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Presidente do Estado de São Paulo

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Capítulo 4 – Rumo à Presidência da República

4.4. Presidente do Estado de São Paulo

Na eleição presidencial de 1º de março de 1894, o Partido Republicano Federal garantiu seu principal intento, com a vitória de Prudente de Morais à Presidência da República, além de eleger seu vice, Manuel Victorino Pereira, e de constituir um terço do Senado e a totalidade da Câmara com seus partidários.

Na mesma época, Campos Salles recebeu uma das homenagens mais marcantes de sua trajetória política. Um retrato seu foi inaugurado no salão nobre do Tribunal de Justiça de São Paulo. Na solenidade, o Ministro Carlos Augusto de Souza Lima, Presidente do Tribunal de Justiça proferiu um discurso, do qual DEBES (1978b, p. 387) reproduz um trecho, lembrando da importante contribuição de Campos Salles como Senador:

Não é um testemunho de apreço ditado pelo sentimento da amizade ou da gratidão pessoal, mas o pronunciamento muito significativo dos órgãos legítimos de um dos poderes constitucionais, a cuja honorabilidade, independência e responsabilidade votou o Dr. Campos Salles os mais solícitos cuidados do seu talento organizador e a melhor energia do seu discernimento de publicista.

Nos comentários de DEBES (1978b, p. 387), Campos Salles sensibilizou-se com a honraria, mas demonstrou certo desapontamento, pois se considerava um “mero Senador da República, despido de qualquer posição de mando, as vésperas da investidura de um novo Governo federal, sem perspectivas próximas de assomar ao poder”.

O desânimo de Campos Salles, diante do novo cenário político que estava sendo desenhado no Brasil, logo foi consolado. Pois, a Comissão Central do Partido Republicano Paulista já estava pensando em seu nome como candidato à Presidência do Estado de São Paulo.

Na reunião promovida pela Comissão, estavam presentes vinte e oito congressistas. Segundo DEBES (1978b, p. 398-399), mesmo contando com ampla competência para escolher e indicar os nomes dos candidatos do Partido, a Comissão preferiu ouvir sua bancada na Câmara e no Senado. Os nomes de Campos Salles para Presidente e Peixoto Gomide para Vice-Presidente foram acatados plenamente pelos republicanos ali reunidos.

Manifestações favoráveis e otimistas com a candidatura foram enviadas pelos diretórios do Partido, às quais Campos Salles respondeu através da carta comentada por DEBES (1978b, p. 399):

Agradece o “leal e desinteressado apoio, para mim tanto mais valioso quanto procede da espontaneidade do vosso sentimento republicano”. Exime-se de traçar um programa de ação, mas afirma que vê “com clareza, sem ilusões, a quanto esforço moral, a quanta energia cívica se obrigará quem tiver a patriótica abnegação de se propor a subir àquele posto com o propósito de manter-se aí dignamente, devendo saber que se ele confere inapreciável distinção, impõe também severos sacrifícios. Sei, por experiência própria, quanto custa a um homem de consciência desempenhar-se da grave responsabilidade que assume com as funções do Governo”. Lembra sua passagem pelo Ministério da Justiça e assinala que se viu investido “de um poder sem contraste, pois que é a própria ditadura”. Em tais circunstâncias, é “que o homem público mostra-se tal qual é, nas expansivas manifestações da natureza que lhe é própria”. Traça, então, de si um retrato. “Sempre tolerante, mas convicto, sempre moderado na deliberação, mas firme na execução: tal é a síntese de um passado que, de resto, está escrito tanto no Governo como nas leis da República, e que pode bem habilitar os meus patrícios a anteverem a diretriz da conduta que terei de adotar, se o seu sufrágio julgar acertado colocar-me à frente do Governo do Estado de São Paulo”.

A indicação da candidatura foi oficializada pelo Partido Republicano Federal, portanto Campos Salles apressou-se em desligar-se da direção da Comissão Central do Partido em São Paulo, estando preocupado com a questão ética de sua autoridade política não influir em sua eleição. A opção assumida por Campos Salles, naquela ocasião, é comentada por LESSA (1999, p. 130): “Qualquer que tenha sido a sua posição anterior nas lutas políticas, o cidadão, uma vez eleito, passa a ser o Chefe do Estado. Ele deixa a superintendência dos interesses exclusivos do partido para assumir a alta gestão dos negócios da comunidade”.

Além de emitir agradecimentos como os expressos na carta acima, Campos Salles logo redigiu sua plataforma de Governo, voltando toda sua atenção à comunicação de sua campanha eleitoral. Mais uma vez aproveitando o excelente trabalho de pesquisa de Célio DEBES (1978b, p. 401), serão apresentadas a seguir as anotações sobre o documento, datado de 15 de janeiro de 1896, com a mencionada plataforma:

Fixaria seu pensamento sobre várias questões. “Se o eleito constitui-se o representante oficial da maioria, não se apaga, todavia, a distinção fundamental entre o chefe político e o depositário do poder”. Mas, adverte, o preferido da vontade popular, despojar-se-á de suas paixões e levará para a administração pública “só os grandes ideais que a alma do combatente acalentara como necessidades primordiais do progresso social”. Para desempenhar-se de semelhante missão, somente quem, como ele, tivesse vivido as pugnas políticas e houvesse forjado um ideário. Aquele que jamais pensara nos problemas da sociedade, nada teria, de seu, para pôr em prática. Por isso é que sustenta que “ser um Governo é saber o que se quer, e querer firmemente o que se pode querer. Donde resulta que a antiga fórmula – governar é prever – pode mais justamente ser substituída por esta outra – governar é querer”. Eis a profissão de fé de um voluntarioso, de um determinado.

Ao falar sobre “progresso social” e “problemas da sociedade”, Campos Salles utilizava alguns princípios fundamentais do espírito positivo. Conceitos que nunca antes de Campos Salles e Prudente de Morais haviam sido empregados nas estratégias de comunicação no Brasil. Justamente, devido ao fato, dos primeiros estudos voltados às questões sociais terem sido iniciados por Auguste Comte e divulgados entre os membros do movimento republicano em São Paulo.

Mas não só em ideais filosóficos Campos Salles baseou-se ao lançar sua plataforma de Governo, ela também trazia questões administrativas bem definidas. A proposta do candidato tratava das atribuições dos três Poderes; dava ênfase ao papel da agricultura, englobando

transportes e mão-de-obra; demonstrava ainda preocupações com a indústria, educação e segurança pública.

O excelente trabalho de comunicação de Campos Salles, contando ainda com o total apoio do Partido Republicano Federal e Paulista, garantiram tranqüilamente resultado positivo na apuração dos votos, no pleito de 15 de fevereiro de 1896.

Segundo DEBES (1978b, p. 403), Campos Salles recebeu 43.898 votos, representando 53% do total de 80.000 eleitores alistados. Não teve opositor, pois aqueles que não votaram nele, foi porque não compareceram às urnas, registrando um alto índice de abstenção, manifestação argumentada pelos adversários como sendo um protesto da opinião pública.

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