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CAMPOS SALLES

E O POSITIVISMO

UM ESTUDO SOBRE A COMUNICAÇÃO POLÍTICA

DO SEGUNDO PRESIDENTE CIVIL BRASILEIRO

Universidade Metodista de São Paulo

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

São Bernardo do Campo, 2005

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VICTOR KRAIDE CORTE REAL

CAMPOS SALLES

E O POSITIVISMO

UM ESTUDO SOBRE A COMUNICAÇÃO POLÍTICA

DO SEGUNDO PRESIDENTE CIVIL BRASILEIRO

Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP – Universidade Metodista de São Paulo, para a obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Adolpho C. F. Queiroz

Universidade Metodista de São Paulo

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social

São Bernardo do Campo, 2005

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FOLHA DE APROVAÇÃO

A Dissertação de Mestrado “Campos Salles e o Positivismo – Um estudo sobre a comunicação política do segundo presidente civil brasileiro”, elaborada por Victor Kraide Corte Real, foi defendida no dia ____ de ____________________ de ________, tendo sido:

( ) Reprovada

( ) Aprovada, mas deve incorporar nos exemplares definitivos as modificações sugeridas pela banca examinadora, até 60 (sessenta) dias a contar da data da defesa

( ) Aprovada

( ) Aprovada com louvor

Banca Examinadora:

___________________________________________________

___________________________________________________

___________________________________________________

Área de concentração: Processos Comunicacionais Linha de pesquisa: Comunicação Massiva

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Aos meus pais, José Armando e Angela

Célia, por estarem sempre ao meu lado,

fornecendo os principais subsídios para

minha formação como ser humano: amor,

carinho e fé.

(5)

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Adolpho C. F. Queiroz, estas páginas são tão suas quanto minhas, seja para nossa alegria ou tristeza. Obrigado por tudo que tem feito, sendo mais que um grande orientador, também um grande amigo e parceiro.

Ao meu avô materno, Antonio Jorge e aos meus avós paternos, Paulo (in memorian) e Lúcia, por serem exemplos de vida e grandes incentivadores da busca pelo conhecimento.

Aos meus irmãos, Renato (in memorian) e Ronaldo, meus maiores amigos, apesar das brigas constantes, talvez sem elas não estivéssemos hoje tão unidos.

À minha esposa, Elisângela, minha Lia, amor que só se encontra uma vez na vida, sobretudo minha companheira e inspiradora.

Aos amigos mestrandos e companheiros de viagem, Milton Pimentel Martins e Livio Sakai, por me ajudarem a superar as dificuldades desta pesquisa, com muito humor e descontração, demonstrando que nem sempre o sucesso está relacionado com o fato de tentar ser organizado e “certinho” com tudo.

Aos demais colegas do POSCOM da UMESP, pela troca de informações e experiências, especialmente aos amigos Kleber Carrilho, Hebert Rodrigues de Souza, Patrícia Polacow e Nahara Cristine Mackovics.

Ao amigo Mauricio Guindani Romanini, pelas palavras de incentivo, pelos livros emprestados e por fornecer, com enorme boa vontade, preciosos detalhes sobre a propaganda política brasileira do final do século XIX.

Ao corpo docente do POSCOM da UMESP, por facilitarem e de certa forma coorientarem esta pesquisa, especialmente ao Prof. Dr. José Marques de Melo, à Profa. Dra. Maria Graça Caldas, ao Prof. Dr. Jacques Vigneron e ao Prof. Dr. Joseph M. Luyten.

Aos funcionários do POSCOM da UMESP, da Cátedra UNESCO e da Secretaria Acadêmica da UMESP, pela cooperação e paciência.

Ao pesquisador e historiador Célio Debes, por ser muito atencioso e disponibilizar rico material sobre Campos Salles.

Ao Museu Republicano “Convenção de Itu” e ao Centro de Ciências e Letras de Campinas, principais fontes documentais desta pesquisa.

A CAPES, por conceder uma bolsa de estudos por 24 meses, sem a qual não teria sido possível concluir esta pesquisa.

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SUMÁRIO

Introdução

... 09

Capítulo 1 – Bases teóricas

... 12

1.1. Auguste Comte e o espírito positivo ... 16

1.2. O positivismo ortodoxo e heterodoxo ... 24

1.3. O pensamento positivista no Brasil ... 25

1.4. Do positivismo ao funcionalismo ... 31

Capítulo 2 – Século XIX: Cenário histórico e político brasileiro

... 34

2.1. Situação política do país durante o reinado de D. Pedro II ... 34

2.2. Período da propaganda republicana (1870-1889) ...35

2.3. Situação política do país após a Proclamação da República ... 43

2.4. Sistema Eleitoral Brasileiro ... 47

2.4.1. Constituição de 1824 ... 47

2.4.2. Constituição de 1891 ... 48

Capítulo 3 – Trajetória política de Campos Salles

... 49

3.1. Formação acadêmica ... 51

3.2. Relacionamento com a imprensa ...53

3.3. Deputado Provincial pelo Partido Liberal ... 64

3.4. Vereador em Campinas – eleição e reeleição ... 73

3.5. Deputado Provincial pelo Partido Republicano ... 80

3.6. Deputado Geral ... 90

Capítulo 4 – Rumo à Presidência da República

... 97

4.1. Momentos finais da Monarquia ... 100

4.2. Ministro da Justiça do Governo Provisório ... 109

4.3. Senador ... 116

4.4. Presidente do Estado de São Paulo ... 121

(7)

Capítulo 5 – Estratégias de comunicação política: Um resumo

... 135

Conclusão

... 145

Referências Bibliográficas

... 147

(8)

RESUMO

Campos Salles foi um político de grande importância para o Brasil, destacando-se como um dos personagens mais ativos do movimento republicano. Iniciou sua carreira política aos 26 anos, sendo eleito Deputado Provincial. Em 1898, com 57 anos, assumiu o mais alto cargo político da Nação. Esta pesquisa pretende analisar as estratégias de comunicação política por ele adotadas até chegar à Presidência da República, procurando comprovar a influência do positivismo em sua trajetória.

Palavras-chaves: Comunicação Social, Propaganda Política, Campos Salles.

RESUMEN

Campos Salles fue un político de gran importancia para Brasil, destacandose como uno de los personajes más notorios del movimiento republicano. Inició su carrera política a los 26 años, siendo elegido Diputado Provincial. En 1898, con 57 años, asumió el más alto cargo político de la Nación. Esta investigación pretende analizar las estrategias de comunicación política por él adoptadas hasta llegar a la Presidencia de la República, tratando de comprobar la influencia del positivismo en su trayectoria.

Palabras-clave: Comunicación Social, Propaganda Política, Campos Salles.

ABSTRACT

Campos Salles was a politician of great importance to Brazil, distinguing himself as one of the most active members of the republican party. At age 26 he began his politics career, being elected Provincial Deputy. In 1898, with 57 years old, he assumed the highest political position of the Nation. This essay intends to analyse the political communication estrategies adopted by him until reaching the Presidency of the Republic, looking to prove the influence of positivism in his path.

(9)

INTRODUÇÃO

Em sua recente dissertação de mestrado, TOLEDO (1997, p.04-05) afirma, ao fazer um levantamento sobre a visão clássica da propaganda política, com relação ao seu tratamento como ciência através do uso de técnicas e leis específicas, que os principais autores são Jean-Marie Domenach, Frederic C. Bartlett e Serge Tchakhotine. Anteriormente ao trabalho de Toledo, MORAGAS SPA (1981, p.152) já havia comentado sobre a importância e a grande divulgação de Tchakhotine e Domenach no contexto europeu. Por outro lado, diversos autores destacam também o segmento norte-americano de estudos sobre propaganda política, representados por Harold D. Lasswell e Paul F. Lazarsfeld. As obras dos pesquisadores mencionados e consagrados mundialmente, são fundadoras dos estudos sobre comunicação política no século XX. As mesmas foram utilizadas com muita propriedade e garantiram sólida sustentação teórica para alguns dos melhores trabalhos produzidos dentro da linha de pesquisa de comunicação política, do Programa de Pós-Graduação da Universidade Metodista de São Paulo, cujo objeto central atualmente é a campanha eleitoral dos ex-presidentes brasileiros.

No entanto, com relação a fundamentação teórica, foi feita aqui uma opção essencialmente diferente desta que vem sendo adotada nas pesquisas similares. Pois, estes norteadores teóricos, tidos como referenciais clássicos consolidados, assim como outras teorias e métodos elaborados ao longo dos últimos cem anos, foram considerados aqui como impróprios para analisar a comunicação política praticada no final do século XIX.

