de pesquisa por que v e n h a a se interessar.

4 . T r e i n a m e n t o d e c a m p o

O que m e lh o r d e fin e u m “T ro p ica lista ” é a sua exp eriên cia de cam po,

u m a vez que os clínicos e p a ra sito lo g ista s puros quase sem p re se restrin g em à a tiv id a d e h o sp ita la r e laboratorial, resp e ctiv a m en te. P a rtin d o do prin cíp io de que o h o sp ita l é o lugar m e n o s in d ica d o p a ra se e stu d a r u m a doença, em bora seja o m e lh o r lugar para se estu d a r u m d o en te, u m a vez que a a m o stra h o sp ita la r é sem p re viciada, é necessário que o “T ro p ica lista ” seja e m in e n te m e n te u m pesquisador de cam po, p ara que possa d e fin ir a h istória n a tu ra l ãa doença e da infecção, a b o rdando d o en tes e não doentes, n u m a visã o global, clínica, ecológica e epidem iológica. Um tre in a m e n to in te n siv o de pelo m e n o s 4 se m a n a s n o cam po, d ese n vo lven d o u m m odelo de in v e s ti­ gação epidem iológica, é in d isp en sá vel e m q u a lquer curso de pós-graduação e m M ed icin a T ropical.

c ) A r a l i a ç ã o f i n a l

A avaliação fin a l é quase tã o d ifíc il com o a seleção inicial. Os ex a m es p a r­ ciais obrigatórios, b em com o os e x a m es fin a is, d ific ilm e n te m e d e m a p o ten cia li­ dade do fu tu r o p ro fesso r e pesquisador. Um ano de observação n o C urso-base te m se m o stra d o in s u fic ie n te para ju lg a m e n to preciso. M u ita s vezes u m c a n d i­ d a to que fe z u m curso fra co ou regular revela -se u m ex c e le n te p la n eja d o r ao a p re se n ta r o seu p la n o de tese. O utras vezes, o a lu n o b rilh a n te d u ra n te o curso e m b a ra ç a -se n o p la n o de tese e não consegue a p re se n ta r n a d a a ce itá v el e te r ­ m in a d e sistin d o fr e n te a d ific u ld a d e s de d e se n v o lv im e n to de u m p la n o de p es­ quisa.

d ) D e s e n v o l v i m e n t o d a T e s e

A tese de m e stra d o deve c o n sta r de u m a m o n o g ra fia de ca su ística própria e exp eriên cia pessoal do ca n d id a to , n a qual ele te m o p o rtu n id a d e de d e m o n stra r a sua ca pacidade d e organização de u m tra b a lh o , que em b o ra n ã o n ecessaria­ m e n te original, d e m o n stre o seu a m a d u re c im e n to p a ra organizar u m a pesquisa

e o rd en á -la de fo rm a d id á tica e com p reen siva , a fim de que possa tira r co n clu ­

sões c ie n tific a m e n te válidas. N ecessa ria m en te deverá ser u m tra b a lh o sim p les e o b jetivo, p a ra que seja exeq ü ível n e ste n ível. J á a tese de do u to ra d o deve ser u m tra b a lh o d e pesquisa original, que tra g a u m a real con trib u içã o c ie n tífic a e que d e m o n stre o a m a d u re c im e n to do ca n d id a to com o pesquisador de a lto nível e u m p e rfe ito m a n e jo d a m eto d o lo g ia c ie n tífic a .

e ) T r e i n a m e n t o d i d á t i c o

O tr e in a m e n to d id á tico deve ser realizado ao lo ngo do curso, n o 29 e 39 anos, após a conclusão do curso-base, q u a n d o o a lu n o deverá ser colocado com o a u ­ x ilia r d e en sin o do curso de graduação. E sta colocação te rá u m a tríp lice v a n ta ­ g e m : 19) o a lu n o pós g ra d u a n d o terá a o p o rtu n id a d e de c o n tin u a r estu d a n d o

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Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

Vol. VIII — N? 1

fessores m a is ex p e rie n te s; 3?) proporcionará u m a su b sta n cia l a ju d a ao corpo d o cen te da In stitu iç ã o , e m geral m u ito sobrecarregado com a m a ssific a çã o do

en sin o de graduação.

UMA E X P E R IÊ N C IA DE PÓ S-G RAD U AÇ ÃO EM M ED IC IN A T R O P IC A L

H á 4 anos vim o s realizando, a p a re n te m e n te com sucesso, pelo m e n o s n o que nos fo i dado observar a té agora, u m curso de p ó s-graduação “stric to s e n ru ” em D oenças In feccio sa s e P arasitárias, n o D e p a rta m e n to de M edicina P rev e n tiv a da F aculdade de M edicina da U niversidade F ederal do R io de Janeiro.

O curso v e m se rea lizando de fo rm a escalonada, com a duração m ín im a de 1, 2 ou 3 anos caso o ca n d id a to deseje ob ter a E specialização, o M cctrado ou o

D outorado, e com a duração m á x im a de 5 anos. No prim eiro a n o p odem ser m a ­

triculados a té 12 a lunos que exercem a tivid a d es clínicas n o período da m a n h ã e o b têm os créditos em n ív e l de pós-graduação, sob a fo rm a de cursos, sem inários e práticas de laboratório n a p a rte d a ta rd e, em regim e in te n siv o de 40 h oras de trabalhos sem a n a is. A o fin a l de u m ano, os a lunos rea liza m u m tra b a lh o de cam po com a duração de 4 sem a n a s e su b m e te m -se a u m ex a m e fin a l. Se a pro­ vados com m é d ia igual ou superior a 7 ( R) , n a s provas, sem inários e “obser­ vação c o n tín u a ”, são considerados aprovados e p o d em receber c e rtifica d o de E s­ pecialização pelo. U niversidade.

Dos aprovados n o curso de Especialização a té o n ú m e ro de 6 p o d em ser in sc ri­ tos p ara o M estrado. N este período, a lém das m a té ria s da “área de concentração",

Referências

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