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Deputado Provincial pelo Partido Republicano

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Capítulo 3 – Trajetória política de Campos Salles

3.5. Deputado Provincial pelo Partido Republicano

Novo conclave eleitoral estava marcado para 1877, naquele momento seriam disputadas as vagas para deputados. Os republicanos indicaram seis candidatos para a Assembléia Legislativa de São Paulo, Campos Salles estava entre eles. Entretanto, “a vitória só iria sorrir àqueles de seus correligionários que se aliaram aos liberais. (...) Prudente de Morais e Cesário Mota” (DEBES, 1978a, p. 155).

Apesar da Comissão Permanente do Partido Republicano permitir esse tipo de aliança, Campos Salles e outros de seus companheiros não aceitavam o fato de unir fo rças com aliados para poder participar de uma embate eleitoral. O ex-presidente desenvolvia suas estratégias de

comunicação política respeitando os preceitos originais do Partido Republicano, como fica evidente na correspondência endereçada a seus eleitores, transcrita abaixo e reproduzida na seqüência:

Ilmo. Senhor

Campinas, 28 de julho – 1877

Por indicação dos meus amigos políticos, sou candidato, na eleição de 15 de agosto próximo, a um assento na Assembléia Provincial.

A parcialidade política que se lembrou do meu obscuro nome, e a qual lealmente tenho dedicado todos os meus esforços, dispensa-me de detalhar um programma, principalmente quando me dirijo aos meus comprovincianos para quem não é desconhecida a marcha do partido a que pertenço.

O pensamento predominante no Partido Republicano da Província de S. Paulo acha-se desenvolvido de modo bastante claro e explícito nas deliberações tomadas à luz da publicidade pelo seu Congresso, na capital, para que não seja necessário affixar ainda uma vez os princípios que me conduzem às luctas políticas.

Já tive a honra de fazer parte da representação provincial no biennio de 1868 e 1869. Invoco esse passado, não porque elle possa trazer-me merecimentos que não possuo, mas tão somente para assegurar que a minha conducta de então poderá servir de base para ser por ella aquilatada a minha attitude em frente dos interesses da actualidade.

Filiado a um partido de futuro, e portanto livre das pêas communs aos partidos de Governo, que por sua natural tendência combatem pela posse immediata do poder, julgo-me com forças para nesse posto prestar à minha província os serviços que couberem na alçada dos meus migoados recursos, dedicando-me com justiça e imparcialidade ao severo e escrupuloso exame da administração públic a.

Acceitarei com franquesa e lealdade as medidas úteis que forem propostas, e cobaterei com energia e tenacidade tudo quanto possa de algum modo contrariar as nobres e generosas aspirações da província, sem que de leve deva preocupar-me, em um como em outro caso, a côr política da situação dominante, qualquer que ella seja.

É debaixo d’estes princípios que submetto-me ao pronunciamento das urnas, tendo como certo desde já que o eleitorado paulista saberá meditar bem nos grandes destinos desta província no momento solemne em que vai proferir a expressão da sua escolha.

De V. S. Am. Vnr e Obg. M. F. de C. S.

Correspondência emitida por Campos Salles em 28 de julho de 1877.

Ocupando o cargo de vereador, investido no dia 7 de janeiro de 1877, Campos Salles segue suas atividades normalmente. Em fins de agosto, para sua tristeza e depois de longos sofrimentos, seu pai falece. No dia 11 de agosto de 1879 nasce sua filha Sofia, ela recebe o mesmo nome de sua irmã falecida em 1875.

Em suas atividades, tanto como vereador como colaborador da imprensa, Campos Salles continuava manifestando-se intensamente sobre os destinos da agricultura e a reformulação da mão-de-obra, defendendo a introdução paulatina do trabalho livre e assalariado. No Manifesto lançado pela Comissão Permanente em 1880, ele deixava claro seu posicionamento, discutindo que a classe agrária deveria pensar melhor nas possibilidades de utilização da imigração estrangeira.

Numa série de artigos publicados n’A Província de São Paulo, naquela mesma época, o positivista Luís Pereira Barreto também bradava sobre a extinção da escravidão, argumentando porém sobre a transformação do escravo em servo da gleba. Aquela proposta foi considerada duvidosa, devido a seu cientificismo dificilmente aplicável. Na opinião de DEBES (1978a, p. 165), ela “não passaria de uma forma disfarçada de perpetuar a situação reinante”, sendo inclusive criticada pelo líder do positivismo ortodoxo no Brasil, Miguel Lemos. Assim, a proposição formulada por Campos Salles, sobre a questão servil, “era mais racional e viável do que a preconizada pelo positivista Pereira Barreto” (DEBES, 1978a, p. 166).