A solução encontrada, justamente para evitar o anacronismo de aplicar conceitos à realidades cronologicamente anteriores ao momento de sua formulação, foi recorrer ao positivismo de Auguste Comte. Uma corrente filosófica com fortes preocupações socio lógicas, elaborada durante o século XIX, cujas implicações encontraram eco e influenciaram o movimento republicano (argumentos a serem discutidos e defendidos nos próximos capítulos). Para fugir também do anacronismo, termos contemporâneos como marketing político, por exemplo, não foram utilizados neste texto.

As expressões “movimento republicano” e “propaganda republicana” serão utilizadas aqui para abordar, genericamente, todos os tipos de ações ideológicas realizadas contra a monarquia e a favor da implantação do regime republicano no Brasil, a partir do lançamento do Manifesto Republicano, em 1870, sejam elas de ordem política, militar, religiosa e/ou comunicacional.

(10)

Outra importante questão de nomenclatura a ser frisada nesta introdução, diz respeito ao uso do termo “província” para designar tanto os Municípios como os Estados brasileiros, pois assim eles eram tratados antes da Proclamação da República. Portanto, pelo mesmo motivo, os atuais termos Deputados Estaduais e Federais são mencionados nesta pesquisa como Deputados Provinciais e Gerais.

O nome do ex-presidente Dr. Manoel Ferraz de Campos Salles, será tratado na maior parte do trabalho de forma resumida, ou seja, simplesmente como Campos Salles. Interessante anotar que, em algumas obras, “Campos Salles” é escrito com apenas um “L”, aqui foi feita a opção de utilizar sempre os dois “LL”, pois foi esta a ortografia encontrada na maioria do material pesquisado. Ao transcrever as cartas e documentos foram totalmente preservadas ortografia, pontuação e abreviações originais.

Sobre o método de pesquisa, foi adotado o estudo exploratório. Sendo considerado no âmbito da pesquisa social, segundo GIL (1987), como a melhor forma de desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias. As pesquisas exploratórias têm o objetivo de proporcionar uma visão geral sobre determinada realidade.

Esta opção metodológica possui uma grande abrangência, sendo necessário definir um enfoque mais específico para satisfazer as características de cada estudo. Neste caso foram estipuladas duas linhas de pesquisa: a bibliográfica e a documental.

De acordo com GIL (1987, p. 48) “boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisa bibliográfica”, justamente por ela ser capaz de nos “colocar em contato direto com tudo aquilo que foi escrito” (MARCONI & LAKATOS, 1986, p.58). Além disso, “as pesquisas sobre ideologia, bem como aquelas que propõem a análise das diversas posições acerca do problema, também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente a partir de fontes bibliográficas” (GIL, 1987, p. 48).

Entretanto, muitas informações sobre Campos Salles não encontram-se em livros, publicações periódicas ou impressos em geral. Sendo portanto, necessária a pesquisa documental, pois “os documentos, de modo geral, são todos os materiais escritos que podem servir como fonte de informação para a pesquisa científica e que ainda não foram elaborados” (MARCONI & LAKATOS, 1986, p.56). Ou ainda, aplicando o conceito de GIL (1987, p. 51), a pesquisa documental justifica-se por exp lorar “materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa”.

Para a coleta de material, foram consultados os acervos da Biblioteca da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP); Biblioteca da Universidade

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Metodista de São Paulo (UMESP); Biblioteca da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP); Biblioteca da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. Além das bibliotecas, foram visitados o Museu Republicano “Convenção de Itu” e o Centro de Ciências e Letras de Campinas.

A análise dos dados coletados foi baseada nas técnicas metodológicas de SEVERINO (2000), quais sejam: Análise textual – preparação do texto e seleção do material relacionado ao objeto de pesquisa; Análise temática – compreensão do material selecionado; Análise interpretativa – interpretação do material; Problematização – discussão sobre o conhecimento obtido; e Síntese pessoal – reelaboração e desenvolvimento das reflexões pessoais, confirmando ou discordando das hipóteses e questões de pesquisa.

As obras de Célio Debes sobre o ex-presidente e o movimento republicano, foram utilizadas como base principal do presente trabalho. Ele dedicou muitos anos de sua vida pesquisando a trajetória de Campos Salles, produzindo assim o panorama histórico/biográfico mais completo, até hoje publicado, sobre a vida deste personagem político brasileiro. Célio Debes percorreu diversos jornais da época e sistematizou um extenso material documental encontrado em museus e arquivos, transcrevendo em suas obras uma grande quantidade de cartas, documentos e notícias.

Durante o trabalho de campo empreendido por esta pesquisa, foram encontrados materiais tanto no Museu Republicano “Convenção de Itu”, como no Centro de Ciências e Letras de Campinas, que de alguma maneira já haviam sido apresentados nos trabalhos de Célio Debes. Sendo assim, foi mantida a proposta metodológica original, levando-se em conta, porém, que a extensa obra “Campos Salles – perfil de um estadista” de Debes deveria servir como um guia natural. Considerando-se que dela seriam extraídos os pontos relativos às estratégias de comunicação de Campos Salles, os quais foram colocados em discussão diante dos conceitos teórico- metodológicos definidos e de outros documentos e obras existentes sobre o ex-presidente.

Os dois primeiros capítulos que se seguem, dizem respeito à fundamentação teórico-metodológica e ao cenário político da época. Eles são necessários para o satisfatório desdobramento das estratégias de comunicação política de Campos Salles, aspecto central desta pesquisa, abordado nos dois últimos capítulos.

(12)

Capítulo 1

Bases teóricas

Grande parte deste trabalho está baseado nas manifestações políticas propagadas no Brasil, no final do século XIX, pelo movimento republicano. O Partido Republicano Paulista, foi um dos principais difusores da propaganda colocada em prática por aquele movimento, entre outros fatores devido ao seu alto nível de organização e ao destacável grau de intelectualidade de muitos de seus membros. Demais aspectos sobre sua formação, ocorrida em 1873, e sobre as ações daquela agremiação, que teve Campos Salles como um dos fundadores e membro da Comissão Permanente, assim como aspectos gerais do Segundo Reinado e da Primeira República serão apresentados no segundo capítulo.

Neste momento o objetivo é apresentar as bases teóricas sobre as quais o movimento republicano recebeu influências e se afirmou, as quais consequentemente devem refletir nas argumentações deste trabalho.

Os republicanos brasileiros sofreram, na verdade, o impacto de três correntes ideológicas distintas, o liberalismo, o jacobinismo e o positivismo, cada qual permeada de aspectos utópicos e visionários próprios. Sendo que a última ainda estava dividida em duas vertentes: ortodoxa e heterodoxa. José Murilo de CARVALHO (2003, p. 9) escreve sobre a presença simultânea destas três ideologias políticas no Brasil, caracterizando sinteticamente cada uma delas:

- Liberalismo: “sociedade composta por indivíduos autônomos (...) cabia ao governo interferir o menos possível na vida dos cidadãos”;

- Jacobinismo: “idealização da democracia clássica, a utopia da democracia direta, do governo por intermédio da participação direta de todos os cidadãos”;

- Positivismo: “postulava uma futura idade de ouro em que os seres humanos se realizariam plenamente no seio de uma humanidade mitificada”.

Ainda segundo CARVALHO (2003, p. 9-13), houve uma disputa intensa entre as três correntes durante os primeiros anos da República no Brasil, sendo que na virada do século o liberalismo triunfou como modelo político. No entanto, o autor considera inegável o entusiasmo constante, entre os propagandistas, pelos ideais franceses, representados através do jacobinismo e do positivismo. Este entusiasmo estava relacionado com a proximidade do centenário da Revolução Francesa, e mais do que isso, era motivado pela riqueza simbólica

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disponível nestas correntes, as quais ao contrário do liberalismo, davam grande importância ao uso de símbolos e mitos na batalha pela vitória de sua versão da república.

O liberalismo estabilizou-se, de fato, no Brasil, com o amadurecimento da República. Provavelmente por ter demonstrado, diante da realidade do país, maior aplicabilidade prática, enquanto as outras duas correntes possuíam fundamentos mais utópicos, servindo principalmente para os interesses de propaganda e para os trabalhos acadêmicos desenvolvidos pelos intelectuais republicanos. Não podemos negar a influência do liberalismo no movimento republicano, principalmente em São Paulo, onde muitos republicanos eram proprietários rurais, e alguns deles, inclusive Campos Salles, foram filiados ao Partido Liberal, antes da criação dos Clubes Republicanos. Segundo CARVALHO (2003, p. 24), “para esses homens, a república ideal era sem dúvida a do modelo americano. Convinha- lhes a definição individualista do pacto social”. Mas, como já foi dito, o modelo liberal não dedicava muita atenção à simbologia revolucionária, e apesar daquele pensamento estar de certa forma entranhado em muitos republicanos, ele não foi utilizado, durante o período da propaganda, com o mesmo ardor que o jacobinismo e o positivismo. Na verdade entre os propagandistas, o liberalismo cedeu espaço para uma das outras duas ideologias.

As correntes francesas atingiram de maneiras diferentes aqueles homens que desejavam o fim da monarquia. Alguns deles, desde a formação dos primeiros Clubes Republicanos, defenderam uma atuação mais extremista, falavam em revolução e pediam a morte do príncipe-consorte da herdeira do trono. Eles não manifestavam qualquer simpatia pelos tradicionais partidos monarquistas (liberais e conservadores), e com a criação do Partido Republicano Federal (em 1893, como será apresentado no Capítulo 2) ficaram conhecidos como “radicais exaltados”. Evidentemente, aqueles republicanos receberam maior influência do jacobinismo. Mas, apesar de engrossarem a luta contra a monarquia, “não tinham de fato objetivo prático algum” (GUANABARA, 1983, p. 12).

Finalmente, segundo CARVALHO (2003, p. 26-27), havia um grupo pequeno, embora agressivo, de partidários da liberdade à antiga. Não estavam interessados na solução americana, e não queriam também a jacobina, para eles seria necessário outro tipo de saída. A versão positivista da república, em suas diversas variantes, oferecia tal saída. O arsenal teórico positivista trazia armas muito úteis.

Os membros do Partido Republicano Paulista fizeram parte do pequeno grupo mencionado. As evidências levam a crer que alguns conceitos positivistas seriam intensamente utilizados nos trabalhos realizados dentro daquele agrupamento localizado no seio do movimento republicano. A força dos republicanos paulistas seria demonstrada durante

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todo o período da propaganda republicana, e seus esforços seriam coroados com a eleição de dois de seus membros fundadores, Prudente de Morais e Campos Salles, como os primeiros presidentes civis brasileiros.

As impressões de José Maria dos SANTOS (1942, p. 155-156), pesquisador contemporâneo daquele momento histórico, servem como uma das principais evidências sobre o envolvimento dos republicanos com o positivismo:

No correr de 1879 esse concentrado e precioso movimento litterario [mencionando o Partido Republicano Paulista, especificamente o grupo de intelectuais republicanos situado na cidade de Campinas] começa a receber a influencia do positivismo de Augusto Comte. Até então, o estudo das idéias do philosopho de Montpellier havia -se circumscripto a um pequeno meio de pensadores e mathematicos do Rio de Janeiro, no qual brilhavam por excellencia Benjamin Constant, Miguel Lemos e Teixeira Mendes. (...) Nessa phase, com a intervenção de novos elementos como Luiz Pereira Barreto, José Leão e Alberto Salles, as formulas do projecto de 1873 [bases para a Constituição do Estado de São Paulo, considerado pelo próprio pesquisador como a melhor manifestação intelectual de toda a propaganda republicana] entram a soffrer cotejos com os moldes politicos do positivismo.

É possível perceber que o movimento republicano em São Paulo não iniciou efetivamente suas atividades sob a influência do positivismo, somente a partir de 1879 seus trabalhos literários passariam a basear-se nas obras de Auguste Comte e de seus discípulos. No entanto, ainda que indiretamente, os alunos dos cursos de Direito, muitos deles futuros republicanos, já haviam recebido alguma influência do positivismo antes daquele ano. Este fato pode ser notado na obra de Antônio Carlos SALLES JUNIOR (1944, p. 33), ao discorrer sobre a formação acadêmica de Campos Salles, ele apresenta a importância da sociologia elaborada por Auguste Comte, defendendo que fora dela não seria possível compreender nem o fundamento, nem a função das instituições jurídicas daquela época.

Ainda sobre a presença do positivismo na Faculdade de Direito de São Paulo, seria interessante reproduzir alguns trechos da obra de Ivan LINS (1967, p. 144-145), diante dos quais fica evidente a existência de correntes pró e contra Auguste Comte no meio acadêmico:

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Tal a penetração da filosofia positiva, na Faculdade de Direito de São Paulo, na década de 1880 a 1890, que o professor Dr. José Maria Correia de Sá e Benevides, católico e tomista irredutível, quase não dava uma aula sem objetar algum aspecto da obra de Comte, embora fosse o Direito Romano a matéria sobre a qual devia discorrer.

(...) Referindo-se ao Dr. Benevides em suas memórias para a história da academia de São Paulo, escreve Spencer Vampré: “combater o positivismo era uma das mais tenazes preocupações de sua inteligência e, em todas as aulas, a propósito de nada, lá surgiam remoques a Augusto Comte, Littré e Laffitte...”.

(...) A partir de 1890, Almeida Nogueira, então fortemente imbuído da filosofia positiva, constituiria, na faculdade de São Paulo, a contrapartida de Benevides.

A obra de Comte sofreu sensíveis mudanças ao longo dos anos, dividindo seus adeptos em dois principais grupos: os heterodoxos, fiéis apenas à primeira fase, de cunho científico e filosófico; e os ortodoxos, mais alinhados à doutrina religiosa. O espírito positivo chegou ao Brasil em suas diferentes versões, atingindo assim, setores distintos da sociedade brasileira.

Devido a sua formação técnica, os militares, de acordo com CARVALHO (2003, p. 28), sentiram-se fortemente atraídos pela ênfase dada pelo positivismo à ciência e ao desenvolvimento industrial.

O modelo positivista seduziu também os republicanos do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. Júlio de Castilhos assumiu o controle do Estado gaúcho em 1893 e fez um governo altamente autoritário durante 30 anos, ele elaborou a constituição do Rio Grande do Sul com base nos fundamentos da política positivista. Os ortodoxos, liderados por Miguel Lemos e Teixeira Mendes, reunidos na Sociedade Positivista do Rio de Janeiro, apesar de estarem mais preocupados com aspectos religiosos, foram grandes defensores da República.

Devido a sua relevância e evidência durante o século XIX, o positivismo, da maneira como foi utilizado pelo movimento republicano, bem como seu impacto na comunicação política de Campos Salles, representa o eixo teórico sobre o qual este trabalho tecerá seus argumentos. Portanto, a pretensão deste primeiro capítulo é tentar resgatar os principais conceitos do pensamento de Auguste Comte, assim como suas diferentes acepções e suas aplicações no Brasil.

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1.1. Auguste Comte e o espírito positivo

As raízes ideológicas do positivismo, assim como a idéia de teorizar o progresso histórico da Humanidade, foram influenciadas por importantes movimentos filosóficos do século XVIII, principalmente pelo Iluminismo, representado por pensadores como Immanuel Kant e David Hume. O conhecimento positivo foi baseado na crença do progresso da Humanidade por meio da razão; e no empirismo radical, ou Utilitarismo, cujo foco estava voltado para a experiência como processo do conhecimento.

O princípio teórico do positivismo, apresentado no “Discurso sobre o Espírito Positivo” de Auguste Comte, afirma que os fenômenos sociais poderiam ser reduzidos a leis, assim como, por exemplo, a teoria gravitacional havia sido criada para estudar as órbitas dos corpos celestes.

Para defender aquilo que Auguste Comte chamava de “superioridade mental do espírito positivo ou sistema de filosofia positiva”, ele criou a Lei da Evolução Intelectual da Humanidade, mais conhecida como a Lei dos Três Estados. O autor definiu três estados teóricos, diferentes e sucessivos para qualificar o desenvolvimento evolutivo dos homens:

1) Estado Teológico: Considerado como puramente provisório e preparatório. Momento no qual o espírito humano ainda se encontra abaixo dos mais simples problemas científicos. Comte subdivide está fase em três etapas sucessivas:

a) Fetichismo: Atribuição a todos os corpos exteriores uma vida essencialmente análoga à nossa. A adoração dos astros caracteriza o grau mais elevado desta primeira fase teológica. Ela já não está tão presente nas sociedades de hoje;

b) Politeísmo: Livre predomínio especulativo da imaginação. O foco passa misteriosamente dos objetos materiais para diversos seres fictícios. A maioria de nossa espécie não saiu ainda de semelhante estado;

c) Monoteísmo: Inevitável declínio da filosofia inicial. A simplificação, caracterizada pelo uso da razão, unifica os deuses, restringindo cada vez mais o domínio anterior da imaginação. Persiste, com muita energia, na imensa maioria da raça branca.