As preocupações de Campos Salles seriam refletidas e aplicadas em sua próxima campanha eleitoral, a qual pode ser considerada como sendo a melhor elaborada e com maior planejamento de comunicação até aquele momento. Nas eleições de 1881, seu nome foi indicado para concorrer ao cargo de Deputado Provincial e Geral, representando o 7º distrito da província de São Paulo. Não consegue ser eleito para a Câmara dos Deputados na disputa ocorrida no dia 1º de novembro, porém seus esforços são recompensados poucos dias depois, garantindo uma das vagas da Assembléia Legislativa. Campos Salles torna-se Deputado Provincial pela segunda vez, não representando os liberais, como em 1867, mas sim os republicanos.

Durante a campanha eleitoral, a exemplo do que era feito na Inglaterra e em outros países, Campos Salles, além de outros membros do partido, percorrem as paróquias de seus distritos, expondo ao eleitorado suas propostas eleitorais. Fato que é acompanhado e noticiado pelos jornais partidários. Aqueles comícios recebem na época o elegante nome de “Meetings Eleitorais”.

Seria conveniente anotar algumas das visitadas feitas por Campos Salles aos núcleos eleitorais do 7º distrito, registradas em seu caderno de notas e publicadas por DEBES (1978a, p. 169-170):

Pleito de 31 de 8bro – 1881.

Meetings eleitorais. Realizei os seguintes: A 28 de agosto – Penha do Rio do Peixe. A 8 de 7bro – Mogi-Mirim

A 17 de 7bro – Itatiba A 25 de 7bro – Pirassununga A 2 de 8bro – Araras

A 9 de 8bro – Amparo A 16 de 8bro – Serra Negra A 30 de 8bro – Campinas

Aquele último meeting, proferido em Campinas na véspera da eleição, fez com que o enorme teatro S. Carlos ficasse lotado. Sobre o evento, Raimundo de MENEZES (1974, p. 42) reproduz a notícia assinada por Assis Brasil e publicada n’A Província de São Paulo, no dia 3 de novembro de 1881:

Foi às 7 horas em ponto da noite de 30 de outubro, que teve lugar a conferência do ilustre candidato republicano no teatro da cidade de Campinas. Era exatamente véspera do dia da eleição. Na platéia e camarotes do teatro aglomeravam-se mais de mil pessoas, entre as quais muitas senhoras. Influências liberais, conservadores, cidadãos de todas as classes compunham essa massa relativamente enorme de espectadores, que seria reduplicada, se não contrastassem com o extraordinário interesse da população as acanhadas proporções do edifício. À hora indicada, o popular cidadão, visivelmente comovido, porém, grave e firme, apareceu na tribuna, colocada à boca do palco. Larga e estrondosa salva de palmas saudou o seu aparecimento. Depois o auditório volveu a profundíssimo silêncio, e o orador desatou a voz pausadamente, um pouco rouca e simpaticamente trêmula, porém sem demorar nem precipitar as palavras e dando o gesto correlativo.

No processo eleitoral de 1881 ocorreram algumas mudanças (vide Capítulo 2), entravam em vigor a eleição direta e o título de eleitor. Com as novas restrições, o número de eleitores diminuía ainda mais, representando, na época, apenas 0,6% do total da população.

O Partido Republicano Paulista introduziu, na campanha daquele ano, uma inovação que contribuiria favoravelmente nos resultados observados nas urnas. No Congresso realizado em 1881, foi elaborado o “Programa dos Candidatos”, aquela fórmula enriquecia as propostas individuais de cada candidato.

O programa deixa de ser uma simples promessa pessoal para tornar-se um compromisso solene entre o Partido e os candidatos: a unificação de opiniões relativas às soluções dos problemas da atualidade deve trazer ao nosso Partido mais merecimento e aos seus candidatos maior soma de adesões fora dos círculos dos seus parciais.

O Programa dos Candidatos é um trabalho coletivo. Composto de doze capítulos, sabe-se que três deles foram redigidos por Campos Salles: o segundo, o sexto e o oitavo, intitulados, respectivamente “descentralização”, “locação de serviço” e “naturalização e direitos do cidadão” (DEBES, 1978a, p. 168-169).

Segundo DEBES (1975, p. 42), através daquele procedimento o novo agrupamento político afastava-se dos velhos partidos, pois afirmava publicamente os nobres e patrióticos intuitos dos republicanos paulistas. Os comentários completos de DEBES (1975) sobre o “Programa dos Candidatos” encontram-se nos anexos do presente trabalho.