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De acordo com COMTE (2002, p. 10):

Esta filosofia inicial não foi menos indispensável ao desenvolvimento preliminar de nossa sociabilidade do que ao de nossa inteligência, quer para constituir primitivamente algumas doutrinas comuns, sem as quais o laço social não teria podido adquirir nem extensão, nem consistência quer para suscitar espontaneamente a única autoridade espiritual que poderia então surgir.

2) Estado Metafísico ou Abstrato: Considerado como uma filosofia intermediária, limitado ao aspecto transitório, entre o regime teológico e o positivo. Tenta explicar a natureza íntima dos seres, a origem e o destino de todas as coisas, substituindo os agentes sobrenaturais por entidades ou abstrações personificadas. Por analisar os fenômenos dessa forma, foi permitido designar- lhe também a denominação de Ontologia.

A Metafísica foi considerada por COMTE (2002, p. 11) como:

Uma espécie de teologia enervada pouco e pouco por simplificações dissolventes, que lhe tiram espontaneamente o poder direto de impedir o desenvolvimento das concepções positivas, conservando-lhe, contudo, a aptidão provisória para entreter um certo exercido indispensável do espírito de generalização, até que possa enfim receber melhor alimento.

3) Estado Positivo: Chegamos enfim ao Estado, definido por Auguste Comte, como sendo ideal. Após ter passado pelas duas etapas anteriores, a inteligência humana, gradualmente emancipada, chegaria ao seu estado definitivo de positividade racional. As concepções positivistas sobre os fenômenos humanos não seriam apenas individuais, mas também e sobretudo, sociais, por resultarem de uma evolução coletiva e contínua, cujos elementos e fases essencialmente estariam entrelaçados. Partindo destes argumentos, Auguste Comte utilizou pela primeira vez o termo “Sociologia”, dando nome a esta nova ciência.

Vivendo neste estágio, imaginado por Comte, a Humanidade não limitar-se- ia a apreciação sistemática dos fatos existentes, simplesmente preocupada em descobrir sua primeira origem e seu destino final. Segundo COMTE (2002, p. 13-14):

(18)

O genuíno espírito positivo se acha tão afastado no fundo, do empirismo como do misticismo; é entre estas duas aberrações, igualmente funestas, que ele deve caminhar. (...) a verdadeira ciência, muito longe de ser formada por simples observações, tende sempre a dispensar, tanto quanto possível, a exploração direta, substituindo-a pela previsão racional, que constitui, a todos os respeitos, o principal caráter do espírito positivo. (...) Assim, o genuíno espírito positivo consiste em ver para prever, em estudar o que é, a fim de concluir o que será, segundo o dogma geral da invariabilidade das leis naturais”.

A Lei dos Três Estados não teve de fato utilidade prática nas campanhas eleitorais de Campos Salles, e nem mesmo foi aplicada diretamente pelo movimento republicano. A única relação que pode ser feita sobre este ponto da teoria de Auguste Comte, é a respeito da proposta evolutiva de superação do Estado Positivo sobre o Teológico e o Metafísico, assim como a implantação do Estado Republicano no Brasil foi defendida como a melhor alternativa para superar o Estado Monárquico. Entretanto, neste momento, a Lei dos Três Estados foi abordada superficialmente aqui apenas com o intuito de apresentar a lógica evolutiva do positivismo, ou seja, a idéia de que uma nova maneira de pensar estava surgindo para solucionar as dúvidas humanas.

Logo após definir as bases lógicas de sua teoria, Comte, em sua obra “Discurso Preliminar sobre o Espírito Positivo”, dá início a um processo de aprofundamento dos principais aspectos do positivismo, alguns dos quais serão aplicados com maior evidência pelo movimento republicano brasileiro, e consequentemente também estarão presentes na comunicação política de Campos Salles.

Partindo deste ponto, parece mais propício tratar primeiramente dos argumentos de Comte sobre as diversas acepções do termo “positivo”, os quais facilitam a compreensão de sua idéia como um todo. O autor considera os vários significados desta palavra nas línguas ocidentais, como sendo convenientes à nova filosofia. Em sua opinião, o aspecto de ambigüidade é apenas aparente, pois ao contrário disso, o fato de uma única expressão usual reunir vários atributos distintos, serve, na verdade, como um feliz exemplo da possibilidade de condensação de fórmulas pelas populações avançadas.

A mais antiga e também mais comum interpretação da palavra “positivo” designa o real em oposição ao fictício, neste sentido, o positivismo fica caracterizado pela “consagração às indagações verdadeiramente acessíveis à nossa inteligência, com a exclusão efetiva dos

(19)

impenetráveis mistérios com que se ocupava sobretudo a sua infância” (COMTE, 2002, p. 25).

Muito próximo do significado anterior, “positivo” indica o contraste entre útil e ocioso. Assim, a filosofia de Comte lembra que “o destino necessário de todas as nossas sãs especulações é o melhoramento contínuo de nossa verdadeira condição individual e coletiva, e não a vã satisfação de uma curiosidade estéril” (COMTE, 2002, p. 25).

A terceira acepção deste termo é utilizada para qualificar a oposição entre a certeza e a indecisão. Um quarto uso, confundido com o precedente, consiste em opor o preciso ao vago. Em ambos os casos, existe a tendência do espírito positivo apontar para um “grau de precisão compatível com a natureza dos fenômenos e conforme à exigência de nossas reais necessidades” (COMTE, 2002, p. 25). Outras maneiras de filosofar são apontadas por Comte como sendo vagas, por comportarem uma disciplina apoiada na autoridade sobrenatural.

Uma quinta aplicação é apresentada por Comte como sendo menos utilizada que as anteriores, neste caso o vocábulo “positivo” é empregado como o antônimo de negativo. Mesmo tendo um uso reduzido, este aspecto indica “uma das mais eminentes propriedades da genuína filosofia moderna, mostrando-a destinada, sobretudo por sua natureza, não a destruir, mas a organizar” (COMTE, 2002, p. 25).

Finalmente, Auguste Comte defende uma sexta acepção, ainda não indicada pela palavra “positivo”, mas considerada pelo autor como tendo um caráter essencial ao novo espírito filosófico, ou seja, sua tendência de substituir por toda parte o absoluto pelo relativo.

Após apresentar brevemente alguns pontos básicos sobre o positivismo, caracterizados pela Lei dos Três Estados e pelos diversos significados do termo “positivo”, chega o momento de relacionar os tópicos da obra de Auguste Comte que tiveram um papel de maior importância sobre a comunicação política no final do século XIX no Brasil:

1) Ordem e Progresso: conceitos intensamente defendidos por Comte como sendo peças chaves para a evolução social, defendidos como necessidades simultâneas resultantes da combinação entre estabilidade e atividade.

Para a nova filosofia, a ordem constitui sempre a condição fundamental do progresso; e, reciprocamente, o progresso é o objetivo necessário da ordem: como na mecânica animal, são mutuamente indispensáveis o equilíbrio e a progressão, um como fundamento e a outra como destino (COMTE, 2002, p. 31).

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Neste sentido, o espírito positivo seria uma alternativa filosófica capaz de solucionar a anarquia intelectual e moral, que na opinião de Comte, refletiria como um sintoma da grande crise moderna. Através da sua teoria, seria possível estabelecer uma harmonia elementar entre as idéias de existência e as de movimento.

Do ponto-de-vista político, relacionado às questões dominantes, o sentido primário da palavra ordem é apontado como sendo inseparável de todas as especulações positivas. Ou seja, ao tentar extinguir uma atividade perturbadora, a agitação política transformar-se-ia em movimento filosófico. Este argumento positivista baseia-se no fato das dificuldades sociais não serem tratadas como sendo essencialmente políticas, mas sobretudo morais, portanto sua solução dependeria muito mais das opiniões e dos costumes do que das instituições.

A noção de progresso, visto como dogma fundamental da sabedoria humana, surge como conseqüência direta da ordem. Representando a idéia de aperfeiçoamento contínuo, o progresso deveria favorecer cada vez mais o distanciamento entre os atributos que distinguem a humanidade da simples animalidade, tanto pela inteligência como pela sociabilidade. Assim, o progresso positivo não definiria um ponto final, pois:

Esta ideal preponderância de nossa humanidade sobre nossa animalidade preenche naturalmente as condições essenciais de um verdadeiro tipo filosófico, caracterizando determinado limite, do qual todos os nossos esforços devem aproximar-se constantemente sem, todavia, conseguirem jamais atingi-lo (COMTE, 2002, p. 33).

A modernização conservadora de Comte tinha como um de seus principais lemas a frase: “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”.

2) Desenvolvimento coletivo: Ao defender a idéia de que o homem não se desenvolve isoladamente, mas sim coletivamente, o espírito positivo é caracterizado como tendo uma aptidão espontânea para promover a extensão do entendimento do indivíduo à espécie. Na opinião de Auguste Comte, os filósofos modernos ainda não tinham conseguido analisar o ponto-de-vista social por não conseguirem libertar-se do estado metafísico.

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Conceber todas as nossas especulações como produtos de nossa inteligência, destinados a satisfazer às nossas diversas necessidades essenciais, sem se afastarem nunca do homem senão para melhor voltarem a ele, depois de haver sido feito o estudo dos outros fenômenos na medida em que o seu conhecimento se torna indispensável, quer para desenvolver nossas forças, quer para apreciar nossa natureza e nossa condição (COMTE, 2002, p. 17-18).

3) Incompatibilidade entre positivo e teológico: Praticamente em toda extensão da obra “Discurso Preliminar sobre o Espírito Positivo”, Auguste Comte aborda direta ou indiretamente a “impossibilidade de qualquer conciliação duradoura entre as duas filosofias, seja quanto ao método ou quanto à doutrina” (COMTE, 2002, p. 21). As concepções positivas, assim como qualquer ciência, seriam incompatíveis com as questões teológicas.

Ao abordar aspectos da realeza constitucional, originada no último período da Idade Média através da doutrina escolástica, o filósofo afirma que “o tipo teológico de fato forneceu a base racional do tipo político” (COMTE, 2002, p. 23). Como será discutido nos capítulos seguintes, este ponto ecoa com muita evidência diante dos ideais dos homens do movimento republicano brasileiro, os quais defendiam a dissociação entre Igreja e Estado.

4) Escola positiva: A valorização do ensino através da teoria positivista foi uma grande preocupação para Comte, assim como também afetou a estrutura das escolas no Brasil no final do século XIX, principalmente as militares, onde o positivismo teve maior impacto.

As universidades, a princípio emanadas da filosofia teológica, tornavam-se rivais do poder sacerdotal. “Apesar de sua tendência antianárquica, a escola teológica mostrou-se, em nossos dias, radicalmente impotente para impedir o surto das opiniões subversivas” (COMTE, 2002, p. 30). Paralelamente, na opinião de Comte, o espírito metafísico presidia uma decomposição não menos radical. Diante disso, o positivismo concorreria para:

Facilitar a verdadeira solução, incitando a transformar estéril agitação política em ativa progressão filosófica, de modo a seguir enfim a marcha prescrita pela natureza própria da reorganização final, que se deve operar primeiro nas idéias, para passar em seguida aos costumes e, por fim, às instituições (COMTE, 2002, p. 30-31).

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Uma das condições necessárias do advento da escola positiva seria a aliança entre proletários e filósofos, para tanto seria necessária a instituição de um “Ensino Popular Superior” (COMTE, 2002, p. 40), afim de propagar as noções positivas.

A nova filosofia exigiria um espírito de conjunto, fazendo prevalecer a ciência nascente do desenvolvimento social sobre todos os estudos constituídos até então. A escola positiva tenderia, “por um lado, a consolidar todos os poderes atuais nas mãos de seus possuidores, quaisquer que sejam, e, por outro, a impor- lhes obrigações morais cada vez mais conformes às verdadeiras necessidades dos povos” (COMTE, 2002, p. 41).

A renovação filosófica promovida pela escola positiva, encontraria naturalmente, segundo Comte, um acesso mais fácil e uma simpatia mais viva entre os proletários do que entre os empresários. A justificativa era “porque seus trabalhos próprios oferecem um caráter mais simples, um fim, mais nitidamente determinado, resultados mais próximos e condições mais imperiosas” (COMTE, 2002, p. 45). A universal propagação do ensino positivo realizar-se-ia, com ma ior eficácia, logo que as tendências mentais e morais tivessem atuado convenientemente entre os proletários, proporcionando a gradual renovação filosófica.

5) Política popular: Intimamente ligada com o tópico abordado anteriormente, a proposta política de Auguste Comte posiciona os operários, proletários e as demais classes subalternas como não tendo efetivamente o desejo de participar diretamente do poder político. De acordo com a filosofia positiva, “o povo não pode interessar-se essencialmente senão pelo emprego efetivo do poder, quaisquer que sejam as mãos em que resida, e não pela sua conquista especial” (COMTE, 2002, p. 47).

Seguindo a mesma linha, a proposta positivista indica a disposição do povo em substituir a vã discussão dos direitos pela fecunda apreciação dos deveres essenciais, levando a valorização de uma ativa moral universal:

Se o povo é hoje e deve, de ora avante, permanecer indiferente à posse direta do poder político, não pode nunca renunciar à sua indispensável participação contínua no poder moral, que, único verdadeiramente acessível a todos, sem nenhum perigo para a ordem universal, antes de grande vantagem quotidiana para ela, autoriza cada um a lembrar convenientemente aos mais altos poderes o cumprimento de seus diversos deveres essenciais, em nome de uma doutrina fundamental comum (COMTE, 2002, p. 47).

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Os desdobramentos políticos da teoria positivista e suas conseqüentes relações com as estratégias de comunicação eleitoral de Campos Salles representam uma das principais partes deste trabalho, portanto são pontos que serão discutidos conveniente e em profundidade nos capítulos 3 e 4. Neste momento, para finalizar esta apresentação resumida sobre os tópicos da obra de Auguste Comte, considerados pertinentes para esta pesquisa, seria importante mencionar a análise de Arthur Virmond de LACERDA NETO (2003), pesquisador positivista brasileiro, sobre o conceito de ditador republicano:

De larga aceitação nos meios castrense e civil nos fins do século XIX e até meados do seguinte, o Posit ivismo, em sua vertente política, formula o conceito de “ditadura republicana”, que a bibliografia brasileira, com certa freqüência, associa a totalitarismo, a despotismo, a tirania. (...)

Ora, nos meados do século XIX, quando Comte produziu a sua obra, o termo “ditadura” não apresentava o cariz depreciativo e odioso de que passou a revestir-se depois. (...)

Ao contrário, ele achava-se vinculado sobretudo à ditadura romana, regime em que alguém ascendia a uma magistratura poderosa pela qual enfrentasse uma situação socialmente excepcional, que requeria uma excepcional e transitória concentração de autoridade em quem a exercia. Longe de encarnar um déspota, o ditador romano correspondia a uma autoridade consentida e legítima.

Comte não adotou o vocábulo ditadura como equivalente de totalitarismo porque não foi este o seu intuito e porque, se o tivesse feito, não teria sido entendido assim, não o poderia ter sido, dado que então a sua acepção não era esta. É claro que ele não poderia ter adivinhado que, com o andar dos tempos, o significado desta palavra cambiaria para o atual. Com efeito, segundo Pedro Laffitte, sucessor de Comte, ele “não dá de modo nenhum à palavra ditadura o sentido de poder pessoal absoluto que se lhe atribui”.

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O “dictare” latino (ato de enunciar palavras que alguém escreve), empregado em sentido figurado, originou o verbo ditar, ato de prescrever, ordenar, impor algum mandamento. Ditador é quem dita e ditadura é a ação de ditar, independentemente do regime político e da forma governativa correspondentes: são igualmente ditaduras os governos presidencialistas, parlamentaristas, republicanos, monárquicos, despóticos, fascistas, democráticos e quaisquer outros.

Entretanto, como será apresentado nos próximos capítulos, estes argumentos foram utilizados com outra ênfase pelos republicanos.

1.2. O positivismo ortodoxo e heterodoxo

Num determinado momento da vida de Auguste Comte, sua obra e seus estudos sociais e filosóficos sofreram uma ruptura muito marcante, dividindo seus seguidores em dois eixos: ortodoxos e heterodoxos. Cada um desses eixos foi responsável por implicações próprias junto ao movimento republicano brasileiro, portanto, afim de facilitar a exposição das informações, foi criado o presente tópico dedicado à uma curta abordagem sobre esta divisão na teoria positivista.