Aquele Programa do PRP possuía preocupações com as questões de natureza socia l, além das políticas e econômicas. O capítulo oitavo, por exemplo, elaborado por Campos Salles, tratava da “naturalização e direitos do cidadão”. O próprio lançamento do Programa era uma estratégia inovadora, e ganhava ainda mais notoriedade ao contar com um lado social. Com certeza, as propostas sociais encontravam ascendência nas teorias de Auguste Comte e, de fato, foram abordadas nas orientações de Alberto Salles, comentadas por VITA (1965, p. 135-136):

Se a disciplina é fundamental, não menos importante é o “programa” dos partidos políticos: “Bem sei que há quem pense que, sendo as questões sociais, por sua natureza, diversas das questões políticas, podem e devem ser excluídas do programa, como um patrimônio nacional cuja guarda está confiada a todos os partidos; eu, porém, penso que semelhante distinção, além de capciosa e sofística, por isso que vai de encontro à natureza legítima da função de um partido bem constituído, é ainda imoral e condenável.

Na opinião de ROMANINI (2002, p. 98-100), a Comissão Permanente do Partido Republicano Paulista era a responsável pela elaboração da estratégia de campanha de seus membros. Neste sentido, ela contava com o apoio de determinados órgãos da imprensa, para divulgar e propagar suas idéias. O “Programa dos Candidatos”, por exemplo, foi apresentado aos poucos, durante dez dias no jornal A Província de São Paulo. No mesmo veículo, foi publicado o “Boletim Republicano”, com o nome dos candidatos paulistas, durante quinze dias ininterruptos, de 17 a 31 de agosto de 1881, sempre na primeira ou segunda página.

Segue abaixo, trecho do Boletim publicado n’A Província, do dia 17 de agosto de 1881, apresentado por ROMANINI (2002, p. 101):

BOLETIM REPUBLICANO Candidatos do partido

À Assemblea Geral

1º districto – Dr. Americo Braziliense de Almeida Mello, (...) 2º districto – Dr. Luiz Pereira Barreto, (...)

3º districto – Dr. Lycurgo de Castro Santos, (...)

4º districto – Dr. Americo Braziliense de Almeida Mello, (...) 7º districto – Dr. Manoel Ferraz de Campos Salles, (...) 8º districto – Dr. Prudente José de Moraes Barros, (...) 9º districto – Dr. Martinho da Silva Prado Junior, (...)

À Assemblea Provincial

1º districto – Francisco Rangel Pestana, (...) 2º districto – Francisco Nogueira Cardoso, (...) 3º districto – José Fortunato da Silveira Bulcão, (...)

4º districto – Dr. Americo Braziliense de Almeida Mello, (...) 7º districto – Dr. Manoel Ferraz de Campos Salles, (...) 8º districto – Dr. Prudente José de Moraes Barros, (...) 9º districto – Dr. Martinho da Silva Prado Junior, (...)

Apresentação do Programa

A Commissão Permanente do Congresso Republicano, em virtude da resolução do mesmo Congresso, em sessão de 8 de abril do corrente anno, organizou o programma dos candidatos do partido nas proximas eleições para a assembléa geral e a provincial, e, sendo ella aceito por estes, constitue hoje um compromisso solemne para o desempenho do mandato, si lhes for confiado pelo eleitorado de alguns districtos da provincia.

São Paulo, 17 de agosto de1881.

Americo Brasiliense, presidente. F. Rangel Pestana, secretario (...)

Ao lado de Campos Salles, também foram eleitos para Assembléia Provincial de São Paulo outros cinco republicanos: Prudente de Morais, Gabriel de Piza e Almeida, Martinho Prado Júnior, Francisco Rangel Pestana e Antônio Gomes Pinheiro Machado. Além deles, A Província de São Paulo publicou, em 5 de janeiro de 1882, os demais candidatos eleitos (DEBES, 1978a, p. 172): “Os liberais elegeram 15 deputados, os conservadores 14, e os autonomistas e católicos 1”. Aquele fato demonstra a força e evolução do bloco maciço constituído pelo movimento republicano paulista.

A vitória nas urnas motivou a realização de uma grande comemoração em Campinas, o Banquete Memorável. Os membros do partido foram homenageados pelo eleitorado através da aplicação de seus nomes aos pratos que seriam servidos:

Ingresso para o banquete republicano de 1882, em Campinas.

Fonte: DEBES (1978b, anexos), do Arquivo do Dr. Áureo de Almeida Camargo.

Cardápio do banquete republicano de 1882, em Campinas.

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