Os principais estudos sobre as teorias de Auguste Comte indicam o ano de 1844 como sendo o momento no qual seu foco de pesquisa começou a sofrer um desvio definitivo. Neste ano, ele conheceu Clotilde de Vaux, por quem se apaixonou profundamente. Clotilde adoeceu de tuberculose e faleceu em 1846. A paixão de Comte por sua amada foi tão intensa que acabou sendo caracterizada como a justificativa para o início da segunda etapa de seus estudos. O resto de sua vida e obra foram devotados à Clotilde, Comte entrou numa fase altamente sentimental e feminista, passando a considerar a mulher como sendo o símbolo da própria Humanidade. Seus trabalhos assumiram um caráter ainda mais evidente de renovação social e moral, “os elementos religiosos passaram a predominar sobre os aspectos científicos, o sentimento foi colocado acima da razão, a comunidade foi sobreposta ao indivíduo” (CARVALHO, 2003, p. 21). O “Sistema de Política Positiva”, que a princípio deveria ser sua principal obra sobre o positivismo, acabou servindo como instrumento de divulgação da Religião da Humanidade, da qual Comte se proclamaria sumo sacerdote, demonstrando uma contradição dentro de sua própria lógica por estar regredindo ao estágio teológico.

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De acordo com a Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda. (disponível no site: <http://geocities.yahoo.com.br/mcrost07/positivismo.htm> acessado em: 06.dez.2004), os adeptos do positivismo dividiram-se em dois grupos antagônicos:

- Os heterodoxos, liderados por Émile Littré, autor de Fragments de philosophie positive et de sociologie contemporaine (1876; Fragmentos de filosofia positiva e sociologia contemporânea). Mantiveram-se fiéis somente à primeira fase, de cunho científico e filosófico, consideraram a segunda fase como um retrocesso, que entrava em conflito com a primeira e a renegava; e

- Os ortodoxos, que acompanharam Comte em sua fase religiosa, sendo liderados por Pierre Laffitte que foi o continuador da pregação e sacerdote máximo da religião da humanidade.

Os detalhes sobre a Religião da Humanidade, assim como a vertente ortodoxa e a segunda fase da obra de Auguste Comte como um todo, não interessam diretamente aos objetivos desta pesquisa. Alguns aspectos, principalmente relacionados com a idéia de “ditadura republicana” foram desenvolvidos e defendidos com maior intensidade pelo grupo de Laffitte e vieram a ter grande influência no movimento republicano brasileiro, portanto determinados pontos deste segundo momento do positivismo serão abordados nos capítulos adiante. Entretanto, é importante salientar que a base teórica deste trabalho repousa sobre os conceitos heterodoxos positivistas.

1.3. O pensamento positivista no Brasil

Como já foi comentado no início deste capítulo, o positivismo entrou no Brasil com muita força, atingindo diferentes segmentos da sociedade justamente pelo próprio fato deste pensamento apresentar diversas possibilidades de abordagens.

Na verdade, a obra de Auguste Comte, tanto com relação aos aspectos científicos como aos religiosos, teve grande receptividade nos países com pequena tradição cultural e carentes de alguma ideologia para orientar seus anseios em direção ao desenvolvimento. A difusão do positivismo no Brasil, assim como em outros países latino-americanos, ocorreu

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através dos escritos de Auguste Comte e de seus seguidores: Littré, Laffitte, Robinet, Audiffrent e outros.

Segundo VITA (1965, p. 3):

A perfeita compreensão do legado positivista pelos escóis latino-americanos dos fins do século XIX é de grande relevância para o entendimento da ação e contemplação dos ideólogos dessa parte do Nôvo Mundo. Isto porque o positivismo se adequava singularmente tanto às necessidades das nascentes nações como a sua incipiente atividade intelectual.

Ainda na opinião do mesmo autor (VITA, 1965, p. 6-7):

(...) a projeção do interêsse coletivo para o social, o político e o econômico coincidia com o espírito do movimento positivista.

Esta influência positivista se estendeu a todos os países da América Latina, mesmo quando foram as características locais, não só de tipo intelectual, mas – sobretudo – políticas e sociais, as que condicionaram as particulares formas e a orientação assumidas pelo positivismo em cada caso.

Os estudos de Auguste Comte foram realizados em meados do século XIX, portanto receberam de certa forma, ainda que indiretamente, a influência do surgimento da imprensa e dos novos meios de comunicação, capazes de unir homens separados pela distância. Desta forma podem ser englobados na fase, caracterizada por MARQUES DE MELO (1998, p. 22), como sendo dos filósofos sociais:

É um período caracterizado por uma série de estudos sobre os meios de comunicação coletiva e seus efeitos. Os jornais, os livros e os volantes circulavam intensamente em todo o mundo, e passavam a desempenhar um papel fundamental nos destinos da civilização. Em função disso, suscitaram o interesse de alguns filósofos sociais pela análise da sua importância e dos seus efeitos.

No Brasil, o movimento republicano encontrou em Alberto Salles, irmão de Campos Salles, um de seus maiores teóricos. Intelectual de grande prestígio, “teve no positivismo seu principal fundamento. São inumeráveis as citações de Augusto Comte em sua obra” (VITA,

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1965, p. 49). Produziu muitos textos e participou ativamente dos principais manifestos, publicações e jornais emitidos pelos republicanos. “Política republicana”, “A vitória republicana”, “A pátria paulista” e “Ciência política” são algumas de suas obras. Entretanto, a mais aclamada entre elas, a qual o Partido Republicano Paulista patrocinou e distribuiu gratuitamente 10.000 cópias, foi o “Catecismo republicano”, de 1885. Desta forma, o positivismo social, eminentemente heterodoxo, teve em Alberto Salles um difusor de grande impacto junto aos líderes políticos republicanos, influenciando inclusive as bases positivistas das estratégias de comunicação política de Campos Salles.

Luis Washington VITA (1965, p. 14) comenta de que forma o positivismo arraigou-se naquela geração de futuros políticos brasileiros formados pelas Escolas de Direito:

A principal virtude do bacharel no evolver do nosso pensamento filosófico, conspicuamente afirmada pela geração de Alberto Sales, resultante do próprio “bacharelismo” em constante antagonismo às posições dogmáticas, encontra-se na sua maneira de aceitar e assimilar as doutrinas especulativas, de modo especial no que diz respeito ao positivismo, pois enquanto os “ortodoxos” (em geral promanados de escolas de matemática ou de medicina) assumiram posições fechadas, os “heterodoxos” (em geral saídos de escolas de Direito) assumiam posições abertas.

Diversos estudos importantes e referenciais foram realizados, a partir do final do século XIX e durante o século XX, com o intuito de registrar a presença do positivismo no Brasil e as marcas deixadas por este pensamento na história do país. Entre eles podem ser mencionados:

- História do positivismo no Brasil, de Ivan Lins;

- O positivismo no Brasil, de João Camilo de Oliveira Torres; - O positivismo na república, de João Cruz Costa;

- La filosofia en el Brasil, de António Gomez Robledo.

A partir da análise destas obras, o grupo de pesquisadores Alexsandro Silva, Ana Gilda Benvenutti e Fabio M. Said, sob a tutela da Profa. Dra. Dinorah d’Araújo Berbert de Castro, do curso de Filosofia da Universidade Federal da Bahia, realizou em 2001, uma compilação bastante resumida e objetiva, abordando a passagem do positivismo pelo Brasil e as marcas aqui deixadas, apresentada na forma de uma monografia intitulada “Visões do

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Positivismo no Brasil”, disponível no site <http://www.geocities.com/positivismonobrasil>, acessado em 24.jun.2004.

Será feita a seguir a reprodução de alguns trechos deste trabalho, afim de ilustrar e complementar as informações fornecidas até o momento sobre o pensamento positivista.

O nosso Positivismo era, ao mesmo tempo, radicalmente fiel às palavras de Comte - sobretudo do Comte do Sistema de Filosofia Positiva - e também fortemente mesclado à tradição política e à intuição religiosa do brasileiro. Tão mesclado, aliás, que António Gomez Robledo, estudioso da filosofia do Brasil no México, afirma, em seu La Filosofía em el Brasil, que muitos de nossos intelectuais e políticos aproximaram-se do Positivismo exclusivamente como aproximaram-se este fosaproximaram-se a fonte mesma de sua inspiração republicana, como se a doutrina científica, filosófica e religiosa interessasse menos por seus valores intrínsecos do que por sua aplicação e pertinência em relação à realidade do Brasil.

Em 1857, ano do falecimento de Auguste Comte, já havia no Brasil um grupo de seguidores não coeso, porém firmemente defensor das idéias do mestre. Esse grupo era composto de intelectuais oriundos das classes abastadas do país, jovens que retornavam de seus estudos na Europa, estudiosos que preparavam teses nas nossas melhores escolas superiores. Ivan Lins dá como certo que 1844 marca a entrada do Positivismo no Brasil. Nesse ano, o dr. Justiniano da Silva Gomes apresentou, na Faculdade de Medicina da Bahia, uma tese com nítida influência do Positivismo, numa referência à Lei dos Três Estados.

Por volta da mesma época, alguns brasileiros eram alunos de Comte em cursos por ele oferecidos em Paris, e entre esses alunos estava outro baiano, Felipe Ferreira de Araújo Pinho (1815-1901), bacharel em Ciências Matemáticas pela Universidade de Paris e pai de João Ferreira de Araújo Pinho, que mais tarde seria Presidente da Província de Sergipe e Governador do Estado da Bahia.

O paulista Luís Pereira Barreto (1840-1923) foi um dos responsáveis pelo aumento do prestígio do Positivismo no Brasil na segunda metade do século XIX. Ao retornar de seus estudos de medicina em Bruxelas - onde teve seu primeiro contato com as doutrina positivista com Marie de Ribbentrop, educadora e freqüentadora de círculos intelectuais em Bruxelas - estava imbuíd o das idéias de Comte e dedicou-se a intensa propaganda ideológica em favor da doutrina.

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Para isso, fez uso pertinente de sua posição de grande proprietário rural e cientista de reconhecidos dotes. Pode-se dizer que Pereira Barreto foi o primeiro caso, no Brasil, de um modelo moral típico do Positivismo, qual seja, o de um homem de ilibada moral e muito respeitado na sociedade que angaria devotos ao Positivismo por sua extrema facilidade de comunicação. (...) Nesse espírito, escreveu sua obra-prima, As Três Filosofias, originalmente planejada em três tomos, dos quais somente o primeiro e o segundo foram efetivamente publicados: A Filosofia Teológica (1874) e A Filosofia Metafísica (1880).

Analisando a Questão Religiosa [conflito entre as forças da Igreja Católica e o Estado brasileiro (monarquia)], percebe-se que ela indica um claro enfraquecimento da instituição religiosa no Brasil, completamente subordinada ao Estado. Não raro, muitos padres eram políticos e até maçons, o que, para alguns, era uma verdadeira heresia. Na prática, quando um padre era também homem de vida política, sobressaía o político. A Questão Religiosa expôs essa fragilidade da Igreja Católica no Brasil e abriu caminho para a entrada do Positivismo religioso em nosso país.

Outra tensão existente no país no último quartel do século XIX foi a Questão Militar, desta vez um conflito entre o Imperador e os militares. Com o fim da Guerra do Paraguai, os militares perderam seu prestígio e passaram a receber incumbências que, em sua opinião, denegriam a imagem da corporação, como caçar escravos fugitivos, tarefa normalmente entregue a capitães do mato. Na prática, isso levou os jovens militares em formação a afastarem-se do ideal bélico e guerreiro e a aproximaram-se do estudo das ciências exatas. A Escola Politécnica e a Escola Militar eram as responsáveis pela formação dos militares.

Nesse mesmo momento, os professores da Escola Militar estavam entrando em contato com a doutrina de Comte. No últimos anos do Império, essa instituição era plenamente positivista. Nela, os futuros soldados eram ensinados a não seguir a religião do Estado e a combater a autoridade da qual eles deveriam ser defensores, idéias conformes ao espírito da doutrina de Comte.

A Escola Militar formava não homens para a guerra e sim engenheiros. Isso foi criticado como uma espécie de paisanização ou "bacharelarização" dos militares brasileiros. Os oficiais egressos eram matemáticos e não militares. O tenente-coronel Benjamin Constant Botelho de Magalhães, um dos mais acirrados defensores do Positivismo no Brasil, foi um dos professores da Escola.

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O Positivismo de Comte já tinha dissidência na França. Littré, um dos primeiros discípulos de Comte, tornou-se dissidente quando passou a considerar secundária a segunda parte da obra do mestre, incluindo o Sistema de Política Positiva e a Religião da Humanidade, por acreditar que o estado de saúde mental de Comte após o incidente com Clotilde de Vaux teria inspirado suas idéias nesse período.

O sucessor oficial de Comte foi Pierre Lafitte. Sob seu patrocínio, foi fundada, em 1878, a Sociedade Positivista do Rio de Janeiro, com o objetivo de divulgar o Positivismo na imprensa. Entre os intelectuais envolvidos na Sociedade estavam Benjamin Constant e os jovens Miguel Lemos e Teixeira Mendes. Esse foi o embrião do Apostolado Positivista do Brasil, que tanta influência teria mais tarde, durante a República.

Muito embora Miguel Lemos não admita, já antes de 1874 havia ecos positivistas em quase todos os Estados da Federação sendo que no Rio Grande do Sul o principal defensor do comtismo foi Júlio de Castilhos, nascido numa estância dos pampas em 1860, Bacharel em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas de São Paulo.

Segundo Ivan Lins, o Positivismo era para os gaúchos: amor as ciências exatas, a matemática, a história natural, a física, e principalmente, um forte sentimento republicano. Com Júlio de Castilhos, ordem e progresso, positivismo e republica se confundem. Dono de um perfil autoritário, inteligente, polemista e persuasivo. colocou-se a serviço da República. Interpretou e aplicou os ensinamentos positivistas de Comte, segundo as necessidades determinadas pelas conveniências partidárias que o momento exigia.

Com base nas informações reproduzidas acima, Alexsandro Silva, Ana Gilda Benvenutti e Fabio M. Said concluem em sua monografia que o positivismo brasileiro teve como principais causas deflagradoras:

- a influência exercida por Comte em estudantes brasileiros que foram seus alunos ou que aprenderam a doutrina com seus discíp ulos;

- a Questão Religiosa e a demonstração de fragilidade da monarquia e da Igreja; - a Questão Militar e o aparecimento de uma classe de indivíduos (os militares

inconformados pela degradação imposta pelo monarca) prontos a serem influenciados pela nova doutrina;

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- a tradição política e a intuição religiosa no Brasil, que possibilitaram o surgimento de líderes morais, apóstolos do Grão Ser e demais personalidades de grande apelo.

1.4. Do positivismo ao funcionalismo

Alguns dos principais conceitos teórico-metodológicos do positivismo foram resgatados nas páginas anteriores com o objetivo de contextualizar os argumentos defendidos pelos republicanos brasileiros do final do século XIX, os mesmos serão evidenciados e discutidos nos Capítulos 3 e 4. Entretanto, foi considerado necessário incluir um quarto e resumido sub- item neste primeiro capítulo. Pois, algumas questões, a serem respondidas sobre a comunicação política de Campos Salles, estão relacionadas com as questões formuladas pelo modelo funcionalista de análise comunicacional de Harold Lasswell, cujas raízes estão fundamentadas no modelo positivista de análise social de Auguste Comte.

Segundo WOLF (2002, p. 29), o estudo científico do processo comunicativo, proposto em 1948 por Lasswell, representa uma adaptação de um paradigma da análise sociopolítica (Quem obtém o quê? Quando? De que forma?). O modelo funcionalista de pesquisa comunicacional estava baseado nas respostas para as perguntas: quem, diz o quê, através de que canal e com que efeito.

Qualquer uma destas variáveis define e organiza um sector específico da pesquisa: a primeira caracteriza o estudo dos emissores , ou seja, a análise do controlo sobre o que é difundido. Quem, por sua vez, estudar a segunda variável, elabora a análise do conteúdo das mensagens, enquanto o estudo da terceira variável dá lugar à análise dos meios. Análises da audiência e dos efeitos definem os restantes sectores de investigação sobre os processos comunicativos de massas (WOLF, 2002, p. 29-30).

Esta fórmula de Lasswell, responsável por torná- lo célebre e utilizada como modelo dominante durante muito tempo nas pesquisas comunicacionais, na visão de MATTELART (2003, p. 40) dotou a sociologia funcionalista da mídia de um quadro conceitual que, até então, alinhava apenas uma série de estudos de caráter monográfico. Na prática, dois pontos desse programa foram privilegiados: a análise dos efeitos e a análise do conteúdo. Argumentos similares às conclusões feitas por WOLF (2002, p. 31):

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O esquema de Lasswell organizou a communication research, que começava a aparecer, em torno de dois dos seus temas centrais e de maior duração - a análise dos efeitos e a análise dos conteúdos - e, ao mesmo tempo, individualizou os outros sectores de desenvolvimento da matéria, sobretudo a control analysis.

O modelo teórico de Lasswell, assim como outras teorias formuladas no século XX, não será utilizado diretamente nas próximas páginas, devido aos motivos de anacronismo anteriormente discutidos. No entanto, as questões elaboradas por Lasswell, não podiam deixar de ser mencionadas sinteticamente aqui, pois devem ser respondidas indiretamente nas entrelinhas deste trabalho, assim como Peter BURKE (1994) também o fez em sua obra sobre a construção da imagem pública de Luís XIV:

A finalidade deste estudo poderia ser resumida, numa fórmula tomada dos analistas da comunicação de nosso tempo, como a tentativa de descobrir quem dizia o quê sobre Luís a quem, por meio de que canais e códigos, em que cenários, com que intenções e com que efeitos (p. 25).

Devemos estudar agora não apenas ‘quem diz o quê’, mas também ‘para quem’ e ‘com que efeitos’, refinando esta fórmula para levar em conta os processos de interpretação de mensagens e adequando-os para fins a que não foram originalmente destinados. No caso de Luís XIV, pelo menos a documentação referente às audiências pretendidas é relativamente rica, e os registros nos permitem ter também alguns vislumbres fascinantes de reações individuais (p. 163).

A comunicação de Luís XIV e sua incessante preocupação com a imagem pública também foram estudados por Jean-Marie Apostolidès, na obra “O rei- máquina: espetáculo e política no tempo de Luís XIV”, de 1993. Segundo Wilson GOMES (2004, p. 364), os trabalhos de Peter Burke e de Apostolidès “mostram meios, modos, agentes e propósitos envolvidos no fenomenal empreendimento histórico” de construção da imagem de Luís XIV.

De maneira semelhante, na presente pesquisa, o modelo de Lasswell estará presente na tentativa de responder às questões:

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1) Quem, junto do próprio Campos Salles, foram os responsáveis pelo planejamento e execução de suas campanhas eleitorais;

2) Dizendo o quê, ou seja, qual era o conteúdo das mensagens de comunicação política;

3) Através de que canal, de que forma e como estas mensagens chegaram aos receptores/eleitores; e finalmente

4) Com que efeito as mesmas os impactaram, resultando nas vitórias eleitorais de Campos Salles até a presidência da República.

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Capítulo 2

Século XIX: Cenário histórico e político brasileiro

Determinados aspectos sobre o cenário histórico da segunda metade do século XIX, período no qual Campos Salles desenvolveu sua trajetória política, são importantes para a contextualização desta pesquisa. Diante disso, serão apresentadas a seguir algumas informações sobre o ambiente político vivido pelo ex-presidente. Não será feita uma extensa abordagem histórica sobre a época, justamente por este não ser um trabalho relacionado diretamente com História do Brasil, serão apresentados apenas alguns dados considerados pré-requisitos para o estudo das estratégias comunicacionais adotadas por Campos Salles em suas campanhas eleitorais rumo a presidência do país.

2.1. Situação política do país durante o reinado de D. Pedro II

O Segundo Reinado foi iniciado em 1840, com a subida de D. Pedro II ao trono, aos 14 anos de idade, mediante a antecipação de sua maioridade. Porém, o regime monárquico somente começou a estabilizar-se depois de dez anos.

Campos Salles iniciou seu envolvimento com a política, em 1865 (como será abordado no Capítulo 3), num momento em que o governo central já encontrava-se bastante fortalecido pelo Poder Moderador. A Monarquia, representada pela figura onipotente do Imperador, centralizava e administrava a disputa do poder nos Ministérios, nas Câmaras Municipais e nas Assembléias Legislativas Provinciais e Gerais. Vereadores e Deputados eram escolhidos através do sufrágio indireto (vide item 2.4), passando por um processo eleitoral mantido sob o controle do Imperador e da Igreja. As eleições eram travadas entre os dois partidos constitucionais, o Conservador e o Liberal, os quais recebiam a influência do próprio monarca e funcionavam de acordo com sua vontade, servindo como instrumentos de legitimação do regime em vigor.

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Segundo GUANABARA (1983, p. 9):

As lutas polític as eram travadas então entre os dois partidos com o objetivo exclusivo da conquista das boas graças do monarca, de quem dependia a obtenção do poder. O monarca era, pois, um centro de equilíbrio para os dois poderosos partidos, cuja existência por si só bastava para mantê-los dentro de uma esfera de paz e de ordem, pois que se estava no interesse dos partidos não levar o combate ao adversário no poder a extremos que o incompatibilizassem com o monarca, estava também no interesse deste não dar ao partido no poder tal soma de autoridade, que esmagasse o adversário, ou lhe tirasse toda a esperança de vida normal.

O acordo mantido entre os dois partidos, visando o equilíbrio na distribuição de cargos públicos durante o reinado de D. Pedro II, recebeu o nome de política de Conciliação. A partir da década de 1860, aquele sistema começou a sofrer mudanças. Alguns membros do Partido Conservador tornaram-se dissidentes, ficando conhecidos como Moderados. Por estarem mais alinhados com os Liberais, propuseram junto a eles uma união, constituindo assim o Partido Progressista. A aliança progressista não durou muito, e na verdade foi considerada apenas como uma Liga, pois não surgiu um pensamento comum entre as duas facções. Seus membros promovem mais uma divisão, criando duas agremiações distintas: o Partido Radical, organizado pelos liberais históricos; e o novo Partido Liberal.

No limiar da década de 1870, de acordo com DEBES (1975, p. 3), o quadro partidário do Império encontrava-se assim estruturado:

O Partido Conservador, despojado de parte de seus antigos integrantes, se mantém como força política; o Liberal, desfalcado, igualmente, de ponderável parcela de seus adeptos, mas reforçado por antigos conservadores, se renova. Em plano secundário, se movimenta o Partido Radical.

2.2. Período da propaganda republicana (1870-1889)

Os radicais consideravam seu partido como sendo independente das outras duas grandes agremiações (conservadores e liberais), por isso CAMPOS SALLES (1998, p. 12) defendia que o Partido Radical não tinha “a preocupação de servir a política imperial no revezamento do governo do país”. Apesar de não terem intuitos propriamente revolucionários,

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os radicais pretendiam levar adiante, através de perseverante propaganda, as teses democráticas de seu programa.

Ainda segundo CAMPOS SALLES (1998, p. 7), a agitação no seio daquele partido era um reflexo da atmosfera saturada de idéias ultrademocráticas que convulcionava o mundo inteiro ao declinar do século XVIII, representada pela guerra da independência da América do Norte e pela grande Revolução na França.

Diante deste contexto, os radicais caminharam naturalmente em direção a idéia republicana, lançando no dia 3 de dezembro de 1870, o celebrado Manifesto Republicano, estampado com destaque na edição inaugural do jornal A República. Considerado por DEBES (1978a, p. 86) como “um documento de valor eminentemente simbólico, no conjunto dos fatos que culminaram com a queda do Império. Na verdade, é ele um marco no processo que conduziu ao novo regime”.

O Manifesto de 1870 também foi lançado como sendo uma resposta à dissolução da Câmara dos Deputados, ocorrida em 1868, e tida pelos liberais formadores do Clube Radical como “um ato despótico do monarca, um excesso do Poder Moderador” (DEBES, 1978a, p. 82). Mais do que seguir a tendência revolucionária dos movimentos de outros países, foi especificamente este fato o estopim que deu início propriamente a propaganda republicana, simbolizada através do Manifesto.

A dissolução da Câmara foi uma decisão tomada pelo Imperador D. Pedro II para conter a desconfiança parlamentar depositada pela maioria liberal ao novo Ministério, entregue pelo governo aos conservadores. Eleições subsequentes foram realizadas e a vitória foi totalmente dos conservadores, consolidando a decisão imperial. De acordo com Célio DEBES (1978a, p. 81), do ponto de vista do soberano foram defendidas as razões de Estado, a fim de não colocar em risco os rumos da guerra com o Paraguai. Mas a reação dos liberais não tardou, bradavam a atitude do imperador como: “Estelionato político”.

Foi assim que, logicamente, apareceu, a 3 de dezembro de 1870, o Manifesto Republicano, documento memorável, que na história da democracia brasileira assinala o momento inicial da ação política, que se perpetuará na memória do país como o mais notável nos fastos das nossas lutas, tal a firmeza, a abnegação, a coragem dessa falange de heróicos combatentes, que a empreenderam e souberam levá-la a termo. A história deve este tributo de homenagem aos propagandistas da República (SALLES, 1998, p. 13).

Referências

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